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Realismo - Os Quebradores de Pedra, de Gustave Courbet.

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Análise da obra realista Os Quebradores de Pedra, de Gustave Courbet.
Beatriz Massarelli, 2020.
Introdução
Nesta referente análise trago uma breve abordagem a cerca do Movimento Realista,
apresentando o contexto histórico e social no qual este estava inserido. Em seguida, tratarei a
respeito da produção do pintor francês Gustave Courbet e sua importância como expoente na
produção visual realista, realizando uma análise imagética da sua pintura Os Quebradores de
Pedra.
O Realismo emerge em meio ao séc XIX na França, triunfando com as produções de
Gustave Flaubert, na produção literária, e Gustave Courbet, na produção de pinturas. O
movimento artístico expressou um afastamento formal e estilístico das representações
idealizadas e da pintura histórica acadêmica. Em meio a uma sociedade francesa envolta em
transformações sociais significativas, como o direito universal ao voto, que proporcionou voz
política à população não abastada, o cientificismo reinara como pensamento vigente, trazendo
aos indivíduos a necessidade de ater-se à realidade.
Fora de escolha dos artistas locais apresentar em suas produções retratos que
proporcionassem aproximação do espectador com a vivência do povo. Isso era exprimido
através de um estilo de pintura naturalista fundamentada na observação. Camponeses e a
classe trabalhadora urbana eram o objeto de interesse de muitos artistas, como o Courbet, por
exemplo. No que apresentava, temática e visualmente, o Realismo trazia para a arte a
sensação de sobriedade, de forma que a valorização do objeto e a expressão significativa da
realidade e dos aspectos descritivos fossem base para a construção visual e a conceitualização
da obra.
Gustave Courbet (1819-1877) fora pintor e grande destaque na produção visual
realista. Nascido no leste francês, fora filho de Eléonor-Régis, um próspero fazendeiro, e
Sylvie Courbet. Mudou-se para Paris em 1841 com o intuito de estudar direito, mas
dedicou-se futuramente ao estudo de pinturas. Com o apoio de seu pai, realizava longas
visitas diárias ao Museu do Louvre, com o intuito de replicar pinturas que lhe atraíam. Obteve
grande proficiência técnica ao reproduzir obras de grandes pintores do século XVII, como
Velázquez e José de Ribera.
Courbet fora um homem de grande pragmatismo político, e obteve notoriedade ao
desafiar o gosto convencional por pinturas históricas e temas poéticos através de uma
abordagem política da realidade: retratou em suas telas a vida cotidiana das classes populares,
manifestando simpatia pelos trabalhadores e pelas classes mais pobres do séc XIX. Em seu
trabalho, as figuras não eram apresentadas de maneira romantizada, glorificada ou amena,
como podemos observar nas retratações de escravos realizadas por Debret (1768 - 1848), por
exemplo. Courbet optava por exibi-las com uma urgência realista, de modo a reproduzir essas
figuras com precisão e objetividade, mantendo distanciamento do conceito de idealização,
presente na tradição clássica e romântica. Para JANSON (1977), Coubert, de origem rural,
concluiu que a ênfase romântica era apenas uma fuga da realidade, e por essa razão, aceitou o
desafio de expressar o real.
Assim como aponta a ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras
(2020), o pintor fora simpatizante das posições anarquistas de Pierre Proudhon, escritor do
livro A Filosofia da Miséria, quanto a organização da sociedade vigente, e possuiu
participação efetiva durante a Comuna de Paris. É claro para nós que suas proposições
estéticas possuíam ligação direta com seu posicionamento político. A pintura em si, concreta
por sua excelência, aplicava-se através da observação e do registro de objetos reais e da
natureza. A respeito de Os Quebradores de Pedra (1849), obra da qual discorrerei a fundo
posteriormente, Courbet comenta: "Não inventei nada. Todos os dias, ao fazer minhas
caminhadas, via as pessoas miseráveis desse quadro".
1
Análise da obra Os Quebradores de Pedra (1849).
Gustave Courbet, Os Quebradores de Pedra, 1849, óleo s/ tela. 1,65 m x 2,57 m. Disponível em: https://br.pinte
rest.com/pin/407857309985321207/. <Acesso: 04/04/2020>.
Em Os Quebradores de Pedra (1849) é abordada e questionada as árduas condições
de trabalho da população camponesa francesa. Em sua pintura, Courbet apresenta duas
figuras masculinas quebrando grandes blocos de pedra em fragmentos menores, em meio a
um campo de centeio. Uma das figuras, velha demais a condição de trabalho, encontra-se
enquadrada em perfil, apoiada em seus joelhos, enquanto que a outra, nova demais,
é retratada em pé, de costas.
Através de uma leitura formal da obra podemos notar alguns aspectos estéticos que a
compõem. A escolha de cores apresentada pelo artista preenche a gama dos tons terrosos,
presentes nas vestimentas dos camponeses e na composição do espaço. Nota-se alta presença
de ocre na retratação do solo seco, e sob as pedras, acinzentadas, cobertas por uma camada
dessa terra seca, mesclando-as à paisagem. Em uma mistura de dourado-alaranjado, a
plantação de trigo é harmonicamente inserida em segundo plano, atrás dos camponeses. O uso
do marrom é muito recorrente nessa pintura, de modo que este se revela presente em partes da
vegetação seca, nas dobras das vestes dos dois homens e nas áreas de sombra da pintura. Na
área da montanha é apresentada uma grande região de sombra, a qual nota-se que não é
completamente preta, como explorado nas pinturas de Caravaggio, por exemplo, mas sim
2
https://br.pinterest.com/pin/407857309985321207/
https://br.pinterest.com/pin/407857309985321207/
composta por uma mistura dos pigmentos marrom e preto. Há, ainda, presença do marrom
como representante das sombras dos camponeses. Com o uso de um foco de luz, que é
direcionado atrás do pintor, as sombras das figuras são sobrepostas em cima da vegetação.
Esse recurso demonstra exímio uso de profundidade com jogos de luz e sombra na construção
da obra.
Na construção básica dos elementos da pintura, nota-se a presença de formas
retangulares nas pedras, tanto nos grandes blocos, quanto nas pedras já quebradas. Ambos os
homens também são apresentados em formas retangulares: ainda que não se veja suas faces,
pois uma das figuras encontra-se de costas e a outra possui o rosto coberto pela sombra do seu
chapéu, sua tensão corporal é muito forte; nota-se como ambos se encontram rígidos
enquanto realizam suas tarefas.
Há, na pintura, a presença de instrumentos simbólicos, que trazem ao observador a
clarividência de que as figuras apresentadas se tratam de pessoas de classes não abastadas.
Um desses elementos é a enxada, que encontra-se na mão do homem velho, agachado, que a
empunha em movimento de quebra das pedras, e a outra, pertencente ao jovem, está apoiada
no centro da tela, nos blocos de pedras. A panela e os utensílios culinários sobre o pedaço de
tecido ao lado direito da pintura também são elementos simbólicos trazidos na obra, e
exprimem a condição de alimentação precária dos homens durante sua rotina de trabalho.
Ao longo de sua superfície contemplam-se diferentes texturas e detalhamentos:
a aridez do solo; a vegetação de trigos ao fundo; as pedras com textura polida e a textura
presente nas roupas, que, pelos grandes rasgos nas camisas de algodão e no calcanhar das
meias, revelam serem peças de longo uso. Os elementos em conjunto constroem um âmbito
compositório que remete a aridez e a solidão das grandes dificuldades humanas.
Há, na obra, grande sensação de profundidade com o alto contraste obtido através do
uso de claro-escuro nas sombras marcantes provenientes da montanha, que se encontra no
terceiro plano. As formas que preenchem o espaço estão dispostas de maneira a preencher
todo o âmbito da tela: a cada espaço observado notamos a presença de algum objeto ou
elemento que compõe a cena. Não há, entretanto, uma sequência direcional das figuras que
guie o olhar do espectador, fazendo com que ele busque por esses elementos no espaço e cada
um realizeuma leitura particular.
Desafiando as idéias acadêmicas da pintura, Courbet optou por compor o seu trabalho
com, ao invés de linhas e formas suaves, pinceladas mais livres e instintivas, que eram
3
guiadas com seu movimento fluido durante seu exercício de observação, gerando assim, certa
rugosidade na tela com as superfícies pintadas. Esse fator auxilia no quesito textura, tão
presente na obra. Por se tratar de uma produção tradicional, essa pintura fora realizada com
tinta a óleo, sobre uma tela de 1,60 m x 2,60 m, aproximadamente. É interessante ressaltar a
dimensão escolhida para a realização deste trabalho, pois com essa extensão, o artista quase
representou as figuras em tamanho real e pode dar maior atenção aos detalhes tão minuciosos
da produção, atingindo, assim, o tão almejado retrato fiel da realidade. Seria curioso pensar os
materiais com as quais essa poderia ser efetuada hoje, na contemporaneidade, considerando
as imensas possibilidades técnicas e proposições poéticas desenvolvidas ao longo desse
extenso período de 200 anos, desde quando a obra fora originalmente criada.
Através de uma leitura temática da obra nos é revelado que a mesma trata-se de um
questionamento à posição e às condições de trabalho dos camponeses pobres, retratados na
obra, bem como da burguesia rural, revelando os problemas objetivos de sua vida cotidiana.
Courbet trata aqui ainda, de questões mais profundas: ele não apenas apresenta a figura do
trabalhador em sua pintura, mas o trabalho alienado como o assunto principal.
Os dois trabalhadores, o jovem e o velho, localizados no primeiro plano da obra, são
apresentados socialmente como meros objetos, ao quebrar as pedras em atitude
sequencialmente repetitiva.
O artista nos traz, então, como mensagem, o questionamento da diferença de classes e
as injustiças providas por ela. As condições medíocres impostas a muitos e a exímia soberba
disposta a poucos privilegiados. Para a época em que fora produzido esta pintura carregou
muita ousadia, por todos os questionamentos que trazia, e pela escolha de retratação em si, ao
apresentar essas figuras de maneira não romantizada, apresentando o real pelo real.
Seu título e tema são explicitamente atrelados, de forma que apresentam de maneira
nua e crua o que acontece na pintura: homens em serviço braçal quebrando pedras. A
inspiração do artista, para essa cena em particular, provém de sua vivência cotidiana: ao
realizar suas caminhadas diárias se deparava com essas figuras em situação de miséria, e seu
desejo fora realmente apresentar a realidade sem fantasiar ou amenizar situações. Dessa
forma, optou por realizar um retrato de observação das ações presentes, incluindo, na
construção, o ambiente da paisagem, composta por uma grande plantação de centeio.
Em uma análise de leitura contextualizada, temos em mente que esta pintura fora
realizada durante a Revolução de 1848, que trouxe à tona, pela primeira vez, o trabalho como
4
questão primordial. Para os realistas franceses da década de 1850, as implicações artísticas de
48 repousam sobretudo no compromisso de retratar o trabalho na esfera do sujeito popular.
Courbet, abertamente ativista e muito envolvido com as manifestações da Comuna de Paris e
com os atos políticos que iam contra a burguesia, atrelou, então, o contexto histórico no qual
estava inserido a sua produção.
A crítica detectava facilmente suas manobras artístico-políticas e por essa razão,
muitos de seus trabalhos foram destruídos. A tela Os quebradores de pedra, fora destruída
durante a Segunda Guerra Mundial, no bombardeio de Dresden, na Alemanha.
Pensando no impacto de Courbet em diferentes linguagens, cabe a mim trazer o artigo
de FABRIS (2013), aonde ele aponta em Revolução, Realismo e Realidade Fotográfica em
Gustave Courbet, que ele fora um dos expoentes para o firmamento de conceitos e
procedimentos tipicamente fotográficos, aplicados ainda hoje na produção de fotografias. Sua
preocupação em enquadramentos, a dimensionalidade, a exatidão chocante da cena, são de
grande influência para as questões fotográficas, hoje. Fabris (2013) aponta que:
[...] O “realismo fotográfico” de Courbet não é, naturalmente, a reprodução literal da
realidade. Não se trata de “cópia”, mas de inventário, ou seja, o pintor se interessa
menos pelo caráter da “cópia fotográfica” que por sua capacidade de adensamento
da materialidade do objeto. (FABRIS, 2013, p. 173).
Acredito que hoje, considerando os valores da sociedade atual, a pintura de Courbet é
levada com muito mais seriedade e potência do que quando fora pintada, considerando que na
época era tida como arte degenerada, pois para nós, hoje, se apresenta como algo
revolucionário. Courbet não apenas propôs uma nova visão e retratação da realidade, mas
trouxe questões que combatiam as organizações sociais vigentes da época.
Quanto a minha leitura pessoal, gostaria de exaltar a importância dessa obra como
instrumento social e objeto de reflexões. Sua representação e potência me atraem, de modo
que possuo identificação com o que propõe.
Quanto a sua construção visual, é de meu agrado a escala cromática e a atenção a
detalhamentos tida por Courbet. Ainda que os tons trabalhados na obra sejam todos terrosos,
mantendo afastamento da minha escolha pessoal de cores, acredito que o artista cumpriu com
muita eficiência seus objetivos, e transpareceu visualmente suas intenções.
5
Conclusão
Com estes apontamentos, concluo que a obra de Courbet fora, portanto, pela ousadia
da representação, um instrumento social de celebre importância. A já mencionada dimensão
da tela, o enquadramento de cena, a riqueza material, a importância dos temas e modelos
retratados e o anseio por uma retratação extremamente fiel a realidade, corroboram a idéia
que o artista tinha o desejo de assimilar o progresso material à sua volta na fatura da obra
pictórica para, deste modo, tomar conduta e apresentar questionamentos a cerca das
vicissitudes sociais e políticas da realidade na qual estava inserido.
Courbet cumpriu, eximiamente, com seus objetivos quanto a sua produção ao
apresentar a sociedade algo novo e completamente confrontivo aos valores da época.
Referências Bibliográficas
BARROS, Maria Mirtes dos Santos; ZANNONI, Claudio. ARTE E POLÍTICA:
uma abordagem sobre as artes plásticas nas obras de Courbet e Daumier. Cad. Pesq., São
Luís, v. 19, n. 1, jan./abr. 2012.
FABRIS, Marcos. Revolução, Realismo e Realidade Fotográfica em Gustave Courbet. Artigo
Científico. Lumen et Virtus: revista de cultura e imagem, v. IV, p. 169-178, 2013.
FERNIER, Robert. J. Gustave Courbet. Artigo. Encyclopædia Britannica: Encyclopædia
Britannica, inc. 2019. Disponível em: <https://www.britannica.com/biography/Gustave-Courb
et>. Acesso em abril 2020.
GOMBRICH, Ernst. H. A História da Arte. Rio de Janeiro: LTC, 1999.
JANSON, H. W. Courbet in Perspective, da coleção The artists in perspective series. Nova
Jersey: Prentice Hall, 1977.
MARTINS, Simone R.; IMBROISI, Margaret H. Realismo. Disponível em:
<https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-seculo-19/realismo/>. Acesso em: abril
2020.
REALISMO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo:
Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3639/realis
mo>. Acesso em: abril 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
SEIBERT, Margaret Armbrust. A Political and a Pictorial Tradition Used in Gustave
Courbet's Real Allegory, 1983. The Art Bulletin, 65:2, 311-316.
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http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/cadernosdepesquisa/article/view/928
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https://www.britannica.com/biography/Gustave-Courbet
https://www.britannica.com/biography/Gustave-Courbet
https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-seculo-19/realismo/

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