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Débora Gonçalves – 2021.1 – PATOLOGIA APLICADA Endocardite infecciosa É uma infecção microbiana do endotélio cardíaco. A lesão característica, a vegetação, é uma massa amorfa de tamanho variável, composta de plaquetas e fibrina, na qual uma grande quantidade de microrganismos e células inflamatórias estão entremeadas. As valvas cardíacas são comumente envolvidas, porém a infecção pode ocorrer em qualquer estrutura cardíaca, defeitos nos septos, cordas tendíneas ou até no endocárdio mural e nos shunts arteriovenosos e artério-arteriais. Muitas espécies de bactérias, fungos, micobactérias, rickettsias, clamídias e micoplasmas podem causar endocardite infecciosa. Entretanto, estreptococos, estafilococos, enterococos e Gram-negativos são os principais agentes etiológicos. Continua a ser uma doença com alto risco de morte (mortalidade significativa de cerca de 20%) e morbidade elevada (ex: insuficiência cardíaca, AVC, embolia renal e periférica) Atualmente, é a 3ª ou 4ª síndrome infecciosa mais comum com risco de morte. Só perde para: sepses, pneumonia, abcesso intra-abdominal. Epidemiologia Incidência anual de 5-7 casos por 100.000 hab. (Frainmow 2013) Em pacientes de 70-80 anos a incidência dobra: 14, episódios/100000 hab/ano Predominância masculina ligeiramente mais elevada (1,5:1 – 2:1) (Morcillon 2010) Mortalidade hospitalar de 14-22% e mortalidade de 1 ano de 20-40% (Gomes 2017) Antes de ATB e cirurgia era quase universalmente fatal (Aretz 2010, Osman 2013) MORBIDADE Incidência alta de complicações: • AVC (16,9%) • Outras embolizações (22,6%) • Insuficiência cardíaca (32,3%) • Abcessos intracardíacos (14,4%) • Cirurgia (48,2%) Em países desenvolvidos: associação com próteses e dispositivos intracardíacos Fatores de risco • pacientes que possuem prótese valvar • imunodeprimidos • pacientes dialíticos • uso de cateteres venosos • usuários de droga IV Referência: Cahill TJ et al. Challenges in Infective Endocarditis. J Am Coll Cardiol 2017. • diabetes mellitus • uso de dispositivos implantados (marcapasso, cardiodesfibrilador, cateter venoso central) • história de endocardite anterior • idosos Lesão clássica da EI A VEGETAÇÃO • Tamanho variável da EI • Massa amorfa de fibrina • Grande nº de microrganismos • Poucas células inflamatórias Classificação TIPO DE LESÃO • Nativa ou congênita • Protética TEMPO DE EVOLUÇÃO • Aguda o Quadro exuberante o Provavelmente o agente possui alta virulência, como a Staphylococcus aureus o Maior lesão tecidual o Complicações precoces • Subaguda o Baixa virulência o Insidiosa AQUISIÇÃO DA INFECÇÃO • Nosocomial: é necessário que os sintomas tenham aparecido após pelo menos 48h da admissão hospitalar • Comunidade Débora Gonçalves – 2021.1 – PATOLOGIA APLICADA AGENTE INFECTANTE • Endocardite pelo Staphylococcus aureus (principal espécie envolvida na patogênese da endocardite) • Endocardite pelo Streptoccocus viridans. Profilaxia Higiene oral adequada Periodontite pode gerar EI se as bactérias instaladas nas bolsas periodontais se disseminarem na corrente sanguínea e se alojarem nas valvas cardíacas Profilaxia antibiótica somente para indivíduos de alto risco: • Prótese valvar • EI prévia • Cardiopatia congênita Piercing e tatuagem: motivo de preocupação em pacientes de alto risco, principalmente em pacientes com doença cardíaca congênita. Sem dados sobre incidência, mas a orientação é desencorajar principalmente os pacientes de alto risco. Etiologia AGENTES CAUSADORES + COMUNS RAROS • Streptococcus viridans (extração dentária) • Estafilococos • Enterococos • Outras bactérias • Fungos • Micobactérias • Rickétsias • Clamídias • Micoplasma Patogênese A EI é o resultado líquido da interação complexa entre o patógeno da corrente sanguínea com as moléculas da matriz e as plaquetas em locais de dano das células do endocárdio 1. Dano endotelial O fluxo sanguíneo turbulento produzido por certos tipos de doença cardíaca congênita ou adquirida, como o fluxo de uma câmara de alta para uma de baixa pressão ou através de um orifício estreito traumatiza o endotélio (efeito Venturi). 2. Formação da Endocardite Trombótica não bacteriana (NBTE) Danos endoteliais criam uma predisposição para a deposição de plaquetas e fibrina na superfície do endotélio, o que resulta em NBTE. 3. Bacteremia: invasão da corrente sanguínea com uma espécie microbiana que tem um potencial patogênico para colonizar esse sítio e, em seguida, resultar na proliferação de bactérias em uma vegetação e formar EI. Débora Gonçalves – 2021.1 – PATOLOGIA APLICADA Morfologia das lesões A principal característica da EI é a presença de vegetações volumosas, friáveis e potencialmente destrutivas que contêm fibrina, células inflamatórias e microrganismos, geralmente bactérias. As valvas aórtica e mitral são os locais mais comuns de infecção, embora as valvas do coração direito também possam estar envolvidas, particularmente nos usuários de drogas ilícitas injetáveis. A formação vegetante pode ser única ou múltipla e pode acometer mais de uma valva. As vegetações às vezes erodem e atingem o miocárdio subjacente, produzindo um abscesso (abscesso anular). Êmbolos podem desprender-se das vegetações em qualquer momento, e pelo fato de os fragmentos dos êmbolos possuírem um grande número de organismos virulentos, é frequente o desenvolvimento de abscessos nessas áreas onde os êmbolos se alojam, provocando uma sequela chamada de infartos sépticos ou aneurismas micóticos. As vegetações da endocardite subaguda estão associadas a uma destruição valvular menor do que a da endocardite aguda, embora a distinção entre as duas possa ser difícil. À microscopia, as vegetações da EI aguda típica frequentemente apresentam tecido de granulação na base, indicativo de cicatrização. Com o passar do tempo, pode haver o desenvolvimento de fibrose, calcificação e infiltrado inflamatório crônico. A endocardite de Lybman-Sacks é uma forma de endocardite não infecciosa/asséptica que pode ser encontrada em alguns pacientes com LES e SAAF. Refere-se à formação de trombos estéreis de plaqueta e fibrina pela ação de imunocomplexos circulantes. História clínica Altamente variável e depende: • Microrganismo causador • Presença ou ausência de doença cardíaca preexistente • Presença ou ausência de próteses ou dispositivos cardíacos • Modo de apresentação Pode ocorrer em uma variedade de diferentes situações clínicas APRESENTAÇÃO INICIAL • Aguda (infecção rapidamente progressiva) • Subaguda • Crônica (febre baixa e sintomas inespecíficos) Febre é o principal sinal, mas pode ser leve ou ausente, particularmente nos idosos. Associada com calafrios, anorexia e emagrecimento Sopro cardíaco >85& Complicações embólicas na ocasião do diagnóstico > 25% Sinais clássicos mais presentes na forma subaguda Sinais neurológicos da doença ocorrem em 40% dos pacientes e incluem: • AVC embólico com déficit neurológico focal – o sinal mais comum é a hemorragia intracerebral • Múltiplos abcessos QUADRO CLÍNICO • Febre • Sopro • Alterações neurológicas (30 – 40%) • Embolizações • Esplenomegalia (15-50%) Estigmas/sinais clássicos (encontrados em cerca de 50% dos pacientes): • Baqueteamento • Nódulos de Osler: nódulos subcutâneos macios usualmente encontrados nas popas digitais 4Ps: pink, painful, pea-sized, pulp of the fingers Débora Gonçalves – 2021.1 – PATOLOGIA APLICADA • Petéquias: comum, mas não específicos. Encontrados como hemorragia em região subungueal • Lesões de Janeway: mácula endurecidasobre as palmas e plantas dos pés. NÃO DOLOROSA • Manchas de Roth: hemorragias de retina com área central pequena e clara. Também chamadas “manchas em chama de vela”. * As manchas de Roth também podem aparecer em LES, leucemia, HIV, retinopatia. Avaliação prognóstica 1. Características de base: a. Comorbidade b. DM c. Choque séptico d. AVCi moderado a importante e. Hemorragia cerebral f. Necessidade de hemodiálise 2. Complicações cardíacas e/ou não cardíacas a. Perfuração de valva b. Abcesso perivalvar c. Rompimento do músculo papilar d. Embolia e. E outros 3. Microrganismo envolvido 4. Achados ecocardiográficos Se 3 fatores presentes, risco de morte alcança 79% Maior risco para óbito e cirurgia: • ICC • Staphylococcus aureus • Complicação perivalvar Diagnóstico Exames: • Hemograma • EAS • Fator reumatoide, VDRL, eletroforese de proteínas • ECG • Rx tórax • TC crânio CRITÉRIOS DE DUKE Rejeita EI quando: • resolução dos sintomas com antibioticoterapia por 4 dias ou menos • sem evidência patológica na cirurgia ou autópsia • ausência de critérios para EI EI definida quando: • 2 critérios maiores; • 1 maior + 3 menores ou • 5 menores Débora Gonçalves – 2021.1 – PATOLOGIA APLICADA Complicações • Insuficiência cardíaca • Embolização • Glomerulonefrite • Infarto renal • Infarto esplênico • Meningite • Aneurisma micótico • Abcesso cerebral • Encefalite • Perturbações da condução: bloqueio atrioventricular, por exemplo
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