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POR: LAÍS DANTAS 1. INTRODUÇÃO As alterações eritrocitárias podem ser identificadas por critérios através do arranjo, disposição, tamanho, cor, forma, inclusões e presença de parasitos. 2. ARRANJOS Normal Rouleaux Aglutinação Como é que uma hemácia interage com outra hemácia? Na microbiologia estudamos o termo arranjo para falar de bactérias, por exemplo, o Staphylococcus que é em forma de cacho de uva, Streptococcus, que tem o formato de cadeias, as paliçadas que é quando os bastonetes ficam um do lado do outro. Um arranjo nada mais é do que a forma que uma hemácia interage com outra hemácia. A) NORMAL O arranjo normal das hemácias é individualizado, elas são células individualizadas, isoladas, e isso acontece para várias espécies. No entanto, existe um segundo arranjo que acontece com as células chamado de Rouleaux, inclusive existe o termo ROULEAUX ERITROCITÁRIO OU ROULEAUX DE HEMÁCIAS . Em todos os setores, hemácias e eritrócitos são a mesma coisa, mas na patologia clínica, vemos que a hemácia é essa célula da imagem, é a célula anucleada do sangue. Quando essa célula tem núcleo, ela é chamada de eritrócito. O eritrócito existe no réptil, no peixe e no anfíbio, nas aves e nos mamíferos existe a hemácia. Para a patologia clínica, fazemos essa separação. No meio humano e nas diversas categorias, essa separação não existe muito bem definida, então conseguimos misturar as duas coisas. B) ROULEAUX O rouleaux é esse emaranhado mostrado na imagem abaixo. Essas hemácias estão formando verdadeiras pilhas, é como se tivesse colocado uma hemácia por cima da POR: LAÍS DANTAS outra formando uma torre e depois tivesse derrubado essa torre, formando essas pilhas, que é uma grande característica das hemácias. Por definição o rouleaux é UM ARRANJO OU UMA DISPOSIÇÃO EM PILHAS DAS HEMÁCIAS OU ERITRÓCITOS . Elas ocorrem em todos os animais, embora exista alguns animais em que o rouleaux acontece e isso é considerado um achado normal. O arranjo normal das hemácias é o ISOLADO. Excepcionalmente, em situações patológicas, o rouleaux acontece e tem um significado clínico. Existem apenas dois agrupamentos em que é normal ou não tem significado clínico. Este é o caso dos equídeos, eles possuem um rouleaux normal, o normal das hemácias deles é aparentar em forma de rouleaux. Se você pega uma gota de sangue de um equídeo e coloca para examinar, provavelmente estará nesta forma. Além dos equinos, nos ruminantes e nos felinos é possível identificar um discreto rouleaux, não é comum, mas é possível um discreto rouleaux. POR QUE O ROULEAUX ACONTECE? O rouleaux acontece por conta da viscosidade do sangue. O sangue é um tecido líquido, portanto, as hemácias estão passando uma sobre as outras. E o que acontece com essas hemácias se houver uma alteração no sangue e este se torne mais espesso, mais viscoso? A tendência é uma hemácia, ao tocar na outra, começar a ficar grudada nela ou ter dificuldade de se separar por conta dessa viscosidade do sangue. Imagine uma água cheia de açúcar, sua viscosidade muda e ela começa a ficar mais liguenta, portanto, as hemácias tendem a se pregar uma na outra. Assim, a formação do rouleaux acontece devido ao aumento da viscosidade do sangue. EM QUE SITUAÇÕES O SANGUE FICA COM A VISCOSIDADE AUMENTADA? Sempre que há um aumento de proteínas dentro da corrente sanguínea. O rouleaux não está relacionado ao aumento de carboidratos e lipídeos, mas ao aumento de proteínas. QUAL É O SIGNIFICADO CLÍNICO? É uma viscosidade no sangue desencadeada por um aumento de proteínas. Portanto, animais que tem leishmaniose, que tendem a ter hiperproteinemia, é possível encontrar o rouleaux. Babesias, erlichias, se houver uma resposta inflamatória, imunológica muito avançada, onde temos hiperproteinemia, pode-se ter rouleaux eritrocitário nessas situações. Resumindo: Rouleaux é a disposição das hemácias em pilhas; Acontece em todos os animais domésticos, sendo que em alguns é considerado normal e em outros possui significado clínico; O significado clínico do rouleaux é o aumento da viscosidade do sangue por conta do aumento da quantidade de proteínas. POR: LAÍS DANTAS Qualquer proteína inflamatória pode desencadear rouleaux. Inclusive, das três proteínas que temos compondo os grupamentos, temos: Albuminas Fibrinogênios Globulinas Esses são os três grupamentos maiores de proteína da corrente sanguínea. Se tiver aumento das globulinas, é possível ter rouleaux, mas se houver aumento de fibrinogênio, o rouleaux acontece mais evidentemente ainda. Por isso o cavalo possui uma certa quantidade de fibrinogênio e o rouleaux é normal, não que ele esteja doente, mas como ele naturalmente tem mais fibrinogênio, vemos esse rouleaux com mais frequência e por isso não possui significado clínico. Apesar disso, quando observamos aumento de fibrinogênio e aumento de globulinas, vai haver um aumento de rouleaux, só que não saberemos diferenciar se é patológico ou fisiológico. Então, para essa espécie, o rouleaux é desconsiderado, mas para cão e gato, como eles não tem rouleaux e podem apresentar por aumento de fibrinogênio ou globulina. Poderia ter aumento de albumina, mas não é comum, como vamos ver na bioquímica, dificilmente conseguimos aumentar a albumina, exceto se houver alteração de dieta. O aumento de albumina normalmente está associado a uma diminuição de líquido, nos casos de desidratação podemos ter aumento de albumina, mas é um aumento mentiroso, na verdade não aumentou a albumina, tirou a água. OBSERVAÇÃO: ARTEFATOS Hemo: policitemia/desidratação Esfregaços espessos e com bordas Se fizer um esfregaço e observar um rouleaux, devemos descrever este achado, mas temos que ter cuidado porque podemos estar descrevendo um achado falso, existe o rouleaux, mas ele é falso. Em que situações? Vimos que o rouleaux está relacionado ao aumento da viscosidade do sangue, e o aumento patológico se dá por aumento das proteínas, mas podemos ter uma situação fisiológica chamada de policitemia, que ocorre quando entramos em altitudes com baixo oxigênio e induzimos o organismo a produzir mais hemácias. Como o sangue continua com o mesmo líquido, mas aumenta a quantidade de hemácias, é possível que se observe o rouleaux. Então as policitemias ou hemoconcentrações de hemácias ou por redução de líquido pode dar falsos rouleaux, então temos que ter muito cuidado na descrição do rouleaux nos casos de policitemia. Outro cuidado que devemos ter é quando estamos com animal desidratado, pois quando o animal tá desidratado, o sangue perde POR: LAÍS DANTAS muita água, ficando concentrado em proteínas, e isso o torna mais viscoso, facilitando a ocorrência do rouleaux, mas isso não é patológico no sentido do aumento da concentração de proteínas, e sim um aumento na perda da água. A segunda forma de criar este artefato é durante a realização do esfregaço sanguíneo, pois alguns ficam muito espessos e de bordas muito concentradas, e aí neste caso ocorre o rouleaux, mas é um falso- rouleaux, se pegar uma gotinha do sangue e realizar a técnica adequada do esfregaço, você vai observar que esse rouleaux não existia. O patologista deve ter cuidado com os artefatos que levam a liberação de um falso rouleaux. C) AGLUTINAÇÃO A aglutinação é diferente do rouleaux porque, enquanto o rouleaux é bidimensional, o arranjo é tridimensional. Imagine um Streptococcus, que é um colar de pérolas, ele é um rouleaux, e o Staphylococcus, que é o cacho de uva, é como se fosse a aglutinação. A aglutinação é quando as hemácias formam verdadeirosgrumos, e aquilo não é fibrina, existe um fator que leva a formação deles. Geralmente essas hemácias se tornam fragilizadas e tendem a se romper, e esse rompimento é chamado de hemólise. QUANDO OCORRE A AGLUTINAÇÃO? Sempre que houver um aumento de anticorpos específicos. Quando temos uma reação de incompatibilidade sanguínea, ou seja, o organismo produzindo anticorpos específicos contra uma hemácia do doador, temos a aglutinação. ROULEAUX OU AGLUTINAÇÃO? Às vezes podemos confundir o rouleaux com a aglutinação, e isso é super normal. O que sugerimos quanto patologista? Fazer um teste rápido de laboratório. Teste rápido de laboratório: 1 gt sangue + 2 gt salina. Coloca 1 gota de sangue na lâmina e 2 gotas de salina, coloca uma lamínula em cima e olha no microscópio. Quando é que o rouleaux se forma? Quando temos um aumento na concentração de proteínas levando a um aumento na viscosidade do sangue. Se eu coloco duas gotas de salina na gota de sangue, estou diminuindo a viscosidade, e neste momento, as hemácias assumem seu formato isolado. No entanto, quando temos aglutinação, esta é mediada por anticorpos, essa ligação anticorpo- antígeno é mais duradoura e não se dissolve na água, então mesmo colocando as gotas de salina, os grumos permanecem, e por isso, conseguimos POR: LAÍS DANTAS distinguir se aquilo era rouleaux ou aglutinação. A aglutinação também leva a uma modificação do formato da célula, como veremos mais na frente. 3. TAMANHO A) NORMOCITOSE Nessas três imagens acima temos hemácias com o mesmo aumento, que é o aumento de 40x, onde percebemos que o tamanho delas é bem diferente, uma é pequena, outra ovalada e a outra arredondada. Não é preciso decorar o tamanho das hemácias de cada uma das espécies, mas algumas informações podem ser dadas, por exemplo, o tamanho da hemácia do canino é o mesmo da hemácia humana, por isso que às vezes utilizam os aparelhos hematológicos de humanos e usam para cachorros. Tratando-se de hemácias, vai dar tudo tranquilo, porque a máquina está calibrada para um tamanho de célula humana que é o mesmo de célula canina, mas se você perceber, quando coloca o felino, a hemácia é um pouco menor, sendo do tamanho do equino. A do bovino pode ter uma anisocitose muito maior, porque vai de 4 a 8, e a do caprino é 3x menor que a do canino. Com isso, você pode entender que a máquina humana pode se confundir, quando você pensa que ela está contando plaqueta, na verdade ela está contando hemácia, devido ao tamanho pequeno delas. Falaremos um pouco mais de automação quando estivermos vendo impedância. Neste momento, o importante de memorizar é que cada espécie tem um padrão específico de tamanho normal de hemácias, chamada de normocitose. Abaixo você pode ver a normocitose para cada espécie: A normocitose do canino é de 6 a 7 micrômetros, já a do caprino de 2 a 3 micrômetros, por conta disso, temos forte impediente de não usar o aparelho que não seja veterinário, porque temos Canino – 6-7 μm Felino – 5-6 μm Equino – 5-6 μm Bovino – 4-8 μm Ovino – 3-6 μm Caprino – 2-3 μm POR: LAÍS DANTAS que calibrar o aparelho para cada espécie que estivermos envolvidos. Com relação ao tamanho, a normocitose é quando tudo está dentro do normal, mas podemos ter várias anormalidades, como veremos adiante. B) ANISOCITOSE A anisocitose consiste na variação de tamanho ou tamanho diferenciado. Isocitose seria se todas as hemácias estivessem do mesmo tamanho, quando dizemos anisocitose elas já não estão mais do mesmo tamanho. Na imagem do tópico de normocitose, podemos ver que existe uma uniformidade no tamanho das hemácias, onde o que chamamos de anisocitose é discreta. Para um olhar despercebido, as hemácias estão praticamente todas do mesmo tamanho. Enquanto na imagem acima podemos observar que as hemácias não estão com um tamanho tão uniforme, assim como as suas cores estão diferenciadas, umas mais intensas, azuladas e outras não, nela temos a anisocitose, ou seja, hemácias com diferentes tamanhos. Esses diferentes tamanhos podem ser para mais ou para menos. Se todas as hemácias ficarem grande, não dizemos anisocitose, mas MACROCITOSE, porque o termo já induz que a anisocitose é para o aumento das hemácias e isso acontece com todas. Quando a variação de tamanho é uniforme em todas as hemácias, chamamos de MICROCITOSE . Se um canino que era pra ter de 6 a 7 micrômetros apresenta quase todas as hemácias com 7 a 8, chamamos de macrocitose, pois quase todas estão em tamanhos irregulares. Se elas saem de 6 a 7 para 5 a 6, então as hemácias estão todas microcíticas. Na imagem anterior, temos macrocitose, microcitose e normocitose. Neste caso, temos anisocitose. Por fim, temos os ESFERÓCITOS. Vimos que a célula é biconcava, a hemácia é bicôncava, achatadinha, mas por conta dos anticorpos que falamos da aglutinação, ela perde seu formato bicôncavo e assume o formato esférico, ficando bem redonda como todas as células. Com isso, ela deixa de ser uma hemácia plana e passa a ser uma esfera, sendo chamada de esferócito. Resumindo: Macrócitos: predominância de hemácias grandes. Micrócitos: diminuição das hemácias. Esferócitos: hemácias que perderam seu formato bicôncavo, assumindo o esférico. POR: LAÍS DANTAS MACRÓCITOS A macrocitose é o eritrócito ou a hemácia grande para acima dos valores normais e em predominância, praticamente todas as hemácias daquele animal estavam de tamanho aumentado. QUAL É O SIGNIFICADO CLÍNICO DA MACROCITOSE? Em casos de macrocitose, você deve pensar duas possibilidades específicas: 1) Intensa eritropoiese: a medula deste animal está produzindo hemácias e está liberando-as para a corrente sanguínea ainda imaturas; 2) Distúrbios megaloblásticos: são distúrbios medulares que levam a produção e liberação de hemácias grandes. Na imagem acima temos a visualização de um hemograma de um poodle. O QUE ESTÁ ACONTECENDO? Geneticamente, o poodle verdadeiro sofreu uma modificação comparado com outras raças caninas, e por isso esse animal tem uma tendência de ter hemácias do tamanho acima do normal para cachorros, ou seja, o poodle tem MACROCITOSE FISIOLÓGICA , ela não está relacionada a intensa eritropoiese ou a distúrbios megaloblásticos, é apenas uma condição específica do poodle de ter hemácias acima do tamanho. Isso não se aplica a todos os poodles, não se aplica a qualquer cachorro branquinho bonitinho, mas ao poodle de raça mesmo. Apesar de o poodle ter tendência a macrocitose fisiológica, ele também pode ter macrocitose patológica, mas a macrocitose dele é bem maior do que a normal para qualquer outro cachorro. MICRÓCITOS A microcitose por definição consiste em células pequenas com uma palidez central. Sabemos que a hemácia é bicôncava e possui uma palidez central, porém quando ela fica pequena, ela mantém essa palidez central, e nesse caso ela se torna uma pequena célula. QUAL É O SIGNIFICADO CLÍNICO DA MICROCITOSE? 1) Distúrbios anêmicos com má síntese de hemoglobina. O significado clínico da microcitose representa distúrbios anêmicos. Nos diferentes distúrbios anêmicos, podemos ter a microcitose. Todo animal com anemia tende a ter microcitose, assim como anisocitose, ou seja, vamos ver hemácias normais e hemácias pequenas, e aí já temos a diferença de tamanho, assim como podemos ter numa severa anemia todas as hemácias pequenas, mas aí já não falamos de anisocitose com presença de micrócitos, e sim microcitose. Temos que ter cuidado com esses trocadilhos que começam a surgir: anisocitose, macrocitose e microcitose. Ainda podemos ter variantes, anisocitosecom presença de macrócitos POR: LAÍS DANTAS e micrócitos; anisocitose com presença de macrócitos e anisocitose com presença de micrócitos. A partir disso começamos a ter variações dos achados, e cada um desses achados tem um significado clínico, e aí vamos juntando para a condução diagnóstica deles, e lá na frente juntamos para chegar a uma conclusão do diagnóstico do animal. Dúvida: “Vimos que a microcitose é comum de acontecer em distúrbios anêmicos, porém os distúrbios anêmicos não tem a ver com medula responsiva, onde há uma grande e rápida liberação de hemácias, de forma que o certo seria haver uma macrocitose?” Resposta: A anemia é a enfermidade, é o que está acontecendo com o animal, ele está perdendo sangue por um momento, A RESPOSTA À ANEMIA É QUE É MEDULAR , então quando temos um distúrbio anêmico temos uma tendência a problemas na hemácia e elas tendem a ficar pequenas. Por exemplo, quando temos deficiência de vitamina B, vamos produzir hemácias pequenas, e aí elas tendem a ficar microcíticas, mas quando temos anemia por destruição de hemácias, como numa babesia, o que acontece nesse caso é que as hemácias não estarão pequenas, elas até podem ficar um pouco pequenas, mas a maioria vai ser grande porque a medula entrou em ação e liberou hemácias maiores para a corrente sanguínea, por isso que cada situação vai ter uma repercussão clínica posterior, por isso temos que acompanhar a condução de tudo. Por hora, pode parecer confuso, mas vai se clareando quando juntar os achados. Então, em situações de anemia, a tendência é a hemácia ficar menor, porque geralmente as anemias são por deficiência, como de ferro, nutritiva ou de vitaminas. No entanto, podemos ter um outro tipo de anemia que é por destruição de hemácias, e aí nesse caso essa destruição vai gerar uma reposição imediata, ou até mesmo uma hemorragia, que é o caso de perda de hemácia, não está destruindo hemácias nem tendo problemas na sua síntese, mas a perda, e nesse caso, a medula responde por macrocitose. A medula sempre responde. Por exemplo, uma das anemias mais comuns é a anemia ferropriva, quando o animal não se alimenta com alimentos rico em ferro, e por isso a medula responde produzindo hemácias, mas essas hemácias vão ser produzidas com deficiência de ferro, já que ela não tem o ferro para produzir, então a medula produz hemácias menores, ela não consegue produzir hemácias robustas devido a deficiência. POR: LAÍS DANTAS Na imagem abaixo podemos ver um exame de um akita, que tem tendência a microcitose, e isso não representa enfermidade nem deficiência para este animal. Normalmente akita tem microcitose, e liberamos no hemograma como ''hemácias morfologicamente normais''. O akita tem microcitose? Tem! Mas é bem diferente, assim como a macrocitose do poodle. COMO DIFERENCIAMOS O MICRÓCITO DO ESFERÓCITO? A hemácia por si só é uma célula redonda e no meio ela é achatada, como se alguém tivesse pego um balão e pressionado com um dedo de um lado e de outro até se encontrarem, o que acontece é que nesse meio a tendência é de haver uma palidez central. A hemácia pequena com palidez central é um micrócito. Se tirar os dois dedos para acabar com a palidez central, acabando com seu formato bicôncavo, o balão volta a ser esférico, passando a se chamar de esferócito, outra célula pequena. O micrócito tem palidez central, o esferócito não tem. ESFERÓCITOS O esferócito é uma célula esférica, e sem palidez central, como mostrado na seta mais abaixo. Observe que na hemácia do lado inferior esquerdo possui uma palidez central, mas as duas apontadas na seta não possuem. Hemácia pequena, sem palidez central, NÃO É MICRÓCITO , chamamos de esferócito. QUAL É O SIGNIFICADO CLÍNICO DO ESFERÓCITO? O esferócito por definição é uma hemácia esférica que acontece toda vez que tem deficiência de uma proteína chamada de espectrina que gera o formato arredondado na hemácia. Logo, a espectrina é a proteína responsável por dar o formato bicôncavo da hemácia, então quando alteramos fisiologicamente a espectrina, alteramos o formato da hemácia. EM QUE SITUAÇÕES PODEMOS INTERFERIR NESSA ESPECTRINA? Em casos de esferócitos, você deve pensar em três possibilidades: 1) Deposição de Ig; 2) Septicemia Clostridial; 3) Peçonha ofídica. POR: LAÍS DANTAS Quando temos uma deposição de imunoglobulina, ou seja, alguns anticorpos específicos se ligam com as espectrinas, fazendo com que ela perca sua função ou fique com uma biodisponibilidade menor, comprometendo o formato da hemácia. Por issoquando temos problemas com anticorpos temos uma tendência a ter aglutinação, e nos casos de aglutinação, podemos encontrar esferócitos. Quando temos aglutinação, uma segunda forma de identificar se é aglutinação ou rouleaux é pesquisar a presença de esferócitos. Achando hemácias em grumos com esferócitos, tem 99% de chance de ser aglutinação. Outra situação é na septicemia por Clostridium, que pode gerar um problema de aumento de anticorpos porque o Clostridium libera uma toxina que tem o mesmo papel de se ligar na espectrina, e aí ela simula uma espécie de anticorpo. A peçonha ofídica também se liga à espectrina as vezes, levando a formação dos esferócitos. Essas são as três situações que levam à formação de esferócitos, todas elas ocasionadas por situações que implicam deficiência de espectrina, que ocorre sempre que há deposição de imunocomplexos, como em anemias imunomediadas que levam a formação de esferócitos, mas também podemos ter problemas de septicemia por Clostridium e por acidentes ofídicos. A maioria das moléculas de proteínas associadas à membrana das hemácias são proteínas periféricas ligadas ao lado citoplasmático da membrana. As proteínas que formam essas ligas na imagem acima são as espectrinas. Quando um anticorpo se liga a elas, essas ligas não conseguem mais ser formadas e a hemácia perde o seu arranjo bicôncavo. 4. COR Normalmente a hemácia não tem cor, mas ela tende a ficar um pouco avermelhada por conta da concentração de hemoglobina. COMO FAZEMOS ISSO? Utilizando um corante especial que realça a visibilidade da hemácia, porque a hemácia in vivo não é tão visível assim. A hemácia como unidade celular não é tão visível, o sangue é. Uma outra coisa que podemos ver é que às vezes a hemácia pode não estar com essa cor bonitinha, ela pode estar pálida. Se todas as hemácias estiverem pálidas, chamamos isso de coloração abaixo do normal, ou seja, HIPOCROMIA. Se as hemácias estiverem com colorações irregulares, ou seja, não tem isocromia, dizemos que elas possuem ANISOCROMIA, ou seja, hemácias com diferentes cores, várias cores, daí o nome POLICROMASIA . Às vezes no meio POR: LAÍS DANTAS dessas mudanças de cores, temos as famosas HEMÁCIAS EM ALVO. Portanto, de alterações de cor temos: Normocromia; Hipocromia; Policromasia/anisocromia; Hemácias em alvo. HIPOCROMIA A hipocromia também é chamada de hemácia fantasma, pois ela tem uma DEFICIÊNCIA DE HEMOGLOBINA. Por causa dessa deficiência ela perde a sua cor específica e aumenta a sua palidez central. Ela aumenta tanto a palidez central que fica só com a membrana, e por isso pensamos que é só o ''fantasma da hemácia''. Uma hemácia com essa magnitude tende a se romper muito, portanto, em casos de hipocromia temos lise ou hemólise intravascular. Devemos ter muito cuidado na coloração, pois podemos errar os corantes e gerar uma hipocromia falsa, gerando artefatos. O QUE PODE CAUSAR HIPOCROMIA? Deficiência de hemoglobina que desencadeia uma lise intravascular; Artefato de preparação.POLICROMASIA/ANISOCROMIA (TOROCITO) A policromasia corre quando há a presença de hemácias de variadas cores. Policromatófilo: é uma hemácia jovem. Em 1-2% dos animais é um achado normal, mas em equinos e bovinos se encontra muito raramente, visto que depois da medula ele vai para o baço para ser armazenado, e após a contração esplênica que ele vai pra circulação. Em roedores ao nascimento 99% é policromatófilo. POR: LAÍS DANTAS A policromasia ou anisocromia tem um termo especifico que a gente vai conhecer lá na frente que é o torócito. Primeiramente, vamos saber o que é o policromatófilo. Policromatófilo é a hemácia mais jovem que apresenta diferentes concentrações de hemoglobina, já que ela não está madura, e, portanto, ela reage a coloração de modo muito diferente da hemácia madura. Um a dois por cento dos animais tem policromatófilo, então o fato de você ver um policromatófilo não é o fim do mundo, significa que é normal. Em equinos, a gente nunca ve policromatófilo, porque a maturação da hemácia dele quando sai da medula, ela vai para o baço, de modo que lá ela termina de maturar. No bovino é raro. ENTÃO, SIGNIFICA DIZER QUE EU POSSO VER MODERADA POLICROMATOFILIA EM CACHORRO E DIZER QUE ISSO TEM UM SIGNIFICADO CLÍNICO? Sim. Eu posso ver uma policromatofilia em equinos? Só se ele tiver sem o baço, porque se ele tiver com o baço, dificilmente você vai ver. É melhor você olhar se você corou essa hemácia direito e fazer outro esfregaço. Alguns roedores têm quase 100% de policromatofilia, que são os filhotes ao nascimento (essas são as variantes que a gente tem que levar em consideração). O policromatófilo, pelo o próprio nome, é uma célula de diferentes colorações, porque, dentro dela, existem diferentes concentrações dos seus elementos. Geralmente existe isso nas células jovens, que ainda estão se organizando. Quando eu coro o policromatófilo com um corante especial, que é o azul de cresil brilhante, eu consigo ver exatamente essas estruturas filamentosas, proteicas que estão dentro das células, originando essa policromatofilia. Muitas vezes vemos ela na forma agregada, as vezes na forma de pequenos pontos (vários pontinhos), e aí a gente tem o policromatófilo corado que é chamado de reticulócito. Obs: A hemácia não tem cor. Ela é vermelha por conta da hemoglobina, assim, quando eu olho o sangue a fresco no microscópio, eu tenho dificuldade de ver a cor dela. Porém, quando eu uso um corante específico, eu consigo realçar essa cor, baseado na concentração de hemoglobina dela e classifica-la como hipocromica, isocrômica e assim vai. Quando eu uso uma coloração a mais do que a coloração padrão, ou seja, um contra corante, que é o azul de cresil, eu consigo corar inclusive as estruturas que estão dentro da hemácia e que levam a esse policromatófilo (são geralmente estruturas proteicas, como é o caso da hemoglobina). E aí, eu consigo ver a disposição dessas estruturas. Quando ela é pequenos pontinhos, chamamos de forma pontilhada; quando ela forma redes, chamamos de forma agregada. Essa célula policromatofílica, corada com azul de cresil, recebe um nome específico que é reticulócito, porque é a célula onde conseguimos POR: LAÍS DANTAS verificar essa rede pigmentada, que são os retículos. Então, quando eu quero saber se o animal está tendo regeneração, eu peço a contagem de reticulócitos. Então existe toda uma técnica para você fazer isso. O gato, especificamente, para piorar a vida da gente, tem dois tipos de reticulócitos: o agregado e o pontilhado. Quem não conhece, conta os agregados e diz que ele está se regenerando, mas não, ele não está se regenerando. Só vale para regeneração os reticulócitos agregativos. Isso é importante para o patologista, porque ele quem vai anotar as informações e vai liberar para o clinico. Então o que eu quero que vocês entendam é que a hemácia é liberada da medula, muitas vezes, de modo imaturo, e ela vai para a corrente sanguínea e fica lá por uns dias, até que ela se matura e vira uma célula normal. No caso do equino, ela não vai para a corrente sanguínea de modo circulante. Ela vai para a corrente sanguínea e se acumula no baço. Então ele passa a passar um tempinho no baço e ele termina a maturação dele no baço. Quando o animal faz a compressão esplênica, ou seja, ele libera as células que estão lá dentro para receber mais outras novas, ele já libera as células maduras. Por isso que, normalmente, a gente não ve policromatófilo em equinos, é difícil você ver, a não ser que ele tenha perdido o baço, mas esse é um achado que você não ver em equino, isso em condições normais. Reticulócitos Regeneração Coloração supravital HEMÁCIAS EM ALVO Uma última colocação é em relação a cor das hemácias. Quando a gente usa os corantes nomais, a gente consegue ver a hemácia bem coradinha. A célula a fresco é muito transparente, é uma cor de vermelho forçado, pois a gente tem dificuldade de ver a hemácia não corada. Quando a gente usa um corante, como o de Romanowsk, a visibilidade dela se torna melhor. Só que se uma hemácia está lá, vizinho dela tem outra hemácia e eu jogo um corante, em teoria, todas as hemácias ficam da mesma cor. Nessa situação, a gente chama de HEMÁCIAS NORMOCRÔMICAS ou ISOCROMIA, ou seja, as hemácias têm a mesma cor. Mas, as vezes, as hemácias ficam pálidas, ou seja, elas não conseguem absorver todo corante, de modo que a gente chama de hemácias HIPOCRÔMICAS, ou abaixo da coloração que elas deveriam ter. Assim como eu tenho a anisocrômica, que são as hemácias com diferentes tons de cores. A gente fala também como sinônimo de anisocromia a palavra policromasia, que são as várias cores que as hemácias vão ter. EXISTE HIPERCROMIA? Não! Infelizmente, a hipercromia não é um achado de significado clínico. Todas as vezes que você encontra hipercromia, você está POR: LAÍS DANTAS diante de um erro de coloração. As hemácias não produzem hemoglobina em quantidade suficiente para gerar uma hipercromia. Se no hemograma der hipercromia, ou foi erro de coloração, ou teve hemólise na hora da coleta e isso gerou uma falsa hipercromia. Por fim, tem essa famosa HEMÁCIA EM ALVO, que vocês já devem ter visto nos filmes, nos bares, nos pubs da vida, um círculo preto em volta de um círculo branco, um outro círculo preto e um outro círculo branco e as pessoas jogam dados dele. Aquilo é um alvo. Muitas vezes, a hemácia fica com uma área branca, uma área escura, uma área branca, uma área escura. Isso tem um significado clínico que a gente vai conhecer depois. 5. FORMA Agora vamos ver a classificação em relação a forma. Existe a forma crenada, falcizada, dacriocitos, acantócitos, poiquilocitos, esquisocitos, elipitocios, codócitos (ou células em alvo) e os esferócitos. Com o tempo, vocês vão memorizando isso, de modo bem fluido. Para cada um desses existem mais de um significado clínico, mas não vale a pena hoje está explicando de um por um para vocês. A leitura e a própria casuística vão ajudar depois. O que eu quero que vocês entendam é o achado, depois a gente vai para os significados clínicos, para as aplicações desses achados, e assim a gente vai evoluindo. Hoje, eu quero que vocês pelo menos se familiarizem com os nomes. Crenação – Quando eu tenho uma hemácia que murchou. Quando ela perde a água, ela fica como se fosse sugada, ela fica toda enrugada. Nesse caso, eu tenho a hemácia crenada. Quando ela perde água, alguma coisa aconteceu, daí a gente tem que se perguntar porque ela perdeu água, ou o que levou a esse animal apresentar essa crenação na hemácia, então existe um significadoclínico. Existe também um significado artefatual, que é quando vocês insistem em colher sangue e o frasco é de 5 ml e vocês colocam apenas 1 ml, significa que eu tenho um aumento de anticoagulante, comparado com o sangue que estava colocado. Eu tinha anticoagulante para 5 ml e você colocou pouca quantidade. Esse anticoagulante vai concentrar demais o meu solvente e vai fazer com que as hemácias percam água para buscar a isotonia, então eu tenho crenação, muitas vezes, quando eu tenho excesso de anticoagulante. Falcização – A falcização é uma alteração genética, que leva a modificação do formato da célula. Dacriocitose – A dacriocitose, “Dacro”, do grego significa lágrima, que é quando a hemácia fica com o formato de uma lágrima. Acantocitose – O acantócito é o oposto da crenação. Vocês já ouviram falar que a ameba possui pseudópodes, então ela estica o citoplasma dela. Quando a hemácia produz falsos pseudópodes, ela é uma hemácia que a gente chama de acantocita, ela tem essas projeções. A diferença da crenação para o acantócito é que a crenação é para dentro, ou seja, ela murcha e fica cheia de pontinhas. Já o acantócito, ele expande e fica cheio de pontinhas. Visualmente, ela difícil de POR: LAÍS DANTAS você disntiguir, mas clinicamente a gente consegue. Poiquilocitose – Poiquilocito e esquisocitos, o próprio nome já diz, formatos mais esquisitos possíveis. E aí a gente vai descobrir depois qual o significado disso. Esquisocitose Codocitose – O codócito é a hemácia em alvo. Esferocitose Eliptocitose – Célula com formato elíptico. Todos os camelideos têm como células normais os eliptócitos. Então o normal dos camelídeos, das lhamas é a hemácia elíptica. ACANTÓCITO Cél. Espora (projeções) Alto colesterol na membrana Cães: Hemangioma de baço; desvio porta sistêmico O acantócito é a célula com projeções. O significado dela é o aumento do colesterol das membranas celulares. E aí eu vou ter situações de animais com problema no baço, animal com problema porta-sistemico e a gente vai investigando cada um deles. EQUINÓCITO Asp. Crenado Uremia, queimad. AH Fisiol: bovino jovem Raro: cães Artefato: excesso de EDTA/ armaz. Antigo O equinocito, ou a crenação, é o aspecto crenado. Ele está relacionado ao aumento da ureia, no caso de animais que tem problema relacionado a rins; animais com queimaduras e, artefatualmente falando, o excesso de EDTA leva a formação de equinócito ou hemácia crenada. Ou então o excesso de armazenamento, ou seja, você colhe o sangue na sexta-feira e leva para fazer análise na segunda-feira. Nesse caso, o sangue está lá, mas as alterações degenerativas das células também vão estar. Então quando você armazena sangue por muito tempo e vai fazer análise, já está tudo com artefato e um dos artefatos de hemácia é a crenação. Então todas as alterações de forma têm um significado clinico, ou mais de um significado clinico e ele também tem um achado artefatual. ELIPTÓCITO Forma elíptica ou oval Cães: raro Felinos: hereditário Camelídeos: todos O eliptócito está na forma elíptica ou oval, em cães ele é raro, em felinos, se acontecer, é de modo hereditário e os camelídeos, todos eles têm hemácia com esse formato. EXENTRÓCITOS Eritr. Lesado (“mordido”) Retirada do C. Heinz AH por ag. Oxidante POR: LAÍS DANTAS O exentrócito é como se fosse uma hemácia mordida. Então você ver a hemácia e ver que está faltando um pedaço dela. Isso acontece quando a hemácia perde parte do citoplasma dela, ou parte da membrana. Uma das situações comuns é a formação do Corpúsculo de Henz. O Corpusculo de Henz é uma atuação por agente oxidante e essa atuação de agente oxidante pode ser causada por vários agentes. O mais comum em cachorro é o pessoal que dá para ele comer. Então quem faz arroz, feijão, macarrão e carne e coloca cebola e depois dá essa comida para o cachorro, ele se intoxica com a cebola e fica cheio de corpúsculo de Henz. Quando o corpúsculo de Henz é solto pela hemácia, a impressão que eu tenho é que perdeu um pedaço, fica mordida e aquela hemácia é chamada de excentrócito. CODÓCITOS OU CÉL. ALVO Hb mal distribuída Doenças colestáticas Doenças relacionadas ao colesterol e má distribuição de hemoglobina levam a formação do codócito, ou as células alvo. 6. INCLUSÕES Presença de núcleo Corpusculos de Howell-Jolly 7. PRESENÇA DE PARASITOS Hemoparasitos Temos ainda as inclusões e os parasitos. Como existem outras inclusões e outros parasitos nas outras células, a gente decidiu fazer uma aula só de parasitos e inclusões. Então, a gente vai ver isso posteriormente.
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