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2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4 2 CONHECIMENTO PEDAGÓGICO E AS PRÁXIS ..................................... 5 3 DA PEDAGOGIA ÀS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO .................................. 10 4 DIFERENÇAS ENTRE PROFESSOR, EDUCADOR E PEDAGOGO ....... 17 5 CURRÍCULO EM MOVIMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA DA SEEDF ... 20 6 O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO (PPP) E A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NA ESCOLA (OTP): FACES DA MESMA MOEDA ..... 25 6.1 O projeto político pedagógico como elemento norteador das atividades escolares 28 6.2 Os eixos fundamentais do projeto político .......................................... 30 6.3 A visão de ser humano ....................................................................... 31 6.4 A visão da função social da escola .................................................... 32 7 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO CONTEXTO ESCOLAR ............................................................................................ 33 8 PAPEL DO COORDENADOR PEDAGÓGICO NA ESCOLA .................... 42 8.1 Diretrizes básicas para o sucesso do coordenador pedagógico ........ 48 9 PLANEJAMENTO ESCOLAR: ELABORAÇÃO CONSISTENTE .............. 50 9.1 Plano de trabalho docente: currículo em ação ................................... 54 9.2 Existem tipos de planejamento escolar .............................................. 56 9.3 O planejamento da aula ..................................................................... 57 9.4 Planejamento educacional ................................................................. 60 9.5 Planejamento curricular ...................................................................... 60 9.6 Planejamento de ensino ..................................................................... 61 9.7 1 plano de curso ................................................................................. 62 9.8 2 plano de unidade ............................................................................. 62 9.9 3 plano de aula ................................................................................... 63 3 10 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 65 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 CONHECIMENTO PEDAGÓGICO E AS PRÁXIS Fonte: guiadoestudante.abril.com A temática em torno da produção do conhecimento pedagógico e a formação dos profissionais do ensino está intimamente vinculada à compreensão de como se estabelecem as relações entre a educação e a sociedade. Conforme o entendimento do projeto de sociedade que se tem em vista e o papel da educação frente a ele, configuram- se diferentes perspectivas de atuação do profissional da área. Em última instância, podemos afirmar que o (s) projeto (s) de educação em curso em determinada sociedade materializa (m) -se na prática pedagógica de seus educadores, conforme PINTO U; (2006). A compreensão que o educador tem sobre como é produzido e reproduzido o conhecimento, sobre a concepção de ser humano e sobre a constituição da sociedade direcionará sua ação profissional nos limites institucionais, sociais e políticos onde atua. Daí a necessidade de explicitar os elos que vinculam a prática educativa no contexto social mais amplo em que esta está inserida. O estabelecimento mais profícuo das relações entre a educação escolar e a sociedade é empreendido pela abordagem dialética, na qual a educação é entendida em sua unidade orgânica com a totalidade, num processo que conjuga as aspirações e necessidades do ser humano no contexto objetivo de sua situação histórico-social (Cury, 1986 apud PINTO U; 2006). 6 [...] uma visão dialética do homem e de seu mundo histórico-social implica conceber os dois termos da contradição (indivíduo-sociedade) de modo a rejeitar tanto a concepção que unilateralizar a adaptação do indivíduo à realidade do status quo, como a que propõe a realidade como um dado estático. Mas, além disso, implica conceber a realidade social como efetivo espaço da luta de classes, no interior da qual se efetua a educação, rejeitando a impositividade da dominação, como o espontaneísmo das classes dominadas. (Cury, 1986, p.13 apud PINTO U; 2006). A compreensão desse movimento contraditório da educação em relação à sociedade que, ao mesmo tempo, a conserva e a transforma, é fundamental para o entendimento da atuação dos profissionais do ensino. Seguindo essa mesma perspectiva de entendimento das relações entre a educação e a sociedade, Severino (2001 apud PINTO U; 2006) afirma que não podem ser desconsiderados alguns elementos fundamentais na apreensão, descrição e interpretação dos fenômenos educacionais submetidos a uma abordagem epistêmica dialética. Dentre outros elementos, ele destaca que um conhecimento sobre a educação que se pretenda rigoroso e científico não pode deixar de levar em consideração as forças de opressão e de dominação que atuam na rede das relações sociais, que faz da sociedade humana uma sociedade política, hierarquizada e atravessada pelo poder da dominação. Todo conhecimento que tem a ver com a educação não pode deixar de enfrentar, de modo temático explícito, a questão do poder, elemento que marca incisivamente toda expressão concreta da existência humana. (p.19), conforme PINTO U; (2006). A questão do poder que perpassa os processos educativos em uma sociedade de desiguais, do ponto de vista dos poderes econômico e político, é evidenciada no caráter práxico da educação levado em frente por diferentes protagonistas que representam os diferentes grupos sociais. Severino (2001 apud PINTO U; 2006) diferencia o campo de conhecimento das Ciências Humanas (psicologia, antropologia etc.) do campo da Ciência da Educação, justamente na praxidade de seu objeto, ou seja, “quando entramos no campo da ciência da educação, impõe-se agregar um outro elemento do olhar científico, que possa dar conta [...] do caráter eminentemente práxico da educação” (p.17). A especificidade da Ciência da Educação vem como conhecimento que também é produzido na prática, pela prática e voltado para a prática. Afinal, por que caráter práxico e não caráter prático da educação? Ao empregarmos a expressão práxico, estamos atribuindo potencialmente à educação a dimensão de uma atividade 7 prática carregada de uma intenção (teoria) transformadora da realidade. A referida expressão advém do conceito de práxis desenvolvido por Marx e Engels (1981 apud PINTO U; 2006). Em duas das suas teses sobre Feuerbach, eles afirmam, A questão de saber se ao pensamento humano pertence a verdade objetiva não é uma questão da teoria, mas uma questão prática. É nas práxisque o homem tem de comprovar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno, do seu pensamento [...]. A doutrina materialista da transformação da circunstância e da educação esquece que as circunstâncias têm de ser transformadas pelos homens e que o próprio educador tem de ser educado [...]. A coincidência da mudança das circunstâncias e da atividade humana ou autotransformação só pode ser tomada e racionalmente entendida como práxis revolucionárias. (p.103-104), conforme PINTO U; (2006). Assim, o conceito de práxis está intimamente vinculado à prática, uma vez que esta é a referência para a transformação da realidade, mas não uma prática qualquer, e sim uma prática carregada de intencionalidade, como expressão do caráter terreno do pensamento. Para Marx, não basta conhecer e interpretar o mundo de diferentes maneiras, o que importa é transformá-lo, conforme PINTO U; (2006). Em Filosofia das práxis, Vasquez (1968 apud PINTO U; 2006) afirma que, [...] a relação teoria e práxis é para Marx teórica e prática; prática, na medida em que a teoria, como guia da ação, molda a atividade do homem, particularmente a atividade revolucionária; teórica, na medida em que essa relação é consciente. (p.117). Ele diferencia práxis de atividade, argumentando que todas práxis é atividade, mas nem toda atividade é práxis” (Vasqez, 1968, p.185 apud PINTO U; 2006). Entende –se que resida aí o caráter práxico da educação identificado por Severino. Ou seja, a educação como atividade humana intencional não é uma atividade qualquer, mas sim uma atividade prática saturada de teoria. Diferentemente de outras atividades humanas orientadas por uma referência teórica de senso comum, e aí podemos falar de práticas educativas informais (não intencionais), a educação (intencional) tem uma referência teórica de cunho investigativo-filosófico (ciência- ética). Entretanto, embora a educação escolar seja potencialmente uma atividade práxica, nem sempre se manifesta dessa forma. 8 Os professores, muitas vezes, desenvolvem uma prática docente referenciada exclusivamente nos saberes da experiência adquiridos ao longo do exercício profissional e a prática educativa, reduzida aos saberes da experiência, tende a cristalizá-la, tornando-a ‘habitual’, conforme PINTO U; (2006). Conforme Monteiro (2002, p.118 apud PINTO U; 2006), porém, apostado na compreensão de que nossas ações docentes tendem a tornar-se habituais; os hábitos dão sustentação às nossas ações; a (re) visão de nossas ações permite a transformação delas. Lembrando que chamo de (re) visão a operação teórica, reflexiva sobre as ações efetuadas ou a serem efetuadas: é o estabelecimento de uma nova prática (que tenderá a um novo hábito) por um novo olhar sobre ela. E todas as vezes que as experiências se cristalizam em hábitos, essa (re) visão se faz necessária, pois tem no horizonte as peculiaridades de novas circunstâncias. A revisão necessária à prática docente passaria pela articulação entre esses saberes da experiência com os saberes do conhecimento específico de cada área e mais os saberes pedagógicos (Pimenta, 1999 apud PINTO U; 2006). Os saberes da experiência se direcionariam à complexidade da prática educativa, operando uma mudança da epistemologia da prática para a epistemologia das práxis, pois a práxis é um movimento operacionalizado simultaneamente pela ação e reflexão, isto é, a práxis é uma ação final que traz, no seu interior, a inseparabilidade entre teoria e prática. (Ghedin, 2002, p.133 apud PINTO U; 2006). Os saberes da experiência nesse movimento simultâneo entre ação e reflexão são carregados de intencionalidades. O educador tem clareza da intenção imprimida desde uma simples atividade em sala de aula que compõe uma sequência didática desenvolvida com os alunos, até os fins mais amplos da sua prática profissional. Essa intencionalidade presente em todas as ações do educador vai além da intenção imediata contida em uma atividade. Ela não se esgota na atividade em si, mas expressa e projeta a partir dela um conjunto de valores e crenças que norteiam a prática do educador, conforme PINTO U; (2006). Desse modo o que fazemos não se explica pelo como fazemos; possui sentido diante dos significados que lhe são atribuídos. Estes significados não são latentes, mas emanam, de fato, dos sentidos que construímos. O fazer prático só tem sentido em face do horizonte de significações que podemos conferir ao nosso por que fazer. [...] O horizonte dos significados possibilita- nos um descortinar dos sentidos de nossa prática em relação às outras práticas sociais. (Ghedin, 2002, p.141 apud PINTO U; 2006). 9 Assim entendida, a prática educativa articulada com outras práticas sociais amplia ainda mais a sua intencionalidade, à medida que imprime em si novos significados que não se constituiriam em seus próprios limites de ação. A compreensão da prática educativa nessa perspectiva da epistemologia das práxis está intimamente vinculada com o entendimento de que conhecer implica, por conta do próprio processo, uma ação política calcada no compromisso ético-político para com a sociedade, conforme PINTO U; (2006). O conhecimento é essencialmente o processo de uma atividade política que deve conduzir o sujeito que o produz a um compromisso de transformação radical da sociedade, e se ele tem algo a dizer é justamente isto: conduzir-nos a uma ação comprometida eticamente com as classes excluídas para que possam lançar mão deste referencial como exigência de mudança, emancipação e cidadania. (Ghedin, 2002, p.144 apud PINTO U; 2006). Esse sentido impregnado no conhecimento é o compromisso que os profissionais do ensino podem assumir, pelo menos, sob dois aspectos. O primeiro diz respeito ao conhecimento na perspectiva dos saberes da docência que são produzidos na prática educativa, o conhecimento responsável pela formação do educador, que o compromete com a transformação social. O segundo aspecto está relacionado ao conhecimento como objeto de trabalho do educador, conforme PINTO U; (2006). Entendendo o professor como mediador no processo de formação humana, sua mediação na aprendizagem dos alunos ocorre na relação que estes estabelecem com o conhecimento. O conhecimento é o elemento constituinte da relação pedagógica entre o professor e o aluno e a maneira como o educador o concebe pode ser assimilada pelo aluno. Desse modo, o conhecimento que o aluno assimila/produz no processo educativo escolar também pode instrumentalizá-lo para atuar na perspectiva da transformação social, conforme PINTO U; (2006). Com todo esse comprometimento político, não é sem motivo que o conhecimento é tema recorrente na área de ensino: ao discutirmos os processos de nossa formação profissional, ao refletirmos sobre o cotidiano da sala de aula, ao produzirmos pesquisa da área. Os profissionais da educação são os trabalhadores do conhecimento. Ele é nosso instrumento e objeto de trabalho junto aos alunos, conforme PINTO U; (2006). 10 Contudo, podemos dizer que os professores, diretores de escola, vice- diretores, supervisores de ensino, coordenadores pedagógicos, professor coordenador pedagógico todos os profissionais do ensino estão envolvidos com o conhecimento e com a praxidade da educação, conforme PINTO U; (2006). 3 DA PEDAGOGIA ÀS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO Fonte: pt.slideshare.net Conforme Dias de Carvalho (1996 apud PINTO U; 2006), a Pedagogia sofre todo um processo de evolução que a conduz à afirmação das Ciências da Educação. Franco (2003 apud PINTO U; 2006) situa no contexto histórico do início do século XX o momento de transição da “pedagogia enquanto a ciência da educação, para ser uma das ciências da educação” (p.37). Assim a implantação dos cursos de Ciências da Educação em alguns países europeus (França, Espanha, Portugal) é decorrência da mudança na perspectivaepistemológica de abordar as questões educacionais que transitou da Pedagogia às Ciências da Educação. O importante é o entendimento dessa mudança epistemológica no tratamento da educação como objeto de investigação, mesmo 11 porque a constituição dos referidos cursos em diferentes países ocorre em contextos conjunturais específicos, conforme PINTO U; (2006). Mialaret (1980 apud PINTO U; 2006) defende a ideia de que a constituição das Ciências da Educação é resultado da ampliação do entendimento do que é a própria educação. Como decorrência da complexidade das situações e dos fenômenos que pertencem ao domínio da educação, o autor argumenta sobre “a necessidade de fazer apelo a um grande número de disciplinas científicas, para tentar discernir os fatores que entram em jogo, e as relações ou as leis que regem o conjunto do sistema” (p.39). Nesse sentido, a Pedagogia teria sido suficiente para estudar a educação quando esta era pouco ‘cientificizada’, mas à medida que ela vai sendo estudada sob diferentes aportes teóricos, extrapola a própria e caminha em direção às Ciências da Educação. Entretanto, entende-se que o fato de o fenômeno educativo ser interpretado cada vez de forma mais abrangente, pelo avanço científico em diferentes áreas (Psicologia, Sociologia, Antropologia), não inviabiliza a Pedagogia como Ciência da Educação. Pelo contrário, apenas reforça a necessidade de ela se firmar como a Ciência da Educação para garantir a unidade da compreensão do fenômeno educativo e na intervenção da prática educativa. Cada uma das ciências (da Educação) parte do seu objeto de investigação específico, chega ao fenômeno educacional, interpreta-o e retorna ao seu objeto de origem. A Pedagogia, ao tomar a educação como objeto específico de estudo, de modo diferente, parte do fenômeno educativo, busca nas diversas ciências os elementos teóricos que possibilitem o alargamento de sua compreensão e retorna ao próprio fenômeno educativo, conforme PINTO U; (2006). Por outro lado, compreende - se que não é suficiente admitir o surgimento das Ciências da Educação como decorrência da ampliação de diferentes focos sobre a educação. Mais do que isso, a expansão dessas ciências pode ser também identificada no próprio processo de desenvolvimento das ciências humanas que, ao adquirirem autonomia e estatuto de cientificidade ao longo do século XIX, encontraram na educação um solo fértil para a experimentação de suas teorias. Ou seja, podemos citar como exemplo o próprio crescimento da Psicologia como ciência, que favorecerá seu seccionamento em Psicologia da Educação, conforme PINTO U; (2006). 12 Segundo Franco (2003 apud PINTO U; 2006), diversas experiências educacionais inovadoras foram alimentadas a partir do início do século passado, com conhecimentos produzidos em outras ciências, “mesclando os saberes pedagógicos com as descobertas [...] especialmente da psicologia, da sociologia, da psicanálise” (p.37). Entretanto ao seguirem a lógica científica do positivismo, cada uma das Ciências da Educação vai se atomizando em relação ao estudo das questões educacionais, ao invés de se organizarem em conjunto para a investigação do fenômeno educativo, de modo que cada uma fosse buscar no campo de origem sua contribuição. Ao contrário, cada uma partiu de seu objeto de investigação original e se aproximou das questões educacionais de diferentes formas, com diferentes enfoques metodológicos, em diversos espaços e tempos históricos e, principalmente, com múltiplas intenções em abordá-las, conforme PINTO U; (2006). Nesse aspecto, Dias de Carvalho (1996 apud PINTO U; 2006) argumenta que “os precursores das ciências da educação, ao limitarem-se a fazer delas segregações das ciências humanas consagradas, sem propriamente delinearam uma nova área de cientificidade no que concerne a objetos e métodos [...], acabaram por desencadear a erupção de múltiplos desajustamentos entre perspectivas de abordagem” (p.83). Quanto à Pedagogia, por sua reconhecida vinculação com a prática, precisou lutar por um espaço entre as disciplinas científicas da universidade em alguns países (Schmied- Kowarzik, 1988 apud PINTO U; 2006) e, em outros lugares, “desaparece em proveito de um modelo dedutivo que deseja reduzir o fazer ao dizer, o saber-fazer ao saber científico” (Houssaye, 2004, p.18 apud PINTO U; 2006). Pimenta (1998 apud PINTO U; 2006), em ensaio que questiona Ciências da Educação ou Ciência da Educação? Revisa vários pesquisadores portugueses que tratam da problemática. Ela destaca a contribuição de Dias de Carvalho que ressalta o caráter descritivo- explicativo peculiar das ciências da educação como extensão das ciências humanas e sociais. A esse respeito Pimenta (1998, p.48-49 apud PINTO U; 2006) argumenta que o real educativo não é suficientemente apreendido pela descrição- explicação mesmo que se adicione o caráter interpretativo [...], ainda assim não se está dando conta de um campo/método específico que capte a dimensão prática da educação. 13 Antonio Nóvoa (1998 apud PINTO U; 2006), pesquisador português, ao analisar o papel das Ciências da Educação na Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação, localiza a identidade delas no somatório da construção de cada uma das identidades das diferentes ciências (da educação) associadas à ação profissional, a identidade das Ciências da Educação constrói-se, assim, por transbordo e transgressão das disciplinas de origem, repensadas conceitualmente com base na investigação de novas temáticas e objetos de estudo. Mas a identidade das Ciências da Educação constrói-se também [...], por adesão a uma comunidade científica de referência, no seio da qual se produzem os ‘critérios de sentido’ da ação profissional e científica. (p.84). Ao longo do ensaio, Nóvoa não diferencia Pedagogia das Ciências da Educação, o que lhe permite utilizar ambos os vocábulos com o mesmo significado. No Brasil, de modo diferente, temos mantido o uso de Pedagogia, inclusive pela tradição firmada com a existência dos cursos de Pedagogia há mais de 60 anos. Em outro estudo (Pinto, 2002 apud PINTO U; 2006), defendo a clara identidade do curso de Pedagogia entre nós, que tem como característica própria “o estudo da educação, particularmente na modalidade escolar, em suas múltiplas determinações [...], é o único curso que traz em seu currículo a Psicologia da Educação, a História da Educação, a Filosofia da Educação, a Sociologia da Educação. Que outro curso superior no país tem estudado o fenômeno educativo sob tantos e diferentes enfoques? ” (p.179-180 apud PINTO U; 2006). Além disso, o curso de Pedagogia tem como característica exclusiva o estudo do “processo educativo em suas dimensões metodológicas, através das diversas disciplinas que gravitam em torno da Didática” (p.180). No que se refere à Pedagogia, a denominação Ciências da Educação sugere duas possibilidades. A primeira refere-se ao entendimento da Pedagogia ser a soma das diferentes ciências que tratam da educação e, sendo assim, a expressão Ciências da Educação pode ser tomada como sinônimo de Pedagogia. A outra possibilidade é considerá-la como uma ciência autônoma que, junto às demais ciências, compõem as Ciências da Educação. Nesse caso, a Pedagogia fica equiparada e no mesmo patamar das outras ciências humanas que investigam as questões educacionais e é identificada como uma ciência instrumental-prescritiva que se reduz ao estudo de como ocorre o processo de ensino-aprendizagem, conforme PINTO U; (2006). 14 Dias de Carvalho (1996, p.98 apud PINTO U; 2006) cita Quintana Cabanas ao afirmar que sem ser a ciência da educação, a pedagogia é uma das ciências da educação. Ciência prática e normativa, preocupa-se com a ação de educar, com o ato educativo, enquanto que as outras disciplinas, sendo teorético-descritivas, têm como objeto deestudo o fato educacional construído pelos próprios fenômenos educacionais, abstendo-se sempre de qualquer intervenção reguladora. A Pedagogia não pode ser vista como uma das ciências da educação já que ela é a Ciência da Educação. E somente a Pedagogia pode ser a Ciência da Educação, pois seu objeto exclusivo de investigação é a educação. Afirmar que a Pedagogia compõe o conjunto das Ciências da Educação, ou seja, que é uma outra ciência (ou campo de estudo) das Ciências da Educação, é igualar o que é desigual. Assim como subtrair da Pedagogia a produção científica da história, da psicologia, da sociologia etc., é fragilizá-la como Ciência da Educação, conforme PINTO U; (2006). A fecundidade e peculiaridade de compreender a Pedagogia como ciência encontra-se justamente no fato de ser um campo de estudo intrinsecamente multidisciplinar porque seu objeto de estudo a educação assim o é. Aceitá-la como uma das Ciências da Educação é conformar-se em justapô-la com as demais ciências para a apreensão da realidade educacional. É rejeitar uma abordagem metodológica que nos remete a uma perspectiva dialética e permanecer no âmbito da epistemologia positivista, conforme PINTO U; (2006). Schmied-Kowarzik (1988 apud PINTO U; 2006) argumenta que a Ciência da Educação tem assumido questões e posicionamentos teóricos e científicos do plano das ciências próximas (da educação), aplicando-os a problemas pedagógicos, em vez de continuar a desenvolver a tradição teórica original (da Pedagogia), confrontando-a com questões e exigências novas. Segundo o autor, a Pedagogia que se constitui como uma das ciências práticas mais ricas por sua tradição, deixa de contribuir com a analise teórica de uma prática transformadora, para paradoxalmente balizar-se na discussão teórica e científica das ciências sociais em torno de métodos de pesquisa que possibilitem a orientação de uma prática crítica. Sacristán (1999, p.97 apud PINTO U; 2006), ao analisar a nutrição do conhecimento sobre a educação a partir de outras áreas de conhecimento, diz que certamente, em teoria e conhecimento do ‘educativo’ faz-se alusão a uma série de componentes variados, que, em algumas ocasiões, parecem integrados e amalgamados em uma espécie de simbiose ordenada transdisciplinar. Em outros casos, trata-se de empréstimos conjunturais, que dão esse caráter dispersivo e desestruturado que é percebido na pedagogia, 15 e que durante muito tempo foi reconhecido como ‘Ciências da Educação’, no plural. Para corrigir essa dispersão e desestruturação, as Ciências da Educação devem se converter na Ciência da Educação, no singular, e para tanto devem ser significadas nas práticas educativas. Enquanto não se opera esse movimento, elas permanecem como ciências autônomas da educação. É a partir de suas significações na prática educativa que elas se transformam em conhecimento pedagógico, desprendendo-se de seu objeto original de estudo e diluindo-se na Pedagogia. Portanto, não cabe falarmos em Pedagogia como ciência integradora das demais Ciências da Educação. A Pedagogia como ciência para a prática educativa extrapola a interdisciplinaridade para constituir-se numa perspectiva transdisciplinar, conforme PINTO U; (2006). Franco (2003 apud PINTO U; 2006) desenvolveu uma pormenorizada pesquisa entre as obras da época em que o curso de Pedagogia foi implantado no Brasil, em 1939, com o intuito de verificar como os educadores brasileiros que conviviam com a questão da Pedagogia ser ou não ciência. A pesquisadora identificou, já nesse período, vários autores se referindo à Pedagogia como Ciência da Educação. Do mesmo modo, estudos mais recentes desenvolvidos entre nós reafirmam e posicionam a Pedagogia como Ciência da Educação (Franco, 2003; Libâneo, 1999; Mazzotti, 1998; Pimenta, 1998 apud PINTO U; 2006). Assim, constatamos que esses pesquisadores brasileiros continuam atribuindo à Pedagogia a responsabilidade pelos estudos referentes ao campo educacional em sua totalidade, refutando sua substituição por Ciências da Educação. Contudo, não desconsideramos a procedência da expressão Ciências da Educação para identificar o conjunto das diferentes ciências e/ou áreas de conhecimento que se debruçam efetivamente no estudo das questões educacionais, a partir de seus objetos específicos de investigação. Como procuramos demonstrar, o questionamento dirige-se ao uso de Ciências da Educação para substituir o emprego do vocábulo Pedagogia, utilizando-os praticamente como sinônimos, conforme PINTO U; (2006). 16 A Pedagogia difere das Ciências da Educação porque é uma ciência que orienta e é produzida na prática do educador, consubstancia-se na sua ação, no seu fazer. Nesse sentido, cabem as perguntas: Como o educador age? Por que age assim? Em que se fundamenta seu fazer? Considerando como ponto pacífico o princípio de que a Pedagogia não se reduz ao fazer educativo, é necessário, entretanto destacar que, do mesmo modo, ela não se restringe à descrição, explicação e interpretação do real educativo, pois isso, como já vimos, é a imprescindível contribuição das Ciências da Educação. Assim sendo, identifica –se a especificidade da Pedagogia, como Ciência da Educação, no movimento contínuo entre a intenção clara do para que fazer e do como fazer, conforme PINTO U; (2006). Como já foi mencionado anteriormente, discordar do emprego da expressão Ciências da Educação para substituir o uso do termo Pedagogia não implica em desconsiderar a legitimidade dessas ciências na área educacional. Sendo assim, é fundamental destacar a propriedade das Ciências da Educação como campo de investigação que viabiliza a constituição do conhecimento pedagógico, conforme PINTO U; (2006). Pimenta (1998, 2002 apud PINTO U; 2006) identifica a Pedagogia como teoria uma teoria da educação a partir do entendimento de que teoria é a constituição de um pensamento refletido sobre uma atividade que se volta para a prática. Ela considera que a educação, como prática social, requer de uma ciência prática que parta da prática e a ela se dirija, tendo na problemática educativa e na sua superação o ponto central de referência da sua investigação. Diferentemente das demais ciências da educação, a pedagogia é ciência da prática. Aí está a sua especificidade. Ela não se constrói como discurso sobre a educação. Mas a partir da prática dos educadores tomada como a referência para a construção de saberes no confronto com os saberes teóricos. (Pimenta, 2000, p.47 apud PINTO U; 2006). Para Libâneo (1999 apud PINTO U; 2006), além de a Pedagogia ocupar-se dos processos educativos, dos métodos e das maneiras de ensinar, ela contempla um significado mais amplo, pois trata da problemática educativa na sua totalidade e historicidade e, ao mesmo tempo, é responsável pela diretriz orientadora da ação educativa. É um campo de conhecimento que se ocupa do ato educativo, da prática concreta que se realiza na sociedade. 17 O pesquisador defende, assim, uma teoria pedagógica que proceda com a análise crítica da educação no capitalismo, com ações pedagógicas possíveis de se contraporem à exploração, dominação ideológica e material vigentes (Libâneo, 2000 apud PINTO U; 2006). Para tanto, ela deve ser capaz de orientar a prática docente e como “teoria para esclarecimento racional da prática educativa a partir de investigação dessa mesma prática em situações concretas, realiza-se como ciência para a educação” (1999, p.115 apud PINTO U; 2006). Franco (2003 apud PINTO U; 2006) parte do princípio que a Pedagogia como Ciência da Educação tem como objeto de estudo a práxis educativa. Para isso, ela deve organizar-se em torno da reflexão engajada, devendo se constituir como ciência crítica e reflexiva, mergulhada no universo da prática educativa. À teoria pedagógica, cabe “oferecer as condições para que o educador, emprocesso de prática educativa, saiba perceber os condicionantes de sua situação, refletir criticamente sobre eles, saber agir com autonomia e ética” (p.90). Desse modo, o papel da Pedagogia não pode ser apenas pensar e teorizar as questões educativas, mas deve também organizar ações estruturais “que produzam novas condições de exercício pedagógico, compatíveis com a expectativa da emancipação da sociedade” (p.72), conforme PINTO U; (2006). 4 DIFERENÇAS ENTRE PROFESSOR, EDUCADOR E PEDAGOGO É importante ressaltar que, assim como a pedagogia vem sendo confundida com as práticas educacionais, o pedagogo, nos dias atuais, também tem exercido as funções de professor, uma vez que possui habilitação para realizar tal função, porém, acaba deixando de exercer sua habilitação acadêmica e o papel de pedagogo fica sendo ocupado por um educador, conforme SILVA R; (2017). Embora sejam cargos semelhantes, as ocupações do professor, do pedagogo e do educador são distintas. A saber, segundo o minidicionário Aurélio (2001 apud SILVA R; 2017), professor é aquele que ensina uma ciência, arte, técnica; mestre. Ou seja, é o profissional que atua na educação com capacitação para ministrar aulas, com diversidade de conteúdos e estratégias diversificadas, na qual transmite seus ensinamentos e conhecimentos para seus alunos com o intuito de que estes absorvam 18 o máximo possível. Cabe ao professor, também, tirar as dúvidas e acompanhar o desenvolvimento de seus educandos. O educador, conforme o mesmo dicionário referido acima, é aquele que promove o desenvolvimento da capacidade intelectual, moral e física de (alguém) ou de si mesmo. O educador pode atuar na gestão da escola, assim como na coordenação, supervisão, administração, ou como professor. Ele é responsável em promover o contato do corpo docente com o discente e seus responsáveis. “O educador não está preocupado exclusivamente em repassar o conteúdo de sua disciplina, mas em compreender, entender e tornar a escola um ambiente de felicidade”. (COSTA, Revista Linha Direta), conforme SILVA R; (2017). A definição de pedagogo no minidicionário Aurélio (2001 apud SILVA R; 2017), aparece como aquele que aplica a pedagogia, que ensina, professor. Pedagogo é o profissional que possui especialização na educação. Ele atua em diversas áreas educacionais, produzindo e expandindo o conhecimento. Deve contemplar a educação como um fenômeno. Para ser pedagogo é necessário que possua habilidades para realizar e executar planejamentos, tenha uma boa dicção para se comunicar bem e transmitir ideias, seja flexível, competente, criativo e esteja preparado para enfrentar as adversidades sociais, além de gostar de trabalhar em equipes. O pedagogo pode atuar nas seguintes áreas, dentre as atividades do pedagogo destaca-se a administração escolar, onde realiza estudos e pesquisas nas áreas pertinentes à educação e coordenação de cursos visando ao aperfeiçoamento do ensino e suas técnicas; o magistério pré- primário, onde tem como responsabilidade o planejamento, orientação e coordenação de atividades técnico-pedagógicas e administrativas do ensino pré-primário; a educação de deficientes da áudio-comunicação, lecionando, planejando, organizando e coordenando cursos; a orientação educacional a fim de ajudar o aluno a ajustar-se ao ambiente escolar e ao meio social em que vive, através do desenvolvimento da personalidade e do encaminhamento vocacional. O pedagogo atua também na supervisão de ensino em empresas, na área de Recursos Humanos (organização e coordenação de cursos). (APS, 2016 apud SILVA R; 2017). De acordo com Libâneo (2001, p. 22 apud SILVA R; 2017) as funções do pedagogo se assimilam muito com a do professor uma vez que as formações dadas nos cursos normais de magistério favorecem a constituição de um profissional lato sensu, sendo assim, todos os professores são pedagogos. Essa falta de distinção das funções específicas do pedagogo é, segundo o autor, características do desenvolvimento de cargos atribuídos ao mesmo. O pedagogo stricto sensu, é aquele 19 formado em cursos de Pedagogia, que possuem uma formação direcionada à pratica educativa. Nas palavras do autor: [...] a Pedagogia ocupa-se, de fato, dos processos educativos, métodos, maneiras de ensinar, mas antes disso ela tem um significado bem mais amplo, bem mais globalizante. [...] O pedagógico refere-se a finalidades da ação educativa, implicando objetivos sociopolíticos a partir dos quais se estabelecem formas organizativas e metodológicas da ação educativa. [...] Pedagogia é, então, o campo do conhecimento que se ocupa do estudo sistemático da educação, isto é, do ato educativo, da prática educativa concreta que se realiza na sociedade como um dos ingredientes básicos de configuração da atividade humana (Libâneo, 2001, p. 22, grifos do autor apud SILVA R; 2017). Isto é, a formação do pedagogo não possui uma identidade sólida, definida. Há dois tipos de pedagogos: o especialista e o docente. O pedagogo especialista é aquele cuja formação está mais voltada para atividades sociais, participação em áreas não escolares, mas que se utilizam do processo educacional e de práticas pedagógicas. O pedagogo docente é aquele que atua em áreas escolares, ministrando cursos, aulas e cooperando para o trabalho e processo de desenvolvimento da escola, conforme SILVA R; (2017). De acordo com a SILVA R; (2017), essa indefinição na formação do pedagogo, embora já exista desde o início da criação do Curso de Pedagogia, se tornou mais evidente com as reformulações acrescentas ao currículo do mesmo em 2006, ao qual as Diretrizes Curriculares Nacionais determinam que: Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: 1°§. Participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento do ensino; 2°§. Elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; 3°§. Zelar pela aprendizagem dos alunos; 4°§. Estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento; 5°§. Ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; 6°§. Colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade. (LDB 9394/96; Art. -13; inciso I ao VI). Desta forma, o papel do pedagogo é descaracterizado, pois o curso de pedagogia lhe dá incumbências cabíveis aos docentes, tornando-o e preparando-o com mais ênfase para o exercício da função de professor, deixando de formar o pedagogo stricto sensu, aquele profissional que abrange as áreas de conhecimento científico, conforme SILVA R; (2017). 20 Em síntese, é possível perceber que embora as alterações e tentativas de melhorias no curso de pedagogia, a formação do pedagogo ainda está em um processo de indefinição. O currículo que compõem o referido curso está mais voltado para a formação de docentes capazes de atuar no ensino da Educação Infantil, Fundamental de 1º ao 5º ano e para o professor do Ensino Médio da modalidade Normal, inviabilizando a participação deste profissional nas áreas educacionais de cunho não escolar, conforme SILVA R; (2017). Atualmente vêm crescendo o número de pedagogos que desejam atuar em organizações não governamentais, assim como em espaços administrativos, sociais, políticas e econômicas. Porém, sua capacitação, por vezes, acaba sendo limitada devido à frustração de ter realizado um curso no qual não promove o conhecimento de determinadas áreas, conforme SILVA R; (2017). 5 CURRÍCULO EM MOVIMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA DA SEEDF O Currículo em Movimento da Educação Básica da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF) considera que o ser em formação é multidimensional, com identidade, história, desejos, necessidades, sonhos, isto é, um ser único, especial e singular, nainteireza de sua essência, na inefável complexidade de sua presença. E a educação é uma prática social, que une os homens entre si em torno do direito de aprender e da conquista da cidadania. A escola, instituição formal de educação, muitas vezes o equipamento público mais próximo da comunidade, é chamada a desempenhar intensivamente um conjunto de funções, conforme ALMEIDA C; et al., (2018). Essa instituição se vê como educadora, mas também como “protetora” e isso tem provocado debates acerca não apenas de sua especificidade, mas também dos novos atores sociais que buscam apoiá-la no exercício dessas novas funções e dos movimentos e organizações que igualmente buscam a companhia dessa instituição escolar para constitui-la e, talvez, ressignificá-la, conforme ALMEIDA C; et al., (2018). Historicamente, o conceito de currículo expressa ideias como conjunto de disciplinas/matérias, relação de atividades a serem desenvolvidas pela escola, resultados pretendidos de aprendizagem, relação de conteúdos claramente delimitados e separados entre si, com períodos de tempo rigidamente fixados e 21 conteúdos selecionados para satisfazer alguns critérios avaliativos. Nessas representações, os programas escolares e o trabalho escolar como um todo são tratados sem amplitude, desprovidos de significados e as questões relacionadas à função social da escola são deixadas em plano secundário, transformando o currículo em um objeto que esgota em si mesmo, como algo dado e não como um processo de construção social no qual se possa intervir, conforme ALMEIDA C; et al., (2018). A Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF) concebe o currículo signatário da concepção de educação integral e de criação por meio da educação de condições para que as crianças, jovens e adultos se humanizem, apropriando-se da cultura, produto do desenvolvimento histórico humano. Sendo assim, propõe o currículo como um instrumento aberto em que os conhecimentos dialogam entre si, estimulando a pesquisa, a inovação e a utilização de recursos e práticas pedagógicas mais criativas, flexíveis e humanizadas, assumindo uma proposta de intervenção refletida e fundamentada, orientada para a organização das práticas “da” e “na” escola, conforme ALMEIDA C; et al., (2018). Ao considerar a relevância da opção teórica, a SEEDF elaborou seu Currículo a partir de alguns pressupostos da Teoria Crítica ao questionar o que pode parecer natural na sociedade, como: desigualdades sociais, hegemonia do conhecimento científico em relação a outras formas de conhecimento, neutralidade do currículo e dos conhecimentos, busca de uma racionalidade emancipatória para fugir da racionalidade instrumental, procura de um compromisso ético que liga valores universais a processos de transformação social (PUCCI, 1995; SILVA, 2003 apud ALMEIDA C; et al., 2018). Assim como no espaço concreto da sala de aula e da escola, no currículo formal os elementos da cultura global da sociedade são conciliáveis, favorecendo uma aproximação entre o conhecimento universal e o conhecimento local em torno de temas, questões, problemas que podem ser trabalhados como projetos pedagógicos por grupos ou por toda a escola, inseridos nos projetos político-pedagógicos, construídos coletivamente. Nessa perspectiva, os conhecimentos se complementam e são significados numa relação dialética que os amplia no diálogo entre diferentes saberes. A efetivação dessa aproximação de conhecimentos se dará nas escolas, nas discussões coletivas da proposta curricular de cada instituição, tomando como referência o currículo em movimento, conforme ALMEIDA C; et al., (2018). 22 O Currículo da Educação Básica da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF) fundamenta-se na Pedagogia Histórico-Crítica e na Psicologia Histórico-Cultural, opção teórico metodológica que se assenta em inúmeros fatores, sendo a realidade socioeconômica da população do Distrito Federal um deles. Isso porque o Currículo escolar não pode desconsiderar o contexto social, econômico e cultural dos estudantes. A democratização do acesso à escola para as classes populares requer que esta seja reinventada, tendo suas concepções e práticas refletidas e revisadas com vistas ao atendimento às necessidades formativas dos estudantes, grupo cada vez mais heterogêneo que adentra a escola pública do DF, conforme ALMEIDA C; et al., (2018). A Pedagogia Histórico-Crítica esclarece sobre a importância dos sujeitos na construção da história. Sujeitos que são formados nas relações sociais e na interação com a natureza para a produção e reprodução de sua vida e de sua realidade, estabelecendo relações entre os seres humanos e a natureza, exigindo que seja uma prática intencional e planejada. Essa compreensão de desenvolvimento humano situa a escola num contexto marcado por contradições e conflitos entre o desenvolvimento das forças produtivas e as relações sociais de produção, conforme ALMEIDA C; et al., (2018). Na perspectiva da Pedagogia Histórico-Crítica, o estudo dos conteúdos curriculares tomará a prática social dos estudantes como elemento para a problematização diária na escola e sala de aula e se sustentará na mediação necessária entre os sujeitos, por meio da linguagem que revela os signos e sentidos culturais. Considerar a prática social como ponto de partida para a construção do conhecimento significa trabalhar os conhecimentos acadêmicos a partir da articulação dialética de saberes do senso comum, escolares, culturais, científicos, assumindo a igualdade entre todos eles. O trabalho pedagógico assim concebido compreende que a transformação da prática social se inicia a partir do reconhecimento dos educandos no processo educativo. A mediação entre a escola e seus diversos sujeitos fortalece o sentido da aprendizagem construída e sustentada na participação e na colaboração dos atores, conforme ALMEIDA C; et al., (2018). 23 A SEEDF compreende que Educação tem a ver com questões mais amplas, contemporâneas, fundamentais para a consolidação da democracia, do Estado de Direito e da preservação do ambiente em que as pessoas vivem; e que a escola é o lugar de encontros de pessoas, origens, crenças, valores diferentes que geram conflitos, mas também oportunidades para a construção de identidade. O Currículo da SEEDF, portanto, contempla as narrativas historicamente negligenciadas, ao eleger como eixos transversais: Educação para a Diversidade, Cidadania e Educação em e para os Direitos Humanos, Educação para a Sustentabilidade, conforme ALMEIDA C; et al., (2018). Fonte: df.gov.br Os eixos transversais favorecem uma organização curricular mais integrada, focando temas ou conteúdos atuais e relevantes socialmente e que, em regra geral, são deixados à margem do processo educacional (SANTOMÉ, 1998 apud ALMEIDA C; et al., 2018). A expectativa é de que a transversalidade desses temas torne o Currículo mais reflexivo e menos normativo e prescritivo, ao mesmo tempo em que indica que a responsabilidade pelo estudo e discussão dos eixos não é restrita a grupos ou professores individualmente, mas ao coletivo de profissionais que atuam na escola. Assim, os eixos transversais, também possibilitam o acesso do (a) estudante aos diferentes referenciais de leitura do mundo, com vivências diversificadas e a construção/reconstrução de saberes específicos de cada ciclo/etapa/ modalidade da educação básica, conforme ALMEIDA C; et al., (2018). 24 Os conteúdos passam a ser organizados em torno de uma determinada ideia ou eixo que indicam referenciais para o trabalho pedagógico a ser desenvolvido por professores (as) e estudantes, de forma interdisciplinar, integrada e contextualizada. Dessa maneira, todos os temas escolares e os temas da vida dos estudantes são importantes para compor o currículo escolar. Portanto,os professores devem criar estratégias pedagógicas para abordar os conteúdos de todas as áreas da maneira mais integradora possível, fazendo com que os alunos percebam as múltiplas relações entre todos os fenômenos, conforme ALMEIDA C; et al., (2018). A SEEDF estrutura seu Currículo de Educação Básica partindo da definição de diversidade, com base na natureza das diferenças de gênero, de intelectualidade, de raça/etnia, de orientação sexual, de pertencimento, de personalidade, de cultura, de patrimônio, de classe social, diferenças motoras, sensoriais, enfim, a diversidade vista como possibilidade de adaptar-se e de sobreviver como espécie na sociedade. Portanto, planejar pensando numa educação para a diversidade significa, na prática: reconhecer a existência da exclusão no ambiente escolar; buscar permanentemente a reflexão a respeito dessa exclusão; repudiar toda e qualquer atitude preconceituosa e discriminatória; considerar, trabalhar e valorizar a diversidade presente no ambiente escolar, pelo viés da inclusão dessas parcelas alijadas do processo; pensar, criar e executar estratégias pedagógicas com base numa visão crítica sobre os diferentes grupos que constituem a história social, política, cultural e econômica brasileira, conforme ALMEIDA C; et al., (2018). Quanto à Cidadania e Educação em e para os Direitos Humanos consideramos que a organização política e social baseada na cidadania é um avanço importante para a inclusão de minorias nas políticas sociais, porém não é suficiente para garantir uma convivência entre grupos considerados maiorias e minorias, sendo necessária a introdução de outro nível de direitos, ou seja, os direitos humanos. Nessa perspectiva e considerando os contextos sociais ainda demasiadamente violadores de direitos, a educação em e para os Direitos Humanos vem se colocando como importante resposta às lacunas deixadas pela fragilização de antigas e importantes propostas políticas emancipadoras (SANTOS, 2001 apud ALMEIDA C; et al., 2018). A Escola, em seu privilegiado espaço de promoção do Estado Democrático de Direito, não pode exercer uma prática negativa em relação ao que defende e, assim, colocar em xeque seu papel transformador da realidade, pois conforme vem sendo amplamente discutido em inúmeras convenções nacionais e internacionais, a educação é um direito fundamental que contribui para a conquista de todos os demais 25 direitos humanos. Daí a importância de termos a Educação em e para os Direitos Humanos como eixo transversal do Currículo da Educação Básica da rede pública do DF, conforme ALMEIDA C; et al., (2018). A cidadania ativa pode ser entendida como o exercício que possibilita a prática sistemática dos direitos conquistados, bem como a ampliação de novos direitos, devendo contribuir para a defesa da garantia do direito à educação básica pública, gratuita e laica para todas as pessoas, inclusive para os que a ela não tiveram acesso na idade e condições próprias. O eixo transversal Educação para a Sustentabilidade, no currículo da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, sugere um fazer pedagógico que busque a construção de cidadãos comprometidos com o ato de cuidar da vida, em todas as fases e tipos, pensando no hoje e nas próximas gerações. O eixo perpassa o entendimento crítico, individual e coletivo de viver em rede e de pensar, refletir e agir acerca da produção e consumo consciente, qualidade de vida, alimentação saudável, economia solidária, agroecologia, ativismo social, cidadania planetária, ética global, valorização da diversidade, entre outros, conforme ALMEIDA C; et al., (2018). Busca-se dar oportunidade aos professores e estudantes a construção de uma sociedade igualitária que atenda às necessidades do presente e conserve recursos naturais para as gerações futuras. Para tal, o percurso pedagógico previsto no projeto político-pedagógico da escola precisa buscar o enfoque de integração e interação, deve ser sistemático, democrático e participativo, diante de um entendimento do ser humano em sua integralidade e complexidade, bem como as concepções didáticas do processo de ensino, conforme ALMEIDA C; et al., (2018). 6 O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO (PPP) E A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NA ESCOLA (OTP): FACES DA MESMA MOEDA Não podemos separar o debate e nem as práticas que unem a avaliação, o currículo e o planejamento. A ideia é a de avaliar para aprender, aprender para agir e agir para avançarmos. Estudar e pesquisar na escola sobre seus espaços e práticas pode, a médio prazo, tornar a escola um lugar de aprendizagens mais éticas e significativas. Nossos estudantes não aprendem somente conteúdos e conceitos, as atitudes dos profissionais e a forma como a escola se organiza ensina bastante. Nesse 26 sentido é que evocamos a necessária construção, reconstrução e ou avaliação do PPP como forma de evidenciar a organização do trabalho na instituição escolar, conforme ALMEIDA C; et al., (2018). Fronte: cpmunidadepolo.seed.pr.gov.br Em meio aos inúmeros desafios que movimentam a escola de educação básica, a construção do seu projeto político-pedagógico – PPP – representa, nesse sentido, a oportunidade de a instituição superar obstáculos e potencializar seus acertos. Este breve texto procura auxiliar, de forma prática, como a organização pode encontrar sua metodologia e viabilizar as tratativas que decorrem dessa demanda. O projeto da escola é um documento cujos rumos precisam ser definidos e acordados entre todos que a habitam, conforme ALMEIDA C; et al., (2018). De acordo com ALMEIDA C; et al., (2018), se existe um início, então deve haver um fim, não é? Nem sempre, o projeto da escola não termina, como também não se encerram as inúmeras questões que a invadem todos os dias. Sendo assim, o primeiro passo é sentarmos, respirarmos e entendermos que somos seres históricos e nossas ideias, como tudo que realizamos, possuem prazos de validade. Vamos contribuir com o agora, vamos deixar nossas marcas e nossos passos, eles são nossas maiores contribuições. A escola precisa lançar mão de algo que chamamos de avaliação do trabalho da escola ou avaliação institucional. O PPP precisa ser avaliado. Se não existe o documento não quer dizer que o projeto não exista, ele se faz representar por meio de todos os hábitos, culturas e formas de agir na instituição durante o ano letivo. Comecemos nos autos avaliando, refletindo sobre nossas práticas e contribuições ao 27 longo desse processo. Em seguida, falaremos abaixo algumas categorias do trabalho pedagógico que precisam dessa reflexão. Para tanto, apresentamos algumas questões que podem contribuir: Como tem ocorrido a coordenação pedagógica na escola? O que temos feito e precisa ser mantido, o que precisamos melhorar? Como tenho colaborado para melhoria desse espaço por meio do meu trabalho? Conforme ALMEIDA C; et al., (2018). Qual a qualidade dos instrumentos, procedimentos e processos avaliativos que usamos na instituição? Temos primado pela sua qualidade? Como são elaborados? Há participação de colegas? Sou aberto a essas avaliações ou temo que avaliem meu trabalho? Conforme ALMEIDA C; et al., (2018). De que maneira tem ocorrido a aproximação, contato e comunicação com a comunidade escolar? Quais as relações da escola com nosso público, desde a portaria da escola, passando pelo balcão da secretaria escolar até a sala da direção? Conforme ALMEIDA C; et al., (2018). Que projetos didáticos, interventivos ou outros foram elaborados considerando uma avaliação diagnóstica séria, em todos os componentes curriculares? Esses projetos atendem às necessidades dos estudantes? Como posso auxiliar minha escola a crescer nesse campo ou área? Conforme ALMEIDA C; et al., (2018). A rede conta com um documento que pode nos auxiliar nesta demanda: “Orientação pedagógica –Projeto político-pedagógico e coordenação pedagógica nas escolas”, disponível no sítio da SEEDF. Ele nos reporta à importância de nomearmos uma equipe composta por diferentes segmentos para que conduzamos esse processo com representatividade; todavia, não creditemos a essas pessoas todas as responsabilidades para com esse importante trabalho, conforme ALMEIDA C; et al., (2018). De acordo com ALMEIDA C; et al., (2018), todo trabalho requer alguma metodologia, assim como toda ação humana é movida por alguma intencionalidade. A professora Ilma Passos Veiga diz que nem toda mudança é para transformação, há mudanças que ocorrem para manutenção de algo ou de alguma ideologia. A escola 28 precisa refletir sobre isso, coletivamente, para que, em conjunto, possa agir por meio de estratégias bem elaboradas. Outras perguntas precisam ser respondidas: A mudança que queremos vai ao encontro do Currículo de Educação Básica da SEEDF, que é pautado na pedagogia histórico-crítica, na psicologia histórico-cultural e na avaliação formativa? Conforme ALMEIDA C; et al., (2018). A escola entendeu que além do Currículo de Educação Básica ela precisa fazer o planejamento da organização ou reorganização curricular para inserir em seu PPP? Conforme ALMEIDA C; et al., (2018). A escola compreende que planejar sua organização curricular implica rever as didáticas utilizadas nas salas de aula e as necessidades de aprendizagens dos estudantes em cada componente curricular, por ano, em cada ciclo de aprendizagem? Conforme ALMEIDA C; et al., (2018). 6.1 O projeto político pedagógico como elemento norteador das atividades escolares O projeto político-pedagógico é considerado como o grande projeto da escola, aquele que responde pela organização do e no tempo e espaço escolar. O objetivo deste instrumento é orientar toda e qualquer ação escolar por pressupostos construídos pela comunidade escolar (gestor interno e externo, professores, funcionários, pais e comunidade) sempre numa versão democrática de corresponsabilidades. Conforme Azevedo (2001, p. 312 apud PLATT A; et al., 2013): Democratizar é construir participativamente um projeto de educação (...) transformador e libertador, onde a escola seja laboratório de prática, de exercício e de conquista de direitos, de formação de sujeitos históricos autônomos, críticos e criativos, cidadãos plenos, identificados com os valores éticos, voltados à construção de um projeto social solidário que tenha na prática da justiça, da liberdade, no respeito humano (...) o centro de suas preocupações, conforme PLATT A; et al., (2013). No contexto de uma proposta que verifica a materialidade histórica, Gadotti (2004, p.34-35 apud PLATT A; et al., 2013) expressa de maneira significativa o papel o projeto político–pedagógico reconhecidamente como instrumento “competente e líder” por ser constituído emergencialmente de uma “natureza” que visa a autonomia e o processo democrático. Para isso, a “gestão democrática (...) exige, em primeiro 29 lugar, uma mudança de mentalidade de todos os membros da comunidade escolar”, porquanto a construção deste projeto político pedagógico (PPP) será o alvo ser perseguido. Conforme o próprio significado da palavra “projeto” (etimologicamente enquanto “lançar para frente”) será no desafio de “pensar e agir” política e pedagogicamente o cotidiano escolar de forma coletiva (quanto a diversidade, os determinantes e a conjuntura que existem e atuam na escola, com a escola e sobre a escola) que o PPP deve se pronunciar, no anúncio de seu conceito e na reflexão de sua prática. Veiga (1996, p. 12 e 13 apud PLATT A; et al., 2013) corrobora com nossa perspectiva quando conceitua a importância do projeto político pedagógico na vida escolar, o projeto político pedagógico vai além de um simples agrupamento de planos de ensino e de atividades diversas. O projeto não é algo que é construído e em seguida arquivado ou encaminhado às autoridades educacionais coo prova do cumprimento de tarefas burocráticas. Ele é vivenciado em todos os momentos, por todos envolvidos com o processo educativo da escola. O projeto busca uma direção. É uma ação intencional, com um sentido explícito, com um compromisso definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é, também, um projeto político por estar intimamente articulado ao compromisso sociopolítico com os interesses reais coletivos da população majoritária. É político no sentido de compromisso com a formação do cidadão para um tipo de sociedade, conforme PLATT A; et al., (2013). Diante destes aspectos, consideramos o papel central e incessante do PPP em vigiar a práxis escolar contra desvios autoritários que marcam ideológica e empiricamente a sociedade do capital, manifestando-se insistentemente nas diferentes nações, como a brasileira que possui um histórico institucional patrimonialista de cunho repressivo (CUNHA, 1986 apud PLATT A; et al., 2013). Falta-nos, entretanto, reconhecer que as marcas democráticas de um projeto político pedagógico se evidenciam precipuamente na tensão de seus pressupostos teleológicos, ou seja, na apresentação dos EIXOS FUNDAMENTAIS (ou norteadores) que definem a FINALIDADE das ações e reflexões realizadas na construção da rotina escolar. Neste sentido, nos debruçaremos ao estudo de dois dos quatro eixos que compõe sistemática, pedagógica e politicamente o PPP, conforme PLATT A; et al., (2013). 30 6.2 Os eixos fundamentais do projeto político Existem várias estratégias para a composição daquilo que se constituirá num projeto político-pedagógico. Em Vasconcelos (2008 apud PLATT A; et al., 2013) determina-se a construção do PPP a partir de fases que se denominarão de “marco”; em Veiga (1998 apud PLATT A; et al., 2013) estas fases serão descritas como “ato”. Neste estudo, no entanto, denominaremos “corpo” enquanto estratégia de articulação do PPP e, objetivamente, para a compreensão do que seja “eixo fundamental” neste estudo. Denominamos de “corpo” porquanto aludimos sua ideia a uma totalidade em si que constituirá outra realidade total; ou seja, são integrais em si, portanto, não considerada numa composição de natureza “etapista” para a compreensão político- reflexiva do termo e da ação que de si depreende. O movimento deste processo de construção do PPP se constituirá num corpo situacional, corpo conceitual e corpo operacional, como explicaremos a seguir. A função do corpo situacional é apreender o movimento interno da escola, conhecer seus conflitos e contradições, fazer seu “diagnóstico” e definir onde é prioritário agir. De acordo com Veiga (1998, p.23-24 apud PLATT A; et al., 2013). O ato situacional descreve a realidade na qual desenvolvemos nossa ação; é o desvelamento da realidade sociopolítica, econômica, educacional e ocupacional. Significa, portanto, ir além da percepção imediata. É o momento de desvelar os conflitos e as contradições postas pela prática pedagógica; é apreender seu movimento interno, de tal forma que se possa reconfigurá-la, fortalecida pela reflexão teórico-prática, conforme PLATT A; et al., (2013). De acordo com PLATT A; et al., (2013), no corpo conceitual (que constitui o objeto do presente estudo), a escola discute a concepção de sociedade, ser humano, educação e a função social da escola visando um esforço teleológico que definirá as prioridades que devem ser constituir a práxis escolar. Ainda segundo a autora (idem, p.25) sobre o ato conceitual: Diz respeito à concepção ou visão de sociedade, homem, educação, escola, currículo, ensino e aprendizagem. Diante da realidade situada, retratada, constatada e documentada. Neste momento conceitual, devem também ser considerados os eixos norteadores do projeto, conforme PLATT A; et al., (2013). 31 O corpo operacional refere-se como realizar as atividades a serem assumidas paramudar a realidade da escola, implica a tomada de decisão para atingir os objetivos e as metas definidas coletivamente. Neste último tópico Veiga (1998, p.26 apud PLATT A; et al., 2013) alude que na operacionalização do projeto pedagógico, o que se faz é verificar se as decisões foram acertadas ou erradas e o que é preciso revisar ou reformular. Tendo em vista as diferentes circunstâncias, pode-se tornar necessário tanto alterar determinadas decisões quanto introduzir ações completamente novas. Uma vez explorados os conceitos que compõem o PPP gostaríamos de destacar no corpo conceitual dois eixos que fundamentam o projeto político pedagógico e orientam a rotina escolar revestindo-lhe de objetividade e teleologia. Serão eles a “Visão de Ser Humano” e a “Função Social da Escola”, conforme PLATT A; et al., (2013). 6.3 A visão de ser humano Saviani (2003, p 133 apud PLATT A; et al., 2013) destaca a categoria “trabalho” enquanto elemento fundamental para a constituição do que seja “ser humano”. Diz-nos o autor, ora, o que define a existência humana, o que caracteriza a realidade humana é exatamente o trabalho. O homem se constitui como tal à medida que necessita produzir continuamente sua própria existência. É o que diferencia o homem dos animais: os animais têm sua existência garantida pela natureza e, por consequência, eles se adaptam à natureza. O homem tem de fazer o contrário: ele se constitui no momento em que necessita adaptar a natureza a si, não sendo mais suficiente adaptar-se à natureza. Ajustar a natureza às necessidades, às finalidades humanas, é o que se faz pelo trabalho. Trabalhar não é outra coisa senão agir sobre a natureza e transformá-la. A partir desta assertiva o ser humano será reconhecidamente um indivíduo que se encontra em processo de formação e transformação por meio do trabalho. Através das relações estabelecidas com a natureza da produção que o homem tem suas experiências, passa a atuar no meio em que vive e complexifica seu processo de existência. E isso não será ato solitário, mas é produto de ato relacional (relações sociais originais às suas relações de produção), conforme PLATT A; et al., (2013). Compreender-se-á o ser humano, enquanto sujeito e objeto de transformação do meio em que vive, de si mesmo e dos outros que objetivamente responde por sua existência. A formação deste sujeito e as complexidades conquistadas como respostas às necessidades que surgem originam um corpo de saberes que são 32 continuamente construídos e ensinados a cada geração de humanos que surgem. Este corpo de saberes ensinados se denominará educação. Por educação podemos entender o significado de “tornar-se a ser humano” uma vez que o objeto da educação será a “produção da humanidade em cada indivíduo”), conforme PLATT A; et al., (2013). Segundo Angeli (2009, p. 20 apud PLATT A; et al., 2013) “a formação humana traz em si uma proposta pedagógica” porquanto elabora as bases de um “humanismo histórico” que se pretende omnilateral porquanto revolucionária, diferente da proposta burguesa de formação especialista/parcializada. Os seres humanos nesta visão de formação eliminam o fosso que contrapõe cultura e trabalho (idem). 6.4 A visão da função social da escola De acordo com Saviani (1995, p. 22 e 23 apud PLATT A; et al., 2013), a escola é uma instituição social com objetivo explícito: a transmissão e assimilação dos saberes epistemologicamente sistematizados pela humanidade enquanto produto da história, ao tratar do papel da escola: a escola é uma instituição cujo papel consiste na socialização do saber sistematizado ao conhecimento elaborado, sistematizado, erudito. A escola existe, pois, para propiciar a aquisição dos instrumentos que possibilitem o acesso ao saber elaborado (ciência). As atividades da escola básica devem se organizar a partir dessa questão. A escola no desempenho de sua função social (enquanto formadora de sujeitos históricos) se destaca enquanto um espaço de sociabilidade revestido da possibilidade de construção do conhecimento cientificamente produzido. Esta instituição influencia significativamente na constituição do que se reconhece no processo de humanidade e, consequentemente de mundo, conforme PLATT A; et al., (2013). O tempo da escola é encarado cada vez mais como oportunidade de uma socialização-vivência a mais plena possível dos profissionais e dos alunos. Há novas dimensões da formação humana recolocadas hoje nas lutas pelo direito a educação. Nossas escolas estão sintonizadas com esse movimento. A estreita concepção de educação está sendo alargada dentro delas. (...) profissionais e (...) alunos tentam encontrar espaços legítimos nos currículos (...). (II CONGRESSO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO/ESCOLA PLURAL, 2002, p. 13 apud PLATT A; et al., 2013). 33 O destaque a este papel da escolarização se encontra no lastro que o complementa numa visão de ser humano omnilateral cujo objetivo está na formação plena (e por todos os lados) dos sujeitos em relação, conforme PLATT A; et al., (2013). 7 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO CONTEXTO ESCOLAR Fonte: semprematerna.com.br Segundo Ghiraldelli (1991, p.23 apud ZAIAS D; 2008), “A palavra Pedagogia está ligada ao ato de condução ao saber. E, de fato, a pedagogia tem, até hoje, a preocupação com os meios, com as formas e maneiras de levar o indivíduo ao conhecimento”. Já para Silva (1999 apud ZAIAS D; 2008), no decurso da história do Ocidente, a Pedagogia firmou-se como correlata da educação. Neste sentido, a prática educativa é um fato social, cuja origem está ligada à da própria humanidade. A compreensão do fenômeno educativo e sua intervenção intencional fez surgir um saber específico que modernamente associa se ao termo Pedagogia. Assim a indissociabilidade entre a prática educativa e a sua teorização elevou o saber pedagógico ao nível cientifico. 34 Para Libâneo (2008 p.21 apud ZAIAS D; 2008) “Pedagogia é, o campo do conhecimento que se ocupa do estudo sistemático da educação, isto é, do ato educativo, da prática educativa correta que se realiza na sociedade como um dos ingredientes básicos da configuração da atividade humana”. Pedagogia, sintetizando esses conceitos é um conjunto de processos, ações, que de certa forma intervém no desenvolvimento humano de grupos e indivíduos na relação ativa com o meio social e natural no contexto de relações entre grupos e classes sociais, ou seja, é uma prática social que atua na formação da existência humana individual e também grupal para de certa forma realizar nos sujeitos humanos as devidas características de “ser humano”, conforme ZAIAS D; (2008). O pedagogo de certa forma é um especialista em educação, certamente sua função é produzir e também difundir conhecimentos no campo educacional. Este precisa, no entanto, ser capaz de atuar em diversas áreas educativas, compreender a educação como um fenômeno social e cultural, contudo é preciso ter capacidade de execução de planos, de planejamento, dinamismo, além de saber comunicar e transmitir ideias”, conforme ZAIAS D; (2008). Na concepção de Libâneo (2008 apud ZAIAS D; 2008), o Pedagogo é o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa direta ou indiretamente ligada à organização e aos processos de transmissão e assimilação de saberes e modo de ação, tendo em vista objetivos de formação humana previamente definidos em sua contextualização histórica. Assim como profissional da educação que exerce uma função relevante, de certa forma pode afirmar que o Pedagogo tem a necessidade de experimentar possibilidades de agir, pensar e principalmente compreender seu papel dentro da sociedade para que possa criar formas de permitir, ser construtor de sua própria história, ou então, um dentre vários os autores sociais que possam possibilitar a mudança e a transformaçãodo “mundo” em um espaço mais humano, através de ações competentes, participativas e democráticas, conforme ZAIAS D; (2008). 35 Entretanto, diante da complexidade das funções desenvolvidas, o Pedagogo precisa de uma formação profissional que possa lhe alicerçar sua devida prática pedagógica. Enfatiza Houssaye (2004, p. 10 apud ZAIAS D; 2008) que o Pedagogo é aquele que procura conjugar teoria e prática a partir de sua própria ação. Contudo, o Pedagogo não pode ser um puro e simples prático nem um puro e simples teórico. Será considerado Pedagogo aquele que fizer surgir um plus na e pela articulação teoria-prática em educação. Com isso se faz necessário que o Pedagogo conheça saberes que o fundamentem no seu fazer pedagógico. Saberes esses que darão sustentação ao seu trabalho. No entanto conceber a prática do Pedagogo como uma prática política é necessariamente entende-lo como um agente político. Ainda se constituindo como sujeito da construção de sua cidadania aliado aos seus pares. Nesta dimensão considera-se a reflexão de Aranha (1996.p.11910 apud ZAIAS D; 2008), se os valores estão na base de todas as nossas ações, é inevitável reconhecer sua importância para a práxis educativa, no entanto, os valores transmitidos pela sociedade nem sempre são claramente tematizados e até mesmo muitos educadores não baseiam sua prática em uma reflexão mais atenta a respeito. Assim sendo, o trabalho do Pedagogo deve ser permeado em uma compreensão histórica da sociedade com o intuito, de desenvolver uma prática contextualizada visando com tudo a inserção do educando no mundo do trabalho, da sociabilidade e também no mundo da cultura simbólica. Deve utilizar o conhecimento para compreender a capacidade do espírito humano, construir para todos os aspectos da experiência vivida pelos professores e alunos um determinado sentido, conforme ZAIAS D; (2008). O curso de Pedagogia passou por diversas reformulações desde a sua concepção até os dias atuais. A trajetória histórica e legal da formação do profissional pedagogo fundamentou-se por longos anos, na fragmentação do trabalho educativo, ora no bacharelado, ora na docência; ou ainda compartimentalizado em habilitações justificadas pela “melhor formação deste profissional para o mercado de trabalho (escola), bem como pela necessidade de melhorar a qualidade do ensino”. (SÁ, 2006, p. 64 apud NEGOSEKI C; 2018). 36 De acordo com NEGOSEKI C; (2018) após a promulgação da LDB n. 9394/96 e da instituição das (DCNs - Diretrizes Curriculares Nacionais), houve uma reconfiguração da formação do pedagogo extinguindo-se, a partir de então, as habilitações fragmentadas. Todavia, o que se observa ainda hoje é que a função do pedagogo se encontra carregada de inculcações, de incertezas e de busca por respostas sobre quem é o pedagogo, qual sua área de atuação e quais suas funções. Tais incertezas e indefinição prejudicaram, em grande parte, a formação da identidade desse profissional e, consequentemente, a desvalorização dessa profissão. Para entendermos as funções do pedagogo escolar na atualidade, importa retomar o contexto histórico, acerca do Parecer n. 252/69 do (CFE- Conselho Federal de Educação), o qual se tornou “o marco legal para a implantação dessas duas funções na escola”, a supervisão escolar e a orientação educacional. (SÁ, 2004, p. 7 apud NEGOSEKI C; 2018). Os alunos formados em quaisquer dessas habilitações ocupariam, nas escolas, os cargos referentes às suas habilitações (supervisor escolar e orientador educacional). Caso fosse questionado a algum desses alunos que estudaram nessa época quem era o pedagogo da escola, certamente não saberiam a quem se referir, pois nas escolas existiam salas exclusivas para a “Supervisão” e para a “Orientação”. Devido ao modelo fragmentado do trabalho do pedagogo, esses profissionais atuavam nas escolas organizando as suas próprias atividades, individualmente. Ao supervisor escolar cabia a função de providenciar encaminhamentos relacionados ao corpo docente o que envolvia “a tarefa de coordenar e orientar o ensino, fazendo com que a legislação federal pudesse ser implantada”. (SÁ, 2004, p. 12 apud NEGOSEKI C; 2018). Almeida e Soares (2010, p. 26 apud NEGOSEKI C; 2018) complementam as ideias de Sá (Ibidem) ao definir as funções do supervisor escolar, era aquele profissional responsável por vistar os livros de chamadas/frequências dos alunos em cada série, turma e área do conhecimento, tinha a responsabilidade de cobrar os planejamentos dos professores, verificando além da sua elaboração, o processo de sua execução dentro das normas preestabelecidas, também cabia a ele analisar os resultados alcançados no processo de ensino aprendizagem, propondo as modificações necessárias. 37 O orientador educacional atendia assuntos relacionados aos alunos, aos pais e à comunidade, tais como dificuldades de aprendizagem, problemas familiares que afetam o processo de ensino-aprendizagem do aluno, entre outros. De acordo com Giacaglia e Penteado (2011, p. 6 apud NEGOSEKI C; 2018), “é um profissional técnico, da área de educação, que exerce uma profissão de apoio a pessoas e, portanto, de natureza assistencial”, tendo um enfoque mais psicológico, ressaltando o ajustamento do aluno à escola, à família e à sociedade. A organização da escola foi fortemente influenciada pelo modo de produção capitalista, influência esta evidenciada na divisão do trabalho pedagógico, passando o supervisor escolar a treinar os professores e gerenciar as ações dos mesmos de forma hierarquizada, e o orientador educacional a atuar diretamente com os alunos, conforme NEGOSEKI C; (2018). Esse modelo fragmentado de formação e atuação do pedagogo perdurou por muitos anos. Em 2006, as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia, formuladas após a promulgação da (LDB n. 9.394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), extinguiu as habilitações de supervisão escolar e orientação educacional, pois entendeu que essas funções são inerentes e indissociáveis à formação integral do pedagogo. Almeida e Soares (2010, p. 38 apud NEGOSEKI C; 2018) descrevem que nesse sentido, o papel do pedagogo, tanto como supervisor escolar como orientador educacional, passa de uma função controladora, fiscalizadora, individualista e burocratizada para uma função de acompanhamento, apoio e suporte pedagógico calcada na organização coletiva do trabalho escolar. Sá (2006, p. 74 apud NEGOSEKI C; 2018) afirma que, a partir desta nova configuração da atuação do pedagogo, a formação deste profissional precisou ser repensada, entende-se que a nova formação do Pedagogo enquanto intelectual, deverá sofrer os reflexos das novas demandas, porque o novo paradigma que é gestado no novo princípio educativo, rearticulando o processo de concepção e execução prevê a possibilidade da unitariedade do conhecimento e não mais sua fragmentação, portanto o novo princípio educativo organizador aponta, por consequência, para uma nova concepção do trabalho pedagógico. 38 O pedagogo deve romper com as contradições e incertezas historicamente impostas na busca pela sua identidade profissional, assumindo os desafios que permeiam a constituição da sua identidade como um construto social. Neste sentido, caracteriza-se a construção da identidade como um processo complexo, conflituoso, porém dinâmico. Complexo por envolver o pessoal, o profissional, a interação com as situações da profissão e por abarcar a concepção do pedagogo como sujeito do conhecimento, capaz de construir saberes e práticas, conforme NEGOSEKI C; (2018). Sobre a identidade do pedagogo, Franco (2008, p. 110 apud NEGOSEKI C; 2018) esclarece que o pedagogo será aquele profissional capaz de mediar teoria pedagógica e práxis educativa e deverá estar comprometido com a construção de um projeto político
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