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RAFAELA FAXINA HELOISA ALVARES BOCCHI Breve análise acerca da evolução da história dos Direitos humanos fundamentais na Constituição brasileira. De início é imprescindível uma breve análise acerca da evolução da história dos Direitos humanos fundamentais na Constituição brasileira desde a Constituição do Império de 1824 até então a Constituição Federal de 1988. Os Direitos humanos fundamentais são designados à proteção do ser humano e de sua dignidade em todas as dimensões, ou seja, direitos individuais, políticos, econômicos, sociais, culturais e de solidariedade. Começando pela Constituição Política do Império de 1824, foi a constituição que ficou em vigência por mais tempo, durou sessenta e cinco anos, e a primeira Constituição a positivar direitos fundamentais, embora tratava em cunho individual. Encontravam-se consagrados nesta, o principio da legalidade, liberdade de pensamento, direito à inviolabilidade do domicílio, igualdade, sigilo de correspondência, propriedade, abolição de penas como açoite, tortura entre outras cruéis, previa também direito as prisões seguras e limpas. No âmbito social, estavam o direito à educação primária e aos socorros públicos. No entanto, não se pode afirmar que tais direitos foram efetivados, visto que, a escravidão dos negros era permitida, fica evidente a ausência de liberdade, outra característica que aponta como os direitos previsto pelo Império não passaram da carta é a auência de democracia, esta essencial para tal efetivação. Para mais, com o fim do regime monárquico promulgou-se a Constituição de 1891, esta que instituiu a forma federativa, a tripartição dos poderes e o regime presidencialista onde o Presidente e Vice- Presidente deriam ser eleitos por sufrágio direto e maioria absoluta de votos, apresentava grande influência positivista, separando e transferindo ações que antes pertenciam à igreja agora para o estado. Nesta Constituição, além dos direitos individuais que estavam já previstos, a inovação foi a previsão do “habeas corpus” além das penas criminais que foram abandonadas. Em seguimento, após a instalação do governo provisório de Getúlio Vargas e o fim da Revolução Constitucional de 1932, foi promulgada a Constituição de 1934, neste momento acontecia a crise do liberalismo econômico do Estado mínimo, os movimentos sociais reivindicavam melhores condições de trabalho, portanto esta Constituição é a primeira no País a romper com o estado liberal e instaurar um Estado Social. Como resultado destas reivindicações a presente carta se inovou no quesito dos Direitos sociais, Direito do Trabalho, institucionalizou a reforma Agrária, criou a Justiça do trabalho, e um marco importante foi a aprovação ao voto feminino, criando também a justiça social e o voto secreto. Entretanto houve pouca efetivação devido ao pouco tempo que ela durou, apenas três anos. Prosseguindo, a carta Constitucional de 1937 foi a mais autoritária, inspirada no modelos fascistas e autoritários como a Constituição Polonesa de 1935, se caracterizava por um poder absoluto do ditador, a presente carta restringiu os direitos fundamentais já conquistados e apesar de prever Direito à liberdade, segurança, propriedade e igualdade, nas palavras de Flávia Lages de Castro “é interessante pelo tanto que não foi cumprido e, se o fosse, o país teria, nesse período, mantido o Estado de Direito e não passado por uma Ditadura”, posto isto, é evidente a ausência de democracia e efetivação dos direitos humanos fundamentais. Destarte, com a queda de Getúlio Vargas em 1946 foi promulgada uma nova Constituição, estabelecendo um regime democrático e republicano, garantindo pela primeira vez “a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida”, retomando portanto, a garantia dos direitos humanos fundamentais, acrescentando ainda inovações nos Direitos do trabalho “acrescentou a participação obrigatória e direta do trabalhador nos lucros da empresa, repouso semanal remunerado, proibição do trabalho noturno aos menores de 18 anos, assistência aos desempregados, estabilidade e indenização em caso de despedida, reconhecimento do direito de greve e inseriu a Justiça do Trabalho na esfera do Poder Judiciário”, em 1946 aconteceu a constituição de redemocratização e outra característica foi a elaboração de lei própria para a educação. Em sequência, em 1964 as forças armadas tomaram o poder e buscavam centralizar e fortalecer o poder executivo instituindo um regime autocrático de ditadura militar “revolução gloriosa, como ficou conhecido” o golpe militar feriu direitos individuais e coletivos, apresentou um regime de exceção e uma ausência de compromisso democrático. Em 1967 então foi promulgada outra Constituição apresentando ainda restrições ao um regime democrático e com isso os direitos humanos fundamentais ficaram extintos até o final da Ditadura Militar. Por fim, em 1988 promulgou-se a Constituição vigente no país, esta que consolidou a redemocratização do Brasil, buscando duas coisas fundamentais: ampliar os Direitos sociais políticos e os Direitos fundamentais individuais. Instituiu como um dos fundamentos da República a dignidade da pessoa humana, igualdade formal e material, leis infraconstitucionais que deram base para a criação dos estatutos, como por exemplo: o estatuto da criança e do adolescente. Esta constituição apresentou muitas emendas, e das constituições existentes esta apresentou o rol mais extenso de direitos fundamentais, previu pela primeira vez o direito ao lazer, ampliou os direitos de proteção ao trabalhador, deu atenção especial à proteção da família, a criança, ao idoso, aos adolescentes e indígenas, estabeleceu o direitos de todos a um meio ambiente equilibrado e criou normativas para as pessoas terem mais acesso ao judiciário. À luz do exposto, é necessário enfatizar que mesmo nos períodos democráticos os direitos fundamentais previsto infelizmente não foram efetivados em consequência do desenvolvimento que o país ainda se encontra, carente de uma justiça social e com má distribuição de renda, portanto estas previsões não foram e não são suficientes para uma sociedade justa e solidária que tem como objetivo principal a República Federativa do Brasil. A partir disto, se tratando de Direitos das minorias no Brasil esta categoria é utilizada no Direito como amparo para a defesa dos Direitos humanos fundamentais, atribuídos a grupos marginalizados, vulneráveis, requerendo reconhecimento e proteção de seus Direitos no espaço público, concebendo uma consolidação dos valores democráticos presentes na Constituição. É importante ressaltar que, os grupos minoritários não devem ser associados a grupos em menor número, mas sim, ao controle de um grupo majoritário sobre os demais, independente de quantidades numéricas, já que quase sempre os grupos das minorias recebem um tratamento discriminatório por parte da maioria. É evidente, a necessidade de debates sobre como interpretar os direitos fundamentais e justificar os alicerces das decisões, é importante da mesma forma uma análise dos precedentes e da construção argumentativa dos magistrados a fim de compreender os princípios aplicados e a partir disto, construir parâmetros necessários para destacar os bem sucedidos que protegem o Direito das minorias. A constituição de 1988, marca o respeito das diferenças e a consideração das minorias envolvidas no processo democrático, entretanto, o valor a ser preservado se fixa ao lado das decisões majoritárias, Ronald Dworkin ressalta esse aspecto da democracia:“[...] nenhuma democracia proporciona a igualdade genuína de poder político [...]”, e que “[...] membros de minorias organizadas têm, como indivíduos, menos poder que membros individuais de outros grupos que são, enquanto grupos, mais poderosos”, Dworkin ainda afirma que o viés majoritário do judiciário funciona severamente contra as minorias e por esse motivo a probabilidade de seus direitos serem ignorados no tribunal é maior. Os princípios citadosanteriormente na análise da Constituição de 1988, como o princípio da dignidade humana, da igualdade formal e material servem para fundamentar novas leituras normativas de forma que garantam espaços para a proteção dos Direitos dos minoritários. É incontestável, que as melhores interpretações e decisões a favor das minorias são aquelas baseadas nas normas da própria Constituição, como: a cidadania, repúdio ao preconceito e a discriminação, igualdade, sendo permitido o tratamento desigual em circunstâncias desiguais com o propósito de reafirmar-se continuamente o Estado Democrático de Direito. Além disto, é no Direito público que se encontra a luta a favor dos grupos minoritários, não só aqueles ligados a uma diferença cultural e identitária, mas também de grupos marginalizados, as mulheres, negros ou afrodescentes, portadores de necessidades especiais e os homossexuais. Para mais, é inegável a postura majoritária dos agentes do poder judiciário brasileiro, visto que a democracia trouxe valores humanísticos firmados pela Constituição e que não devem ser marginalizados por esses agentes. O direito das minorias apresenta um compromisso democrático do Direito, e a democracia sendo um um processo inacabado exige constante fiscalização das instituições, bem como de seus agentes. Já dizia Gabriel o Pensador em sua música: "Democracia, que democracia é essa? O seu direito acaba onde começa o meu, mas onde o meu começa?”, a partir disto é necessário e fundamental a função da defensora pública diante do exposto. De acordo com o Doutor Thiago Hoshino, atualmente Ouvidor Externo da Defensoria Pública do Paraná, na Defensoria Pública (DP), por conta da Lei complementar Nº 80/94, a Lei orgânica das Defensorias Públicas, que foi alterada em 2009, as ouvidorias foram alçadas a uma função especial, as chamadas ouvidorias externas, que tem esse nome por não serem ocupadas por membros da carreira de defensor público, mas sim ocupadas por membros da sociedade civil, representantes de determinados movimentos sociais ou de agendas de Direitos Humanos, justamente para tentar aproximar a instituição e o trabalho de defesa de direitos da instituição de defensores populares de direitos humanos, das pautas e demandas de movimentos sociais de lideranças comunitárias e usuários do serviço, ainda que não organizados coletivamente. Portanto, o ouvidor da defensoria pública não é um defensor público, mas sim um militante dos direitos humanos, que é escolhido por eleições que ocorrem a cada 2 anos no Conselho Estadual de Direitos Humanos, e sua função é fazer uma ponte entre o corpo da instituição e a sociedade civil, o que é um importante diferencial dentro do sistema de justiça. A Defensoria Pública é a única instituição que tem uma ouvidoria externa prevista em lei, o que se faz necessário para a democratização da política da justiça, tendo em vista que existe um quadro político dentro do qual as decisões, inclusive sobre a administração da justiça, são tomadas, como por exemplo, no Paraná, a defensoria pública possui menos de dez por cento do orçamento que tem o Ministério Público e o Judiciário, isso é, obviamente uma decisão política sobre onde alocar recursos escassos e que têm impactos no acesso à justiça ao gerar uma disparidade entre o trabalho de representação dos grupos vulneráveis e da população mais pobre e instituições que entre suas funções está a de acusar. Segundo artigo 134 da constituição “A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal.”, portanto a Defensoria Pública é o órgão responsável, por viabilizar e garantir, enquanto política de estado, o acesso à justiça as pessoas necessitadas, como chamou a constituição e esse conceito foi ampliado de muitas formas, agregado a ideia de direito de minorias, grupos vulneráveis e vulnerabilizados e hipossuficientes. É importante situar o papel de uma ouvidoria externa dentro da Defensoria Pública, porque apenas recentemente tivemos a implementação desse órgão em todos os estados do país, sendo o penúltimo o Paraná, antes disso, desde 1988 nosso estado se encontrava em uma mera constitucional enorme, só em 2011 a DP foi estruturada no nosso estado nos termos da constituição e da Lei orgânica 80/94, antes desse ano ela estava organizada como um órgão de assessoria ligada ao poder executivo e não como um órgão autônomo, o que tem uma série de problemas, porque justamente a Defensoria litiga em grande medida contra o próprio estado, por exemplo, o trabalho que faz na área da fazenda pública, como ações de saúde, ligadas ao acesso a medicamentos ou tratamentos, contra o próprio Estado, sendo indispensável a autonomia para consolidar uma Defensoria forte. Esse processo foi resultado de um movimento popular amplo pelo acesso à justiça como um direito fundamental, e no caso do Paraná a Defensoria já nasceu com a previsão de uma ouvidoria externa, o que não é o caso em todos os estados da nação, hoje só 14 defensorias públicas implementaram de fato a ouvidoria externa, nem a DPU (Defensoria Pública da União) possui ainda uma ouvidoria externa. Precisamos dentro do sistema de justiça situar a Defensoria Pública como um órgão que faz o papel, em geral, da defesa das pessoas acusadas em processos penais, mas também faz muito mais do que isso, como ações de divorcio, de guarda, de alimentos na área da família, ações de saúde, todas as questões de direito civil, como as contratuais, de dívidas, de despejos e também atua na área da infância, que legalmente é uma prioridade dentro desse órgão, atua também na defesa com relação aos atos infracionais e no acompanhamento da aplicação das medidas socioeducativas e na proteção de crianças e adolescentes contra diversas formas de violência sendo uma ação conjunta com toda a rede de atenção, além disso faz, também, um plano de oposição com o Ministério Público, mais especificamente a defesa em processos criminais e a execução penal (defesa dos direitos depois que a pessoa é condenada a cumprir a pena), também são pautas históricas das Defensorias Públicas por exemplo a audiência de custódia (audiências que acontecem antes de se determinar o início ou não do processo e como a pessoa vai responder a uma ação penal) e o olhar particular que a Defensoria tem nesses casos, tanto buscando que o mínimo de pessoas venham a ingressar no sistema carcerário, mas também percebendo os diversos vieses, inclusive de discriminação racial implicado nesse momento em que o juiz faz uma analise do perfil da pessoa e determina como ela responderá ao processo, esse é um tipo de trabalho que dificilmente se encontra na doutrina Jurídica. O trabalho que a defensoria realiza também é produtor de direitos e sentidos jurídicos, tanto do ponto de vista jurisprudencial como doutrinário, em áreas que são pouco estudadas e aprofundadas, por exemplo, na execução penal, nas audiências de custódia, nos conflitos fundiários coletivos, como disputas por terras e despejo de comunidades, de ocupação, na defesa dos direitos da população em situação de rua, e etc. Hoje, alguns desses temas, estão abarcados tanto na atuação individual da Defensoria Pública, ao recorrer a uma ação de despejo, ou na atuação coletiva, como em uma ocupação, que exige uma atuação jurídica e de políticas públicas, nesse último caso a defensoria trabalha no plano dos direitos e interesses coletivos e difusos. A DP do Paraná atualmente possui 5 núcleos especializados desta natureza que podem trabalhar em todo o estado e não são divididos por comarcas, sendo eles: um núcleo de direitos humanos mais geral que trabalha com diversaspautas, um núcleo de defesa dos direitos das mulheres, um núcleo de política criminal e execução penal, um núcleo de conflitos fundiários e questões humanísticas e um núcleo de infância e juventude, que inclui pautas ligadas a educação. Os núcleos especializados trabalham com os diversos grupos e coletivos que reivindicam uma identidade específica a partir da sua particular situação de desvantagem em relação a outros grupos ou de vulnerabilização, ou seja, as minorias, do ponto de vista de representação política e vulnerabilidades sociais, o que a Constituição chamou de pessoas necessitadas, pensando em pessoas que não poderiam pagar um advogado particular foi sendo ampliado desde 1988 para abarcar também diversos grupos ditos vulneráveis. Na situação atual, as demandas que mais estão chegando a Defensoria Pública são as questões ligadas aos direitos das populações em situação de rua, sobretudo na capital do estado, onde o contingente dessa população é maior e existem 2 ações públicas ajuizadas pelo núcleo de direitos humanos que são exemplos da atuação judicial da Defensoria Pública, uma diz respeito à violação de direito de propriedade, devido ao fato de que a guarda municipal retira pertences da população em situação de rua a anos e não guardam esses materiais, inclusive documentos pessoais, isso sob diversos pretextos inclusive a ideia de que tornam a cidade mais feia ou que são insalubres sob um viés sanitarista ou estético, essa ação tem mais de 2 anos e já conquistou uma série de vitórias mas ainda não se concluiu. A outra ação civil pública se iniciou no período da pandemia e diz respeito a garantia de água e alimento para as pessoas em situação de rua, o que não estava sendo fornecido pelo município de Curitiba, porque os bebedouros e torneiras públicas que eram utilizadas por essas pessoas foram fechadas no período do isolamento e com o fechamento do comércio e a diminuição da circulação de pessoas, as doações diminuíram muito e nenhum plano emergencial ou político foi pensado para resolver essa situação, como também não foi pensada nenhuma medida para diversos grupos, mas neste caso há um impacto muito imediato e direto na vida dessa população. A Defensoria Pública atua também de forma extrajudicial, como por exemplo em um trabalho de articulação política muito importante, às vezes trabalhando com o legislativo, como vem acontecendo recentemente em Curitiba para rejeitar um Projeto de Lei que pretende coibir as doações de alimentos por particulares para a população em situação de rua. Uma parte da razão porque a agenda do núcleo de direitos humanos está pautada entre outros temas, pelo tema das pessoas em situação de rua, é porque existe um movimento dessa população organizado com lideranças fortes do estado do Paraná e que pauta a agenda da DP, assim como existe também, movimentos organizados e fortes dos povos indígenas e de diversas comunidades tradicionais no nosso estado, como as comunidades quilombolas, as comunidades de pescadores e artesãos, que pautam a agenda desse núcleo. Então um dos papéis da ouvidoria é produzir os canais para essa interação, mas ela depende de como aparece e de como estão organizados esses grupos vulneráveis, como essas identidades políticas surgem e das agendas que constroem e como trazem essas agendas para os órgãos públicos em geral. No núcleo de infância e juventude existe toda uma ação vinculada ao projeto escola sem partido e a questão da educação no campo, da educação especial para pessoas com deficiência, durante a pandemia os dilemas do ensino remoto e as questões ligadas à segurança alimentar das crianças que ficaram sem a merenda escolar em um período que essas famílias foram muito prejudicadas economicamente. No núcleo de política criminal, há a questão da letalidade policial, as mortes cometidas por policiais, a violência policial, como a situação que foi levada ao STF, onde houve uma audiência pública importante, onde várias Defensorias, inclusive a do Paraná, e outras instituições apresentaram propostas sobre a temática. Já o núcleo de conflitos fundiários, durante a pandemia, conseguiu fazer o Tribunal de Justiça do Paraná editar um Decreto Judicial suspendendo as reintegrações de posse coletiva, seja pela própria aglomeração que a operação policial e o despejo gera, seja por todas as dificuldades em relação ao direito à moradia, ao reassentamento dessas famílias nesse período e a própria necessidade de ter minimamente uma casa para poder cumprir as medidas de isolamento, prevenção e diretrizes sanitárias próprias do período em que vivemos. Ademais, o núcleo de defesa dos direitos da mulher trabalhou na construção de uma portaria junto com o departamento penitenciário, para assegurar direitos às mulheres trans presas, que passam por uma situação de vulnerabilidade muito grande dentro do sistema e que muitas vezes não são reconhecidas como mulheres pelo sistema prisional. Esse núcleo trabalha também com as retificações de nome e gênero, com a implementação e monitoramento da Lei Maria da Penha, com os casos de violência doméstica e familiar, recentemente a Defensoria regulamentou o conceito de assistência qualificada às vítimas de violência doméstica e familiar da Lei Maria da Penha, para inserir inclusive a assistência de acusação, o que garante que em casos específicos para a proteção de grupos vulneráveis a defensoria possa fazer até a acusação, sem prejuízo de também realizar a defesa do acusado que é um direito constitucional, mas por outro defensor. Embora a Defensoria Pública legalmente seja um órgão previsto como essencial à função da justiça, como se tem consolidado nos últimos 10 anos, justamente uma das decorrências do investimento desigual nas diversas instituições do sistema de justiça faz com que hoje, esse órgão se encontre em uma situação estruturalmente mais precária e frágil se comparado ao Ministério Público e o judiciário por exemplo, isso significa que no nosso estado que tem cerca de 160 comarcas, a DP está só em 18, apesar de estar em todas as comarcas mais populosas, isso só cobre 57 dos 399 municípios de todo o Estado. O trabalho da Defensoria é muito importante para a efetivação de direitos de minorias, porque determinados grupos têm mais dificuldade de acessar a justiça e conseguir a efetivação de seus direitos humanos fundamentais, mas é necessário aumentar o número de defensorias e fazer o processo de interiorização das defensorias para atender a todos os grupos. Em geral, as defensorias estabelecem um teto de renda, seja individual ou familiar para o acesso a esse serviço, e uma das fases para o atendimento é uma triagem socioeconômica que é feita, onde é considerada uma série de fatores, no Paraná o corte geral é de 3 salários mínimos familiares, porque se supõe que uma família que apresenta renda superior a essa quantia teria condições de pagar um advogado particular e portanto não precisaria do serviço da Defensoria Pública, esse corte é uma forma de tentar racionalizar os recursos escassos, para tentar atender aos mais vulneráveis. Essa triagem socioeconômica só é feita nos casos do atendimento convencional individual; nas situações ligadas a vulnerabilidades específicas, como é o caso da violência contra a mulher, não é feita a triagem socioeconômica, qualquer mulher em situação de violência pode acessar a DP porque nesse caso existe outra lógica funcionando, a de que a vulnerabilidade não decorre da questão econômica, mas sim da situação particular de vulnerabilidade. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. DWORKIN, Ronald. Uma questão de princípio. Trad. Luís Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, 2005. MAIA, M. Cláudia, História do Direito no Brasil- os Direitos humanos fundamentais nas Constituições Brasileiras. Revista Juris FIB, v. III, ano III. SP. 2012. MARTINS, A. C. Moreira, MIZUTANI, Larissa.Direito das Minorias interpretado: o compromisso democrático do Direito Brasileiro. Revista Sequência, n. 63, p. 319- 352, dez. 2011.
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