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Autores: Profa. Nair Moretti Baradel Prof. Roberto Biava Júnior Colaboradores: Prof. Santiago Valverde Prof. Alexandre Saramelli Prof. Livaldo dos Santos Planejamento Tributário Professores conteudistas: Nair Moretti Baradel / Roberto Biava Júnior © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) B223p Baradel, Nair Moretti Planejamento tributário / Nair Moretti Baradel; Roberto Biava Júnior - São Paulo: Editora Sol, 2012. 120 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-033/12, ISSN 1517-9230. 1. Planejamento tributário. 2. Cálculo 3. Tributos I.Título. CDU 341.39 Nair Moretti Baradel Nair Moretti Baradel é brasileira, natural de Andradina (SP), possui graduação em gestão financeira pela Universidade Paulista (UNIP) (2007) e pós-graduação em controladoria de empresas também pela Universidade Paulista (UNIP) (2009). Foi professora do curso de ciências contábeis da Universidade Paulista (UNIP), mais especificamente das disciplinas Contabilidade Tributária, Planejamento Contábil e Tributário, Contabilidade Gerencial e Contabilidade Introdutória. Além disso, é professora conteudista dos livros-textos das disciplinas Contabilidade Tributária e Planejamento Contábil e Tributário (2012). Atua há mais de 30 anos na área contábil tributária de grandes e médias indústrias e de empresas prestadoras de serviços. É colaboradora e participa de revisões e formulações de exercícios para os cursos de Ciências Contábeis e Gestão Financeira da UNIP Interativa, na cidade de São Paulo. Roberto Biava Júnior Roberto Biava Júnior é consultor tributário da Secretaria da Fazenda de São Paulo, mestrando em direito econômico, financeiro e tributário pela Universidade de São Paulo (2010-2012) e mestre em controladoria empresarial e ciências contábeis pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2008-2010). Possui graduação em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (SP) (1997-2000) e graduação em direito pela Universidade de São Paulo (2001-2005). É especialista em direito tributário pelo Ibet-SP (2006-2008) e pela Universidade de São Paulo (2009-2010). É fiscal de rendas da Secretaria da Fazenda de São Paulo desde 2006, na função de consultor tributário. De 2006 a 2007, exerceu a função de fiscal externo, com atuação profissional focada principalmente nos impostos ICMS (especialmente ICMS – substituição tributária), ITCMD e IPVA. Além disso, foi consultor tributário da Pricewaterhouse&Coopers de 2002 a 2006 e tem ampla experiência nas áreas de direito tributário, legislação tributária, contabilidade tributária e auditoria contábil e fiscal. Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Simone Oliveira Sumário Planejamento Tributário APRESENTAçãO ......................................................................................................................................................9 INTRODUçãO ........................................................................................................................................................ 10 Unidade I 1 CONCEITO E FINALIDADE DO PLANEJAMENTO TRIBUTáRIO .......................................................... 17 1.1 Conceito ................................................................................................................................................... 19 1.2 Finalidade do planejamento tributário ........................................................................................ 20 2 CONDIçõES NECESSáRIAS PARA O PLANEJAMENTO TRIBUTáRIO............................................. 20 2.1 Distinção entre elisão e evasão ...................................................................................................... 21 2.2 Processo de planejamento tributário ........................................................................................... 22 Unidade II 3 ICMS ..................................................................................................................................................................... 29 3.1 Disposições legais ................................................................................................................................. 30 3.2 Incidência ................................................................................................................................................ 31 3.3 Não incidência ....................................................................................................................................... 32 3.4 Fato gerador ........................................................................................................................................... 33 3.5 Contribuinte ........................................................................................................................................... 35 3.6 Competência .......................................................................................................................................... 36 3.7 Princípios constitucionais ................................................................................................................. 36 3.7.1 Dão direito ao crédito ........................................................................................................................... 37 3.8 Mercadorias adquiridas de empresas tributadas pelo Simples Nacional ...................... 40 3.8.1 Não dão direito ao crédito .................................................................................................................. 41 3.9 Base de cálculo e alíquotas .............................................................................................................. 44 3.9.1 Base de cálculo ........................................................................................................................................ 44 3.9.2 Alíquotas .................................................................................................................................................... 48 4 SUBSTITUIçãO TRIBUTáRIA ........................................................................................................................ 51 4.1 Conceito ................................................................................................................................................... 52 4.2 Tipos de substituição tributária do ICMS ................................................................................... 52 4.3 Substituição tributária das operações subsequentes ............................................................ 53 4.4 Substituição tributária e sujeição passiva (contribuinte substituto e substituído).....................................................................................................................................................54 4.4.1 Contribuinte substituto ........................................................................................................................ 54 4.4.2 Contribuinte substituído ...................................................................................................................... 55 4.5 Substituição tributária nas operações dentro do estado (lei estadual) ......................... 55 4.6 Substituição tributária nas operações interestaduais (depende de convênios e protocolos entre estados) ............................................................................................... 56 4.7 Principais produtos enquadrados na substituição tributária ............................................. 56 4.8 Substituição tributária – base de cálculo e cálculo do imposto a ser recolhido (ICMS – substituição tributária) ........................................................................................ 58 4.9 Substituição tributária das operações antecedentes ............................................................ 61 4.10 Substituição tributária das operações ou prestações concomitantes (serviços de transporte) ............................................................................................................................. 61 Unidade III 5 IPI (IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIzADOS) ................................................................... 70 5.1 Base legal ................................................................................................................................................. 70 5.2 Competência .......................................................................................................................................... 72 5.3 Incidência ................................................................................................................................................ 72 5.4 Fato gerador ........................................................................................................................................... 75 5.5 Contribuintes ......................................................................................................................................... 75 5.6 Definição legal de industrialização ............................................................................................... 76 5.7 Princípios constitucionais ................................................................................................................. 77 5.7.1 Seletividade ............................................................................................................................................... 77 5.7.2 Não cumulatividade .............................................................................................................................. 77 5.8 Base de cálculo ...................................................................................................................................... 77 5.8.1 Dos produtos de procedência estrangeira .................................................................................... 77 5.8.2 Dos produtos nacionais ........................................................................................................................ 77 5.9 Alíquotas .................................................................................................................................................. 78 5.10 Escolha de classificação fiscal de uma empresa ................................................................... 79 6 CáLCULO PRáTICO .......................................................................................................................................... 82 6.1 O crédito do imposto .......................................................................................................................... 83 6.2 O débito do imposto ........................................................................................................................... 83 6.2.1 Fato objeto do estudo ........................................................................................................................... 85 6.2.2 Questão fiscal oriunda do fato descrito ........................................................................................ 85 6.2.3 Estudo dos aspectos jurídico-fiscais relacionados à questão decorrente do fato descrito ......................................................................................................................................................... 85 6.3 Conclusão ................................................................................................................................................ 86 Unidade IV 7 ISS (ISSQN) – IMPOSTO SOBRE SERVIçOS DE QUALQUER NATUREzA ...................................... 94 7.1 Conceito ................................................................................................................................................... 94 7.2 Base legal para incidência do ISS .................................................................................................. 95 7.3 Prestadores de serviços ...................................................................................................................... 95 7.4 Fato gerador ........................................................................................................................................... 96 7.5 Contribuintes e responsáveis ........................................................................................................... 96 7.6 Base de cálculo ...................................................................................................................................... 97 7.7 Alíquotas .................................................................................................................................................. 97 7.8 Retenção do ISS .................................................................................................................................... 97 7.9 Retenção no Simples .......................................................................................................................... 98 7.10 Contabilização do ISS sobre vendas de serviços ................................................................... 99 7.11 Operação com ISS sobre vendas de serviços quando o prestador é o responsável pelo recolhimento do imposto .................................................................................. 99 8 ESTUDOS DE CASO ........................................................................................................................................100 8.1 Estudo específico ao exercício da atividade de conserto...................................................100 8.1.1 Fato objeto do estudo .........................................................................................................................100 8.1.2 Questão fiscal oriunda do fato descrito ......................................................................................100 9 APReseNTAção Pagar impostos é um dever de todo cidadão responsável e consciente de seus direitos e obrigações para com a sociedade. As pessoas com saúde e disposição para trabalhar jamais devem reclamar do pagamento de impostos. Ao contrário, elas devem se sentir orgulhosas de ter condições de possibilitar o recolhimento de tributos, pois, dessa forma, dão condições para o poder público promover o desenvolvimento da sociedade. É gratificante ver um cidadão ou uma empresa que pratica a responsabilidade fiscal. No entanto, sabe-se também que o Estado é ávido por arrecadar impostos e, em razão disso, impõe uma carga tributária difícil de suportar. Por conta da complexidade de apurar os impostos e pelo fato de desconhecerem os cálculos, famílias e empresas não raramente acabam por pagar mais impostosdo que deveriam. Quando famílias ou empresas deixam de pagar os impostos devidos, seja por desconhecimento, seja por não terem feito um cálculo mais preciso, o Estado costuma ser implacável e age com assustadora voracidade, o que causa grandes injustiças e aborrecimentos. Lamentavelmente, alguns chegam a preferir atuar na clandestinidade, o que impede o crescimento saudável de seus negócios. Dessa forma, é natural que homens e mulheres de negócios tenham enorme preocupação ou até mesmo temor quanto ao correto pagamento dos impostos e aos meios para exercer sua responsabilidade fiscal. O tecnólogo de gestão financeira precisa desenvolver competências para atender essa grande expectativa. Pagar corretamente os impostos é um desafio que requer mais do que boa vontade: requer profissionais bem-preparados. É nesse sentido que surge a necessidade de estudar Planejamento Tributário, uma disciplina integrante de estratégia e controladoria, o núcleo mais avançado do curso de Gestão Financeira e no qual se desenvolve temas complexos e peculiares. Logo, entende-se que você já adquiriu os conhecimentos necessários que o tornam apto a entrar nesses aspectos mais avançados. É importante que você, aluno, conheça as expectativas da universidade e dos coordenadores pedagógicos quanto ao conteúdo que o professor da disciplina Planejamento Tributário deve passar a seus alunos: Esta disciplina aborda a administração tributária de uma empresa, enfatizando os tributos recolhidos por ela, a análise de quando e quanto será crédito na compra de um material/produto e quando e quanto será débito na venda deste material/produto. Abordam-se ainda tópicos tributários importantes para a boa administração de uma empresa responsável fiscalmente, como a substituição tributária e o crédito de ICMS de uma filial para outra (UNIP, 2012). A área tributária no Brasil é muito ampla e complexa e tem um arcabouço jurídico muito extenso, o que obviamente dificulta o estudo. É impossível estudar particularidades e se aprofundar, como também não é razoável dizer que a área tributária no Brasil é tão mutável que o conhecimento obtido hoje se 10 tornaria irrelevante amanhã. Com a abordagem anteriormente mencionada, você terá condições de atuar com desenvoltura nos aspectos tributários das empresas, acompanhando sempre a legislação e interagindo com profissionais experientes. Os professores conteudistas deste livro-texto vivem no estado de São Paulo e prepararam um material que enfatiza as particularidades desse estado (embora haja comentários e casos relacionados a outras localidades). Entretanto, o conhecimento a ser aqui obtido pode ser utilizado em qualquer região, basta consultar a legislação específica do estado e/ou cidade em questão. Além disso, todo o conteúdo foi preparado apenas para o contexto brasileiro, apesar de sabermos que já é comum empresas brasileiras terem operações relevantes no exterior e que muitos de nossos alunos trabalham em multinacionais. O intuito não é o de estender o estudo dos aspectos tributários a questões muito particulares, mas sim desenvolver um conhecimento que possibilite a você ter autoconfiança para agir frente ao planejamento tributário e enriquecer sua vida pessoal e profissional. Bom estudo! INTRodução A carga tributária no Brasil é muito elevada, tanto para a pessoa física quanto para a pessoa jurídica, e ela cresce constantemente. Todos nós podemos constatar isso de modo frequente na hora de realizarmos nossas compras. Estudos demonstram essa asserção. O Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) estimava que a carga tributária média no Brasil atingiria mais de 32% do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, de tudo o que é produzido internamente em nosso país, em média 32% seriam destinados ao recolhimento de impostos. Essa expectativa foi estimada para os últimos cinco anos, porém, esse número foi ultrapassado e chegou a mais de 35% no ano de 2010. Figura 1 – Representação do crescimento da carga tributária no Brasil 11 O peso dos impostos cresceu cinco pontos percentuais nos últimos dez anos, passando de 30% para 35% do Produto Interno Bruto (PIB) – representado pela soma de todos os bens e serviços finais produzidos em uma determinada região ou país e medido em um determinado período. Ou seja, conforme divulgado pelo IBPT, a carga tributária no ano de 2010 correspondeu a 35,04% do PIB brasileiro. A carga tributária brasileira começou a ser medida em 1947, quando o percentual apurado foi de 13,8% do PIB. Carga tributária nada mais é do que a medição do volume de recursos financeiros que o Estado arrecada na forma de tributos comparado com a geração de riquezas em geral. O índice é obtido por meio da divisão de todas as receitas tributárias pelo valor do PIB. No conceito de carga tributária, estão inclusos também as contribuições sociais, a intervenção de domínio econômico e de interesse das categorias profissionais e econômicas e o FGTS. Segundo estudo oficial realizado pela Receita Federal1, temos as seguintes informações: Tabela 1 – Receita tributária por base de incidência de 2005 a 2009 (% do PIB)2 2005 2006 2007 2008 2009 2010 33,38% 33,35% 33,95% 34,41% 33,58% 35,04% Fonte: Santana, 2010. Lembrete O site da Receita Federal publica estudos anuais sobre a carga tributária e o IBPT é uma fonte constante de pesquisa para o gestor preocupado com essa questão. Até alguns anos atrás, tínhamos uma inflação galopante, muito próxima de 50% em um único mês. Os preços mudavam todos os dias e a população não conseguia comprar um produto com o mesmo preço por dois dias consecutivos. Na época, antes de 1994, era muito comum que as empresas e a própria população fizessem estoques de mercadorias, tanto de suprimentos para a subsistência como de estoques de produtos para a fabricação. Isso se dava a fim de que se obtivesse um pouco de ganho, pois o valor de aquisição de mercadorias no dia 4 de determinado mês, por exemplo, sofreria um acréscimo de aproximadamente 20% se fosse necessário adquiri-las novamente na mesma quantidade no dia 20 do mesmo mês. 1 Dados obtidos no site da Receita Federal: <http://www.receita.fazenda.gov.br/Publico/estudoTributarios/ estatisticas/CTB2009.pdf>. Acesso em: 2 abr. 2011. 2 Dados publicados também no site do IBPT (<http://www.ibpt.com.br/home>. Acesso em: 2 abr. 2011). 12 Com essa prática, as empresas ficavam com estoques gigantes e muitos empresários aplicavam todo o seu capital de giro em estoques. Mesmo assim, o custo dos produtos subia dia a dia. A especulação também era constante, pois os empresários já calculavam o preço baseados em uma inflação que ainda iria ocorrer. Figura 2 – Capitais O programa de estabilização econômica foi um plano a longo prazo para o controle da inflação e, com ele, a economia do Brasil se estabilizou. Hoje, a preocupação tem sido cada vez mais com a lucratividade das empresas e com o planejamento tributário, ferramenta importantíssima para se destacar frente à concorrência por meio da economia de impostos. A redução da carga tributária tem como consequência um melhor resultado financeiro para as empresas em todos os segmentos, isso sem extrapolar o campo da licitude e sem comprometer a qualidade e os resultados dos negócios. As reduções de impostos são suportadas por bases legais. Muitas vezes, por desconhecimento dessas bases ou por falta de recursos do empresariado brasileiro, não se usufrui de diversos benefícios fiscais disponibilizados pelo governo e ao alcance de todos os setores. No que diz respeito à carga tributária, o sistema tributário brasileiro é um dos mais complexos do mundo. Segundo alguns tributaristas, existem cerca de 60 impostos em vigor, com diversas leis, regulamentos e normas frequentemente alterados. Tais fatos penalizam demasiadamente o custo da maioriadas empresas e causam grandes transtornos no momento de gerenciamento e controle contábil e financeiro dos impostos e demais tributos. Ao considerarmos a entrada de diversos produtos no mercado brasileiro, a concorrência acirrada em virtude das políticas de subsídio praticadas por diversos países – inclusive com mão de obra extremamente barata – faz com que as empresas brasileiras sejam criativas e procurem mecanismos legais para sua manutenção no mercado de forma lucrativa e rentável. É nesse ambiente que o profissional das áreas administrativa e financeira deve atuar. 13 Dentre todos os impostos incidentes no Brasil, nos restringiremos ao estudo dos impostos sobre valor agregado e serviços (ICMS, IPI e ISS), que são de ordem federal, estadual e municipal. É importante lembrar que, por mais didático que este livro-texto ou qualquer outro texto sobre planejamento tributário possa ser, isoladamente ele não é suficiente para que o leitor se torne um especialista em tributos e em seu planejamento. Como já mencionamos, o assunto é complexo e sofre alterações constantemente, portanto, cabe a nós, profissionais da área, ficarmos atentos às alterações da legislação, pois qualquer mudança nas alíquotas, na forma de cálculo, nas bases de cálculos etc. afeta diretamente as finanças das organizações. O aumento de alguma alíquota de impostos não refletirá apenas na margem de lucros da empresa, mas afetará toda a população, pois, se há aumento na carga tributária, muito provavelmente a população pagará esse aumento mediante a alteração de preços de todos os produtos. Por exemplo, no caso de o governo resolver aumentar as alíquotas de IPI dos refrigeradores, automaticamente os fabricantes repassarão esse aumento para o consumidor final. Além disso, se alguma obrigação deixar de ser cumprida em virtude do desconhecimento do profissional envolvido na área, isso pode levar a empresa a ser autuada em valores significativos. Nesse sentido, cresce sensivelmente a responsabilidade de todos os gestores de uma empresa, principalmente aqueles das áreas de controladoria, contabilidade e finanças, pois as empresas e os responsáveis que, por desconhecimento, emitirem declarações errôneas ou em desacordo com as normas e legislação vigentes, poderão vir a ser autuados, processados e até condenados em determinados casos de comprovação de evasão fiscal. Figura 3 – Reunião com executivos O propósito desse material é estimular você, aluno, a pesquisar a legislação vigente e se inteirar das normas e dos procedimentos tributários que as empresas são obrigadas a cumprir. Isso deve ser feito por meio de uma procura incansável em outras fontes de conhecimento, em especial na própria legislação tributária, tomando-se o devido cuidado quanto à veracidade e embasamento legal das informações obtidas. 14 saiba mais Para facilitar suas pesquisas, os sites oficiais federais, estaduais e municipais disponibilizam a legislação para consulta e download gratuitos. O planalto do governo, por exemplo, disponibiliza a qualquer pessoa que queira estar bem-informada o sistema Push, no qual, após realizar um cadastramento em <http://www.saj.planalto.gov.br/saj/Boletins.nsf/ frmInscricaoWeb?OpenForm>, há o envio automático para o e-mail cadastrado das leis e dos decretos assinados diariamente pelo Presidente da República. Na Federação Nacional das Empresas de Contabilidade (Fenacon), também podemos nos cadastrar e receber todas as notícias relacionadas à área. Acesse: <http://www.fenacon.org.br/>. Acesso em: 6 fev. 2012. observação O ICMS é o tributo de maior relevância, seguido pela Cofins, pelo PIS, pelo IPI e pelo ISS. Tabela 2 – Receita tributária por relevância do tributo Tributo 2008 2009 R$ milhões %PIB % R$ milhões %PIB % Total da Receita Tributária 1.033.916,89 34,41% 100,00% 1.055.407,07 33,58% 100,00% 1 ICMS 218.459,18 7,27% 21,13% 224.027,74 7,13% 20,72% 2 Imposto de Renda 193.444,52 6,44% 18,71% 192.315,02 6,12% 17,78% 3 Contribuição para a Previdência Social 163.355,27 5,44% 15,80% 182.008,44 5,79% 16,83% 4 Cofins 119.193,60 3,97% 11,53% 115.995,84 3,69% 10,73% 5 Contribuição para o FGTS 48.714,38 1,62% 4,71% 54.725,95 1,74% 5,06% 6 Contribuição Social sobre o Lucro Líquido 42.748,74 1,42% 4,13% 43.583,09 1,39% 4,03% 7 Imposto sobre Produtos Industrializados 36.842,95 1,23% 3,56% 27.767,44 0,88% 2,57% 8 Contribuição para o PIS 25.728,59 0,86% 2,49% 25.816,81 0,82% 2,39% 9 ISS 21.372,01 0,71% 2,07% 22.354,48 0,71% 2,07% 10 IPVA 16.718,13 0,56% 1,62% 17.567,21 0,56% 1,62% 11 Imposto sobre Operações Financeiras 20.219,63 0,67% 1,96% 19.224,74 0,61% 1,78% 12 Contrib. Seg. Soc. Servidor Público - CPSS 16.068,46 0,53% 1,55% 18.510,84 0,59% 1,71% 13 Previdência Estadual 16.373,04 0,54% 1,58% 17.127,42 0,54% 1,58% 14 Impostos sobre o Comércio Exterior 17.120,81 0,57% 1,66% 15.895,41 0,51% 1,47% 15 15 IPTU 11.697,40 0,39% 1,13% 12.235,12 0,39% 1,13% 16 Salário–educação 8.813,90 0,29% 0,85% 9.685,19 0,31% 0,90% 17 Outros Tributos Estaduais 1.716,39 0,06% 0,17% 1.795,29 0,06% 0,17% 18 Contribuições para o Sistema S 7.904,63 0,26% 0,76% 8.609,23 0,27% 0,80% 19 Taxas Estaduais 8.188,63 0,27% 0,79% 7.938,36 0,25% 0,73% 20 Contribuição para o Pasep 4.913,49 0,16% 0,48% 5.163,25 0,16% 0,48% 21 Cide Combustíveis 5.933,34 0,20% 0,57% 4.911,41 0,16% 0,45% 22 Previdência Municipal 4.059,50 0,14% 0,39% 4.246,11 0,14% 0,39% 23 ITBI 3.581,92 0,12% 0,35% 3.746,58 0,12% 0,35% 24 Taxas Municipais 3.141,48 0,10% 0,30% 3.285,89 0,10% 0,30% 25 Outras Contribuições Sociais 2.075,61 0,07% 0,20% 2.513,24 0,08% 0,23% 26 ITCD 1.493,79 0,05% 0,14% 1.590,35 0,05% 0,15% 27 Contrib. Custeio Pensões Militares 1.512,86 0,05% 0,15% 1.681,26 0,05% 0,16% 28 Cota-Parte Ad Fr. Ren. Marinha Mercante 2.304,70 0,08% 0,22% 1.510,71 0,05% 0,14% 29 Outros Tributos e Taxas (1) 7.948,76 0,26% 0,77% 8.091,30 0,26% 0,75% 30 Cide Remessas 917,91 0,03% 0,09% 1.148,81 0,04% 0,11% 31 Cota-Parte Contrib. Sindical 299,43 0,01% 0,03% 314,63 0,01% 0,03% 32 Outras Contribuições Econômicas 44,73 0,00% 0,00% 44,15 0,00% 0,00% 33 Contribuição Prov. sobre Mov. Financeira 1.009,10 0,03% 0,10% (24,25) 0,00% 0,00% (1) - Inclui Taxas Federais, Outros Tributos Municipais, IPMF, ITR e Fundaf. Fonte: Santana, 2010. A atuação do gestor deve objetivar o registro, o controle e o planejamento dos tributos ocasionados pelas operações empresariais, pois, dessa forma, ele estimulará a procura por alternativas que tragam melhores resultados às organizações. 17 Re vi sã o: S im on e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 28 /0 2/ 20 12 Planejamento tributário Unidade I Prezados alunos, podemos iniciar nosso estudo com a pergunta: o que o tópico planejamento tributário tem a ver com o curso de Gestão Financeira? Como o próprio nome diz, o profissional de gestão financeira irá gerir empresas e, como gestor da área financeira, uma de suas responsabilidades é conhecer o que afeta as finanças de uma companhia. O cenário mais importante para esse gestor é o planejamento tributário, que refletirá diretamente na saúde financeira de qualquer empresa, seja ela de pequeno, médio ou grande porte. Nesse aspecto, não é só no resultado das empresas que os tributos refletem, mas também em nossos bolsos. Quando uma companhia tem uma alta carga tributária, esses impostos são repassados aos contribuintes. Assim, quanto mais as empresas economizarem em impostos e diminuírem suas cargas tributárias, mais elas poderão vender com preços menores. Desse modo, a economia tributária refletirá nos preços repassados aos consumidores. 1 CoNCeITo e FINALIdAde do PLANeJAMeNTo TRIBuTáRIo Agora, buscaremos compreender o que é planejamento tributário, quais são suas características, objetivos, formas deplanejamento pelas quais as empresas poderão optar etc. Se pararmos para pensar, de um modo geral nós vivemos planejando. Planejamos nosso final de semana, nossas férias, nossos encontros com amigos e namorados, nossas viagens, nossa aposentadoria etc. Nossa vida é um constante planejamento e também é assim na nossa vida profissional. Como falamos no início do capítulo, o planejamento tributário é muito importante tanto em nossa vida pessoal quanto nas empresas. Apesar de darmos um enfoque maior às empresas, nossas vidas também são afetadas diretamente pelo planejamento tributário. Um exemplo disso é quando, na época de fazer a Declaração do Imposto de Renda Pessoa Física, optamos pelo sistema simplificado ou pela forma completa de declarar esse imposto. Usualmente, antes de fazermos a entrega dessa declaração, simulamos as duas formas e optamos por aquela que nos oferece menor carga tributária, ou seja, aquela em que pagaremos menos impostos ou que nos restituirá uma parcela maior. Essa prática é um exemplo claro da busca por alternativas para se ter uma carga tributária menor sem ferir a legislação vigente e sem correr o risco de ter a declaração retida na malha-fina. 18 Unidade I Re vi sã o: S im on e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 28 /0 2/ 20 12 observação O leão (Panthera leo) foi vinculado à imagem da Secretaria da Receita Federal por uma famosa campanha publicitária da década de 1980 organizada pelo publicitário Neil Ferreira. Figura 4 – Leão Fabretti (2007) afirma que o estudo feito preventivamente, ou seja, antes da realização do fato administrativo e a partir da pesquisa de seus efeitos jurídicos e econômicos e das alternativas legais menos onerosas denomina-se planejamento tributário. Este exige do planejador bom-senso acima de tudo. O autor aponta ainda que nem sempre um planejamento que serve para uma grande empresa atenderá uma de pequeno ou médio porte, dado o custo que as operações necessárias para a execução desse planejamento podem exigir. Por certo, uma escolha feita a partir de um modelo já existente, ou seja, já implantado por uma determinada empresa, pode não atender as necessidades daquela na qual o gestor financeiro atua no momento. É nessa configuração que todo o conhecimento e toda a experiência do gestor serão testados, pois, para que tenhamos capacidade de escolher entre uma ou outra prática tributável, é necessário que conheçamos várias alternativas que nos deem suporte à decisão apresentada. Não existe mágica em um planejamento tributário, o que indica que tudo precisa ser muito bem-avaliado. O custo-benefício varia de acordo com o tamanho da empresa, sua localização, os valores e a época em que se está fazendo o planejamento. Tudo o que mencionamos até aqui são brechas que a própria legislação nos dá. É obrigação do gestor aproveitá-las em prol da organização em que atua. Porém, é importante salientar que essas brechas estão sendo constantemente eliminadas por meio de ajustes na legislação. 19 Re vi sã o: S im on e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 28 /0 2/ 20 12 Planejamento tributário Em virtude da diminuição dessas brechas, a análise de tributos para implantação do planejamento tributário fica a cada dia mais complexa. O profissional que se sobressai é aquele com maior preparo e maior criatividade. A noção de planejamento está relacionada diretamente às atividades programadas, que devem ser observadas ainda no presente para, assim, se projetar o futuro e se antever o que provavelmente acontecerá. Nesse momento, já ocorre também as precauções e as programações. No Brasil, a quantidade de tributos é tão grande quanto a complexidade para acompanhar, interpretar, aplicar ao ato concreto e fazer cumprir a legislação tributária. Dominar essas funções é o ponto de partida para os administradores planejarem uma possível redução da carga tributária nas empresas em que atuam e não expô-las a riscos fiscais (KPMG, 2005). 1.1 Conceito Luis Martins Oliveira (2006) conceitua planejamento tributário como uma forma lícita de reduzir a carga fiscal que exige alto conhecimento técnico e bom-senso dos responsáveis pelas decisões estratégicas no ambiente corporativo. Trata-se de um estudo prévio para a concretização dos fatos administrativos e dos efeitos jurídicos, fiscais e econômicos de determinada decisão gerencial, com o objetivo de encontrar a alternativa legal menos onerosa para o contribuinte. “O planejamento exacional (ou tributário) tem por objetivo a previsão de dispêndios com exações (ou tributos) em que se incidirá em determinada atividade e, enquanto voltado para a obtenção de resultados, o menor dispêndio possível, licitante” (ROCHA, 1998). O planejamento tributário é a escolha de alternativas de ações ou omissões lícitas, portanto, não (dis)simuladas e sempre anteriores à ocorrência dos fatos gerados dos tributos, que objetivem direta ou indiretamente a redução desses ônus diante de um ato administrativo ou fato econômico (SHINGAKI, 2006, p. 24). Segundo Borges (2006), as seguintes regras devem ser observadas para a elaboração de um planejamento: • verificar se a economia dos tributos é oriunda de ação ou omissão anterior à concretização das hipóteses de incidência; • examinar se a economia dos tributos é decorrente de ação ou omissão legítimas; • analisar se a economia de impostos é proveniente de ação realizada por meio de formas de direito privado normais, típicas e adequadas; • investigar se a economia de impostos resultou de ação ou conduta realizadas igualmente a suas formalizações nos correspondentes documentos e registros fiscais (BORGES, 2006, p. 28). 20 Unidade I Re vi sã o: S im on e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 28 /0 2/ 20 12 Ou seja, o planejamento tributário visa obter economia de impostos ao adotar procedimentos inteiramente legais e não deve ser confundido com sonegação fiscal. Planejar é escolher a opção lícita que acarretará uma menor carga tributária. Na verdade, o planejamento tributário é a atividade preventiva, o fator de análise do tributo. Com o intuito de identificar e projetar os atos e fatos tributáveis e seus efeitos, esse planejamento compara os resultados prováveis para os diversos procedimentos possíveis, de forma a possibilitar a escolha da alternativa menos onerosa sem extrapolar o campo da licitude. O caráter preventivo do planejamento tributário surge da necessidade de escolher o fato antes de concretizar a situação. Via de regra, após a efetivação dos fatos, são apresentadas somente duas alternativas para o sujeito passivo da relação jurídico-tributária: pagar ou não pagar o tributo decorrente do previsto legalmente e descrito como fato gerador. Se a opção for pela alternativa de não pagar, isso se caracterizará como prática ilícita, o que sujeitará a empresa à ação punitiva do Estado, caso este venha a tomar conhecimento de tal prática. Portanto, temos diversos conceitos que resultarão sempre no mesmo objetivo: obtenção de menor carga tributária dentro da legalidade. 1.2 Finalidade do planejamento tributário A finalidade do planejamento tributário é economizar nos impostos. Podemos descrever isso da seguinte forma: • evitar a incidência do tributo: para esse caso, adotam-se medidas e procedimentos com o fim de evitar a ocorrência do fato gerador; • reduzir o montante do tributo: as providências para atender esse item serão no sentido de reduzir a base de cálculo ou a alíquota do tributo; • retardar o pagamento do tributo: o contribuinte opta por medidas que terão o fim de postergar o pagamento do tributo sem ocorrência de multa e dentro da legislação. 2 CoNdIções NeCessáRIAs PARA o PLANeJAMeNTo TRIBuTáRIoOliveira (2006) estabelece que, independentemente da forma de tributação escolhida pela empresa, é possível verificar que a falta de planejamento estratégico tributário pode deixá-la mal preparada para investimentos futuros devido a uma possível insuficiência de caixa, o que irá gerar investimentos desnecessários para a cobertura de gastos não previstos. O autor aponta também que, para a correta execução das tarefas inerentes ao planejamento tributário, precisam ser aplicados todos os conhecimentos sobre a legislação do tributo a ser reduzido. Assim, a partir desse cenário, será possível planejar com bastante antecedência a melhor alternativa para a empresa executar suas operações comerciais. 21 Re vi sã o: S im on e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 28 /0 2/ 20 12 Planejamento tributário Ainda segundo Oliveira (2006), a finalidade principal de um bom planejamento tributário é, sem dúvida, a economia de impostos sem infringir a legislação. Esse conceito, denominado tax saving, é bastante utilizado pelos norte-americanos. Desse modo, para alcançar êxito nessas atividades, o gestor precisa, entre outras coisas: • conhecer todas as situações em que é possível o crédito tributário, principalmente com relação aos chamados impostos não cumulativos – ICMS e IPI; • conhecer todas as situações em que é possível o diferimento (postergação) dos recolhimentos dos impostos, o que permitirá um melhor gerenciamento do fluxo de caixa; • ser oportuno e aproveitar as lacunas deixadas pela legislação. Para tanto, será preciso estar atento às mudanças nas normas e aos impactos nos resultados da empresa. Em síntese, para se fazer um planejamento tributário adequado, é necessário que o gestor tenha conhecimento profundo para lidar com a complexidade da legislação brasileira e aproveite ao máximo os créditos tributários e as brechas existentes no sistema. 2.1 distinção entre elisão e evasão Muitas vezes, nos deparamos com as palavras elisão e evasão, que podem nos trazer dúvidas quanto aos seus significados. Ambas são opostas uma à outra em termos de legalidade. Vamos esclarecer: • elisão fiscal: significa a economia tributária lícita, realizada mediante toda e qualquer ação prevista antes da ocorrência do fato gerador que, sem violar a lei, evita, reduz ou posterga o imposto; • evasão fiscal: é toda ação consciente, espontânea, dolosa ou intencional do contribuinte com o intuito de evitar, eliminar, reduzir ou retardar o pagamento do tributo devido mediante meios ilícitos. A evasão fiscal não se configura em hipótese alguma com o planejamento tributário lícito, ou seja, a pessoa opta conscientemente por “driblar” a legislação de forma a obter vantagens ilícitas. 22 Unidade I Re vi sã o: S im on e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 28 /0 2/ 20 12 Figura 5 – A evasão fiscal é uma atitude ilícita 2.2 Processo de planejamento tributário O planejamento tributário é uma obrigação dos administradores. A Lei nº 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas) prevê a obrigatoriedade do planejamento tributário por parte dos administradores de qualquer companhia a partir da interpretação do artigo 153: “o administrador da companhia deve empregar, no exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração dos seus próprios negócios” (BRASIL, 1976). Portanto, antes de ser um direito, uma faculdade, o planejamento fiscal é uma obrigatoriedade para todo bom gestor, principalmente nos tempos atuais de concorrência acirrada e no qual as empresas estão competindo centavo a centavo no intuito de obter maior lucratividade. O que servirá de base para o planejamento tributário é a existência de dados confiáveis. A contabilidade é o sistema de registros permanentes das operações e é a base desse planejamento. Conforme definição de zanluca (2012), contabilidade é um conjunto de escrituração de receitas, custos e despesas, bem como de controle patrimonial (ativos e passivos), representado por diversos livros, entre os quais: • livro diário; • livro-razão (ou fichas); • inventário e controle de estoques; • livro de apuração do lucro real (Lalur); • apuração do ICMS; • apuração do IPI; • apuração do ISS etc. 23 Re vi sã o: S im on e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 28 /0 2/ 20 12 Planejamento tributário O histórico da empresa está registrado nas escriturações e é a fonte de busca para se fazer o planejamento tributário. Por meio de todas essas informações e sistemas é que se irá gerar dados preliminares para a análise tributária, pois, se desejamos reduzir tributos, temos que saber quanto estamos gastando com eles atualmente. Na área tributária, o planejador de sucesso buscará principalmente as informações precisas sobre tributos, bases legais, incidência, bases de cálculos, alíquotas, classificação fiscal, prazos de recolhimento, fato gerador, entre outros. Por meio da análise minuciosa de todas essas informações, elabora-se o planejamento tributário. Após a aplicação do planejamento pretendido, sua execução necessita ser avaliada quanto aos critérios e aos objetivos. É preciso saber se estes foram atingidos, ou seja, se houve realmente economia de impostos. Novamente, é necessária a utilização de dados contábeis para evidenciar se o planejamento trouxe redução de impostos, se houve custos adicionais ou não em sua implantação, de quanto foram esses custos etc. O resultado final do planejamento tributário tem de ser verificado, afinal, a redução de impostos é o nosso objetivo principal. Figura 6 – O planejamento tributário é uma ferramenta de gestão Por esses motivos, o planejamento tributário como ferramenta de gestão é uma programação que deve ser adotada por todos os tipos de empresas (pequenas, médias e grandes). Isso deve se dar a partir do conhecimento de todos os processos produtivos, das aquisições de matérias-primas e insumos, das vendas da produção, entre outros. Com base nessas informações, as estruturas podem passar por mudanças legítimas e eficazes no que diz respeito à economia e à racionalização dos procedimentos fiscais. Um exemplo prático de economia de impostos é o simples fato de se optar por adquirir mercadorias de empresas que apuram o Imposto de Renda com base na sistemática do Lucro Presumido e Lucro Real e não pelo Simples Nacional – tendo em vista os créditos do IPI e ICMS que o adquirente poderá tomar. Uma empresa comercial ou industrial, quando adquire mercadorias para revenda ou produção, pode compensar o ICMS, o IPI e, em alguns casos, o PIS e a Cofins por meio do crédito dos impostos, 24 Unidade I Re vi sã o: S im on e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 28 /0 2/ 20 12 dependendo do sistema de tributação que a empresa vendedora destacou na nota fiscal. Porém, se essa empresa vendedora for tributada pelo Simples Nacional, a parcela correspondente ao ICMS e ao IPI são muito menores. Por exemplo, dentro de São Paulo, a alíquota é de 18% para o Cism, porém, no caso do Simples, esse percentual pode ser 1,25%, ou seja, uma perda muito grande no crédito do imposto. saiba mais Lucro Real, Lucro Presumido, Lucro Arbitrado e Simples Nacional são formas de tributação para determinação do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. No caso de Lucro Real, Presumido e Arbitrado, o recolhimento é por meio de Darf e, no Simples Nacional, por meio do DAS. Veja material relativo a esse assunto no site da Receita Federal: <http:// www.receita.fazenda.gov.br>. Acesso em: 6 fev. 2012. Outro exemplo prático e fácil é a transferência do faturamento da empresa do dia 30 (ou 31) para o 1º dia domês subsequente. Com isso, ganha-se 30 dias adicionais ou mais para o pagamento dos impostos incidentes sobre a venda. Fabretti (2007) afirma que a eficiência dos registros contábeis são fundamentais para que a administração planeje suas ações, pois a contabilidade, entre outras funções, é instrumento gerencial para a tomada de decisões. Por isso, deve estar atualizada e emitir relatórios simples e claros para o administrador. Assim, a contabilidade é o principal aliado para o gestor financeiro, pois, sem os relatórios objetivos e atualizados, não será possível fazer qualquer tipo de planejamento que traga consequências positivas. Resumo A carga tributária no Brasil é uma das mais elevadas do mundo. Segundo o IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), no ano de 2010 o peso dos tributos chegou a 35,04% do PIB. Com a estabilização da economia brasileira, o planejamento tributário fez-se uma ferramenta importantíssima para que as empresas se destacassem da concorrência, pois, com a redução da carga tributária, as empresas têm como consequência um melhor resultado financeiro. O sistema tributário brasileiro é um dos mais complexos do mundo. Segundo alguns estudiosos, chega a existir no país mais de 60 tributos, que são alterados constantemente e afetam diretamente a parte financeira das 25 Re vi sã o: S im on e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 28 /0 2/ 20 12 Planejamento tributário empresas. Por essa razão, cabe aos profissionais da área se preparar para atender as mudanças da legislação, pois isso tem consequência direta nas finanças das organizações, não só no caso de aumento e/ou diminuição de alíquotas de impostos, mas também no que diz respeito a obrigações, que podem levar a empresa a autuações e condenações. Com vimos, de acordo com Fabretti (2007), o estudo preventivo feito antes da realização do fato administrativo se baseia na pesquisa de seus efeitos jurídicos e econômicos e de alternativas legais menos onerosas. Esse estudo se chama planejamento tributário e o bom-senso deve ser utilizado nele. Um modelo de planejamento utilizado para uma determinada empresa pode não atender às necessidades de outra, o que indica que deve-se verificar especificamente o custo-benefício em virtude da espécie, tamanho, localização, entre outros dados particulares de cada companhia. Para o planejamento tributário, deve-se observar as atividades presentes, pois é por meio delas que se projeta o futuro. Esse planejamento visa obter uma economia de impostos a partir da adoção de procedimentos totalmente legais. Ele é uma atividade preventiva e seu fator de análise é o tributo. Os dados confiáveis servirão de base para o planejamento tributário, que tem como principal aliada a contabilidade, um conjunto de escrituração de receitas, custos e despesas, entre elas os livros fiscais. Na área tributária, o planejador de sucesso buscará principalmente informações precisas sobre tributos, bases legais, incidência, bases de cálculos, alíquotas, classificação fiscal, prazos de recolhimento, fato gerador, entre outras. É por meio da análise minuciosa de todas essas informações que o planejamento tributário é elaborado. Como é preventivo, esse planejamento precisa ser feito antes do fato concretizado. Se este já tiver ocorrido, não há mais o que se fazer a não ser pagar o valor do imposto ou não pagá-lo e ser punido por isso, uma vez que o não pagamento tributário é ilícito. As finalidades do planejamento tributário são evitar a incidência do tributo, reduzir seu montante e retardar seu pagamento sem comprometer a legalidade. Isso se dá por meio da elisão fiscal, que é a economia tributária sem violação das leis. Caso haja intenção espontânea de fazê-lo por meios ilegais, o fato é considerado evasão fiscal. 26 Unidade I Re vi sã o: S im on e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 28 /0 2/ 20 12 O planejamento tributário é uma obrigação do gestor. Na Lei das Sociedades Anônimas, inclusive, essa obrigatoriedade consta de forma clara. Para exercê-la, o profissional contará com o auxílio da contabilidade, que detém os registros contábeis para análise. Após a implantação do planejamento tributário, deve-se verificar se o objetivo de diminuição da carga de impostos foi atendido. Por fim, vimos que o planejamento tributário precisa ser avaliado no que diz respeito a seus critérios e objetivos. Essa avaliação deixará evidente se realmente houve economia de impostos. Por sua vez, a utilização de dados contábeis para evidenciar se o planejamento foi bem-sucedido permite checar se houve custos adicionais, de quanto foram esses custos etc. Exemplo de aplicação Ao longo da unidade, você teve contato com termos que representam conceitos utilizados no jargão da área de planejamento tributário. Propomos a você que estude o termo elisão fiscal e tente explicar com suas próprias palavras o que ele significa. Caso tenha dificuldade, volte ao texto e releia-o. Em todo caso, pesquise na internet não só o que significa o termo, mas como os profissionais da área de finanças o utilizam. Além disso, elabore um mapa mental com os principais termos e definições que você estudou até aqui. __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ exercícios Questão 1. Leia as afirmativas a seguir: Afirmativa 1: A nota “calçada”, onde o contribuinte lança um valor na primeira via, que se destina à circulação da mercadoria ou comprovação do serviço prestado, diferente nas demais vias as quais serão exibidas ao fisco numa eventual fiscalização, é um ato ilegal e criminoso. 27 Re vi sã o: S im on e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 28 /0 2/ 20 12 Planejamento tributário Afirmativa 2: Isso porque a prática apresentada consiste na elisão fiscal, que resulta em economia tributária e diminuição da arrecadação pelo fisco. A respeito dessas duas afirmações, é correto afirmar que: A) As duas afirmações são verdadeiras e a segunda não justifica a primeira. B) As duas afirmações são verdadeiras e a segunda justifica a primeira. C) A primeira afirmação é verdadeira e a segunda é falsa. D) A primeira afirmação é falsa e a segunda é verdadeira. E) As duas afirmações são falsas. Resposta correta: alternativa C. Análise das afirmativas: Afirmativa 1: verdadeira. Justificativa: essa prática é ilícita e criminosa e caracteriza fraude. A fraude ou sonegação fiscal consiste em utilizar procedimentos que violem diretamente a lei fiscal ou o regulamento fiscal, é flagrante e caracteriza-se pela ação do contribuinte em se opor conscientemente à lei. Dessa forma, sonegação é um ato voluntário e consciente no qual o contribuinte busca omitir-se em relação ao imposto devido. Afirmativa 2: falsa. Justificativa: por ser ilícita, essa prática consiste em evasão fiscal, ou seja, é uma ação consciente, espontânea, dolosa ou intencional do contribuinte que se dá via meios ilícitos e tem o intuito de evitar, eliminar, reduzir ou retardar o pagamento de um tributo devido. Esse retardamento não se configura em hipótese alguma com o planejamento tributário lícito. Nele, a pessoa opta conscientemente por driblar a legislação de forma a obter vantagens ilícitas. A elisão fiscal,por sua vez, significa a economia tributária lícita, realizada mediante toda e qualquer ação prevista antes da ocorrência do fato gerador e que, sem violar a lei, evita, reduz ou posterga o imposto, conforme explicado no livro-texto. Questão 2. Analise as afirmativas sobre a finalidade do planejamento tributário: I – A finalidade do planejamento tributário é retardar o pagamento do tributo. O contribuinte opta por medidas que terão o fim de postergar o pagamento do imposto. Apesar da ocorrência de multa, tudo deve ser planejado de forma a proceder com economia e dentro da legislação. 28 Unidade I Re vi sã o: S im on e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 28 /0 2/ 20 12 II – A finalidade do planejamento tributário é evitar a incidência do fato gerador. Para isso, adota-se medidas e procedimentos com o fim de evitar a fiscalização e a constatação da tributação. III – A finalidade do planejamento tributário é reduzir o montante do tributo. As providências para atender esse quesito serão no sentido de reduzir a base de cálculo ou a alíquota do tributo. Assinale as alternativas que apresentam a(s) afirmativa(s) correta(s): A) I e II. B) I e III. C) II e III D) I. E) III. Resposta desta questão na Plataforma.
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