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Taquiarritmias 1 � Taquiarritmias Vinícius Ferreira Rende - Medicina UFU Introdução ✅ Eletrofisiologia Cardíaca A ativação elétrica do coração em uma condição fisiológica segue a sequência: nódulo sinusal (conjunto de células especializadas com propriedades de automatismo - despolarização espontânea sincronizada) → propagação do estímulo para o miocárdio atrial e feixes internodais → convergência dos estímulos para o nódulo AV (único caminho pelo qual o estímulo consegue atingir o miocárdio ventricular) → feixes de condução → miocárdio ventricular No nódulo AV há um atraso fisiológico do estímulo elétrico, que posteriormente irá passar pelos feixes de Hiss Purkinje que possuem uma transmissão do estímulo de forma extremamente rápida. A alta velocidade do sistema de Hiss Purkinje permite que o estímulo passe quase que instantaneamente. ⚠ Traçado Eletrocardiográfico A transmissão do estímulo elétrico pelo coração pode ser repressentada no traçado eletrocardiográfico. Taquiarritmias 2 Ondas no traçado P: despolarização atrial QRS: despolarização dos ventriculos T: repolarização ventricular Obs.: a repolarização dos atrios não é vista no ECG uma vez que é ofuscada pelo complexo QRS. Intervalos no traçado PR: intervalo entre o início da despolarização atrial e o auge da despolarização ventricular. Representa o tempo em que o estímulo leva para atravessar os átrios Taquiarritmias 3 somado ao tempo de atraso fisiológico do nódulo AV Intervalo PR alargado (acima de 200ms), há um atraso além do fisiológico no nódulo AV. Intervalo PR abaixo de 120ms, há um intervalor PR curto, que indica que o estímulo está atravessando por outro caminho que não o nódulo AV. QRS: não pode ultrapassar 120ms, caso ocorra, é um sinal que a onda de despolarização ventricular está passando por outro caminho que não o sistema Hiss Purkinje → condução fibra a fibra é mais lenta e gera alargamento de QRS QT: é o tempo entre a despolarização ventricular e a repolarização ventricular. Demonstra o período refratário efetivo, ou seja, enquanto está despolarizado não há como despolarizar novamente RR: fisiologicamente deve ser regular, demonstrando que o estímulo está passando pelo nódulo AV de forma organizada e sincronizada. Além disso, permite obter a FC A FC é obtida pelo cálculo 1500 / distância em milímetros do RR. Obs.: 100bpm é 3 quadradões e 60bpm é 5 quadradões. ⛔ Mecanismos Geradores de Arritmias Mecanismo de reentrada Taquiarritmias 4 Há uma heterogeneidade de propriedades eletrofisiológicas entre as áreas do miocárdio causada por doenças segmentares. A área A representa a área saudável, B e C as áreas doentes, sendo que na área C (condução lentificada) há apenas uma lentidão do estímulo e em B (período refratário prolongado) há o bloqueio do estímulo. O estímulo que parte da área saudável se fragmenta devido ao encontro com áreas com propriedades eletrofisiológicas diferentes. Nesse sentido, o estímulo da área C, que está lentificado, pode acabar coincidindo com o final do período refratário da área B, voltando para a área do miocárdio, fazendo um circuito de reentrada. Obs.: essa heterogeneidade pode ocorrer devido a doenças heterogêneas do parênquima cardíado (músculo e sistema de condução). O gatilho para o fenômeno de reentrada pode ser extrassístoles. Fibrilação Atrial ✅ Introdução Taquiarritmias 5 É a taquiarritmia mais frequente na prática. É causada pela presença de múltiplos circuitos de reentrada nos átrios, levando a ativação atrial desorganizada e fibrilação. Na FA ocorre a resposta ventricular irregular, sendo que a maioria dos estímulos são filtrados pelo nódulo AV, entretanto, alguns estímulos chegam ao miocárdio ventricular de forma totalmente irregular. Critérios eletrocardiográficos Há ausência de onda P ou F de flutter QRS estreito, exceto se bloqueio de ramo Irregularidade do intervalo RR Epidemiologia e Etiologia Cerca de 1 a 2% da população geral e cerca de 10% dos idosos apresentam FA. Além disso, há um discreto predomínio em homens e branco, sendo que os principais fatores de risco são: Idade HAS DM Cardiopatias estruturais Taquiarritmias 6 Apneia do sono Os principais fatores desencadeantes de FA são: Hipertireoidismo Álcool IAM / TEP / Cirurgia cardíaca � Manifestações Clínicas As manifestações clínicas são divididas em três grande grupos, sendo eles a reposta ventricular, perda da contração atrial e tromboembolismo. ↑ Resposta ventricular Pode causar diferentes manifestações clínicas a depender da função cardíaca basal do paciente. Palpitações Congestão pulmonar (ocorre em pacientes com doenças de base como EM) Edema agudo de pulmão Isquemia aguda devido ao aumento do consumo(ocorre em coronariopatas) Taquicardiomiopatia (miocárdio ventricular entra em "fadiga", reduzindo a performance mecânica e levanto a ICC Perda da contração atrial Intolerância do exercício devido a não contração atrial (responsável por 20% do enchimento) Falência cardíaca (em pacientes cardiopatas, pode haver descompensação, levando a um baixo DC) Tromboembolismo Taquiarritmias 7 Uma das principais causas de tromboembolismo, podendo levar a diversas complicações. Quando se tem FA, há um atraso e "estase" do sangue, principalmente dentro da auriculeta do átrio. AVC Isquemia enteromesentérica Isquemia de MMII Obs.: muitos pacientes com FA, principalmente jovens com função cardíaca preservada, são assintomáticos. Quem tem FA não pode ter B4, uma vez que a B4 necessita de contração atrial organizada. Classificação clínica A FA pode ser classificada clínicamente como: Paroxística: possui resolução espontânea em até 7 dias. Geralmente está relacionada com foco ectópico em veias pulmonares Persistente: duração maior que 7 dias e só resolve se cardioverter. Relacionadas ao fenômeno de remodelamento eletrofisiológico do miocárdio atrial Permanente: duração > 1 ano e não se resolve. Relacionada ao remodelamento estrutural que torna irreversível a FA, ocorre também em miocardiopatias 💊 Tratamento Para iniciar o tratamento, deve-se definir se o paciente se encontra estável ou instável, sendo que a instabilidade é definida por hipotensão, edema agudo de pulmão ou angina. Paciente com instabilidade Deve-se fazer a cardioversão elétrica sincronizada. O choque é feito no período refratário do ventrículo, no exato momento do QRS, uma vez que o objetivo é desfibrilar apenas os átrios. Em desfibriladores monofásicos, utiliza-se 200J e bifásico 120J, sendo que deve-se fazer analgesia e sedação. Taquiarritmias 8 Caso não haja resolução, deve-se repetir o choque com carga maior + antiarritmico (ibutilida IV). Paciente estável Deve-se avaliar cada caso individualmente, sendo que em geral: 1º passo: controle da FC, sendo feitas com inibidores do nódulo AV Betabloqueadores Diltiazem / Verapamil Digital Pode haver a associação entre as drogas caso não haja um bom crontrole, sendo que não se deve associar Diltiazem e Verapamil ou Betabloqueadores e Diltiazem / Verapamil, uma vez que essa associação pode causar bloqueio arioventricular completo. Quando não se consegue controlar a FC com a associação, pode-se associar amiodarona que é um antiarrítmico que possui função inotrópica negativa. Entretanto, não deve ser a primeira escolha. 2º passo: anticoagulação. Utiliza-se o escore CHADS-VASC para identificar o risco cardiovascular. Obs.: paciente com FA valvar anticoagula, uma vez que são automaticamente pacientes com risco cardiovascular, só não anticoagula se o risco de acidente hemorrágico for muito grande. Alto risco para anticoagulação Pacientes com FA valvar: estenose mitral moderada a grave ou com prótese Escore CHA2DS2-VASc: ≥ 2(Homens) ou ≥ 3 (Mulher) C: congestive (ICc) H: hipertensão A: age (≥75 ano, pontua 2) D: diabetes S: stroke (AVE, AIT ou embolia, pontua 2) V: doença vascular Taquiarritmias 9 A: age (65-74 anos) Sc: sexo feminino Homem com 1 ponto ou Mulhercom 2, deve-se considerar antiacoagulação Escore 0 para Homem e 1 para Mulher, não anticoagula Anticoagulantes Heparina (se não fracionada, esperar PTTa na faixa para após introduzir warfarin) + warfarin até INR entre 2 e 3 Novos anticoagulantes orais → Dabigatran (inibidor da trombina), Rivaroxaban e Apixaban (inibidores do fator Xa) Obs.: os novos anticoagulantes orais não possuem antídoto. Os novos anticoagulantes não devem ser usados em portadores de valva mecânica ou valvopatia reumática. 3º passo: definir a estratégia de logo prazo, pode-se fazer o controle de ritmo (cardioverte + antiarrítmico) ou controle de frequência (mantém FA e inibe nódulo AV com FC < 110bpm). A literatura mais moderna mostrou que o controle de ritmo não melhora sobrevida ou qualidade de vida, sendo que os pacientes que fazem controle de rítmo internam mais. Dessa forma, há uma tendência de fazer apenas o controle de frequência. Obs.: drogas antiarritmicas podem possuir um efeito pró-arritmico dependendo dos efeitos com outros medicamentos. Vale a pena tentar a cardioversão se: 1º episódio de FA, se desencadeante reversível (álcool, tireotoxicose, medicamentos) Paciente com sintomas persistentes apesar da FC controlada FC refratária ou contraindicação de inibidores do nódulo AV Estratégia do controle de ritmo A conduta irá depender se a FA do paciente possui duração superior a 48h, uma vez que aumenta a chance de presença de trombos no AE e desencadear fenômenos tromboembólicos. Taquiarritmias 10 FA < 48h Paciente com baixo risco: cardioverte e anticoagula por 4 semanas (o AE demora um tempo para voltar ao normal, cerca de 4 semanas) Paciente com alto risco: cardioverte e anticoagula ad eternum, mesmo que haja o retorno para ritmo sinusal (esses paciente geralmente entram e saem de FA de forma assintomática e expontânea) FA > 48h ou indeterminado Inicialmente é necessário fazer um ECO-TE para verificar a presença de trombos no AE. Sem trombos: cardioverte + anticoagulação conforme o risco Com trombos: anticoagulação por 3 semanas antes da cardioversão + anticoagulação conforme o risco Obs.: caso não haja a possibilidade de realizar um ECO-TE, deve-se assumir que há presença de trombo. Cardioversão Elétrica: cardioversão elétrica sincronizada, a mesma utilizada em pacientes instáveis Química: depende se o paciente possui cardiopatia ou não Sem cardiopatia: ibutilida, propafenona, flecainamida, amiodarona, sotalol, dofetilida Com cardiopatia: amiodarona, sotalol e dofetilida A droga mais utilizada é a amiodarona, uma vez que sotalol e dofetilida são drogas que prolongam intervalo QT e pode causar torsades de pointes. Além disso, a amiodarona se mostrou + eficaz em prevenir recidiva da FA. Ablação: pode ser feita por cateter (radiofrequência) ou cirurgica. Consiste em "cortar" o miocárdio onde ocorre o fenômeno de reentrada Cateter: é feita em casos de miocárdio ectópico em veias pulmonares que causam FA paroxística recorrente (mesma eficácia que os antiarrítmicos) ou FA paroxística refratária Cirurgia: durante cirurgia valvar ou revascularização, pode fazer associada a ressecção da auriculeta (controverso na literatura) Taquiarritmias 11 Flutter Atrial ✅ Introdução É uma arritmia onde geralmente se tem apenas um circuito de reentrada, um macrocircuito de reentrada que percorre toda a superfície do AD. Isso acaba gerando uma ativação atrial organizada que gera uma resposta ventricular regular. De modo geral, a partir de uma extrassístole atrial, o estímulo sobre pelo septo interatrial, passa pela crista terminalis (estrutura próxima ao óstio da veia cava superior), desce pela parede lateral do AD, passa pelo óstio da cava inferior e atinge o istmo (zona de condunção lenta do circuito de reentrada). Critérios eletrocardiográficos O achado mais característico são as ondas F do flutter, com aspecto de serra. Ondas negativas nas derivações inferiores (D2, D3 e aVF). Variações eletrocardiográficas Taquiarritmias 12 Tipicamente, a condução é 2:1, mas quando se tem um bloqueio AV parcial, pode-se ter um filtro maior dos estímulos atriais, fazendo uma condução 4:1. Taquiarritmias 13 O flutter típico diz respeito as estruturas que compõe o circuito de macroreentrada. A onda f, na maioria das vezes é negativa nas derivações inferiores (o sentido de reentrada é anti-horário), entretanto, existe o flutter reverso quando o sentido do circuito é no sentido horário. Obs.: manobra vagal causa um bloqueio momentâneo do nódulo AV, "alargando" (de 1:1 foi para 6:1) o flutter. Há também o flutter atípico, quando o circuito passa por estruturas diferentes e independe do istmo. Abaixo observa-se o flutter do anillo mitral, com F positiva em D1, D2 e aVF Taquiarritmias 14 💊 Etiologia e Tratamento É causado por doenças que sobrecarregam e lesam o miocárdio dos átrios. Sendo que as causas são as mesmas de FA. Pode-se haver FA e Flutter coexistindo. O tratamento irá depender se o paciente está estável ou não. Paciente instável Deve-se fazer cardioversão elétrica sincronizada, geralmente um choque de 50J consegue reverter. Paciente estável Faz-se o controle da FC com cardioversão química ou elétrica, sendo que as drogas podem ser as mesmas que as de pacientes com FA. Anticoagulação Taquiarritmias 15 Alguns autores defendem o uso do escore CHADS-VASC, entretanto, o consenso é: História de FA Flutter > 6 meses Alto risco (AVE, reumática e IVE) Tratamento definitivo O tratamento definitivo é feito por ablação por cateter, onde se faz a ablação o istmo (flutter típico) ou ablação pós mapeamento (flutter atípico). Após a ablação, há o interrompimento do circuito de macroreentrada. Outras Taquiarritmias 🚩 Taquicardia Atrial Unifocal Se caracteriza pelo surgimento de um foco de ativação ectópica no miocárdio atrial. Eletrocardiograficamente, observa-se uma onda P monomórfica diferente da onda P sinusal, sendo que, quando o estímulo nasce próximo a região do nódulo sinusal, é dificil diferenciar a onda P da taquiatrial unifocal. Os mecanismos geradores das taquiarritimias unifocais podem ser por reentrada ou por aumento do automatismo, sendo que é mais comum o fenômeno de reentrada. A FC varia entre 100 e 250 bpm e a condução é geralmente 1:1 ou diferente caso haja bloqueio. Acima de 250 bpm, tem-se uma FA, uma vez que acima desse valor há a degeneração para FA. Achados eletrocardiográficos Pode-se avaliar a polaridade da onda P não sinusal para identificar o local em que o estímulo nasce. Taquiarritmias 16 Em V1, fisiologicamente temos uma onda P bifásica, inicialmente positiva e depois negativa. Na taquiarritmia unifocal, observamos uma onda com dois picos positivos e monomórfica (se repete em todos os ciclos). Tratamento Geralmente a ocorrência de taquiarritmia unifocal está relacionada com fatores preciptantes como intoxicação por digital, hipocalemia e hipoxemia. Dessa forma, o tratamento se baseia na retirada do fator preciptante. Casos persistente Nos raros casos persistentes, pode-se fazer um bloqueio do nódulo AV + antiarritmicos, sendo que a cardioversão não funciona caso a causa do foco ectópico foi por Taquiarritmias 17 automatismo. Casos recidivantes ou refratários O tratamento pode ser feito através da ablação do foco ectópico ou do nódulo AV com colocação de marcapasso. 💢 Taquicardia Atrial Multifocal Há a presença de vários focos ectópicos variáveis / migratórios, sendo que no traçado eletrocardiográfico deve haver ondas P com 3 ou mais morfologias. Devido a isso, a condução no sistema Hiss Purkinje e a ativação ventricular ocorre em momentos variáveis, dependendo da distância do foco ectópico para o nódulo AV, fazendo com que haja um intervalo PR e RR irregular. A FC não costuma ser alta, sendo em torno de 100 a 150 bpm, caso a frequência seja < 100 bpm, com presença de 3 ou mais ondas P de morfologias diferentes, chamamos de ritmo atrial multifocal (não é uma taquiarritmiapois não há taquicardia). Achados eletrocardiográficos Taquiarritmias 18 Fisiopatogênese e etiologia Na grande maioria das vezes, essa taquiarritmia está relacionada com o automatismo, sendo que a principal causa de taqui atrial multifocal é a DPOC gravemente descompensada (> 60%). Obs.: a taqui atrial multifocal é considerada um marcador de morbimortalidade da DPOC. Tratamento Geralmente a ocorrência de taquiarritmia multifocal está relacionada com fatores preciptantes como hipocalemia, hipoxemia e intoxicação por teofilina. Dessa forma, o tratamento se baseia na retirada do fator preciptante. Magnésio Alguns pacientes possuem hipomagnesemia como o causador, dessa forma, deve-se repor magnésio. Entretanto, a reposição de magnésio mesmo em pacientes sem hipomagnesemia se beneficial da reposição. Taquiarritmias 19 2g em 5min ou 10g em 5h. Controle da FC Pode utilizar inibidores do nódulo AV, sendo que a preferência é pelo Verapamil ou Diltiazem. Esses medicamentos são capazes de abaixarem a FC e reverter a arritmia na taqui arritmia multifocal. 💥 Taquicardia Supraventricular Paroxística É uma forma específica de taquicardia supraventricular que ficou conhecida na prática como "taqui supra". Os mecanismos que podem ocasionar a TSVP são o mecanismo de reentrada nodal (2/3 dos casos) ou reentrada por via acessória, onde o tecido de condução perfura o anel átrio-ventricular fibroso (1/3 dos casos). Reentrada nodal Cerca de 30% das pessoas possuem uma variação anatômica que é a existência de duas vias de condução dentro do nódulo AV (uma via lenta e outra rápida), sendo que a maioria não desenvolve TSVP. Há uma prevalência de TSVP em mulheres jovens não cardiopatas. Geralmente o desencadeante da taquiarritmia é uma extrassístole atrial. Taquiarritmias 20 Há duas vias, sendo que a alfa possui uma condução lenta e período refratário curto e a via beta possui uma condução rápida e período refratário longa. Fisiologicamente há a passagem do estímulo pela via beta, caso haja uma extrassístole, pode-se ter a transmissão do estímulo no momento em que a via beta está no período refratário, dessa forma, o estímulo irá passar pela via alfa e alcançar o ventrículo no momento em que a via beta terminar o período refratário. Dessa forma, há a fragmentação do estímulo, parte irá ativar os ventrículos e parte irá voltar pela via beta que irá estímular a via alfa e ir para os átrios, causando uma onda P retrógada (ativação atrial e ventricular quase que imediata). Taquiarritmias 21 Nos casos de reentrada nodal, teremos uma taquiarritmia paroxística (início e término súbito), RR regular, e ausência de onda P (há um controle da contração pelo estímulo que sai da via beta, uma vez que ele é maior do que o que sai do nódulo sinusal), causando uma onda pseudo-S em D2, D3 e aVF ou pseudo-R' em V1. Quadro clínico Os átrios irão se contrair no momento em que o ventrículo estão se contraindo, batendo contra as válvas fechadas, causando um aumento de pressão. No AD isso faz com que haja um "batimento no pescoço", onda a do batimento atrial. Além disso, tem-se o aumento da diurese pós arritmia, uma vez que há maior produção do peptídio atrial natriurético que aumenta a diurese salina. Tratamento Paciente instável Cardioversão elétrica sincronizada com 150J. Normalmente consegue reverter o circuito de reentrada. Paciente estável Deve-se bloquear a via lenta, sendo que pode-se utilizar: Manobra vagal (25% de sucesso) Adenosina (>90% sucesso) Lembrar que, na manobra vagal, deve-se auscutar a carótida antes de realizar a manobra, uma vez que pode haver trombos que se desprendem. Quando faz-se massagem do seio carotídeo, há uma descarga de acetilcolina pelo vago. A acetilcolina faz com que haja o prolongamento do período refratário no nódulo AV, isso faz com que o período refratário da via alfa aumente, podendo reverter o quadro. Obs.: a adenosina é um poderoso inibidor do nódulo AV que possui meia vida curta e não possui utilidade nas outras taquiarritmias. É necessário informar o paciente que durante a infusão ele pode se assustar devido a sensação de parada do coração. Taquiarritmias 22 Paciente com crises frequentes Pode-se orientar a autoreversão do ritmo através da manobra de valsalva. Essa indicação geralmente é feita para pacientes jovens com alta resposta da manobra vagal, todos os demais se sugere a ablação da via lenta. Reentrada em via acessória Representa a minoria dos casos e pode ser por dois tipos, o tipo ortodrômica (sentido anti-horário) ou antidrômica (sentido horário). Na forma ortodrômica ocorre a ativação dos ventrículos através do nódulo AV e sistema de Hiss Purkinje e o estímulo sobre pela via acessória. Na forma antidrômica ocorre o inverso, o estímulo sobre pelo feixe de Hiss e desce pela via acessória. Na forma antidrômica há QRS alargado, uma vez que ocorre a despolarização fibra a fibra. Obs.: há a presença da onda P' sempre após QRS. A ativação atrial retrógada ocorre um pouco depois da ativação ventricular. Taquiarritmias 23 Quadro clínico Paciente irá apresentar: Palpitações súbitas e tonteira Sensação de "batimento no peito" No ritmo sinusal pode observar a pré-excitação Tratamento Paciente instável Cardioversão elétrica sincronizada com 150J. Normalmente consegue reverter o circuito de reentrada. Paciente estável Forma ortodrômica: inibir o nódulo AV com adenosina Forma antidrômica: inibir a via acessória (adenosina está contraindicada) através de cardioversão ou procainamida Na forma antidrômica, pacientes com via anômala (wolff-parkinson-white), em 15% das vezes ao receber adenosina fazem FA transitória. Se pacientes com via anômala fizerem FA e o estímulo passar pela via anômala, haverá o surgimento de uma fibrilação ventricular. Obs.: na forma antidrômica, trata-se como uma taquiarritmia ventricular. Prevenção A prevenção pode ser feita pela ablação da via acessória, tanto na forma ortodrômica, quanto na forma antidrômica. 🐺 Wolff Parkinson White É caracterizada por uma pré excitação ventricular que é caracterizada pela onda de ascensão lenta (onda delta) e posteriormente onda onda rápida. Dessa forma há uma onda delta + PR curto. Taquiarritmias 24 O paciente possui uma via anômala que está perfurando o anel fibroso e comunicando o miocárdio atrial com o ventricular. Nesse caso, não há o filtro de tempo ocasionado pelo nódulo AV, isso porque a condução fibra a fibra já iniciou pela via anômala. Inicialmente a ativação miocárdica inicia-se fibra a fibra pela via anômala, mas após um período ocorre a transmissão pelo sistema de Hiss. Predisposição Pacientes com Wolff Parkinson White possuem uma maior predisposição de TSPV por reentrada em via acessória e FA (10 a 30%). Em pacientes com WPW, a FA pode causar uma degeneração para uma fibrilação ventricular. Além disso, em pacientes jovens, pode-se haver uma taquiarritmia irregular, com complexo QRS irregulares, mas sem instabilidade hemodinâmica. Taquiarritmias 25 Há a presença de um complexo QRS com característica de pré excitação ventricular e ondas sem característica de pré excitação ventricular, mostrando que parte do estímulo passou apenas pelo feixe Hiss Purkinje e parte passou fibra a fibra. Obs.: o que demonstra que é uma FA é o intervalo RR que é irregular. Tratamento Os inibidores do nódulo AV são contraindicados, pois esses pacientes podem apresentar uma FA que degenera para uma FV. A droga de escolha é a procainamida que bloqueia a via acessória e se instabilidade é a cardioversão sincronizada. O tratamento definitivo é dado pela ablação da via acessória. Taquicardias Ventriculares ✅ Introdução Possuem origem no miocárdio ventricular e possuem QRS largo pois não passam pelo feixe Hiss Purkinje, além disso possui uma morfologia aberrante dependendo do local que nasce o estímulo. Taquiarritmias 26 Geralmente as taquicardias ventriculares são causadas por fenômenos de reentradae possuem risco de degeneração para FV, sendo assim, as taqui ventriculares apresentam como um marcador de gravidade em cardiopatias. Definições Taquicardia ventricular: apresentam 3 ou mais complexos ventriculares com frequência > 100/min Ritmo idioventricular: 3 ou mais complexos ventriculares com frequência < 100/min TV sustentada: duração > 30 segundos ou paciente apresenta sintomas Mono ou polimórficas: foco único ou múltiplo Flutter ventricular: há uma taquicardia ventricular monomórfica com frequência muito rápida onde QRS junta com a onda T Taquiarritmias 27 Torsades de pointes: TV polimórfica + QT longo. O marcapasso ventricular nessa situação é circular, mas não convém entender o mecanismo Fibrilação ventricular: existe uma ativação contínua e irregular, sem QRS discernível. Indica que houve vários circuitos de reentrada, Toda taquicardia com QRS largo é ventricular até que se prove o contrário. Sendo o principal diagnóstico diferencial a TSV conduzida com aberrância. Como diferenciar a TSV com aberrância? Critérios de Brugada Os critério de Brugada se baseiam em dois princípios: TVS com aberrância a morfologia do QRS é típica de bloqueio de ramo Taquiarritmias 28 Na TSV não se observar dissociação AV. Nas TV tem-se onda P dissocidas e batimentos de fusão (BF- onda de despolarização do nódulo AV se encontrou com a onda de despolarização do foco ectópico) Os critérios são: Ausência de RS nas precordiais = TV RS > 100ms nas precordiais = TV Dissociação AV = TV Morfologia de TV em V1, V2 e V6 Obs.: se persistir a dúvida, considerar que é TV. Taquiarritmias 29 💢 Taquicardia Ventricular não Sustentada Extrassístole ventricular é um único batimento que nasce no miocárdio ventricular de forma isolada, podendo ser isolada ou pareada. Caso ocorra 3 ou mais complexos de morfologia ventricular em sequência, com FC > 100 bpm, tem-se uma taquicardia ventricular, sendo que, caso dure < 30 segundos e sem sintomas, temos uma TVNS. Principais etiologias Distúrbios eletrolíticos, principalmente hipocalemia Hipóxia Isquemia Cardiopatias estruturais Idiopática Quando se tem um paciente apresentando várias extrassístoles ventriculares ou TVNS, deve-se garantir que não existe uma etiologia potencialmente grave, dessa forma, deve- se investigar através de exames. Exames complementares De acordo com a clínica ou risco epidemiológico, pode-se solicitar: ECO Cario-RM Teste de esforço Estudo eletrofisiológico Condução do paciente Coração "muito doente" Sabe-se que em pacientes cardiopatas, com o coração "muito doente", essa taquicardia é prenúncio de mal prognóstico, sendo que: Pacientes com isquemia = prenúncio de FV/TV Taquiarritmias 30 Pacientes com disfunção ventricular = marca o aumento de mortalidade Os antiarrítmicos não reduzem mortalidade geral, sendo que a conduta é o tratamento com cardiodesfibrilador implantável, exceto na isquemia aguda. Obs.: utiliza-se CDI em pacientes que possuem expectativa de vida maior que um ano. Coração "saudável" De modo geral o prognóstico é benigno e tende a melhorar com o tempo, entretanto, caso seja muito frequente, pode levar a uma redução da função ventricular (taquimiopatia). As extrassístoles e a TVNS são batimentos não efetivos (não promovem ejeção de sangue) e podem levar a uma redução ventricular. Para esse grupo de pacientes, indica-se betabloqueadores ou Verapamil/Diltiazem, se refratário, indica-se ablação. 🚧 Taquicardia Ventricular Monomórfica Sustentada É caracterizada por QRS largo e aberrante com morfologia idêntida em cada derivação (o fenômeno surge de um único foco) e com RR é regular. Pode-se ter padrão de: BRE → o estímulo nasceu no ventrículo direito BRD → o estímulo nasceu no ventrículo esquerdo Etiologia Taquiarritmias 31 As principais etiologias são as cardiomiopatias estruturais, principalmente as que deixam cicatrizes miocárdicas: Pós IAM tardio Cardiomiopatias dilatadas Displasia Arritmogênica do VD Pós-op de cardiopatias congênitas (Fallot) O circuito de reentrada se da no entorno da cicatriz miocárdica. Obs.: identificou TV monomórfica, deve-se solicitar exames de imagem cardíaca e avaliação de DAC. Tratamento Paciente instável Cardioversão elétrica sincronizada Paciente estável Adenosina para "abrir o traçado" → se for uma TV conduzida por aberrância haverá a abertura do traçado, mas na TV monomórfica não há Amiodarona IV Cardioversão elétrica sincronizada eletiva Prevenção Em pacientes com coração muito doente → CDI, pode-se associar antiarrítmicos de manutenção (amiodarona VO) caso o paciente esteja apresentando muitas TV monomórficas. 🕸 Taquicardia Ventricular Polimórfica É caracterizada por múltiplas morfologias de QRS, que podem ocorrer por reentrada intinerante ou espiral com RR irregular. Além disso, podem degenerar para FV. Taquiarritmias 32 Etiologia A principal etiologia é a isquemia miocárdica aguda. Os circuitos de reentrada se estabelecem ao redor da área de isquemia ou reentrada itinerante. Cerca de 10% dos IAM evoluem com TV monomórfica, principalmente na 1ª hora do evento, degenerando para FV. Tratamento O tratamento é a desfibrilação elétrica + amiodarona de manutenção Prognóstico O prognóstico depende do tempo de surgimento da TV: Nas primeiras 48h do IAM: aumenta a mortalidade intra-hospitalar Se IAM causando FEVE residual < 35%: haverá o aumento da mortalidade a longo prazo, devendo implantar CDI Torsades de Pointes É a situação de um prolongamento do intervalo QT. O intervalo QTc (intervalo QT corrigido) londo é caracterizado pot > 440ms (em homens) ou > 460ms (em mulheres). O QT longo pode ser congênito (canalopatias) ou adquirido (drogas e alterações eletrolíticas), sendo que o desencadeante do evento é uma extrassístole ventricular. Principais drogas Taquiarritmias 33 Sotalol Dofetilida Ibutilida Hidroxizina Fluoxetina Eritromicina Pentamidina Haloperidol Metadona Principais alterações eletrolíticas Hipomagnesemia Hipocalemia Hipocalcemia Obs.: mesmo na forma adquirida, há uma suscetibilidade genética relacionada a polimorfismos para que ocorra o prolongamento QT. Dessa forma, esses pacientes não devem utilizar drogas que prolongam o QT. QT longo congênito Síndrome QT longo congênito Síndrome de brugada (Supra de ST > 0,2 mm + T invertida) Clínica e tratamento Caso o paciente tenha Torsade sustentado, ele geralmente está sem pulso e irá degenerar para FV. Nesses casos, a conduta é ACLS. Caso o paciente apresente Torsade não sustentado, inicialmente se repõe magnésio IV, se não suprimir, administrar isoproterenol com objetivo de manter a FC entre 100 e 120 bpm (inibe o fenômeno de reentrada). Pacientes com QT longo congênito, a prevenção é feita com CDI.
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