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Poder Constituinte

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Nos Estados que adotam Constituição do 
tipo rígida, há uma nítida distinção entre o 
processo legislativo de elaboração de 
normas constitucionais e o processo 
legislativo de elaboração das demais 
normas do ordenamento. 
Nesses Estados, identificam-se duas 
categorias de legisladores, a saber, o 
legislador constituinte, com competência 
para elaborar normas constitucionais, e o 
legislador ordinário, com competência para 
elaborar as normas infraconstitucionais do 
ordenamento. 
O poder constituinte é aquele exercido pelo 
primeiro dos legisladores mencionados, ou 
seja, é o poder de elaborar e modificar 
normas constitucionais. É, assim, o poder 
de estabelecer a Constituição de um Estado, 
ou de modificar a Constituição já existente. 
A teoria do poder constituinte foi 
inicialmente esboçada pelo abade francês 
Emmanuel Sieyês, alguns meses antes da 
Revolução Francesa, em sua obra “Qu’est-
ce que le TiersÉtar?” (“O que é o Terceiro 
Estado?”). Inspirou-se nas ideias 
iluministas em voga no século XVIII, e foi 
aperfeiçoada pelos constitucionalistas 
franceses posteriores, com destaque para 
Carré de Malberg (que incorporou a ela a 
ideia de soberania popular, preconizada 
por Rousseau). 
O ponto fundamental dessa teoria – que 
explica a afirmação de que ela somente se 
 
 
 
aplica a Estados que adotam Constituição 
escrita e rígida, e faz com que ela alicerce o 
princípio da supremacia constitucional– é a 
distinção entre poder constituinte e poderes 
constituídos. O poder constituinte é o poder 
que cria a Constituição. Os poderes 
constituídos são o resultado dessa criação, 
isto é, são os poderes estabelecidos pela 
Constituição. 
 
A teoria do poder constituinte está 
relacionada com a legitimidade do poder, 
com a soberania nacional e a soberania 
popular em um dado Estado. Nasceu do 
fortalecimento do racionalismo, em 
oposição ao poder absoluto das monarquias 
de direito divino, com a invocação da 
substituição de Deus pela nação (Sieyês), ou 
pelo povo, como titular da soberania. 
Contemporaneamente, é hegemônico o 
entendimento de que o titular do poder 
constituinte é o povo, pois só este tem 
legitimidade para determinar quando e 
como deve ser elaborada uma nova 
Constituição, ou modificada a já existente. 
A soberania popular, que é, na essência, o 
poder constituinte do povo, é a fonte única 
de que procedem todos os poderes públicos 
do Estado. 
O poder constituinte originário pode 
manifestar-se na criação de um novo Estado 
(por exemplo, as desintegrações do Império 
Otomano, da União Soviética, da Iugoslávia 
deram origem a vários novos Estados), ou 
na refundação de um Estado, com a 
substituição de uma Constituição por outra, 
como ocorre no caso de golpe, revolução, 
desagregação social, ou mesmo, se assim 
desejar o povo, em períodos de 
normalidade social. 
Conquanto na atualidade haja um consenso 
teórico em afirmar que é o povo o titular do 
poder constituinte, o seu exercício nem 
sempre tem se realizado democraticamente. 
De fato, em diversos países o poder 
constituinte tem sido exercido por 
ditadores ou por grupos que se alçam ao 
poder mediante a ruptura da ordem 
democrática, resultando na criação 
autocrática da Constituição. Trata-se de 
uma forma de exercício do poder 
constituinte pela única vontade do detentor 
do poder, sem nenhuma representação nem 
participação do povo. 
Observa-se, assim, que, não obstante a 
titularidade do poder constituinte seja 
sempre do povo, temos duas formas 
distintas para o seu exercício: democrática 
(poder constituinte legítimo) ou autocrática 
(poder constituinte usurpado). 
O exercício autocrático do poder 
constituinte caracteriza-se pela 
denominada outorga: estabelecimento da 
Constituição pelo individuo, ou grupo, 
líder do movimento revolucionário que o 
alçou ao poder, sem a participação popular. 
É ato unilateral do governante, que 
autolimita o seu poder e impõe as normas 
constitucionais ao povo (e, teoricamente, a 
si mesmo). A outorga constitui, portanto, a 
criação autocrática da Constituição, um 
exercício do poder constituinte pela única 
vontade do detentor do poder, sem a 
representação nem participação dos 
governados, do povo, destinatários do 
poder. Temos, nesse caso, o que a doutrina 
chama de poder constituinte usurpado 
(Jorge Miranda: Paulo Bonavides). 
O exercício democrático do poder 
constituinte ocorre pela assembléia 
nacional constituinte ou convenção: o povo 
escolhe seus representantes (democracia 
representativa), que formam o órgão 
constituinte, incumbido de elaborar a 
Constituição do tipo promulgada. 
A atuação do poder constituinte por meio 
de uma assembléia nacional constituinte ou 
convenção composta de representantes do 
povo democraticamente eleitos é a forma 
típica de exercício democrático do poder 
constituinte, desde as origens do 
constitucionalismo (Convenção de 
Filadélfia de 1787 e Assembléia Nacional 
Francesa de 1789). Com a utilização desse 
sistema, o povo, legítimo titular do poder 
constituinte, democraticamente, confere 
poderes a seus representantes 
especialmente eleitos para a elaboração e 
promulgação da Constituição. 
No exercício democrático do poder 
constituinte pode, ainda, haver maior 
participação popular do que a verificada na 
mera eleição de representantes para compor 
o órgão constituinte (democracia 
representativa). 
Com efeito, é possível a participação direta 
do povo no processo de elaboração ou de 
aprovação da Constituição (democracia 
participativa), por meio de plebiscito ou 
referendo, ou mediante apresentação, ao 
órgão constituinte, de propostas populares 
de dispositivos constitucionais para serem 
apreciadas e, se aprovadas (com ou sem 
modificações), incorporadas ao texto da 
Constituição (uma espécie de “iniciativa 
popular constitucional”). 
Historicamente, tem sido mais frequente a 
democracia participativa traduzir-se na 
sujeição do texto constitucional à aprovação 
do povo: a Constituição é elaborada pela 
assembléia constituinte ou convenção e, 
ulteriormente, submetida a aprovação ou 
rejeição pelo povo, em sufrágio – referendo 
popular. 
Na história constitucional do Brasil, o poder 
constituinte nem sempre se exercitou 
segundo o princípio da legitimidade 
democrática. Além disso, nem uma de 
nossas Constituições teve seu texto, 
elaborado pelo órgão constituinte 
formalmente incumbido dessa tarefa, 
aprovado em referendo popular (somente a 
Constituição de 1937, autoritária, 
outorgada, previa um plebiscito para a 
aprovação de seu texto, mas esse plebiscito 
nunca chegou a ser convocado – caso 
tivesse ocorrido, teria sido um caso típico de 
Constituição cesarista). Todas as nossas 
Constituições democráticas, forma 
promulgadas diretamente pela assembléia 
constituinte, sem qualquer participação 
popular direta no ato de promulgação. 
Apesar disso, podemos apontar como 
resultantes do exercício legítimo 
(democrático) do poder constituinte as 
Constituições de 1891, de 1934, de 1946, e a 
vigente, de 1988. Foram outorgadas, 
resultando de usurpação do poder 
constituinte, as Cartas de 1824, 1937, 1967 e 
1969. 
Seja qual for a forma de exercício do poder 
constituinte – legítima ou mediante 
usurpação – um ponto deve ficar claro: 
sempre que houver ruptura da ordem 
constitucional estabelecida, e sua 
substituição por uma outra, ocorre 
manifestação do poder constituinte, ou seja, 
a nova Constituição será sempre obra do 
poder constituinte, mesmo que imposta 
mediante exercício ilegítimo desse poder. 
O fato de residir no povo a titularidade do 
poder constituinte não tem relevância para 
determinar quando há manifestação do 
poder constituinte, vale dizer, mesmo nos 
casos em que há usurpação desse poder, e 
uma nova Constituição é outorgada por um 
ato autoritário, não democrático, o só fato 
desubstituir-se o ordenamento 
constitucional vigente por um outro 
consubstancia manifestação do poder 
constituinte; essa criação e imposição de 
uma nova ordem constitucional é obra do 
poder constituinte originário. 
 
O poder constituinte originário (chamado 
por alguns de inicial ou inaugural) é aquele 
que instaura uma nova ordem jurídica, 
rompendo por completo com a ordem 
jurídica precedente. 
O objetivo fundamental do poder 
constituinte originário, portanto, é criar um 
novo Estado, diverso do que vigorava em 
decorrência da manifestação do poder 
constituinte precedente. 
Reproduzimos interessante conceituação 
trazida pelo Professor Michel Temer a 
respeito do assunto: “ressalte-se a idéia de 
que surge novo Estado a cada nova 
Constituição, provenha ela de movimento 
revolucionário ou de assembléia popular. O 
Estado brasileiro de 1988 não é o de 1969, 
nem o de 1946, o de 1937, de 1934, de 1891, 
ou de 1824. Historicamente é o mesmo. 
Geograficamente pode ser o mesmo. Não o 
é, porém, juridicamente. A cada 
manifestação constituinte, editora de atos 
constitucionais como Constituição, Atos 
Institucionais e até Decreto (veja-se o Dec. 
n. 1, de 15.11.1989, que proclamou a 
República e instituiu a Federação como 
forma de Estado), nasce o Estado. Não 
importa a rotulação conferida ao ato 
constituinte. Importa a sua natureza. Se 
dele decorre a certeza de rompimento com 
a ordem jurídica anterior, de edição 
normativa em desconformidade intencional 
com o texto em vigor, de modo a invalidar 
a normatividade vigente, tem-se novo 
Estado”. 
O poder constituinte originário pode ser 
dividido em histórico e revolucionário. 
Histórico seria o verdadeiro poder 
constituinte originário, estruturando pela 
primeira vez, o Estado. Revolucionário 
seriam todos os posteriores ao histórico, 
rompendo por completo com a antiga 
ordem e instaurando uma nova, um novo 
Estado. 
O poder constituinte originário é inicial, 
autônomo, ilimitado juridicamente, 
incondicionado, soberano na tomada de 
suas decisões. 
a) Inicial, pois instaura uma nova ordem 
jurídica, rompendo, por completo, com a 
ordem jurídica anterior; 
b) Autônomo, visto que a estruturação da 
nova constituição será determinada, 
autonomamente, por quem exerce o poder 
constituinte originário; 
c) Ilimitado juridicamente, no sentido de 
que não tem de respeitar os limites postos 
pelo direito anterior, com as ressalvas a 
seguir indicadas e que passam a ser uma 
tendência para os concursos públicos; 
d) Incondicionado e soberano na tomada de 
suas decisões, porque não tem de submeter-
se a qualquer forma prefixada de 
manifestação. 
 
A doutrina ainda fala em poder constituinte 
formal e material: 
Formal: é o ato de criação propriamente dito 
e que atribui a “roupagem” com status 
constitucional a um “complexo normativo”; 
Material: é o lado substancial do poder 
constituinte originário, qualificando o 
direito constitucional formal com o status 
de norma constitucional. Assim, será o 
orientador da atividade do constituinte 
originário formal que, por sua vez, será o 
responsável pela “roupagem” 
constitucional. O material diz o que é 
constitucional; o formal materializa e 
sedimenta como constituição. O material 
precede o formal, estando ambos 
interligados. 
Assim, anota Jorge Miranda, o poder 
constituinte formal confere “... estabilidade 
e garantia de permanência e de supremacia 
hierárquica ou sistemática ao princípio 
normativo inerente à Constituição material. 
Confere estabilidade, visto que a certeza do 
direito exige o Estatuto da regra. Confere 
garantia, visto que só a Constituição formal 
coloca o poder constituinte material (ou o 
resultado da sua ação) ao abrigo das 
vicissitudes da legislação e da prática 
quotidiana do Estado e das forças políticas” 
 
Duas são as formas de expressão do poder 
constituinte originário: outorgada; 
assembléia nacional constituinte (ou 
convenção). 
Outorga: caracteriza-se pela declaração 
unilateral do agente revolucionário 
(movimento revolucionário – exemplo: 
Constituição de 1824, 1937, 1967 e EC n. 
1/69, lembrando que a Constituição de 1946 
já havia sido suplantada pelo Golpe Militar 
de 1964 – AI n. 1, de 09.04.1964). Conforme 
vimos, embora a Constituição de 1946 
continuasse existindo formalmente, o País 
passou a ser governado pelos Atos 
Institucionais e Complementares, com o 
objetivo de consolidar a “Revolução 
Vitoriosa”, que buscava combater e “drenar 
o bolsão comunista” que assolava o Brasil. 
 Assembléia nacional constituinte ou 
convenção: por seu turno, nasce da 
deliberação da representação popular, 
destacando-se os seguintes exemplos: CF de 
1891, 1934, 1946 e 1988. 
 
O poder constituinte derivado é também 
denominado instituído, constituído, 
secundário, de segundo grau. 
Como o próprio nome sugere, o poder 
constituinte derivado é criado e instituído 
pelo originário. 
Assim, ao contrário de seu “criador”, que é 
ilimitado, incondicionado, inicial, o 
derivado deve obedecer às regras colocadas 
e impostas pelo originário, sendo, nesse 
sentido, limitado e condicionado aos 
parâmetros a ele impostos. 
Alguns autores preferem a utilização da 
terminologia competências, em vez de 
poder constituinte derivado, pois só seria 
poder constituinte o que derivasse 
diretamente da soberania popular e fosse 
ilimitado. No entanto, mantemos a 
utilização da expressão “poder 
constituinte” na medida em que dele 
decorre a produção de normas de caráter 
constitucional. 
Derivam, pois, do originário o reformador, 
o decorrente e o revisor. 
 
O poder constituinte derivado reformador, 
chamado por alguns de competência 
reformadora, tem a capacidade de 
modificar a Constituição Federal, por meio 
de um procedimento específico, 
estabelecido pelo originário, sem que haja 
uma verdadeira revolução. 
O poder de reforma constitucional, assim, 
tem natureza jurídica, ao contrário do 
originário, que é um poder de fato, um 
poder político, ou, segundo alguns, uma 
força ou energia social. 
A manifestação do poder constituinte 
reformador verifica-se através das emendas 
constitucionais (arts. 59, I, e 60 da CF/88), 
que abordaremos melhor quando tratarmos 
das espécies normativas. 
Neste momento, já adiantamos algumas 
características do poder de reforma, 
decorrentes de sua natureza constituída, 
instituída, ou de segundo grau. Como 
vimos ao contrário do originário, que é 
incondicionado, o derivado é condicionado 
pelas regras colocadas pelo originário, este 
último, sim, um poder de fato que tudo 
pode! 
Pois bem, o originário permitiu a alteração 
de sua obra, mas obedecidos alguns limites 
como: quórum qualificado de 3/5, em cada 
Casa, em dois turnos de votação para 
aprovação das emendas (art. 60, § 2º); 
proibição de alteração da Constituição na 
vigência de estado de sítio, defesa, ou 
intervenção federal (art. 60, § 1º), no núcleo 
de matérias intangíveis, vale dizer as 
cláusulas pétreas do art. 60, § 4º, da CF/88 
etc. 
 
Estados-membros 
O poder constituinte derivado decorrente, 
assim como o reformador, por ser derivado 
do originário e por ele criado, é também 
jurídico e encontra os seus parâmetros de 
manifestação nas regras estabelecidas pelo 
originário. 
Sua missão é estruturar a Constituição dos 
Estados-membros. Tal competência decorre 
da capacidade de auto-organização 
estabelecida pelo poder constituinte 
originário. Como veremos ao tratar dos 
Estados-membros, no tópico Federação, a 
eles foi atribuída autonomia, manifestada 
pela capacidade de auto-organização (art. 
25, caput); autogoverno (arts. 27, 28 e 125, 
que estabelecem regras para a estruturação 
dos “Poderes” Legislativos: Assembléia 
Legislativa; Executivo: Governador do 
Estado; e Judiciário: Tribunais e juízes) e 
autoadministração (arts. 18 e 25 a 28 –regras de competências legislativas e não 
legislativas, que será oportunamente 
estudada). 
Segundo Anna Cândida da Cunha Ferraz, 
em uma das mais completas monografias 
sobre o tema do direito pátrio, o poder 
constituinte derivado decorrente “... 
intervém para exercer uma tarefa de caráter 
nitidamente constituinte, qual seja a de 
estabelecer a organização fundamental de 
entidades componentes do Estado Federal. 
Tem o Poder Constituinte Decorrente um 
caráter de complementaridade em relação à 
Constituição; destina-se a perfazer a obra 
do Poder Constituinte Originário nos 
Estados Federais, para estabelecer a 
Constituição dos seus Estados 
componentes”. 
Pois bem, em relação à capacidade de auto-
organização, prevista no art. 25 caput, da 
CF/88, foi categórico o poder constituinte 
originário ao definir que “os Estados 
organizam-se e regem-se pelas 
Constituições e leis que adotarem, 
observados os princípios desta 
Constituição”. Esta última parte do texto 
demonstra, claramente, o caráter de 
derivação e vinculação do poder decorrente 
em relação ao originário; vale dizer, os 
Estados têm a capacidade de auto-
organizar-se, desde que, é claro, observem 
as regras que foram estabelecidas pelo 
poder constituinte originário. Havendo 
afronta, estaremos diante de um vício 
formal ou material, caracterizador da 
inconstitucionalidade. 
E o que deve ser entendido por princípios 
desta Constituição? Quais são os limites à 
manifestação do poder constituinte 
derivado decorrente? Em interessante 
síntese, da qual nos valemos, Uadi 
Lammêgo Bulos estabelece, como limites à 
manifestação do poder constituinte 
derivado decorrente, os princípios 
constitucionais sensíveis, os princípios 
constitucionais estabelecidos 
(organizatórios) e os princípios 
constitucionais extensíveis. 
Princípios constitucionais sensíveis: 
terminologia adotada por Pontes de 
Miranda, encontram-se expressos na 
Constituição, daí serem também 
denominados princípios apontados ou 
enumerados. Nesse sentido, os Estados 
membros, ao elaborar as suas constituições 
e leis, deverão observar os limites fixados 
no art, 34, VII, “a-e”, da CF/88, sob pena de, 
declarada a inconstitucionalidade da 
referida norma e a sua suspensão 
insuficiente para o restabelecimento da 
normalidade, ser decretada a intervenção 
federal no Estado. 
Princípios constitucionais estabelecidos 
(organizatórios): segundo Bulos, “... são 
aqueles que limitam, vedam, ou proíbem a 
ação indiscriminada do Poder Constituinte 
Decorrente. Por isso mesmo, funcionam 
como balizas reguladoras da capacidade de 
auto-organização dos Estados ... podem ser 
extraídos da interpretação do conjunto de 
normas centrais, dispersas no Texto 
Supremo de 1988, que tratam, por exemplo, 
da repartição de competência, do sistema 
tributário nacional, da organização dos 
Poderes, dos direitos políticos, da 
nacionalidade, dos direitos e garantias 
individuais, dos direitos sociais, da ordem 
econômica da educação, da saúde, do 
desporto, da família, da cultura etc.”. O 
autor os divide em três tipos: a) limites 
explícitos vedatórios: proíbem os Estados 
de praticar atos ou procedimentos 
contrários ao fixado pelo poder constituinte 
originário – exs.: arts. 19, 35, 150, 152, ou 
limites explícitos mandatórios: restrições à 
liberdade de organização – exs.: arts. 18, § 
4º, 29, 31, § 1º, 37 a 42, 92 a 96, 98, 99, 125, § 
2º, 127 a 130, 132, 134, 135, 144, IV e V, §§ 4º 
a 7º; b) limites inerentes: implícitos ou 
tácitos, vedam qualquer possibilidade de 
invasão de competência por parte do 
Estado-membro; c) limites decorrentes: 
decorrem de disposições expressas. Exs.: 
necessidade de observância do princípio 
federativo, do Estado Democrático de 
Direito, do princípio republicano (art. 1º, 
caput); da dignidade da pessoa humana 
(art. 1º, III); da igualdade (art. 5º, caput); da 
legalidade (art. 5º, II) da moralidade (art. 
37), do combate a desigualdades regionais 
(art. 43) etc.; princípios constitucionais 
extensíveis: mais uma vez na conceituação 
de Bulos, “são aqueles que integram a 
estrutura da federação brasileira, 
relacionando-se, por exemplo, com a forma 
de investidura em cargos eletivos (art. 77), o 
processo legislativo (arts. 59 e s.), os 
orçamentos (arts. 165 e s.), os preceitos 
ligados à Administração Pública (arts. 37 e 
s.) etc.”. 
Finalmente, lembramos que o exercício do 
poder constituinte derivado decorrente foi 
concedido às Assembléias Legislativas, 
conforme estabelece o art. 11, caput, do 
ADCT, que diz: “Art. 11. Cada Assembléia 
Legislativa, com poderes constituintes, 
elaborará a Constituição do Estado, no 
prazo de um ano, contado da promulgação 
da Constituição Federal, obedecidos os 
princípios desta”. (destacamos). 
Distrito Federal, Municípios e Territórios 
Federais 
Esses entes serão mais bem estudados 
quando tratarmos da Federação brasileira. 
No entanto, faremos alguns comentários 
relacionados ao tema do poder constituinte, 
indagando se existiria uma verdadeira 
manifestação de poder constituinte 
derivado no âmbito distrital, municipal e 
dos Territórios Federais. 
O Distrito Federal, de acordo com o art. 32, 
caput, da CF/88, será regido por lei 
orgânica, votada em dois turnos com 
interstício mínimo de 10 dias e aprovada 
por 2/3 da Câmara Legislativa, que a 
promulgará. Tal lei orgânica deverá 
obedecer aos princípios estabelecidos na 
Constituição Federal. 
Dessa forma, muito embora a posição 
particular ocupada pelo DF na Federação, já 
que a sua autonomia é parcialmente 
tutelada pela União (arts. 21, XIII e XIV, e 
22, XVII), além de acumular competências 
legislativas reservadas tanto aos Estados 
como aos Municípios (art. 32, § 1º), a 
vinculação da lei orgânica será diretamente 
com a CF. 
Nesse sentido, em interessante 
demonstração, o Min. Carlos Brito afirmou 
que, “conquanto submetido a regime 
constitucional diferenciado, o Distrito 
Federal está bem mais próximo da 
estruturação dos Estados-membros do que 
da arquitetura constitucional dos 
Municípios” (ADI 3.756, j. 21.06.2007, DJ de 
19.10.2007). 
Assim, na medida em que a derivação é 
direta em relação à Constituição Federal, 
parece razoável afirmarmos, mudando de 
posição firmada em edições anteriores à 
13ª., que, no âmbito do DF, verifica-se a 
manifestação do poder constituinte 
derivado decorrente, qual seja, a 
competência que o DF tem para elaborar a 
sua lei orgânica 10 (verdadeira Constituição 
Distrital) sujeitando-se aos mesmos limites 
já apontados para os Estados-membros e, 
assim, aplicando-se, por analogia, o art. 11 
do ADCT. 
Por esse motivo, é perfeitamente possível o 
controle concentrado no âmbito do TJ 
(Justiça do Distrito Federal e dos 
Territórios), tendo como paradigma a Lei 
Orgânica do DF, com a mesma natureza das 
constituições estaduais, regra esta, 
inclusive, introduzida, de modo expresso, 
no art. 30 da Lei n. 9.868/99 e, também, na 
Lei n. 11.697/2008, que dispõe sobre a 
organização judiciária do Distrito Federal e 
dos Territórios. Nesse sentido, também, a 
jurisprudência do STF. 
 “EMENTA: antes de adentrar no mérito da 
questão aqui debatida, anoto que, muito 
embora não tenha o constituinte incluído o 
Distrito Federal no art. 125, § 2º, que atribui 
competência aos Tribunais de Justiça dos 
Estados para instituir a representação de 
inconstitucionalidade em face das 
constituições estaduais, a Lei Orgânica do 
Distrito Federal apresenta, no dizer da 
doutrina, a natureza de verdadeira 
Constituição local, ante a autonomia 
política, administrativa e financeira que a 
Carta confere a tal ente federado. Por essa 
razão, entendo que se mostrava cabível a 
propositura da ação direta de 
inconstitucionalidade pelo MPDFT no caso 
em exame” (RE 577.025, voto do Rel. Min. 
Ricardo Lewandowski, j. 11.12.2008, 
Plenário,DJE de 06.03.2009). 
E como ficam os Municípios? 
Os Municípios (que por força dos arts. 1º e 
18 da CF/88 fazem parte da Federação 
brasileira, sendo, portanto, autônomos em 
relação aos outros componentes, na medida 
em que também têm autonomia “F.A.P.” – 
Financeira, Administrativa e Política) 
elaborarão leis orgânicas como se fossem 
“Constituições Municipais”. 
Dessa forma, a capacidade de auto-
organização municipal está delimitada no 
art. 29, caput, da CF/88, sendo que seu 
exercício caberá à Câmara Municipal, 
conforme o parágrafo único do art. 11 do 
ADCT, que estabelece: “promulgada a 
Constituição do Estado, caberá à Câmara 
Municipal, no prazo de 6 meses, votar a Lei 
Orgânica respectiva, em dois turnos de 
discussão e votação, respeitado o disposto 
na Constituição Federal e na Constituição 
Estadual”. 
Como se observa, o respeito ao conteúdo 
dar-se-á tanto em relação à Constituição 
Estadual como à Federal, obedecendo, 
desta feita, como advertiram Araújo e 
Nunes, “a dois graus de imposição 
legislativa constitucional”. Em virtude 
disso e trazendo à baila entendimento 
jurisprudencial emanado pelo TJSP, os 
autores concluem que “o poder constituinte 
decorrente, conferido aos Estados-membros 
da Federação, não foi estendido aos 
Municípios”. 
Nesse sentido, Noemia Porto estabelece: “o 
poder constituinte derivado decorrente 
deve ser de segundo grau, tal como 
acontece com o poder revisor e o poder 
reformador, isto é, encontrar sua fonte de 
legitimidade direta da Constituição 
Federal. No caso dos Municípios, porém, se 
descortina um poder de terceiro grau, 
porque mantém relação de subordinação 
com o poder constituinte estadual e o 
federal, ou em outras palavras, observa 
necessariamente dois graus de imposição 
legislativa constitucional. Não basta, 
portanto, ser componente da federação, 
sendo necessário que o poder de auto-
organização decorra diretamente do poder 
constituinte originário. Assim, o poder 
constituinte decorrente, conferido aos 
Estados-membros e ao Distrito Federal, não 
se faz na orbita dos Municípios. Por essa 
razão, ato local questionado em face da lei 
orgânica municipal enseja controle de 
legalidade, e não de constitucionalidade”. 
 E como ficam os Territórios Federais? 
Os Territórios Federais, (que, como 
veremos, hoje não mais existem, mas 
poderão vir a ser criados) de acordo com o 
art. 18, § 2º, integram a União, não se 
falando em autonomia e, portanto, não se 
cogitando em manifestação de poder 
constituinte. 
Assim, apesar de a doutrina pouco falar 
sobre o assunto, devemos nos posicionar, 
orientado os candidatos aos concursos 
públicos. 
Entendemos que o poder constituinte 
derivado decorrente (para aqueles que 
aceitam caracteriza-lo como constituinte) – 
é apenas o poder que os Estados-membros, 
por meio das Assembléias Legislativas, têm 
de elaborar as suas Constituições Estaduais, 
bem como o DF de elaborar a sua Lei 
Orgânica, devendo, ambas, obedecer os 
limites impostos pela Constituição Federal, 
nos exatos termos do art. 25, caput, e art. 32, 
caput, da CF/88. Essa particularidade, 
portanto, não se estende aos Municípios e 
Territórios Federais que eventualmente 
venham ser criados, pelas razões acima 
expostas. 
 
O poder constituinte derivado revisor, 
assim com o reformador e o decorrente, é 
fruto do trabalho de criação do originário, 
estando, portanto, a ele vinculado. É, ainda, 
um “poder” condicionado e limitado às 
regras instituídas pelo originário, sendo 
assim, um poder jurídico. 
Como já advertimos, melhor seria a 
utilização da nomenclatura competência de 
revisão, na medida em que não se trata, 
necessariamente, de um “poder”, uma vez 
que o processo de revisão está limitado por 
uma força maior que é o poder constituinte 
originário, este sim um verdadeiro poder, 
inicial e ilimitado, totalmente autônomo. 
O art. 3º. do ADCT determinou que a 
revisão constitucional seria realizada após 
cinco anos, contados da promulgação da 
Constituição, pelo voto da maioria absoluta 
dos membros do Congresso Nacional, em 
sessão unicameral. 
Pois bem, o que se percebeu foi o 
estabelecimento de uma competência de 
revisão para “atualizar” e adequar a 
Constituição às realidades que a sociedade 
apontasse como necessárias. 
Como o próprio texto constitucional 
prescreve, após cinco anos, contados de 
05.10.1988, deveria ser feita uma revisão na 
Constituição. Desde já observamos que a 
revisão deveria dar-se após, pelo menos, 5 
anos, podendo ser 6, 7, 8... e apenas uma 
única vez, sendo impossível uma segunda 
produção de efeitos. 
Em se tratando de manifestação de um 
“poder” derivado, os limites foram 
estabelecidos pelo poder constituinte 
originário. Muito se questionou a respeito 
dos limites. Teorias surgiram apontando 
uma ilimitação total; outras apontando a 
condicionalidade da produção da revisão 
desde que o plebiscito previsto no art. 2º do 
ADCT modificasse a forma ou sistema de 
governo. A teoria que prevalece foi a que 
fixo como limite material o mesmo 
determinado ao poder constituinte 
derivado reformador, qual seja, o limite 
material fixado nas “cláusulas pétreas” do 
art. 60, § 4º, da CF/88, vale lembrar, a 
proibição de emendas tendentes a abolir: 
• A forma federativa de Estado; 
• O voto direto, secreto, universal e 
periódico; 
• A separação dos Poderes; e 
• Os direitos e garantias individuais. 
No ordenamento jurídico pátrio, a 
competência revisional do art. 3º do ADCT 
proporcionou a elaboração de meras 6 
Emendas Constitucionais de Revisão (n. 1, 
de 1º.03.1994 – DOU, 02.03.1994 – , e as de 
ns. 2 a 6, de 07.06.1994, publicadas no DOU 
em 09.06.1994), não sendo mais possível 
nova manifestação do poder constituinte 
derivado revisor em razão da eficácia 
exaurida e aplicabilidade esgotada da 
aludida regra.

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