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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE DEPARTAMENTO DE MEDICINA CASO CLÍNICO 1 Infecção aguda pelo HIV JOYCE MARIA DE OLIVEIRA BENDER RA: 61021140019 Turma Geral A Professor Abrão Guarapuava, 30 de novembro de 2021 1. Resumo do caso Mulher, 20 anos, casada, G1P0C0, 18 semanas de gestação, apresenta linfonodos indolores na região cervical bilateralmente, submandibulares e mentonianos. Surgimento de lesões na cavidade oral há 2 semanas. Paciente queixa-se de febre e calafrios, fadiga, rash cutâneo e relata perda de peso, além de cefaleia e fotofobia eventuais. 2. Problema Clínico Infecção aguda pelo HIV. 3. Diagnóstico principal 3.1. HIV O HIV é um vírus da família Retroviridae (vulgarmente chamado de retrovírus), tendo seu ácido nucleico formado por RNA quando se encontra em sua forma livre (vírion), que pela ação da enzima chamada transcriptase reversa, integra-se no núcleo celular das células CD4+ na forma de DNA (provírus). Após a formação do provírus o HIV perverte a maquinaria celular ao seu próprio benefício, na qual se replica destruindo a célula hospedeira. Conhece-se por distinção molecular dois tipos de HIV: • HIV-1, de distribuição universal e subdividido em 3 grupos: O, M e N - grupo M ainda é subdividido em outros 9 subtipos e 12 formas recombinantes circundantes (CRF); • HIV-2, restrito à África ocidental. A microscopia eletrônica mostra que o vírion do HIV é uma estrutura icosaédrica que contém numerosas espiculas externas formadas pelas duas proteínas principais do envoltório, a GP120 externa e a GP41 transmembrana. O vírion brota da superfície da célula infectada e incorpora várias proteínas do hospedeiro, incluindo antígenos do complexo de histocompatibilidade principal (MHC) das classes I e II, em sua bicamada lipídica. A molécula CD4, presente na superfície de linfócitos T auxiliadores (T4), parece funcionar como o principal receptor celular para o HIV, permitindo sua entrada na célula hospedeira. Entretanto, pelo menos dois outros grupos de receptores são necessários para a entrada do vírus na célula (CCR5 e CXCR4). Com o propósito de vigilância epidemiológica, o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos criou uma classificação clínico-laboratorial para portadores de HIV. O sistema baseia-se em três faixas de contagens de linfócitos T CD4+ e em três categorias clinicas e é representado por uma matriz de nove categorias mutuamente excludentes. De acordo com esse sistema, qualquer indivíduo infectado pelo HIV com contagem de células T CD4+ < 200/µL tem Aids por definição, independentemente da presença de sintomas ou doenças oportunistas. Depois que os pacientes apresentam um distúrbio clínico da categoria B, a classificação de sua doença não pode reverter para a categoria A, mesmo que o distúrbio regrida; o mesmo ocorre com a categoria C em relação a categoria B. Sistema de classificação revisto em 1993 para infecção pelo HIV e definição ampliada de casos para vigilância epidemiológica da aids dos adolescentes e dos adultos Categorias Clínicas Categorias de contagem de células T CD4+ A: Infecção assintomática, aguda (primária) por HIV, ou LGP (Linfadenomegalia generalizada persistente) B: Distúrbios sintomáticos, não classificáveis em A ou C C: Condições que definem AIDS > 500/µL A1 B1 C1 200 a 499/µL A2 B2 C2 < 200/µL A3 B3 C3 Fonte: Adaptado de Harrison O HIV e transmitido principalmente por relações sexuais (heterossexuais e homossexuais masculinas), pelo sangue e hemocomponentes e pelas mães infectadas aos seus filhos nos períodos intraparto e perinatal, ou durante o aleitamento materno. Depois de cerca de 30 anos de pesquisa, não ha evidencias de que o HIV seja transmitido por contato casual ou que o vírus possa ser propagado por insetos. Em cerca de 20 a 30% dos casos, logo após a contaminação, poderão ocorrer alguns sintomas, como por exemplo: infecção aguda com febre, erupção cutânea, aumento de linfonodos, discreta hepatoesplenomegalia e alterações hematológicas semelhantes à síndrome da mononucleose infecciosa. A síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) é um estágio bem avançado da doença que abre as portas do corpo para infecções oportunistas (IO). 3.2. Tratamento A primeira droga antirretroviral específica surgiu em 1987 com a zidovudina ou AZT, análogo nucleosídeo inibidor da transcriptase reversa viral (INTR), que demonstrou eficácia pelo menos parcial na inibição da replicação viral. Outros antirretrovirais foram posteriormente aprovados para uso clínico. Outro grupo de drogas inibidoras de transcriptase reversa não análogos nucleosídeos (INNTR), com ação no mesmo sítio, foi desenvolvido e liberado para uso clínico, sempre em associação medicamentosa devido ao seu alto grau de indução de resistência quando em monoterapia. A partir de 1996, estudos multicêntricos demonstraram a utilidades de nova classe de antirretrovirais, os inibidores de proteases (IP), a qual apresentava importante benefício clínico, principalmente quando da associação desse grupo de drogas com os inibidores de transcriptase reversa. Atualmente, é consenso que o tratamento antirretroviral específico deve ser composto por associação de drogas. As diversas associações de drogas antirretrovirais possíveis, que visam a supressão plasmática viral, são hoje reconhecidas como tratamento antirretroviral altamente ativo (HAART), proporcionando redução dos níveis plasmáticos de RNA do HIV-I para níveis abaixo da capacidade de detecção do teste e paralelamente aumento da contagem de linfócitos T CD4+. 3.3. Métodos diagnósticos A suspeita clínica de infecção aguda pelo HIV pode ser confirmada quantitativamente ou qualitativamente pela mensuração de ácidos nucleicos do vírus (carga viral – PCR). Na evolução da infecção viral alguns indivíduos desenvolvem o quadro de linfadenomegalia generalizada persistente (LGP), caracterizada pela presença de gânglios maiores que 1 cm de diâmetro em duas ou mais cadeias não inguinais. À biopsia desses linfonodos encontra-se acentuada hiperplasia folicular reacional e as recentes técnicas de detecção antigênica demonstram a presença de intensa replicação viral. A presença de febre prolongada, perda de mais de 10% do peso corporal, diarreia persistente, com algumas alterações laboratoriais, caracterizam o quadro de complexo relacionado à AIDS ou doença constitucional, traduzindo a fase de estado da doença. • Testes sorológicos para triagem: O ensaio imunoenzimático ou ELISA é o mais amplamente utilizado devido à sua sensibilidade, especificidade, baixo custo, facilidade de automação e praticidade. A partir do momento que o teste é positivo, uma diretriz do Ministério da Saúde impõe que a sorologia seja confirmada como novo teste de ELISA e, mova amostra coletada seguida de teste confirmatório. • Testes sorológicos confirmatórios: Reação de imunodeficiência indireta (técnica utilizada na maioria dos laboratórios da rede pública de saúde, sendo bastante específico); Reação de imunoeletrotransferência ou Western Blot (fornece grande volume de informações, apresenta a vantagem de especificar a presença de anticorpos contra determinadas proteínas do vírus, porém tem custo elevado); Teste rápido (semelhante ao ELISA, pode ser executado em 10 a 20 minutos). • Detecção de ácidos nucleicos do HIV-1: As técnicas de reação de polimerização em cadeia (PCR) ou similares (técnicas de bDNA ou NASBA) dirigidas para o DNA pós viral ou RNA do HIV-1 permitem a verificação e a quantificação de ácidos nucleicos virais. Tem elevadas sensibilidade e especificidade, sendo que permitem a amplificação a partir de poucas dezenas de cópias do ácido nucleico. Essas técnicas não são superiores à sorologia para o estabelecimento do diagnóstico de infecção viral, enão devem ser utilizadas para tal fim. Entretanto, em algumas circunstâncias, desempenham papel importante, tais como, no estabelecimento do diagnóstico de infecção retroviral aguda (quando os anticorpos ainda não estão presentes) e no diagnóstico da infecção neonatal pelo HIV (quando a presença de anticorpos pode não significar infecção do recém-nascido, mas transferência da carga passiva de anticorpos da mãe). 3.4. Relação HIV x Gestação A infecção pelo HIV pode ser transmitida da mãe infectada para o feto durante a gravidez e o parto, ou pelo aleitamento materno. A gestação acelera a evolução da doença nas mães portadoras do vírus e cerca de 20% dos recém-natos de mães aidéticas não medicadas também carregam o HIV, assim a importância do seu estudo na gestação reside no esforço de reduzir as taxas de transmissão vertical, que pode ocorrer por via transplacentária, intraparto por inoculação direta ou através da amamentação. Estudos virológicos dos fetos abortados indicaram que o HIV possa ser transmitido ao feto durante o primeiro ou o segundo trimestre de gestação. Entretanto, a transmissão materna para o feto ocorre mais comumente no período perinatal. Dois estudos realizados em Ruanda e no antigo Zaire indicaram que as percentagens relativas de transmissão materno-infantil eram de 23 a 30% antes do nascimento, 50 a 65% durante o nascimento e 12 a 20% durante a amamentação. Nos países desenvolvidos, as recomendações atuais para reduzir a transmissão perinatal do HIV incluem: teste voluntario universal para HIV e aconselhamento das mulheres grávidas; profilaxia antirretroviral com um ou mais fármacos nos casos em que a mãe não necessita de tratamento para a infecção pelo HIV; tratamento antirretroviral combinado para mulheres que necessitam de tratamento; intervenções obstétricas que procuram reduzir a exposição do lactente ao sangue e as secreções genitais maternas; e abstinência do aleitamento materno. O aleitamento materno e um mecanismo importante de transmissão da infecção pelo HIV nos países em desenvolvimento, sobretudo naqueles em que as mães continuam a amamentar por períodos longos. 4. Diagnósticos diferenciais 4.1. Sífilis A sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) curável e exclusiva do ser humano, causada pela bactéria Treponema pallidum. Pode apresentar várias manifestações clínicas (feridas, ínguas, manchas no corpo, febre, mal-estar, etc) e diferentes estágios (sífilis primária, secundária, latente e terciária). Nos estágios primário e secundário da infecção, a possibilidade de transmissão é maior. A sífilis pode ser transmitida por relação sexual sem camisinha com uma pessoa infectada ou para a criança durante a gestação ou parto. A infecção por sífilis pode colocar em risco não apenas a saúde do adulto, como também pode ser transmitida para o bebê durante a gestação. O acompanhamento das gestantes e parcerias sexuais durante o pré-natal previne a sífilis congênita e é fundamental. 4.2. Leishmaniose Doença infecciosa, porém, não contagiosa, causada por parasitas do gênero Leishmania. Os parasitas vivem e se multiplicam no interior das células que fazem parte do sistema de defesa do indivíduo, chamadas macrófagos. Há dois tipos de leishmaniose: leishmaniose tegumentar ou cutânea e a leishmaniose visceral ou calazar. A leishmaniose tegumentar http://www.saude.gov.br/ist caracteriza-se por feridas na pele que se localizam com maior frequência nas partes descobertas do corpo. Tardiamente, podem surgir feridas nas mucosas do nariz, da boca e da garganta. Essa forma de leishmaniose é conhecida como “ferida brava”. A leishmaniose visceral é uma doença sistêmica, pois, acomete vários órgãos internos, principalmente o fígado, o baço e a medula óssea. Esse tipo de leishmaniose acomete essencialmente crianças de até dez anos; após esta idade se torna menos frequente. É uma doença de evolução longa, podendo durar alguns meses ou até ultrapassar o período de um ano. A leishmaniose é transmitida por insetos hematófagos (que se alimentam de sangue) conhecidos como flebótomos (mosquito palha). Os sintomas variam entre febre, palidez, falta de apetite, hepatoesplenomegalia, feridas com secreção purulenta, dentre outros. O diagnóstico da leishmaniose é realizado por meio de exames clínicos e laboratoriais e, assim como o tratamento com medicamentos, deve ser cuidadosamente acompanhado por profissionais de saúde. Sua detecção e tratamento precoce devem ser prioritários, pois ela pode levar à morte. 4.3. Toxoplasmose A Toxoplasmose é uma infecção muito comum, causada pelo protozoário Toxoplasma gondii e apresenta quadro clínico variado, desde infecção assintomática a manifestações sistêmicas extremamente graves. As principais vias de transmissão são a oral e congênita. A via oral consiste na ingestão de carne contaminada crua ou mal cozida, que não teve o processamento térmico adequado. A congênita consiste na transmissão da doença adquirida pela mãe, durante a gestação, ao feto, via transplacentária. O Gato é o hospedeiro definitivo e normalmente se infecta com o Toxoplasma quando se alimenta da carne crua ou caçando animais que contenham cistos do protozoário. Ele eventualmente elimina os oocistos nas fezes, mas isso ocorre quando ele ainda é jovem e por apenas alguns dias. Estima-se que apenas aproximadamente 1% da população felina elimine oocistos de Toxoplasma no meio ambiente o que faz com que a forma de infecção por contato direto com o gato seja bastante improvável. A maioria dos casos de toxoplasmose é assintomática ou apresenta sintomas bastante inespecíficos, como cansaço, mal-estar, dor de cabeça, dor de garganta, dor muscular e sintomas sugestivos: linfadenopatia retroauricular e cervical (ínguas na região do pescoço e orelhas), febre persistente, hepatoesplenomegalia, exantema e outros. Mesmo na ausência de sintomatologia, o diagnóstico da infecção pelo Toxoplasma gondii na gravidez é extremamente importante, tendo como objetivo principal a prevenção da toxoplasmose congênita e suas sequelas. 4.4. Linfoma e Leucemia O linfoma é um tipo de câncer que afeta os linfócitos, que são células responsáveis por proteger o corpo de infecções e doenças. Este tipo de câncer desenvolve-se principalmente nos linfonodos, também conhecidos como ínguas, que se encontram na axila, virilha e pescoço, levando à formação de caroços e que pode causar sintomas como febre, suor noturno, cansaço excessivo e emagrecimento sem causa aparente. Em geral, o linfoma é mais comum em adultos do que em crianças, sendo que, algumas pessoas podem ter maior risco de desenvolver a doença, como aquelas que têm histórico familiar de linfoma, que têm alguma doença que provoca imunidade baixa ou que foram infectadas por certos vírus como HIV, Epstein-Barr ou HTLV-1. Os principais sintomas do linfoma são febre constante, suor noturno e presença de linfonodos aumentados, percebidos pela presença de caroços no pescoço, axila ou virilha. Outros sintomas que podem ser indicativos de linfoma são: Cansaço excessivo; Coceira; Mal- estar; Perda do apetite; Emagrecimento sem causa aparente; Falta de ar e tosse. O diagnóstico dos dois tipos de linfoma é feito através de exames de sangue, exames de imagem e biópsia de medula óssea e o tratamento é baseado, principalmente, na realização de quimioterapia, radioterapia e transplante de medula óssea. Se for diagnosticado precocemente e se o inicio do tratamento for feito o quanto antes, as chances de cura do linfoma são altas. Na leucemia, as células malignas começam a se multiplicar na medula óssea, enquanto que no linfoma, o câncer se inicia nos linfonodos, ou ínguas. Além disso, apesar de alguns sintomas serem parecidos, como febre e suores noturnos, na leucemia é mais comum acontecer sangramento e surgir manchas roxas pelo corpo, eno linfoma, ocorre mais coceiras na pele. 5. SCRIPTS S C R I P T S - Linfonodos - Lesões na cavidade oral (gengiva interna e região sublingual) - Exsudato - Febre alta e calafrios - Fadiga - Rash cutâneo - Perda de peso - Cefaleia e fotofobia 2 semanas - Gestante - Vacinação ok - Caxumba e varicela na infância - Tonsilectomia na infância - Mãe diabética - Aves - Infeccioso - Neoplásico A depender do tratamento - Linfopenia - Plaquetopenia - Leucocitúria - Escherichia Coli Coquetéis Referências Bibliográficas BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Recomendações para profilaxia da transmisão vertical do HIV e terapia antirretroviral em gestantes: guia de tratamento. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. (Série Manuais, n.46). LONGO, Dan L. et al. Medicina Interna de Harrison – Volume 1 - 18ª Edição. Editora Artmed, McGraw-Hill, Rio de Janeiro 2013. PRADO, Felicio C.; RAMOS, Jairo A.; VALLE, Durval R. Atualização Terapêutica: Manual Prático de Diagnóstico e Tratamento. São Paulo: Artes Médicas, ed. 22, 2005.
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