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1 São hemorroidas, doutor? Objetivos 1. Revisar a anatomia proctológica. 2. Compreender fisiopatologia, sintomas, diagnóstico e tratamento das doenças proctológicas (fístula, abscesso, hemorroida e fissura), exame físico, exames complementares e diagnósticos diferenciais. Doença hemorroidária ● As hemorroidas são complexos de tecido conjuntivo fibroelástico, ricos em plexos vasculares e com múltiplas anastomoses arteriovenosas, situados na submucosa da região anorretal, que auxiliam na: continência anal (detectanto plenitude e pressão ao perceber o conteúdo anal), permitindo a chamada “oclusão anal de repouso” (fechamento anal) e proteção do esfíncter anal de lesões durante a defecação. ● Ocorre quando há congestão, dilatação e aumento dos corpos cavernosos, formando grandes emaranhados vasculares, submucosos ou subcutâneos, flexíveis que se enchem de sangue, constituindo os mamilos hemorroidários, os quais podem ser internos, externos ou mistos. ● Apresentam consistência amolecida e forma abaulada, situados no canal anal. ● Os complexos hemorroicos são normalmente encontrados nas regiões lateral esquerda, anterolateral direita e posterolateral direta do canal anal, mas podem ser encontrados em outros locais. Isso ocorre devido a ramificação arterial da artéria retal superior formando esses três principais mamilos internos que são denominados principais e, os demais, quando existentes, são ditos secundários. Etiopatogenia A natureza exata da doença hemorroidária não é, ainda, completamente conhecida. Porém, vários fatores são importantes na sua etiopatogenia: ● Dificuldade do esvaziamento vascular no ato defecatório, com congestão e dilatação dos corpos cavernosos do canal anal. ● Prolapso anormal do plexo hemorroidário, durante a evacuação, por deficiência de sua fixação pela musculatura longitudinal da submucosa ou pelo excessivo esforço defecatório. ● Dieta pobre em resíduos (fibras) e pouca ingestão de líquidos, acarretando o endurecimento das fezes e maior esforço evacuatório. 2 ● Hábitos defecatórios errôneos, como a insistência em evacuar todos os dias, esforçar- se a defecar em um determinado horário por conveniência ou forçar o esvaziamento total do conteúdo retal de uma só vez. ● Predisposição familiar, porém não hereditária. ● Fatores desencadeantes ou agravantes, como constipação intestinal, diarréia crônica, gravidez ou abuso de laxativos. Obs.: uma vez manifestadas as primeiras condições para o aparecimento da doença hemorroidária, é rara sua remissão. Sem tratamento,a evolução dos mamilos hemorroidários é progressiva. Classificação A classificação mais utilizada está relacionada a localização do mamilo hemorroidário no canal anal e a presença ou não de seu prolapso. Podem ser: internas, externas ou mistas. 1. Internas O mamilo situado acima da linha pectínea, na parte interna ou proximal do canal anal é denominado de mamilo interno. Apresentam origem no plexo hemorroidário superior de inervação visceral (menos sensível à dor e irritação). São classificadas com base em sua aparência e extensão do prolapso através da classificação de Goligher em: ● Grau I: quando, à evacuação ou aos esforços, o mamilo interno não prolaba abaixo da linha pectínea. ● Grau II: quando o mamilo interno prolaba abaixo da linha pectínea, com esforço evacuatório, exteriorizando-se pelo ânus, porém retraindo espontaneamente cessado esse esforço. ● Grau III: quando o mamilo interno prolaba à evacuação e/ou esforços e não retorna espontaneamente, necessitando ser recolocado digitalmente para o interior do canal anal. ● Grau IV: o mamilo interno é prolabado permanentemente, para o lado externo do canal anal, sem possibilidade de ser recolocado para o itnerior do canal anal. 3 4 2. Externas Localizadas abaixo da linha pectínea, na porção externa ou distal do canal anal. Tem origem no plexo hemorroidário inferior de inervação somática (mais sensíveis à dor e irritação). 3. Mistas Localizadas proximal e distal à linha pectínea e, portanto, há existência concomitante de mamilos internos e externos.. Apresentam origem em ambos os plexos (plexo hemorroidário inferior e superior). Sintomatologia ● Sangramento anal indolor é o sintoma mais comum. ● Desconforto, prolapso e prurido também são relatados, e sua intensidade e combinação varia de acordo com o subtipo de doença hemorroidária presente. ● Também pode haver queixa de sujidade em região perianal, por dificuldade de higiene. ● Quando o sintoma principal for dor intensa, deve-se suspeitar de complicação da doença hemorroidária ou associação com outras patologias (fissura, abscesso perianal, tumor de canal anal). Hemorroidas internas ● Não costumam ser dolorosas. ● O principal sintoma é o sangramento anal "vivo", indolor, ocorrendo ao final da evacuação, percebido no papel higiênico ou no vaso sanitário em pingos ou esguichos. 5 ● O sangramento em grande quantidade é incomum e a presença de anemia ferropriva é rara e deve ser investigada. ● Também pode haver queixa de prurido anal e prolapso durante evacuação ou aos esforços. Hemorroidas externas ● Em geral tornam-se sintomáticas na ocorrência de quadros agudos como trombose hemorroidária e crise hemorroidária. ● Cronicamente podem estar associadas à desconforto anal, sangramento e dificuldade de higiene. Quadro clínico Aproximadamente 40% dos indivíduos com hemorroidas são assintomáticos. Os paciente sintomáticos geralmente buscam tratamento por hematoquezia, dor associada a hemorroidas trombosadas, prurido perianal ou solo fecal. Sangramento ● É a queixa principal, mais frequente, e às vezes, a primeira a manifestar-se. ● Quase sempre indolor, pode ser visto no papel higiênico, gotejando no vaso sanitário ou acontecendo, em jato durante e/ou imediatamente após a evacuação. ● É caracterizado pela presença de sangue vermelho rutilante. ● Está associado a passagem de fezes endurecidas que podem traumatizar o mamilo hemorroidário ou pelo tipo de higiene anal (uso de papel higiênico). ● A hemorragia volumosa é rara na doença hemorroidária, porém a perda sanguínea discreta e contínua ocorre com frequência, acarretando, por vezes, um quadro anêmico. ● É fundamental diferenciar esse sangramento hemorroidário daquele ocasionado pelos tumores anorretais, pelas doenças inflamatórias intestinais, pela fissura anal ou pela dermatite perianal, por serem bastante similares. Prolapso ● Caracteriza-se pela exteriorização do mamilo hemorroidário interno, para fora do canal anal durante o ato evacuatório ou durante as atividades físicas. ● O mamilo pode retornar espontaneamente ou necessitar ser recolocado, digitalmente, para o interior do canal anal. ● Deve ser diferenciado da papila anal hipertrófica prolabada, do pólipo retal baixo que se exterioriza através do canal anal e da procidência retal que se caracteriza pela protusão de todas as camadas do reto para o exerior do ânus, pois no prolapso há epenas exteriorização da mucosa retal. Exsudação perianal ● Caracteriza-se pela umidade da pele perianal causada pela presença de muco nesta região, decorrente, sobretudo, da irritação da mucosa dos mamilos hemorroidários internos. ● Acompanha-se, em geral, pela dermatite e pelo prurido anal. Desconforto anal 6 ● Durante ou após a evacuação pode haver uma pressão anal, definida pelo paciente como um desconforto, porém sem dor anal, porque a simples presença da doença hemorroidária não doi. ● A presença de dor no canal anal concomitante a doença hemorroidária está relacionada as suas complicações, como a trombose (endoflebite) e o hematoma perianal, ou pela sua associação com outras enfermidades dolorosas dessa região, como a fissura anal, a infecção perianal (criptite, papilite ou abscesso) e as lesões inflamatórias ou tumorais. Trombose hemorroidária: caracteriza-se pela presença de nóduloperianal bem delimitado, usualmente azulado e doloroso. Sua história natural é de início abrupto de dor, que aumenta nas primeiras 48 horas e apresenta regressão após o quarto dia. A pele sobre a hemorroida trombosada pode necrosar e ulcerar, causando sangramento ou saída de secreção. Quando não há drenagem espontânea, o trombo pode demorar algumas semanas para sumir completamente. Podem haver casos assintomáticos, nos quais a alteração é percebida pelo paciente durante a higiene. Diagnóstico O diagnóstico da doença hemorroidária é clínico e é realizado por meio da anamnese pormenorizada dos sintomas e sinais, além da avaliação dos hábitos evacuatórios e alimentares, uso de laxativos, existência de doenças anteriores ou de cirurgias no trato digestivo. Deve-se questionar também a existência de doenças gastrointestinais nos familiares. O exame geral do paciente, em especial do abdome e das regiões inguinais, deverá sempre preceder a avaliação proctológica. Nas enfermidades agudas e dolorosas, como a trombose hemorroidária, o exame proctológico deverá limitar-se ao mínimo necessário para confirmar o diagnóstico, sem agravar seu sofrimento. O exame proctológico deve seguir a seguinte sequência: Posição do paciente As posições mais utilizadas são a genupeitoral e com o paciente em decúbito lateral esquerdo (posição de Sims). Inspeção ● Faz-se inicialmente a inspeção estática a seguir da dinâmica. ● Na simples inspecção da região anal e perianal, podem ser diagnosticados os mamilos hemorroidários externos, os mamilos hemorroidarios internos prolabados permanentemente (IV grau), hematomas perianais, trombose hemorroidária e as enfermidades associadas. ● Deve-se avaliar o aspecto da pele perianal e a presença de secreção, cicatrizes ou retrações. ● Afastando-se a pele perianal com ambas as mãos, pode-se examinar melhor o ânus propriamente dito. ● A inspeção dinâmica é realizada solicitando-se ao paciente que faça força, como que para evacuar, e assim poderá ser observado o prolapso de mamilos hemorroidários internos de 2º grau e 3º graus. 7 ● Essa inspeção poderá tornar-se eficiente quando feita após o esforço evacuatório, em posição sentada no vaso sanitário e, em seguida, o enfermo retornar à mesa de exame. Palpação ● Visa identificar as regiões onde a compressão provoque dor ou houver a presença de áreas amolecidas ou endurecidas. Toque retal ● O dedo indicador deve ser introduzido, após sua lubrificação, no canal anal, aguardando o relaxamento esfincteriano. O examinador deve palpar cuidadosamente a porção interna (proximal) do canal anal e da ampola retal. ● As hemorroidas internas não podem ser detectadas pela palpação digital, sendo o mamilo observado à anuscopia ou quando prolabados aos esforços ou permanentemente. Anuscopia ● Auxilia para observar a presença de mamilos hemorroidários internos. ● Nos pacientes com sangue vermelho brilhante por reto ou com suspeita de hemorroida trombosada, nos quais não foram detectadas hemorroidas no exame retal digital, realizamos uma anuscopia para avaliar o canal anal e o reto distal. ● O anuscopio, depois de lubrificado, será introduzido pelo ânus, suavemente, até o limite superior do canal anal e, com adequada iluminação, podem-se ver a mucosa retal de coloração rósea e brilhante e a vascularização da submucosa. ● Sua retirada deverá ser lenta e, quando há doença hemorroidária interna, com frequência, o mamilo projeta-se para a luz do aparelho e, para torná-lo mais evidente, deve-se solicitar ao paciente que faça esforço evacuatório. ● A anuscopia tem a vantagem de ser um procedimento rápido, relativamente indolor e barato que pode ser realizado em um paciente não preparado para diagnosticar hemorroidas e excluir distúrbios anorretais distais. Além disso, não necessita de preparo, além do uso de lidocaína gel ou lubrificante. Retossigmoidoscopia ● Pode ser realizada sem qualquer preparo ou após limpeza do reto por meio de um enema, para retirada das fezes dessa região. ● Será feita sob visão direta, sem insuflação exagerada de ar e com cuidado, para não causar desconforto ao paciente. Avaliação endoscópica ● Em pacientes com menos de 40 anos com sangue vermelho brilhante mínimo no reto e sem anemia, deficiência de ferro, dor abdominal, diarréia, sintomas sistêmicos ou fatores de risco para câncer colorretal ou doença inflamatória intestinal, não realizamos nenhuma avaliação endoscópica adicional se houver hemorroidas no exame físico ou na anoscopia. ● Em pacientes com mais de 40 anos, realizamos uma sigmoidoscopia ou colonoscopia flexível com base na presença de sintomas associados e fatores de risco para câncer colorretal. 8 Diagnóstico diferencial ● Visto que para leigos, sob o diagnóstico de hemorroidas, são incluídas, com frequência e erroneamente, uma grande variedade de afecções anorretais. Por este motivo, é importante proceder, com especial cuidado e atenção, ao diagnóstico diferencial de algumas enfermidades. ● Procidência retal, papila anal hipertrófica, fissura anal, processos infecciosos (Criptites, papilites ou abscessos), doenças inflamatórias, tumores benignos ou malignos do canal anal e tumores prolabados benignos ou malignos. Tratamento O manejo da doença hemorroidária varia conforme o grau de doença e severidade dos sintomas. Incluem desde modificações nos hábitos alimentares até cirurgia. É importante tranquilizar o paciente explicando que as hemorroidas não se transformam em câncer. A mudança dos hábitos alimentares e do estilo de vida acompanham qualquer tipo de tratamento da doença hemorroidária, tanto medicamentoso como cirúrgico, a fim de prevenir a recorrência dos sintomas. Como o esforço evacuatório prolongado para defecar, secundário à constipação ou diarreia, é implicado no desenvolvimento de sintomas, modificações na dieta visando a resolução destes problemas devem ser estimuladas. Portanto, o objetivo principal é manter fezes não endurecidas que passem sem maior esforço no momento da evacuação. Uma dieta rica em fibras (20 a 35g/dia) e o aumento da ingesta hídrica (1,5-2L de água por dia) são fundamentais para o tratamento da doença hemorroidária. A doença hemorroidária assintomática não necessita de tratamento. Tratamento conservador Modificações da dieta e estilo de vida (para pacientes com constipação): ● Preferir alimentos laxantes: abacaxi, ameixa, maçã com casca, mamão, manga, melancia, cajá, umbu, acerola, cacau, aveia, farelo de trigo, milho, laranja com bagaço, feijão, lentilha, soja, grão de bico, semente de linhaça, abóbora, abobrinha, verduras cruas, arroz integral, pão integral, vagem, pepino, figo, folhas (alface, agrião, repolho). ● Diminuir quantidade de alimentos constipantes: farinhas refinadas, macarrão, pão branco, arroz branco, batata, mandioca, tapioca, batata doce, mandioquinha, biscoitos refinados, bolachas, cuscuz. ● Ingestão de comidas apimentadas: segundo estudos não há relação entre ingestão de comidas apimentadas e sintomas hemorroidários. ● Esforço evacuatório: o paciente deve ser orientado a não realizar esforço durante a evacuação (não ler sentado no vaso sanitário, evitar o uso de celular enquanto estiver no banheiro, etc). ● Suplementação de fibras: além de modificações na alimentação, pode ser feita suplementação com farelo de trigo ou linhaça (2-4 colheres de sopa dissolvidos em água, suco ou iogurte). A suplementação de fibras diminui o risco de sangramento. ● Higiene anal: deve-se desestimular o uso de papel higiênico (fazer limpeza com água e sabão neutro). ● Banhos de assento: apesar da falta de evidências rigorosas, provavelmente o tratamento tópico mais eficaz para o alívio dos sintomas seja a realização de banhos de assento. Pode ser realizado de 2 a 3 vezes ao dia ou após a evacuação, com água morna e por tempo limitado (10 a 15 minutos). É importante explicar que o banho de9 assento deve ser realizado com imersão, ficando o ânus submerso na água, utilizando banheira ou bacia de tamanho apropriado. ● Agentes formadores de bolo fecal: agem absorvendo água e aumentando a massa fecal. Podem ser utilizados sozinhos ou associados à dieta rica em fibras. Tratamento medicamentoso Sintomáticos tópicos (anestésicos, anti-inflamatórios e adstringentes): muito usados para alívio da dor associada às hemorróidas, embora faltem evidências de benefício. ● Formulações em formato supositório (como Proctyl® ) podem ser utilizados quando existe pouca doença hemorroidária externa, sugerindo que os mamilos hemorroidários internos são os responsáveis pelo quadro clínico. ● Em situações com recurso limitado, lidocaína gel isolada pode ser utilizada (3 a 4 vezes ao dia, conforme necessidade). Agentes venoativos: diosmina, hisperidina, flavonoides. Podem melhorar tônus venoso e diminuir sintomas agudos e sua recorrência. Pequenos estudos com limitações metodológicas demonstram benefício, especialmente para sintomas de prurido e sangramento. É prescrito diosmina 450mg + flavonoides hesperidina complexo 50mg 1 comprimido de 12/ 12 horas, de uso contínuo (Flavenos® , Perivasc® , Flavonid® , Daflon®, Diosmin® , Venaflon® , Venovaz®). Durante a crise a dose pode ser aumentada para 1 comprimido de 6 em 6 horas. Tratamento invasivo (serviço especializado) Quando os sintomas são refratários ao manejo conservador, o especialista pode optar por procedimento ambulatorial inicial (ligadura elástica ou escleroterapia) ou intervenção cirúrgica (hemorroidectomia). 1. Ligadura elástica ● É uma técnica invasiva simples, rápida sendo o método mais utilizado para hemorroidas de graus II ou III (efetiva em 65 a 85% dos pacientes). ● É comum que mais de uma sessão seja necessária para o controle dos sintomas. ● A complicação mais comum é dor, que usualmente é leve e autolimitada e responde à analgésicos comuns. Outras complicações são sangramento leve pela ulceração 10 mucosa, retenção urinária, trombose hemorroidária externa e, raramente, sepse pélvica. ● Consiste na aplicação de anéis de borracha que causam necrose isquêmica e cicatrização do tecido hemorroidário, gerando fixação do tecido conjuntivo à parede do canal anal. ● A colocação do anel de borracha muito perto da linha pectínea pode levar a dor intensa pela presença de inervação somática aferente que requer remoção rápida. 2. Escleroterapia ● Utilizada especialmente em hemorroidas internas grau I e naqueles pacientes com grau II que fazem uso de anticoagulante ou AAS (ligadura elástica tem maior risco de sangramento). ● Consiste na injeção de agente esclerosante (geralmente fenol 5% em óleo de amêndoas) diretamente no mamilo hemorroidário criando cicatrização, fibrose, redução e fixação da hemorroida por obliterar sua vascularização. O procedimento não requer anestesia e é realizado em minutos. ● Cuidados são necessários a fim de evitar injeções intramucosa ou intramuscular e prevenir descamação mucosa com ulceração ou dor excessiva. ● As complicações são infreqüentes e usualmente estão relacionadas à injeção incorreta do esclerosante. 3. Hemorroidectomia cirúrgica ● É indicada nos casos de doença hemorroidária externa, mista ou interna grau III e IV refratários ao tratamento conservador e aos tratamentos de consultório (quando indicados) - pacientes que não responderam a outro tipo de tratamento ou aqueles que possuem doença extensa. ● A indicação cirúrgica é necessária em apenas 5 a 10% dos pacientes. ● É indicada de urgência nos casos de crise hemorroidária ou trombose extensa se associados à necrose ou infecção. ● Existem várias técnicas cirúrgicas, todas apresentam elementos essenciais como ligadura do suprimento arterial, ressecção dos plexos hemorroidários dilatados, remodelagem do anoderma com excisão da pele redundante (plicomas), indução de inflamação e fibrose. ● Podem ser feitas técnicas abertas, com cicatrização por segunda intenção, fechada ou semi-fechadas. ● Os riscos de infecção e sangramento pós-cirúrgicos ficam em torno de 5%, e a retenção urinária em 10 a 32%. Essa pode ser prevenida pelo uso restrito de reposição hídrica no transoperatório. 4. Fotocoagulação de radiação infravermelha ● Consiste em uma unidade elétrica e um aplicador manual tipo pistola. A ponta da pistola é encostada sob leve pressão na mucosa normal, adjacente e cranial ao mamilo. A energia infravermelha penetra nos tecidos e é convertida em calor, que coagula os vasos irrigadores do mamilo. A profundidade da lesão tecidual é determinada pela duração do pulso. Realizam-se 3 a 5 disparos de 1 a 1,5 segundos em cada mamilo, para a coagulação de 1mm de tecido. Até 3 mamilos são coagulados por sessão. Formam-se, no local da aplicação, pequenas úlceras que cicatrizam e, por meio de fibrose, aumentam a aderência da mucosa redundante à muscular adjacente. 11 ● Não há na literatura médica relato de complicações graves. Dor leve é descrita, porém é uma técnica bem aceita pelos pacientes e possui taxa de sucesso terapêutico entre 85% e 92%. ● Uma diferença importante da ligadura elástica é o preço, pois o infravermelho é um aparelho de alta tecnologia e, portanto, com alto custo de manutenção. ● Por suas características, a ligadura elástica deve ser indicada para mamilos de tipo II e III e o infravermelho para mamilos de tipo I e II. Fissura anal ● Afecção comum, universal, benigna, que acomete ambos os sexos e todas as faixas etárias. ● Caracteriza-se por uma lesão linear ulcerada no anoderma do canal anal, que raramente ultrapassa a linha pectínea e a anocutânea que, em muitos casos, resolve- se espontaneamente. ● A dor apresenta intensidade máxima durante ou imediatamente após a evacuação ou a distensão do canal anal, pela grande sensibilidade do anoderma a estímulos dolorosos, em vista de suas inúmeras terminações nervosas e frequente exposição das fibras do músculo esfíncter anal interno pela lesão. ● Sua localização predominante é na região posterior do canal anal, correspondendo a 85,5%. A fissura anterior ocorre, aproximadamente, em 10,5% dos enfermos e a simultaneidade de ambas, anterior e posterior, em 3%, sendo sua localização lateral rada (1% dos pacientes). ● Em docorrencia do processo inflamatório que a fissura anal pode acarretar, em cerca de 30% dos enfermos pode haver plicoma sentinela e uma papila anal hipertrófica. O plicoma caracteriza-se por uma prega cutânea, edemaciada ou não, em forma de capuz, na extremidade externa da lesão fissurária, na linha anocutânea, e a papila hipertrofiada, na sua extremidade interna, no nível da linha pectínea. Quando simultâneas, o paciente é portador da “tríade fissurária”. Etiopatogenia A etiologia da doença fissurária, ainda controversa, apresenta como causas vários fatores, sendo os principais: 12 Fator traumático ● O esforço evacuatória, a constipação intestinal crônica, a presença de fezes endurecidas ou diarreicas, o uso de papel higiênico e o sexo anal podem produzir uma ruptura do epitélio de revestimento do ânus (lesão fissurária), provocando a estimulação das terminações sensitivas desse anoderma. ● Isso acarreta a contínua excitação do esfincter interno, e consequentemente, sua hipertonia. ● A passagem das fezes pelo canal anal, durante o ato defecatório, produz distensão das fibras musculares lisas desses esfincter, além de estimular a sensibilidade dolorosa local. ● A conscientização da evacuação dolorosa inicia um mecanismo reflexo, tanto voluntário quanto involuntário, de inibição da evacuação, provocando o ressecamento das fezes, que quando expelidas endurecidas, podem traumatizar ainda mais o anoderma. ● Isso agrava a lesão fissurária e dificulta sua cicatrização, completando um círculo vicioso. Fator anatômico ● No quadrante posterior do canal anal, há um ponto de fraqueza chamado “espaçode Brick”, formado pela confluência das fibras do músculo esfíncter interno do ânus e das fibras transversas do músculo esfincter externo, local onde pode haver a ruptura do anoderma durante o ato evacuatório. ● Esse fato pode justificar a maior frequência de lesão fissurária de localização posterior. Fator vascular ● A comissura posterior, quando comparada às outras regiões do ânus, é hipovascularizada. ● Essa isquemia da região posterior contibuiria para o aparecimento da fissura anal, em especial em seu quadrante posterior. Outros ● O pós-operatório de cirurgias da região anal (hemorróidas, fístulas, etc) pode também contribuir para o aparecimento de fissura anal, porque provocam mecanismos semelhantes de hipertonia (contratura) muscular e isquemia que dificultam a cicatrização destas cirurgias. ● Outras doenças podem estar associadas ao surgimento de uma fissura anal como a retocolite ulcerativa, a doença de Crohn, a tuberculose e doenças sexualmente transmissíveis (sífilis, herpes, linfogranuloma venéreo, cancro mole, SIDA, citomegalovirose, etc) assim como o câncer de canal anal. Classificação ● São classificadas em função do tempo de evolução e das características clínicas. ● As fissuras agudas estão presentes por menos de 8 semanas enquanto as crônicas persistem por período superior. ● Fissuras típicas são aquelas localizadas na linha média anterior ou posterior e não associadas a outras condições. Já as atípicas localizam-se fora da linha média e frequentemente são associadas a outras patologias. 13 Aguda: caracterizada por uma lesão em forma de fenda, estreita e superficial, sem elevação das bordas e, em geral, com curto período de sintomas. Na fase aguda a dor pode ser intensa e levar a dificuldade para evacuar ou bloqueio da defecação. Outra manifestação possível nas fissuras é a infecção, podendo levar a abscesso anal. Crônica: caracterizada por uma lesão profunda, com bordas bem definidas e salientes. Há perpetuação da hipertonia do esfíncter interno do ânus, com o prolongamento dos sintomas e, com frequência, podem-se observar suas fibras brancas transversais no fundo da ulceração. Quadro clínico ● O principal sintoma é a dor anal intensa, penetrante e aguda do tipo latejante ou queimação, que surge durante ou imediatamente após a defecação. ● Muitas vezes, essa dor estende-se de forma espasmódica até a região genital, às costas ou aos membros inferiores, podendo manter-se por horas após a evacuação. ● O receio da nova defecação dolorosa conduz a uma constipação (endurecimento das fezes) e, em consequência, ao uso abusivo de laxativos que agravam o quadro doloroso. ● A lesão fissurária produz outro sintoma de importância secundária: o sangramento nal, de cor vermelha rutilante, durante a evacuação ou esforço, podendo acontecer na forma de gotas no vaso sanitário, visível no papel higiênico ou depositado nas fezes. ● Podem ocorrer também irritação perianal e prurido local resultantes da eliminação de muco ou da presença de secreção. ● Na fissura anal, às vezes, surge uma complicação: infecção do leito fissurário, resultante do processo inflamatório inicial. Quando essa infecção atinge as criptas anais, localizadas em maior número na face posterior do canal anal, pode contaminar as glândulas anais mucossecretoras, ocasionando um abscesso. Diagnóstico ● O diagnóstico da fissural anal é simples. Na anamnese, as dores anais intensas, durante e/ou imediatamente após a defecação, do tipo latejante ou queimação, já permitem essa hipótese diagnóstica. ● Mediamente o afastamento das nádegas e da exposição cuidadosa do canal anal para inspeção, pode-se observar uma lesão ulceradaa de forma elíptica, medicande 1 cm a 2 cm de extensão em seu maior eixo longitudinal, asssociada ou não ao plicoma sentinea. ● Geralmente é única, mas pode ser múltipla, nesse caso, pode estar relacionada ao quadro clínico de outras afecções, tais como doença de Crohn. ● O exame digital do ânus é muito doloroso e, com frequência, só é possível após analgesia local. Ao realizá-lo, pode-se observar a presença da papila hipertrófica e verificar a intensidade do espasmo esfincteriano. ● Realizar sempre a anuscopia e retossigmoidoscopia na busca de enfermidades associadas, especialmente nos pacientes idosos, porém após a analgesia local ou quando melhora do quadro doloroso. Exame físico ● Ao exame físico as fissuras podem ser visualizadas afastando-se gentilmente os glúteos do paciente, embora não seja obrigatória sua visualização para o diagnóstico, quando o quadro clínico for muito sugestivo. 14 ● Fissuras agudas se parecem com lacerações recentes enquanto as crônicas costumam ter bordas mais endurecidas com exposição da musculatura esfincteriana em sua base. Fissuras crônicas são usualmente acompanhadas por plicomas (excessos de pele) em sua porção distal e papilas hipertróficas na margem proximal do canal anal. ● Em função do desconforto, pode não ser possível realizar o exame de toque retal na consulta inicial, devendo ser feito após melhora sintomática para excluir outras lesões. O toque retal costuma revelar a presença de laceração no canal anal e hipertonia do esfíncter. Pode-se palpar fissuras não visíveis à inspeção. Porém, em função do desconforto, pode não ser possível a sua realização na consulta inicial. Diagnóstico diferencial ● Algumas enfermidades do ânus podem assemelhar-se, morfologicamente, a fissura anal, sendo importante realizar seu diagnóstico diferencial com: carcinoma do canal anal, ulceração sifilítica primária e ulcerações resultantes das enfermidades inflamatórias intestinais, tais como a retocolite ulcerativa, doença de Crohn e lesão hipertética. ● Essas lesões diferem da fissura anal por apresentarem, com frequencia, ulcerações mal delimitadas, com bordas pouco definidas, sem localização preferencial e, sobretudo, sem dor local importante e, sim, intensa exsudação e incômodo. Por essa razão, a ausência de hipertonia esfincteriana e presença de fissura de localização lateral são, particularmente, suspeitas, exigindo observação cuidadosa. Abscessos anorretais: usualmente a dor é persistente e pode ser visto abaulamento em região perianal, associado à hiperemia. O abaulamento também pode ser sentido no toque retal. Usualmente o paciente refere história de febre. Prurido anal: pacientes com prurido anal podem apresentar ranhuras superficiais na margem anal, que não progridem até a linha denteada e não provocam dor ao toque real. Doença inflamatória intestinal: podem se apresentar com fissuras anais, usualmente múltiplas, longe da localização preferencial, com presença de inflamação na pele circunjacente e saída de secreção purulenta. Atentar para a história clínica (diarreia crônica que pode ter a presença de muco e sangue, perda ponderal). Câncer de canal anal: lesões usualmente enduradas, que devem ser biopsiadas. Tratamento Clínico Para pacientes com fissura anal típica o tratamento clínico é seguro, efetivo e tem poucos efeitos adversos, devendo ser a primeira escolha no manejo. Uma combinação de tratamentos conservadores pode ser realizada (banho de assento, ingesta de fibras, analgésico tópico, vasodilatadores tópicos, tratamento da constipação quando presente). Em função da hipertonicidade do esfíncter anal estar relacionada à cronificação da fissura, são utilizadas medicações para promover o relaxamento desta musculatura (como diltiazem ou nitroglicerina). O objetivo do tratamento é relaxar o esfíncter anal interno, iniciar e manter a passagem das fezes sem trauma e aliviar a dor. Medidas iniciais: fissuras agudas usualmente melhoram com a realização de banhos de assento (imersão em água morna utilizando bacia ou banheira durante 10-15 minutos, 2 a 4 vezes ao dia e após a evacuação), aumento da ingesta hídrica e de fibras na dieta. É 15 importante evitar o uso de papel higiênico após as evacuações,dando preferência à limpeza com água morna e sabonetes neutros. A realização de banhos de assento e suplementação de fibras tem resultado clínico superior ao uso isolado de anestésicos tópicos locais (por exemplo lidocaína 2%) ou corticoides tópicos. Fissuras crônicas ou persistência dos sintomas: além das medidas iniciais são utilizados compostos manipulados em pomada ou creme para uso tópico sobre a fissura e no canal anal, que tem como função relaxar o esfíncter anal. Devido à taxa de cicatrização semelhante com menores efeitos adversos, o diltiazem tópico é o agente de primeira linha. Deve ser aplicado 3 vezes ao dia, por tempo prolongado (8 semanas), sobre a fissura e canal anal. Em casos com melhora parcial o tempo pode ser estendido além de 8 semanas ou pode-se trocar a classe da medicação em uso. Manejo da constipação: o aumento da ingesta hídrica associada a dieta rica em fibras é recomendado como o manejo inicial. A manutenção da terapia com fibras é associada com menores índices de recorrência da fissura após sua cicatrização. Atentar para o uso de medicações ou condições que causem constipação secundária. - Dieta rica em fibras: o recomendado é a ingesta de 20-35g/dia. Além da ingesta de alimentos ricos em fibras, o paciente pode adicionar farelo cru de trigo ou linhaça (2- 4 colheres de sopa dissolvidos em água, suco ou iogurte) para atingir a quantidade diária recomendada. - Agentes formadores de bolo: agem absorvendo água e aumentando a massa fecal. Podem ser utilizados sozinhos ou associados à dieta rica em fibras. Exemplos são o psyllium 1 envelope ao dia (Metamucil®, Plantaben®, Plantacil®, Povata®), metilcelulose 1 colher de sopa 3x/dia, policarbófila cálcica 500mg 1-2 cps de 12/12 horas. - Pacientes que não respondem à fibras ou que não as toleram podem se beneficiar do uso de laxativos osmóticos (lactulose, leite de magnésia ou PEG). Sugestões de uso: leite de magnésia 2-4 colheres de sopas divididas em 2 ou 3 tomadas diárias, longe das refeições; lactulona 15 a 30 ml ao dia, pela manhã ou à noite; PEG (macrogol) – Muvinlax® 1 a 2 sachês ao dia. Tratamento cirúrgico ● É reservado para pacientes que não apresentam melhora após tratamento conservador, por existir risco de incontinência fecal (de graus variados, para gases e sólidos) após o tratamento. ● De todas as opções cirúrgicas (fissurectomia isolada, esfincterotomia lateral interna, dilatação anal), a esfincterotomia lateral interna é o tratamento cirúrgico de escolha e consiste na secção de parte do esfíncter anal interno, diminuindo a hipertonia esfincteriana e possibilitando a cicatrização da fissura. ● Após a cicatrização da fissura podem permanecer os plicomas anais residuais. 16 ● Usualmente não há indicação de ressecção cirúrgica, por serem benignos e pelo risco de surgimento de novas lesões e de fissura pós-operatória no leito cirúrgico, após a ressecção. ● Devem ser encaminhados ao proctologista pacientes com fissura anal sem nenhuma resposta ao tratamento clínico otimizado por, pelo menos, 8 semanas. Caso o paciente tenha tido melhora parcial pode-se tentar estender o tempo de tratamento ou trocar a classe de medicação. Abscessos perianais ● Os abscessos anorretais são processos infecciosos agudos, supurativos, caracterizados por coleções purulentas. ● Apresenta como etiologia principal a criptite. ● As glânculas anais localizam-se ao redor do canal anal, no nível da linha pectínea, no espaço existente entre o esfincter anal interno e o externo, são de 8 a 12 e seus ductos desembocam nas bases das criptas anais. Pelos ductos é que pode ocorrer contaminação glandular originária de uma criptite existente. A infecção glandular pode espalhar-se do espaço interesfincteriano às mais variadas direções. ● Alguns abscessos podem também ser originados de uma fissura infectada, que consiste em uma ferida linear no canal anal, mas com alto potencial de desenvolver uma infecção local. ● Existem causas menos comuns para o surgimento de um abscesso como, por exemplo, o ato de deglutir (engolir) alimentos sem mastigar que pode levar fragmentos de ossos ou espinhas de peixe até o canal anal. Neste caso, estes fragmentos não são digeridos e passam pelo canal anal podendo gerar uma escoriação, perfuração, que provoca um abscesso e, tardiamente, pode dar lugar à fístula. Classificação ● A classificação dos abscessos é feita conforme sua localização anatômica nas regiões perianal ou pélvica. São denominadas de perianais, isquiorretais, submucosos, interesfincterianos e pelvirretais. Esses abscessos tem como características: - Perianais: são mais frequentes. - Isquiorretais: podem propagar-se ao lado oposto pelo espaço retrosesfincteriano e originar as fístulas em ferradura. - Submucoso: provoca, frequentemente, um abaulamento para o interior da ampola retal. - Interesfincteriano: podem dissecar o plano intermuscular. - Pelvirretais: localizados acima dos músculos elevadores do ânus e abaixo da reflexão peritoneal, são mais raros e difíceis de diagnosticar e tratar. ● Podem também serem classificados em superficiais, como os perianais e isquiorretais, e em profundos, como os submucosos, os interesfincterianos e os pelvirretais. Quadro clínico ● A dor, o sintoma mais característico, é contínua e latejante, de intensidade variável de acordo com o volume da coleção purulenta, piorando a deambulação, ao sentar-se e até mesmo à evacuação. ● Podem associar-se febre, calafrios, tenesmo retal e urinário e tumoração perianal. Diagnóstico 17 ● É realizado pela inspeção que, nos abscessos superficiais, pode revelar os sinais flogísticos de tumoração, hiperemia, dor e calor e, à palpação, pode-se observar a flutuação e os limites da coleção purulenta. ● Nos abscessos profundos, a inspeção e a palpação podem nada revelar. Ao toque retal, podem-se palpar abaulamentos dolorosos pela presença de abscessos profundos. ● A anuscopia costuma nada revelar, porém, em alguns pacientes, poderá haver a presença de secreção purulenta no reto. ● A retossigmoidoscopia deve, sempre que possível, ser realizada para avaliação de doenças associadas. ● Nos pacientes com dor intensa e exame físico duvidoso, efetuar ultrassonografia transretal, pois esse exame pode demonstrar a presença de abscessos profundos e pequenos. ● A tomografia computadorizada e a cintilografia são de indicação menos comum. ● Há casos em que a dor é tão intensa que impossibilita o exame proctológico ou ultrassonografia, devendo-se internar o paciente para realizar o exame sob analgesia e, segundo o diagnóstico, proceder ao tratamento. Diagnóstico diferencial ● Deve ser feito com os originários de outras etiologias, especialmente de enfermidades específicas. Tratamento ● É cirúrgico e, ao ser diagnosticado, o abscesso deverá sempre ser drenado. ● Uma das opções operatórias é a drenagem simples de coleção purulenta, por meio de incisão, para permitir sua ampla drenagem, impedindo o fechamento prematuro da ferida e sua recidiva. ● Nos processos superficiais e pequenos, essa drenagem pode ser realizada, sob anestesia local, ambulatorialmente. Já nos abscessos profundos e amplos, deverá ser efetuada, sob bloqueio anestésico, em centro cirúrgico. ● A ferida precisa permanecer aberta até sua total cicatrização pós-operatória. ● Havendo cicatrização, o paciente pode ser considerado curado. Não raro, porém, ocorre persistência de um trajeto fistuloso, com eliminação contínua de secreção purulenta, que exigirá nova cirurgia para correção da fístula anorretal e do tratamento da causa do abscesso, ou seja, da cripta infectada. ● Outra tática operatória consiste em realizar, juntamente com a drenagem, a pesquisa da cripta ou do orifício interno de origem do abscesso: quando identificado, efetuar ampla abertura do trajeto, desde a loja abscedada até o canal anal, com a curetagem do leito e deixando aferida aberta até completa cicatrização. Isso evita, na maioria das vezes, sua recidiva ou a necessidade de uma nova cirurgia para a correção da fístula residual. ● Faz-se uso profilático de antibiótico, previamente à drenagem cirúrgica, à exceção dos pacientes debilitados ou imunodeprimidos, quando se utilizam os antibióticos como terapia. ● Analgésicos e antiinflamatórios ou parenterais são também empregados. ● Auxilia-se a evacuação com dieta rica em fibras ou mucilagens. ● Os cuidados locais pós-operatórios são fundamentais e consistem em curativos diários, inicialmente até cinco a seis vezes ao dia, com limpeza exaustiva da ferida de 18 drenagem, mediante lavagem com água corrente, e protegendo com gazes, com pomada analgésica e antiinflamatória até sua cicatrização local. ● Associam-se banhos de assento com permanganato de potássio, diluído em 1:40.000, como solução anti séptica após cada evacuação, nos primeiros sete a dez dias de pós-operatório. ● Em alguns casos o abscesso se rompe e drena espontaneamente. Fístulas perianais ● São caracterizadas por um trajeto comunicando o canal anal ou o reto (orifício interno) ao períneo ou nádegas (orifício externo). ● Ocorrem como resultado da drenagem espontânea ou cirúrgica de um abscesso perianal. A secreção purulenta contida dentro do abscesso é eliminada, naturalmente ou com ajuda de tratamento médico, dando lugar à formação de uma fístula anal que é o resultado final da cura de um abscesso desta região. Não é uma complicação do tratamento e sim uma evolução natural da condição. Não é sempre que um abscesso desta região produz uma fístula e, por isto, não se pode prever quando um abscesso irá formar uma fístula, podendo ocorrer em cerca de metade dos casos de abscesso anal. ● Outra causa comum de fístula anal é a doença inflamatória do intestino ou colite. ● Não raro, as fístulas já formadas podem novamente infectar formando um novo abscesso ● Podem existir vários orifícios externos e/ou internos, uni ou bilaterais, posteriores, laterais ou anteriores, ou mesmo vários trajetos fistulosos relacionados a uma ou a múltiplas criptas anais. Classificação ● A classificação das fístulas perianais é feita de várias maneiras. ● É dita complexa quando é possível reconhecer o orifício externo (cutâneo), o trajeto fistuloso e o orifício interno, geralmente na cripta anal comprometida. ● Quando um dos orifícios não é identificado a fístula é chamada de incompleta. ● Quanto a profundidade é classificada em superficial e profunda. ● De acordo com o tipo de trajeto fistuloso, com o número de orifícios, interno ou externo e com a musculatura esfincteriana envolvida, as fístulas são denominadas de simples ou complexas. ● Também são classificadas conforme a localização anatômica, em interesfincterianas, transesfincterianas, extra-esfincterianas e supra-esfincterianas. Existem duas classificações frequentemente usadas 1. Classificação de Parks: define quatro tipos de fístulas de acordo com a relação do trajeto. primário com o aparelho esfincteriano: fístulas interesfincterianas (45% dos casos), fístulas transesfincterianas (30% dos casos), fístulas supraesfincterianas (20% dos casos) e fístulas extraesfincterianas (5% dos casos). 2. A Associação Americana de Gastrenterologia classifica as fístulas em: fístulas simples e fístulas complexas, definindo as últimas como fístulas que envolvam mais de 30% do esfíncter externo, fístulas proximais à linha pectínea, fístulas extraesfinctéricas, fístulas anteriores em mulheres, fístulas com múltiplos trajetos, fístulas recorrentes e fístulas em doentes com história de incontinência fecal. Quadro clínico 19 ● Os pacientes referem, frequentemente, a ocorrência pregressa de um abscesso anorretal que, após drenado, espontânea ou cirurgicamente, passa a apresentar eliminação de secreção purulenta perianal, relativamente indolor. ● A dor poderá estar presente nos casos de fístulas com recidiva do abscesso. ● A inspeção, constata-se a presença de um ou mais orifícios externos, com bordas endurecidas e, geralmente, próximos ao canal anal. São raros aqueles a mais de 5 cm da linha pectínea. ● Nas fístulas superficiais palpa-se um trajeto fistuloso subcutâneo entre o orifício externo e o canal anal. ● Ao toque retal bidigital, pode-se identificar o tecido fibroso na região anorretal. Essa compressão palpatória, com frequência, permite a saída de secreção pelo orifício da fístula. ● Em alguns pacientes é possível reconhecer o orifício da fístula pela anuscopia, inclusive com a saída de secreção purulenta. ● A exploração instrumental do trajeto fistuloso com estilete deverá ser extremamente cuidadosa para não provocar dor ou falso trajeto, induzindo a erro quanto à cripta comprometida. Sintomatologia ● O sintoma mais comum da fístula anal é a saída de secreção persistente na região externa, ao redor do ânus, através de um ou vários pequenos orifícios. Diagnóstico ● É facilmente estabelecido pela história e pelo exame físico do paciente. ● O estudo por imagens raramente é indicado. ● A fistulografia e a ultrassonografia transanal podem auxiliar as fístulas complexas, porém o maior avanço propedêutico, nesse caso, está na ressonância magnética. Diagnóstico diferencial ● Deverá ser com todas as enfermidades específicas que produzem fístulas anorretais. ● Outras doenças podem se assemelhar às fístulas desta origem como a hidroadenite supurativa e o cisto pilonidal, entre outras. Tratamento ● É essencialmente cirúrgico, ou seja, através de cirurgia programada. ● Algumas fístulas podem necessitar de exames antes da cirurgia, como ultrassonografia ou ressonância magnética. ● Faz-se a abertura (fistulotomia) ou a ressecção (fistulectomia) do trajeto fistuloso incluindo o orifício externo e o interno com a cripta correspondente. ● Existem tipos diferentes de fístula. Então, de acordo com as características e profundidade de sua apresentação é escolhido o tipo de cirurgia ou técnica. ● A identificação cuidadosa desse trajeto é fundamental podendo ser realizada com estilete, ou, mais raramente, com injeção de água oxigenada ou azul de metileno. ● A ferida é deixada aberta até a sua cicatrização total. ● A fístula anal pode ser mais superficial sendo o seu tratamento mais simples. Neste caso é realizada a abertura e curetagem destes trajetos fistulosos. Estas técnicas são conhecidas como fistulotomia e fistulectomia. ● Nos casos de fístulas complexas, quando é comum o envolvimento dos músculos do esfíncter, o tratamento pode se tornar difícil. Por este motivo estas cirurgias devem 20 ser realizadas por médicos cirurgiões especializados (coloproctologistas). A maioria dos casos têm sua fístula operada em dois tempos (duas cirurgias) com intervalo aproximado de 2 a 4 meses entre as duas. Neste caso, é aplicado um cordão de fio cirúrgico ou de algodão chamado sedenho, com vista a facilitar a segunda cirurgia e poupar o músculo esfíncter. ● Outro tipo de cirurgia utilizado atualmente é o retalho indicado em determinados casos de maior complexidade ou que envolvem uma porção significativa do esfíncter. ● Nas fístulas simples e superficiais, pode-se efetuar a cirurgia em ambulatório, sob anestesia local. Entretanto, nas fístulas profundas ou complexas, deverá ser realizado em centro cirúrgico, sob bloqueio anestésico, para uma segura exploração de todo o trajeto fistuloso. ● A recidiva em todos os tipos de técnica é possível, mas pode ser minimizada através da atenção necessária às recomendações de seu cirurgião.
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