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1 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIA DA ARTE 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
 
2 
 
SUMÁRIO 
1 O QUE É A ARTE? .............................................................................................. 4 
2 A ARTE COMO UM REFLEXO DA CULTURA E DA SOCIEDADE ..................... 9 
3 QUANDO A ARTE SURGIU? ............................................................................. 11 
3.1 A arte no Paleolítico: o naturalismo ................................................................. 11 
3.2 A arte no Neolítico: um novo estilo .................................................................. 15 
3.3 A arte na Idade dos Metais: um novo material ................................................ 18 
4 TIPOS DE ARTE ................................................................................................ 19 
5 FORMAÇÃO DA ARTE CONTEMPORÂNEA .................................................... 22 
6 PRINCIPAIS VERTENTES DA ARTE CONTEMPORÂNEA .............................. 26 
6.1 Minimalismo......................................................................................................27 
6.2 Op art.................................................................................................................27 
6.3 Arte cinética.......................................................................................................27 
6.4 Arte conceitual ................................................................................................. 28 
6.5 Arte povera........................................................................................................28 
6.6 Body art.............................................................................................................28 
6.7 Land art.............................................................................................................29 
7 OBRAS EM DESTAQUE .................................................................................... 30 
8 ARTE CONTEMPORÂNEA: ALGUMAS CARACTERÍSTICAS E TENDÊNCIAS.35 
9 ARTE CONCEITUAL E SEUS SIGNIFICADOS ................................................. 41 
10 ARTE CONTEMPORÂNEA E SEUS DESDOBRAMENTOS ........................... 45 
11 A POP ART E O SEU DESENVOLVIMENTO .................................................. 49 
12 OS ARTISTAS DA POP ART ........................................................................... 53 
13 A POP ART NO BRASIL .................................................................................. 58 
14 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO EM ARTE .................................................. 62 
 
3 
 
15 A ARTE NA CULTURA E NO CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL ................... 66 
16 RELAÇÕES ENTRE A EDUCAÇÃO ESTÉTICA E A EDUCAÇÃO ARTÍSTICA.70 
17 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................. 76 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1 O QUE É A ARTE? 
Para o crítico inglês John Ruskin (apud PROENÇA, 2009, p. 6), “[...] as 
grandes nações escrevem sua autobiografia em três volumes: o livro de suas ações, 
o livro de suas palavras e o livro de sua arte”. Ele ainda acrescenta que “[...] nenhum 
desses três livros pode ser compreendido sem que se tenham lido os outros dois, 
mas desses três, o único em que se pode confiar é o último”. 
Partindo dessa colocação, você pode entender a arte como reflexo da 
sociedade, ou seja, como algo profundamente ligado à cultura e aos sentimentos 
de um povo. É por isso que, aos olhos de Ruskin, o livro da arte é o mais confiável. 
Por meio da arte, o homem pode se manifestar expressivamente e registrar a sua 
vida em diferentes aspectos. Ele pode, por exemplo, retratar uma festa, um 
nascimento, um trabalho, uma manifestação religiosa, assim como momentos de 
ilusão, ou ainda devaneios, sátiras e críticas. Em geral, as atividades humanas em 
algum momento foram elementos de representação artística, nas mais diversas 
linguagens, temas e técnicas de produção. (SANTOS, 2019) 
A palavra “arte” vem do latim ars e corresponde ao termo grego tékhne 
(“técnica”), que significa “[...] toda atividade humana submetida a regras em vista da 
fabricação de alguma coisa” (CHAUÍ, 2003 apud FERREIRA, 2011, p. 61). A arte é 
um meio de fazer, de produzir. Nesse sentido, ela pressupõe um conhecimento 
prévio inerente ao ser humano. Veja: 
A arte é muitas coisas. Uma das coisas que a arte é, parece, é uma 
transformação simbólica do mundo. Quer dizer: o artista cria um mundo 
outro — mais bonito ou mais intenso ou mais significativo, ou mais 
ordenado — por cima da realidade imediata [...]. Naturalmente, esse 
mundo do outro que o artista cria ou inventa nasce de sua cultura, de sua 
experiência de vida, das ideias que ele tem na cabeça, enfim, de sua visão 
de mundo [...] (GULLAR apud FERREIRA, 2011, p. 61). 
A arte, apesar de ser um conceito subjetivo, pode ser compreendida como 
um saber. Ela alia conhecimentos teóricos e práticos de modo a expressar os 
sentimentos de um povo intrínsecos ao seu contexto social. (SANTOS, 2019) 
 
 
5 
 
 
 
As obras de arte apresentam diferentes temas. Você pode considerar que 
elas: 
 
 Retratam elementos naturais, como é o caso das pinturas nas 
cavernas de Altamira, na Espanha (Figura 1); (SANTOS, 2019) 
 
 
 
 Expressam os sentimentos religiosos do homem, tal como o quadro 
Natividade, do pintor renascentista Sandro Botticelli (Figura 2), ou a 
máscara do Deus-Morcego criada por uma antiga civilização pré-
colombiana do México (Figura 3); (SANTOS, 2019) 
 
 
6 
 
 
 
 
7 
 
 
 
 Retratam situações sociais, como A família de Retirantes, do pintor 
brasileiro Candido Portinari (Figura 4). (SANTOS, 2019) 
 
 
8 
 
 
 
 Sugerem diferentes impressões a quem as contempla, como as 
pinturas de Tomie Ohtake (Figura 5). (SANTOS, 2019) 
 
 
9 
 
 
2 A ARTE COMO UM REFLEXO DA CULTURA E DA SOCIEDADE 
A obra de arte se situa entre o particular e o universal da experiência 
humana. Cada obra é tanto um produto cultural de determinada época quanto uma 
criação singular da imaginação humana, cujo valor é universal. A obra de arte revela 
para o artista e ao mesmo tempo para o espectador uma possibilidade de existência 
e comunicação, além dos fatos e relações habitualmente conhecidos. (SANTOS, 
2019) 
Dessa maneira, a criação artística pode se distinguir das demais 
modalidades de conhecimento por promover a comunicação entre os seres 
humanos, com a utilização particular das suas formas de linguagem. (SANTOS, 
2019) 
 
 
10 
 
 
 
Para Arthur Schopenhauer (2003), filósofo alemão do século XIX, caberia à 
arte expor ideias e assim explorar o verdadeiro conteúdo do mundo. A arte, para 
ele, se definiria como a “exposição de ideias” ou o modo de consideração das coisas 
independentemente do princípio da razão. Ela seria o conhecimento cristalino dos 
graus de objetivação da vontade. Pela arte, o gênio, faculdade comum a todos em 
menor ou maior grau, intuiria “[...] o essencial propriamente dito do mundo, o 
conteúdo verdadeiro de seus fenômenos [...]” (SCHOPENHAUER, 2003, p. 15). Ou 
seja, para o filósofo, a arte seria a maneira mais efetiva de explorar o conteúdo do 
mundo. 
Além disso, a arte pode ser entendida como um modo privilegiado de 
conhecimento e aproximação entre indivíduos de diferentes culturas. Afinal, ela 
favorece o reconhecimento das diferenças e semelhanças, expressas nos produtos 
artísticos e concepções estéticas, num plano mais profundo que o do discurso 
verbal. (SANTOS, 2019) 
Por meio da análise de objetos e imagens produzidas pelo homem no 
decorrer dos tempos, você pode, além de obter um retrato das transformações, ver 
os registros das descobertas proporcionadas pela ciência, sistematizadas pela 
geografia, registradas pela história, desenvolvidas pela matemática.Por meio da 
história da arte, é possível compreender a relação do homem com o seu tema e o 
seu espaço. (SANTOS, 2019) 
As manifestações artísticas são exemplos da diversidade cultural dos 
diferentes povos, expressando a riqueza criadora dos artistas de todos os tempos 
e lugares. Os trabalhos de arte muitas vezes expressam as questões humanas, tais 
como problemas sociais e políticos, sonhos, medos, perguntas e inquietações das 
mais diversas. Também documentam fatos históricos e manifestações culturais 
particulares. Como afirma Ferreira (2011, p. 67): 
 
11 
 
O artista, através de sua obra de arte autêntica, pode protestar contra as 
barbáries do mundo, transformando a submissão em ato de luta, buscando 
resgatar a dignidade humana, o ser humano pleno, rumo a uma sociedade 
melhor, mais justa e mais democrática, onde todos possam ter acesso aos 
bens culturais de consumo e ao lazer. 
Nesse sentido, a arte não se restringe a produzir o belo ou o útil, o prazer. 
Mas do que isso, a “[...] arte pode contribuir para a compreensão do mundo real e 
expressão da verdade” (FERREIRA, 2011, p. 67). 
3 QUANDO A ARTE SURGIU? 
Como você pode notar, o ser humano, seja de que época for, sempre 
produziu e se cercou de artefatos e utensílios para o uso cotidiano e para a 
expressão de seus sentimentos diante da vida. Os primeiros registros da cultura 
humana datam da Pré-História. Foram encontrados objetos, pinturas e gravações 
no interior de muitas cavernas espalhadas pelo mundo. Por meio deles, 
antropólogos e historiadores puderam reconstituir a vida dos ancestrais pré-
históricos do homem. (SANTOS, 2019) 
Devido à sua longa duração, a Pré-História foi dividida por historiadores, 
segundo Proença (2009), nos seguintes períodos: 
 
 Paleolítico (Idade da Pedra Lascada) — do surgimento do ser 
humano até cerca de 12 mil anos atrás; 
 Neolítico (Idade da Pedra Polida) — de 12 até 6 mil anos atrás; 
 Idade dos Metais — de 6 mil anos atrás até o desenvolvimento da 
escrita. 
3.1 A arte no Paleolítico: o naturalismo 
Esse período também é chamado de Idade da Pedra Lascada. Nele, grupos 
de homens produziam armas e instrumentos de pedra, que eram lascadas para 
adquirirem bordas cortantes. As primeiras manifestações artísticas desse período 
 
12 
 
em que se têm registro são as pinturas encontradas nas cavernas de Chavet e 
Lascaux, na França (Figura 6), e de Altamira, na Espanha. (SANTOS, 2019) 
 
 
 
As primeiras expressões de arte consistiam em traços feitos nas paredes 
das cavernas ou em mãos em negativo (Figura 7). Somente depois de muito tempo 
é que o ser humano da Pré-História passou a desenhar e a pintar animais. 
(SANTOS, 2019) 
 
 
 
 
13 
 
 
 
Os desenhos e as pinturas desse período apresentam como principal 
característica o naturalismo, pois a natureza e os seres vivos eram representados 
tal como vistos pelo homem paleolítico. Diferentemente do que aconteceu em outros 
períodos, o artista retratava somente o que via. As chamadas pinturas rupestres (do 
latim rupes, “rocha”) representavam animais, muitas vezes aqueles que eram 
temidos, como o bisão (Figura 8). (SANTOS, 2019) 
 
 
 
Para produzir pinturas como a da Figura 8, eram utilizados óxidos minerais, 
ossos carbonizados, carvão, vegetais, além de sangue de animais. O ser humano 
das cavernas esmagava os elementos sólidos e os dissolvia na gordura dos animais 
 
14 
 
caçados. Inicialmente, utilizava os próprios dedos para pintar. No entanto, também 
há indícios do emprego de pincéis produzidos com penas e pelos. (SANTOS, 2019) 
Outro aspecto que chama a atenção nesse período são as esculturas. Elas 
retratam predominantemente figuras femininas, como a Vênus de Willendorf (Figura 
9). A pequena escultura de pedra foi encontrada pelo arqueólogo Josef Szombathy, 
perto de Willendorf, na Áustria, em 1908. (SANTOS, 2019) 
 
 
 
Na Figura 9, você pode observar alguns aspectos: não há diferenciação 
evidente da cabeça em relação ao pescoço, os seios são volumosos, assim como 
o ventre e as nádegas, que têm forma arredondada. (SANTOS, 2019) 
 
 
15 
 
 
3.2 A arte no Neolítico: um novo estilo 
O Neolítico também foi denominado Idade da Pedra Polida. Nesse período, 
os homens produziam armas e instrumentos polindo as pedras por atrito, deixando-
as, assim, mais afiadas e eficientes. Foi nessa época que aconteceu a chamada 
Revolução Neolítica. Segundo Proença (2009), ela marcou o início da agricultura e 
da domesticação de animais. Isso permitiu ao homem substituir a vida nômade por 
uma vida mais estável. Como você pode imaginar, essa mudança alterou 
profundamente a história humana. Com a fixação dos grupos, a população cresceu 
rapidamente e desenvolveu seus primeiros núcleos familiares. Além disso, ocorreu 
a divisão de trabalho nas comunidades. Você deve considerar que: 
Há, então, uma diferença básica entre o Paleolítico e o Neolítico, embora 
o homem ainda dependesse da pedra como o material de seus principais 
utensílios e armas. A nova forma de vida deu origem a um grande número 
de habilidades e invenções, muito antes do surgimento dos metais: a 
cerâmica, a tecelagem e a fiação, métodos básicos de construção 
arquitetônica. Sabemos tudo isso a partir dos povoados do Neolítico que 
foram revelados por escavações (JANSON; JANSON, 1996, p. 17). 
A importante passagem da caça para a agricultura de subsistência 
provavelmente foi a causa de profundas alterações na maneira de o homem ver a 
si próprio e o mundo. Segundo Janson e Janson (1996, p. 17), “[...] deveria haver, 
aqui, um enorme capítulo sobre o desenvolvimento da arte que, no entanto, se 
perdeu, simplesmente por que os artistas do Neolítico trabalhavam com madeira e 
outros materiais perecíveis”. No entanto, há uma exceção: Stonehenge, o grande 
círculo de pedra localizado no sul da Inglaterra (Figuras 10 e 11). 
 
 
16 
 
 
 
 
 
O Stonehenge é considerado o mais bem preservado dos monumentos 
megalíticos ou "de grandes pedras". Aparentemente, ele é de cunho religioso, já 
que o esforço contínuo necessário para construí-lo só poderia ter sido mantido pela 
fé. Sua estrutura inteira volta-se para o ponto exato em que o Sol se levanta no dia 
mais longo do ano, o que leva a crer que deve ter se prestado a um ritual de 
adoração do Sol (JANSON; JANSON, 1996, p. 18). 
As conquistas técnicas do homem neolítico certamente se refletiram nas 
suas pinturas, pois o estilo naturalista deu lugar a um estilo mais simples e 
 
17 
 
geométrico. O novo estilo mais sugeria do que representava fielmente os seres 
(Figura 12). (SANTOS, 2019) 
Você pode observar que essas pinturas do Neolítico não buscavam imitar a 
natureza; suas figuras possuem poucos traços e poucas cores. Além das formas 
representadas, os temas também sofreram mudanças: as atividades cotidianas e 
coletivas passaram a ser representadas. Note que na cena representada na Figura 
13 há a clara intenção de transmitir a ideia de movimento, de dar vida à cena 
representada por meio da posição das pernas e dos braços. (SANTOS, 2019) 
 
 
 
 
18 
 
 
3.3 A arte na Idade dos Metais: um novo material 
Na Idade dos Metais, com a dominação do fogo, o artista passou a trabalhar 
com o metal e a produzir peças mais complexas e elaboradas. Para a produção de 
esculturas de metal, ele utilizava principalmente a técnica com a forma de barro e a 
técnica da cera perdida. As primeiras esculturas foram encontradas na 
Escandinávia e na Sardenha, representando guerreiros e mulheres e 
documentando costumes do período (Figura 14). (SANTOS, 2019) 
 
 
19 
 
 
 
 
4 TIPOS DE ARTE 
Para se manifestar artisticamente, o homem usa o som (música), a 
linguagem verbal oral ou escrita (literatura), a linguagem visual e a linguagem 
 
20 
 
corporal (dança). Ele pode, ainda, expressar-se por meio da combinação de várias 
linguagens. É possível classificar a arte de diversas maneiras.Para Schopenhauer 
(apud BARBOZA, 2001, p. 94), por exemplo, haveria uma hierarquia entre as artes: 
a menos relevante seria a arquitetura, seguida pela escultura, pela pintura, pela 
poesia e, por fim, pela música, a mais interessante das expressões. Portanto, 
segundo ele, entre as artes estaria a arquitetura, capaz de lidar com formas e 
proporções, expondo ainda o conflito entre gravidade e resistência. Para a boa e 
bela arquitetura, seria necessário traduzir a tensão da natureza com o material 
típico, a pedra. Na hierarquia do filósofo, a jardinagem ainda estaria numa posição 
superior à da arquitetura. 
Em patamares mais elevados que a arquitetura e a jardinagem estariam a 
escultura e a pintura histórica, capazes de representar a fisionomia e o corpo 
humano com genuína beleza estética. Nessa hierarquia, a poesia estaria em 
posição superior à das artes plásticas e seria inferior somente à música. A poesia, 
para Schopenhauer (2003), possibilita a exposição da vontade em sua objetivação 
mais elevada, permitindo uma dinâmica narrativa das ações e semblantes superior 
à das artes plásticas. A última arte na hierarquia e a mais excelsa de todas elas 
seria a música, pois se conhece aí “não a cópia, repetição de alguma ideia das 
coisas do mundo”, mas a “linguagem universal” da coisa em si. 
De modo geral, você pode considerar a classificação das artes apresentada 
a seguir. (SANTOS, 2019) 
 
 Artes plásticas: englobam alguns tipos de artes visuais. Referem-
se a expressões artísticas que utilizam técnicas de produção que 
manipulam materiais para construir formas e imagens. A ideia é que 
tais formas e imagens revelem uma nova concepção estética e a 
visão poética do artista plástico. Entre as artes plásticas, estão: 
arquitetura, pintura, desenho, escultura, gravura e fotografia. 
 Artes cênicas: consistem no estudo das expressões performáticas 
apresentadas em um palco e relacionadas com a dança, o teatro, a 
linguagem verbal ou a música. 
 
21 
 
 Artes visuais: são todas as artes que apresentam realidade ou 
imaginação percebida pelo olhar como processo criativo. 
 
 
 
 Arquitetura: é a arte de projetar e edificar espaços a partir da 
harmonia de proporções, da seleção de materiais e de soluções 
estruturais em vista da plástica arquitetônica. 
 Escultura: é a técnica de representar figuras ou de organizar formas 
em três dimensões, esculpindo ou combinando elementos. 
 Pintura: é caracterizada pela técnica de aplicar tintas sobre uma 
superfície, geralmente plana, representando figuras conhecidas ou 
imaginárias, cuja cor é um elemento básico. Exemplos: quadros, 
painéis, murais. 
 Música: é a combinação harmoniosa e expressiva de sons e ritmos, 
cuja compreensão se dá na esfera do sensível e do intuitivo, por meio 
da audição. É a arte de se exprimir por meio de sons, cuja forma e 
conteúdo variam de acordo com cada cultura e contexto social. Essa 
prática cultural foi desenvolvida em diferentes sociedades desde a 
Pré-História. 
 Teatro: é o ofício ou arte de atuar, que percorreu a história da 
humanidade, unindo por vezes dança e música. O teatro surge com 
a evolução dos rituais relacionados à caça e à colheita (agricultura). 
Posteriormente, os ritos teatrais remetem a cerimônias dramáticas, 
com expressões de cunho espiritual. 
 
22 
 
 Poesia (literatura): utiliza recursos linguísticos e estéticos para a 
expressão dos sentimentos, questões humanas e/ou situações 
cotidianas. Tem como objetivo retratar o real ou o imaginário, de 
forma lírica, veiculando informações ao receptor. 
 Cinema: denominado “sétima arte”, surge com os irmãos Lumière, 
na França, em 1895, a partir do cinematógrafo, inspirado na ideia de 
domínio fotográfico e de síntese do movimento com a proposição 
sonora. Aos poucos, a arte foi retratando grandes eventos sociais. 
Hoje, cada vez mais filmes e documentários transmitem e veiculam 
imagens e mensagem para informar e provocar seus espectadores. 
 
Como você viu, o artista pode se expressar de diversas maneiras, seja pela 
linguagem visual, pela linguagem cênica ou pela linguagem plástica, ou ainda pela 
mistura de várias linguagens. Assim, as diferentes manifestações de arte estão 
profundamente ligadas à cultura de um povo, pois ora retratam elementos do meio 
natural (como nas pinturas pré-históricas), ora retratam temas religiosos, situações 
sociais, etc. As manifestações artísticas revelam a visão do homem sobre o espaço, 
assim como a sua relação com o seu meio e o seu tempo. Ou seja, as obras de arte 
são reflexos da cultura e da história. (SANTOS, 2019) 
5 FORMAÇÃO DA ARTE CONTEMPORÂNEA 
A arte contemporânea contempla a produção artística produzida no mundo 
a partir da segunda metade do século XX até os dias de hoje. Caracterizada por 
uma grande diversidade de linguagens, a arte contemporânea amplia o conceito de 
arte, proporcionando à artista liberdade total para criar e se expressar de toda forma 
e com todo tipo de material. (SOUZA,2019) 
A Segunda Guerra Mundial trouxe grandes transformações para o mundo. 
A partir dela, ocorreram a expansão do capitalismo, o desenvolvimento da 
globalização, o surgimento de uma sociedade de consumo, o desenvolvimento 
tecnológico e a disseminação dos meios de comunicação de massa (rádio, 
 
23 
 
televisão, cinema, etc.). Esse período também consolidou a hegemonia econômica 
e cultural dos Estados Unidos, transferindo o eixo das artes de Paris para Nova 
Iorque, com o expressionismo abstrato do artista Jackson Pollock (ARGAN, 1992). 
A arte contemporânea reúne um grande número de estilos vinculados a 
formas inovadoras de expressão. A arte se aproxima da realidade e provoca 
discussões e reflexões sobre a sociedade e sobre si mesma. Além disso, hoje se 
propõe o rompimento com as ideias tradicionais de arte (pintura e escultura). Isso 
resulta numa expressão em que o que importa é a ideia e o processo artístico, não 
o objeto ou a imagem final. A relação do espectador com a obra também se altera. 
O mero observador se torna participante ativo da obra. É o que ocorre, por exemplo, 
em instalações e performances, que passam a fazer parte da linguagem da arte 
contemporânea (BARROSO, 2018). 
Você pode considerar as seguintes vertentes da arte contemporânea: 
expressionismo abstrato, pop arte, minimalismo, action painting, arte cinética, arte 
conceitual, arte povera, body art, hiper-realismo, land art, neoconcretismo, op art, 
street art, entre outros. (SOUZA,2019) 
O expressionismo abstrato de Jackson Pollock introduziu uma nova técnica 
na pintura, a drip painting (pintura de gotejamento). O artista derrama e respinga a 
tinta sobre a tela, que fica na horizontal. Pollock ainda foi pioneiro em criar com a 
action painting (ou pintura de ação), em que o gestual da técnica da pintura passa 
a fazer parte da própria obra. Veja, na Figura 1, a obra Trilhas Onduladas, de Pollock 
(FARTHING, 2009). 
 
 
24 
 
 
 
Uma grande influência da arte contemporânea são os movimentos de 
vanguarda da Europa da primeira metade do século XX. Eles romperam com a 
estética clássica das artes. Nesse contexto, se destaca principalmente o movimento 
dadaísta, que iniciou a discussão sobre o conceito e a função da arte. Marcel 
Duchamp revolucionou o conceito de arte ao utilizar objetos ready-made, como o 
mictório de sua obra A fonte, de 1917, que você pode ver na Figura 2. Pela primeira 
vez na história da arte, a ideia e o conceito tinham mais valor do que a estética e a 
imagem. (SOUZA,2019) 
 
25 
 
 
 
Em meio às discussões sobre o papel da arte, a pop art surge como um dos 
primeiros movimentos que rompem com os conceitos estabelecidos. Artistas como 
Andy Warhol utilizam objetos e linguagens típicos das propagandas de massa de 
produtos de consumo e os transformam em arte. Observe, na Figura 3, a obra 
Caixas de Brillo. Para criá-la, Warhol empilhou caixas de sabão empó para uma 
exposição, discutindo a questão da arte enquanto mercadoria e questionando o 
próprio conceito de arte (ARCHER, 2011). 
 
 
26 
 
 
 
Como você pôde ver, a arte contemporânea explora as mais variadas 
formas de expressão. Ela expandiu o campo da arte para além da pintura e da 
escultura. Assim, surgiram, por exemplo: instalações, videoarte, videoinstalação, 
assemblage (colagens com objetos em três dimensões), performance, body art (arte 
no corpo), arte digital, entre outros. (SOUZA,2019) 
 
6 PRINCIPAIS VERTENTES DA ARTE CONTEMPORÂNEA 
A arte contemporânea tem como característica a pluralidade de estilos e 
formas de expressão. A seguir, você vai ver algumas das principais vertentes da 
arte contemporânea e as suas características centrais. (SOUZA,2019) 
 
27 
 
6.1 Minimalismo 
O minimalismo surgiu na década de 1960, em Nova Iorque, em 
contraposição ao expressionismo abstrato de Pollock. Ele se caracteriza pelo uso 
da instalação como forma de expressão. Ou seja, o espaço e o entorno passam a 
fazer parte do conceito da obra. Além disso, o minimalismo organiza formas 
geométricas simples e puras em sequências que compõem e transformam o 
espaço. Entre os principais artistas minimalistas, você pode considerar: Donald 
Judd, Carl Andre, Sol LeWitt, Robert Morris e Dan Flavin. (SOUZA,2019) 
6.2 Op art 
A denominação op art deriva do termo em inglês optical art, que significa 
arte óptica. Esse estilo ganhou força na metade dos anos 1950. Ele se caracteriza 
por explorar as características e falhas da visão humana por meio da ilusão de 
óptica. Geralmente, se expressa por meio de figuras geométricas abstratas na 
pintura. A principal intenção da op art é representar o movimento. Entre os principais 
artistas, estão: Ad Reinhardt, Kenneth Noland e Bridget Riley. (SOUZA,2019) 
6.3 Arte cinética 
A arte cinética surgiu em Paris, na década de 1950. Ela se caracteriza por 
explorar o movimento, principalmente nas esculturas. Está ligada à op art por 
explorar também a ilusão de óptica na busca pelo movimento. Pode utilizar diversos 
materiais para o movimento da estrutura, como motores, eletromagnetismo, vento, 
água e interação com o público. Entre os principais artistas da arte cinética, você 
pode incluir: Victor Vasarely, Pol Bury, Yaacov Agam, Jean Tinguely e Jesus Rafael 
Soto. (SOUZA,2019) 
 
28 
 
6.4 Arte conceitual 
A arte conceitual surgiu em meados de 1960, na Europa e nos Estados 
Unidos. Ela se caracteriza por valorizar mais o conceito e as ideias do que o objeto 
em si. A arte deixa de ser visual e passa a ser uma ideia, uma expressão, um 
questionamento. Os artistas utilizam as mais variadas formas de expressão e os 
mais variados materiais, como fotografia, filmes, fotocópias, etc. Entre os artistas 
que se destacam na arte conceitual, estão: Barbara Kruger, Jasper Johns, Joseph 
Beuys, Joseph Kosuth e Daniel Buren. (SOUZA,2019) 
6.5 Arte povera 
A arte povera (arte pobre) surgiu na Itália, na década de 1960. Ela se 
caracteriza pelo empobrecimento da arte por meio do uso de materiais simples e 
naturais, como madeiras, folhas, areia e até sucata. A arte povera faz uma crítica à 
sociedade de consumo e destaca a efemeridade da arte contemporânea, bem como 
a sua desvinculação com o mercado das artes. Os principais artistas da arte povera 
incluem: Giovanni Anselmo, Jannis Kounellis, Richard Long e Giuseppe Penone. 
(SOUZA,2019) 
6.6 Body art 
A body art (arte do corpo) surge no final dos anos 1960 em contraposição 
ao minimalismo e à arte conceitual. Ela se caracteriza pela utilização do corpo como 
forma de expressão ou como suporte para a expressão da arte. Utiliza 
frequentemente a performance como forma de expressão. Ou seja, a execução da 
obra se torna parte dela, e esse processo pode ser desenvolvido para um público 
que assiste ou que interage com a criação do artista. Uma série de obras 
provocativas da body art foi criada para questionar guerras. Tais obras incluíam 
automutilação e autoflagelação dos artistas. Entre os principais nomes da body art, 
 
29 
 
você pode considerar: Yves Klein, Bruce Nauman, Piero Manzoni e Vito Acconci. 
(SOUZA,2019) 
6.7 Land art 
A land art (arte da terra) também surge no final dos anos 1960. Ela se 
caracteriza pela utilização dos meios da natureza como suporte, ou seja, como 
espaço e como material para a expressão artística. Geralmente, as obras assumem 
grandes dimensões e só podem ser compreendidas a partir de fotografias ou vídeos. 
A land art extrapola os limites das galerias de arte e museus. Entre os principais 
artistas dessa vertente, estão: Robert Smithson, Richard Serra e Walter de Maria. 
(SOUZA,2019) 
 
 
 
30 
 
7 OBRAS EM DESTAQUE 
O pluralismo de estilos da arte contemporânea se expressa em um grande 
número de obras. Muitas delas se destacaram e foram importantes para as 
definições dos novos rumos que a arte assumiu na segunda metade do século XX. 
A seguir, você vai conhecer algumas obras representativas dos estilos listados na 
seção anterior. (SOUZA,2019) 
Na Figura 5, você pode ver a obra minimalista do artista Carl Andre. Nela, 
blocos de madeira são organizados e dispostos em composições que se repetem. 
A obra explora a composição e a relação com o espaço, se afastando de qualquer 
elemento que seja decorativo ou irrelevante (FARTHING, 2009). 
 
 
 
Na Figura 6, você pode ver um exemplar da op art, da artista Bridget Riley. 
A ilusão de óptica e a ideia de movimento se dão por meio da distorção dos círculos 
da pintura da artista. A obra feita em duas dimensões dá a ilusão de movimento e 
de três dimensões. (SOUZA,2019) 
 
 
31 
 
 
 
Na Figura 7, você pode ver a obra cinética do artista venezuelano Jesus 
Rafael Soto. Ela consiste em um cubo construído com fios de nylon, que remetem 
a vibrações e movimentos à medida que o espectador circunda o espaço em torno 
do objeto (ARCHER, 2011). 
Na Figura 8, você pode ver a obra conceitual do artista alemão Joseph 
Beuys. Ela consiste em um trenó com um kit de sobrevivência, que remetem a uma 
experiência do artista ao ser resgatado após um acidente de avião. A ideia que o 
artista quer passar se sobrepõe ao objeto final, que é uma composição com objetos 
já existentes. (SOUZA,2019) 
Na Figura 9, você pode ver a obra de arte povera do artista italiano Giovanni 
Anselmo, que consiste em dois blocos de granito unidos com folhas de alface entre 
 
32 
 
eles. À medida que a folha murchava e secava, o bloco menor se desprendia e caía. 
Então, as folhas eram substituídas e o processo se iniciava novamente (FARTHING, 
2009). 
 
 
 
 
 
33 
 
 
 
Na Figura 10, você pode ver um exemplo de body art na obra de Yves Klein. 
A obra foi executada por mulheres cobertas de tinta que imprimiram marcas na tela 
com seus corpos. A performance da execução foi feita em frente a um público 
espectador, que se tornou parte da própria obra. (SOUZA,2019) 
 
 
 
 
34 
 
Na Figura 11, você pode ver a obra de land art do artista Robert Smithson, 
que construiu um molhe na forma de espiral de 457 m de extensão e 4,6 m de 
largura com basalto, sal e barro, em um lago de Utah, nos Estados Unidos. A obra 
permite a interação com os espectadores, que podem andar sobre ela. Contudo, só 
pode ser compreendida em seu todo à distância. Como você pode notar, Smithson 
retira a arte dos ambientes restritos das galerias e museus, levando-a para grandes 
espaços abertos (FARTHING, 2009). 
A Figura 12 mostra a obra do artista brasileiro Hélio Oiticica. Ela consiste 
em uma instalação de placas de madeira colorida suspensas que formam um núcleo 
que pode ser penetrado pelo observador. A intenção é explorar as sensações e as 
formas visuais de diferentes ângulos. (SOUZA,2019) 
 
 
 
 
35 
 
 
8 ARTE CONTEMPORÂNEA: ALGUMAS CARACTERÍSTICAS E 
TENDÊNCIAS 
Você deve saber que o contemporâneo demarca o tempo presente. No 
entanto,pensar as artes que figuram sob o termo contemporâneo é uma tarefa 
difícil, pois, por mais que utilizemos definições conceituais que possam representar 
boa parte da produção artista contemporânea, sempre corremos o risco de não dar 
conta de outras, que superam tais perspectivas. Afinal, a arte contemporânea não 
é apenas a arte produzida no tempo presente, uma vez que apresenta uma nova 
relação com a produção artística, distinta daquela perseguida pelos artistas 
modernistas. (BATISTA, 2019) 
Para dar conta das novas produções artísticas surgidas a partir dos anos 
1980, foi inventado o termo arte pós-moderna. Danto (2006) afirma que a utilização 
desse termo poderia deixar de lado diversas produções contemporâneas, devido à 
falta de unidade estilística nas obras dos artistas que não seguem mais os princípios 
da arte moderna. De acordo com Canton (2009a, p. 49): 
Diferentemente da tradição do novo, que engendrou experiências que 
tomaram corpo a partir do século XX com as vanguardas, a arte 
 
36 
 
contemporânea que surge na continuidade da era moderna se materializa 
a partir de uma negociação constante entre arte e vida, vida e arte. Nesse 
campo de forças, artistas contemporâneos buscam um sentido, mas o que 
finca seus valores e potencializa a arte contemporânea são as inter-
relações entre as diferentes áreas do conhecimento humano. 
As experiências da Pop Art, “[...] cujas obras utilizavam temas extraídos da 
banalidade dos Estados Unidos urbano [...]” (ARCHER, 2012, p. 6), que rompia com 
a ideia de arte como expressão ao buscar um arranjo artístico mecanizado tanto na 
técnica quanto na forma. Assim como as produções dos artistas conceituais, como, 
por exemplo, a obra A Base do Mundo (Figura 1), de Piero Manzoni, dificultaram a 
distinção entre os objetos da arte e os objetos do mundo. 
Essa obra consiste em um pedestal, comumente utilizado como base para 
esculturas. O pedestal de Manzoni, aparentemente, está sem uma escultura para 
torná-lo útil, mas, em sua face, há a seguinte frase: “Base do mundo, base mágica 
n° 3 de Piero Manzoni, 1961, Homenagem a Galileu [...]” (FERVENZA, 2006, p. 83). 
Logo, percebemos que a obra conceitual de Manzoni, ao utilizar uma base de 
escultura com o título “Base do Mundo”, está transformando o mundo em arte. De 
fato, ao refletirmos sobre a arte contemporânea, torna-se difícil distinguir a arte da 
vida, pois ambas estão intimamente interligadas. 
 
 
 
 
37 
 
 
 
Em consequência da ampliação do conceito artístico, resultante das 
correntes modernistas, hoje, não há “[...] nenhuma limitação a priori de como as 
obras de arte devem parecer, elas podem assumir a aparência de qualquer coisa. 
Isso por si só se deu por encerrada a agenda modernista [...]” (DANTO, 2006, p. 
19). Enquanto a arte acadêmica contava com princípios estéticos e temáticos para 
definir qual era a arte, a arte modernista, por sua vez, construía o conceito de arte 
a partir de narrativas de grupo, ou seja, os artistas produziam a partir de princípios 
estéticos comuns na arte contemporânea, tanto com a normatização estética quanto 
com a eleição de princípios estéticos comuns. 
Danto (2006), ao ilustrar as descontinuidades na arte, afirma que o 
renascimento inaugurou a era da arte ao criar a figura do artista e as teorias que 
distanciavam o fazer artístico (artes liberais) do fazer artesanal, que não exigia 
reflexões filosóficas. Isso não significa que antes da era da arte não existisse arte. 
Na verdade, o que não existia era o conceito de arte, visto que as imagens 
elaboradas eram puramente religiosas e os monges e padres que as construíam 
seguiam regras iconográficas. Outra descontinuidade ocorreu na década de 1980, 
a qual causou a morte da arte inaugurada no Renascimento. As figuras do artista 
genial, da obra prima, da originalidade, da perfeição técnica, dentre outras facetas, 
são abandonadas pela maioria dos artistas. (BATISTA, 2019) 
Assim como existe arte antes da era da arte, também é igualmente válida a 
afirmativa de que existe arte após a era da arte. Entretanto, sua ruptura é tão 
drástica que torna a constituição de arte imprecisa, convergindo para “[...] um 
período de incrível produtividade experimental no campo das artes visuais, sem 
 
38 
 
nenhuma direção narrativa única a partir da qual outras pudessem ser excluídas, 
estabilizando-se como norma [...]” (DANTO, 2006, p. 16). 
Entretanto, a falta de definição do que seja ou não arte não torna a produção 
artística da atualidade um completo caos, uma vez que os artistas inter-relacionam 
seus trabalhos com as produções das vanguardas e dão continuidade a alguns 
preceitos estéticos surgidos nas décadas anteriores. A arte contemporânea, ao 
contrário dos movimentos modernistas e, principalmente, dos movimentos de 
vanguardas, não nega o passado da história da arte. (BATISTA, 2019) 
Ao não apresentar rupturas e estar em desenvolvimento em um período de 
liberdades, seja na temática ou na técnica, a arte contemporânea se utiliza de 
produções de diferentes períodos da história ao produzir colagens. Tais colagens 
se apropriam de obras canônicas sem manter qualquer relação entre as referências 
utilizadas, além da intensão do artista. A arte contemporânea atribui “[...] um valor 
positivo ao remake, de articular usos, relacionar formas, em lugar da heroica busca 
do inédito e do sublime que caracteriza o modernismo [...]” (BOURRIAUD, 2009a, 
p. 45). 
O artista brasileiro Vik Muniz utilizou materiais inusitados para reproduzir 
obras de arte mundialmente reconhecida. Na obra Medusa Marinara (Figura 2), o 
artista utilizou macarrão para reproduzir a obra Medusa, de Caravaggio. Ele não 
inventou a imagem, apenas aplicou um novo arranjo ao dispor elementos incomuns 
à obra de Caravaggio, famoso artista barroco. (BATISTA, 2019) 
 
 
39 
 
 
 
Segundo Bourriaud (2009b, p. 13): 
[...] essas práticas artísticas [...] mostram uma vontade de inscrever a obra 
de arte numa rede de signos e significações, em vez de considerá-la como 
forma autônoma ou original. Não se trata mais de fazer tábula rasa ou de 
criar a partir de um material virgem, e sim de encontrar um modo de 
inserções nos inúmeros fluxos da produção. 
Outro aspecto relevante na arte contemporânea é a participação do público 
na constituição de algumas propostas. Nesse tipo de arte, o público abandona o 
papel passivo de apreciador para integrarem e transformarem a dinâmica artística. 
Nessa proposta, cabe ao artista a tarefa de criar espaços/situações que instiguem 
as relações entre as pessoas. A arte relacional está presente nas obras do artista 
Gonzales-Torres, como pode ser visto na proposta Untitled (Portrait of Ross in L.A.), 
de 1991, em que o artista dispôs em uma sala o seu peso e o de seu companheiro 
em balas. O público poderia se servir das balas, que eram repostas diariamente, 
totalizando 175 quilos. Quando as pessoas se serviam, eram informadas de que 
estavam ingerindo balas de portadores de Aids. (BATISTA, 2019) 
Nessa proposta, a produção artística não é o amontoado de balas, mas sim 
o processo de participação do público. Tal participação acontece em um momento 
específico e, ao contrário das pinturas, esculturas, fotografias, etc., precisam se 
servir do registro como forma de documentação. Na contemporaneidade, muitas 
obras são efêmeras e sua duração só é imortalizada pelo registro. (BATISTA, 2019) 
 
40 
 
O uso da fotografia como arte também é comum entre os artistas 
contemporâneos. Por ter uma relação com a verdade, acaba causando mais 
incômodo no público, pois esse é um dos objetivos da arte contemporânea. A arte 
não é utilizada para confortar, e para causar estranhamento e colocar as pessoas 
em condições desconfortáveis. (BATISTA, 2019) 
A obra fotográfica O Cristo do mijo (1987), de Andres Serrano (1950), 
causou muita revolta, pois o artista explorou várias imagens fotográficas envolvendo 
fluidoshumanos. Nessa obra, o artista fez uma fotografia de um crucifixo submerso 
em urina. Houve uma série de questionamentos por parte da sociedade, que 
discutira sobre “[...] as questões do racismo e do machismo bem como blasfêmia e 
homofobia [...]” (ARCHER, 2012, p. 215). 
Outro fator importante na produção de arte contemporânea é a utilização de 
meios tecnológicos para a manipulação de imagens e vídeos ou para a manipulação 
de espaços virtuais, como ocorre no site JODI, criado por Joan Heemskerk e Dirk 
Paes Man, em 1994. Esse site rompe com todas as expectativas de um ambiente 
virtual convencional, propiciando uma visão da linguagem computacional, aliada à 
experiência de um devir em que o internauta acessa os links sem saber a que local 
virtual será remetido. (BATISTA, 2019) 
 
 
 
A arte contemporânea criou novos métodos de produção artística que não 
necessitam resultar na construção de um objeto, pois podem levar os espectadores 
a participar, em vez de apenas observar. As propostas artísticas surgem da 
subjetividade dos artistas e seus campos de experiências, não estando atreladas a 
grupos de artistas vanguardistas, como acontecia na arte moderna. O artista pode 
atuar politicamente para denunciar um problema social ou pode apresentar uma 
 
41 
 
visão diferente sobre alguma questão, que pode ser interna ou externa. Para fazer 
arte, podem ser usados quaisquer materiais, o que, às vezes, pode resultar em 
obras efêmeras. (BATISTA, 2019) 
9 ARTE CONCEITUAL E SEUS SIGNIFICADOS 
A arte conceitual tem como centralidade o questionamento dos limites do 
que pode ou não ser considerado arte. Ela rompe com muitas ideias que foram 
construídas durante séculos sobre os objetivos, as técnicas e os meios de produção 
da arte. Nesse novo conceito, o artista não precisa construir suas obras, pois não é 
a materialidade ou o rigor técnico que qualificarão o objeto como arte, mas sim o 
conceito elaborado pelo artista. (BATISTA, 2019) 
O termo arte conceitual foi utilizado pela primeira vez, em 1967, em um 
texto do artista Sol LeWitt (1928–2007), no qual ele explicitava alguns dos princípios 
comuns utilizados pelos artistas conceituais. LeWitt afirmava que a arte conceitual 
valorizava mais a ideia ou conceito do que a matéria. “[...] Quando um artista utiliza 
uma forma conceitual de arte, isto significa que todo o planejamento e as decisões 
são feitas de antemão, e a execução é uma questão de procedimento rotineiro. A 
ideia se torna uma máquina que faz a arte [...]” (ARCHER, 2012, p. 56). 
As produções de arte conceitual não buscam expressar sentimentos, pois 
voltam-se à exploração das relações entre os objetos de modo intelectual. Por isso, 
podemos dizer que a arte conceitual se desenvolve na contramão do que as 
pessoas costumam aceitar como obra de arte. Como não é necessário que o artista 
produza sua obra, desaparece a ideia de originalidade. Freire (2006, pp. 8–9) 
apresenta algumas das rupturas presentes na arte conceitual: em “[...] vez de 
permanência, a transitoriedade; a unicidade se esvai frente a reprodutibilidade, 
contra a autonomia, a contextualização; a autoria se esfacela frente às poéticas de 
apropriação; a função intelectual é determinante na recepção [...]”. 
Entretanto, nem todas essas rupturas eram novidade no cenário artístico, e 
podemos perceber alguns desses princípios nos readymade, construídos nas 
primeiras décadas do século XX por Marcel Duchamp, resultantes da combinação 
 
42 
 
de objetos produzidos em série. “Com os readymade, Duchamp pedia que o 
observador pensasse sobre o que definia a singularidade da obra de arte em meio 
à multiplicidade de todos os outros objetos [...]” (ARCHER, 2012, p. 3). 
A arte conceitual surgiu como uma ruptura à consideração da arte enquanto 
mercadoria. Um ótimo exemplo dessa ruptura foi a obra Merda de Artista, de Piero 
Manzoni (1933–1963), que produziu 90 latinhas supostamente cheias de fezes do 
artista que deveriam ser vendidas pelo mesmo peso em ouro. “Como se acreditava 
que abrir as latas significaria destruir o valor da obra, durante muito tempo não se 
soube ao certo o que as latinhas continham de fato [...]” (FARTHING, 2011, p. 501), 
entretanto, após serem vendidas algumas das latas no ano de 2007, o colaborador 
de Manzoni declarou que as latas estavam cheias de gesso. 
Todavia, a arte conceitual não ficava restrita à produção de objetos como 
os readymade ou as latas supostamente com fezes de artista. Era comum a 
organização de situações simbólicas, como a proposta do artista e professor John 
Baldessari (1931), na qual ele, estando impossibilitado de viajar para uma exposição 
de arte em que participaria, acabou instruindo seus alunos a escreverem nas 
paredes da galeria a frase “Eu não vou criar mais arte chata”. Os alunos aceitaram 
a proposta e, como se fosse um castigo, deixaram as paredes completamente 
cobertas pelas palavras (FARTHING, 2011). 
O artista On Kawara (1932–2014), por sua vez, produziu registros para 
informar que continuava vivo. Suas obras consistiam em telegramas com a frase 
afirmativa “I am still alive” (Eu ainda estou vivo). Na década de 1970, ele enviava 
esses telegramas aos amigos, familiares, merchands e galeristas para informá-los 
de que continuava vivo. Desse modo, a arte deixa de ser um produto para refletir a 
vida do artista e o contexto que o cerca, e a ideia de arte enquanto pintura ou 
escultura dá lugar a novas possibilidades. De acordo com Archer (2012, p. 78): “[...] 
o conceitualismo é frequentemente identificado como um período durante o qual a 
arte se tornou insubstancial. Onde antes havia pinturas e esculturas, agora havia 
itens de documentação, mapas, fotografias, lista de instruções [...]”. 
As obras não podem ser experimentadas sensorialmente em sua inteireza, 
mas podem ser experimentadas a partir de sua documentação. Desse modo, os 
 
43 
 
registros de documentação se integram ao fazer artístico, porém não substituem a 
experiência ocorrida, apenas dão materialidade e permanência ao transitório. A 
ruptura com os meios tradicionais é central para a arte conceitual, conforme salienta 
o artista Joseph Kusoth (ARCHER, 2012, p. 80–81): 
Ser um artista hoje significa um meio de questionar a natureza da arte. Se 
alguém questiona a natureza da pintura, não pode estar questionando a 
natureza da arte. Se um artista aceita a pintura (ou escultura), está 
aceitando a tradição que a acompanha. Isto se deve ao fato de que a 
palavra “arte” é geral, e a palavra “pintura” é específica. A pintura é um tipo 
de arte, se se fazem pinturas, já está se aceitando (e não questionando) a 
natureza da arte. Assim, está-se aceitando que a natureza da arte é a 
tradição europeia de uma dicotomia pintura-escultura. 
O questionamento sobre os limites da arte e a sua proposição enquanto 
jogo linguístico ficou aparente na obra Uma e três cadeiras (1965), de Joseph 
Kosuth (1945) (Figura 3). A obra consiste na exposição de uma cadeira juntamente 
com uma fotografia em preto e branco do mesmo tamanho do objeto e uma 
descrição retirada do dicionário sobre o conceito de cadeira. De acordo com Archer 
(2012, p. 82), “[...] a definição nomeia o objeto diante de nós, diz-nos o que ele é, 
mas também designa uma categoria da qual a ‘cadeira real’ é apenas um exemplo 
individual [...]”. 
 
 
 
 
44 
 
Freire (2006) salienta que essa relação da arte conceitual com a filosofia da 
linguagem é algo mais relacionado à arte anglo-saxã, pois a arte conceitual latino-
americana está intrinsecamente ligada à realidade política social de seu contexto 
de produção. No caso do Brasil, a arte conceitual contestou as ações da ditadura 
militar que, por meio do AI-5, reprimiu a produção e a circulação artística, o que 
desencadeou um boicote internacional e nacional às Bienais de Arte de São Paulo 
que ocorreram entre 1968 e 1983. 
Os artistas Hélio Oiticica, Guilherme Vaz, Arthur Barrioe Cildo Meireles 
participaram da exposição no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA), em 
1970, com obras conceituais. O artista Cildo Meireles, por exemplo, participou com 
o projeto intitulado Inserções em circuitos ideológicos (Figura 4), que ainda estava 
em desenvolvimento. Meireles utilizava os sistemas de circulação comuns à 
população como meio para divulgar frases de protesto às barbaridades do governo 
ditatorial brasileiro. Foram estampadas em garrafas de Coca-Cola retornáveis e 
cédulas de dinheiro frases de protesto, tais como “yankees, go home! ”, para criticar 
o colonialismo norte americano, ou “Quem matou Herzog? ”, para expor o 
assassinato do jornalista e a dissimulação do regime militar ao forjar seu suicídio. 
No caso do projeto Coca-Cola, as impressões foram produzidas no corpo das 
garrafas com a cor branca, dificultando a sua leitura quando elas estavam vazias e 
revelando seu conteúdo quando estavam cheias. (BATISTA, 2019) 
 
 
 
45 
 
A arte conceitual abriu caminho para as novas experimentações artísticas 
que ocorriam no cenário artístico do século passado. Tanto a performance quanto 
as instalações se beneficiaram desse modo questionador de produzir arte. 
Atualmente, são incontáveis os números de artistas que valorizam mais as ideias 
do que o processo artístico e trabalham seguindo alguns dos princípios da arte 
conceitual. (BATISTA, 2019) 
10 ARTE CONTEMPORÂNEA E SEUS DESDOBRAMENTOS 
A arte contemporânea traz no seu bojo a superação da divisão entre as 
linguagens artísticas tradicionais (artes visuais, música, dança, teatro), ao criar 
formas que, muitas vezes, tornam-se indistinguíveis da vida cotidiana, visto que o 
importante não é o material ou a técnica utilizada, mas o arranjo poético realizado 
pelo artista. Entretanto, há algumas formas comuns entre os artistas 
contemporâneos que consistem no uso de performances, fotografias, videoarte, 
instalações, land art, intervenção urbana, entre outras. Archer (2012) afirma que, 
atualmente, há a popularização desse tipo arte, voltada à externalização dos 
problemas sociais, principalmente as opressões, o racismo e os problemas 
advindos das discriminações de gênero/sexualidade. 
A arte contemporânea, ao se aglutinar à vida, acaba causando muito 
incômodo e dando visibilidade aos problemas sociais, como ocorreu na 
performance La Bête. (BATISTA, 2019) 
 
 
 
Em 2017, o artista Wagner Schwartz realizou a performance La Bête no 
Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e foi acusado de pedofilia, pois, 
 
46 
 
durante a performance, ele ficava nu, e as pessoas eram convidadas a intervir sobre 
seu corpo, modificando suas posições corporais, e uma criança tocou no seu pé, 
com o consenso de sua mãe. Essa performance causou muitas discussões nas 
redes sociais, uns defendiam a liberdade artística, outros questionavam a presença 
da nudez nos museus, e, ainda, havia pessoas que questionavam a idoneidade do 
artista, que permitiu que a criança tocasse seu corpo. Ao contrário de muitas outras 
produções artísticas, a de Wagner Schwartz não tinha intensão de debater tais 
temas, pois sua proposta era apresentar o corpo como um objeto que pode ser 
modificado pela participação do público. Schwartz se inspirou na série Bichos 
(1965), da artista Lygia Clark (1920–1988), que consistia em uma série de formas 
geométricas unidas por dobradiças, e o público poderia alterar sua disposição por 
meio da participação. (BATISTA, 2019) 
Entretanto, há produções artísticas que têm a intensão de debater 
diretamente sobre as questões sociais. As fotografias de Rosana Paulino, por 
exemplo, fazem uma crítica à posição da mulher na sociedade, ao racismo, à 
escravidão. São fotografias impressas sobre um tecido disposto em um bastidor e 
com bordados sobre a boca, os olhos ou a garganta. O bastidor é uma referência à 
própria história da arte, em que se usava esse formato de telas para pintar figuras 
de santas. O bordado, atividade legada às mulheres, lhes imputa às atividades 
domésticas e lhes tolhe a liberdade de falar, ver, gritar, etc. (Figura 5). (BATISTA, 
2019) 
 
 
47 
 
 
 
Eduardo Srur também busca debater questões sociais por meio de suas 
intervenções urbanas. Ele tem por objetivo a “[...] crítica social, como os caiaques 
espalhados pelo rio Pinheiro para alertar sobre o descarte de lixo indevido e as 
gigantes garrafas pet colocadas às margens do rio Tietê [...]” (SANT’ANNA, 2009, 
p. 33). Esse tipo de obra possibilita aos moradores da cidade dar novos significados 
ao espaço onde vivem e sair da anestesia diária a que a rotina pode conduzi-los 
(Figura 6). 
 
 
48 
 
 
 
A artista iraniana Shirin Neshat, radicada nos Estado Unidos, faz críticas ao 
androcentrismo na sociedade iraniana por meio de fotografias e videoartes. Na 
videoinstalação Arrebatamento (1999), a artista dispõe duas projeções onde “[...] os 
homens e mulheres iranianos aparecem em telas separadas; a obra enfatiza a 
desigualdade entre os sexos no Irã [...]” (FARTHING, 2011, p. 529). Para assistir 
aos vídeos, o visitante deve se virar o tempo todo, pois os dois vídeos são exibidos 
ao mesmo tempo. 
Obras que debatem sobre questões sociais, como as de Rosana Paulino, 
Eduardo Srur e Shirin Neshat, são constantes no cenário artístico atual, que acaba 
“[...] misturando cada vez mais questões artísticas, estéticas e conceituais aos 
meandros do cotidiano, em todas as instâncias: o corpo, a política, a ecologia, a 
ética, as imagens geradas na mídia etc.” (CANTON, 2009b, p. 9). 
As instalações são tipos de arte que buscam dispor objetos sobre um 
espaço de modo simbólico e “[...] transformam o espaço de exposição num 
ambiente imersivo”. O artista Hélio Oiticica (1937–1980) construía espaços em 
labirinto para o participante entrar e experimentar o espaço por meio do tato, do 
olfato, da visão e do gosto. Já o casal de artistas Christo (1935) e Jeanne-Claude 
 
49 
 
(1935–2009) costumavam embrulhar objetos, como, por exemplo, na obra 
Reichstag embrulhado, em Berlim, eles revestiram o parlamento alemão com uma 
capa de plástico revestido de alumínio e cordas. 
Também há uma série de artistas contemporâneos que realizam 
transformações em ambientes naturais que precisam ser fotografadas para registro. 
O artista Robert Smithson (1938–1976) foi um expoente desse tipo de arte, 
conhecido como Land Arte. Na obra Quebra mar em espiral, ele construiu uma “[...] 
calçada em espiral feita com pedras de basalto negro e terra, que avança para 
dentro do Grande Lago de Utah, que se tornara vermelho pela ação de algas, 
bactérias e crustáceos [...]” (FARTHING, 2011, p. 532). Com o passar do tempo, o 
espiral ficou submerso pelo lago e recebeu sedimentação de sal, tornando-se 
esbranquiçado. 
A arte contemporânea promove encontros do ser humano com as questões 
de seu tempo e funciona como um ponto de questionamento da relação entre as 
pessoas e o mundo. Contudo, também apresenta uma abertura muito grande 
quando se trata de processos artísticos, chegando a ser possível afirmar que tudo 
o que existe no mundo pode resultar em arte. Para Bourriaud (2009b), o artista de 
hoje busca trabalhar com uma infinidade de objetos em circulação no mercado, e 
não trata mais de criar algo a partir da matéria bruta. Assim, o artista pode ser 
comparado ao DJ, ao programador ou ao internauta, “[...] cujas tarefas consiste em 
selecionar objetos culturais e inseri-los em contextos definidos [...]” (BOURRIAUD, 
2009b, p. 9). Por fim, a produção artística não precisa resultar em um produto, 
podendo, inclusive, ser inacabada ou servir para gerar a participação do público. 
11 A POP ART E O SEU DESENVOLVIMENTO 
A Pop Art foi o movimento de transição entre a arte moderna, ainda guiada 
pelos movimentos de vanguarda, e a arte pós-moderna, centrada na integração 
entre as diferentes correntes artísticas e as imagens da atualidade. O termo inglêspop art pode ser traduzido como “arte popular”. Entretanto, a Pop Art não trata das 
mesmas questões que costumam ser englobadas pela expressão “arte popular”. 
 
50 
 
Afinal, a Pop Art trabalha com imagens da cultura de massa, enquanto a arte 
popular refere-se à arte produzida por comunidades específicas. (BATISTA, 2020) 
De acordo com Archer (2012), as experimentações artísticas do final da 
década de 1950 que prezavam pelo corriqueiro e pelo acaso convergiram em dois 
movimentos artísticos: o Minimalismo e a Pop Art. Enquanto o Minimalismo 
trabalhava com uma abordagem formal, evitando os excessos ao produzir uma arte 
impessoal, a Pop Art utilizava imagens da cultura de massa para criar produções 
mecânicas e sem expressão, uma espécie de reprodução voltada ao consumo. 
No que diz respeito aos temas da Pop Art, sua própria banalidade era uma 
afronta aos críticos. Sem uma evidência mais clara de que o material havia 
passado por algum tipo de transformação ao ser incorporado à arte, não 
se podia dizer que a própria arte ofereceria qualquer coisa que a vida já 
não proporcionasse (ARCHER, 2012, p. 11). 
A utilização de técnicas como a serigrafia e a pintura detalhista convergia 
para uma ruptura com a arte expressionista abstrata. A serigrafia era utilizada, por 
exemplo, por Andy Warhol (1928–1987), que reproduzia a mesma figura muitas 
vezes. Já a pintura detalhista era utilizada, por exemplo, por Roy Lichtenstein 
(1936–1997), que reproduzia quadros de histórias em quadrinhos. Ainda em tom 
vanguardista, os expoentes da Pop Art buscavam uma arte fria que omitisse o 
trabalho singular do artista e revelasse uma nova relação entre ele e a sociedade. 
A ideia era aproximar a arte do público por meio do uso de imagens da cultura de 
massa, comuns à maioria das pessoas. (BATISTA, 2020) 
A ruptura com o Expressionismo pode ser percebida numa série de obras 
produzidas por Roy Lichtenstein em 1965 com o título Pinceladas (Figura 1). O 
artista empregava a sua técnica apurada de detalhamento inspirada nas histórias 
em quadrinhos para reproduzir pinceladas orgânicas, comuns nas obras 
expressionistas, a fim de demonstrar que aquele tipo de registro não se referia ao 
estado emocional absoluto. Lichtenstein evidenciou que o Expressionismo Abstrato 
se estruturava a partir de um conjunto de símbolos que as pessoas costumavam 
associar à expressão de sentimentos. (BATISTA, 2020) 
 
 
51 
 
 
 
A Pop Art tornou o cenário artístico mais dinâmico, possibilitando a livre 
comercialização das obras. Os artistas aceitaram a arte como produto, e a imprensa 
divulgava a ideia de uma arte divertida. A oposição à arte expressionista abstrata 
parecia ser a melhor saída para o artista da época, que não precisava continuar 
contestando a burguesia por meio de atitudes boêmias. Lembre-se de que as 
vanguardas artísticas buscavam uma arte de ruptura com os sistemas sociais, 
principalmente de ruptura com a burguesia. Os artistas viviam uma imensa 
contradição: ao mesmo tempo em que negavam a ordem social estabelecida, 
precisavam ser aceitos para conseguirem comercializar as suas obras. Entretanto, 
a partir da Pop Art, os artistas passaram a viver entre os burgueses, pois não tinham 
medo de serem confundidos com eles. Como certa vez “[...] disse Warhol (apud 
WOLFE, 2009, p. 93) [...]: nada é mais burguês do que ter medo de ser burguês”. 
Além de contestar o Expressionismo Abstrato que tomava conta do 
mercado norte-americano, a Pop Art buscava romper com a distinção entre cultura 
de elite e cultura de massa. Tal ruptura, contudo, não foi bem-sucedida. Afinal, as 
pinturas criadas na Pop Art não atingiam o grande público e recebiam um alto valor 
agregado quando eram comercializadas nas galerias de arte, devido à sua 
autenticidade. Seria mais coerente dizer que a Pop Art contaminou a cultura de elite 
com a cultura de massa. (BATISTA, 2020) 
 
52 
 
Em suma, a Pop Art surgiu como uma arte jovem e de ampliação da atuação 
do artista, que poderia utilizar qualquer imagem que a cultura de massa lhe 
oferecesse. Nas palavras do artista Richard Hamilton (apud FARTHING, 2011, p. 
484–485), a Pop Art buscava ser: “[...] popular (feita para o grande público); efêmera 
(extinção em curto prazo); descartável (facilmente esquecível); barata; produzida 
em massa; jovem (dirigida para a juventude); espirituosa; sexy; ‘macetada’; 
glamourosa; big business”. Como você pode perceber, produzir arte para o 
consumo deixou de ser um problema ético entre os artistas. 
Os artistas de vanguarda se opunham ao consumismo e à cultura de massa. 
Já os artistas da Pop Art não se preocupavam com a separação entre a arte e o 
consumo. Na verdade, os artistas da Pop Art se interessavam por uma nova 
abordagem, baseada em princípios estéticos que utilizavam as referências da 
cultura de massa para criar uma arte desprovida de crítica social. É claro, contudo, 
que houve produções artísticas que foram exceções ao fazer críticas ao 
consumismo e à massificação. (BATISTA, 2020) 
A primeira escova de dente (1962), do pintor britânico Boshier, parte de 
uma série de trabalhos inspirados por um comercial de TV para uma pasta 
de dentes listrada, parecia criticar a propaganda e a sociedade de 
consumo. Ao trocar latas de sopa e ídolos da cultura pop como Elvis 
Presley e Marylin Monroe pela cadeira elétrica e uma batida de carros, 
Andy Warhol estava, evidentemente, chamando atenção para o lado 
obscuro da moderna experiência americana (FARTHING, 2011, p. 485–
486). 
A obra Cadeira Elétrica (Figura 2), de Andy Warhol, consiste na reprodução 
da imagem de uma cadeira elétrica em diferentes cores. O artista cria uma imagem 
bela e atraente de uma cadeira elétrica, como deve ser qualquer anúncio de 
publicidade. Assim, um objeto repugnante, utilizado para matar seres humanos, 
assume o assunto principal de uma pintura pop e leva o público a questionar os 
produtos que os anúncios publicitários camuflam ao tentarem construir novas 
necessidades de consumo. (BATISTA, 2020) 
 
 
53 
 
 
 
A Pop Art começou a decair ainda no final da década de 1960. Ela se 
constituiu como uma referência da arte pós-moderna ao questionar a relação do 
artista com o mercado da arte num mundo repleto de propagandas e imagens 
vinculadas à sociedade de consumo. Pode-se dizer que a Pop Art liberou o artista 
do puritanismo que buscava um distanciamento entre a arte e o mercado. Dessa 
perspectiva, o artista poderia experimentar todas as imagens do mundo para criar 
arte sem se preocupar com a expressão ou com a produção de crítica social. 
(BATISTA, 2020) 
12 OS ARTISTAS DA POP ART 
A Pop Art não foi um movimento coerente. Assim, cada artista explorava à 
sua maneira as imagens midiáticas e os produtos de consumo de massa. Alguns 
produziam colagens de imagens advindas de revistas ou anúncios publicitários, 
enquanto outros utilizavam técnicas de serigrafia, pintura ou escultura a fim de 
representar objetos de consumo. Os primeiros artistas a trabalhar com a nova 
estética foram os ingleses, mas os norte-americanos deram grande repercussão ao 
movimento. (BATISTA, 2020) 
Richard Hamilton (1922–2011) participava do Grupo Independente, que 
havia se formado em Londres para discutir arte contemporânea na década de 1920. 
 
54 
 
O interesse comum entre os integrantes do grupo era a cultura de massa e a sua 
reprodutibilidade (FARTHING, 2011). Hamilton elaborou uma colagem com o título 
O que é que torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes? (Figura 3), 
consagrando-se como um dos artistas pioneiros de um novo modo de pensar as 
contaminações entre arte erudita e cultura de massa. 
 
 
 
A obra de Hamilton é referência para o surgimento da Pop Art. Nela, o artista 
utiliza colagens de revistas americanas para produzir um lar totalmente vinculado 
aos novos ideais pop, que focavam na representação de uma arte jovem e sexy que 
fosse descartável.Na imagem, um fisiculturista segura um pirulito vermelho de 
dimensão colossal numa sala repleta de utensílios ultramodernos; uma mulher nua 
aparenta estar sentada no sofá numa pose sexy, enquanto outra vestida faz a 
limpeza do ambiente; por trás da televisão, há quadros dependurados na parede, e 
um deles refere-se a um recorte de história em quadrinhos. Além disso, a 
translucidez da janela da sala permite a visualização de um ambiente moderno, 
repleto de propagandas nas fachadas dos estabelecimentos. (BATISTA, 2020) 
 
55 
 
Hamilton ilustrou como a intimidade do lar das pessoas estava sendo 
reconfigurada a partir da invasão das imagens midiáticas de consumo. A 
transformação não se dava apenas nos objetos de consumo, mas no próprio corpo 
dos sujeitos, que precisavam ser magros e ter músculos definidos, símbolos de 
sensualidade e sexualidade. Em Swingeing London III, Richard Hamilton continuou 
revelando o seu interesse pela dimensão doméstica. A obra retrata a prisão de Mick 
Jagger e de Robert Fraser devido às drogas. Hamilton utilizou uma fotografia 
jornalística como base para a pintura. (BATISTA, 2020) 
O uso da arte como forma de expor uma realidade comum à sociedade de 
consumo não esteve presente apenas nos trabalhos de Hamilton, pois outros 
artistas também utilizaram a Pop Art de modo crítico. Além de Richard Hamilton, os 
artistas ingleses Derek Boshier (1937), David Hockney (1937), Patrick Caulfield 
(1936–2005) e Peter Blake (1932) tiveram grande destaque. Entretanto, foi nos 
Estados Unidos que essa corrente ganhou força e deu origem aos artistas mais 
reconhecidos do período: Tom Wesselmann (1931–2004), Jasper Johns (1930), 
Robert Rauschenberg (1925–2008), Andy Warhol, Roy Lichtenstein e Claes 
Oldenburg (1929). (BATISTA, 2020) 
Andy Warhol foi o artista símbolo da Pop Art. Ele contestava os valores 
expressivos da arte, trabalhando com imagens massificadas por meio de uma 
técnica impessoal, a serigrafia. As suas obras eram feitas numa espécie de linha de 
produção que repetia diversas vezes a mesma imagem, omitindo o gesto artístico 
da pincelada tão valorizada na arte moderna, principalmente no Expressionismo 
Abstrato. (BATISTA, 2020) 
Warhol [...] procurou eliminar de sua obra os valores artísticos tradicionais. 
Em seu estúdio de Nova York, provocativamente batizado de “A Fábrica”, 
ele se propôs a produzir imagens por meio de processos impessoais (como 
a serigrafia), proclamando que elas não tinham nenhum valor, salvo o 
monetário no inflacionado mercado da arte (FARTHING, 2011, p. 487). 
No estúdio A Fábrica, o artista contava com a ajuda de assistentes para dar 
conta da produção em série de imagens, num processo muito similar à linha de 
produção fabril. Entretanto, mesmo produzindo as suas obras em larga escala, 
Warhol fazia questão de definir onde colocar cada cor e de deixar erros no processo 
 
56 
 
de impressão, para conferir à imagem certa singularidade. De acordo com Archer 
(2012), o processo de anonimato buscado por artistas como Lichtenstein e Warhol 
era uma teatralização, pois eles mantinham certa singularidade em seus trabalhos. 
Warhol costumava utilizar imagens de pessoas famosas da época e 
reproduzi-las repetidas vezes, com pequenas alterações. As fotografias de Marilyn 
Monroe e Elvis Presley eram referências para Warhol, que os representava como 
produtos de consumo ao utilizar uma técnica mecânica para copiar as suas imagens 
repetidamente. Warhol mostrava os artistas como produtos de massa que poderiam 
ser consumidos e tornava as suas imagens atraentes por meio do uso de cores 
vivas, aplicadas à mão e sem preocupação com o perfeccionismo. (BATISTA, 2020) 
A primeira exposição de Pop Art de Warhol, realizada em 1962, consistia 
em pinturas de diversas latas individuais de sopa Campbell dispostas sobre 
prateleiras. As suas pinturas posteriores também versavam sobre a reprodução de 
produtos voltados ao consumo, tais como garrafas de Coca-Cola, caixas de Brillo 
ou imagens de pessoas famosas. As obras partiam da ideia de que a arte deveria 
ser uma mercadoria como os objetos que ela representava. As ideias de Warhol 
sobre a influência da cultura de massa na vida das pessoas não ficavam restritas 
às suas produções artísticas. Ele fez diversas declarações. Disse, por exemplo, que: 
[...] queria ser uma máquina, [...] que no futuro todas as pessoas seriam 
famosas por quinze minutos e [...] que todos nós bebemos Coca-Cola e 
nenhuma soma de dinheiro dará ao presidente dos EUA uma garrafa 
melhor do que aquela que o vagabundo de esquina bebe (ARCHER, 2012, 
p. 11). 
O artista Roy Lichtenstein criticava abertamente o Expressionismo Abstrato 
ao produzir pinturas detalhadas voltadas à comercialização. As suas obras retratam 
quadros de histórias em quadrinhos, ilustrando a futilidade desse tipo de arte, que 
transformava a violência e a guerra em temas para heróis agressivos. As pinturas 
de Lichtenstein possuem uma aplicação técnica extremamente elaborada que 
simula a textura industrial com que os quadrinhos eram impressos. (BATISTA, 2020) 
Como o resultado era tão seco e “não emocional”, era possível acreditar 
que não fora realizada absolutamente nenhuma interpretação. Seus 
quadros, à primeira vista, pareciam ter um estilo tão mecânico quanto o 
material original, embora seja evidente [...] a ideia da arte como atividade 
 
57 
 
expressiva das emoções, está sendo considerada de modo irônico 
(ARCHER, 2012, p. 6). 
Na obra Moça chorando (Figura 4), você pode observar as principais 
características do trabalho de Lichtenstein. Com referências aos personagens de 
histórias em quadrinhos, o artista dá continuidade ao trabalho estético desse tipo de 
produção, que apresenta contornos definidos e cores chapadas. A representação 
das mulheres é idealizada tanto em relação ao corpo quanto ao rosto delicado e 
sensual, com nariz arrebitado e lábios carnudos. (BATISTA, 2020) 
 
 
 
Em 1961, Claes Oldenburg transformou o seu estúdio numa loja chamada 
O armazém para vender uma série de esculturas inspiradas em objetos do 
cotidiano. Inicialmente, ele fazia reproduções de itens de vestuários num processo 
escultórico; as esculturas eram pintadas com esmalte, simulando o estilo 
expressionista. Contudo, aos poucos o artista começou a construir as suas 
esculturas com um processo de manufatura diferente do tratamento convencional. 
Ele fazia réplicas gigantes dos objetos a partir do emprego de estofamento e 
acabamento com costura. Desse modo, estava inovando o processo escultórico, 
moldando os objetos de dentro para fora (ARCHER, 2012). 
 
58 
 
Floor Burger (Figura 5) é um exemplar das obras do artista. Nela, você pode 
perceber a ruptura com a técnica e com o tema da escultura convencional, pois 
Oldenburg retrata um alimento em dimensões exageradas. Além disso, a estrutura 
da escultura é mole, contrariando a ideia de escultura como algo rígido e 
permanente. (BATISTA, 2020) 
 
 
 
 
 
13 A POP ART NO BRASIL 
A expansão da Pop Art foi rápida. Essa corrente artística teve reverberações 
no Brasil logo após o seu surgimento, principalmente em São Paulo e no Rio de 
Janeiro. Afinal, na década de 1960, o Brasil já possuía alguns grandes centros que 
 
59 
 
disseminavam produções artísticas de relevância mundial. Já acontecia, por 
exemplo, a Bienal de Arte de São Paulo. Além disso, circulavam publicações da 
área. (BATISTA, 2020) 
Entretanto, a arte de referência pop produzida no Brasil era muito diferente 
das produções dos artistas norte-americanos. “Se lá percebe-se o tratamento 
distanciado, irônico e cool que artistas como Lichtenstein e Warhol dão às imagens 
de segunda geração com que trabalham, aqui é nítido um engajamento do artista 
brasileiro em relação à imagem escolhida no ‘banco de dados’” (CHIARELLI, 2002, 
p. 104). Desse modo, a frieza com que os artistas norte-americanos tratavam as 
imagens foi substituída noBrasil por uma intenção retórica de crítica social. 
Diversos artistas utilizaram referências pop em sua arte. Chiarelli (2002) 
afirma que José Roberto Aguilar (1941), Rubens Gerchman (1942–2008) e Antonio 
Dias (1944–2018) foram os artistas que começaram a seguir a nova estética ainda 
na década de 1960. Mais tarde, outros artistas exploraram os caminhos abertos pela 
Pop Art, entre eles Humberto Espíndola (1943), Antonio Henrique Amaral (1935–
2015) e João Câmara (1944). 
Rubens Gerchman foi um dos artistas que introduziram a estética pop no 
Brasil. As suas obras retratam cenas advindas da vida moderna, tais como partidas 
de futebol, histórias em quadrinhos ou imagens de telenovelas. O cotidiano, 
portanto, era parte importante do trabalho de Gerchman, que considerava digno de 
ser tema da pintura tudo o que encontrava em seu entorno, como as pessoas 
transitando nas ruas ou os casais namorando. (BATISTA, 2020) 
Além disso, as suas obras fazem uso recorrente das imagens midiáticas. 
De acordo com Macedo e Chisté (2016), o uso de imagens midiáticas no trabalho 
de Gerchman está ligado ao período em que o artista viveu nos Estados Unidos e 
à sua experiência profissional como diagramador da editora Manchete. “Imagens 
que ocupam os meios de comunicação de massa passam a figurar nas gravuras de 
Gerchman. Dessa forma, as manchetes de jornal ou a experiência cotidiana de uma 
partida de futebol ganham a dimensão estética” (MACÊDO; CHISTÉ, 2016, 
documento on-line). 
 
60 
 
Entre as diversas exposições e mostras, a Estética do futebol e outras 
imagens contém gravuras retratando os ídolos e as imagens que circundam esse 
esporte. Ora o artista retrata os lances da partida de futebol, dando ênfase aos 
dribles e gols marcantes, ora se atém aos retratos aproximados dos jogadores, 
revelando a sua pessoalidade. (BATISTA, 2020) 
Na pintura Os super-homens (Figura 6), o artista retratou jogadores de 
futebol posando para uma foto antes da partida. A frase “Os super-homens” foi 
escrita na parte superior da imagem, passando a ideia de que aqueles jogadores 
eram responsáveis por trazer alegria às pessoas que viviam a ditadura militar. Ao 
mesmo tempo em que a obra apresenta uma estética pop, ela também traz uma 
crítica social à ditadura. Durante o período em que o artista esteve nos Estados 
Unidos, ele também ajudou na articulação do boicote à Bienal de São Paulo, que 
havia sido censurada pelo regime ditatorial. (BATISTA, 2020) 
 
 
 
O artista Antônio Henrique Amaral também se destacou no uso da estética 
pop para criticar a ditadura. Ele fez duas séries de pinturas, Brasiliana e Campo de 
Batalha, explorando a estética pop com referências a problemas sociais brasileiros. 
O artista pintou muitos quadros com a banana como temática. Além disso, explorou 
diferentes composições: a fruta aparece cortada, amarrada, esmagada ou 
perfurada. A coloração também varia, indo do verde escuro, quando o fruto não está 
 
61 
 
maduro, ao amarelo escuro, que representa a fruta excessivamente madura. 
(BATISTA, 2020) 
O uso constante da fruta não se restringia à simples representação 
imagética, pois Antônio Henrique Amaral possuía uma “[...] interpretação simbólica 
da figura da banana como símbolo e não como representação, mas sim como forma 
alusiva a todos nós. Desse modo todos somos bananas e estamos representados 
na obra de Amaral” (ABREU, 2015, p. 90). O desenvolvimento técnico do artista é 
quase mecânico e não revela sinal de pincelada, convergindo para certa 
impessoalidade na representação. Enquanto Warhol faz numa única tela a 
reprodução da mesma imagem diversas vezes, Antônio distribui as suas bananas 
por cerca de 200 pinturas realizadas entre 1968 e a década de 1970. 
A obra Campo de Batalha 3 (Figura 7) representa a fase em que o artista 
faz críticas mais acentuadas à violência da ditadura militar. A pintura contém uma 
banana retalhada e amarrada aos instrumentos que lhe feriram. A brutalidade da 
cena é reforçada por um tom amarelado que transparece na sombra como um 
símbolo do sangue resultante das torturas a que foram submetidas diversas 
pessoas. A fruta está com um tom esmaecido, que remete a um estado de 
putrefação. (BATISTA, 2020) 
 
 
 
62 
 
Em algumas das pinturas da série Campo de Batalha, o artista representa 
garfos e facas ferindo, perfurando ou esmagando a banana, um símbolo mais direto 
da violência. Nesse sentido, “[...] os metais também estão enrolados nessa trama, 
que sugere agressividade e irracionalidade, como se os metais não pudessem se 
negar a participar da agressão. Não há escolha” (ABREU, 2015, p. 93). A análise 
de Amaral sobre a ditadura é complexa, pois representa tanto as pessoas que eram 
torturadas quanto a dificuldade que alguns militares encontravam para evitar a 
participação no sistema opressor. 
 
 
14 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO EM ARTE 
Pensar sobre a arte na educação nos tempos atuais parece urgente, 
principalmente quando percebemos que a escola e, em particular, os currículos 
escolares, parecem estar sendo pautados por uma lógica que privilegia a 
racionalidade do mercado, do mundo do trabalho, negligenciando outras questões 
igualmente importantes para o desenvolvimento pleno do ser humano. Para o poeta 
Rubem Alves (1988, p. 11), a educação como um todo deveria se fundamentar nos 
princípios estéticos da arte: 
Seria compreensível e mesmo defensável um apelo para que os valores 
estéticos fossem incluídos em nossos currículos. Ninguém negaria que a 
beleza tenha sido deles banida de forma espantosamente radical. Por boas 
razões, é claro. Afinal de contas, a sensibilidade artística parece não 
oferecer contribuição alguma, seja ao desenvolvimento, seja à segurança 
do país... Bem diz o ditado popular que “beleza não se põe na mesa”. Claro 
 
63 
 
que coisas úteis são mais importantes do que coisas belas. Mas mesmo o 
mais endurecido materialista estaria disposto a concordar que a arte, às 
vezes, tem certa utilidade. 
De forma poética, irônica e desafiadora, o autor procura apontar questões 
importantes a respeito da arte e do confronto entre a utilidade e a estética na 
educação. Dessa forma, podemos entender que a arte sempre esteve presente na 
vida das pessoas, reconfigurando-se a cada momento histórico, uma vez que esta 
é produto da cultura humana. Assim, iniciaremos nosso capítulo aprendendo sobre 
dois importantes pontos que devem fundamentar a educação em de arte: 
fundamentos estéticos e artísticos. (BES, 2020) 
Ao acompanharmos o estudo da arte em paralelo à evolução humana, 
percebemos que esta serve para as mais diversificadas funções, desde a simples 
expressão de vivências e anseios, associada a tarefas pedagógicas, à apreciação 
religiosa, à distinção de classes sociais pelo seu acesso, até o puro deleite que 
proporciona àquele que a observa ou a vivencia. Portanto, podemos constatar que 
a manifestação artística em suas várias possibilidades propicia um encontro 
estético, no qual o ser humano pode refletir a respeito do belo, produzindo, pela 
percepção, seu próprio conceito sobre a produção do artista. De acordo com Chauí 
(2010, p. 411): 
Estética é a tradução da palavra grega aesthesis, que significa 
conhecimento sensorial, experiência, sensibilidade. Foi empregada pela 
primeira vez pelo alemão Baumgarten, por volta de 1750. Em seu uso 
inicial referia-se ao estudo das obras de arte enquanto criações de 
sensibilidade, tendo como finalidade o belo. Pouco a pouco, substituiu a 
noção de arte poética e passou a designar toda a ação filosófica que tenha 
por objetivo as artes ou uma arte. Do lado do artista e da obra, busca-se a 
realização da beleza; do lado do espectador e receptor, busca-se a reação 
sob a forma do juízo de gosto, do bom gosto. 
De acordo com as ideias da autora, ao propormos a educação na escola, 
fundamentando-a pela lógica da estética, devemos proporcionar aos alunos 
experiências sensoriais

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