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1 Vanessa Telles- Medicina – Emergências Cirúrgicas Trauma de pelve e extremidades Trauma Pélvico Pontos importantes da anatomia: osso ilíaco, ísquio, púbis, sacro, sínfise púbica, junção sacro-ilíaca, cóccix, trocanter, cabeça do fêmur, lig sacrotuberoso, lig sacroespinhoso, lig sacroilíaco. O trauma de pelve é considerado de alta energia e muito associada a lesões vasculares, principalmente de A. Ilíaca Interna e Veia Ilíaca Interna (plexo venoso sacral). Pode ser capaz de exsanguinar o paciente. Na maioria dos casos, é associado a um trauma contuso. Principais lesões associadas: TCE, fraturas de ossos longos, lesões torácicas, lesão uretral masculina, trauma espleno/hepático. Diagnóstico: ✓ História do trauma: mecanismos do trauma como • Compressão anteroposterior ou tipo A (10- 15%): rotação externa da pelve e separação da sínfise púbica, gerando “fratura em livro aberto”. O sangramento é provocado principalmente por plexo venoso posterior e ramos do sistema ilíaco interno. Causa: acidentes automobilísticos • Compressão lateral ou tipo B (60-70%): rotação interna da pelve com redução do volume pélvico e direcionamento do púbis para sistema geniturinário, gerando lesões por esmagamento e fraturas. Causa: acidentes automobilísticos • Cisalhamento vertical ou tipo C (5-15%, mais graves!): ruptura dos ligamentos sacroespinhoso e sacrotuberoso, lesão da sínfise púbica e da articulação sacroilíaca homolateral. Causa: quedas > 3,6 metros. ✓ Avaliação inicial do trauma ABCDE ou XABCDE em caso de sangramento de grande monta. Identificação do choque é importante. Compressão suave das cristas ilíacas para identificar instabilidade pélvica + palpar sínfise púbica + checar pulso, tempo de enchimento capilar e PA. Se toque retal com sangramento= fratura oculta pélvica. ✓ Clínica: choque (classificação na tabela vermelha), hematoma escrotal, hematúria, palpação de próstata. ✓ Exames: • RX AP e perfil de pelve: analisar mediante comparações bilaterais: asa do ílio, articulação sacroilíaca, ramos púbicos e forames, sínfise púbica, curvatura interna da pelve, trocanteres. • Uretrocistografia retrógrada. • TC ou RM para pacientes estáveis • USG FAST para pacientes instáveis hemodinamicamente nas janelas do trauma (subxifoidea, esplênica, hepática e suprapúbica). Se positivo, laparotomia; se negativa, investigar sangramento retroperitoneal com packing. • Outros: HMG, tipagem sanguínea, gasometria arterial, ureia e creatinina, CK total, íons, lactato, provas inflamatórias. ATENÇÃO: Lesões encontradas no RX = fratura em livro aberto, lesão em borboleta, cisalhamento, fratura sacral, etc. ✓ Manejo: • Transfusão maciça na proporção 1:1:1, sendo 1 concentrado de hemácias + 1-2 plasma congelado ou 6-7 unidades de plaquetas + 1 unidade de plaquetas para cada 10 kg de peso. • Ácido tranexâmico para todo paciente instável com trauma < 3hrs. • Redução/ estabilização da pelve: lençol ou dispositivo na região bitrocantérica por até 24 hrs. Após, fixação externa na crista ilíaca superior por até 6-12 semanas. • Angiografia para > 55 anos e ausência de fratura de ossos longos, diástase da sínfise púbica > 2,5 cm, fratura em borboleta, fraturas posteriores do cisalhamento. Principal: embolização da artéria ilíaca interna bilateral. • Cirurgia para controle de danos (Packing abdominal): 6 compressas no espaço de Retzius, sem violar a cavidade peritoneal. 2 Vanessa Telles- Medicina – Emergências Cirúrgicas • Cirurgia para fixação temporária ou permanente com parafusos. ATENÇÃO: Evitar elevação rápida da PA do paciente ou administração excessiva de fluidos. Nas lesões do anel pélvico, a presença de fratura pélvica gera mortalidade de 5-30%; hipotensão gera 10-42%; e fratura exposta gera 50% de mortalidade. Classificação de Young e Burgess para lesões do anel pélvico, com gravidade crescente: ✓ Tipo A: trauma lateral, mais comum. • A1: lesão local de maior fraqueza no anel pélvico; há fratura de ramo isquiopúbico com ou sem lesão em sacro/ílio. • A2: lesão em alça de balde com fratura de sacro/ílio e redução da curvatura pélvica. • A3: tipo 2 + abertura da articulação sacroilíaca contralateral. ✓ Tipo B: trauma anteroposterior • B1: abertura da sínfise púbica < 2,5cm, estável. • B2: abertura > 2,5cm que evolui para abertura de sacroilíaca, rotacionalmente instável. • B3: lesão em livro aberto com ruptura completa anterior e posterior, instável e mais risco de vida. ✓ Tipo C: cisalhamento vertical, lesão mais instável. Trauma de extremidades: 1) Fratura exposta de tíbia: ✓ Lembrar da classificação de Gustillo-Anderson para fraturas exportas: 3 Vanessa Telles- Medicina – Emergências Cirúrgicas ✓ Nem todas as fraturas vão precisar de fixação externa. Podem ser feitas: Early Total Care (lavagem com tratamento definitivo sem fixação externa) ou Damage Control (cirurgia com fixação externa, para casos graves que necessitam controle de dano ou com múltiplas lesões sistêmicas). ✓ Outros cuidados: lavagem da ferida com SF sob pressão moderada + desbridamento mecânico. Usar pelo menos 12L de SF! ✓ Antibiótico-profilaxia precoce (foco do tratamento de fratura exposta): deve ser feito até 3 hrs após o trauma, de preferência na primeira hora. • Gustillo 1 e 2: cefalosporina de 1ª OU de 3ª. Ex: cefazolina ou clindamicina. • Gustillo 3: cefalosporina de 1ª + aminoglicosídeo. Ex: cefazolina + gentamicina • Fratura em área contaminada (rural/esgoto): cefalosporina de 1ª + aminoglicosídeo + penicilina G. Ex: cefazolina + gentamicina + penicilina G. ATENÇÃO Na prática: para Gustillo 1, cefazolina 2g EV na indução + 1g 8/8h até cirurgia; para Gustillo 2 e 3, clidamicina 600mg EV 6/6h + gentamicina 240mg EV. Duração geral de 2-3 dias. ATENÇÃO Para pacientes > 60 anos, choque ou mioglobinúria, usar clidamicina 600mg EV 6/6h + ceftriaxona 2g seguidos de 1g 12/12h por nefrotoxicidade. 2) Síndrome Compartimental: quadro grave que pode ocorrer após fraturas de ossos longos ou traumas menores, quando o membro tem aumento de pressão local > 300mmHg e isquemia. Há aumento de CK e mioglobinúria, danos musculares (a partir de 4 horas de isquemia) e até necrose. Primeiro sintoma indicativo: dor irremediável! Também pode haver parestesias, ausência de pulso, paralisia. Tratamento: fasciotomia e fechamento em 2º momento ou amputação. 3) Embolia Gordurosa: ✓ Síndrome da Embolia Gordurosa se refere à apresentação clínica gerada pela Embolia Gordurosa. A sua presença, em qualquer caso, gera pelo menos 25% de risco a mais de morte. ✓ Ocorre após traumas do sistema músculo esquelético, principalmente fraturas combinadas de fêmur e tíbia. As fraturas expostas são definidas quando há contato do osso com oxigênio e presença de grânulos de gordura, os quais podem ir para a corrente sanguínea e iniciar os processos da embolia gordurosa. ✓ Patogenia: teoria mecânica (obstrução de capilares pulmonares por êmbolos gordurosos associado a efeitos tóxicos de AGL); teoria biomecânica (distúrbios da coagulação); teoria do epifenômeno do choque (reação orgânica ao choque hemodinâmico). ✓ Manifestações: não ocorre após o trauma e sim após 12-24hrs dele. Pode haver dispneia, confusão mental (torpor ou coma), petéquias em tórax/mucosas oral e conjuntival, febre, taquicardia. ✓ Tratamento: oxigenioterapia + imobilização precoce da fratura + transporte correto (não pode mexer se não houver imobilização) + profilaxia com metilprednisolona em altas doses (30mg/kg).
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