Buscar

0ee17171-4a93-4417-a976-f1d5eb42a1a0


Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 114 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 114 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 114 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Jogos, Brinquedos
e Brincadeiras
Jogos, Brinquedos e
Brincadeiras
Margarete Brolesi
Marlizete Cristina Bonafini Steinle
Suhellen Lee Porto Orsoli Silva
© 2015 por Editora e Distribuidora Educacional S.A
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou
transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico,
incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e
transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora
Educacional S.A.
Presidente: Rodrigo Galindo
Vice-Presidente Acadêmico de Graduação: Rui Fava
Diretor de Produção e Disponibilização de Material Didático: Mario Jungbeck
Gerente de Produção: Emanuel Santana
Gerente de Revisão: Cristiane Lisandra Danna
Gerente de Disponibilização: Everson Matias de Morais
Editoração e Diagramação: eGTB Editora
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Brolesi, Margarete de Lourdes
B867j Jogos, brinquedos e brincadeiras / Margarete de
Lourdes Brolesi, Marlizete Cristina Bonafini Steinle, Suhellen
Lee Porto Orsoli Silva. – Londrina: Editora e Distribuidora
Educacional S. A., 2015.
192 p.
ISBN 978-85-8482-107-5
1. Origem-História 2. Princípios Pedagógicos. 3.
Recreação. I. Steinle, Marlizete Cristina Bonafini. II.
Silva, Suhellen Lee Porto Orsoli. II. Título.
CDD 790
Sumário
Unidade 1 | O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis.
7
Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem
Seção 1 - Origem, História e Evolução dos Jogos e Brincadeiras 11
11
1.1 | Origem do jogo
12
1.2 | História e evolução
13
1.3 | A origem do Jogo na América
Seção 2 - Definições Básicas, Características e Objetivos de Termos
Encontrados nos Brinquedos, Brincadeiras e Jogos
19
2.1 | Lúdico
19
2.2 | Lazer
20
2.3 | Tempo livre
21
2.4 | Atividades lúdicas
24
2.5 | Recreação
25
2.6 | Brinquedo
26
2.7 | Brincadeiras
27
2.8 | Jogo
35
Seção 3 - Importância e Aprendizagem do Jogo
41
3.1 | Processo de ensino-aprendizagem
41
Unidade 2 | Princípios Pedagógicos: A Presença do Símbolo no Jogo 53
Infantil de 0 a 6 Anos
Seção 1 - As Contribuições de Piaget Sobre o Jogo Para a Educação 57
da Primeira Infância
59
1.1 | Compartilhando experiências
64
1.2 | Piaget e o jogo
65
1.3 | O que é jogo de exercício?
66
1.4 | O que é jogo simbólico?
68
1.5 | O que é jogo de regras?
70
1.6 | O papel do professor diante das estruturas lúdicas de Piaget
77
Seção 2 - As Contribuições de Vygotsky Sobre o Jogo
77
2.1 | Estágio do desenvolvimento infantil Elkonin
2.2 | O trabalho pedagógico presente na brincadeira de papéis sociais e a sua
importância para o desenvolvimento para a imaginação criadora no contexto da 82
Educação Infantil
Unidade 3 | Técnicas e Planejamento das Atividades Recreativas 103
Seção 1 - Planejando as aulas
107
1.1 | Plano de aulas
114
Seção 2 - Planejando o conteúdo jogos e brincadeiras
125
Seção 3 - Técnicas para aplicação dos jogos e brincadeiras
133
Unidade 4 | Desenvolvimento e Avaliação das Atividades Recreativas 145
Seção 1 - Desenvolvimento de brinquedos, jogos e brincadeiras
149
1.1 | Brinquedos, brincadeiras e jogos
153
1.2 | Finalizando
173
Seção 2 - Avaliação do ensino de jogos e brincadeiras
179
Apresentação
Prezado aluno!
Estamos felizes por estarmos juntos mais esse semestre, principalmente por
podermos compartilhar com vocês os ensinamentos dessa disciplina que se
chama Jogos, Brinquedos e Brincadeiras.
Neste livro, vamos poder conhecer um pouco da história dos jogos e da origem
das diversas brincadeiras que compõem a nossa e outras culturas. A intenção é
preparar o futuro professor com conhecimento teórico e prático suficiente para
poder entender as características das diversas manifestações da cultura do jogo e
das brincadeiras e aplicá-las como meio de ação motora, influenciando na
formação integral do indivíduo.
Vamos entender a importância da brincadeira no contexto escolar e as
diferentes possibilidades do jogo como fator de influência no desenvolvimento da
criança, conforme a visão de Piaget e Vygotsky. Também iremos perceber a
importância da brincadeira para o desenvolvimento da imaginação criadora,
principalmente na educação para a infância. Para que isso ocorra, vamos nos
apropriar do pensamento teórico, compreendendo que esse saber nos leva à
reflexão e à articulação entre teoria e práticacom responsabilidade, de forma que
não exista prática sem teoria, nem teoria sem prática.
Como você irá perceber, neste livro serão também apresentadas ao leitor
algumas considerações sobre a melhor forma de planejarmos os jogos e as
brincadeiras, sempre considerando os aspectos fundamentais dessas atividades
enquanto conteúdo ou estratégia nas aulas de educação física.
Outro principal objetivo desse livro é proporcionar aos nossos alunos o acesso
ao conhecimento de atividades recreativas em ambiente escolar em diferentes
momentos, podendo ser usadas como um excelente recurso da disciplina de
educação física. Também discutiremos sobre as possibilidades de avaliação
dessas atividades.
Esperamos que você, leitor, possa desfrutar dessa leitura, passando a entender
melhor todo o contexto que envolve os jogos, os brinquedos e as brincadeiras na
escola, não somente como atividade sem fundamentação, mas sim como
importante recurso pedagógico.
Desejamos a você uma boa leitura!
Unidade 1
O Resgate dos Jogos,
Brinquedos e Brincadeiras
Infantis. Jogos, Atividades,
Desenvolvimento e
Aprendizagem.
Margarete Brolesi
Objetivos de aprendizagem: Esta unidade destaca como objetivo geral a
necessidade do(a) acadêmico(a) conhecer a história, a evolução, os
conceitos, as características, a importância e a aprendizagem do jogo, do
brinquedo e da brincadeira no contexto escolar. Iniciamos o estudo com a
evolução do homem e a sua importância no desenvolvimento e nas fases
da história perante a sociedade, desde a pré-história aos dias atuais.
Posteriormente, conheceremos os conceitos básicos e as características
encontradas no jogo, no brinquedo e na brincadeira, suas possibilidades,
importância, aplicabilidade e aprendizagem na escola. E, por fim,seremos
levados à reflexão e à articulação entre teoria e prática.
Seção 1 | Origem, História e Evolução Dos Jogos e Brincadeiras
Nesta seção,será abordada a origem, a história do jogo e da
brincadeira, sua evolução, desde épocas primitivas até os dias atuais. O
objetivo desta seção será conhecer a história do jogo e as formas de
recreação no decorrer dos tempos, passando por cada etapa de
construção.
U1 10
Seção 2 | Definições Básicas, Características e Objetivos de
Termos Encontrados nos Brinquedos, nas Brincadeiras e nos
Jogos
Nesta seção, iremos mostrar as definições básicas, as características e os
objetivos de alguns termos encontrados no contexto da educação física,
referentes aos jogos, às brincadeiras e aos brinquedos, de acordo com as
necessidades apresentadas.
Seção 3 | Importância e Aprendizagem do Jogo
Nesta seção, trataremos sobre a importância e o aprendizado do jogo eda
brincadeira na escola, buscando facilitar o processo de ensino e de
aprendizagem.
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1
Introdução à unidade
Queremos, neste estudo, convidar você a refletir sobre a contribuição do jogo e
da brincadeira na educação escolar para o aprendizado e a formação do caráter
do indivíduo, mostrando a metodologia aplicada nesta formação.
O profissional qualificado para atuar neste contexto deve estar consciente e
atualizado sobre a realidade social, entender o processo e as mudanças que
podem acontecer. Desta forma, teremos bons profissionais, com boa bagagem
para transmitir aos educandos.
No que se refere ao resgate dos jogos, brinquedos e brincadeiras, o profissional
necessita estar a par da evolução e dos métodos mais positivos no processo de
ensino e de aprendizagem, para que esse ele seja eficaz e contribua na melhor
formação doindivíduo.
Também devemos destacar a reflexão como uma das possibilidades de buscar
e entender o desenvolvimento e a aprendizagem dos jogos, dos brinquedos e das
brincadeiras de forma clara e sucinta na formação deste profissional, para que
possa se destacar num futuro próximo e entender melhor o processo de
aprendizagem.
Boa leitura!
11
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1 12
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1
Seção 1
Origem, História e Evolução Dos Jogos e
Brincadeiras
Iniciamos nossa unidade, que visa conhecer a história e a evolução do jogo e
da brincadeira desde épocas primitivas até os dias atuais, tendo como relevância o
jogo, o homem e sua relação com a história.
• Qualé o seu conceito sobre evolução do homem?
• Que características esse homem deve apresentar para
que a sociedade o considere evoluído?
1.1 Origem do jogo
O ato de jogar é tão antigo quanto o próprio homem, pois este sempre
manifestou uma tendência lúdica, isto é, um impulso para o jogo. Quanto à relação
existente entre jogo e cultura, fez-se um estudo profundo sobre o assunto,
abordando a função social do jogo desde as sociedades primitivas até as
civilizações mais complexas.
Segundo Falkenbach (1997, p. 16), “a cultura surge sob forma de jogo, sendo
que a tendência lúdica do ser humano está na base de muitas realizações na
esfera da filosofia, da ciência, da arte, no campo militar e político e mesmo na área
judicial”.
Não se quer dizer com isso que o jogo se transforme em cultura, e sim que em
suas fases mais primitivas a cultura possui um caráter lúdico, que ela se processa
segundo as formas e no ambiente do jogo. Como elemento de cultura nos jogos e
brinquedos está ligado a outros aspectos, como religião, trabalho, mitos e ritos
(ALVES, 1995).
Em relação a isso não tem como falar de lúdico, lazer e jogo sem antes saber a
origem de tudo, a história humana, onde tudo começou. Desde o homem primitivo,
há cem mil anos, o homem estava em busca do belo, de ocupações
13
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1 14
criadoras e prazerosas, e tem recebido várias designações, denominações
e indicações:
• Homo Sapiens: o homem, nesta fase da história, era inteiramente lúdico
em sua existência, porque tem como função vital o raciocínio para
aprender e conhecer o mundo. Por meio da pesca e da caça sobrevivia
matando a fome e se defendendo de animais ferozes, assim ocupava o
seu tempo livre com formas criativas para conseguir seu alimento e se
proteger.
• Homo Faber: nesta fase de evolução o homem começa fabricar objetos e
utensílios pela necessidade de guardar seus alimentos armazenando para
invernos rigorosos por exemplo. Com a descoberta da criatividade,aos
vasos que, inicialmente, só serviam para armazenar alimentos, o homem
foi acrescentando pinturas, relevos, tornando-os, além de úteis, belos.
• Homo Ludens:e por fim o homem atual, que quer levar vantagem em
tudo, que é capaz de se dedicar a atividades lúdicas, qualquer atividade
espontânea que ocupe o seu tempo livre, ao jogo, e com isso temos o
surgimento do brinquedo pela necessidade de completar e tornar a
atividade mais complexa.
1.2 História e Evolução
Ao tratar dos jogos, brinquedos e brincadeiras e sua função educativa,
encontram-se variadas fontes de referências bibliográficas sobre como
eram praticados pelas crianças do passado. Os registros retratam a vida
infantil na visão do adulto e não das próprias crianças. O jogo é o trabalho,
o bem, o dever, o ideal da vida (CLAPARÈDE, 1946).
De acordo com Áries (1981), os mesmos jogos e brincadeiras eram
comuns a todas as idades e classes, o que se pode ressaltar é o
abandono desses jogos por adultos de classes sociais superiores e, ao
mesmo tempo, a sua sobrevivência entre crianças dessas classes e o
povo. Em países onde as classes dominantes não abandonaram os velhos
jogos, eles foram transformados e adotados de formas modernas e
irreconhecíveis pela burguesia e pelo esportedo século XIX.
O jogo, atividade lúdica infantil desde a antiguidade, possui passagens
importantes na história social da humanidade, sobretudo durante o
percurso do desenvolvimento humano, como vamos acompanhar nos
próximos parágrafos.
Nas Tradições Gregas, o jogo era visto de todas as possibilidades, ou seja,
qualquer atividade, seja ela esportiva ou cultural, era considerada como
jogo. Desta
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1
forma, a criança grega entra no mundo da música com as cantigas de acalanto, e
na literatura com os contos, mitos e lendas.
Platão (1999), em sua obra “As Leis”, mostra como é importante que a criança
aprenda divertindo-se. Ele inicia um novo esclarecimento sobre o valor educativo
do jogo, até então ignorado; porém, a liberdade do jogo só era concedida até os
seis anos, daí por diante os jogos eram fixos, controlados pelo Estado para formar
soldados.
Nas Tradições Gregas Romanas, o jogo era visto como recreação, e aparecia
como relaxamento necessário às atividades que exigiam esforços físicos,
intelectuais e escolares. Por um longo tempo, o jogo infantil ficou limitado à
recreação por estar relacionadoà diversão, ao passar o tempo.
Na Influência Romana, os jogos e brincadeiras eram desenvolvidos nos
cemitérios ajardinados de Pompeia, havia bancos semicirculares, colocados nos
jardins onde se comemoravam com banquetes os aniversários dos defuntos.
A Idade Média foi marcada pelo jogo ser considerado “não sério”, por sua
associação ao jogo de azar, cujas origens são ritos de previsão do futuro, bastante
divulgados na época, levando famílias inteiras a perderem suas fortunas e chefes
de família a cometerem suicídio por estarem endividados.
Esses jogos deram uma de formação de valores da cultura, destacando a
religiosidade deles, com isso a igreja interveio e o Cristianismo Medievo proibiu
todas as formas de recreação. Assim, toda recreação era na escola e, no início da
era cristã, existiam salas que eram chamadas pelos gregos de scholé ou schola,
no latim, antecessora da nossa escola, que é igual a tempo livre, ócio, onde a
atividade física prevalecia.
A atitude negativa do cristianismo perante a recreação e o brinquedo pode ser
retratada a partir do discurso de um educador alemão do século XVII: “A
recreação deve ser proibida em todas as formas. As crianças deverão aprender
que a recreação afastará de Deus o eterno bem, seu coração e mente e fará se
não mal a sua vida espiritual” (MIRANDA, 1992, p. 28).
Nesta análise, Áries (1981) apresenta dois aspectos contraditórios ligados à
atitude moral frente aos jogos nesta época. Eles eram admitidos indistintamente
pela maioria e, ao mesmo tempo, condenados de maneira absoluta devido à sua
imoralidade, por uma elite poderosa. Diante disso, os jogos foram classificados de
uma forma binária: maus e bons ou proibidos e recomendados.
Segundo Miranda (1992), no século IV apareceu a Constituição de Santo
Agostinho, que viveu o conflito de conciliar o cristianismo e o espírito da época.
Em Confissões, na parte relativa à infância, Santo Agostinho fala sobre paixão pelo
brinquedo, tratando também das torturas e dos sofrimentos na escola e do riso dos
adultos perante isso:
15
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1 16
Senhor, não era a memória ou a inteligência que
me faltava, pois me dotastes como suficiente para
aquela idade. Mas gostaria de jogar, e aqueles que me
castigavam prosseguiram de modo idêntico. [...] um
juiz reto aprovaria os castigos que me dava, por eu, em
pequeno, jogar a bola e o jogo ser um obstáculo ao meu
aproveitamento nos estudos, com os quais eu havia de
jogar menos inocentemente quando chegasse a homem?
(SANTO AGOSTINHO, 1973, p. 158).
Pode-sever que Santo Agostinho já antecipava a observação do “jogo”
vivido pelos adultos, ressaltando a semelhança das emoções vividas por
crianças e adultos ao jogar e brincar.
A concepção agostiniana se caracterizou pela aprendizagem, que não
podia ser estimulada sem disciplina, o professor pedagogo tinha que
controlar a criança e, caso necessário, utilizar a vara e achibata.
Os jogos mais citados na obra de Santo Agostinho são o jogo de bola e o
jogo de nozes (adivinhações).
Na França, no período medieval, a infância e a juventude tinham pouco
destaque. A infância só incluía o período em que a criança não podia ser
autossuficiente e a sociabilização das crianças se dava pelo convívio com
os adultos. No final do século XVII, a escola passa a ser a substituta para
a educação, os pais deixavam a função de educar para ela, e as crianças
passam a ficar de quarentena na escola, enclausuradas.
Entretanto, Áries (1981) ressalta que as crianças dos séculos XIV ao XVII
possuíram uma função especial em festas e reuniões familiares. Por volta
dos sete anos de idade, a criança abandonava os trajes infantis para
iniciarem em atividades de educação, o que era responsabilidade dos
adultos. Para esse autor, os sete anos marcavam uma etapa de certa
importância, isto é, era a idade fixada geralmente para a entrada na escola
ou no início da atividade laboral.
Tentam-se então fazê-lo abandonar os brinquedos da
primeira infância essencialmente as brincadeiras das bonecas.
Não deveis mais brincar de carreteiro: agora sois um menino
grande, não sois mais crianças. Ele começou a aprender a
montar cavalo, a atirar e a caçar (ÁRIES, 1981, p. 87).
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1
Na Constantinopla, conhecida atualmente como Capadócia, sob o domínio
turco, a distração das crianças era acompanhar as mulheres ao cemitério, no
jardim, em suas próprias residências ou nos balneários.
As mudanças feitas com o início do Renascimento foram importantíssimas para
as condutas do jogo até os dias de hoje, pois a brincadeira é vista como conduta
livre, que favorece o desenvolvimento da inteligência e facilita o estudo. Ao
atender às necessidades infantis, o jogo infantil torna-se forma adequada para
aprendizagem de conteúdos escolares. Assim, o professor/pedagogo deveria dar
forma lúdica aos conteúdos.
Alguns lugares, porém, ainda tinham a concepção antiga, por exemplo, na
Holanda e Alemanha, no século XVII, a escola era sinônimo de disciplina e castigo
e, em Portugal, no século XVIII, as crianças presenciavam espetáculos sangrentos.
Com a Revolução Francesa, no século XIX, a criança é formada para o Estado,
ou seja, para possuir a excelência de ser soldado, e as formas de recreação eram
transformadas em exercícios atléticos e lutas. No século XX, bastante recente, os
jovens estudantes preferiam o frio intenso para se livrarem dos tormentos da
escola. Em crítica às escolas antiquadas, pensadores e educadores, tais como
Rousseau, Pestalozzi e Froibel, por exemplo, foram se incorporando aos poucos
no movimento chamado “Educação Nova nos Métodos Ativos”, que deu a origem
à escola atual.
O Romantismo surge como uma nova concepção da infância, a criança dotada
de valor positivo, de uma natureza boa, que se expressa espontaneamente por
meio do jogo; é dentro do Romantismo que o jogo aparece como conduta típica e
espontânea da criança e considera o jogar como forma de expressão.
Sobre a história do jogo e sua evolução, leiam o capitulo dois, “Em busca
das Configurações Perdidas”, do livro indicado: BROUGÉRE, Gilles.
Jogo e educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
17
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1 18
Caro aluno, de acordo com o que vimos até aqui, podemos refletir sobre
como o jogo era tratado. Como percebemos,ele era visto de várias
possibilidades, como esportivas e culturais. Desse modo, seria o jogo uma
prática ligada à produção da vida social?
1.3 A Origem do Jogo na América
Na América, a maior influência foi dos Astecas que, até os 13 anos, o
menino aprendia com o pai a carregar água, lenha, apanhar grãos de
milho e, aos 14 anos, a pescar e conduzir canoas; as meninas, aos sete
anos, começavam a fiar algodão, varrer a casa e moer o milho. O único
conteúdo de jogo era o canto e a dança.
Na cultura indígena, os adultos não levam a sério as crianças, não as
castiga e elas aprendem brincando, o menino com o arco e a flecha e a
menina com a peneira, atividades semelhantes aos adultos.
Nos dias atuais, o jogo é de conduta livre, inclusivo e é conteúdo
trabalhado na escola desde os primeiros anos, dividido pelas suas
características e dificuldades de execução.
Com o advento da informática, os jogos na sociedade atual são eletrônicos,
o que, por sua vez, altera a prática de atividade física e,
consequentemente, os benefícios para a saúde da criança.
O conceito de jogo também se ampliou e hoje está intimamente associado
à prática esportiva (voleibol, futebol, basquetebol e handebol). Porém, ao
se pensar em jogar, pensa-se sobre movimento, as inter e intrarrelações
que compõem as estruturas sociais e que, direta ou indiretamente, são
veiculados à sua prática.
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
1. É incorreto afirmar:
a) Para Santo Agostinho, a
aprendizagem não pode ser
estimulada sem disciplina.
b) Na Constantinopla, as distrações
das crianças era acompanhar as
mulheres ao cemitério no jardim
familiar ou nos balneários.
c) No Renascimento, o
professor/pedagogodeveria usar a
vara e chibata para educar as
crianças.
d) No Romantismo, o jogo aparece
como conduta típica e espontânea da
criança.
e) Na cultura americana, o único
conteúdo de jogo na escola era o
canto e a dança.
2. Denomina-se homo faber aquele
que:
a) É capaz de dedicar-se à atividade
lúdica.
b) É capaz de fabricar objetos e
utensílios.
c) É aquele inteiramente lúdico em sua
existência. d) n.d.a.
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos,
Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1
19
U1 20
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1
Seção 2
Definições Básicas, Características e Objetivos
de Termos Encontrados nos Brinquedos,
Brincadeiras e Jogos
Quando falamos de jogo, percebemos que tem alguns conceitos que são
básicos para entendermos mais o contexto dele. Desta forma, trataremos, nesta
seção, de cada um deles com definições, características e objetivos para melhor
entendimento.
2.1 Lúdico
O lúdico vem do latim ludus, que significa brincar. Neste brincar estão incluídos
jogos, brinquedos e divertimento.
O lúdico é uma necessidade básica da personalidade do corpo e da mente, faz
parte das atividades essenciais da dinâmica humana, e caracteriza-se por ser
espontâneo, funcional e satisfatório. É tudo aquilo que leva um indivíduo somente
a se divertir, se alegrar, passar o tempo. Ressaltamos que este estado de espírito
acontece espontaneamente, não podendo ser provocado, talvez estimulado, ou
seja, é quando o indivíduo não quer fazer aquela atividade, mas faz contra a sua
vontade e, ao iniciar, vê que é prazerosa e acaba gostando (CAVALLARI;
ZACHARIAS, 2000).
O lúdico representa o processo de aprendizagem e descoberta do ser humano.
A espontaneidade é o fator primordial para uma existência saudável, na qual o
indivíduo amplia sua capacidade criadora, e um dos objetivos é criar situações de
relaxamento, desenvolvendo sua liberdade de ação e atuação.
Para Marinho et al. (2007, p. 83), “o lúdico tem grande valor educativo e pode
ser utilizado na escola como um dos recursos didáticos no processo de
ensino-aprendizagem, contribuindo com o desenvolvimento de atividades
didático-pedagógicas”.
21
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.U1 22
2.2 Lazer
O conceito mais aceito a respeito do lazer é do sociólogo francês
Dumazedier, que o caracteriza como:
Um conjunto de ocupações às quais os indivíduos podem
entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para
divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda, para desenvolver
sua informação ou formação desinteressada, sua participação
social voluntaria ou sua livre capacidade criadora, após livrar
se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares
e sociais (DUMAZEDIER, 1980b, p. 23).
O lazer consiste em destacar a questão da busca do prazer enquanto
elemento fundamental que se distingue das demais manifestações sociais.
Não haveria, assim, nenhuma forma de lazer que não inclua a expectativa
futura de auferir algum nível de prazer, independente do fato da
expectativa vir a ter sucesso ou não, o prazer é definido enquanto
elemento essencialmente humano, característico da formação da
personalidade e que pode ser percebido em qualquer meio social
organizado.
Por sua vez, Marcellino (2000, p. 37) entende que “o lazer é uma cultura
compreendida no seu sentido mais amplo, vivenciada, praticada ou fluída
no tempo disponível”.
O lazer pode ser abordado por dois aspectos: tempo e atitude. O lazer
considerado como atitude tem muito a ver com a postura do indivíduo com
relação à prática da atividade de lazer que buscou, ou seja, o sentimento
encontrado na realização de determinada atividade escolhida. Entretanto,
o lazer ligado ao aspecto tempo relaciona as atividades praticadas no
tempo que o indivíduo se encontra liberado de suas obrigações
corriqueiras, desde profissionais, familiares, sociais e até religiosas.
Portanto, lazer são atividades que se faz dentro do seu tempo livre, em
busca do lúdico; é o espaço de tempo livre entre trabalho e
repouso.Buscamos no lazer e no lúdico sensações que são:
• Aventura: igual à descoberta, revelação de um mistério, um livro que se
aguarda ansiosamente a hora de abrir, a festa etc.
• Competição: motivação de participar de um jogo só é menor que a
motivação de ser o primeiro, o melhor. A competição é um grande
investimento lúdico, que pode ser trabalhado para o bem ou para o mal.
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1
• A Vertigem: é a grande motivação lúdica dos dias atuais. Os esportes
radicais, as novas salas de cinema, a velocidade, dividem-se em:
1. Vertigens Físicas: esportes de aventura (rapel, escalada etc.).
2. Vertigens Psicológicas: filmes, romances etc.
3. Vertigens Químicas: maconha, crack, heroína etc.
• A Fantasia: o desejo inconsciente de ser o outro. Fantasiando, somos
maisricos, mais predispostos a consumir, a vivenciar situações diferentes.
Essas sensações estão incluídas nas culturas do lazer, que, em Marcellino
(1997), encontramos uma classificação das culturas do lazer baseadas em cinco
áreas de interesse, feitas por Dumazedier (1980a):
• Cultura Física: inclui as práticas esportivas, a pesca, a ginástica e todas as
atividades nas quais prevalece o movimento ou o exercício físico, incluindo
as modalidades esportivas.
• Cultura manual: é delimitada pela capacidade de manipulação, quer para
transformar objetos ou materiais; inclui o artesanato, a bricolagem, a
jardinagem e o cuidado com animais.
• Cultura Artística: o imaginário, as imagens, as emoções e os sentimentos
abrangem todas as manifestações artísticas.
• Cultura Intelectual: busca o contato com o real, as informações objetivas e
explicações racionais. São exemplos: participação em cursos ou leitura.
• Cultura Social: procura fundamentalmente o relacionamento e os contatos
face a face, ocorrendo em bailes, bares e café.
Por fim, podemos concluir que “lazer é um conjunto de atividades gratuitas,
prazerosas, voluntárias e liberatórias, centradas em interesses culturais, físicos,
manuais, intelectuais, artísticos e associados, realizados num tempo livre roubado
ou conquistado historicamentee que interfere no desenvolvimento pessoal e social
do indivíduo” (CAMARGO, 1992, p. 45).
2.3 Tempo Livre
O conceito de tempo livre surgiu com a industrialização das sociedades
contemporâneas, estando por isso ligado às transformações pelas quais passa o
trabalho formal. Passou a ser entendido como o tempo que o trabalhador
23
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1 24
dispõe como seu, ocupando-o da forma como quiser. Isso se deve à
conquista de uma duração menor do tempo de trabalho diário, importante
para o equilíbrio psicológico dos trabalhadores.
Por outro lado, a passagem do modo de produção artesanal para o modo
industrial aumentou muito a quantidade de produtos, e alguém teria que
consumi los. Sendo que os trabalhadores eram a grande parte da
população, os industriais tinham que lhes dar tempo para consumirem
alguns dos produtos que fabricavam. Para isso, os horários de trabalho
foram diminuídos e as férias (remuneradas) foram expandidas, garantindo
mais tempo livre, com rendimentos, de modo a estimular e a manter o
sistema produção-consumo.
Como diariamente surgem novos modos de produção, há autores que
defendem a inevitabilidade do surgimento de uma “sociedade de tempo
livre”.
O argumento mais difundido, parte da
constatação que os avanços tecnológicos e os
seus subsequentes aumentos de produtividade
tornarão indispensável à diminuição da jornada
de trabalho. Uns viram neste fenômeno o
fim da atual sociedade capitalista, centrada
na exploração do trabalho, outros apenas
descobriram formas diversas de aumento dos
níveis de consumo por parte da população
mundial (FONTES, 1999, p. 11).
Cavallari e Zacharias (2000) entendem que o tempo total de cada um é
dividido em três partes, sendo que as duas primeiras são o tempo de
trabalho e o tempo das necessidades básicas vitais (sono, alimentação,
necessidades fisiológicas).
Se essas duas partes do tempo total estão
ocupadas, o que sobra é tempo livre. Podemos
ainda conceituar o tempo livre da seguinte
maneira: tornando-se o tempo total de uma
pessoa, extraindo-se o tempo de trabalho
e o tempo de necessidades básicas, o que
resta é tempo livre (CAVALLARI; ZACHARIAS,
2000, p.14)
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1
Até que ponto esse tempo livre é de lazer, cada pessoa é quem sabe. Para o
filósofo Dumazedier (1980b),de acordo com a classe social a qual pertencem, as
pessoas têm diferentes conceitos de tempo livre, por terem diferentes
possibilidades materiais e,consequentemente, várias formas de utilizá-lo.
Por sua vez, Jürgen (1982) vê três formas de comportamento no tempo livre,
estando relacionadas com o trabalho:
1. Regenerativa – nesse processo, o tempo livre serve para recuperar as forças
depois de uma jornada de trabalho fisicamente cansativa. No início da
industrialização, esta forma de comportamento desempenhou um papel
essencial, porém, atualmente, ela se encontra tão somente em grupos
limitados de ocupações, já que muitas profissões não requerem esforço
físico algum.
2. Suspensiva – nessa forma se executa, durante o tempo livre, um trabalho
sem a determinação exógena e sem a desproporção da exigência do
trabalho profissional. Como exemplos dessa forma de comportamento,
mencionam-se a continuação do trabalho profissional em forma de “trabalho
negro”, o compromisso com grupos religiosos, políticos ou ideológicos
mediante a aceitação de cargos em associações correspondentes.
3. Compensativa – essa forma de comportamento tende à compensação
psíquica das sequelas nervosas do trabalho. Por exemplo, a maior
dedicação à família, ao aproveitamento dos modernos meios de satisfação
do lazer proporcionado pela chamada indústria cultural e, finalmente,a
ocupação em esportes e jogos.
Para Haag (1982), o tempo livre tem sido determinado pelas formas
fundamentais do comportamento de lazer regenerativo, suspensivo ou
compensatório. Deve ser vistoem relação às tentativas educacionais de preparar
as pessoas para que saibam dar um conteúdo adequado ao lazer.
Entendemos que o tempo livre pertence a cada um e somente cada um pode
organizá-lo e despendê-lo como bem entende. Mas Carmo afirma que o tempo
livre é um problema assustador para as pessoas comuns e sem talentos especiais,
particularmente se não tiverem mais raízes na terra, nos costumes ou nas
sagradas convenções de uma sociedade tradicional (CARMO, 1989).
De acordo com Tojeira (1992),o tempo livre tem caráter objetivo, mas uma
utilização subjetiva, entendendo-se como o tempo durante o qual o indivíduo está
de fato livre, materiale intelectualmente.
Segundo Granado,
25
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1 26
A adequação do lazer só será possível na
medida em que o homem se convencer a
realizar em seu tempo livre atividades que
efetivamente o gratifiquem, satisfaçam seu
eu, não importando as escolhas, atividades
cuja finalidade seja um benefício no sentido
das reais necessidades individuais (GRANADO,
1990, p. 66).
Com todas essas colocações e pontos de vistas diferentes, concluímos
que tempo livre nada mais é que o tempo que sobra entre trabalho, estudo
e necessidades fisiológicas.
2.4 Atividades Lúdicas
Atividades lúdicas é todo e qualquer movimento que tem como objetivo em
si mesmo produzir prazer na sua execução, ou seja, divertir o praticante.
Por ser a principal ocupação da criança, caracteriza-se pela maneira a
qual ela se insere no contexto social, desenvolvendo capacidades, como a
imaginação, a criatividade e a sociabilidade, além de ser uma forma
promissora para compreender e dominar o mundo em que vive
(CAVALLARI; ZACHARIAS, 2000).
Reconhece que a relação da criança
com o seu mundo cultural, a princípio,
é constituída de movimento, atividades
lúdicas, criatividade e fantasia. Por isso, em
qualquer atividade realizada com crianças
pequenas, os jogos deveriam estar presentes
(SANTOS, 1999, p. 44).
As atividades lúdicas (brincadeiras relevantes) correspondem a um impulso
natural da criança que satisfaz às necessidades interiores. Trata-se de um
valor intrínseco (dentro para fora) que acompanha todo ser humano em sua
história de vida.
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1
Desse modo, Vargas (1990, p. 30) ressalta que “a atividade lúdica é o berço
obrigatório das atividades intelectuais da criança.” Estas não são apenas uma
forma de desafogo ou entretenimento para gastar energia das crianças, mas
meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual.
Como todas as atividades que fazemos no nosso lazer são atividades lúdicas,
elas se classificam em:
• Ativa: quando o indivíduo ou grupo participa ativamente da atividade.
Exemplo: jogar futebol.
• Passiva: quando o indivíduo ou grupo apenas assiste a uma atividade.
Exemplo: assistir a uma partida de futebol pela televisão.
• Mista: quando o indivíduo ou grupo assistiu e participa da atividade. Exemplo:
num torneio de futebol, uma equipe joga uma partida e espera as outras
equipes jogarem para depois tornarem a jogar.
Como foi dito anteriormente, todas as ocupações que fazemos dentro do
tempo livre são consideradas atividades lúdicas, portanto, os seus conteúdos são:
• Atividades Físicas: jogos atléticos, exercícios ginásticos, esportes. •
Atividades Intelectuais: ler um livro, ir ao cinema.
• Atividades Artísticas: pintura, escultura, música.
• Atividades de passar o tempo: xadrez, dominó, dama.
• Atividades domésticas: jardinagem, trabalhos manuais.
• Atividades Sociais: bailes, festas folclóricas ou populares.
• Atividades ao ar livre: trilha em parques e outros acampamentos.
Percebemos que todas as coisas que fazemos no nosso lazer para ocupação
do tempo livre são atividades lúdicas seguindo da classificação e os seus
conteúdos.
2.5 Recreação
A palavra recreação provém do latim recreativo, recreationem, e significa
vulgarmente o mesmo que recreio, divertimento, entretenimento; deriva do
vocabulário recreare, cujo sentido é o de reproduzir, restabelecer, recuperar.
Pode-se dizer que é a forma de passar o tempo para obter distração, ou seja,
relaxamento mental ou físico.
27
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1 28
Para Schmidt (1964, p. 43), a “atividade física e mental a que o indivíduo é
naturalmente impelido para satisfazer as necessidades físicas, psíquicas ou
sociais que a realização lhe advém prazer”.
A recreação pode ser passiva e ativa, como vimos em atividades lúdicas.
Ao assistirmos a um jogo de futebol, estamos praticando a recreação
passiva; se, no entanto, sem sermos jogadores profissionais, praticarmos o
jogo só para nos distrairmos, estaremos submetidos a uma forma de
recreação ativa.
Em qualquer forma de atividade recreativa, o elemento atuante nunca se
apresenta sob o aspecto apenas físico, psíquico ou social, separadamente,
mas sim em conjunto, sobrepujando-se de ordem psíquica e social, ou
seja, se uma pessoa vai à praia, a atividade recreativa típica sem dúvida é
física; entretanto, não deixa de ser também de ordem psíquica e social.
Dentro desse contexto, dizemos que as características e os objetivos da
recreação são indispensáveis para todas as faixas etárias, estimulando as
necessidades de ordem moral, física ou social, cuja realização dá prazer.
2.6 Brinquedo
É muito simples definirmos brinquedo, pois nada mais é do que um objeto
com o qual se brinca. Objeto é sempre suporte de brincadeira, é o
estimulante material para fazer fluir o imaginário infantil, e tem como
função a brincadeira.
O brinquedo é um material de aprendizagem que qualquer que seja o nível
de escolaridade do aluno carece de um conhecimento tal que possibilite a
sua exploração, daí o alto valor educativo que possui.
Os brinquedos podem ser definidos de duas maneiras: seja em relação à
brincadeira, seja em relação a uma representação social, representa uma
realidade, coloca a criança na presença de reproduções de tudo que existe
no cotidiano. Pode-se dizer que um dos objetivos é dar à criança um
substituto dos objetos reais para que possa manipulá-los. Por intermédio
do brinquedo, a criança irá explorar, experimentar e apreender o mundo
dos adultos, bem como o meio onde vive a cultura e os valores aí
vinculados.
De acordo com Vygotsky (1994, p. 71), “a criança desenvolve-se,
essencialmente, através da atividade de brinquedo”. Logo,
compreendemos que o brinquedo é essencial para o desenvolvimento da
criança, é por meio dele que ela começa a desenvolver noções básicas
relacionadas ao meio social.
A partir destes aspectos, Santos comenta:
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1
O brinquedo não só possibilita o
desenvolvimento de processos psíquicos,
por parte da criança, como também serve
como um instrumento para conhecer
o mundo físico e seus usos sociais, e
finalmente entender os diferentes modos
de comportamento humano, os papéis que
desempenham como se relacionam e os
hábitos culturais (1999, p. 52).
Na mesma linha de pensamento, e acerca do tema, Kishimoto (1997) classifica
o brinquedo educativo, sendo aquele que ensina, desenvolve e educa de forma
prazerosa. Este assume função lúdica e educativa, pois o brinquedo propicia
diversão e prazer da mesma forma que ensina qualquer coisa que complete o
indivíduo em seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão do mundo.
Dentro dessa classificação, se enquadram os quebra-cabeças, brinquedos de
tabuleiro, brinquedos de encaixe, par lendas para expressão da linguagem,
brincadeiras com música, danças, expressão motora, gráfica e simbólica.
A história do brinquedo é bastante antiga. Há cerca de seis mil e quinhentos
anos os japoneses já fabricavam bolas utilizando fibras de bambu. Na China, a
matéria prima era a crinade cavalos, mas os romanos e gregos preferiam
confeccionar o produto com tiras de couro, penas de aves e até bexiga de boi.
Apesar disso os brinquedos só se popularizaram a partir da década de 50, com
a fabricação do plástico em escala industrial. A primeira bola branca, por exemplo,
foi idealizada por um brasileiro – Joaquim Simão – em 1935, com a intenção era a
de melhorar a visualização da redonda em jogos noturnos. Atualmente, existem no
país cerca 300 fábricas de brinquedos que distribuem perto de 2000 brinquedos
para o mercado consumidor.
Enfim, o brinquedo é o incremento da brincadeira e deve ser comprado de
acordo com a idade, capacidade e área de interesse da criança e do orçamento
dos pais.
2.7 Brincadeiras
Constitui-se numa atividade em que o indivíduo, sozinho ou em grupo, procura
compreender o mundo e as ações humanas nos quais se insere cotidianamente.
29
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1 30
Toda brincadeira possui regras que são definidas e respeitadas por aqueles
que brincam e possui três características: a imaginação, a imitação e a
regra.
Essas características estão presentes em todos os tipos de brincadeiras
infantis, sejam elas tradicionais, de faz de conta, de regras e podem
aparecer também nos desenhos como atividade lúdica. Cada uma delas
aparece de forma mais evidente ou em um tipo ou outro de brincadeira,
tendo em vista a idade e a função específica que desempenham junto às
crianças.
Para Santos (1998), a brincadeira, embora fosse um elemento presente na
história humana desde suas origens, só na atualidade adquire uma nova
conotação, pois antes era vista como fútil e seu objetivo era somente a
distração e o recreio.
Brincadeira é criar, desenvolver imaginação, confiança, autocontrole,
cooperação, aperfeiçoamento do corpo e da mente, levando à estabilidade
emocional, sem contar o quanto auxilia no desenvolvimento da linguagem,
concentração e atenção.
Por meio da brincadeira, a criança amadurece, realiza sonhos, extravasa
seus medos, imita seus pais e o mundo adulto, testa seus limites e
capacidades e sempre tem um brinquedo como instrumento de ação e de
educação.
No entendimento de Almeida (1998), a criança, com a brincadeira, chega à
fase intuitiva através de exercícios psicomotores e do símbolo, transforma
o real em função das múltiplas necessidades do “eu”, as brincadeiras
passam a ter serenidade, sentido funcional e utilitário.
Contudo, o correr, o pular, entre outros exercícios, estimulam a
coordenação motora ampla, e as atividades de rasgar papéis, pintar,
rabiscar e outras, estimula os movimentos de coordenação motora fina,
necessária para o processo de incorporação para a alfabetização
(ALMEIDA, 1998).
A partir disso é que a criança aprende mais depressa, pois quanto mais
estimulada, mais terá vontade de descobrir novas situações, a linguagem
verbal e escrita ao seu redor é muito mais rica, se explorada.
Brincadeira é tão importante quanto ao ato de estudar,
ajuda a esquecer de momentos difíceis. Quando
brincamos, conseguimos – sem muito esforço –
encontrar respostas a várias indagações, podemos sanar
dificuldades de aprendizagem, bem como interagirmos
com nossos semelhantes. Brincar, além de muitas
importâncias desenvolve os músculos, a mente, a
sociabilidade, a coordenação motora e além de tudo
deixa qualquer criança feliz (MALUF, 2003, p. 19).
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1
As brincadeiras experimentadas pelas crianças e percebidas pelos pais são
uma representação da evolução do desenvolvimento cognitivo. As primeiras
origens da brincadeira podem ser observadas no comportamento quando os
bebês chutam seus pés enquanto está tomando banho pelo simples prazer de ver
a água espirrar, cita Cole (2003).
Como percebemos, desde bebê a criança sente a necessidade de brincar, a
brincadeira faz parte do ser humano e o coloca em estado criativo; entretanto, a
brincadeira que estimula a criatividade só pode florescer num ambiente de
liberdade e flexibilidade psicológica, de busca, de prazer, de autorrealização.
Devemos concluir que o desenvolvimento da criança encontra-se profundamente
vinculado aos objetivos educacionais (SILVA, 1989a).
Aos 12 ou 13 meses, os bebês usam objetos na
brincadeira de uma maneira muito parecida
com a que os adultos os usam a sério. Ou seja,
eles colocam colheres na boca e batem como
martelos. No entanto, por volta dos 18 meses,
os bebês começam a tratar uma coisa como se
fosse outra, eles mexem o seu “café” com uma
varinha e penteiam o cabelo da boneca com
um lacinho de brinquedo ou, como fazem Jake
e sua prima, agem como se a beirada de um
tanque de areia fosse uma estrada. Esse tipo
de comportamento é chamado de brincadeira
simbólica (COLE, 2003, p. 246).
A criança reproduz na brincadeira a sua própria vida, através dela ela constrói o
real, delimita os limites frente ao meio e o outro sente prazer de poder atuar ante
as situações e não ser dominado por elas. Existe na brincadeira um simbolismo
secundário oculto, bem próximo do sonho.
Para que as brincadeiras infantis tenham um lugar garantido no cotidiano das
instituições educativas, é fundamental a atuação do educador. É importante que a
criança tenha um espaço físico para brincar, assim como opções de mexer no
mobiliário, que possam, por exemplo, montar casinhas, cabanas e mexer em sala
de aula, que possam balançar os pés por baixo das carteiras enfileiradas, que
possam trocar seus olhares marotos entre si sem serem reprimidos em suas
manifestações infantis.
Para Schmidt (1964, p. 81), “o tempo que a criança tem à disposição para
brincar deve ser considerado, ou seja, é importante dar tempo suficiente para que
as brincadeiras surjam, se desenvolvam e se encerrem”.
31
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1 32
O adulto deve ausentar-se do comando por momentos e viabilizar à criança
não só a oportunidade de brincar, como também a de escolher seus
próprios brinquedos, na medida do possível, assim como mediar a
organização do espaço e a conservação de seus brinquedos, procurando
lugares adequados para que ela possa guardá-los.
Por sua vez, segundo Silva (1989b, p. 36), “não se deve restringir a
liberdade da criança no que se refere às brincadeiras e nem tampouco
interferir na sua atividade, pois isso pode ter repercussões desagradáveis”.
A brincadeira caracteristicamente espontânea não necessita
obrigatoriamente de objetos prontos, a criança cria e transforma uma
tampinha em uma panelinha com facilidade e brinca.
Na mesma perspectiva, podemos citar o estudioso Paulo Soares
Teixeira,que aborda vários tipos de brincadeiras.
A brincadeira funcional, que domina o
primeiro ano de vida, a brincadeira imaginaria
ou simbólica é aquela que a criança incute
o significado as ações, a brincadeira
construtiva é a relacionada à alegria de
realizar algo, brincadeira solitária quando a
criança brinca sozinha, a observativa quando
ela apenas observa, a paralela que brinca ao
lado da outra criança, a associativa em que
a criança coopera com a outra para realizar
algum objetivo (TEIXEIRA, 1963, p. 4).
O autor afirma que “a brincadeira é a estrada real para a compreensão dos
esforços do ego infantil para chegar a uma síntese, é a função do ego uma
tentativa no sentido de sincronizar os processos corporais e sociais com o
eu” (TEIXEIRA, 1963, p. 6).
Quando a criança brinca, ela costuma relacionar as coisas e as pessoas de
uma forma não envolvente e inconstante, ela é movida unicamente pela
paixão, se entretém e é imune a qualquer medo de consequências sérias,
é pura diversão, por isso, quando o tempo é levado em conta, o
divertimento desaparece. Não só o desenvolvimento emocional, o
cognitivo e demais domínios são estimulados ao brincar, seja em que
esforço for.
Vargas, por sua vez:
O Resgate dos Jogos, Brinquedose Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1
O brincar é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de
exercício sensório motor e de simbolismo, uma assimilação da
real a atividade própria, fornecendo a esta seu alimento
necessário e transformando o real em função das necessidades
múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das
crianças exigem todos que se forneça às crianças um material
conveniente, a fim de que, brincando, elas cheguem a
assimilar as realidades intelectuais que, com isso, permanecem
exteriores à inteligência infantil (1990, p. 30).
Já a professora Teles (1999) classifica as brincadeiras como: funcional,
imaginária ou simbólica e construtiva.
Brincadeira funcional é aquela que domina no primeiro ano de vida, quando a
criança encontra prazer na observação de seus próprios movimentos (olha a
mãozinha, leva o pé na boca, joga coisas no chão repetidamente etc.). A
brincadeira imaginária ou simbólica é aquela em que a criança incute significado
às ações, devendo fazer de conta em relação a qualquer coisa (esse tipo de
brincadeira é típico dos quatro anos). E, por fim, a brincadeira construtiva é aquela
que está relacionada com a alegria de realizar algo para a consecução de algum
objeto.
Cita ainda que “segundo o conteúdo social, podemos falar em brincadeira
solitária, observativa, paralela e associativa” (TELES, 1999, p. 17). Por brincadeira
solitária, compreendemos como aquela em que a criança brinca sozinha. Na
brincadeira observativa, ela tende a apenas observar. A paralela é quando ela
brinca ao lado de outra criança. E, por fim, a brincadeira associativa, que é aquela
que a criança coopera com a outra para realizar algo para a consecução de algum
objetivo. Só a criança um pouco mais velha é capaz de participar de brincadeiras
associativas.
Podemos contar também com as brincadeiras tradicionais infantis, que são
consideradas como parte da cultura popular. Esta modalidade de brincadeira
guarda a produção espiritual de um povo em certo período histórico. Tem a função
de perpetuar a cultura infantil, desenvolver formas de convivência social e permitir
o prazer de brincar. Dentro destas se enquadram a amarelinha, jogar pedrinhas
(cinco Marias), empinar papagaio, pular corda, cantigas de rodas, pião entre
outros.
As brincadeiras de faz de conta, também chamadas de simbólicas, são as que
deixam mais evidente a presença da situação imaginária. Elas permitem não só a
entrada no imaginário, mas a expressão de regras implícitas que se materializam
nos temas das brincadeiras. Ideias e ações adquiridas pelas crianças provêm do
mundo social, incluindo a família e seu círculo de relacionamentos em suas
brincadeiras.
33
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1 34
Brincadeiras de construção enriquecem a experiência sensorial, estimulam
a criatividade e desenvolvem as habilidades da criança. Construindo,
transformando e destruindo, a criança expressa sua imaginação e seus
problemas, desta forma ela está expressando suas representações
mentais, além de manipular objetos.
De forma geral, todas as classificações de brinquedos e brincadeiras
devem ser adotadas na escola, para adquirir uma melhora no
desenvolvimento motor, afetivo, cognitivo e social da criança.
Assim, conclui-se que, ao apressar a saída da infância, negando à criança
o direito de ser criança, empurrando-a cada vez mais cedo para o mundo
dos adultos, exigindo que ela deseje estar no futuro, enquanto apenas o
presente é real, certamente estamos ceifando muito cedo o desejo de
crescer, sonhar e ser capaz de realizar.
O jogo e a brincadeira podem ser vistos como um campo de exercícios das
potencialidades humanas, pessoais e coletivas, na perspectiva de
solucionar problemas, harmonizar conflitos, superar crises e alcançar
objetivos?
2.7.1 Brincadeiras Cantadas
A dimensão brincar constitui-se numa atividade de ligação ou vínculo com
algo em si mesmo e com o outro. “Em suma, brincar é um ato de estar
descobrindo, e recriando” (PEREIRA, 2001, p. 62).
O brincar proporciona aquisição de novos conhecimentos, desenvolve
habilidades de forma natural e agradável. Ele é uma das necessidades
básicas da criança, é essencial para um bom desenvolvimento motor,
social, emocional e cognitivo. “O tempo, espaço, acompanhantes,
brinquedo, ação e caráter (formal ou informal), ou seja, o brincar sempre
terá um fundo de aprendizagem independentemente dos objetivos de cada
brincadeira” (VELASCO, 1996, p. 35).
A infância tem urgência na vida da criança. É nessa fase que o lugar do
brincar, tem o seu maior projeto: “o ser adulto”.
Há três momentos na infância que diferenciam o brincar infantil: oprimeiro:
é aquele no qual é fundamental a função materna para com o
desenvolvimento e a maturação das estruturas corticais (perceptivas). O
segundo: é aquele momento
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1
da vivência edípica, em que o pai se assume como filho e a criança vive no
sistema simbólico dos pais. Já o terceiro: quando a criança inicia o processo de
aprendizagem da língua escrita, onde ela se insere no simbolismo do mundo que
a cerca. E nesse momento há na criança o registro do simbólico, do real e do
imaginário.
A existência do sujeito (criança) está diretamente ligada ao desejo dos pais. No
desejo e no discurso dos pais, a criança já é, de uma forma antecipada, menino,
menina, engenheiro, médico, professora etc.
Sendo as brincadeiras cantadas uma das mais ricas expressões regionais
infantis, e parte integrante do folclore nacional e internacional, podemos afirmar
sua importância na educação cultural de nossas crianças.
As brincadeiras cantadas representam a forma mais simples do jogo puramente
recreativo. São a legítima e natural expressão de uma infância feliz. Aplicam-se
com grande eficiência à criança de pouca idade e tem por finalidade dar à criança,
sob forma natural um primeiro desenvolvimento corporal.
Impossível se torna determinar com exatidão a época em que apareceram as
brincadeiras cantadas, mas de longa data existe entre os vários povos esta
encantadora prática, que faz parte do Cancioneiro Folclórico Infantil, junto aos
Acalantos ou Cantigas de Ninar, os Estribilhos musicais que integram as Histórias
Cantadas, ou Melodias para o ensino da soletração e da tabuada, e de Cantigas
avulsas.
O acervo de brincadeiras cantadas inclui peças de formação nacional, de uso
internacional e de livre inspiração.
Aplicação Educacional:
O reconhecimento das brincadeiras cantadas como fator de educação é
relativamente recente. Foi preciso evidenciar-se primeiro o valor pedagógico do
jogo e da música, pois além de ser uma modalidade do jogo, inclui-se o canto
coletivo.
Objetivos:
• Contribuir para o desenvolvimento das coordenações sensório-motoras. •
Favorecer a sociabilização.
• Proporcionar contatos sadios de ambos os sexos;
• Disciplinares emoções, timidez e agressividade;
35
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1 36
• Favorecer a autoexpressão e a criatividade;
• Estimular o gosto pela música e desenvolvimento da mesma; • Perpetuar
tradições folclóricas.
Aplicação Didática:
É necessário partir das brincadeiras cantadas mais simples para as mais
complexas. Os recursos didáticos a serem utilizados deverão manter a
motivação o tempo todo:
1. Ensino da letra: é interessante iniciar com uma pequena história,
despertando assim um interesse grupal, em seguida dizer a letra.
2. Ensino da melodia: pode ser ouvida pelos alunos através de CD, K-7 ou
instrumento musical; na falta, o próprio professor produz o som através de
palmas ou outras formas.
3. Ensino da movimentação: o ensino agora fica por parte das formações e
locomoção a serem utilizadas, respeitando-se a ordem da brincadeira.
4. Globalização: conhecidas letras, melodiase movimentação, resta-nos
apenas unificá-las.
Alguns exemplos de brincadeiras cantadas:
• Escravos de Jó;
• Fui lá à horta;
• Se fosse um peixinho;
• Ciranda-cirandinha;
• Marcha-soldado;
• Caranguejo (palma-palma);
• Cai-cai Balão;
• Meu pintinho amarelinho;
• Se essa rua fosse minha;
• Pirulito que bate-bate;
• Coelhinho da Páscoa;
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1
2.8 Jogo
O jogo é uma das expressões do homem em verdadeiro instinto, que desde o
nascimento se manifesta. De fato, é precisamente jogando que a criança
estabelece contato com a realidade que a circunda e, conquistando assim o
mundo, observamos que o jogo está presente em todas as formas de expressão
da sociedade - na arte, no teatro, na música, no desporto, na dança etc. - e é por
intermédio do jogo que a criança expressa valores e proporciona oportunidades
para a assimilação de ideias e formação de princípios.
O jogo vem do latim jocu, que significa gracejo, zombaria. O ato de jogar é tão
antigo quanto a própria história do homem. É uma atividade livre,
fundamentalmente lúdica, contendo regras não convencionais de caráter
competitivo ou não, e que possui uma característica principal, a espontaneidade, e
possibilita a expressão de vivências cultural de forma intensa e total.
Segundo Lopes (2000), o jogo para a criança é o exercício, é a preparação para
a vida adulta. A criança aprende brincando, é o exercício que a faz desenvolver
suas potencialidades.
Negrine (2001, p. 42) conceitua jogo como “tudo aquilo que diverte, sem causar
estresse, constitui-se em atividade lúdica. Entretanto, umas têm melhor qualidade
que outras, quando vistas a partir do nível de envolvimento nas relações”.
Huizinga (1998) diz quetoda ação humana é jogo. Ferreira (1999, p. 23)
conceitua que o jogo “é também conhecido como uma atividade física ou mental
organizada por sistemas de regras que definem a perda ou ganho”.
No Brasil, o lúdico, o jogo, o brinquedo e a brincadeira assumem formas
indistintas. De acordo com Freire (1997, p. 116), “existe muita confusão a respeito
dos termos brinquedo, brincadeira, jogo e lúdico. As definições destas palavras
em nossa língua pouco se diferenciam. Brincadeira, brinquedo e jogo significam a
mesma coisa”.
Autores como Araujo (1992), Mello (2003) e Jacquin (1963) caracterizam o jogo
como sendo uma atividade inerente ao ser humano. Existe discordância quanto a
esta afirmação. O jogo possui uma enorme carga afetiva, pois juntos sentem
sensações, marcando a identidade de certos grupos, marcando uma cultura.
Tentar definir jogo não é tarefa fácil. Quando se pronuncia a palavra jogo, cada
um pode entendê-la de modo diferente, assim, o jogo é um campo rico para
integrar as diferentes áreas de desenvolvimento infantil dentro de um processo
vivencial.
37
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1 38
O jogo consiste numa simples assimilação funcional, num exercício das
ações individuais já aprendidas; gera ainda sentimentos de prazer, tanto
pela ação lúdica em si quanto pelo domínio destas ações. Contudo, jogos
são atividades que possuem tempo, espaço e regras.
É uma atividade que tem valor educacional intrínseco, sendo utilizado como
recurso pedagógico no processo ensino-aprendizagem, alcançando
sucesso entre muitos educadores. Através do jogo, a criança obtém
coordenação neuromuscular, cria normas de conduta e aprende a viver em
grupo (RODRIGUES, 1987).
Em relação a isso, podemos identificar que os objetivos do jogo aplicados
na escola são:
• Contribuir para o desenvolvimento de elementos cognitivos.
• Contribuir na aquisição de elementos motores-psicomotricidade e
padrões de movimentos.
• Propiciar o lúdico.
O brincar é de suma importância no desenvolvimento da criança. Portanto,
quais aspectos influenciam esse desenvolvimento?
Dentro desse contexto existem os “pequenos jogos”, que se caracterizam
pelas regras serem cobradas de forma mais flexível, mais simples e em
menor quantidade, e os “grandes jogos”, nos quais todas as regras são
cobradas de forma totalmente rígida, são mais complexas e em maior
quantidade.
Com função educativa, o jogo ensina qualquer coisa que complete o
indivíduo em seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão do mundo.
Está no cotidiano das pessoas, por isso os profissionais de educação física
precisam compreender e respeitar o jogo das pessoas em diferentes
culturas e modos de jogar tanto dentro quanto fora da escola, a fim de
contribuir para o desenvolvimento pleno do ser humano.
Jogar e aprender são ações extremamente relacionadas, pois, na medida
em que é lançado um desafio para as crianças, elas jogam com
possibilidades, colocando limites que se colocam em suas situações,
vivenciando experiências, capacidades de se organizar evoluindo e
adquirindo novos conceitos e, assim, chegando à aprendizagem.
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1
A aprendizagem envolve então: dimensões de sentimento,
interesse, curiosidade, coragem e prontidão. Só será realmente
duradora aquela que se ligar à vida real, aquela que favorece
ao aluno percepção de si mesmo, de seus valores de seus
limites. É imprescindível que o aluno se veja na mais completa
perspectiva possível para aprender e a nós cabe apenas levá-lo a
se identificar como pessoa, como um ser capaz de nascer e criar
incessantemente. Se os motivos forem intensos, a aprendiz agem
fará-á com determinação e eficácia. (MESQUITA, 1986, p. 127).
A aprendizagem é um processo que se caracteriza por uma transformação
progressiva das capacidades de cunho relativamente permanente. Para que ocorra
a aprendizagem, é necessário que o praticante esteja confiante e motivado, pois
assim existe a possibilidade de progressão.
Aprender a jogar não significa realizar ações motoras, mas sim atitudes para o
movimento em diferentes situações, criando possibilidades para realizar o
movimento e tendo autonomia de finalizar.
2.8.1 Classificação dos jogos
Os jogos são classificados diferentemente, de acordo com os critérios adotados
para diferentes autores. Hurtado (1987) traz a seguinte classificação: Jogos
Motores, Jogos Sensoriais, Jogos Criativos, Jogos Recreativos, Jogos Intelectivos
e Jogos Pré-desportivos individuais e coletivos, Jogos Cooperativos e Jogos
Teatrais.
• Jogos Motores são jogos que exigem a participação ativa do corpo, como
exemplo o pega-pega, que depende de velocidade, reflexos, agilidade,
visão, entre outras capacidades físicas. São jogos utilizados no primeiro
momento da aula, como forma de aquecimento.
• Jogos Sensoriais são jogos que ajudam a desenvolver os órgãos dos sentidos
(audição, olfato, paladar, tato e visão), como a cobra-cega, pois a criança
depende do tato e da audição para reconhecimento do colega.
• Jogos Criativos são os que visam desenvolver a criatividade e espontaneidade
da criança através do jogo, usando movimentos imitativos, gestuais,
interpretativos e corporais, como siga o mestre, em que o aluno é o mestre
e os demais devem imitá-lo.
• Jogos Recreativos são aqueles que têm o objetivo apenas de recrear ou
distrair as crianças por meio de uma atividade integradora, como batata
quente, que vai passando um objeto rapidamente dizendo batata quente
até parar em uma criança e dizer queimou.
39
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1
• Jogos Intelectivos são os que visam desenvolver principalmente o raciocínio, a
memória, a observação, a atenção coordenação, entre outras capacidades.
Os jogos de mesa, como dominó, xadrez, dama e trilha são alguns
exemplos.
• Jogos Pré-desportivos são aqueles que, além de estimular as capacidades
físicas (força, flexibilidade, velocidade, agilidade, resistência, equilíbrio,
coordenação) e mentais (concentração, raciocínio), também trabalham a
praticaformal de esportes individuais e coletivos comoo jogo de peteca,
que desenvolve agilidades nos reflexos, aumento nas habilidades manuais
e é a preparação para o voleibol, um esporte coletivo por trabalhar um
fundamento do esporte, que é o toque; já o pula carneiro, é um jogo
pré-desportivo individual que prepara para a ginástica artística, através do
qual o aluno desenvolve capacidades de saltar sobre obstáculos.
• Jogos Cooperativos são aqueles que não existe a individualidade e sim o
conjunto, requer desenvolvimento de estratégias, e a cooperação é
necessária para que um determinado objetivo seja alcançado, como a
corrente que começa com um pegador e, conforme vai pegando, dá as
mãos e ajuda a pegar.
• Jogos Teatrais são jogos nos quais o indivíduo possui a liberdade de criar e
expressar o que pensa e sente, através da expressão corporal, facial,
visual e fonética e podemos citar como exemplo a mímica.
Entre essas classificações, temos os
jogos populares, ou brincadeiras de rua,
A classificação do jogo é de
extrema importância para o
entendimento do nosso aluno
na escola, para isso devemos
compreender o objetivo de
cada um. Para esse fim o
artigo “A Ludicidade, o jogo,
abrincadeira no processo
Ensino Aprendizagem”, do
professor Evanil Antônio
Guarido, é indicado para
esclarecer este processo.
que são aqueles que passam de
geração em geração e nunca mudam.
Eles são considerados como parte da
cultura popular e guardam a produção
espiritual de um povo em certo
período histórico. Tem a função de
perpetuar a cultura infantil e está
sempre em transformação,
incorporando criações anônimas das
gerações que vão se sucedendo.
Considerando como parte da
cultura corporal jogos
infantis,segundo Kishimoto (1993),
ainda são desconhecidos e seus
criadores são anônimos. A
tradicionalidade e universalidade dos
jogos assentam-se no
fato de que povos distintos e antigos, como os da Grécia e Oriente, brincavam de
amarelinha, de empinar papagaios, jogar pedrinhas e até hoje as crianças o fazem
da mesma forma, mostrando que esses jogos foram transmitidos de geração em
geração.
Rizzi e Haydt (2004), porém, apresentam, baseadas em diversos autores, sendo
um deles Jean Piaget, a classificação de jogos em três formas: os Jogos de
Exercício Sensório motor, Jogos Simbólicos e Jogos de Regras, os quais são
descritos da seguinte maneira:
40
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1
O jogo de exercício sensório-motor traz, de uma forma simples, exercícios
motores, que dependem de suas realizações para maturação do aparelho motor,
ou seja, sua finalidade é somente prazer do funcionamento, por isso se assimila a
ideia de jogo com prazer.
O jogo simbólico traz a forma a qual se imagina, imita uma ficção. Ele
desenvolve a partir dos esquemas sensório-motores à medida que édesenvolvido
o caráter de representação. Consiste em satisfazer o eu por meio de uma
transformação do real para o imaginário; a criança brinca de boneca e refaz sua
própria vida e revive seus prazeres.
Os jogos de regrassão executados com maior aceitação a partir dos sete anos.
Eles são combinações sensório-motoras (corridas, jogos de bola etc.) ou
intelectuais (cartas, xadrez etc.), em que há competição dos indivíduos,
regulamentados para serem seguidos. É uma conduta lúdica que traz a vivência
das relações sociais e individuais, pois a regra traz ordem e, se ocorrer uma
transgressão, a essa regra é uma falta.
Jean Piaget (1978) cita ainda um quarto jogo, o da construção, ou seja, ele se
situa a meio caminho entre o jogo e o trabalho inteligente, ou entre o jogo e a
imitação. Complementando esse jogo de construção, Freire (1997) diz que tais
jogos representam, pois uma transição entre os jogos simbólicos e os de regras.
Segundo Masson (1988), os jogos podem ser classificados em jogos funcionais,
jogos de ficção ou imitativos, jogos de aquisição e jogos de fabricação. Nos jogos
funcionais, a criança efetua e repete movimentos simples para dominar e apreciar
seus efeitos. Consiste em movimentos simples como o movimentar dos dedos,
tocar os objetos, produzir ruídos e sons, alongar ou retrair braços e pernas.
Os psicanalistas consideram os jogos de ficção ou imitação como terapêuticos.
Eles são jogos aqueles que simulam o cotidiano da criança, tais como papai e
mamãe, brincar de bonecas, de avião, de casinha, entre outras coisas, e vão até
os seis ou sete anos. Nos jogos de aquisição, a criança tenta perceber o que
acontece com os objetos em sua totalidade, e eles permitem que ela elabore,
escute e faça perguntas. Nos jogos de fabricação, a criança reúne brinquedos e
combina objetos entre si, criando a partir disto um novo brinquedo, adequando
aquele momento vivenciado por ela.
Já Kamii e Devries (1991) usam a terminologia jogos em grupo e suas
respectivas subdivisões, variações e recriações de oito tipos básicos de jogos:
alvo, corrida, de esconder, adivinhação, cartas, de ordens verbais e jogos de
mesa.
Rosamilha (1979) nos dá outra classificação dos jogos que o sistematiza em
três grandes grupos distribuídos. O primeiro grupo é composto de jogos verbais,
imitativos, mágicos, de iniciação; o segundo grupo, de jogos de força e agilidade; e
o terceiro grupo, de jogos intelectuais. O primeiro grupo tem a definição de jogos
executados pelos adultos para as crianças, como jogos de sorte, jogos de azar,
jogos rituais ou mágicos. No segundo grupo, os jogos são considerados de
agilidade, aqueles que envolvem as mãos, os pés, reflexos rápidos e jogos de
força,
41
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1 42
como lançar, pegar objetos, saltar e também as luta e os jogos aquáticos; e
no terceiro grupo, além dos jogos intelectuais, estão os jogos de mentira,
jogo da memória, jogos de xadrez, dama e outros.
Devido à limitação imposta pelo contexto escolar, as aulas de educação
física acabam por despertar papel de extrema relevância para o
desenvolvimento integral das crianças no Ensino Fundamental.
Para Freire (1997), a cada início do ano letivo a escola deveria matricular
também o corpo e não só a mente do aluno. Esta matrícula corporal
implica aceitar o aluno como um todo, que usa o corpo em relações
espaciais e temporais. Que se locomove pela sala e pelo pátio, que se
rebela contra um sistema monótono e que tem na motricidade um
momento de desenvolvimento dentro do sistema educacional.
Vimos a importância de sabermos classificar os jogos na escola, para
podermos ter um melhor resultado com os alunos.
1. Como vimos, vários autores conceituam jogo e brincadeira e
neles podemos identificar aspectos diferenciadores. Coloque (1)
para as características referentes ao jogo e (2) para as relacionadas
à brincadeira.
( ) Não podemos prever o seu fim.
( ) Sua execução é flexível .
( ) Possui um ápice na sua realização.
( ) O tempo e espaço são delimitados.
( ) Há no mínimo uma regra.
2. O objeto de estudo da educação física é o movimento humano,
por isso o professor, em suas aulas na escola deve propiciar
diferentes manifestações para que os alunos explorem o seu corpo
e consigam se expressar por meio dele. Qual seria a atividade mais
apropriada para cumprir com esse objetivo?
a) Jogo sensorial.
b) Jogo motor.
c) Brincadeira cantada.
d) Jogo pré-desportivo.
e) Jogo teatral.
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1
Seção 3
Importância e Aprendizagem do Jogo
Nesta seção, abordaremos a importância do aprendizado do jogo e da
brincadeira no processo de ensino-aprendizagem, mostrando quais os métodos
que podem ser usados como facilitadores neste processo.
3.1 Processo de Ensino-Aprendizagem
Ao pensar sobre a importância do jogo, remetem-se às mais diversas
abordagens existentes. Ramos (2000) descreve-as como cultura que analisa o
jogo como expressão da cultura educacional, a contribuição do jogo para a
educação, odesenvolvimento e/ou a aprendizagem da criança e a psicologia que
vê o jogo como uma forma de compreender melhor o funcionamento das emoções
e personalidade dos indivíduos.
Neste sentido, algumas reflexões iniciais são necessárias:
Por que as crianças brincam? Será que a brincadeira é coisa
só de criança? É possível brincar ensinando ou é possível
ensinar brincando?
As crianças, se não são impedidas, utilizam muito seu corpo em atividades de
explorar e conhecer, e isso contribui para o aumento do repertório motor. Brincando
e jogando, a criança aplica seus esquemas mentais à realidade que a cerca,
aprendendo e assimilando; reproduz suas vivências transformando o real de
acordo com seus desejos e interesses. É através do jogo que a criança expressa,
assimila e constrói a sua realidade.
De acordo com Schmidt (1964), o ser que brinca e joga é também o ser que
age, sente, pensa, aprende e se desenvolve. A situação do jogo mobiliza o
43
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1 44
esquema mental. Sendo uma atividade física e mental, o jogo aciona e
ativa as funções psiconeurológicas e as operações mentais, estimulando o
pensamento. Por este motivo, devemos exercitar o corpo, os sentidos e as
aptidões. Os jogos também preparam para a vida em comum e para as
relações sociais.
Desta forma, o jogo não representa apenas experiências vividas, mas
prepara o indivíduo para o que está por vir, pois exercita habilidades e,
principalmente, estimula o convívio social. Por tudo isso o grande valor
educativo do jogo é a importância de se trabalhar esse conteúdo nas
escolas de forma comprometida com a formação física, moral e social do
aluno.
Segundo Freire e Scaglia (2003), é preciso valorizar a tarefa coletiva; para
isso, em se tratando de educação física, possui diversos recursos, entre
eles o privilégio de poder contar com os jogos.
Na educação física, o desenvolvimento do indivíduo num meio ambiente
humano, cultural e social deve ser o objetivo principal, independentemente
de qualquer divisão que se tem que fazer de seu conteúdo em áreas de
conhecimento.
O objetivo da educação física deve se levar a criança
a aprender a ser cidadã de um novo mundo, em que o
coletivo não seja sobrepujado pelo individual; em que a
ganância não supere a solidariedade; em que a compaixão
não seja esmagada pela crueldade; em que a liberdade seja
bem superior; em que a consciência crítica seja patrimônio
de toda pessoa; em que a inteligência não seja reduzida
a saber calcular e falar línguas estrangeiras (FREIRE;
SCAGLIA, 2003, p. 32).
Percebemos que a responsabilidade estabelece uma parte que ensina e
outra parte que aprende. A ação de jogar poderá mudar de acordo com a
metodologia, formando cidadãos de caráter. O professor deverá estar
atento aos resultados e aos objetivos não só motores, mas também
morais.
Para maior esclarecimento sobre importância e aprendizagem, indico o
livro “Pedagogia do Movimento – Universo Lúdico e Psicomotricidade”, de
Hermínia R. B. Marinho, Moacir A. de Matos Junior, Nei A. Salles Filho e
Silvia C. M. Finck.
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1
Com o grande número de crianças nas escolas, a principal preocupação dos
professores de educação física é a forma de ensinar o jogo e melhorar a qualidade,
seja com fins competitivos ou não, porém se trabalha a moral e a sociabilização
que o jogo possui como características e/ou objetivos.
Para o aprendizado do jogo, utilizamos alguns métodos para melhor
aplicabilidade dele na escola, que, de acordo com Fonseca (1997), destaca-se
que o método de ensino adequado é o caminho mais rápido e fácil de atingir os
objetivos desejados em qualquer modalidade. Para que isso aconteça, o professor
de educação física deve ter conhecimento e sensibilidade para empregar os
métodos adequados para cada situação.
Neste contexto, o professor deverá ter muito cuidado ao aplicar os métodos,
pois eles podem tanto beneficiar seus alunos como prejudicá-los, pois, de acordo
com estudiosos sobre metodologia da educação física e dos esportes, todos os
métodos de ensino e aprendizagem apresentam pontos vantajosos, como também
apresentam desvantagens na sua aplicação.
De acordo com Santana (2001), o professor deve reservar um lugar na sua
metodologia para inserir valores, ideais e situações motoras, levando a criança
para uma participação prazerosa e criando perspectivas motoras. Inserindo novos
métodos dentro da metodologia, o professor prepara seu aluno para o mundo,
criando cidadãos críticos e conscientes.
Fonseca (1995) ainda propõe que existem três tipos de métodos:
• Parcial: ensina o jogo por partes, através do desenvolvimento dos
fundamentos dos jogos.
• Global: proporciona a aprendizagem do jogo nas suas mais diversas formas,
etapas e partes. Será utilizado para o desenvolvimento da aprendizagem
do próprio jogo. Este método enfatiza e permite a vivência com as mais
variadas formas de jogar, tendo algumas vantagens; iniciar a prática do jogo
mais cedo, integrar a técnica e tática, permitir a participação de todos os
elementos envolvidos e maior motivação.
• Misto: é a junção dos dois métodos anteriores.
No entendimento de Golomazov e Shirva (1996), também existem três tipos de
métodos. As repetições, que são repetições de exercícios por circunstância;
aproximação de tarefa, que pressupõe a execução de um só exercício; e contraste,
que é constituído de esforços contrastante.
Todos os métodos são aplicados nas aulas de educação física e têm resultados
positivos. Além desses autores e métodos, existem outros autores que também
criaram novos métodos e que, em suas conclusões, têm resultados excelentes.
45
O Resgate dos Jogos, Brinquedos e Brincadeiras Infantis. Jogos, Atividades, Desenvolvimento e Aprendizagem.
U1 46
De acordo com Melhem (2001), os princípios metodológicos seriam
começar do mais simples para o mais complexo; em outras palavras,
dever-se-iam aplicar, em toda metodologia de ensino fundamental, tarefas
que desenvolvem habilidades motoras sempre do mais fácil para o mais
difícil.
Zamberlan (1999) apresenta uma visão sobre metodologia que poderá ser
utilizada por professores ou técnicos. Podem ser divididos em jogadores
iniciantes, jogos educativos, exercícios educativos, exercícios de
aperfeiçoamento, exercícios de especialização. Ele ainda destaca que se
deve ficar atento à faixa etária que o professor está trabalhando, para que
não aconteça a especialização precoce. Por que uma criança
especializada muito cedo, fora do que é normal, pode ter seu rendimento
afetado e não querer mais jogar.
Independente da metodologia aplicada no desenvolvimento do jogo,
percebeu se que o processo inicial deve iniciar de uma forma correta e para
isso o professor de educação física tem como objetivo identificar e buscar
o melhor método nas suas aulas e também adequar as atividades de
acordo com a idade.
3.2. Adequações Dos Jogos Para Diferentes Faixas Etárias
Para facilitar o entendimento sobre a aprendizagemdos conteúdos
referentes às idades, propomos uma adequação de atividades para as
faixas etárias como facilitador do professor ao criar suas aulas.
• Crianças de zero a 02 anos: Fase do engatinhar e do andar. As crianças
apresentam pouco equilíbrio momento de descoberta acerca das pessoas,
formas e objetos. Atividades: manipulação de objetos de encaixar, puxar,
empurrar, abrir, fechar, reproduzir sons, móbiles coloridos e que se
movimentem.
• Crianças de 02 a 04 anos: Processo de descoberta, fase do
autoconhecimento. Atividades: conteúdos que desenvolvam os sentidos.
Tato, visão, audição, paladar, olfato.
• Criança de 04 a 06 anos: Egocentrismo, pré-escolar. Começa a dar
importância para as letras, os números, a formação de palavras e seus
significados. Atividades: manipulação de barro, subir, saltar, equilíbrio,
força etc.
• Criança de 06 a 08 anos: Melhora do condicionamento