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Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia ------------- Fis���o��� da� �lân�u��s ���ra-re���� ------------- > Anatomia As duas glândulas adrenais situam-se medialmente aos pólos superiores dos dois rins. Como os rins, elas são retroperitoneais e estão envoltas por tecido adiposo abundante. As glândulas suprarrenais estão inclusas em uma cápsula de tecido conectivo e possuem um fornecimento de sangue bem desenvolvido. Cada glândula é composta por duas partes distintas, a medula adrenal e o córtex adrenal. A medula adrenal, que consiste nos 20% centrais da glândula, é funcionalmente relacionada ao sistema nervoso simpático e secreta os hormônios adrenalina e noradrenalina em resposta à estimulação simpática. Por sua vez, esses hormônios causam praticamente os mesmos efeitos que a estimulação direta dos nervos simpáticos em todas as partes do corpo. O córtex adrenal secreta um grupo totalmente diferente de hormônios, chamados de corticosteróides. Esses hormônios são sintetizados a partir do colesterol esteroide, e todos eles têm fórmulas químicas semelhantes. No entanto, pequenas diferenças em suas estruturas moleculares fazem com que apresentem funções distintas, mas muito importantes. > Histologia A medula suprarrenal origina-se de células da crista neural que também originam os neurônios pós-gangliônicos da divisão simpática do sistema nervoso autônomo. Diferentemente da maioria das glândulas do corpo, que se desenvolvem a partir das invaginações do tecido epitelial, o córtex suprarrenal é derivado da mesoderme. 1 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia A trabécula da cápsula de tecido conectivo penetra a glândula suprarrenal em diversas localidades, e numerosos vasos sanguíneos adentram pela trabécula. A medula suprarrenal consiste em células poliédricas empacotadas localizadas centralmente na glândula. O córtex suprarrenal é composto por pequenas células que formam três camadas distintas: a zona glomerulosa, a zona fasciculada e a zona reticulada. A zona glomerulosa, localizada imediatamente abaixo à cápsula, é composta de pequenos grupos de células que secretam aldosterona. A zona fasciculada, secreta o cortisol. Nessa camada, as células formam longas colunas, ou fascículos, que se estendem da superfície para à medula da glândula. A zona reticulada, secreta androgênios e é uma camada fina de cordões de células dispostas irregularmente. > Hormônios Medulares A medula suprarrenal secreta dois importantes hormônios: adre- nalina, que corresponde a 80% dos hormônios da medula suprarrenal, e a noradrenalina, que corresponde a 20%. ! A noradrenalina é precursora para a formação de adrenalina. Pelo fato de a medula suprarrenal consistir em células derivadas de mesmas células que dão origem a neurônios pós-gangliônicos simpáticos, seus produtos secretados são neuro-hormônios. A adrenalina e a noradrenalina combinam-se com receptores adrenérgicos, que são receptores de membrana nas células-alvo. Elas são classificadas como receptores alfa-adrenérgicos ou beta-adrenérgicos, e cada uma dessas categorias possuem subcategorias que afetam os tecidos-alvo diferentemente. Todos os receptores adrenérgicos funcionam por meio de mecanismos de proteínas G. Em geral, os receptores α-adrenérgicos causam a abertura de canais de Ca2+ que induzem a liberação de Ca2+ do retículo endoplasmático pela ativação das 2 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia enzimas fosfolipases, abertura dos canais de K+, diminuição da síntese de cAMP ou estimulação da síntese de moléculas eicosanoides como as prostaglandinas. Os receptores beta-adrenérgicos aumentam a síntese de cAMP. A adrenalina aumenta o nível de glicose no sangue. Ela se liga aos receptores de membrana das células do fígado. O cAMP, em contrapartida, aumenta a atividade de enzimas que catalisam a quebra de glicogênio para glicose e libera glicose das células do fígado para o sangue. A adrenalina também aumenta a quebra de glicogênio nos músculos, mas os músculos não liberam a glicose para o sangue, sendo metabolizados pelas células musculares. Ela também aumenta a quebra de lipídeos do tecido adiposo e ácidos graxos são liberados no sangue. Os ácidos graxos podem ser capturados e metabolizados por tecidos como o músculo esquelético e cardíaco. A adrenalina e a noradrenalina aumentam a frequência e força de contração do coração e causam a contração dos vasos sanguíneos na pele, rins, trato gastrintestinal e outras vísceras. A adrenalina causa também a dilatação dos vasos sanguíneos dos músculos esquelético e cardíaco. A secreção dos hormônios da medula suprarrenal prepara o indivíduo para atividades físicas e é um importante componente da resposta de luta ou fuga. Essa resposta resulta em atividade reduzida de órgãos não essenciais à atividade física, bem como aumento do fluxo de sangue e atividade metabólica em órgãos que participam da atividade física. Além disso, são mobilizados nutrientes que possam ser utilizados para sustentar o exercício físico. Os efeitos da adrenalina e da noradrenalina são curtos porque esses hormônios são rapidamente metabolizados, excretados ou capturados pelos tecidos. Suas meia-vidas no sistema circulatório são mensuradas em minutos. A liberação dos hormônios da medula suprarrenal ocorre em resposta à estimulação por neurônios simpáticos porque a medula suprarrenal é uma parte especializada do sistema nervoso autônomo. Diversas condições, incluindo excitação emocional, injúria, estresse, exercício e glicemia baixa, levam à liberação de neuropeptídeos da medula suprarrenal. Síntese das catecolaminas: A síntese de catecolaminas é realizada a partir do aminoácido tirosina, proveniente da dieta ou da hidroxilação da fenilalanina no fígado. 3 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia O passo limitante na biossíntese de catecolaminas é a conversão da tirosina em diidroxifenilalanina (LDopa), reação catalisada pela ação da enzima citosólica tirosina hidroxilase (TH), na presença do co-fator tetraidropterina. ! Portanto, a produção de catecolaminas é dependente da ação dessa enzima. ] As catecolaminas são produzidas a partir do aminoácido tirosina, que, uma vez internalizado na célula cromafim, passa ao citoplasma. No citoplasma, a tirosina sofre ação da enzima tirosina hidroxilase (TH), formando a di-hidroxi-fenilalanina, a dopa. A atividade da tirosina hidrolase é o passo limitante na síntese das catecolaminas. A dopa, então, sofre ação da enzima dopa-descarboxilase, formando a dopamina. Na adrenal, parte da dopamina pode ser estocada, mas a maior parte continua na via, para formar as catecolaminas. A produção de dopamina, nos neurônios dopaminérgicos, até essa etapa, é comum à das catecolaminas. No entanto, no processo de formação de adrenalina e noradrenalina, a dopamina continua na via. A dopamina, então, sofre ação de dopamina beta-hidroxilase, formando noradrenalina. A dopamina, então, sofre ação de dopamina beta-hidroxilase, formando noradrenalina. Em seguida, parte da noradrenalina é estocada e parte sofre ação da enzima feniletanomina N-metiltransferase (FMNT), enzima que é estimulada pelo cortisol. A adrenalina e a noradrenalina, então, são estocadas em vesículas na medula do adrenal e são secretadas em resposta a diferentes estímulos nervosos que desencadeiam exocitose a partir da ação do neurotransmissor acetilcolina, que age nos receptores nicotínicos das células cromafins. Portanto, com a ligação de acetilcolina, liberada pelo neurônio préganglionar, nos receptores nicotícos nas membranas das células cromafins, há abertura de canais de sódio, que leva ao influxo de sódio na célula. O aumento do sódio intracelularleva à despolarização da membrana. A despolarização leva à abertura dos canais de cálcio, que leva ao influxo de cálcio na célula. O aumento do fluxo citosólico de cálcio na célula, promove um rearranjamento no interior da célula que faz com que as vesículas de estoque de epinefrina e norepinefrina distribuam-se para a membrana. 4 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia Com a fusão das vesículas à membrana, há liberação das catecolaminas para a corrente sanguínea. Alguns dos estímulos desencadeantes da liberação desses hormônios são o estresse mental, o exercício, a hemorragia, a ingestão de cafeína, a hipoglicemia e o frio. Após a secreção de noradrenalina pelas terminações nervosas terminais, ela é removida do sítio secretor de três maneiras: ● recaptação nas terminações nervosas adrenérgicas por um processo de transporte ativo, sendo responsável pela remoção de 50 a 80% da noradrenalina secretada; ● difusão para fora das terminações nervosas para os líquidos corporais circundantes, em seguida, para o sangue, sendo responsável pela remoção da maior parte da noradrenalina remanescente; e ● destruição de pequenas quantidades por enzimas teciduais. Uma dessas enzimas é a monoaminoxidase (MAO), encontrada nas terminações nervosas, e outra é a catecol-orto-metiltransferase (COMT), presente difusamente nos tecidos. Em geral, a noradrenalina secretada diretamente no tecido permanece ativa por apenas alguns segundos, demonstrando que sua recaptação e difusão para fora do tecido são rápidas. No entanto, a noradrenalina e a adrenalina secretadas no sangue pela medula adrenal permanecem ativas até que se difundam em algum tecido, onde podem ser degradadas pela COMT; essa ação ocorre principalmente no fígado. Portanto, quando secretadas no sangue, tanto a noradrenalina quanto a adrenalina se mantêm ativas por 10 a 30 segundos, mas sua atividade diminui até a extinção ao longo de 1 a vários minutos. Receptores nos órgãos efetores: 5 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia A noradrenalina ou a adrenalina secretadas em uma terminação nervosa autônoma, antes de poderem estimular um órgão efetor, devem primeiro se ligar a receptores específicos nas células efetoras. O receptor fica do lado de fora da membrana celular, ligado como um grupo protético a uma molécula de proteína que penetra integralmente a membrana celular. A ligação da substância transmissora com o receptor provoca mudança conformacional na estrutura da molécula de proteína. Por sua vez, a molécula de proteína alterada excita ou inibe a célula, causando, na maioria das vezes: ● alteração na permeabilidade da membrana celular a um ou mais íons; ou ● ativação ou inativação de uma enzima ligada à outra extremidade da proteína receptora, onde se projeta para o interior da célula. Receptores adrenérgicos alfa e beta - existem duas classes principais de receptores adrenérgicos: os receptores alfa e receptores beta. Existem dois tipos principais de receptores alfa (alfa1 e alfa2), que estão ligados a diferentes proteínas G. Os receptores beta são divididos em receptores beta1, beta2 e beta3 porque certas substâncias químicas afetam apenas alguns receptores beta. Os receptores beta também usam proteínas G para sinalização.Os receptores beta também usam proteínas G para sinalização. A noradrenalina e a adrenalina, ambas secretadas no sangue pela medula adrenal, têm efeitos ligeiramente diferentes na excitação dos receptores alfa e beta. A noradrenalina excita sobretudo os receptores alfa, mas também os receptores beta em menor grau. A adrenalina excita ambos os tipos de receptores de maneira aproximadamente igual. Portanto, os efeitos relativos da noradrenalina e da adrenalina nos diferentes órgãos efetores são determinados pelos tipos de receptores nos órgãos. Se todos forem receptores beta, a adrenalina será o excitante mais eficaz. Transporte das catecolaminas: A meia-vida é de cerca de 2 minutos, com um efeito rápido: o tempo de ativação é de 10 a 30s. Normalmente, circula ligada à albumina com baixa afinidade. O transportador neuronal de norepinefrina constitui o principal mecanismo de término rápido da transmissão simpático neuronal, enquanto os transportadores de localização extraneuronal são mais importantes para a limitação dos efeitos e clearance das catecolaminas circulantes. 6 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia Função da medula adrenal: A estimulação dos nervos simpáticos para a medula adrenal faz com que grandes quantidades de adrenalina e noradrenalina sejam liberadas no sangue circulante, e esses dois hormônios, por sua vez, são transportados pelo sangue para todos os tecidos do corpo. Em média, cerca de 80% da secreção são compostos por adrenalina, e 20%, noradrenalina, embora as proporções relativas possam mudar consideravelmente em diferentes condições fisiológicas. A adrenalina e a noradrenalina circulantes têm quase os mesmos efeitos nos diferentes órgãos que aqueles causados pela estimulação simpática direta, exceto pelo fato de que os efeitos duram 5 a 10 vezes mais em razão de ambos os hormônios serem removidos do sangue lentamente por um período de 2 a 4 minutos. A noradrenalina circulante causa constrição da maioria dos vasos sanguíneos do corpo, além de aumentar a atividade do coração, inibir o trato gastrointestinal, dilatar as pupilas dos olhos, e assim por diante. A adrenalina causa quase os mesmos efeitos que os provocados pela noradrenalina, com diferenças nos seguintes aspectos. Primeiro, a adrenalina, por causa de seu maior efeito na estimulação dos receptores beta, tem ação maior na estimulação cardíaca do que a noradrenalina. Em segundo lugar, a adrenalina causa apenas constrição fraca dos vasos sanguíneos nos músculos, em comparação com constrição muito mais forte ocasionada pela noradrenalina. Uma vez que os vasos musculares representam um segmento principal dos vasos do corpo, essa diferença é de especial importância porque a noradrenalina aumenta muito a resistência periférica total e eleva a pressão arterial, enquanto a adrenalina eleva a pressão arterial em menor grau, mas aumenta mais o débito cardíaco. Uma terceira diferença entre as ações da adrenalina e da noradrenalina está relacionada aos seus efeitos no metabolismo do tecido. A adrenalina tem efeito metabólico 5 a 10 vezes maior do que a noradrenalina. De fato, a adrenalina secretada pela medula adrenal pode aumentar a taxa metabólica de todo o corpo em até 100% acima do normal, elevando, assim, a atividade e a excitabilidade do corpo. Também aumenta as taxas de outras atividades metabólicas, como a glicogenólise no fígado e nos músculos e a liberação de glicose no sangue. Em resumo, a estimulação da medula adrenal causa liberação dos hormônios adrenalina e noradrenalina, que juntos têm quase os mesmos efeitos em todo o 7 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia corpo que a estimulação simpática direta, exceto pelo fato de os efeitos serem mais prolongados, durando 2 a 4 minutos após o término da estimulação. A adrenalina e a noradrenalina são quase sempre liberadas pela medula adrenal ao mesmo tempo que os diferentes órgãos são estimulados diretamente pela ativação simpática generalizada. Portanto, os órgãos são estimulados de duas maneiras: diretamente pelos nervos simpáticos e indiretamente pelos hormônios medulares adrenais. Os dois meios de estimulação apoiam-se de maneira mútua, e, na maioria dos casos, um pode substituir o outro. Por exemplo, a destruição das vias simpáticas diretas para os diferentes órgãos do corpo não anula a excitação simpática dos órgãos, porque a noradrenalina e a adrenalina ainda são liberadas no sanguecirculante e causam estimulação indireta. De igual modo, a perda das duas medulas adrenais geralmente tem pouco efeito sobre o funcionamento do sistema nervoso simpático, pois as vias diretas ainda podem realizar quase todas as funções necessárias. Assim, o mecanismo duplo de estimulação simpática fornece um fator de segurança, com um mecanismo substituindo o outro se estiver ausente. Outro valor importante das medulas adrenais é a capacidade da adrenalina e da noradrenalina de estimular as estruturas do corpo que não são inervadas por fibras simpáticas diretas. Por exemplo, a taxa metabólica de quase todas as células do corpo é aumentada por esses hormônios, especialmente pela adrenalina, embora apenas uma pequena proporção de todas as células do organismo seja inervada diretamente por fibras simpáticas. > Hormônios do córtex da suprarrenal Os dois tipos principais de hormônios adrenocorticais, os mineralocorticóides e os glicocorticóides, são secretados pelo córtex adrenal. Além desses hormônios, pequenas quantidades de hormônios sexuais são secretadas, em particular hormônios androgênicos, que exibem aproximadamente os mesmos efeitos do hormônio sexual masculino testosterona. ! Normalmente têm pouca importância (principalmente nos homens), embora em certas anormalidades do córtex adrenal, quantidades extremas possam ser secretadas e resultar em efeitos masculinizantes. Os mineralocorticóides receberam esse nome porque afetam, principalmente, os eletrólitos (os “minerais”) dos líquidos extracelulares, especialmente sódio e potássio. 8 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia Os glicocorticóides têm esse nome porque exibem efeitos importantes que aumentam a concentração sanguínea de glicose. ! Eles apresentam efeitos adicionais no metabolismo proteico e lipídico. A aldosterona, é o principal mineralocorticóide, e o cortisol, é o principal glicocorticóide. Síntese e secreção dos hormônios adrenocorticais: ● zona glomerular - são as únicas na glândula adrenal capazes de secretar uma quantidade significativa de aldosterona porque contêm a enzima aldosterona sintase, que é necessária para a síntese da aldosterona. A secreção dessas células é controlada, principalmente, pelas concentrações de angiotensina II e de potássio no líquido extracelular, e ambos estimulam a secreção de aldosterona. ● zona fasciculada - secreta os glicocorticóides cortisol e corticosterona, bem como pequenas quantidades de androgênios e de estrogênios adrenais. A secreção dessas células é controlada, em grande parte, pelo eixo hipotalâmico-hipofisário por meio do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). ● zona reticular - secreta os androgênios adrenais desidroepiandrosterona e androstenediona, bem como pequenas quantidades de estrogênios e alguns glicocorticóides. O ACTH regula a secreção dessas células. A secreção de aldosterona e cortisol é regulada por mecanismos independentes. 9 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia Fatores como a angiotensina II, que aumentam especificamente a liberação de aldosterona e causam a hipertrofia da zona glomerular, não têm efeito nas outras duas zonas. Da mesma forma, fatores como o ACTH, que aumentam a secreção de cortisol e de androgênios adrenais e causam a hipertrofia das zonas fasciculada e reticular, têm pouco efeito na zona glomerular. Todos os hormônios esteróides humanos, incluindo aqueles produzidos pelo córtex adrenal, são sintetizados a partir do colesterol. Embora as células do córtex adrenal possam sintetizar, de novo pequenas quantidades de colesterol, aproximadamente 80% do colesterol utilizado para a síntese de esteróides é fornecido por lipoproteínas de baixa densidade (LDLs) do plasma circulante. As LDLs, que possuem altas concentrações de colesterol, difundem-se do plasma para o líquido intersticial e ligam-se a receptores específicos contidos em depressões denominadas de coated pits, existentes na membrana das células adrenocorticais. As depressões revestidas são então internalizadas por endocitose, formando vesículas que, por fim, fundem-se com os lisossomos celulares e liberam o colesterol, que pode ser usado para sintetizar hormônios esteróides adrenais. O transporte de colesterol para as células adrenais é regulado por mecanismos de feedback que podem alterar significativamente a quantidade disponível para a síntese de esteróides. Por exemplo, o ACTH, que estimula a síntese de esteróides adrenais, aumenta o número de receptores de células adrenocorticais para LDL, bem como a atividade das enzimas que liberam o colesterol do LDL. Uma vez que o colesterol entra na célula, é transportado para as mitocôndrias, onde é clivado pela enzima colesterol desmolase, formando a pregnenolona; essa é a etapa limitante na formação de esteróides adrenais. Nas três zonas do córtex adrenal, essa etapa inicial da síntese de esteróide é estimulada pelos diferentes fatores que controlam a secreção dos principais produtos hormonais: aldosterona e cortisol. Por exemplo, tanto o ACTH, que estimula a secreção de cortisol, como a angiotensina II, que estimula a secreção de aldosterona, aumentam a conversão de colesterol em pregnenolona. 10 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia Praticamente, todas essas etapas ocorrem na mitocôndria e no retículo endoplasmático, sendo que algumas etapas ocorrem em uma dessas duas organelas, e outras etapas, em outras organelas. Cada estágio é catalisado por um sistema enzimático específico. Uma alteração em uma única enzima no esquema pode causar a formação de tipos e proporções relativas muito diferentes de hormônios. Os hormônios do córtex suprar- renal são transportados no sangue em combinação com proteínas plasmáticas específicas; são metabolizados no fígado e excretados na bile e na urina. Aproximadamente 90 a 95% do cortisol plasmático ligam-se a proteínas plasmáticas, especialmente a uma globulina chamada de globulina transportadora de cortisol, ou transcortina, e, em menor quantidade, à albumina. Esse alto grau de ligação às proteínas plasmáticas reduz a velocidade de eliminação do cortisol do plasma; portanto, o cortisol tem meia-vida relativamente longa de 60 a 90 minutos. Apenas cerca de 60% da aldosterona circulante combinam-se a proteínas plasmáticas, de modo que cerca de 40% estão em forma livre; como resultado, a aldosterona tem meia-vida relativamente curta, de cerca de 20 minutos. Esses hormônios são transportados pelos líquidos extracelulares nas formas livre e combinada. A ligação dos esteroides adrenais às proteínas plasmáticas pode servir como um reservatório para diminuir as rápidas flutuações nas concentrações de hormônios livres, como ocorreria, por exemplo, com o cortisol durante breves períodos de estresse e secreção episódica de ACTH. Os esteróides adrenais são degradados, principalmente, pelo fígado e conjugados especialmente ao ácido glicurônico e, em menor grau, a sulfatos. Essas substâncias são inativas e não apresentam atividade mineralocorticoide ou glicocorticóide. Cerca de 25% desses conjugados são excretados na bile e depois nas fezes. 11 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia Os demais conjugados formados pelo fígado entram na circulação, mas não são ligados às proteínas plasmáticas, sendo altamente solúveis no plasma e, portanto, prontamente filtrados pelos rins e excretados na urina. Função dos mineralocorticóides - ALDOSTERA: A aldosterona é secretada em condições de baixa pressão sanguínea; aumenta a taxa de reabsorção de sódio pelos rins e, portanto, aumenta o nível de sódio no sangue. A reabsorção de sódio pode resultar no aumento da reabsorção de água pelos rins e aumentar o volume de sangue.A aldosterona aumenta a excreção de K + na urina pelos rins e, assim, diminui o nível sanguíneo de K +. Ela também aumenta a taxa de excreção de H + na urina. Quando a aldosterona é secretada em grandes concentrações, pode resultar em redução do nível sanguíneo de K + e de alcalose (elevação do pH dos fluidos corporais). Mecanismo de ação - por causa de sua lipossolubilidade nas membranas celulares, a aldosterona se difunde facilmente para o interior das células epiteliais tubulares. No citoplasma das células tubulares, a aldosterona se combina com os receptores mineralocorticoides (RM) proteicos citoplasmáticos altamente específicos (ver Figura 78.4), os quais têm uma configuração molecular espacial que só se combina à aldosterona ou a outros compostos semelhantes. o complexo aldosterona-receptor ou um produto desse complexo se difunde para o núcleo, onde pode passar por mais alterações adicionais, induzindo, finalmente uma ou mais porções específicas do DNA para formar um ou mais tipos de RNA mensageiro (RNAm), relacionados ao processo de transporte de sódio e potássio. O RNAm difunde-se de volta ao citoplasma, onde, agindo com os ribossomos, causa a formação de proteínas. As proteínas formadas são uma mistura de (1) uma ou mais enzimas; e (2) proteínas de transporte de membrana, que, agindo em conjunto, são necessárias para o transporte de sódio, potássio e hidrogênio, através da membrana celular. Uma das enzimas especialmente produzidas é sódio-potássio trifosfatase de adenosina (Na+/K+ ATPase), que serve como principal parte da bomba da troca 12 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia de sódio e potássio nas membranas basolaterais das células tubulares renais. Proteínas adicionais, talvez igualmente importantes, são as proteínas dos canais epiteliais de sódio e as dos canais de potássio inseridos na membrana luminal das mesmas células tubulares; esses canais permitem a difusão rápida de íons sódio do lúmen tubular para o interior da célula e difusão de potássio do interior da célula ao lúmen tubular. Assim, a aldosterona não apresenta um efeito imediato importante no transporte de sódio; em vez disso, esse efeito somente ocorre após a sequência de eventos que leva à formação de substâncias intracelulares específicas necessárias para o seu transporte. Regulação da secreção - A regulação da secreção de aldosterona está tão profundamente interligada à regulação das concentrações de eletrólitos no líquido extracelular, volume do líquido extracelular, volume sanguíneo, pressão arterial e muitos aspectos especiais da função renal, que é difícil discutir o controle da secreção de aldosterona independentemente de todos esses outros fatores. A regulação da secreção de aldosterona pelas células da zona glomerular é quase inteiramente independente da regulação do cortisol e dos androgênios pelas zonas fasciculadas e reticular. Os seguintes fatores são conhecidos por desempenhar papéis essenciais na regulação de aldosterona: ● O aumento da concentração de íons potássio no líquido extracelular aumenta muito a secreção de aldosterona. ● O aumento da concentração de angiotensina II no líquido extracelular também aumenta muito a secreção de aldosterona. ● O aumento da concentração de íons sódio no líquido extracelular reduz pouco a secreção de aldosterona. ● O aumento do peptídeo atrial natriurético (PAN), um hormônio secretado pelo coração quando as células específicas dos átrios cardíacos são alongadas (ver Capítulo 28), diminui a secreção de aldosterona. ● O ACTH, formado pela adeno-hipófise, é necessário para a secreção de aldosterona, mas tem um pequeno efeito no controle 13 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia da secreção na maioria das condições fisiológicas. Desses fatores, a concentração de íons potássio e a angiotensina II são, sem dúvida, os mais potentes na regulação da secreção de aldosterona. Função dos glicocorticóides: A zona fasciculada do córtex suprarrenal secreta primordialmente hormônios glicocorticoides, sendo o mais importante o cortisol. No metabolismo de carboidratos - ➔ Estímulo da gliconeogênese O efeito metabólico mais bem conhecido do cortisol e de outros glicocorticóides é a sua capacidade de estimular a gliconeogênese (ou seja, a formação de carboidratos a partir de proteínas e de algumas outras substâncias) pelo fígado, cuja atividade frequentemente aumenta de até 6 a 10 vezes. Esse aumento da taxa de gliconeogênese resulta principalmente de efeitos do cortisol no fígado, bem como da antagonização dos efeitos da insulina. ● O cortisol aumenta as enzimas necessárias para converter aminoácidos em glicose pelas células do fígado. ● O cortisol provoca a mobilização de aminoácidos a partir de tecidos extra-hepáticos, principalmente dos músculos. ● O cortisol antagoniza os efeitos da insulina para inibir a gliconeogênese no fígado. A elevação acentuada das reservas de glicogênio nas células hepáticas, que acompanha o aumento da gliconeogênese, potencializa os efeitos de outros hormônios glicolíticos, tais como a adrenalina e o glucagon, para mobilizar a glicose em momentos de necessidade, como entre as refeições. ➔ Diminuição da utilização de glicose pelas células O cortisol também provoca uma redução moderada na utilização de glicose pela maioria das células do corpo. Embora a causa exata dessa diminuição não seja clara, um efeito importante do cortisol é diminuir a translocação dos transportadores de glicose GLUT 4 para a membrana celular, especialmente nas células do músculo esquelético, levando à resistência à insulina. Os glicocorticoides também podem deprimir a expressão e a fosforilação de outras cascatas de sinalização que influenciam a utilização de glicose direta ou indiretamente, afetando o metabolismo das proteínas e dos lipídios. ➔ Concentração elevada de glicose sanguínea e “diabetes adrenal” Tanto o aumento da gliconeogênese quanto a redução moderada na utilização de glicose pelas células provocam a elevação da concentração sanguínea de glicose. Essa elevação, por sua vez, estimula a secreção de insulina. Os níveis 14 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia plasmáticos aumentados de insulina, no entanto, não são tão eficazes na manutenção da glicose plasmática como em condições normais. Por motivos que foram discutidos anteriormente, os altos níveis de glicocorticóides reduzem a sensibilidade de muitos tecidos, especialmente do músculo esquelético e do adiposo, aos efeitos estimulantes da insulina na captação e na utilização da glicose. Em alguns casos, o aumento da concentração de glicose no sangue é tão grande (≥ 50% do normal) que a condição é chamada de diabetes adrenal. No metabolismo proteico - ➔ Degradação das proteínas celulares (proteólise) Um dos principais efeitos do cortisol nos sistemas metabólicos do organismo é a redução das reservas de proteína em, essencialmente, todas as células do corpo, exceto no fígado. Essa redução é causada tanto pela diminuição da síntese de proteínas como pelo aumento do catabolismo de proteínas já presentes. Ambos os efeitos podem resultar, em parte, da diminuição do transporte de aminoácidos para os tecidos extra-hepáticos, como discutido posteriormente; entretanto, essa não é, provavelmente, a principal causa, porque o cortisol também reduz a formação de RNA e a subsequente síntese proteica em muitos tecidos extra-hepáticos, especialmente nos músculos e tecidos linfóides. Na presença de excessos de cortisol, os músculos podem ficar tão fracos, que o indivíduo não consegue se levantar da posição agachada. Além disso, as funções imunológicas dos tecidos linfóides podem ser reduzidas até apenas uma fração do normal. ➔ O cortisol aumenta as proteínas do fígado e do plasma Ao mesmo tempo que osefeitos dos glicocorticoides reduzem as proteínas nas demais partes do corpo, as proteínas hepáticas são aumentadas. Consequentemente, as proteínas plasmáticas (produzidas pelo fígado e, depois, liberadas para a circulação) também se elevam. ➔ Aumento de aminoácidos sanguíneos, redução do transporte de aminoácidos para as células extrahepáticas e aumento do transporte para as células hepáticas Estudos em tecidos isolados demonstraram que o cortisol reduz o transporte de aminoácidos para as células musculares e, talvez, para outras células extra-hepáticas. O transporte reduzido de aminoácidos para as células extra-hepáticas diminui suas concentrações de aminoácidos 15 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia intracelulares e, consequentemente, diminui a síntese de proteínas. No entanto, o catabolismo protéico nas células continua a liberar aminoácidos que se difundem para fora das células, aumentando a concentração plasmática de aminoácidos. Portanto, o cortisol mobiliza aminoácidos nos tecidos não hepáticos e, dessa forma, reduz as reservas teciduais de proteína. No metabolismo lipídico - ➔ Mobilização de ácidos graxos Da mesma maneira que o cortisol promove a mobilização de aminoácidos dos músculos, também promove a mobilização de ácidos graxos do tecido adiposo (lipólise). Essa mobilização eleva a concentração de ácidos graxos livres no plasma, o que também aumenta sua utilização para a obtenção de energia. O cortisol também parece exercer um efeito direto no aumento da oxidação de ácidos graxos nas células. O aumento da mobilização de gorduras pelo cortisol, combinado à maior oxidação de ácidos graxos nas células, contribui para que os sistemas metabólicos celulares deixem de utilizar glicose para a obtenção de energia e passem a utilizar ácidos graxos em momentos de jejum ou de outros estresses. Esse mecanismo do cortisol, no entanto, requer várias horas para ficar totalmente funcional – um efeito não tão rápido nem tão potente quanto o efeito semelhante provocado por diminuição da insulina. No entanto, o aumento do uso de ácidos graxos para a geração metabólica de energia é um fator importante para a conservação, a longo prazo, da glicose e do glicogênio corporais. ➔ O excesso de cortisol causa obesidade Apesar do cortisol pode provocar um grau moderado de mobilização de ácidos graxos do tecido adiposo, um tipo peculiar de obesidade se desenvolve em muitas pessoas com excesso de secreção de cortisol, com deposição excessiva de gordura no tórax e na cabeça, gerando sinais clínicos chamados de “giba de búfalo” e “face em lua cheia”. Embora sua causa seja desconhecida, foi sugerido que essa obesidade resulte do estímulo excessivo à ingestão de alimentos, de modo que a gordura seja gerada em alguns tecidos do corpo mais rapidamente do que é mobilizada e oxidada. Na resistência ao estresse e ao processo inflamatório - Praticamente, qualquer tipo de estresse, físico ou neurogênico, provoca um aumento imediato e acentuado da secreção de ACTH pela adeno-hipófise, seguido, minutos depois, por um aumento da secreção adrenocortical de cortisol. 16 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia Mesmo que a secreção de cortisol, frequentemente, aumente muito em situações de estresse, não se sabe por que isso representa um benefício significativo para o animal. Uma possibilidade é que os glicocorticoides causem uma rápida mobilização de aminoácidos e gorduras a partir de suas reservas celulares, tornando-os disponíveis para a geração de energia e para a síntese de novos compostos, incluindo a glicose, necessários aos diferentes tecidos do organismo. Esse efeito preferencial do cortisol na mobilização de proteínas lábeis poderia disponibilizar aminoácidos para as células necessitadas de sintetizar substâncias fundamentais à vida. ➔ Efeitos anti-inflamatórios do cortisol em altas concentrações Quando os tecidos são lesados por traumatismo, infecção bacteriana ou outros fatores, quase sempre se tornam “inflamados”. A administração de grandes quantidades de cortisol, geralmente, bloqueia esse processo inflamatório ou mesmo reverte muitos de seus efeitos, uma vez que tenham começado. Quando uma grande quantidade de cortisol é secretada ou injetada em uma pessoa, o glicocorticoide exerce dois processos anti-inflamatórios básicos: ● o bloqueio dos estágios iniciais do processo inflamatório, antes mesmo do início do processo inflamatório considerável; ou ● se o processo inflamatório já começou, causa uma rápida resolução do processo inflamatório e um aumento da velocidade da cura. ➔ O cortisol impede o desenvolvimento do processo inflamatório por estabilizar os lisossomos e por outros efeitos O cortisol estabiliza as membranas lisossomais. O cortisol diminui a permeabilidade dos capilares, provavelmente como um efeito secundário da redução da liberação de enzimas proteolíticas. O cortisol reduz a migração de leucócitos para a área inflamada e a fagocitose das células lesadas. Provavelmente, resultam do fato de o cortisol diminuir a formação de prostaglandinas e leucotrienos. O cortisol suprime o sistema imunológico, reduzindo acentuadamente a reprodução dos linfócitos. Os linfócitos T são, especialmente, suprimidos. 17 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia O cortisol atenua a febre principalmente porque reduz a liberação de interleucina-1 a partir dos leucócitos. Assim, o cortisol tem um efeito praticamente global na redução de todos os aspectos do processo inflamatório. ➔ O cortisol causa a resolução do processo inflamatório Até mesmo depois do estabelecimento completo do processo inflamatório, a administração de cortisol, muitas vezes, pode reduzi-lo dentro de algumas horas ou dias. Talvez isso resulte de: ● mobilização de aminoácidos e uso desses ácidos para reparar os tecidos danificados; ● aumento da glicogênese, que disponibiliza maior quantidade de glicose nos sistemas metabólicos essenciais; ● maior disponibilidade de ácidos graxos para produção de energia celular; ou ● algum efeito do cortisol para inativar ou remover produtos dos processos inflamatórios. Regulação da secreção de cortisol: O ACTH é necessário para manter a atividade secretora do córtex suprarrenal, que rapidamente atrofia-se sem esse hormônio. O hormônio liberador de corticotrofina (CRH) liberado pelo hipotálamo estimula a adeno-hipófise a secretar o ACTH. A zona fasciculada é muito sensível ao ACTH e responde liberando o cortisol. O estresse e a hipoglicemia (baixa quantidade de glicose no sangue) iniciam um grande aumento da liberação CRH pelo hipotálamo, causando um rápido aumento de cortisol no sangue. Além disso, o nível de CRH varia significativamente durante o dia. Função dos androgênicos: Alguns esteroides suprarrenais, incluindo a androstenediona, são androgênios fracos. Os androgênios suprarrenais são secretados pela zona reticulada e convertidos pelos tecidos periféricos para o androgênio mais potente, a testosterona. Os androgênios suprarrenais estimulam o crescimento de pelos púbicos e axilares e a libido em mulheres. No entanto, os efeitos dos androgênios suprarrenais em homens são irrisórios em comparação à testosterona secretada pelos testículos. 18 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia 19
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