Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Otorrinolaringologia GDs – Ester Barbosa 7°P Patologias da laringe Introdução A laringe é a parte superior das vias aéreas inferiores, formada por uma estrutura musculoligamentar oca. É órgão que estabelece a conexão entre a parte inferior da faringe com a parte superior da traqueia. Tem uma estrutura valvular que permite a abertura e fechamento da via aérea inferior, além de ser responsável pela produção de som durante a fala. No adulto, a laringe atinge cerca de 5 cm no sexo masculino, sendo um pouco menor no sexo feminino. A laringe infantil tem sua anatomia diferenciada da laringe de um adulto. Ela fica mais alta no pescoço, com a cartilagem cricoide ao nível da quarta vértebra cervical, permitindo que a epiglote fique em contato com o palato. No momento da deglutição, a movimentação para cima e para frente permitem o fechamento do ádito da laringe e abertura do esôfago, conduzindo o alimento para o trato digestivo e impedindo sua entrada nas vias respiratórias inferiores. É formada por 3 cartilagens: Cricóidea Tireóidea Epiglote A cavidade laríngea é dividida anatomicamente em 3 partes: Região supraglótica: O vestíbulo é a câmara superior entre o ádito da laringe e as pregas vestibulares. A glote média é a parte média da cavidade, com formato delgado, localizada entre as pregas vestibulares e as pregas vocais. A cavidade infraglótica é a parte inferior, entre as pregas vocais e a abertura inferior da laringe. Disfonias organofuncionais ou lesões fonotraumáticas Conceitos Também chamadas de lesões inflamatórias benignas da laringe. Ocorrem principalmente quando a fonação ocorre de forma abusiva súbita ou contínua. A vibração das cordas vocais pode levar a um trauma tecidual, gerando um processo inflamatório que evolui com uma lesão, ou até mesmo perpetuando ou agravando uma lesão pré-existente. As lesões mais comuns são os nódulos, os pólipos vocais e o edema de Reinke. 2 Otorrinolaringologia GDs – Ester Barbosa 7°P Fatores de risco/associados Rinite alérgica Asma Tabagismo Refluxo laringofaríngeo Exposição ocupacional ao abuso vocal (professores, cantores, atendentes de telemarketing). Mulheres: mais comum os nódulos e edema de Reinke Homens: mais comum os pólipos Nódulos Introdução Pequenas lesões, caracterizadas por áreas de espessamento epitelial bilateral e simétricas, localizadas entre o terço anterior e médio das pregas vocais. Possui aparência esbranquiçada e opaca e movimentam-se durante a fonação. São inicialmente edematosos, sendo mais macios e flexíveis e, com o trauma contínuo, passa por um processo de hialinização e fibrose, tornando-se fibrótico e obtendo aspecto mais rígido e espesso. Além do fonotrauma, podem estar relacionados com anomalias anatômicas da laringe, doença do refluxo gastroesofágico, distúrbios hormonais e fatores psicoemocionais. Manifestações clínicas Pct sexo feminino com exposição ocupacional ao abuso vocal e que apresenta disfonia. Rouquidão, voz grave e soprosa com períodos de afonia. Exames complementares Diagnóstico pelo videolaringoscopia, que mostra os nódulos bilaterais entre os terços anterior e médio das pregas vocais. Tratamento Fonoterapia Se refratário: cirurgia para retirada dos nódulos Se os nódulos surgem na infância: adotar conduta expectante (geralmente regridem na adolescência). Pólipos Introdução São lesões benignas das pregas vocais, normalmente unilaterais, podendo ter acometimento bilateral. Ficam localizados no terço anterior da prega vocal, normalmente na margem livre, e podem ser sésseis ou pediculados, sendo móveis a fonação, mas assincrônicos à onda mucosa. Pode ser translúcido ou vermelho e de vários aspectos, sendo mais comum o tipo fibroso. Sua origem, além do fonotrauma, pode estar associada ao uso de anticoagulantes e antiagregantes plaquetários, intubação orotraqueal, tabagismo e refluxo laringofaríngeo. Manifestações clínicas Homem adulto com disfonia que surge após esforço vocal exagerado. Pólipos maiores podem ser obstrutivos e causar dispneia. Voz rouca, cansaço vocal, diplofonia. Exames complementares Diagnóstico pela videolaringoscopia. Há redução da amplitude da onda mucosa na região da lesão e movimentos vibratórios assimétricos. O fechamento glótico é incompleto, formando uma fenda anterior ou posterior à lesão. 3 Otorrinolaringologia GDs – Ester Barbosa 7°P Tratamento Pólipos pequenos ou contraindicação cirúrgica: fonoterapia. Pólipos maiores: tratamento cirúrgico. Edema de Reinke Introdução Edema difuso da prega vocal, ocorrido pelo acúmulo de fluido na mucosa, levando a alteração na borda livre e na face superior da prega vocal. Tem características bem variadas, podendo ser unilateral ou bilateral, simétrica ou assimétrica, geralmente séssil e móvel no momento da fonação. Se origina pela irritação crônica da laringe que alterando a permeabilidade de vasos capilares, fazendo com que o fluido tecidual fique aumentado dentro do espaço de Reinke e, consequentemente, as pregas vocais obtém um aspecto gelatinoso. Mais comum após os 45 anos, com pico aos 50. Está associado ao tabagismo crônico. Manifestações clínicas Queixa de disfonia crônica com voz masculinizada em mulheres pós-menopausa. Voz grave, áspera e soprosa. Exames complementares Diagnóstico pela videolaringoscopia. Observa-se o edema das pregas vocais, simétrico ou assimétrico. Sendo a lesão simétrica, o fechamento glótico é completo, porém é incompleto em lesões assimétricas. Observa-se também aumento da amplitude de movimentos fonatórios. Tratamento Cessar tabagismo Tratamento definitivo: cirurgia + fonoterapia para evitar recidivas Papiloma Introdução e conceitos É a neoplasia benigna mais frequente da laringe. É uma lesão tumoral, secundária à infecção pelo papilomavírus humano (HPV), principalmente dos subtipos 6 e 11. Geralmente adquirido por transmissão vertical. Tem característica exofítica e friável, que pode ser pediculada ou séssil. Acomete mais comumente a glote e a subglote, causando como principal sintoma a disfonia progressiva. Pode surgir em qualquer idade, mas acomete principalmente crianças entre 6 meses e 6 anos. Possui crescimento rápido e progressivo, costuma ser recidivante e tem potencial de malignização. Manifestações clínicas O paciente apresenta inicialmente com disfonia e fadiga que evolui cronicamente, com o crescimento da lesão, com uma dispneia insidiosa, que pode evoluir com obstrução da via aérea, gerando estridor e insuficiência respiratória. Exames complementares O diagnóstico é dado pela videolaringoscopia. No exame vemos: vegetações sesseis ou pediculadas, hemorrágicas e friáveis de cor entre rosa e branco- 4 Otorrinolaringologia GDs – Ester Barbosa 7°P acinzentado, podendo ser uma lesão única ou múltipla. Podem estar localizadas nas pregas vocais ou difusas na laringe. Obs.: No adulto, a lesão se assemelha a um carcinoma e, por ter maior potencial de malignização, principalmente em pacientes tabagistas, uma biópsia é necessária. Tratamento O tratamento é cirúrgico, com ressecção completa da lesão, que costuma ser realizado repetidas vezes, com o objetivo de manter a via aérea desobstruída e melhorar a qualidade da voz. Atualmente, existe as opções de realizar exérese das lesões por via videolaringoscópica com laser de CO2 ou com microdebridador. Laringites agudas Introdução Ocorrem como evolução de uma IVAS, causando inflamação da mucosa das pregas vocais e aumento da produção de muco. Os pacientes que evoluem com infecção laríngea costumam apresentar rouquidão, odinofagia e tosse. A laringite aguda é a principal causa de disfoniana população geral e sua etiologia é predominantemente viral, principalmente pelos agentes rinovírus, adenovírus e picomavírus. A doença costuma ser autolimitada, com melhora da disfonia em até 7 dias. Crupe ou Laringotraqueobronquite Introdução É a causa mais comum de obstrução das vias aéreas em crianças, ocorrendo principalmente entre 6 meses e 6 anos, com pico de incidência aos 18 meses de idade, sendo raro em adultos, pois a epiglote e a glote formam um ângulo mais agudo na criança, favorecendo a ocorrência mais acelerada de uma obstrução. A principal etiologia é viral e os principais agentes são os vírus parainfluenza (tipos 1, 2 e 3), influenza A e B, adenovirus e vírus respiratório sincicial (VRS). Manifestações clínicas Se inicia com um quadro de IVAS, classicamente descrito por rinorreia, tosse leve, faringite e febre baixa que duram cerca de 1 a 3 dias e evoluem com sinais de obstrução das vias aéreas inferiores. Surgem então rouquidão, tosse ladrante, estridor inspiratório, elevação da temperatura da febre, taquipneia e uso de musculatura acessória. Os sintomas costumam ser piores a noite e duram de 3 a 7 dias. São causados por edema subglótico e traqueal, levando à obstrução laríngea na via aérea já estreitada da criança. Exames complementares Diagnóstico é clínico e não requer exames complementares! A radiografia de pescoço com raios horizontais pode apresentar estreitamento subglótico (sinal da ponta de lápis ou torre de igreja), porém apresenta pouco valor diagnóstico, pois também pode ser encontrado em pacientes saudáveis. Esse exame só deve ser solicitado para investigar outras causas de obstrução, como corpo estranho. Tratamento Corticosteroides: dexametasona oral ou parenteral em dose única de 0,15mg/Kg em casos de crupe leve, podendo ser de até 0,6mg/Kg em crupe grave. 5 Otorrinolaringologia GDs – Ester Barbosa 7°P Budesonida: Em casos leves ou moderados, o budesonide inalatório na dose de 2mg pode substituir a dexametasona. Nebulização com adrenalina: Em casos moderados e graves, 0,5ml/kg. Obs.: Caso haja risco de obstrução total iminente das vias aéreas, a intubação oratraqueal está indicada com cânula de diâmetro interno 0,5mm menor do que a diâmetro calculado para a idade. Supraglotite ou epiglotite Introdução Infecção grave da laringe que leva a obstrução da via aérea e possui alta letalidade. É causada, principalmente pele H. influenzae tipo b. Acometia principalmente crianças entre 2 e 6 anos e atualmente, após imunização, atinge mais adolescentes e adultos, sendo mais frequente nos períodos de inverno e primavera. Além do Haemophilus influenza tipo b (Hib), outros agentes são: Streptococcus dos grupos A, B, C, Streptococcus pneumoniae e Klebsiella pneumoniae. Manifestações clínicas Edema e eritema que evoluem, levando a uma obstrução rápida da via aérea superior, sendo portanto, uma emergência clínica. Criança previamente saudável que apresenta de forma repentina uma queixa de disfagia e febre alta. Evolui em poucas horas com toxemia, salivação abundante, estridor e disfunção respiratória progressiva, levando a hipoxemia. O paciente prefere a posição sentada em hiperextensão cervical e protusão do mento, na tentativa de manter a via aérea permeável. Exames complementares Assim como na crupe, a radiografia de pescoço com raios horizontais pode apresentar estreitamento subglótico, porém este sinal nem sempre está presente. Complementar com RX de tórax. Só devem ser realizadas as radiografias após estabelecimento de via aérea segura e pérvia! Coleta de hemocultura e cultura da superfície glótica para orientar e adaptar o tratamento antibiótico. Tratamento IOT imediatamente! Após isso, iniciar precocemente o uso de ATB, pois reduz o edema na epiglotes em 12 a 72h. Pacientes não imunizados para Hib: Tratamento intravenoso com cefalosporinas de segunda ou terceira geração, como cefuroxime 150mg/kg/dia por 10 dias ou ceftriaxone 100mg/kg/dia por 10 dias. Após melhora dos sintomas, pode-se utilizar manutenção do esquema antibiótico por via oral ou intramuscular. Em pacientes não imunizados ou com imunização incompleta menores de 4 anos: Profilaxia de contatos domiciliares com rifampicina. Obs.: Os contatos escolares devem receber profilaxia se o paciente for menor de 2 anos não imunizado ou com imunização incompleta.
Compartilhar