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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA IT364 - PROJETO DE PROCESSOS DA INDÚSTRIA QUÍMICA PANORAMA E PERSPECTIVAS PARA O MERCADO DE GÁS NATURAL NO BRASIL André Nadaes Pereira - 201502004-5 Ian Pimenta Tuler – 201502013-4 Luan Rodrigues Dutra – 201502023-1 SEROPÉDICA – RJ DEZEMBRO/2020 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 3 2 HISTÓRIA DO GÁS NATURAL NO BRASIL ...................................................... 4 3 SITUAÇÃO ATUAL DO MERCADO DE GÁS NATURAL ................................... 5 3.1 Covid-19 e os impactos sobre o gás natural ............................................ 8 4 TRATAMENTO E PROCESSAMENTO ............................................................... 9 4.1 Condicionamento ...................................................................................... 10 4.1.1 Compressão ............................................................................................ 10 4.1.2 Desidratação ........................................................................................... 10 4.1.3 Remoção de Gases Ácidos ..................................................................... 11 4.2 Processamento ......................................................................................... 12 5 AVALIAÇÃO E DINÂMICA DOS MERCADOS ................................................. 13 5.1 Marcos regulatórios públicos .................................................................. 13 5.1.1 Lei do petróleo 1997 ................................................................................ 14 5.1.2 Lei do gás 2009 ....................................................................................... 14 5.1.3 Novo marco regulatório do gás 2020 ....................................................... 14 5.2 Influência do GasBol no Mercado interno .............................................. 15 5.3 Dinâmica de preços do gás natural ......................................................... 16 6 POTENCIAL DE PRODUÇÃO DE GÁS NATURAL NA ÁREA DO PRÉ-SAL . 17 7 PERSPECTIVAS DO MERCADO ...................................................................... 18 8 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................. 20 3 1 INTRODUÇÃO O Gás Natural (GN) é uma mistura de hidrocarbonetos leves que, a temperatura e pressão atmosférica ambiente, encontra-se no estado gasoso. Apesar de ser considerado um combustível fóssil, pode ser considerado um gás “nobre” em termos ambientais quando comparados aos tradicionais, pois emite uma menor quantidade de poluentes (AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS, 2014). A composição do gás natural depende da região de extração – por motivos geológicos de formação-, mas podemos considerar a seguinte composição molar média: metano (CH4), com teores acima de 70%, etano em menores quantidades entre 10 e 12% e propano com teores abaixo de 2%; e o restante de impurezas e outros (AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS, 2007). Este gás pode ser classificado em duas categorias: associado e não associado (Figura 1). O associado encontra-se dissolvido no petróleo ou sob a forma de uma capa de gás. Neste caso, privilegia-se a produção do óleo primeiro para que esta capa mantenha uma pressão adequada. O não associado está livre de água e óleo e sua concentração é predominante na camada rochosa, permitindo a produção apenas do gás natural. O não associado é mais interessante do ponto de vista econômico, devido ao grande acúmulo de metano e à quantidade obtida (CENTRO DE TECNOLOGIA EM GÁS, 2010). Quanto a sua utilização, o gás natural é prioritariamente consumido nas instalações de produção, para elevação artificial (gas lift) e para a recuperação secundária (injeção em poços) ou ainda na geração de energia, nos turbo geradores ou como combustível em fornos e caldeiras. Quando comercializado, seu uso predominantemente é como combustível (gás liquefeito de petróleo - GLP de uso doméstico, líquido de gás natural - LGN de uso industrial ou gás natural veicular - GNV). Enquanto o GNV é composto basicamente por metano e algo de etano, o GLP é composto por propano e butano e o LGN é a porção condensável do gás, ou a gasolina natural (C5+). O gás ainda pode ser destinado às petroquímicas, como matéria prima ou à siderurgia, como redutor. 4 Figura 1 - Reservatórios de gás natural: (A-B) Gás associado ao petróleo; (C) Gás não associado. Fonte: (GUIMARÃES, VIEIRA, et al., 2005) 2 HISTÓRIA DO GÁS NATURAL NO BRASIL A história do gás natural no Brasil se inicia com a utilização em combustível de lâmpadas no Rio de janeiro e São Paulo em 1854, produzido a partir do carvão mineral, nesta oportunidade foram criadas empresas como a CEG (distribuidora de gás do Rio de Janeiro) e Comgás (distribuidora de gás de São Paulo). Todavia esse desenvolvimento foi detido pela introdução da eletricidade em 1882. Já o gás liquefeito (GLP) começou a ser utilizado na cocção em 1936 liderando a expansão do uso do gás natural (EDMILSON MOUTINHO DOS SANTOS, 2007). As primeiras perfurações no Brasil ocorreram 1897 no litoral paulista (Bofete- SP) onde encontrou-se pequenas quantidades de petróleo. Os primeiros grandes avanços tecnológicos no Brasil foram obtidos após a criação do Conselho Nacional do Petróleo (CNP) com a perfuração do campo comercial em 1941 na Bahia (Candeias-BA). Em 1953, com o estado brasileiro protagonista desse desenvolvimento, criou a Petrobras S.A. ampliando significantemente os investimentos no setor, atrelando interesses estratégicos da nação (RICARDO JOSÉ DOS SANTOS, 2015). Após tentativas de 1970, em 1980 ocorreu um grande estimulo do uso de gás pela indústria com a criação da confederação nacional da indústria (CNI/COASE, 1982). 5 Na década de 90 o Brasil desperta novamente o interesse no potencial de gás, e a Petrobrás passou a dar maior relevância para a produção e para o suprimento deste produto investindo em infraestrutura e na pesquisa de mais campos. (EDMILSON MOUTINHO DOS SANTOS, 2007) Nos anos 2000 as reservas brasileiras de gás natural aumentaram consideravelmente, principalmente após a descoberta de petróleo e gás associada às camadas do pré-sal na costa brasileira. Em 2000, as reservas provadas do país eram de 221.000 milhões de m3, e, em 2010, subiram para 423.000 milhões de m3, segundo dados do Balanço Energético Nacional 2011 (MME e EPE, 2015). 3 SITUAÇÃO ATUAL DO MERCADO DE GÁS NATURAL De acordo com os dados fornecidos pela Agência Internacional de Energia (IEA) demonstrados na Figura 1, o suprimento mundial de gás natural em 2018 – sendo esses os dados mais atualizados disponíveis - representou 22,8% do total do suprimento mundial, chegando ao montante de 3 261 595 ktoe (INTERNATIONAL ENERGY AGENCY - IEA, 2020). Figura 2 – Suprimento Energético Mundial entre 1990 e 2018. Fonte – IEA (2020) O crescimento do suprimento energético de gás natural nos últimos 4 anos foi o segundo maior dentre todas as fontes de energia – sendo superado apenas por 6 energias renováveis, como solar e eólica - com crescimento da ordem de 11,36%. (INTERNATIONAL ENERGY AGENCY - IEA, 2020) Para 2040, as perspectivas são para que a demanda mundial por gás natural supere as de petróleo e carvão – as líderes mundiais neste setor – seja no cenário de manutenção das atuais políticas como no cenário de Desenvolvimento Sustentável, mostrado na Figura 2. (INTERNATIONAL ENERGY AGENCY - IEA, 2020) Figura 3 – Projeção para a produção de gás natural mundial nos cenários de Manutenção de Políticas e no de DesenvolvimentoSustentável Fonte: IEA (2019) Em comparação com o mundo, o Brasil possui grande parte da sua matriz energética baseada em fontes renováveis de energia, de modo que o suprimento brasileiro de gás natural representa 10,72% do total, com valor de 30 991 ktoe em 2019, representado pela Figura 3. Além disso, o suprimento energético de gás natural brasileiro enfrenta dificuldade para crescer, chegando a haver uma queda significativa em relação à 2014, que era de 36 364 ktoe, sendo isso em parte explicado pela grave crise financeira vivida pelo país desde então. (INTERNATIONAL ENERGY AGENCY - IEA, 2020) 7 Figura 4 – Suprimento Energético Brasileiro entre 1990 e 2018 Fonte – IEA (2020) O ano de 2020 foi marcado como a maior queda de demanda na história do mercado de gás natural mundial. Dois fatores foram responsáveis por tal efeito: o inverno historicamente brando que atingiu o norte da Europa e pelas medidas de confinamento que foram estabelecidas por causa do rápido avanço da Covid-19 pelo mundo. Deste modo, o mundo teve uma queda de 4% na demanda anual de gás natural, com a Europa sofrendo uma queda na demanda de 7% até junho (INTERNATIONAL ENERGY AGENCY - IEA, 2020) . Para os próximos 5 anos, a expectativa é que a demanda se recupere progressivamente, de modo que mercados mais maduros voltem a ter valores pré- crise já em 2021. Contudo, houveram repercussões a médio-prazo, resultando em um crescimento anual 75 bcm menor que o projetado para o período entre 2019 e 2025, com um crescimento médio de 1,5% por ano (INTERNATIONAL ENERGY AGENCY - IEA, 2020). 8 Figura 5 – Demanda global de gás natural inicial e revisada para o período de 2019-2025 Fonte: IEA (2020) 3.1 Covid-19 e os impactos sobre o gás natural Segundo o Boletim Mensal da Produção de Petróleo e Gás Natural divulgado pela ANP, a produção de petróleo em maio reduziu 6,5% se comparada com o mês de abril e aumentou 1,3% na comparação com maio de 2019. Em relação à produção de gás natural, houve redução de 7,8% na comparação com abril e de 3% na comparação com o mesmo mês do ano anterior. A queda na produção se deve principalmente à parada dos navios flutuantes utilizados para a exploração e armazenamento de petróleo/gás natural. Durante o mês de maio, 34 campos tiveram a suas respectivas produções interrompidas temporariamente devido aos efeitos da pandemia da Covid-19, dos quais 16 marítimos e 18 terrestres, e um total de 60 instalações de produção marítimas permaneceram com produção interrompida. No mês de abril, foram 38 campos e 66 instalações com produção interrompida pelo mesmo motivo (EPE, 2020). Os preços de venda do gás natural da Petrobras, para as distribuidoras de gás canalizado, estão menores, desde o dia 01 de agosto. Os contratos iniciados em janeiro de 2020 terão uma redução acumulada média de 48% em dólar por milhão de BTU (US$/MMBtu), quando comparado a dezembro de 2019. Em reais por metro cúbico (R$/m3), a queda foi de 35%. 9 Os contratos firmados entre a estatal e as distribuidoras, a partir de janeiro de 2020, estão atrelados diretamente à variação do preço do petróleo Brent no mercado internacional e à variação cambial; e, consequentemente, tal variação afetou o preço do gás natural por este ser encontrado, em muitas situações, associado ao óleo que origina o petróleo. A redução do preço do petróleo Brent começou a ocorrer em meados de janeiro quando começaram as medidas de contenção na China, sendo este país o segundo maior consumidor de petróleo do mundo (13,5% do consumo mundial). Tais medidas de contenção levaram a uma redução do consumo do petróleo visto, por exemplo, no cancelamento de mais de 200 mil voos. A partir de fevereiro, o vírus começou a espalhar-se pelo mundo e provocou uma nova redução do preço Brent do petróleo. Já no início de março, o epicentro da pandemia deslocou-se para a Europa e caminhava para o EUA (20,5 % consumo mundial de petróleo). Além disso, a ausência de um acordo entre Rússia e Arábia Saudita para reduzir ou até mesmo interromper a produção de petróleo por um tempo influenciou nesta redução em março. Este cenário pode ser observado na Figura 5. Figura 6 - Cotação do preço (Brent) do petróleo em 2020 Fonte: (FILGUEIRAS, LEMME e DAUDT, 2020) 4 TRATAMENTO E PROCESSAMENTO A cadeia produtiva do gás natural é o conjunto de etapas e processos que englobam desde a obtenção e processamento até o momento de disponibilização ao 10 consumidor final. Pode-se resumir tal cadeia em duas grandes etapas: Condicionamento (UTG) e Processamento (UPGN), representados na Figura 5. 4.1 Condicionamento Inicialmente, ocorre o condicionamento do gás natural, que é um conjunto de processos unitários (físicos, químicos e mecânicos) pertencentes ao tratamento primário. O objetivo do condicionamento do gás natural é a remoção dos seguintes compostos: vapor d’água, compostos sulfurados, CO2 e compostos sólidos, materiais estes que podem alterar as características do GN e danificar os equipamentos utilizados no seu aproveitamento. Dentre os problemas que tais compostos podem ocasionar, observam-se: formação de hidratos, corrosão, ação de compostos agressivos, acidentes na manipulação. Entre os principais processos unitários que ocorrem na Unidade de Tratamento de Gás (UTG) destacam-se: compressão, desidratação e remoção de gases ácidos. 4.1.1 Compressão Compressão é a etapa de passagem do gás por um conjunto de compressores, a fim de fornecer a energia necessária a esse fluido para que ele possa ser transferido para as unidades de processamento de gás ou injetados em poços de gas lift. Deve- se elevar a pressão do gás até a maior pressão de sua utilização, que nem geral é a necessária ao gas lift, que é da ordem de 200 kgf/cm2. 4.1.2 Desidratação O objetivo principal da operação de desidratação do gás natural é separar o vapor d’água presente em equilíbrio com o gás para garantir o escoamento e o processamento do mesmo, sem o risco da ocorrência de formação de hidratos ou de provocar corrosão nos equipamentos e tubulações. O gás natural oriundo de qualquer formação se encontra sempre saturado com vapor d’água e à medida que se aproxima da superfície dentro da linha de produção do poço, começa a ocorrer a separação de água livre, devido às mudanças das condições termodinâmicas. 11 Estas condições podem conduzir à formação dos hidratos, que é preocupante quando a temperatura do fundo do mar atinge valores baixos (4 °C) e as pressões de escoamento superam os 1500 psi, condições comuns ao desenvolvimento de novos campos de produção, situados à lâmina d’água profunda. A desidratação de gás é um processo de absorção ou de adsorção, utilizando absorventes líquidos no primeiro caso, ou alternativamente sólidos no segundo caso. O processo de absorção com absorventes líquidos é o mais comum, principalmente em sistemas offshore pois a logística do manuseio de líquidos é mais fácil. 4.1.3 Remoção de Gases Ácidos Dois são os gases ácidos que costumam estar presentes no gás – o CO2 e o H2S, sendo que este último pode também ter sido originado da ação de bactérias redutoras de sulfato (BRS). Para baixas concentrações destes gases, a tendência é utilização de materiais metalúrgicos adequados para minimizar os efeitos corrosivos e, no caso do H2S também pode-se injetar produtos químicos sequestrantes. O H2S a teores relativamente baixos (4 ppm) já é considerado tóxico. O processo de remoção destes gases ácidos é designado adoçamento e consiste basicamente na absorção com produtos líquidos ou absorção com materiais sólidos. Enquanto no processo de desidratação os álcoois (glicóis) são empregados, no adoçamento utilizam-se as aminas, principalmente as monoetanolaminas – MEA ou dietanolaminas – DEA. As peneirasmoleculares e membranas (permeação em polímeros) também são utilizadas, alternativamente. A tecnologia está baseada na reação química de uma base (alcanolamina) com um ácido (CO2 e H2S) e é reversível, o que permite que o solvente também seja regenerado por meio de aquecimento. Os gases ácidos presentes em vários campos de produção, quando presentes em teores elevados, comprometem a qualidade do gás a ponto de inviabilizar o seu transporte e utilização pelos consumidores. 12 Figura 7 - Unidade de Processamento de Gás Natural Simplificada (UPGN). Fonte: (DA COSTA, RANGEL e ALFRADIQUE, 2018) 4.2 Processamento Chama-se Processamento de Gás Natural ao processo de separação das frações mais leves do gás natural (C1 e C2) das frações mais pesadas, condensáveis (LGN, Líquido de Gás natural), de maior valor econômico. Este processo é realizado nas Unidades de Processamento de Gás Natural, as UPGNs também chamadas de Plantas de Gasolina. Atualmente a Petrobras conta com 27 plantas, algumas operadas pela Transpetro e outras pelo E&P, nos estados de SP, RJ, ES, BA, SE, RN, CE e AM. Resumidamente, o processamento do gás natural baseia-se na diminuição da temperatura e/ou no aumento da pressão para promover a condensação dos compostos mais pesados. Em função de vários fatores, tais como, composição do gás, pressão disponível, recuperações desejadas, podem ser usados os seguintes processos: refrigeração simples, absorção refrigerada, turbo-expansão e expansão 13 O gás natural antes de ser processado é denominado de “gás úmido”, por conter líquido de gás natural (LGN), enquanto o gás industrial (ou gás residual) é o “gás seco”, pois não possui hidrocarbonetos condensáveis. As recuperações de líquidos que podem ser alcançadas dependem do tipo de processo utilizado e da riqueza do gás. É comum se recuperar 100% de butanos e hidrocarbonetos mais pesados, 90 a 95% de propano e até cerca de 80% de etano, em porcentagens molares. 5 AVALIAÇÃO E DINÂMICA DOS MERCADOS 5.1 Marcos regulatórios públicos O Brasil no GNV como já foi dito sua história de exploração e produção se atrela as políticas públicas por se tratar de um ativo estratégico. E isso não é somente exclusividade brasileira, países da Ásia, latino américa, oriente médio e até os estados unidos com mais de 130 refinarias, estas possuem mecanismos de regulação estatal. No caso do Brasil podemos partir em três momentos distintos. Figura 8 – Linha do tempo de alterações significantes na Lei (ANP). Fonte: (AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS) 14 5.1.1 Lei do petróleo 1997 Em um primeiro momento, em 6 de agosto 1997 o presidente Fernando Henrique Cardoso sanciona a Lei Federal nº 9.478, conhecida como Lei do petróleo (PLANALTO GOVERNO BRASILEIRO) foi responsável por estabelecer regras que tornaram ainda mais efetiva a quebra do monopólio exercido pela Petrobras nas atividades centrais da indústria do petróleo (exploração e refino), na medida em que a inseriu na dinâmica de livre concorrência com as demais petroleiras do setor. Entretanto pelo art. 177, da CF/88, o monopólio do petróleo ainda estava mantido pela União. Sendo assim, o poder público demandava atividades como pesquisa, extração, refino e etc, a empresas de sua escolha. Essa foi uma lógica de concessão na área mantendo o monopólio de escolhas do poder público. 5.1.2 Lei do gás 2009 Apesar das mudanças trazidas pela lei do petróleo, em termos práticos a Petrobrás ainda manteve mais de 90% da produção de gás e quase 100% do seu transporte através de gasodutos pelo Brasil. A lei de 2009 contribui para diminuir o monopólio da Petrobrás e oferecendo através de chamadas públicas com interesse do ministério de minas e energia sobre o regime de concessão para ampliação da rede transportadora e terminais. A lei incentiva a desconcentração de mercado, e estimula a competição por novos projetos, ampliando a disponibilidade de gás no mercado reduzindo também seu custo. Ainda assim, esses mecanismos regulatórios não trouxeram a segurança política esperada pelos investidores. De forma que se observou pouca desconcentração do mercado de gás natural (GRUPO ECONOMIA E ENERGIA, 2010). 5.1.3 Novo marco regulatório do gás 2020 Aprovado na câmara dos deputados, o NMRG segue para votação no senado. Diferente do marco anterior, Os gasodutos e outros bens não reverterão à União, ou seja, não serão propriedade federal e não caberá indenização, devendo ocorrer a venda dos ativos para novo operador. 15 A chamada pública será outorgada, cabendo ao interesse privado decidir a construção do gasoduto ou terminal. O novo regime de autorização emitida pelo poder público o qual difere das anteriores concessões, não terão tempo de vigência (como na Lei de 2009), podendo ser revogadas somente a pedido da empresa ou caso haja algum descumprimento grave. Esse projeto tem o interesse de novamente agilizar a produção de gasodutos conquistando a confiança de investidores para o desenvolvimento do mercado de gás natural no brasil. Tal matéria utilizada em tantos outros processos. E além disso, desconcentrar a produção e o transporte do gás natural pela Petrobrás que ainda possui por volta de 80% da produção nacional (AGÊNCIA CÂMARA DE NOTÍCIAS, 2020). 5.2 Influência do GasBol no Mercado interno Figura 9 – Mapa do GASBOL entre a estação da Bolívia e Canoas-RS (TGB) Fonte: (HAGE, 2008) O gasoduto Bolívia-Brasil – GASBOL é uma gigantesca obra de engenharia com dimensões maiores que 3150 km de extensão. A quantidade exportada para o Brasil variando dentre diversos fatores políticos e econômicos por volta de 25MMm³/d, o que corresponde por aproximadamente 20% da demanda nacional, suprindo necessidade do mercado interno brasileiro (HAGE, 2008). 16 Além disso também é um importante denominador diplomático e político entre Brasil e Bolívia. Sendo responsável pela operação na Bolívia é a estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), a qual realiza negociações com a Petrobras S.A (HAGE, 2008). No início do século XXI, o gás boliviano foi um importante agente pacificador das crises energéticas vivenciadas no Brasil. Hoje disputa espaço com a produção interna cada vez crescente nas bacias brasileiras. Em determinados momentos econômicos é mais vantajoso importa-lo frente ao mercado internacional. Toda via é importante observar nos últimos anos os golpes e crises políticas a qual a Bolívia vem enfrentando com o exílio de Evo Morales em 2019 e a interrupção do contrato com a Petrobrás, o controle de um governo interino impopular e novamente a reeleição do partido de Evo em 2020, o que se torna um dificultador do valor das importações. 5.3 Dinâmica de preços do gás natural Figura 10 – Evolução do preço do gás natural e das variáveis que o definem (IGNIS). Fonte: (IGNIS PLANNING, 2020) No mercado de gás natural seu preço varia com o mercado de energia, e principalmente com o valor do petróleo e das taxas cambiais. No brasil a fórmula da Petrobrás do preço do gás natural está relacionada diretamente com o preço do 17 petróleo no trimestre anterior. Apesar das variações e da forma de cálculo, as tarifas não são repassadas automaticamente e dependem da determinação de órgãos regulamentares no Brasil, como a ANP e a Petrobrás (IGNIS PLANNING, 2020). Dentro do mercado de energia e petróleo, diversas tendências podem influenciar o valor do barril de petróleo. Podemos falar sobre o crescimento contínuo de produção dos Estados Unidos e do Oriente médio que contribuem para um ambiente de menores preços (CMEGROUP, 2018). Em um momento de pandemia onde há queda de produção em diversos setores no Brasil e no Mundo os quais demandam energia consequentemente também reduz o preço esse mercado queconta com baixas demandas. Todavia as tendências apontam para crescimento do mercado de gás natural no Brasil principalmente com o fim da pandemia, com novas descobertas para exploração no país e regulamentações menos arrochadas às empresas. O que torna um mercado atrativo para recém-formados e investidores que buscam oportunidades de crescimento. 6 POTENCIAL DE PRODUÇÃO DE GÁS NATURAL NA ÁREA DO PRÉ-SAL O Plano Decenal de Energia 2024 estima que a produção no prisma do pré-sal tem o potencial de atingir 4,5 MMb/d (milhões de barris por dia) de petróleo e 121 MMm³/d de gás natural em 2024 (MME e EPE, 2015). Deste total, 3,4 MMb/d de petróleo (76%) e 103 MMm³/d de gás natural (85%) seriam produzidos na área do pré- sal geológico (reservas localizadas abaixo da camada de sal). A produção potencial de gás natural do pré-sal geológico é um desafio em função de suas características. Principalmente, são constituídos de gás associado ao petróleo. A maioria dos campos do pré-sal da bacia de Santos apresentam uma razão gás/óleo (RGO) elevada. O RGO dos campos atuais do pré-sal situa-se entre 250 e 300, sendo que o campo de Libra apresenta um RGO de 500 ou maior. Este gás associado apresenta um nível elevado e muito variável de contaminação com dióxido de carbônico (CO2). O elevado nível de contaminação por CO2 implica em custos elevados para separação dos contaminantes e aproveitamento do gás natural. Ademais, o aproveitamento comercial das reservas de gás é impactado pela grande distância destes campos até a costa, o que eleva o custo de seu escoamento (IE, IBP, GEE, 2017). 18 A concentração de CO2 no gás dos reservatórios do pré-sal (10 a 45% mol) está muito acima dos limites toleráveis pela ANP (3% de CO2) (ROCHEDO, COSTA, et al., 2016); (ANP, 2008)). A elevada concentração de CO2 nos reservatórios do pré- sal traz importantes desafios tecnológicos para a separação e o armazenamento seguro do CO2. O gás com alta concentração de CO2 não pode ser transportado até a costa sem a prévia separação do contaminante. O transporte do gás natural com elevados índices de contaminação por CO2 não é viável tecnicamente em função de seus efeitos corrosivos nos equipamentos de transporte. Atualmente a separação do CO2 é realizada através de plantas de separação por membranas instaladas nas unidades de produção. Estes equipamentos são custosos, intensivos em energia e ocupam uma área importante da unidade de produção. Além do custo com a separação do CO2, o escoamento do gás natural até a costa também apresenta um importante desafio de custo. Os gasodutos de escoamento do pré-sal são custosos em função da distância entre os campos e a costa em função da profundidade dos campos. Os equipamentos para transporte de gás em águas profundas apresentam custos mais elevados pois devem ser reforçados (maior espessura) para suportar a elevada pressão. 7 PERSPECTIVAS DO MERCADO As principais perspectivas para o mercado de gás natural no Brasil advêm do sucesso ou fracasso do “Novo Mercado de Gás”, programa do Governo Federal que busca modificar o mercado o deixando mais aberto, dinâmico e competitivo, a fim de promover uma redução do preço e contribuir com o desenvolvimento econômico do Brasil. (MME, 2020) O plano surge após o fim do monopólio da Petrobrás em atividades industriais referentes ao mercado de petróleo e seus derivados e gás natural, expresso pela Emenda Constitucional nº 9. A Lei do Petróleo (Lei nº 9 478/1997) e a Lei do Gás (nº 11 909 / 2009) buscaram a abertura dos mercados e atrair investimentos de agentes privados, de modo que a segunda em oposição à primeira era direcionada ao mercado de gás. Contudo, nenhuma dessas alçaram os objetivos almejados, com a Petrobras continuando como dominadora do mercado de gás. A redução da participação da Petrobras em 2015 permitiu uma revisão do marco legal e regulatório do setor de gás natural, ocasionando na iniciativa Gás para 19 Crescer que foi substituída pelo Comitê de Promoção da Concorrência do Mercado de Gás Natural no Brasil, por meio da Resolução CNPE nº 4/2019. Como grande parte do gás produzido é associado ao petróleo, pode-se afirmar que o desenvolvimento do setor de gás é atrelado ao do petróleo. A principal problemática ao comparar ambos os setores é que o gás depende de diversos incentivos para sua produção, visto que seus processos de estocagem e escoamento são mais custosos e complexos que o do petróleo, de modo que muitas vezes é preferível reinjetar gás natural nos poços de petróleo a fim de aumentar a produtividade da produção petrolífera. (YABIKO, 2020) O gás brasileiro acaba sendo uma opção cara, já que por vir atrelado ao petróleo em rochas profundas, precisa ser tratado e escoado até uma unidade de processamento terrestre (UPGN) que fica a centenas de quilômetros de distância. Mesmo com o atrelamento do preço do petróleo Brent ao gás natural e seus valores historicamente baixos recentemente devido à pandemia de covid-19 e incertezas de oferta na Arábia Saudita, o preço do gás natural ao consumidor industrial final foi de US$ 10,76 / MMBtu, valores muito maiores em comparação com o comercializado pela Rússia, que mesmo com uma tendência de forte alta chegou a US$ 2,86 / MMBtu para o mês de agosto de 2020. (MME, 2020) (INDEX MUNDI, 2020) As mudanças nas regulações de gás natural são vistas como naturais ao comparar a experiência brasileira com a de outros países, visto que estas acabam se adequando à diferentes realidades seja do país distribuidor (em relação à natureza e às características do gás disponível) quanto pelo país consumidor (que precisa ter suas necessidades de suprimento adequadas, atentando-se à qualidade do gás adquirido). Logo, a alteração/atualização das especificações permitirá ao Brasil absorver as melhores práticas e reproduzi-las. (EIXO INTEGRAÇÃO GÁS E INDÚSTRIA, 2020) Escoar o gás por vezes nem sempre é a melhor opção econômica, seja por maximização da produção, seja por seu elevado grau de contaminação. Por outro lado, não o escoar pode gerar dificuldades operacionais na produção de óleo. O preço acaba sendo o fator que balanceia essas questões. Portanto, o principal desafio se dá pela necessidade de investir grande aporte financeiro na infraestrutura de escoamento de forma econômica a fim de ser possível uma maior produção de gás natural, que só será possível se houver crescimento econômico e industrial a fim de gerar demanda por esse gás. (GAUTO, 2020) 20 8 BIBLIOGRAFIA AGÊNCIA CÂMARA DE NOTÍCIAS. Câmara dos Deputados, set. 2020. Disponivel em: <https://www.camara.leg.br/noticias/689376-deputados-aprovam-novo-marco- regulatorio-do-gas>. Acesso em: 26 nov. 2020. AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS. AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS Estabelece a especificação do Gás Natural de origem nacional. [S.l.]. 2007. AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS, 2014. Disponivel em: <http://www.anp.gov.br/gas-natural>. Acesso em: 20 Outrubo 2020. ANP. Resolução ANP nº 16, de 17 de junho de 2008. Diário Oficial da União. [S.l.]. 2008. CENTRO DE TECNOLOGIA EM GÁS. 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