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Gestão para a Excelência Implantando o ciclo PDCL (plan, do, check e learning) Unidade III Modelo de excelência da gestão: ciclo PDCL Fábio Gomes da Silva 1 SILVA, Fábio Gomes da Gestão para a excelência: implantando o ciclo PDCL (plan, do, check e learning) (livro-texto) / Fábio Gomes da Silva. –São Paulo: Pós-Graduação Lato Sensu UNIP, 2018. 1. Gestão para a excelência. 2. Administração Geral. I. SILVA, Fábio Gomes da. II. Pós-Graduação Lato Sensu UNIP. III. Título. 2 GESTÃO PARA A EXCELÊNCIA Apresentação Prezado aluno, Bem-vindo ao mundo da gestão, em especial o mundo da busca da excelência da gestão. É disso que vamos tratar ao longo desse livro texto, na expectativa que os conhecimentos que serão aqui abordados possam ser bastante úteis para você, na sua contribuição para a maior competitividade das organizações que você participa ou participará. Você verá que para tratar desse assunto estaremos nos baseando no chamado “Modelo de Excelência da Gestão” (MEG), proposto pela Fundação Nacional da Qualidade, modelo esse que tem servido para orientar a gestão de inúmeras organizações que buscam ser cada vez melhores em suas ações gerenciais, objetivando o alcance de resultados também cada vez melhores.1 Na abordagem do Modelo de Excelência da Gestão, a busca da excelência da gestão pode envolver diferentes etapas, sendo que uma das características das organizações que atingem a excelência é a preocupação continuada com o melhorar sempre o conjunto das suas ações gerenciais e seus resultados. Em resumo a excelência é um alvo móvel. Nosso objetivo será conhecer esse Modelo de Excelência da Gestão, seus fundamentos, as ações gerenciais que são por ele requeridas e os resultados que devem ser almejados. Isso será feito pelo simples fato desse modelo constituir-se numa excelente referência de como bem se administrar uma organização Para tanto, começaremos pelos fundamentos da excelência, que são um conjunto de princípios considerados como norteadores das ações gerenciais requeridas para que se possa trilhar o caminho em busca da excelência da gestão. A expectativa que se tem é que quando esses fundamentos são bem internalizados na cultura de uma organização, mais facilmente ela conseguirá praticar a excelência. 1 Se você tiver curiosidade de saber quais são algumas dessas empresas, veja a tabela B.1, do anexo B, que está no final deste livro texto. 3 Na sequência, trataremos o assunto resultados a serem alcançados, quando então você oportunidade de saber, não só a respeito dos diferentes tipos de resultados que devem ser buscados, mas também o que se entende por elevado desempenho, sob a ótica do MEG. Para que resultados possam ser alcançados é necessário que haja ação, e é sobre isso trataremos na sequência, isto é, quais ações gerenciais são sugeridas pelo MEG, para que se tenha um sistema de gestão bastante evoluído, que permita o alcance de resultados que possam significar elevado desempenho. O que você terá oportunidade de ver é que as ações gerenciais requeridas são todas derivadas dos fundamentos da excelência estudados. Vencida a etapa do conhecimento das ações gerenciais que devem ser praticadas, passaremos a ver como que o MEG considera que deva ser tratada cada ação gerencial a ser implementada, e é aí que você verá como se deve praticar o chamado ciclo PDCL (plan, do, check e learnig). Você verá que planejar (“plan”) significa, no mínimo, estabelecer padrões para os processos gerenciais (ações gerenciais) a serem implementados, padrões esses que podem assumir diferentes formas, não necessariamente significando engessamento de atividades ou tarefas. Verá algumas exigências relacionadas ao executar(“do”) , dentre as quais a agilidade. Verá que controlar (“check”) significa não só controle dos padrões estabelecidos, mas também controle de eficácia e de eficiência do processos gerenciais. Verá, por fim, como se pode pratica o aprendizado (“learning”), isto é, o aperfeiçoamento e a inovação dos processos gerenciais (ações gerenciais) adotados. Para que você possa aproveitar bem o conteúdo deste livro texto, a recomendação é que você não tenha pressa em avançar nos tópicos a serem estudados, sem antes ter entendido cada tópico. Às vezes será necessário gastar um pouco mais de tempo para entender o que está apresentado numa tabela ou num quadro, ou mesmo em uma página. O importante é que você procure pensar a respeito daquilo que está sendo apresentado. Se desejar saber mais sobre o que está sendo tratado não deixe de ver as sugestões apresentadas nos quadros “para saber mais”. Você também contará com muitos links de acesso a textos complementares, será muito bom se você se interessar em vê-los. 4 Sobre o autor O Prof. Fábio Gomes da Silva é o Coordenador Geral e professor dos Cursos de Administração da UNIP – Universidade Paulista e professor dos cursos de Pós Graduação em Administração – modalidade EaD – da UNIP- EAD, É mestre em Administração pela EAESP-FGV. Sua experiência com o MEG – Modelo de Excelência da Gestão – é derivada de sua participação como examinador (voluntário) do antigo Prêmio Nacional da Qualidade/PNQ e atual “Melhores em Gestão” da Fundação Nacional da Qualidade/FNQ, desde o ciclo anual de avaliação de 1997 e da sua atuação como instrutor de cursos da FNQ destinados à preparação de examinadores do PNQ ou à preparação de executivos para a adoção do MEG. Também participou por um longo período de tempo como instrutor do PNQS – Prêmio Nacional da Qualidade em Saneamento, em especial buscando preparar empresas ou unidades de saneamento para buscar o PNQS. Você poderá ter maiores informações acessando o link: http://lattes.cnpq.br/4101822514857101 http://lattes.cnpq.br/4101822514857101 5 SUMÁRIO 1 PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO, CONTROLE E MELHORIA DAS AÇÕES GERENCIAIS ..................................................................................................... 6 1.1 Ciclo PDCL – Uma visão geral ........................................................... 6 1.2 Planejar .............................................................................................. 7 1.2.1 Padronização dos processos ................................................... 7 1.2.2 Procedimentos operacionais .................................................... 9 1.2.3 Padrões gerenciais ................................................................ 10 1.2.4 Diretrizes corporativas ........................................................... 13 1.2.5 Proatividade ........................................................................... 15 1.2.6 Coerência e inter-relacionamento .......................................... 16 1.2.7 Cooperação ............................................................................ 17 1.3 Realizar/executar ............................................................................. 19 1.3.1 Abrangência ........................................................................... 19 1.3.2 Continuidade .......................................................................... 20 1.3.3 Agilidade ................................................................................ 20 1.4 Controlar .......................................................................................... 22 1.4.1 Controle dos padrões ............................................................. 22 1.4.2 Controle da eficácia ............................................................... 22 1.4.3 Controle da eficiência ............................................................. 22 1.4.4 Alguns exemplos de práticas de controle............................... 23 1.5 Aprender .......................................................................................... 27 1.5.1 Processos gerenciais a serem melhorados............................ 27 1.5.2 O que fazer para aperfeiçoar os processos gerenciais .......... 29 1.5.3 A quem compete aperfeiçoar os processos ........................... 29 1.6 A busca da excelência da gestão .................................................... 31 2 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 36 3 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 37 3.1 Publicações da Fundação Nacional da Qualidade ........................... 37 3.2 Publicações do Prêmio Nacional da Qualidade em Saneamento (PNQS) ...................................................................................................... 37 3.3 Outras publicações .......................................................................... 38 6 1 PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO, CONTROLE E MELHORIA DAS AÇÕES GERENCIAIS 1.1 Ciclo PDCL – Uma visão geral Figura 5.1 – Diagrama do Ciclo da Gestão Fonte: FNQ, 20161:17. O MEG propõe que a gestão das organizações seja orientada pelo duplo PDCL, representado pelo ciclo de gestão da fig. 8.1, lembrando que P significa planejar (plan), D significa realizar ou executar (Do), C significa verificar ou controlar (check) e L significa aprender (learn). Em linhas gerais, o ciclo PDCL, mostra que, em primeiro lugar, as organizações devem definir seus processos gerenciais e seus respectivos padrões (orientações para execução); depois, para cada processo, deve existir o planejamento da execução, levando em conta seus respectivos padrões, para daí ter-se a execução. Feita a execução, deve-se verificar OBJETIVO Saber as exigências do Modelo de Excelência da Gestão (MEG) para implantação dos processos gerenciais apresentados na unidade 2. Em síntese, para se praticar a “excelência da gestão”, processos gerenciais devem respeitar o chamado ciclo Planejar (Plan), Realizar (Do), Verificar (Check) e Aprender (Learn) – PDCL. 7 (controlar) se ela atendeu aos padrões requeridos e, como consequência disso, tomam-se decisões de reforço do que está sendo bem feito ou de melhoria. O ciclo de cada processo é denominado de ciclo de controle, mas tem-se também o ciclo de aprendizado, associado à análise integrada do conjunto de processos, que pode resultar numa redefinição, melhorada, dos processos e padrões. Na abordagem do MEG, a ação de planejar deve levar em conta que os processos organizacionais devem ser adequados, proativos e integrados; as ações de realizar devem considerar que os processos precisam ter aplicação abrangente, ter uso continuado e ser ágeis; a verificação, por sua vez, deve envolver o controle dos padrões e a monitoração da eficiência e eficácia dos processos; e o aprender tem a ver com o aperfeiçoamento ou a inovação dos processos (FNQ, 20162:29). Na sequência vamos tratar, com mais detalhes, de cada um desses componentes do PDCL. 1.2 Planejar Na etapa de planejamento, em primeiro lugar o que se exige é a definição dos processos gerenciais necessários para que a organização pratique a sua “busca da excelência”, definição essa que deve ser acompanhada do estabelecimento de padrões, objetivos e metas para os processos, levando em conta que eles devem ser proativos, coerentes com os valores, princípios e estratégias organizacionais, e inter-relacionados entre si. Além disso, devem favorecer a cooperação entre áreas e partes interessadas pertinentes. 1.2.1 Padronização dos processos Uma exigência fundamental do MEG é que as ações gerenciais tenham padrões, isto é, regras de funcionamento. Essas regras podem ser encontradas na forma de políticas, princípios, normas internas, procedimentos, rotinas ou normas administrativas, fluxogramas, comportamentos coletivos ou qualquer meio que permita orientar a execução das práticas (FNQ, 20161:78). A ideia é que, se uma mesma prática for realizada em dois momentos diferentes, ela deverá ser realizada da mesma forma, devendo gerar um mesmo produto ou resultado, o mesmo acontecendo se for realizada por duas ou mais pessoas diferentes. Para entender o significado do que vem ser padronização e sua importância, vale recorrer a Campos (1992): 8 O ser humano convive com a padronização há milhares de anos e dela depende para sua sobrevivência mesmo que disto não tenha consciência. Imagine uma pequena tribo ou aldeia no passado: a alimentação básica era o peixe. Pescava-se de alguma forma até que alguém testou uma rede feita de cipós e pegou uma quantidade maior de peixes com menor trabalho. Evidentemente que os outros habitantes da aldeia, tendo em vista os resultados obtidos, passaram a utilizar a rede como método de pesca. Estava assim padronizado o método de pescar com rede. Mais tarde alguém julgou que seria melhor utilizar fios de juta do que cipó para fazer a rede. Tentou e isso resultou numa maior quantidade de peixes com menor trabalho. Os outros imediatamente adotaram a ideia (padronizaram). Algumas observações são importantes para serem comentadas: ninguém era obrigado a padronizar o método da pesca; fizeram isto somente porque dava melhor resultado; padronização é meio. O objetivo é conseguir melhores resultados; o método padronizado não é fixo: ele pode e deve ser melhorado para a obtenção de melhores resultados; originalmente não havia necessidade de se registrar o método padronizado. A aldeia era pequena e todos aprendiam o novo método naturalmente. A memória da aldeia era a memória das pessoas. Hoje a sociedade é complexa e para garantir a padronização é necessário registrar de forma organizada (em papel ou memória do computador) e conduzir formalmente o treinamento do trabalho (p. 1). Uma das conclusões extraídas do exemplo acima é que, quando se encontra uma melhor forma de se fazer alguma coisa, essa forma deve ser padronizada, como meio de garantir que seu uso seja repetido. No MEG espera-se a mesma coisa: ao se planejar uma ação gerencial, deve-se fazer com que ela seja o mais eficiente e eficaz possível. Atingida o que se considera, no momento, a melhor forma de execução, o passo seguinte é definir que essa melhor forma seja utilizada por todos aqueles que participam do processo de execução, todas as vezes que esse processo seja realizado. Isto é padronizar tendo como objetivo o alto desempenho. Você já deve ter visto que uma organização pode ser considerada como um macroprocesso, formado por um conjunto de processos relacionados entre si. Cada um desses processos é formado por um conjunto de atividades e estas, por sua vez, são formadas por um conjunto de tarefas. Considerando-se que, no nosso caso, estabelecer padrões gerenciais significa “orientar a execução das práticas de gestão”, podemos entender que essa orientação pode se dar em diferentes níveis: Orientando-se a execução das tarefas dos processos por meio de procedimentos operacionais; Orientando-se a execução das atividades dos processos por meio de padrões de gerenciamento; Orientando-se a execução de processos por meio de diretrizes corporativas. 9 1.2.2 Procedimentos operacionais Uma primeira forma de padronização é aquela que trata da orientação para execução das tarefas de uma dada atividade de um processo. São, regra geral, instruções detalhadas de fazer aquilo que é para ser feito. A nossa literatura trata esse tipo de padronização como “Procedimentos Operacionais Padrão” (CAMPOS, 2004:54). No quadro 8.1 você encontra um exemplo de “Procedimento Operacional Padrão” (POP), da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC-UFC). Se você tiver interesse,poderá ver inúmeros outros exemplos de POPs dessa instituição em: <www.meac.ufc.br>. Note a riqueza de detalhes. Quadro 5.1 – Procedimento Operacional Padrão Administração de Comprimidos por Sonda Tarefa: Administração de Comprimidos por Sonda Executante: Equipe de Enfermagem Frequência: Conforme a prescrição médica Resultado Esperado: Medicar o paciente impossibilitado de deglutir medicação por via oral na forma de comprimidos Recursos Necessários: -Medicação na forma de comprimido prescrito pelo médico - Cálice com pilão para maceração do comprimido - Água para diluição do comprimido - Seringa de 10 ml para aspiração do comprimido macerado e diluído em água - Seringa de 20 ml para lavar a sonda após a administração do medicamento - Copo com cerca de 20 ml de água - Luvas de procedimento Tarefas: - Observar as cinco certezas para a administração de medicamentos; - Reunir o material; - Higienizar as mãos; - Macerar o comprimido no cálice com o pilão; - Diluir o comprimido macerado em água; - Aspirar o comprimido diluído em água em uma seringa de 10 ml; - Identificar a seringa com o nome do medicamento e o leito do paciente; - Calçar luvas de procedimento; - Aspirar o conteúdo gástrico com a seringa de 20 ml para se certificar do posicionamento correto da sonda; - Administrar a medicação por sonda de posse das cinco certezas da administração de medicamentos; - Aspirar 20 ml de água do copo; - Lavar a sonda com 20 ml de água; - Avaliar o paciente durante a administração do medicamento; - Higienizar as mãos; - Registrar o procedimento no prontuário do paciente. Ações em situações atípicas - A medicação quando não está devidamente macerada poderá causar a obstrução do lúmem da sonda do paciente - O posicionamento errado da sonda poderá levar à não absorção do medicamento e a bronco aspiração. Fonte: MEAC, s. d. 10 O quadro 5.1 mostra o padrão de execução de uma atividade, parte de um processo de tratamento hospitalar. Espera-se que, sempre que alguém da equipe de enfermagem tiver de realizar a administração de comprimidos por sonda, siga esse padrão. Parece bom destacar, segundo esse padrão, que todos os seus executantes devem observar “as cinco certezas para aplicação de medicamentos”, o que, tudo indica, é outro padrão aplicável a qualquer tipo de administração de medicamentos, o qual também deve ser conhecido. 1.2.3 Padrões gerenciais Por outro lado, além da padronização operacional, podemos ter também os chamados padrões gerenciais, que dizem respeito às atividades a serem realizadas, sem chegar ao detalhamento das tarefas. O quadro 5.2 mostra o conjunto de atividades do processo gerencial de formulação das diretrizes estratégicas da Gerdau – Aços Finos Piratini (AFP). Trata-se de um quadro um tanto quanto longo, mas vale a pena analisá-lo em detalhes. Afinal de contas, a AFP é uma organização classe mundial, que merece ter suas práticas conhecidas. Quadro 5.2 – Atividades do Padrão de Gerenciamento das Diretrizes Estratégicas da AFP Ativ. Como funciona o processo 1 O CO (Comitê Operacional*), em agosto de cada ano, define/revisa os objetivos, ICs (indicadores críticos) e metas para o sistema de formulação das Diretrizes Estratégicas da AFP, com base nas oportunidades de melhoria detectadas e registradas na folha anexa ao PG (Padrão de Gerenciamento) referentes ao ciclo anterior. 2 O DE (Diretor Executivo), anualmente, com apoio da área de SG (Sistemas de Gestão), elabora o Cronograma de PLP (Plano de Longo Prazo) da AFP, com base nos registros do ano anterior e oportunidades de melhoras detectadas. Esse é submetido à aprovação na reunião com o CO, com a presença dos gestores envolvidos no processo. 3 4 Validação/revisão da visão, missão, credos e diretrizes estratégicas da Gerdau realizadas anualmente com a participação do DE. 5 Elaboração do cenário geral em reuniões do Conselho da Gerdau (etapa corporativa). 6 Validação e revisão dos credos Gerdau, da visão e da missão a APF. 7 Todos os executivos e cargos-chave, assim como os principais fornecedores corporativos da AFP recebem anualmente um questionário padrão de duas páginas, enviado pelo CO, que aborda as necessidades dos clientes e mercados-alvo (atuais e potenciais), novas oportunidades no mercado, informações da concorrência, ameaças e oportunidades, pontos fortes e fracos, melhorias sobre o processo de planejamento, prioridades e metas para o ano seguinte. As respostas às questões do questionário são tabuladas pelo método de Pareto, distribuídas, analisadas e discutidas nas reuniões de planejamento com o CO. Durante esta coleta de informações e nas discussões subsequentes, cada executivo ou cargo-chave pesquisado agrega informações de processos de sua área ou de sua equipe de gerenciamento, atuais ou anteriores 11 7 Para assegurar que todas as informações para o planejamento estejam sendo consideradas, todas as percepções são tabuladas e analisadas. Assim, as equipes da área Comercial, por estarem envolvidas nos processos de identificação de necessidades dos clientes e mercados-alvo, validam as informações. As oportunidades para novos produtos, processos e tecnologias são detalhadas pelos executivos das áreas de DPP (Desenvolvimento de Produtos e Processos), responsáveis pelos intercâmbios com universidades, após os inputs da área comercial. As necessidades das comunidades familiar e local são reconhecidas pela área de RH com base no seu processo de atendimento de demandas e projetos sociais. As necessidades relativas aos ecossistemas são aprofundadas pela área de Engenharia/Manutenção fundamentadas nas análises da legislação, riscos atuais e de novos processos produtivos. As necessidades de desenvolvimento dos principais fornecedores diretos e indiretos são identificadas pelas áreas de Apoio à Produção e CS (Células de Serviço) Corporativas de Suprimentos, Metálicos e Entregas. As oportunidades para otimizar capacidade e recursos, como volumes e insumos, são aprofundadas pelas áreas de Produção, Qualidade e Engenharia/Manutenção. Os executivos do SL são os principais vetores de informações referentes a exigências legais e regulamentares e demandas de sindicatos patronais, de trabalhadores e de questões setoriais, provenientes de suas esferas de relacionamento. Os membros do CO são os principais portadores de informações sobre o desempenho global e da gestão e, a área de Sistemas de Gestão, do desempenho proveniente das auditorias e avaliações. 8 Elaboração do Cenário Focado de aços especiais, conduzida pelo DE nas reuniões quinzenais do ciclo de planejamento, a partir do Cenário Geral, informações das CSs Suprimentos e Metálicos, resultados das avaliações, pesquisas e análises produzidas pelo Sistema Gerencial AFP – tabulação do questionário, conclusões das reuniões de análise crítica do desempenho global, análises de desempenho dos planos anuais, pesquisas de satisfação de clientes, opinião e da comunidade, relatório de fatos relevantes, avaliação de aspectos e impactos ambientais, relatórios da qualidade, avaliação de fornecedores externos, avaliações de aprendizado, auditorias, estudos de viabilidade de negócios externos e outras informações disponíveis. O CO distribui essas informações para os demais participantes do processo para que as analisem individualmente, para que, num segundo momento se chegue ao consenso. Na reunião de consenso, o CO adiciona informações obtidas na mídia e órgãos de classe representativos do setor e da cadeia automotiva, consolidando o cenário de aços especiais. Esse cenário é composto pelos elementos: mercado, clientes, fornecedores diretos e indiretos, transporte, pessoas, meio ambiente e comunidade, que são utilizados como ponte de partida para a elaboração das estratégias e estão evidenciados sob esses títulos no book da Reunião Conjunta com o Conselho. O cenário internoé discutido à luz do cenário geral, incluindo a disponibilidade de recursos e necessidades de capacitação e movimentação de pessoas da força de trabalho para permitir a fixação da meta total de produção e determinar as consequências internas e externas daí decorrentes. 9 Análise da concorrência englobando os movimentos dos principais concorrentes e novos entrantes é realizada para identificar os elementos que influenciarão em seu comportamento futuro. É baseada nas informações de análises de participação no mercado, relatórios de fatos relevantes, testes comparativos de produtos e outras informações da mídia especializada. O relatório de fatos relevantes inclui observações sobre riscos de substituição de produtos por outras soluções, novos entrantes e novas tecnologias. 10 Revisão atualizada de benckmarks [sic] (referenciais comparativos) é conduzida pelos gestores das áreas, com base nas informações contidas nos relatórios de benchmarking em empresas reconhecidas como líderes conforme PC (Padrão de Gerenciamento) Benchmarking. 11 Identificação de oportunidades e ameaças a partir das conclusões do cenário focado de aços especiais e da análise da concorrência, quando são analisadas as informações sobre mercado, clientes, concorrentes, cenário político nacional e mundial, comunidade e meio ambiente. 12 12 Consenso do CO sobre os principais pontos fortes e fracos da AFP, a partir do cenário focado, análise da concorrência, respostas específicas do questionário, resultado da análise crítica do desempenho global (que inclui a comparação dos resultados com os benchmarks e metas planejadas, das ameaças e oportunidades e das avaliações promovidas pelo sistema de aprendizado baseado nos critérios de excelência do PNQ (Prêmio Nacional da Qualidade). 13 Estabelecimento das diretrizes estratégicas da APF, com base nos resultados das atividades anteriores. São definidos os objetivos estratégicos da AFP e os respectivos ICs e metas para os próximos três anos. Para cada objetivo são definidas as estratégias que possibilitarão o seu alcance, respectivos ICs e metas para o ano, os planos anuais para atendê-las e os projetos desdobrados destes. Os ICs são monitorados pelo CO na análise crítica mensal. As diretrizes estratégicas AFP (objetivos e estratégias) integram o PLP descrito no book da Reunião Conjunta do Conselho. 14 Detalhamento do planejamento operacional: com base nas diretrizes estratégicas da AFP, os planos anuais são preparados pelos responsáveis. A área de Custos coordena o detalhamento dos números que sustentam o PLP e os consolida no caderno PLP, contemplando as projeções do mercado, entregas da AFP, Market-share e preços abertos por linha de produto, planejados pela área Comercial. O detalhamento inclui as capacidades e as necessidades operacionais para atender as entregas planejadas para cada uma das áreas de produção, análise essa feita pelos gestores da produção. Define os rendimentos, quadros de lotação, consumos, custos fixos e variáveis e produtividade por área de produção. O quadro de lotação das áreas é estimado com base nos volumes a serem produzidos e estimativa de ganhos de produtividade decorrentes de investimentos em automação e informatização. As demandas de capacitação oriundas das diretrizes estratégicas da AFP são definidas nas necessidades de capacitação nos planos anuais e consolidadas com as necessidades das áreas, para posteriormente compor os planos de capacitação individuais. A partir desses dados, são realizadas projeções de metas financeiras, incluindo o faturamento, custo de vendas total, fluxo de caixa, resultado operacional etc. Os cálculos consideram informações de recursos para investimento advindas do plano de investimentos. 15 O CO, a partir da elaboração do PO (Padrão de Operação), cruza os resultados obtidos neste processo com as metas estabelecidas na etapa anterior do PLP a fim de consolidar as metas e as diretrizes estratégicas. 16 Aprovação do PLP junto ao Conselho. Uma vez aprovado, este processo resulta no Book da Reunião Conjunta com o Conselho. 17 Divulgação do PLP. Fonte: FNQ. Relatório de Gestão – Gerdau Aços Finos Piratini, 2002. (*) O Comitê Operacional (CO) é formado pelo Diretor Executivo, Diretor Comercial e Gerentes. Agora compare as padronizações apresentadas nos quadros 5.1 e 5.2. Imagine-se sendo convidado a participar dos dois processos. É fácil supor que você se sentiria bastante confortável para realizar o processo de administração de comprimidos por sonda, se estivesse habilitado para esse trabalho. Com um pouco de treinamento, todos os passos indicados no padrão poderão ser entendidos e devidamente respeitados, resultando em administração correta e segura de medicamentos por sonda. Já no caso da AFP a situação se complica um pouco. Se você for convidado a participar do processo de formulação das diretrizes estratégicas da empresa e tiver acesso ao Padrão de Gerenciamento (PG) apresentado, você certamente saberá as atividades a realizar e as orientações a respeitar na execução dessas atividades, mas não terá o passo a passo de como fazer cada atividade. Padrões de gerenciamento devem ser 13 assim mesmo. O detalhamento de tarefas é missão dos POPs ou assemelhados. Só por curiosidade, é interessante destacar que a AFP, conforme apresentado no seu Relatório de Gestão de 2002, contava, na época, com cerca de 20 PGs orientadores de suas ações gerenciais e mais 646 Procedimentos de Rotina (PRs) e 748 Padrões de Operação (POs). Os PRs referem-se a atividades que exigem padrões documentados utilizados para treinamento e os POs referem-se a atividades que exigem padrões documentados em poder do executor, ambos para garantir a qualidade dos processos e produtos e requisitos e normas orientadoras do Sistema da Qualidade (FNQ, 2002:10). 1.2.4 Diretrizes corporativas Além de padrões operacionais e gerenciais, a orientação da execução das práticas de gestão também pode se dar por normas de procedimento definidas corporativamente e que devem ser respeitadas por todas as áreas ou pessoas por elas afetadas. Um exemplo disso são os códigos de conduta adotados, as políticas da qualidade e as políticas de segurança, higiene e proteção ambiental, adotados por muitas organizações. Os princípios editoriais e as normas de conduta e de práticas de atuação jornalística do Jornal Folha de São Paulo, apresentadas no Manual de Redação da Folha, cuja 5ª edição foi lançada no início de 2018, exemplificam tais códigos. São regras gerais a serem respeitadas pelos que atuam na produção do conteúdo do jornal. O quadro 8.3 apresenta os princípios editoriais da Folha. Veja se eles servem mesmo como um padrão de orientação para execução de tarefas: Quadro 5.3 – Princípios Editoriais do Jornal – Folha de São Paulo 1. De confirmar a veracidade de toda notícia antes de publicá-la. 2. De praticar um jornalismo que ofereça resumo criterioso e atualizado do que acontece de mais relevante em São Paulo, no Brasil e no mundo, com ênfase na obtenção de informações exclusivas. 3. De priorizar temas que, por afetarem a vida da coletividade ou de parcelas expressivas da população, sejam considerados de interesse público. 4. De promover os valores do conhecimento, da solução pacífica de conflitos, da livre- iniciativa, da equalização de oportunidades, da democracia representativa, dos direitos humanos e da evolução dos costumes. 14 5. De abordar os assuntos com disposição crítica e sem tabus, no intuito de eliminar problemas, apontar falhas e contradições, questionar as autoridades públicas e os poderes privados, sem prejuízo de buscar conteúdos proveitosos e inspiradores. 6. De cultivar a pluralidade, seja ao divulgar um amplo espectro de opiniões, seja ao focalizar mais de um ângulo da notícia, sobretudo quando houver antagonismo entre as partes nela envolvidas; registrarcom visibilidade compatível pontos de vista diversos em toda questão controvertida ou inconclusa. 7. De obrigar-se a ponderar os argumentos da parte acusada e, publicando uma acusação, garantir espaço ao contraditório. 8. De manter atitude apartidária, desatrelada de governos, oposições, doutrinas, conglomerados econômicos e grupos de pressão. 9. De preservar o vigor financeiro da empresa como esteio da independência editorial e garantir que a produção jornalística tenha autonomia em relação a interesses de anunciantes; assegurar, na publicação, características que permitam discernir entre conteúdo jornalístico e publicitário. 10. De estabelecer distinção visível entre o material noticioso, mesmo que permeado de interpretação analítica, e opinativo. 11. De rechaçar censura e outras agressões à liberdade de expressão, reconhecendo, no caso de abuso comprovado dessa liberdade, a responsabilização posterior dos autores, nos termos na lei. 12. De identificar e corrigir com destaque erros de informação cometidos; publicar manifestação de crítica ao próprio jornal; manter mecanismos transparentes de autocontrole e correção. Fonte: Jornal Folha de São Paulo – 18/02/2018 – Caderno Especial – pág. 3. Bom será se você puder ver esse Manual de Redação como um todo, para conhecer mais um pouco das diretrizes definidas pelo jornal, inclusive as relacionadas ao uso correto da língua portuguesa na produção dos textos jornalísticos. Aliás, essas diretrizes sobre produção de textos podem ser úteis para todos nós. Em resumo, para uma organização ser considerada como tendo “classe mundial”, não bastam práticas/ações atendendo às exigências que lhes competem, dentre as 59 apresentadas no nosso capítulo 4. São necessários também padrões gerenciais sirvam para orientar sua execução. A depender da prática a ser padronizada, esses padrões podem ser operacionais, gerenciais ou ainda diretrizes corporativas. PENSE Será que as organizações que contam com processos gerenciais padronizados levam vantagens sobre organizações concorrentes que não tenham padrões norteadores de suas ações gerenciais? Quais são essas vantagens? Por quê? 15 1.2.5 Proatividade O MEG também exige que as práticas de gestão incorporem aspectos de proatividade promovendo a antecipação aos problemas. Trata-se de uma exigência lógica aparentemente fácil de ser compreendida, já que o contrário de ser proativo é ser reativo. Não pode ser excelente a gestão de uma organização cujas ações, ao invés de se anteciparem a problemas, gastem suas energias reagindo a problemas que poderiam ter sido antecipados (FNQ, 20162:29). BOX DESTAQUE A história da normalização no Brasil A padronização de processos pode ser baseada em normas nacionais ou internacionais, tipo a International Organization for Standardization (ISO). No Brasil, a normalização de processos cabe fundamentalmente à Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A respeito da importância da normalização de processos – que é base para muitas padronizações – parece ser valioso citar uma passagem do livro História da normalização brasileira (2011), de autoria da própria ABNT (disponível em:<http://www.abnt.org.br/imprensa/livro_abnt/70anos_ABNT.pdf>): A normalização é tecnologia consolidada, que nos permite confiar e reproduzir infinitas vezes determinado procedimento, seja na área industrial, seja no campo de serviços, ou em programas de gestão, com mínimas possibilidades de errar, entre outros aspectos altamente positivos. Justamente por isso, a normalização é fascinante. Elaborar uma norma técnica é compartilhar conhecimento, promover a competitividade, projetar a excelência e suas melhores consequências nos planos econômico, social e ambiental (p. 3). Não é demais lembrar que fazem parte dessa história as normas da série ISO 9000 – Sistema de Gestão da Qualidade e ISO 14000 – Sistema de Gestão Ambiental, que permitem certificação e muitas outras. Mesmo que não sejam objeto de certificação, contribuem para orientar a padronização de processos, como é o caso, por exemplo, das normas ISO 26000 – Responsabilidade Social; ISO 10002 – Gestão da Qualidade: satisfação do cliente; e ISO 31000 – Gestão de Riscos. http://www.abnt.org.br/imprensa/livro_abnt/70anos_ABNT.pdf 16 1.2.6 Coerência e inter-relacionamento Vimos, no capítulo 4, que O MEG exige o estabelecimento de valores e princípios organizacionais, exige a definição de estratégias e o estabelecimento de objetivos organizacionais. Nada mais lógico então que exigir dos processos gerenciais coerência com os valores, princípios, estratégias e objetivos estabelecidos. A esse respeito, vale analisar o que a Gerdau – Aços Finos Piratini, apresenta em seu Relatório de Gestão (2002) a respeito de segurança no trabalho. Para eles: […] o ser humano, em sua integridade, é um valor que está acima dos demais objetivos e prioridades da Empresa. Nenhuma situação de emergência, produção ou resultados pode justificar a falta de segurança das pessoas. A empresa é responsável por propiciar os meios e recursos adequados para que todas as atividades sejam executadas com segurança (p. 8). O MEG exige, neste caso, que todas as ações voltadas a segurança do trabalho sejam compatíveis com essa política. Não pode haver pressa que justifique uma direção irresponsável de uma empilhadeira; não pode haver pressa que justifique uma direção irresponsável de veículos de entrega; não pode existir motivo que faça um trabalhador levantar um peso acima de sua capacidade segura de fazê-lo, e assim por diante. Tal qual a questão do inter- relacionamento, a coerência não se estabelece automaticamente. Ela também exige coordenação. Além de coerentes com as estratégias, objetivos, valores e princípios organizacionais, os processos organizacionais devem ser objeto de inter- relacionamento, esperando-se que eles façam parte de uma cadeia de valor. Talvez você pense que essa exigência de inter-relacionamento seja uma coisa muito banal porque, do ponto de vista lógico, não faz sentido uma organização adotar práticas de gestão conflitantes entre si. Só que isso pode acontecer. A esse respeito, talvez seja oportuno ver as seguintes ponderações de Frota (1978): Quando a organização especializa as suas unidades, crescem as dificuldades de coordenação. Isso porque a especialização gera nos setores da empresa uma certa "orientação", ou seja, "… estilos de trabalho e processos mentais especializados"; numa palavra, diferenças no modo de agir e de pensar. Assim, a presteza e disposição para enfrentar os problemas frequentemente são divergentes, aumentando os conflitos e retardando as respostas às demandas do mercado (p. 80). 17 Em outras palavras, não parece que o inter-relacionamento aconteça de forma natural. É necessária coordenação, entendendo-se por coordenar as ações para reunir, unificar e harmonizar os processos gerenciais (MAXIMIANO, 2008:73). 1.2.7 Cooperação Outra exigência do MEG é a cooperação. Tanto entre áreas, como de partes interessadas. Cooperar, de acordo com o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, significa trabalhar em comum, colaborar, ajudar, auxiliar. A ausência de cooperação, por sua vez, deve significar: não trabalhar em comum, não colaborar, não ajudar e não auxiliar. Algo como diz o ditado popular: “cada um por si e Deus por todos”. É inegável que a exigência de cooperação é algo bastante pertinente, afinal de contas não é de se imaginar desejável um modelo de gestão voltado para a não cooperação. Sabe-se, entretanto, que a cooperação não tende a ser automática, a começar pelo fato de que as organizações constituem polos de conflitos, nem sempre utilizados como uma força positiva. A existência dos conflitos é assim explicada por Daft (2008):Todas as organizações são uma complexa mistura de indivíduos e grupos perseguindo várias metas e interesses. O conflito é um resultado natural e inevitável da interação próxima de pessoas que podem ter diversas opiniões e valores, perseguem diferentes objetivos, e têm acesso diferenciado às informações e recursos dentro da organização. Indivíduos e grupos usarão o poder e a atividade política para lidar com suas diferenças e administrar o conflito. Conflitos demais podem ser prejudiciais a uma organização. No entanto, o conflito também pode ser uma força positiva porque desafia o status quo, encoraja novas ideias e abordagens, e leva à mudança. Algum grau de conflito ocorre em todos os relacionamentos humanos – entre amigos, parceiros românticos, e colegas de trabalho, assim como entre pais e filhos, professores e alunos e chefes e empregados. O conflito não é necessariamente uma força negativa, ele resulta da interação normal de vários interesses PENSE Qual a relação existente entre a exigência de coerência e inter- relacionamento dos processos gerenciais e o fundamento pensamento sistêmico, tratado no capítulo 4? 18 humanos. Dentro das organizações, indivíduos e grupos têm diferentes interesses e metas que desejam atingir (p. 470). A superação de conflitos parece ser um primeiro passo para a existência de cooperação, mas a ausência de conflitos não significa necessariamente uma promoção automática da cooperação desejada. Não se espera que as organizações acreditem que seus colaboradores serão cooperativos simplesmente porque o mundo religioso os ensina a amar ao próximo. São necessárias práticas que estimulem a cooperação. Um exemplo interessante a respeito é da empresa Freios Varga (atual TRW Automotive do Brasil), com seu projeto de 1992, denominado “Parceria”. De acordo com esse projeto, a composição da remuneração dos empregados é formada por remuneração fixa e remuneração variável. A remuneração variável é assim composta: X% do resultado global da empresa. Y% aplicado sobre o resultado da área de atuação do empregado que será medido pelo nível de alcance dos objetivos pactuados no “Programa de Ação”. Z% aplicado sobre o resultado da área de atuação do empregado, porém vinculada à obtenção de melhorias estabelecidas no “Programa de Ação” de cada um. W% participação atribuída em função da cooperação com os seus parceiros, com as outras áreas e da companhia como um todo (...) (p. 22). Ainda que não tenhamos detalhes a respeito de como definir os valores de X, Y, Z, W, é importante destacar no caso da empresa Freios Varga que o sistema de remuneração é o meio utilizado para estimular o alcance de metas, a busca de melhorias e a cooperação. O que sustenta essa prática, de acordo com o projeto “Parceria”, é o seguinte: A cooperação é mais profunda quando as pessoas estão de acordo com os objetivos a serem alcançados, a negociação é a forma de se conseguir um acordo entre todos (...). Para que seja possível, é necessária a criação de uma convenção que, concordada entre as partes, será o guia para o funcionamento do programa (...). O elemento essencial das convenções é a vontade livre das partes. A vontade aqui significa aquilo que há de comum em todas as vontades individuais. Qual é a vontade comum a um grupo de pessoas que trabalham numa empresa? Se encontrarmos esta resposta e colocarmos esta vontade como objetivo da companhia, estaremos fazendo com que as ações de todos estejam dirigidas para a mesma direção, concentrando a ação dos indivíduos em um único ou poucos pontos prioritários. Nossa hipótese é a de que a vontade comum é a de aumentar ganhos (p. 5). 19 Infelizmente não temos como avaliar o sucesso ou não da aplicação do projeto Parceria, da Freios Varga, até porque essa empresa já foi adquirida por outra. Mas, independentemente do que tenha acontecido, o importante nesse exemplo é que o assunto cooperação não foi deixado ao livre arbítrio dos empregados, mas foi orientado e promovido por um sistema de remuneração. Quem coopera ganha mais. O caso da Freios Varga ilustra uma possível forma de atendimento da exigência do MEG relativa à cooperação. Não é a única forma. Cabe a cada organização buscar sua solução para promoção da cooperação. O importante é superar conflitos e tornar a cooperação algo profundamente natural. 1.3 Realizar/executar Depois do planejamento, deve vir a execução, isto é, a realização do que foi planejado. O MEG exige a respeito disso que os processos sejam executados de forma abrangente, continuada e ágil. 1.3.1 Abrangência Para começar, o MEG exige que as práticas sejam abrangentes, isto é, aplicadas em todas as “áreas, unidades, partes interessadas, produtos, segmentos, risco, dentre outros” (FNQ, 20162:28), que a aplicação seja pertinente e adequada. Assim, por exemplo, se uma organização atende a três diferentes tipos de segmentos de mercado, as pesquisas de satisfação dos clientes devem abranger os três segmentos; da mesma forma, se uma organização adota sistemas de remuneração variável como forma de estímulo à busca do elevado desempenho, espera-se que esse sistema de remuneração seja aplicado a toda a força de trabalho. Os motivos que justificam essa exigência parecem ser simples: de nada vale ter uma bela ação gerencial se ela não for aplicada em todas as partes em que deveria ser aplicada. PENSE Será que podem existir organizações nas quais não haja cooperação para definir e implantar as ações gerenciais e organizações em que ações gerenciais não sejam compatíveis com os valores e as estratégias? Por quê? 20 1.3.2 Continuidade A lógica da exigência de continuidade na execução das ações gerenciais planejadas parece ser fácil de entender. Se todas as práticas de gestão devem ser planejadas, esse planejamento deve minimamente prever o que fazer, como fazer, quem deve fazer e quando fazer. Se existe um planejamento de um quando fazer é de ser esperar que o que é planejado deve ser executado, quando previsto para tanto. Assim, por exemplo, se a organização define que as análises de desempenho da organização devem ser feitas mensalmente, devem existir bons motivos para essa exigência de análise mensal. Se bons motivos existem, então as análises mensais devem acontecer. 1.3.3 Agilidade Em coerência com o fundamento “adaptabilidade” e os temas e processos a ele relacionados, vistos anteriormente, outra exigência do modelo é a agilidade tanto para percepção de mudanças no ambiente como para a rapidez da tomada de decisões e sua implementação. Os Critérios de Excelência – 20ª edição – apresentam alguns exemplos do que pode ser entendido como agilidade: São exemplos de agilidade: a desburocratização, padrões de tempo para resposta ágil, reuniões de análise de desvios e realocação de recursos, provisões financeiras para ações corretivas ou emergências, métodos de análise e solução de problemas, preparação de planos alternativos, testes de prontidão, grupos de prontidão, times de intervenção rápida, profissionais com múltiplas habilidades, estrutura de suplência em funções críticas gerenciais, periodicidade do ciclo de execução da prática compatível com o perfil e estratégias ou qualquer outro aspecto que demonstre agilidade (p. ?). Quadro 5.4 – O modelo FastWork da GE O maior erro é não se mover Em entrevista para a Revista Exame (13/09/2017). Jeffrey Immelt, presidente do conselho de Administração da General Eletric/GE, apresentou o que é a nova forma de GE de trabalhar, com foco na agilidade. A seguir você verá alguns trechos dessa entrevista. Pergunta. Qual é a base da nova maneira da GE trabalhar? Resposta. Basicamente adotamos conceitos do lean startup – uma mistura do se se faz no Vale do Silício com princípios da produção enxuta. Refizemos todos os processosda companhia e chamamos essa nova maneira de trabalhar de FastWork (trabalho rápido, agilidade). Pegamos processos que a GE teve por gerações e reformulamos tudo o que fazemos. Demos ênfase à rapidez. 21 Pergunta. Qual o principal ensinamento que Ries (autor que inspirou Immelt) trouxe? Resposta. Essencialmente, a necessidade de formar uma cultura de experimentação. A importância de começar agora. Evitar planejamentos longos e burocráticos. Nem tudo vai funcionar. Mas a ideia mais importante é a necessidade de ir rápido, não se importar com os erros. Comece agora. Vá em frente. Pergunta. O senhor vê algum risco nesse modelo ágil? Resposta. Sim. Eu estava na Argentina antes de vir ao Brasil. Conduzimos lá o que chamamos de Fast Power Projects, para instalar novas parcerias no setor elétrico. Qual é o risco? Escolha o parceiro errado e terá o negócio errado. Executivos têm de saber que, para se mover na velocidade que o mundo exige, é preciso cometer alguns erros. No mundo em que vivemos, o maior erro que se pode cometer é não se mover. Fonte: Revista Exame, 13/09/2017, pp. 56/65. PENSE O que você entende como sendo uma ação gerencial não abrangente, não continuada e sem agilidade? Por que essa não é uma situação desejada? BOX DESTAQUE Tempo de ciclo do processo No Dicionário Aurélio o termo agilidade significa “qualidade ou caráter de ágil” e o termo ágil tem vários significados, dentre os quais “hábil, desenvolto (...)” e “rápido, ligeiro, veloz”. No nosso caso podemos juntar os dois significados e entender que a exigência de agilidade é uma exigência de habilidade (competência, aptidão, capacidade) com rapidez. A respeito da importância da rapidez, vale a pena reproduzir um trecho do livro Aperfeiçoando os processos empresariais, de H. James Harrington, que trata do tempo de ciclo do processo. Embora o tempo de ciclo seja considerado uma medida de eficiência, ele exerce um grande impacto sobre os clientes, na medida que afeta o prazo de entrega e o custo. Tempo de ciclo é a extensão total do tempo necessário para completar todo o processo. Ele inclui não só o tempo gasto na execução do trabalho em si, como também o tempo dispendido movimentando documentos, esperando, armazenando, revisando e retrabalhando. O tempo de ciclo é uma questão-chave em quase todos os processos empresariais críticos. Reduzir o tempo de ciclo total libera recursos, reduz custos, melhora a qualidade da saída e pode aumentar as vendas. Por exemplo, se diminuir o tempo de ciclo do processo de desenvolvimento de produto, você poderá aumentar as vendas e a participação no mercado. Se reduzir o tempo de ciclo de produção, você também diminuirá o custo de estocagem e melhorará a entrega. Se reduzir o tempo do ciclo de cobrança você aumentará o dinheiro em caixa. O tempo de ciclo pode fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso” (p. 147). 22 1.4 Controlar Com certeza você já deve ter visto ou ouvido a expressão “quem não controla não administra”, que já caiu em domínio público. O MEG também assume essa verdade e exige que os processos gerenciais tenham controle. Segundo o MEG, entretanto, vale relembrar, o controle significa controle dos padrões, controle da eficiência e controle da eficácia. Para esses três focos do controle serem realizados, é necessário, então, que os processos tenham padrões (conforme já tratado no item 8.2 deste capítulo) e formas que permitam avaliar sua eficiência e eficácia. 1.4.1 Controle dos padrões Para monitorar-se a correta execução dos padrões planejados (FNQ, 20162:29), duas formas comuns são a supervisão direta e as auditorias (internas ou externas). A supervisão direta é uma forma de controle simultânea à execução das tarefas, enquanto que as auditorias constituem uma das formas de controle posterior. 1.4.2 Controle da eficácia Entendida a eficácia como a “extensão na qual as atividades planejadas são realizadas e os resultados planejados alcançados” (FNQ, 20161:76), para controlá-la, é necessário saber quais os resultados desejados. Vale lembrar que, quando estudamos o tema “gestão por processos” do fundamento “orientação por processos”, vimos que a “modelagem dos processos organizacionais” envolve a definição de requisitos aplicáveis aos processos”. Antes disso, vimos que “requisito” é um compromisso assumido pela organização. A partir disso, então, podemos entender que a organização será tão mais eficaz quanto melhor atender aos requisitos definidos para seus processos. Para avaliar-se a eficácia de um processo, um caminho recomendado é ter indicadores de desempenho representativos dos requisitos aplicáveis a ele e metas para esses indicadores. A eficácia acontece se as metas forem alcançadas. Vale lembrar que o “gerenciamento de processos”, do tema “gestão por processos”, diz que o gerenciamento deve envolver controle, inclusive por meio dos indicadores de processos. 1.4.3 Controle da eficiência 23 A eficiência de um processo é entendida como a “relação entre os resultados alcançados e os recursos utilizados” (FNQ, 20161:76) e, para que se possa avaliar se um processo está sendo eficiente, um caminho é definir os padrões de eficiência requeridos. Segue uma fórmula para cálculo da eficiência: Eficiência = [ (recursos necessários) / (recursos utilizados) ] x (100) De acordo com essa fórmula, teremos 100% de eficiência quando os recursos utilizados forem iguais aos recursos necessários e uma eficiência inferior a 100% quando os recursos utilizados superarem os recursos necessários. Alternativamente, pode-se avaliar a eficiência dos processos por meio do acompanhamento dos custos variáveis unitários dos produtos. Na ausência de aumento nos preços dos recursos utilizados, variações nos custos variáveis unitários significarão variações na eficiência dos recursos utilizados, ou seja, aumento de custos significarão redução da eficiência e vice-versa. Neste caso, então, para saber se o processo é 100% eficiente, será preciso definir o custo variável unitário desejado, para fins de comparação. Para HARRINGTON (1993), eficiência significa a extensão com que a demanda de recursos é minimizada e o desperdício eliminado, na busca da eficácia. Para ele, produtividade é a medida da eficiência. Então, se produtividade é a medida da eficiência, outra forma de se avaliar a eficiência é por meio da avaliação da produtividade, que é a relação entre os resultados produzidos e os recursos (insumos) consumidos para a produção. Por exemplo, a produção média homem/hora, ou a produção de veículos por hora (de um dado conjunto de recursos). Produtividade = {[outputs (resultados) / [inputs (recursos utilizados)} Nas corridas de Fórmula I, por exemplo, equipes que fazem trocas de pneus em dois segundos, são mais produtivas e, portanto, mais eficientes que as equipes que trocam pneus em três segundos. Em resumo, para se avaliar a eficiência de um processo por meio do cálculo de produtividade, é necessário, também definir-se, em primeiro lugar, a produtividade desejada. 1.4.4 Alguns exemplos de práticas de controle Veja, nos quadros 5.5 e 5.6, dois exemplos de práticas de controle realizados por organizações premiadas pelo PNQ. O exemplo da Belgo mostra que os controles são feitos por auditorias e por controle de resultados (que 24 podem ser de eficiência e de eficácia). O exemplo da Suzano não envolve o uso de indicadores. Quadro 5.5 – Controle dos Padrões de Trabalho – Suzano Papel e Celulose S. A. A verificação do cumprimento dos padrões de trabalho do acervo dos padrões gerenciais (políticas, procedimentos, manual do Sistema Integrado de Gestão, documento controlado, circular da gestão e modelos próprios das áreas) é realizada por meio de três principais sistemáticas: Sistema de auditorias – as não conformidadessão reportadas pelo auditor responsável em apresentações e/ou relatórios para o comitê ou instância requisitante, inclusive de controle da governança, e, conforme o tipo de auditoria, reporta também para o Comitê de Gestão. O gestor responsável pela eliminação da não conformidade estabelece e implementa um plano de ação para eliminá-la, reportando o progresso nos sistemas de reuniões. Os tipos de auditorias adotados pela Suzano são: Compliance, TI, Segurança, Governança, Sistemas Gerenciais (Qualidade, Meio Ambiente, Saúde e Segurança Ocupacional), Sociedade, Avaliação Modelo de Gestão, Recursos Humanos e Inovação. Acompanhamento pelo Sistema de Reuniões de Comitês Transversais – eventuais inadequações aos padrões gerenciais que emergirem são deliberadas no âmbito do próprio grupo, incorporando ações necessárias aos planos de ação, quando aplicáveis, segundo os padrões de funcionamento dos Comitês. Coordenação de programa, projeto ou processo transversal – todos os programas, processos e projetos contam com coordenadores designados, responsáveis pelo calendário anual de ações, acompanhamento das atividades e pelo cumprimento dos modelos próprios adotados pela equipe, seus fornecedores e clientes. Eventuais inadequações aos padrões gerenciais são deliberadas no sistema de reuniões, naquelas em que o responsável participa, para estabelecimento de ações cabíveis (p. 8). Fonte: FNQ – Relatório de Gestão – Suzano Papel e Celulose – 2008. 25 Quadro 5.6 – Métodos Gerais de Controle – Belgo João Monlevade Método Descrição/Ação Corretiva Indicador/ Informação Auditorias do sistema de gestão Auditorias interna e externa do Sistema de Gestão Integrada (SGI). Descrição: a prática de auditoria interna do SGI é descrita na norma Auditoria Interna e visa verificar o cumprimento dos padrões de trabalho de todos os processos. O grupo auditor executa as auditorias conforme o plano anual e sua qualificação é definida pela norma Qualificação e Manutenção de Auditores Internos. A prática de auditoria externa do SGI é realizada anualmente pelo órgão certificador. Ação corretiva: a auditoria gera um relatório com as não conformidades, as observações e as sugestões de melhoria identificadas. O processo auditado é responsável por identificar e documentar as ações corretivas para eliminação das não conformidades. A GRHQ – Gerência de Recursos Humanos e Qualidade Total – acompanha as ações tomadas até a verificação de sua efetividade Relatórios das auditorias / Número de não conformidades Auditorias do Gerenciamento da Rotina Diária (GRD) Descrição: a prática de auditoria de GRD – Gerenciamento da Rotina Diária – é descrita no padrão de sistema do GRD e visa avaliar os níveis de implementação da gestão da rotina e pelas diretrizes (objetivos estratégicos) em cada processo da Belgo JM. A auditoria do GRD é anual e verifica o cumprimento dos padrões de trabalho dos ciclos do sistema de gestão da Belgo JM por meio de um “check list” padrão. Cada processo recebe uma pontuação baseada nos fatores de avaliação do PNQ. Ação corretiva: a auditoria gera um relatório com os pontos fortes e de melhoria. O processo auditado elabora e implementa um plano de ação para os pontos de melhoria, tendo a assessoria do GRHQ Relatórios das auditorias/ pontuação da auditoria de GRD Auditoria de normas Descrição: a prática de auditoria de normas é descrita no padrão Análise Crítica de Documentos do SGI e visa verificar a adequação dos padrões de trabalho quanto à sua atualização e ao seu cumprimento por meio de um “check list”. A auditoria é realizada pelo próprio processo conforme seu Programa de Padronização, que prevê quando cada padrão de trabalho será auditado. Ação corretiva: caso haja necessidade de ação corretiva é elaborado um plano de ação, que é acompanhado pelo coordenador do processo. Acompanhamen to do Programa de Padronização (auditoria de SGI e GRD). Reunião de resultados Descrição: a prática de reunião de resultados é descrita no padrão Reunião de Acompanhamento de Resultados e visa monitorar mensalmente os resultados dos indicadores de desempenho e o desenvolvimento dos projetos das Gerências e Departamentos. Ação corretiva: o tratamento das ações corretivas é feito por Análise de Anomalia e Relatório de Três Gerações. Resultados dos indicadores / cronograma dos projetos Fonte: FNQ – Relatório de Gestão Belgo João Monlevade – 2006 (adaptação). 26 Tomara os exemplos da Suzano e da Belgo tenham ajudado você a saber um pouco mais sobre o controle de padrões gerenciais dos processos de gestão (ou práticas de gestão) e como ele pode ser realizado. Vamos tentar generalizar isso. Na abordagem do MEG, os padrões gerenciais das diferentes ações gerenciais, ao serem definidos, precisam incluir seus responsáveis, seus métodos e sua periodicidade (FNQ, 2013:22). Não é demais lembrar, ainda, que “processos” transformam entradas (insumos) em saídas (produtos) que devem ter alguma finalidade, isto é, algum cliente, mesmo que seja um cliente interno. Essas informações nos ajudam a pensar no que podem vir a ser as ações de controle. Elas podem envolver a resposta às seguintes perguntas: BOX DESTAQUE O controle sob a ótica da Lei Sarbanes Oxley É bastante provável que você já tenha conhecimento da Lei Sarbanes Oxley, de 2002, dos Estados Unidos, à qual se sujeitam as companhias que tem ações negociadas naquele país. Trata-se de uma lei voltada para fixar regras de governança corporativa, surgida em resposta aos escândalos empresariais como o da Enron Corporation (2001). Um dos focos dessa lei são os controles. A esse respeito vale reproduzir parte do texto “Lei Sarbanes-Oxley: guia para melhorar a governança corporativa através de eficazes controles internos” (DELOITTE, 2003): Os recentes escândalos no mundo dos negócios trouxeram à tona declarações de executivos que afirmaram ‘não ter conhecimento’ das atividades duvidosas praticadas por suas companhias – participações não registradas em livros, reconhecimentos de receitas impróprios etc. A Lei Sarbanes- Olxey foi criada para desencorajar essas alegações através de várias medidas que intensificam as conferências internas e aumentam a responsabilidade dos executivos. (...) De forma ainda mais notável, a Lei Sarbanes-Oxley privilegia o papel crítico do ‘controle interno’ (grifo nosso). O controle interno é um processo executado pela Diretoria, pelo Conselho de Administração ou por outras pessoas da companhia que impulsionam o sucesso dos negócios em três categorias: Eficácia e eficiência das operações. Confiabilidade dos relatórios financeiros. Cumprimento das leis e regulamentos aplicáveis. A Lei Sarbanes-Oxley torna Diretores Executivos e Diretores Financeiros explicitamente responsáveis por estabelecer, avaliar e monitorar a eficácia dos controles internos sobre relatórios financeiros e divulgações (p. 3). Fonte: http://www.deloitte.com/assets/Dcom- Brazil/Local%20Assets/Documents/guia_sarbanes_oxley(1) pdf. 27 O processo gerencial planejado foi executado? O processo gerencial foi executado na periodicidade planejada? O prazo de execução foi respeitado? Os métodos previstos para execução do processo foram respeitados? O processo gerencial foi eficaz, isto é, atingiu os objetivos desejados? O processo gerencial foi eficiente, isto é, otimizou o uso de recursos? Grande parte dessas perguntas pode ser respondida por meio de sistemas de auditoria, o que explica os motivos de nos quadros 5.5 e 5.6 tanto aparecer esse assunto. Os controles também podem ser feitos por meio de indicadores de desempenho, desde que a organização defina muito bem os objetivos de cada processo, incluindo os objetivos de eficiência, e consiga definir e medir indicadores que retratem esses objetivos. 1.5 AprenderNa abordagem do MEG, para se buscar a “excelência na gestão” é necessário, além de planejar, executar e controlar os processos gerenciais, fazer o aperfeiçoamento ou a inovação desses processos, com a finalidade de torná-los mais eficientes ou mais eficazes ou ambas as coisas. Em outras palavras, exige-se que seja praticado o fundamento “aprendizado organizacional e a inovação”. 1.5.1 Processos gerenciais a serem melhorados Uma possível dúvida que você pode ter é: melhorar o quê? Não é de se esperar que as organizações, anualmente, busquem tornar todos os seus processos de gestão mais eficientes ou eficazes simplesmente porque o MEG PENSE Será que as organizações que contam com bons processos de controle do cumprimento de seus padrões dos processos gerenciais levam vantagens sobre organizações concorrentes que não tenham sistemáticas de controle das suas ações gerenciais? Quais são essas vantagens? Por quê? 28 assim valoriza a melhoria. Elas devem melhorar aquilo que conseguirem identificar como passível de ser aperfeiçoado/melhorado. Assim, o primeiro passo, para o processo de melhoria, é o diagnóstico da situação atual, com a finalidade de identificar forças e fraquezas dos processos organizacionais adotados. Cabe a cada organização definir a melhor forma de fazer seu diagnóstico organizacional, como meio de definir os processos gerenciais a ser melhorados. Dentre as várias alternativas de diagnóstico, pode-se destacar: a análise comparativa de resultados, a avaliação da gestão com base na metodologia do MEG, participação de avaliações do tipo Melhores Empresas para Trabalhar e Guia Exame de Sustentabilidade, ou ainda a avaliação com base nos “Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis”, entre outras. Uma análise comparativa de resultados (benchmarking de resultados), serve para mostrar as diferenças de desempenho, e a análise das causas dessas diferenças deve levar às diferenças de práticas/ações que levaram aos diferentes resultados. Assim, por exemplo, se forem comparados os resultados relativos ao índice de satisfação dos clientes de duas diferentes organizações, e esses resultados forem diferentes, uma análise das causas das diferenças encontradas deverá nos levar até as diferenças das práticas adotadas por essas organizações. Essas informações devem ajudar a identificar os processos relacionados a clientes que devem ser aperfeiçoados. Em outras palavras, resultados são consequências de ações; se desejarmos melhorar os resultados, deveremos melhorar as ações que nos levam até eles. Avaliações do tipo Melhores Empresas para Trabalhar, Guia Exame de Sustentabilidade ou avaliações com base nos Indicadores Ethos, constituem outra forma de análise comparativa de resultados, só que neste caso a comparação de uma organização deve se dar com relação a outras organizações melhor pontuadas, nos diferentes componentes dessas avaliações. Também aqui a pergunta chave deve ser: o que elas fazem de melhor para terem sido melhor avaliadas. A resposta a essa pergunta dará pistas para as práticas de gestão que poderão ser objeto de melhoria. Existe, também, a possibilidade de a organização submeter-se ao processo de avaliação “Melhores em Gestão”, conduzido pela FNQ e de prêmios estaduais ou setoriais correspondentes, os quais avaliam organizações sob a ótica do MEG, identificando forças e fraquezas tanto nas práticas de gestão quanto nos resultados. Este processo normalmente tende a ser muito rico e resulta num relatório de avaliação indicando pontos fortes da gestão organizacional e oportunidades de melhoria e uma pontuação sinalizando quão próxima ou distante a organização está do nível mais elevado 29 de maturidade da gestão (excelência da gestão). Nada impede uma autoavaliação da gestão sob a ótica do MEG. Aliás, a própria FNQ disponibiliza um software que permite essa autoavaliação. Veja em <http://www.fnq.org.br/avalie-se/solucoes-de-avaliação>. Acesso em: 05 out. 2018. 1.5.2 O que fazer para aperfeiçoar os processos gerenciais Qualquer melhoria em um processo gerencial, grande ou pequena, que resulte num aumento da eficácia desse processo ou de sua eficiência, ou ambas as coisas, é considerada um aperfeiçoamento. Isto significa dizer que as melhorias tanto podem ser incrementais (melhoria contínua) como inovadoras ou revolucionárias (melhoria radical). Vários podem ser os caminhos que podem conduzir às melhorias das ações gerenciais. São exemplos desses caminhos a busca de soluções criativas para problemas (a partir de papel branco na mão), a busca de novos patamares de conhecimento organizacional, as práticas de benchmarking de processos e a inovação, entre outros. 1.5.3 A quem compete aperfeiçoar os processos Independentemente da forma, o MEG exige que os processos gerenciais sejam continuamente melhorados. Mas a quem compete fazer isso? A resposta é simples: compete a todos na organização. Para os processos serem continuamente aperfeiçoados, é necessária uma cultura interna de eterna insatisfação com aquilo que se está fazendo, não insatisfação por frustração, mas insatisfação de se ter sempre a sensação de que aquilo que está sendo feito pode ser melhorado. Espera-se que as pessoas da organização tragam dentro de si indagações semelhantes às propostas por Hammer & Champy (1994), no livro Reengenharia: “Por que fazemos o que fazemos? Por que fazemos dessa forma?” (p. 22). Cabe a cada organização definir os meios estimuladores de seus colaboradores, de todos os níveis hierárquicos, a buscar contribuir para o aperfeiçoamento dos processos gerenciais. Dentre esses meios podem existir, por exemplo, o estímulo a ideias criativas, por meio de prêmios ou reconhecimentos, ou a exigência, nas auditorias de processos, de evidências de que os responsáveis pelos processos buscam melhorar seus próprios processos. 30 BOX DESTAQUE Resistências à mudança Como você já viu, o MEG requer das organizações contínuos aperfeiçoamentos de seus processos gerenciais, aperfeiçoamentos esses que podem ser incrementais ou radicais. Só que aperfeiçoar significa mudar; e mudança nem sempre é algo bem aceito no meio organizacional. Sempre há o risco da ocorrência de resistências à mudança. A esse respeito assim se manifesta Chiavenato (2008): Para que a mudança seja dinamizada, é necessário que exista um ambiente psicológico propício, uma cultura organizacional adequada, um estimulo individual e grupal para a melhoria e para a excelência. Muitos esforços para a mudança organizacional são perfeitamente bem-sucedidos, enquanto outros tendem a se transformar em redundantes fracassos. A maioria desses esforços enfrenta vários problemas. Muitos demandam muito mais tempo do que fora previsto ou desejado, enquanto outros deterioram o moral e quase sempre provocam um elevado custo em termos do tempo que os gerentes dedicam às pessoas para convencê- las e à resolução de distúrbios emocionais decorrentes da mudança. Algumas organizações nem se atreveram a iniciar esforços de mudança pelo simples fato de que os gerentes envolvidos tinham receio de se mostrar incapazes de executá-las com sucesso. É que os esforços de mudança organizacional quase sempre esbarram ou colidem com alguma forma de resistência humana. Não só dos empregados, mas sobretudo de muitos gerentes. Para não falar de diretores. As pessoas podem aceitar as mudanças de maneiras diferentes. Isso significa que elas podem aceitar positivamente as mudanças e adotar uma postura de simples aceitação quando movidas pelos argumentos da direção da empresa ou quando adotam uma postura proativa em que não apenas aceitam a mudança, mas tomam a iniciativa pessoal de fazê-la acontecer. No entanto, pessoas podem comportar-se negativamente em relação às mudanças que ocorrem naempresa. Elas podem mudar porque são simplesmente estimuladas ou coagidas para isso, como podem se acomodar à mudança, habituando-se a um comportamento rotineiro e cotidiano, como também podem reagir negativamente à mudança por meio de um comportamento de defesa para manter o status quo ou ainda tentar obstruir de maneira velada ou aberta qualquer tentativa de mudança dentro da empresa (p. 294). No livro Fundamentos do Comportamento Organizacional, Griffin e Moorhead (2006) apresentam, no capítulo 15, algumas sugestões para superação das resistências à mudança: assumir uma visão holística; começar pequeno; assegurar o apoio da alta administração; encorajar a participação; estimular a comunicação aberta; e recompensar quem contribuir. Ver p. 442. Vale a pena conferir. 31 Para resumir, vimos que, para os 59 processos gerenciais sugeridos pelo MEG serem implantados da forma que o MEG exige, é necessário: (a) todos eles terem padrões, serem proativos e integrados, e terem objetivos e metas; (b) os padrões serem executados de forma abrangente, contínua e ágil; (c) os padrões em execução serem controlados, tanto para verificar a correta execução dos padrões planejados, como para monitorar sua eficiência e eficácia; e (d) os padrões serem continuamente melhorados. Praticar a “qualidade da gestão” não é, então, uma tarefa fácil. Entretanto, o esforço parece valer a pena, pelos bons resultados que tende a produzir. As organizações classe mundial, ganhadoras do Prêmio Nacional da Qualidade (atual “Melhores em Gestão”), ou ganhadoras de prêmios relacionados, mostraram ter “qualidade na gestão” e, por conta disso, muito bons resultados. 1.6 A busca da excelência da gestão A busca da “excelência da gestão” tende a ser paulatina. Na abordagem do MEG, essa evolução pode ser classificada em quatro níveis, chamados níveis de maturidade: nível inicial, em desenvolvimento, nível consolidado e nível de excelência. O quadro 5.7, apresentado a seguir, mostra o que caracteriza cada um desses níveis de maturidade, tendo por base o ciclo PDCL. Para uma organização atingir o mais elevado nível de maturidade da gestão, no que diz respeito a suas ações gerenciais, o MEG (FNQ, 20162:68). requer: Concepção de todos os processos integrada, com proatividade e padronização. PENSE Por que o aperfeiçoamento contínuo dos processos gerenciais é uma necessidade? Será que organizações que não aperfeiçoam seus processos gerenciais correm riscos competitivos? Por quê? 32 Execução de todos os processos totalmente abrangente, continuada e ágil. Processos controlados sistematicamente conforme o planejado, considerando sua eficiência e eficácia. Processo de aprendizado responsável por aperfeiçoamentos contínuos em todos os processos de todos os fundamentos, com muitas inovações. Não é uma tarefa fácil chegar a esse nível, mas certamente é um nível desafiador, o qual merece ser continuamente buscado, por quem quer praticar “qualidade da gestão” em vez de somente de “gestão da qualidade. PENSE Para você entender a riqueza do quadro 5.7, sugerimos responder as seguintes perguntas: Será possível uma empresa ser classificada como excelente em P e inicial em D e C? Por quê? Será possível uma empresa ser classificada como inicial em P e consolidado em D? Por quê? Qual a diferença entre trabalhar numa organização que esteja no nível inicial, nas quatro etapas do PDCL, e em uma empresa que esteja no nível consolidado? 33 Quadro 5.7 – Níveis de maturidade dos processos gerenciais Etapas Níveis de maturidade Inicial Em desenvolvimento Consolidado Excelência P O planejamento começa a incluir rotinas e padrões. Existem padrões estruturados, mas com lacunas importantes quanto ao alcance dos propósitos ou à proatividade ou à integração. Os padrões estruturados são suficientes, proativos e integrados, alcançando seus propósitos. Pode haver pequenas lacunas. Os padrões estruturados são suficientes, proativos e integrados, alcançando seus propósitos. D A implantação ocorre ainda em desacordo com as rotinas e padrões ou de forma desordenada. A implantação ocorre de acordo com os padrões estabelecidos, mas existem lacunas importantes de abrangência ou continuidade ou agilidade. A implantação ocorre de acordo com os padrões estabelecidos, mas podem existir pequenas lacunas de agilidade. A implantação é abrangente, contínua e ágil. C Os controles, quando existem, ainda estão em início de utilização. Os controles estabelecidos monitoram os padrões. Os controles monitoram os padrões e permitem a verificação da eficiência e eficácia, quando aplicável. Podem existir pequenas lacunas. Os controles monitoram os padrões e permitem a verificação da eficiência e eficácia, quando aplicável. L O aperfeiçoamento é pontual e esporádico. As melhorias decorrem, de forma geral, do processo de aprendizado ou controles estabelecidos. O processo de aprendizado é responsável por melhorias de grande importância para o Modelo de Negócio da organização. O processo de aprendizado é responsável por melhorias de grande importância para o Modelo de Negócio da organização. Há melhoria (inovação) que mudou o patamar competitivo do propósito planejado. Fonte: FNQ, 20162:30. 34 Consultando a biblioteca virtual da UNIP, você poderá se aprofundar em muitos dos assuntos por nós tratados neste capítulo. Afora isso, seguem algumas recomendações específicas: PLANEJAR Fagner, A. A utilização do ciclo PDCA no gerenciamento da melhoria contínua. Monografia, 2011. Disponível em: <http://www.icap.com.br/biblioteca/175655010212_Monografia_Adriano_Fagner.p df>. Acesso em: 23 fev.18. Essa monografia ilustra o que é o modelo PDCA que deu origem ao modelo PDCL no qual está baseado o MEG. A respeito do assunto padronização será muito bom se você puder ver o livro Criando organizações eficazes, de Henry Mintzberg. Ele trabalha com a ideia de que existem organizações que podem padronizar processos de trabalho, como é o caso das indústrias com linhas de montagem; podem padronizar habilidades de inputs, como é o caso de hospitais, quando contratam médicos; ou podem padronizar outputs (saídas), como é o caso de empresas divisionais, nas quais os gestores de divisões são cobrados por resultados. Se a organização onde você trabalha busca pautar sua gestão com base em diferentes normas, como as normas NBR ISO 9001, NBR ISO 14001, OHSAS 18001, SA 8000 e ABNT NBR 16001, é recomendável uma consulta ao livro Sistemas de gestão integrados: qualidade, meio ambiente, responsabilidade social e segurança e saúde no trabalho, de Ribeiro Neto e outros. EXECUTAR A respeito do fato de o MEG requerer agilidade na execução dos processos gerenciais, a sugestão é ler o artigo No ritmo claro das startups publicado pela Revista Exame de 13/09/2017 (páginas 83/90). Esse artigo mostra o que significa ser ágil. A Revista HSM Management – n. 124 – set./out.2017 [vf bibliografia] – traz, em seu “dossiê” intitulado Ágil & antifrágil ao mesmo tempo, quatro artigos relacionados à agilidade e mais um conjunto de referências bibliográficas sobre o tema: (a) Do ágil ao antifrágil; (b) Avanço rápido como abordagem estratégica; (c) Execução em pedaços; (d) O Brasil está menos longe da antifragilidade do que imagina. CONTROLAR Se você tiver dúvidas sobre a diferença entre os conceitos de eficiência e eficácia, sugere-se a publicação Guia referencial para medição de desempenho e manual para construção de indicadores, de 2009. Disponível em: <http://www.gespublica.gov.br/biblioteca/pasta.2010-12- 08.2954571235/Guia%20- %20Indicadores%20(versao%20preliminar%20Dez%2009.pdf>. Acesso em: 23 fev. 2018). Em especial, ver o item 2.1. 35 APRENDER
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