Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MINEIROS UNIDADE BÁSICA DAS BIOCIÊNCIAS CURSO DE MEDICINA SP2: “DOR DE BARRIGA FULMINANTE” Ana Paula Lazarin Bernardes Beatriz Gomes Neves Gabriela de Lima Rezende Gabriela Pereira Valadares Giovanna Casagrande Moreli Jéssica Thaynna Resende Figueiredo João Otávio Leal Farina Laís Corrêa Marques Luiz Fernando Yabumoto Maria José Alves Macedo Matheus Teixeira Silva Mayra Fernandes Martins Rones Dias da Costa Filho MINEIROS/GO 2021 2 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MINEIROS UNIDADE BÁSICA DAS BIOCIÊNCIAS CURSO DE MEDICINA Relatório apresentado à disciplina de Tutoria da Unidade I, do 8º período, do curso de medicina, como requisito parcial para obtenção de nota, sob orientação da Professora Drª Vivien. MINEIROS/GO 2021 3 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................4 2. DISCUÇÃO.........................................................................................................5 2.1. Conceituar a síndrome do intestino curto, discutindo seu diagnóstico diferencial etiológico mais significativo.....................................................5 2.2. Definir síndrome de má absorção (SMA) tomando como modelo a doença de Chron e seu tratamento cirúrgico.............................................5 2.3.Caracterizar as manifestações clínicas que conduzem à hipótese diagnóstica de síndrome de má absorção intestinal.................................7 2.4. Descrever os diagnósticos diferenciais de síndrome de má absorção; Revisar síndromes de má absorção (lactose, glúten)...............................8 2.5.Relacionar as manifestações clínicas da SMA com a sua fisiopatologia..........................................................................................10 2.6. Discutir a propedêutica para a investigação da SMA..........................12 2.7. Relacionar as alterações laboratoriais, imagenológicas e anatomopatológicas com a SMA...........................................................12 2.8.Correlacionar à cirurgia de redução intestinal com má absorção intestinal e as alterações metabólicas dela decorrentes.........................17 2.9. Explicar a necessidade de dieta e reeducação alimentar nos casos de SMA.......................................................................................................18 2.10. Correlacionar a cirurgia de redução intestinal (bariátricas restritivas e disabsortivas) com a má absorção intestinal e as alterações metabólicas dela decorrente..................................................................19 2.11. Discutir as necessidade basais da nutrição enteral e tipos................20 2.12. Discutir as necessidades basais e formulação de nutrição parenteral...............................................................................................22 2.13. Descrever como é feito o tratamento das diarreias..........................23 3. CONCLUSÃO.............................................................................................25 4. REFERÊNCIAS..........................................................................................26 4 1- INTRODUÇÃO Dor de barriga fulminante Através desse relatório podemos caracterizar diversas alterações que são responsáveis por alterações absortivas do trato gastrointestinal (TGI) e suas diversas consequências do metabolismo e na absorção de nutrientes. Dentre elas destacamos a síndrome do intestino curto (encurtamento na região do TGI, seja por alterações congênitas ou ressecções realizadas ao longo da vida), há também as doenças inflamatórias intestinais (chron e retocolite ulcerativa) que apresentam-se com alterações na mucosa, submucosa e no caso da doença de Chron também na camada transmural e altera a absorção dos nutrientes. Outras patologias que são citadas nesse relatório são: intolerância a lactose e intolerância ao glúten, ambas bem descritas no decorrer. O diagnóstico e tratamento são pontos fundamentais a serem abordados, são pontos importantes da propedêutica com o paciente. 5 2- DISCUSSÃO 2.1 Conceituar a síndrome do intestino curto, discutindo seu diagnóstico diferencial etiológico mais significativo; A síndrome do intestino resulta de um comprimento total de intestino delgado que é inadequado para manter a nutrição via oral satisfatoriamente. Usado como um termo descritivo para inúmeros problemas clínicos que surgem depois da ressecção de comprimentos variáveis do intestino delgado ou por problemas congênitos. Os fatores que determinam o tipo e a gravidade dos sintomas são: (1) o segmento específico (jejuno versus íleo) retirado; (2) o comprimento do segmento retirado; (3) a integridade da válvula ileocecal; (4) se foi realizada também alguma remoção do intestino grosso; (5) se há doença residual no intestino delgado e/ou no intestino grosso restante; e (6) o grau de adaptação no intestino restante. Pode ocorrer síndrome do intestino curto em indivíduos de qualquer idade, desde recém-nascidos até indivíduos idosos (BINDER, 2020). As causas mais frequentes no adulto são doenças malignas, radiação e insuficiência vascular; na criança, enterocolite necrotizante e anormalidades intestinais. Apesar da notável capacidade de adaptação após ressecções extensas este mecanismo adaptativo pode ser sobrepujado se houver mais de 70% de ressecção ou menos de 200 cm de intestino delgado. Pacientes com menos de 100 cm de intestino delgado, sem o cólon, provavelmente necessitarão de nutrição parenteral para sobreviver. Em contrapartida, 50 cm de intestino delgado costuma ser suficiente para a nutrição oral adequada se a maioria do cólon estiver presente (FRANZON et al, 2010). Dentre os diagnósticos diferenciais têm-se: diarreia causada por parasitas, doença celíaca, intolerância à lactose, doença de Crohn, pancreatite crônica (BINDER, 2020). 2.2 Definir síndrome de má absorção (SMA) tomando como modelo a doença de Chron e seu tratamento cirúrgico; Síndrome de má absorção intestinal ou síndrome disabsortiva é definida como ―conjunto de sinais e sintomas que resultam da incapacidade do trato gastrointestinal em 6 utilizar os nutrientes da dieta (proteínas, carboidratos, gorduras e vitaminas), devido a distúrbios nos processos de digestão (como no caso de uma insuficiência exócrina do pâncreas), ou por distúrbios nos processos de absorção (como no caso das doenças que lesam diretamente a mucosa intestinal e na deficiência de ácidos biliares)‖. A digestão e a absorção ocorrem em três fases, que são: 1. Hidrólise intraluminal de gorduras, proteínas e carboidratos pelas enzimas—sais biliares aumentam a solubilização das gorduras nessa fase; 2. Digestão por enzimas da borda em escova e absorção dos produto finais; 3. Transporte linfático dos nutrientes. A má absorção é causada por muitas doenças, medicações, ou produtos nutricionais diferentes que comprometem a digestão intraluminal, absorção pela mucosa ou transporte dos nutrientes até a circulação sistêmica, dentre eles temos: Com relação ao tratamento cirúrgico da Doença de Crohn, tem- se que Embora cerca de 70% dos pacientes essencialmente exijam, em última análise, uma cirurgia, esta é frequentemente realizada de maneira relutante. Ela é mais indicada para obstruções intestinais recidivantes ou em fístulas e abscessos intratáveis. A ressecção do intestino envolvido pode melhorar os sintomas, mas não cura a doença, já que a doença de Crohn tende a recorrer mesmo depois da ressecção de todo o segmento aparentemente enfermo. A taxa de recidiva, definida por lesões endoscópicas no local da anastomose, é 7 70% em 1 ano 85%em 3 anos Definida por sintomas clínicos, a taxa de recorrência é de cerca de 25 a 30% em 3 anos 40 a 50% em 5 anos Em geral, nova cirurgia é necessária em cerca de 50% dos casos. Entretanto, os índices de recorrência parecem ser reduzidos por profilaxia precoce antes da cirurgia com 6- mercaptopurina ou azatioprina, metronidazol ou infliximabe. Quando a cirurgia é realizada com indicações precisas, quase todos os pacientes experimentam melhora da qualidade de vida. Como o tabagismo aumenta o risco de recorrência, especialmente em mulheres, devese incentivar que o paciente pare de fumar. 2.3 Caracterizar as manifestações clínicas que conduzem à hipótese diagnóstica de síndrome de má absorção intestinal; Na síndrome de má absorção intestinal, o quadro clínico pode variar consideravelmente, desde manifestações clássicas, como diarreia, esteatorreia, emagrecimento e desnutrição, até apresentações mais discretas, como distensão abdominal e flatulência, ou mesmo manifestações extraintestinais, como anemia ferropriva, perda óssea, hipodesenvolvimento ponderoestatural e distúrbios da menstruação. A diarreia crônica é o sintoma mais comum e o que geralmente exige avaliação do paciente. A esteatorreia — fezes gordurosas, típicas de má absorção — ocorre quando são excretadas > 7 g/dia de gordura. A esteatorreia produz fezes em grande quantidade, pálidas, com gotículas de gordura e bastante mal cheirosas. Suspeita-se de má absorção no paciente com diarreia crônica, perda ponderal e anemia. A etiologia algumas vezes é óbvia. Por exemplo, se um paciente tem história de alcoolismo importante, diarreia, diabetes e dor abdominal em faixa, sob forma de crises, com irradiação para as costas além de geralmente ter episódios prévios de pancreatite aguda suspeita-se de pancreatite crônica. Pacientes com doença celíaca podem apresentar história clássica de diarreia de longa data exacerbada pela ingestão de produtos que contêm glúten e podem ter dermatite herpetiforme. Pacientes com cirrose e câncer pancreático podem apresentar icterícia. Distensão abdominal, flatulência excessiva e 8 diarreia aguda 30 a 90 min depois da ingestão de carboidratos sugerem deficiência de uma enzima dissacaridase, em geral lactase. Cirurgias abdominais extensas anteriores sugerem síndrome do intestino curto. Se a história sugerir uma causa específica, a investigação deve ser direcionada e individualizada. Em pacientes sem causa aparente, faz-se uma investigação em etapas. Onde na primeira etapa são solicitados exames laboratoriais, caso necessário uma investigação maior, na segunda etapa faz-se um aprofundamento da avaliação laboratorial, exames radiológicos e endoscópicos. Caso ainda não tenha se identificado a causa, pode-se realizar uma terceira etapa caracterizada por exames endoscópicos refinados, como enteroscopia e cápsula endoscópica. 2.4 Descrever os diagnósticos diferenciais de síndrome de má absorção; Revisar síndromes de má absorção (lactose, glúten); DOENÇA CELÍACA A doença celíaca (DC) é uma condição inflamatória do intestino delgado pela exposição ao glúten em indivíduos geneticamente susceptíveis que se expressa por enteropatia mediada por linfócitos T. A prevalência da DC tem aumentado nos últimos anões demonstrando que esta doença é significativamente frequente na população. Acredita-se que este aumento seja decorrente de fatores ambientais, como ocidentalização da dieta, alterações na microbiota intestinal, assim como na quantidade de glúten ingerida. A fisiopatologia da doença se inicia pela digestão do glúten pelas enzimas luminais e da borda em escova em aminoácidos e peptídeos imunogênicos, como a alfa- gliadina. Alguns peptídeos da gliadina induzem as células epiteliais a expressar IL-15, que por sua vez, ativa a proliferação de linfócitos intraepiteliais CD8+, que agridem os enterócitos e estimulam a expressão de MIC-A (molécula da classe I do MHC). Lesão de enterócitos favorece a penetração da gliadina na lâmina própria, onde sofre desamidação pela enzima transglutaminase, o que aumenta a imunogenicidade dos peptídeos gerados. Antígenos derivados da gliadina ligam-se a moléculas HLA DQ2 ou DQ8 e são apresentados a linfócitos T CD4+, que liberam citocinas (p. ex., IFN-γ), que induz resposta inflamatória e contribui para agravar as lesões teciduais. 9 O quadro clinico clássico se caracteriza por diarreia crônica, em geral acompanhada de distensão abdominal e perda de peso, esteatorreia, hiporexia, irritabilidade, vômitos, anemia por deficiência de folato e vitamina B12, artralgias, constipação, palidez cutânea, desnutrição e retardo no crescimento. O diagnóstico caracteriza-se por síndrome de má absorção intestinal, mucosa jejunal de aspecto celíaco, remissão clinica e histológica com ausência de glúten e recorrência com a reintrodução do glúten. Exames complementares: a) exames de fezes- esteatócrito (quantitativo) e Sudam III (qualitativo), e b) sorologia-antigliadina IgA, antiendomísio IgA e antitransglutaminase IgA. Tratamento é a exclusão de glúten por toda a vida. INTOLERÂNCIA A LACTOSE A intolerância à lactose é a incapacidade do organismo de digerir o açúcar presente no leite, a lactose, causando sintomas como cólica, gases e diarreia, que surgem momentos após a ingestão deste alimento. A lactose é um dissacarídeo composto por uma molécula de galactose ligada a uma molécula de glicose. Ocorre natural e exclusivamente no leite dos mamíferos (7,2 g/100 mL no leite humano e 4,7 g/100 mL no leite de vaca). Como visto, sua absorção ocorre na borda em escova da mucosa do intestino delgado, por meio da ação da enzima lactase, que tem a função de hidrolisar a ligação entre as moléculas de glicose e galactose. A intolerância a lactose pode ser por: (1) deficiência congênita de lactase ou hipolactasia congênita, que é uma entidade relativamente rara que se caracteriza pela ausência ou intensa deficiência isolada de atividade lactásica. Bebês afetados têm diarreia desde o nascimento; ou (2) deficiência secundária de lactase, que é a deficiência que se instala secundariamente a uma condição fisiopatológica responsável pelo fenômeno de má absorção da lactose. A deficiência secundária de lactase é a mais comum das intolerâncias aos carboidratos e, em nosso meio, constitui a entidade mais importante pela sua frequência e gravidade em pediatria. Os sintomas de intolerância à lactose surgem quando é ultrapassada a capacidade de resgate colônico. Assim, defeito na digestão e/ou absorção da lactose, qualquer que seja a etiologia, acarreta, como consequência, diarreia com grande conteúdo líquido. Clinicamente, a criança apresenta- -se com fezes líquidas, explosivas, ácidas, acompanhadas de borborigmo, flatulência, dor abdominal e dermatite perineal. A dor abdominal pode ser tipo cólica e frequentemente localizada na área periumbilical ou nos 10 quadrantes inferiores. Quando a diarreia é muito intensa, podem ocorrer desidratação e acidose metabólica. Quando o quadro se prolonga, compromete o crescimento pondero- estatural, podendo evoluir para diarreia persistente e/ou protraída e desnutrição acentuada. O diagnóstico presuntivo pode ser levantado quando há referência de diarreia do tipo aquoso com componente fermentativo. Aparecimento de sintomas em vigência da ingestão da lactose e rápida regressão do quadro clínico, quando se retira a lactose, praticamente fecha o diagnóstico. Vários métodos são utilizados para o diagnóstico da intolerância à lactose, com sensibilidade e especificidade bastante variáveis: teste de absorção de lactose pela sobrecarga oral, teste do H2 expirado e teste genético. O tratamento é a restrição alimentar. 2.5 Relacionar as manifestações clínicas da SMA com a sua fisiopatologia; Ao interferir nos processos de digestão/absorção, diversas entidadesnosológicas conseguem criar um estado mórbido, no qual o organismo não consegue aproveitar nutrientes ingeridos na dieta, eliminando-os nas fezes, num quadro conhecido como síndrome disabsortiva ou de má absorção. Alteração do metabolismo: alterações cirúrgicas, como gastrectomia parcial com gastrojejunostomia (uma anastomose à Billroth II) ou cirurgias de bypass gastrointestinal para obesidade, resultam na liberação de secreções biliares e pancreáticas no intestino, em um local distante do local de entrada do conteúdo gástrico. Esse desequilíbrio pode resultar em lipólise prejudicada e em um defeito na formação das micelas, com subsequente má absorção das gorduras. Bypass do duodeno também prejudica a absorção de ferro, folato e cálcio. O trânsito rápido através do jejuno contribui para a má absorção dos nutrientes. Indivíduos com essas condições também têm anastomoses cirúrgicas que predispõem ao supercrescimento bacteriano. Deficiência da lipase: a deficiência na lipase pancreática pode ser decorrente de sua ausência congênita ou da destruição da glândula pancreática em função de pancreatite causada por álcool, fibrose cística ou câncer de pâncreas. A lipase pancreática também pode sofrer desnaturação por excesso de secreção de ácido gástrico (por exemplo, síndrome de Zollinger-Ellison). 11 Pancreatite crônica: a pancreatite crônica é a causa mais comum de insuficiência pancreática e deficiência de lipase. Nos Estados Unidos, a pancreatite crônica é causada mais comumente por abuso de bebidas alcoólicas; em contraste, a pancreatite tropical (nutricional) é mais comum no resto do mundo. Não ocorre má absorção de gordura até que tenham sido destruídos mais de 90% do pâncreas. Deficiência na formação de micelas: as concentrações de sais biliares no lúmen intestinal podem cair para níveis inferiores à concentração crítica (2 a 3 mmol/L) necessária para a formação de micelas, devido à redução da síntese de sais biliares (hepatopatia grave), diminuição da liberação de sais biliares (colestase) ou remoção dos sais biliares presentes no lúmen (supercrescimento bacteriano, doença ou ressecção de íleo terminal, terapia com colestiramina, hipersecreção ácida). Diminuição da Síntese e Liberação de Sais Biliares: pode ocorrer má absorção em indivíduos com doença hepática colestática ou obstrução de ducto biliar. As consequências clínicas da má absorção são mais frequentemente observadas em mulheres com cirrose biliar primária, devido à natureza prolongada da doença. Embora esses indivíduos possam apresentar esteatorreia, osteoporose ou, menos comumente, osteomalácia é a apresentação mais comum. A causa da doença óssea nesses pacientes é pouco compreendida e frequentemente não está relacionada com a deficiência de vitamina D Supercrescimento Bacteriano Intestinal: no indivíduo saudável, apenas pequenas quantidades de lactobacilos, enterococos, aeróbios Gram-positivos ou anaeróbios facultativos podem ser cultivados do lúmen do intestino delgado superior. Motilidade e acidez são os fatores principais que mantêm baixo o número de bactérias nessa parte do intestino. Qualquer condição capaz de produzir estase local ou recirculação do conteúdo luminal do cólon permite o desenvolvimento de uma flora predominantemente ―colônica‖ (coliformes e anaeróbios, como Bacteroides e Clostridium) no intestino delgado. Como resultado, a concentração de sais biliares decresce no lúmen intestinal e pode cair para níveis inferiores à concentração micelar crítica, causando má absorção de gorduras e vitaminas lipossolúveis. Indivíduos com supercrescimento bacteriano podem apresentar diarreia, cólica abdominal, gases e distensão, perda de peso e sinais e sintomas de deficiência de vitamina B12 e vitaminas lipossolúveis. A diarreia aquosa ocorre por causa da carga osmótica de carboidratos não absorvidos e pela estimulação da secreção colônica pelos ácidos graxos não absorvidos. 12 Doença ou Ressecção do Íleo: doença ileal terminal é causada mais comumente por doença de Crohn, que também pode levar à ressecção ileal, mas também pode ser decorrente de enterite por radiação, espru tropical, tuberculose, infecção por Yersinia, ou má absorção idiopática de sais biliares. Essas patologias causam depleção de sais biliares no cólon. As consequências clínicas da má absorção de sais biliares estão diretamente relacionadas com o comprimento do íleo terminal doente ou ressecado. Em um adulto, se até 100 cm do íleo é doente ou ressecado, ocorrerá diarreia aquosa por causa da estimulação da secreção de líquido pelo cólon, pelos sais biliares não absorvidos. Quando mais de 100 cm do íleo é doente ou ressecado, as perdas de sais biliares (> 3g/dia) no cólon excedem a capacidade de aumento da síntese de sais biliares no fígado, ocorre redução nas reservas dessas substâncias e a formação de micelas fica comprometida. Como resultado, ocorre esteatorreia, e a secreção intestinal induzida por ácidos graxos entra em sinergismo com a secreção induzida pelos ácidos biliares, causando diarreia. 2.6 Discutir a propedêutica para a investigação da SMA e 2.7 Relacionar as alterações laboratoriais, imagenológicas e anatomopatológicas com a SMA; A abordagem ao paciente com má absorção intestinal deve ser individualizada, levando-se em conta os pormenores da história clínica. Recomenda-se uma investigação em etapas. Na primeira etapa, são solicitados exames gerais, como hemograma, provas de atividade inflamatória (VHS, proteína C reativa, alfa-1-glicoproteína ácida), eletrólitos, função renal, função hepática, ferro sérico, dosagem de vitamina B12, folato, hormônios tireoideanos, marcadores sorológicos para doença celíaca (antiendomísio, antitransglutaminase), parasitológico de fezes etc. No caso de estarem disponíveis, testes respiratórios para avaliação de intolerância à lactose e de supercrescimento bacteriano são também recomendados nesta fase. Se houver necessidade, testes iniciais simples com o intuito de distinguir diarreias aquosas, gordurosas (esteatorreia) ou inflamatórias podem ser realizados nas fezes, como concentração fecal de sódio e potássio, leucócitos fecais (ou como alternativa à dosagem de calprotectina ou lactoferrina nas fezes – indicam atividade inflamatória) e teste de gordura fecal quantitativo (coleta por 72 h para obter informações sobre peso das fezes e quantidade fecal de gordura), qualitativo (teste de Sudan) ou semiquantitativo (esteatócrito). 13 Se necessário, uma segunda etapa de investigação é iniciada, com aprofundamento da investigação laboratorial (p. ex., dosagens hormonais como gastrina, calcitonina, polipeptídio intestinal vasoativo [VIP], dosagem do ácido 5-hidroxi- indolacético na urina de 24 h [tumor carcinoide] etc.). Se os testes respiratórios não tiverem sido feitos ainda, poderão ser realizados nessa etapa. Exames de imagem como trânsito intestinal de delgado, tomografia computadorizada (TC) – incluindo enterografia por TC – e exames endoscópicos, como endoscopia (com biopsias duodenais) e colonoscopia também podem ser solicitados. A terceira etapa geralmente é executada em centros de referência e inclui exames endoscópicos mais refinados, como enteroscopia e cápsula endoscópica. Também exames laboratoriais, até então não solicitados, poderão ser pedidos, ao lado de testes de medicina nuclear, como PET-scan, entre outros. História e exame físico A história clínica detalhada é essencial na avaliação de pacientes com diarreia crônica, sendo necessário diferenciar se a natureza dos sintomas é orgânica ou funcional, se a diarreia é alta (tipo delgado, com ou sem esteatorreia) ou baixa (tipo colônico, inflamatório) e verificar se há fatores de piora e/ou melhora da diarreia (p. ex., consumo de leite e derivados, alimentos contendo glúten etc.). Os sintomas sugestivos de doença orgânicaincluem perda de peso, diarreia com duração menor que 3 meses, anemia e sangramento, entre outros. O paciente é acordado à noite pela diarreia. Se, por outro lado, o paciente preencher os critérios de Roma, para síndrome do intestino irritável, com exame físico normal e não apresentar os sintomas sugestivos de doença orgânica, presume-se que a alteração seja mais funcional. A diarreia de origem colônica ou inflamatória tipicamente apresenta-se com fezes líquidas ou pastosas, com muco, sangue ou pus (disenteria) e, frequentemente, é acompanhada de tenesmo e puxo. Já o quadro de má absorção pode ser acompanhado de esteatorreia – fezes de coloração pálida, em grandes volumes, espumosas, brilhantes e com tendência a flutuar –, contudo, nas formas mais leves de má absorção, pode não haver alteração das fezes ou no número de evacuações. Distensão abdominal e flatulência são comuns e geralmente resultam da fermentação excessiva pela flora colônica dos carboidratos não absorvidos. A perda de peso é evidente nos casos de doença grave, mas pode não ocorrer nos casos mais leves de má absorção. 14 Fatores de risco específicos devem ser investigados, já que fortalecem a possibilidade de doença orgânica. Desse modo, deve-se avaliar história de cirurgias prévias com ressecções extensas do intestino, doença pancreática prévia, uso crônico de álcool, viagens recentes, doenças sistêmicas como diabetes melito, hipertireoidismo e colagenoses, bem como história familiar de neoplasia, doença inflamatória intestinal e doença celíaca. Exames laboratoriais Exames básicos na avaliação de má absorção intestinal incluem hemograma completo, função hepática, função tireoidiana, dosagem de folato e vitamina B12, zinco, provas de atividade inflamatória, ureia e creatinina, eletrólitos, ferro, ferritina e parasitológico de fezes. Marcadores sorológicos para a doença celíaca são importantes para screening de doença celíaca, como no caso dos testes antiendomísio (IgA) e antitransglutaminase (IgA), os quais apresentam alta sensibilidade e especificidade. Os resultados positivos precisam ser confirmados por meio de análise histopatológica dos fragmentos de segunda e terceira porções duodenais, obtidos durante endoscopia digestiva alta. Nos casos em que há forte suspeita de doença celíaca, mesmo quando os exames sorológicos forem negativos, deve-se proceder a endoscopia digestiva alta e biopsias duodenais. Em pacientes com deficiência de IgA, os testes sorológicos são falsamente negativos. Os pacientes com doença celíaca são, em praticamente 100% dos casos, HLA-DQ2 e/ou DQ8. Na suspeita de infecção por ameba ou Giardia, o exame a fresco de pelo menos três amostras de fezes é de particular importância no diagnóstico, com sensibilidade variando de 60 a 90% para detecção desses parasitas. Vale lembrar ainda que, em nosso meio, estrongiloidíase pode ocorrer e provocar má absorção intestinal grave, por diferentes mecanismos, com intensa perda entérica de proteína e anasarca. Avaliação da absorção de gordura O teste mais simples para saber se há má absorção de gordura é o exame qualitativo das fezes. A coloração Sudan III é simples na detecção de gorduras, de fácil realização e baixo custo, a qual, mais recentemente, foi adaptada para avaliação também 15 quantitativa. O teste do esteatócrito é um método semiquantitativo, simples e rápido, mas questiona-se sua vantagem frente à visualização da gordura nas fezes. Uma melhor avaliação pode ser obtida pela medida da excreção da gordura não absorvida, com coleta de fezes por 72 h. Nesse caso, é necessário o acompanhamento nutricional para garantir a ingestão adequada de gordura na dieta (100 g/dia), por 5 dias, incluindo os 3 últimos dias de coleta. A excreção normal de gordura baseada na dieta de 100 g/dia é em geral menor que 7 g/dia. Como mencionado anteriormente, tal avaliação sofre sérias limitações na sua realização, o que dificulta a sua rotineira feitura. O teste respiratório para avaliação da má absorção de gorduras é uma alternativa na investigação. A absorção da C14-trioleína tem sido usada na avaliação da lipólise e absorção de gordura, mas apresenta baixa sensibilidade nos casos de gordura fecal entre 7 e 14 g/dia e é inapropriada para pacientes com obesidade, diabetes e doença hepática. Avaliação da perda proteica Pode-se investigar a suspeita de enteropatia perdedora de proteína pela medida do clearance da a1-antitripsina, que funciona como um marcador de perda proteica intestinal. A α1-antitripsina tem o mesmo tamanho da albumina, é relativamente resistente à hidrólise pelas enzimas intestinais, com provável liberação intestinal nas mesmas proporções da albumina. Valores maiores que 25 mℓ/dia estão associados à hipoalbuminemia. A perda entérica de albumina pode também ser investigada por meio de clearance de albumina marcada (cromalbin). Avaliação de absorção de carboidratos A análise química das fezes pode contribuir para a investigação da má absorção de carboidratos. Como os açúcares são fermentados no cólon, uma queda no pH fecal para nível menor que 5,5 sugere má absorção de carboidratos. No teste respiratório com hidrogênio, usam-se diferentes carboidratos para avaliar se há realmente déficit de absorção desses açúcares. Os substratos, como lactose ou sacarose, são ingeridos e, caso não sejam absorvidos no delgado, passam para o cólon, sofrendo fermentação pelas bactérias, tendo como subproduto o hidrogênio. É importante salientar que uma minoria de pacientes não excreta hidrogênio, apresentando teste falso-negativo devido ao desvio do metabolismo bacteriano que origina metano, 16 em vez de hidrogênio.49 Os aparelhos mais modernos já incorporam a medida também do metano. Teste falso-positivo pode ocorrer nos casos de supercrescimento bacteriano. Exames de imagem O exame radiológico simples do abdome é importante na identificação de alterações como fístulas, tumores e condições que facilitem a hiperproliferação bacteriana, como divertículos ou alças com hipomotilidade ou dilatação. Pode ainda revelar calcificações pancreáticas, como no caso da pancreatite crônica alcoólica. O trânsito intestinal de delgado (tradicional ou digital) é útil na identificação de estenoses e fístulas (p. ex., doença de Crohn), além de padrões de má absorção (p. ex., floculação do contraste, espessamento de pregas). A tomografia computadorizada é útil na detecção de lesões focais intestinais como espessamento da parede do delgado, fístulas e dilatação de alças intestinais. É bastante sensível na avaliação do aumento dos linfonodos abdominais, vistos na doença de Whipple, linfoma, tuberculose, blastomicose e doença de Crohn. A colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE), mais usada no passado, pode ser útil na diferenciação entre pancreatite crônica, tumores pancreáticos e cálculos. No entanto, tem sido atualmente substituída pela ecoendoscopia ou pela colangiopancreatorressonância (ressonância nuclear magnética). Exames endoscópicos A avaliação da mucosa duodenal é capaz de oferecer pistas na investigação da má absorção. Desse modo, o achado de úlceras aftoides sugere doença de Crohn; pontos esbranquiçados podem ser vistos na linfangiectasia primária e secundária e redução do número de pregas, com mucosa nodular ou com padrão em mosaico, indicativos de doença celíaca. O exame colonoscópico é importante na investigação da diarreia crônica, além de ser particularmente útil no diagnóstico da doença inflamatória intestinal, do câncer colorretal e na obtenção de biopsias para o diagnóstico da colite microscópica. A colonoscopia pode ainda revelar a ocorrência de melanosis coli secundária ao uso crônico de laxativos do tipo antraquinonas (p. ex., derivados do sene). 17 Mais recentemente, a enteroscopia, nas suas várias modalidades, ea cápsula endoscópica propiciaram maior alcance do intestino delgado, um segmento outrora considerado inalcançável. 2.8 Correlacionar à cirurgia de redução intestinal com má absorção intestinal e as alterações metabólicas dela decorrentes; A deficiência de ferro é uma das mais frequentes após a cirurgia bariátrica. Em pacientes superobesos, submetidos a BGYR, a deficiência de ferro ocorre em 49-52% e a anemia em 35-74% após três anos de cirurgia. Há um risco aumentado após 5 anos devido a redução dos estoques de ferro corporais.A causa da deficiência de ferro é multifatorial, ocorrendo em todos os tipos de cirurgia bariátrica. Deve-se a acloridria, má-absorção e intolerância a alimentos ricos em ferro. A principal conseqüência clínica é a anemia, levando a queda das hemáceas, sendo controlada através de sua dosagem específica e do hemograma completo. A deficiência de ferro e a anemia microcítica são mais comuns nas mulheres em idade fértil e nos adolescentes. Embora a deficiência de ferro seja mais prevalente na mulher pré-menopausada, é mais comumente vista em homens e mulheres pós-menopausadas. O tratamento e a prevenção são realizados com suplementações e orientações nutricionais específicas. Há uma série de recomendações para suplementações, dependendo dos autores. Podemos considerar a dosagem de sulfato ferroso de 320mg oral 2 vezes ao dia ou 300mg 3 vezes ao dia, associada a ácido ascórbico para melhorar a sua absorção. (6,16) Esse tratamento é importante pela incidência de anemia não especificada ser alta (74%). A deficiência de vitamina B12 é comum após a cirurgia bariátrica, principalmente nos procedimentos restritivos. Deve-se a falha da separação da B12 dos alimentos proteicos e da absorção da B12 cristalina pela falta de fator intrínseco. Também pode ser ocasionada acloridria e redução do consumo de alimentos devido intolerância de suas principais fontes (leite e carne). Ocorre mais comumente em pacientes submetidos a BGYR podendo chegar a 64% de prevalência. Deficiencia de folato, nos pacientes submetidos a BGYR pode ocorrer em 38% dos casos. Basicamente, é ocasionada pela redução da ingestão e redução da sua absorção. 18 A reduzida absorção de cálcio é secundária à exclusão duodenal e do jejuno proximal, onde o cálcio é absorvido em maior quantidade. A vitamina D é absorvida preferencialmente no jejuno e íleo. A absorção alterada da vitamina D, de outras vitaminas lipossolúveis e de gordura agravam a má absorção de cálcio. A falta de cálcio estimula a produção do hormônio paratireodiano (PTH), causando aumento da produção do 1,25-dihydroxyvitamin D e aumentando a absorção óssea de cálcio. O resultado desse processo em longo prazo é a osteoporose e o hiperparatireoidismo. (6) São deficiências interligadas, podendo ser causadas por má-absorção, intolerância a alimentos ricos em cálcio, defeitos na absorção de vitamina D devido a má-absorção de gorduras (redução do local de ação das enzimas pancreáticas e bile) e a perda de peso acentuada pode ser responsável por um maior turnover ósseo. Em pacientes com essa deficiência no pré-operatório, devido à baixa capacitação biológica do calcidiol e/ou exposição solar insuficiente, o problema tende a persistir pelas mesmas causas no pós-operatório. A manutenção dos seus níveis adequados deve-se a possibilidade da anemia megaloblástica e malformações do tubo neural no caso de gestante. 2.9 Explicar a necessidade de dieta e reeducação alimentar nos casos de SMA; Após cirurgia bariátrica as deficiências nutricionais após ocorrem basicamente por: restrição da ingestão alimentar e/ou redução das áreas de absorção dos nutrientes. Além disso, a diminuição no tempo de trânsito gastrointestinal também pode resultar em má absorção de vários micronutrientes relacionados não só à exclusão do duodeno e jejuno como também ao contato limitado do alimento com a borda em escova. A presença de intolerância alimentar e a não utilização de polivitamínicos/minerais também contribuem nesse processo. Deficiências nutricionais são menos frequentes após procedimentos puramente restritivos como o balão intragástrico ou a banda gástrica ajustável, justamente por não apresentarem o componente disabsortivo, sendo a suplementação com polivitamínícos considerada suficiente para prevenir tais complicações. 19 Em procedimentos disabsortivos como a derivação biliopancreática é mais comum a presença de deficiência de vitaminas A, D e K, zinco e ácidos graxos essenciais. No bypass gástrico em Y-de-Roux (BGYR), a técnica mais utilizada nos Estados Unidos e no Brasil, há maior prevalência de deficiência de vitamina B12, ferro e ácido fólico. Já na derivação biliopancreática/Duodenal Switch (DBP/DS) apenas 28% dos lipídios ingeridos são absorvidos. 2.10 Correlacionar a cirurgia de redução intestinal (bariátricas restritivas e disabsortivas) com a má absorção intestinal e as alterações metabólicas dela decorrente; O uso do equipamento coletor está associado aos sentimentos negativos, como medo, angústia, tristeza e desamparo, que podem mobilizar vivências autodepreciativas, vinculados aos sentimentos de mutilação, perda da saúde e da autoestima, além da autoeficácia reduzida e senso de inutilidade e incapacitação crônica, entre outras emoções. Os pacientes estomizados vivenciam mudanças em suas vidas, principalmente as relacionadas à sua rede social (trabalho e lazer) e à sexualidade, que podem acentuar seus sentimentos de insegurança e temor de rejeição. Devido aos possíveis desfechos psicológicos negativos e às questões emocionais decorrentes da estomia, é fundamental que o paciente receba assistência integral, com abordagem interdisciplinar e especializada das necessidades do paciente e de sua família, com vistas à plena recuperação física, emocional e social, rumo à reabilitação. Para tanto, é necessário prover o preparo do paciente, principalmente durante o perioperatório, no qual ele experimenta momentos de exacerbação da ansiedade e da angústia diante do desconhecido – a ―estomia‖. Esse preparo consiste no ensino pré- operatório, a demarcação da estomia e do ensino do autocuidado, tanto para o paciente quanto para sua família, no pós-operatório, assim como o encaminhamento ao Programa de Assistência aos Ostomizados do Sistema Único de Saúde (SUS). O programa assistencial é voltado para o oferecimento de suporte profissional especializado ao paciente fora do meio hospitalar, auxiliando-o na transição do cuidado hospitalar para o domiciliar. Diferentes estratégias são utilizadas para auxiliá-lo no desenvolvimento de habilidades para o autocuidado, bem como são fornecidos os materiais necessários. 20 Por isso, é imperativo que a equipe interdisciplinar conheça as características socioculturais e clínicas dessa clientela para que, assim, possa realizar o planejamento adequado da assistência e da implementação de estratégias efetivas para essa abordagem. Pelo exposto, destaca-se que o indivíduo com patologia colorretal crônica necessita de apoio psicológico e, em alguns casos, intervenção psicoterápica, cujo objetivo é oferecer espaço para trabalhar os aspectos que possam colaborar para o fortalecimento do enfrentamento da doença, de forma a ajudá-lo na elaboração e no processo de adoecimento, por meio de acompanhamento e orientação constantes. 2.11 Discutir as necessidades basais da nutrição enteral e tipos; Nutrição enteral é um tipo de alimentação que permite administrar todos os nutrientes, ou parte deles, através do sistema gastrointestinal, quando a pessoa não pode consumir uma dieta normal, seja porque é necessário ingerir mais calorias, seja porque há perda de nutrientes, ou porque é necessário deixar o sistema digestivo de repouso. Este tipo de nutrição é administrada através de um tubo, conhecido como sonda de alimentação,que pode ser colocada desde o nariz, ou da boca, até ao estômago, ou até ao intestino. Seu comprimento e local onde é inserida varia de acordo com a doença de base, o estado geral de saúde, a duração estimada e do objetivo que se pretende atingir. Outra forma menos comum de administrar a alimentação enteral é através de uma ostomia, na qual um tubo é colocado diretamente desde a pele até ao estômago ou intestino, sendo indicado quando este tipo de alimentação precisa ser feita por mais de 4 semanas, como acontece em casos de pessoas com Alzheimer avançado. A nutrição enteral é usada quando é necessário administrar mais calorias e estas não conseguem ser supridas pela dieta habitual, ou quando alguma doença não permite o consumo das calorias por via oral. No entanto o intestino precisa estar funcionando corretamente. Assim, algumas situações onde a nutrição enteral pode ser administrada são: Prematuros com menos de 24 semanas; Síndrome de dificuldade respiratória; Malformações do trato gastrointestinal; Traumatismo na cabeça; Síndrome do intestino curto; Pancreatite aguda em fase de recuperação; Diarreia crônica e doença inflamatória 21 intestinal; Queimaduras ou esofagite cáustica; Síndrome da mal-absorção; Desnutrição grave; Transtornos alimentares, como anorexia nervosa. Além disto, também se pode utilizar este tipo de nutrição como forma de transição entre a nutrição parenteral, que é colocada diretamente na veia, e a alimentação por via oral. 22 2.12 Discutir as necessidades basais e formulação de nutrição parenteral A nutrição parenteral é uma via de alimentação endovenosa, onde são fornecidos os nutrientes essenciais, contendo carboidratos, aminoácidos, lipídeos, água, vitaminas e minerais para cada paciente, através da via periférica ou central, com a finalidade de manter os tecidos, órgãos e sistemas, quando a via oral ou enteral não for completa ou suficiente. Sendo assim, é realizada quando o TGI está indisponível ou quando a necessidade nutricional não pode ser atendida de forma completa pelo mesmo, seja por via oral ou enteral. Logo, pode ser de dois tipos: (1) nutrição parenteral total, onde 100% das necessidades energéticas são ofertadas por essa via e (2) nutrição parenteral suplementar, onde parte dos nutrientes é ofertado por essa via. Logo, as indicações são: Condições que impeçam o uso do TGI; Obstrução intestinal total; Aporte enteral insuficiente; Fístula gastrointestinal; Pancreatite aguda; Síndrome do intestino curto; Colite ulcerativa complicada; Hemorragia gastrointestinal persistente; Abdome agudo ou íleo paralítico prolongados; Trauma abdominal grave; Para paciente moderados ou gravemente desnutridos, indicado 24-72 horas após internação quando a ingestão enteral é insuficiente. 23 Por outro lado, as contraindicações são: Pacientes hemodinamicamente instáveis; Insuficiência cardíaca crônica com retenção hídrica; Insuficiência renal crônica sem tratamento dialítico; Risco de NP julgado excessivo para o potencial benéfico. 3.13 Descrever como é feito o tratamento das diarreias; A procura por medicamentos que atuem reduzindo o volume das fezes e/ou o tempo do episódio diarreico tem sido alvo de uma busca constante. Estudos com adsorventes, silicato de alumínio, diosmectite são encontrados na literatura, mas sem resultados animadores. Loperamida, uma droga antimotilidade, foi proscrita do receituário pediátrico desde que se identificaram efeitos tóxicos relacionados ao sistema nervoso central, além do risco de ocorrer íleo paralítico com o seu uso. Dentre as classificadas como adsorventes, o caolin- pectina foi usado, mas caiu em desuso porque não foi demonstrada a sua eficácia. O seu efeito cosmético, ao tornar as fezes pastosas embora sem alterar o volume líquido, poderia dar a impressão de uma melhoria do quadro diarreico e diminuir a vigilância em relação à oferta líquida. Nos quadros de diarreia em que o mecanismo secretório está envolvido e as perdas diarreicas são importantes, o uso da racecadotrila pode trazer benefícios para o paciente. Ao reduzir as perdas fecais e o tempo de doença - afeta o processo secretório ao inibir a encefalinase - facilita a manutenção do estado de hidratação e, consequentemente, reduz a chance de hospitalização. Nesses casos, tem sido recomendado como terapêutica adjuvante a TRO (terapia de reidratação oral). A febre está ausente na maioria dos casos de diarreia aguda. Mas, em crianças pequenas a desidratação pode levar a um aumento da temperatura corporal. Na doença diarreica aguda (DAA) a presença de sangue pode ser um sintoma importante. A febre deve ser tratada quando acima de 39 ◦C ou quando o aumento da temperatura estiver associado a sintomas que causem mal-estar à criança. Antitérmicos usados com maior frequência são o paracetamol e a dipirona. 24 A dor abdominal tipo cólica é um sintoma comum na diarreia osmótica (excesso de gases intestinais) e o tenesmo é observado quando há um componente inflamatório importante, geralmente na DDA associada à Shigella. No primeiro caso, uma redução na oferta de leite e derivados alivia o sintoma; no segundo caso a indicação de fármacos com efeito analgésico --- paracetamol ou dipirona --- beneficia o paciente. Não deve ser indicado medicamento antiespasmódico (escopolamina) e antifisiótico (simeticona). A presença de vômitos é frequente em quadros de DDA e antieméticos são prescritos de forma excessiva sem se considerar a intensidade dos vômitos. Na maioria das vezes o quadro de vômitos cede quando se hidrata a criança, pois a desidratação mesmo subclínica pode causar vômitos. Quando os vômitos são esporádicos, não há indicação para o uso de antieméticos, quando intensos aumenta o risco de desidratação e hospitalização e essas drogas podem trazer um benefício para os pacientes. Importante lembrar que o risco de efeito colateral a elas aumenta quando são usadas em pacientes desidratados ou com distúrbios eletrolíticos. Dentre os medicamentos mais usados estão: bloqueadores dos receptores H1 da histamina (prometazina, dimenidrinato), antagonistas de receptores da dopamina (metoclopramida) e de serotonina---5HT (ondansetrona). Na literatura, não se encontra uma boa evidência científica que embase o uso da metoclopramida e dimenidrinato na DDA. Em relação ao ondansetrona, vários estudos mostram que reduz o risco de desidratação e de hospitalização no subconjunto de pacientes que apresentam alta frequência de vômito. Em 2004, a OMS e o Unicef chamaram a atenção para o impacto do zinco tanto na redução da gravidade do episódio diarreico quanto na redução de episódios subsequentes de DDA em crianças menores de cinco anos. A explicação para o seu efeito seria pela modulação do sistema imunológico e por ter propriedade antissecretória. Apenas algumas cepas de probióticos têm sido estudadas no contexto da DDA. A ação do probiótico se faz principalmente por meio do antagonismo, da imunemodulação ou pela exclusão de patógenos. O antagonismo e/ou a exclusão podem ter um efeito de curto prazo na DDA. A maioria dos estudos foi feita em países desenvolvidos e analisou como desfecho: duração do episódio diarreico, redução das perdas fecais, hospitalização; encontrou um efeito benéfico. 25 3- CONCLUSÃO No presente relatório foi discutido acerca das patologias responsáveis pela má absorção intestinal e suas complicações. Síndrome do Intestino Irritável é um conjunto de sintomas que resultam de uma função anormal dos intestinos. É caracterizada por dor abdominal em cólicas, diarreia, e/ou constipação, mas não por febre, sangramento ou anormalidades em exames laboratoriais. Os exames radiológicos e a colonoscopia não demonstrarão anormalidades. Ressaltamosportanto, todas as alterações decorrentes da síndrome do intestino curto e das doenças inflamatórias intestinais, bem como, o tratamento cirúrgico, medicamentoso e exames necessários para confirmação da não absorção de nutrientes e para confirmação do diagnóstico das diversas patologias citadas. 26 4- REFERÊNCIAS Balsa JA, Botella-Carretero JI, Gómez-Martin JM et al. Copper and Zinc Serum Levels after Derivative Bariatric Surgery: Differences between Roux-em-Y Gastric Bypass and Biliopancreatic Diversion. Obes Surg 2011; 21: 744-50. BINDER, H. J. Distúrbios da absorção. IN: Jamenson, J. L. et al. Medicina interna de Harrison. 20. ed. – Porto Alegre: AMGH, 2020. FRANZON, Orli et al. Síndrome do intestino curto: uma nova alternativa de tratamento cirúrgico. ABCD. Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva (São Paulo). 2010, v. 23, n. 1, pp. 51-55. Lívia A. BORDALO et al, Deficiências nutricionais após cirurgia bariátrica , Acta Med Port. 2011; 24(S4):1021-1028 Zaterka, Shlioma, and Jaime Natan EISIG. "Tratado de gastroenterologia: da graduação a pós-graduação." São Paulo: Atheneu. Cap 24 (2016): 273-283. Cecil medicina / editado por Lee Goldman, Andrew I. Schafer ; tradução Angela Freitas , Cyro Festa Neto, Fábio Fernandes Morato Castro. - 24. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2014. 27
Compartilhar