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Júlia Figueirêdo – HM VI BASES DA CIRURGIA GERAL I: ABORDAGEM AMBULATORIAL DE LESÕES DERMATOLÓGICAS COMUNS NO ADULTO: LESÕES NA EPIDERME OU DERME: QUERATOSE SEBORREICA: A queratose seborreica (“verruga senil”) é uma condição dermatológica benigna muito comum entre adultos, com frequência proporcional ao aumento da idade. As lesões podem ser únicas ou múltiplas, afetando todo o corpo, exceto mucosas, palma das mãos e sola dos pés. Observa-se, no entanto, maior acometimento em áreas expostas ao sol (face, pescoço e tronco). Ainda que não totalmente esclarecida, acredita-se que a etiologia do quadro esteja associada a mutações em genes reguladores do crescimento celular, principalmente de fibroblastos. Isso é fundamentado por meio de análises histológicas que revelam proliferação de células basais com áreas queratinizadas “incrustradas”. Clinicamente, esse tipo de lesão cursa com pápulas verrucosas hiperpigmentadas, com aparência cerosa e aderida. Dada sua coloração variável, pode ser confundida com lesões neoplásicas. Conjunto de lesões por queratose seborreica O tratamento é direcionado às manifestações sintomáticas ou que impliquem em dano estético relevante. As principais técnicas usadas são crioterapia, remoção por raspagem ou dermoabrasão. A crioterapia não é recomendada para indivíduos de pele muito pigmentada, pois pode levar à hipopigmentação após o procedimento. DERMATOFIBROMA: Os dermatofibromas (ou histiocitomas fibrosos benignos) são lesões nodulares mais comuns em mulheres, afetando principalmente os membros inferiores. A principal hipótese para o surgimento de tais lesões é uma reação inflamatória apôs traumas diversos do cotidiano, levando a uma expansão clonal desenfreada. Esses histiocitomas normalmente são isolados, com aparência de máculas hiperpigmentadas ou pápulas estreitas. A maioria dos casos é assintomática, mas alguns pacientes podem referir prurido ou dor local. Aparência típica de um dermatofibroma Durante a avaliação clínica desses achados, nota-se presença do sinal de Fitzpatrick, definido pela formação de uma ondulação central ao aplicar pressão lateral (pinçar) a lesão. Júlia Figueirêdo – HM VI Dermatofibroma com sinal de Fitzpatrick positivo A remoção cirúrgica não é recomendada (exceto na presença de sintomas), pois a cicatriz formada pode ser mais aparente do que a lesão inicial. Pode haver regressão parcial ou total de forma espontânea. ACROCÓRDONS: Os acrocórdons, ou pólipos fibroepiteliais, são lesões dermatológicas bastante comuns, aumentando ainda mais sua prevalência com o avançar da idade. Seu aparecimento se dá principalmente em dobras de pele e regiões que sofrem muito atrito, como o pescoço, axila e a virilha. Quando presentes em grande quantidade podem estar associadas com hiperlipidemia, resistência à insulina ou hipertensão. As lesões têm formato de pequenas pápulas pedunculares, com a mesma coloração da pele. Três pólipos fibroepiteliais, evidenciando a localização próxima a áreas de fricção A tendência é de que sejam assintomáticas, mas podem sofrer irritações pelo contato com roupas e acessórios, ou trombose focal, levando ao surgimento de dor. Quando necessária, a remoção pode ser feita por excisão, raspagem ou crioterapia. LIPOMA: Os lipomas são tumores benignos comuns que se proliferam sob o tecido subcutâneo em áreas como o pescoço, tronco, ombros e extremidade, podendo ser isolados ou múltiplos. Ainda que possam surgir em qualquer faixa etária, há maior prevalência dentre adultos com > 50 anos. A conformação da lesão conta com um adipócito maduro envolto por uma cápsula fibrosa, sendo rara a evolução para malignidade. Fatores genéticos podem estar associados com o aparecimento dos lipomas, porém sabe-se também que há relação destes com obesidade e diabetes. Ao exame, os lipomas são macios, com textura macia e móveis à palpação. O crescimento costuma ser lento. Lipoma em região nucal A enucleação por incisão e a excisão cirúrgica são as principais formas de tratamento para o quadro. Júlia Figueirêdo – HM VI CISTOS EPIDERMOIDES: Os cistos epidermoides, também chamados de cistos sebáceos, representam a forma mais usual de cistos cutâneos, presentes principalmente na cabeça e na porção superior do tronco. Essas formações podem ser isoladas ou múltiplas, e surgem mais frequentemente em homens, desde a juventude até a meia-idade. Seu desenvolvimento se inicia na porção infundibular de folículos pilosos, normalmente após traumas locais. Assim, os cistos são preenchidos por resíduos de queratina, e cobertos por epitélio estratificado, com uma camada granular. A coloração dos cistos epidermoides costuma seguir o tom da pele ou ter fundo amarelado. São firmes e móveis, com um ponto central. Quando ocorre ruptura capsular, podem se tornar inflamados, sendo a secreção fétida um achado comum. Cisto epidermoides não inflamado, com destaque para o ponto central, mais escuro A excisão cirúrgica, quando desejada pelo paciente, deve ser feita de forma a remover toda a parede do cisto, prevenindo o ressurgimento da lesão. Se houver inflamação local, o tratamento se inicia com drenagem e antibioticoterapia, com nova avaliação após 2 meses. NEUROFIBROMA: Os neurofibromas são tumores benignos de origem neuromesenquimal que podem surgir em qualquer faixa etária, principalmente de forma isolada. Quando presentes em abundância, sugerem diagnóstico de neurofibromatose tipo 1, desordem caracterizada por mutações na neurofibromina, que modula o crescimento celular. Ao exame, os neurofibromas costumam se apresentar como pápulas ou nódulos rosados ou no próprio tom da pele, sendo macios e compressíveis. Pode haver sinal de Tinel positivo, no qual a percussão da lesão causa formigamento sob a região inervada pelo segmento afetado. Exemplo de lesão nodular neurofibromatosa A excisão representa o tratamento de escolha para aquelas tumorações que sejam sintomáticas ou causem incômodo estético. Ressonâncias magnéticas podem ser usadas como forma de monitorar e detectar precocemente sinais de evolução maligna em tumorações plexiforme (maior extensão). XANTELASMA PALPEBRAL: Júlia Figueirêdo – HM VI São lesões ricas em colesterol achadas com frequência em adultos com mais de 50 anos, sugerindo a presença de hiperlipidemia. Representam um fator de risco independente para eventos cardíacos isquêmicos. Estas manifestações são assintomáticas, detectáveis ao exame como placas ou pápulas amarelo-alaranjadas, normalmente na região medial da pálpebra. Exames laboratoriais são recomendados para o rastreio de desordens metabólicas. Apresentação típica do xantelasma O tratamento por excisão é reservado para casos onde há preocupação cosmética excessiva. Ainda que necessário, o controle da hiperlipidemia é ineficaz para a regressão das lesões. É possível fazer uso de técnicas a laser ou crioterapia, porém podem causar mudanças na pigmentação local. LESÕES QUE ACOMETEM AS UNHAS: A onicocriptose pode ser definida como a penetração da borda de uma unha na pele adjacente a ela, recebendo também o nome de “unha encravada”. Normalmente acomete o primeiro dedo do pé, mais susceptível a alterações da pressão exercida sobre a unha. As principais causas para esse fenômeno são o uso de sapatos apertados, traumas locais (geralmente associados ao exercício), uso de meias apertadas ou até mesmo pelo cuidado incorreto com as unhas. Esse processo cursa com dor, edema e vermelhidão nos cantos das unhas acometidas, podendo haver secreção de pus, principalmente na presença de infecções secundárias. Quadro de onicocriptose comsinais de inflamação local (eritema na base ungueal) Há, no entanto, a possibilidade do quadro se agravar por meio da formação de um granuloma piogênico, que, além de provocar dor intensa, pode levar à deformação do dedo afetado e causar dificuldade para deambular. Presença de granuloma (sinais flogísticos intensos) em uma unha encravada Caso o problema seja detectado na fase inicial, podem ser usados chumaços de algodão para separar a espícula (ponta da unha) da pele, ou banhos de imersão com Júlia Figueirêdo – HM VI solução antisséptica, de forma a reduzir a inflamação. O manejo de formas complicadas, por sua vez, requer a aplicação de medicamentos tópicos, como ácidos e antibióticos, ou até mesmo cirurgia (onicoplastia), com remoção apenas do segmento “encravado”, na maioria dos casos. Onicoplastia, com fenolização do segmento removido para impedir o crescimento da unha no local A paroníquia, por sua vez, se refere à infecção dos tecidos da borda ungueal, majoritariamente de forma aguda, e causada por Sthaphylococcus aureus ou estreptococos. Clinicamente, esse quadro cursa com dor, edema, eritema e calor local, podendo também haver secreção de pus na porção lateral da unha. A inflamação pode se disseminar para a polpa dos dedos, causando abaulamento, ainda que não atinja tecidos muito profundos. Paroníquia aguda (difere da onicocriptose pois a inflamação não acomete a unha) O manejo conta com a aplicação de compressas quentes e úmidas, bem como antibioticoterapia oral com cobertura para estafilococos (cefalexina ou clindamicina, geralmente). Quando há coleções purulentas visíveis, deve ser indicada a drenagem da área, com uso de uma pinça de Freer, pinça hemostática ou lâmina de bisturi entre a unha e a dobra cutânea, sem necessidade de incisões. A colocação de uma capada de gaze por um a dois dias após o procedimento pode favorecer a drenagem espontânea. Exemplo de movimentos para estimulação da drenagem de pus na paroníquia HÉRNIAS DE PAREDE ABDOMINAL: As hérnias podem ser definidas como protrusão indevida de um órgão ou tecido em decorrência defeitos ou fragilidades em suas paredes adjacentes (ex.: ausência de músculo estriado). No caso de alterações da parede abdominal, as apresentações podem ser herniação inguinal (direta ou indireta), femoral, umbilical e incisional. É necessário destacar a formação do saco herniário, que abriga a dilatação do peritônio e das vísceras. Júlia Figueirêdo – HM VI Principais tipos e localizações de hérnias de parede abdominal Além das formas típicas, também podem ser observadas hérnias especiais, envolvendo estruturas e locais pouco usuais, podendo ser exemplificadas por: Hérnia de Amyad: conta com a presença do apêndice cecal no saco herniário inguinal; Hérnia de Garengot: o apêndice cecal se encontra no saco herniário femoral; Hérnia de Littré: representa qualquer herniação que contenha o divertículo de Meckel; Hérnia de Richter: há isquemia da borda anti-mesentérica, sem oclusão intestinal; Hérnia de Spiegel: é a hérnia que ocorre na linha semilunar; Localização anatômica da hérnia de Spiegel Hérnias lombares (Grynfelt e Petit): afetam, respectivamente, os trígono lombares inferior e superior. Localização anatômica das hérnias de Grynfelt e Petit De modo geral, homens são mais acometidos por esse fenômeno, ainda que a prevalência feminina seja maior em hérnias femorais e umbilicais. Os principais fatores de risco associados às herniações são histórico familiar positivo, idade avançada, distúrbios do colágeno, tabagismo e distúrbios que levem ao aumento da pressão intra-abdominal. No caso de hérnias incisionais, infecção da ferida operatória, uso de corticoides, obesidade e desnutrição também se destacam como agravantes. Nota-se, contudo, que a obesidade é um fator protetor para as demais hérnias funcionais, pois o panículo adiposo pode criar uma camada que contenha o abaulamento estrutural. A classificação de Nyhus permite a divisão das hérnias em quatro tipos, que podem auxiliar a definir com maior precisão o diagnóstico e as condutas necessárias, a saber: I: indireta, com anel inguinal interno de tamanho e estrutura normais; II: indireta, com anel inguinal interno alargado; Os segmentos mais susceptíveis a herniações na parede abdominal são o trígono de Hasselbach (h. inguinal direta), canal inguinal (h. inguinal indireta), e o canal femoral (h. femoral) Júlia Figueirêdo – HM VI III: presença de fraqueza da parede posterior; o A: apenas direta; o B: indireta, com anel inguinal interno alargado e distorcido; o C: crural (femoral). IV: hérnias recorrentes. o A: direta; o B: indireta; o C: crural (femoral); o D: qualquer combinação das três. QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO: A principal queixa em pacientes com herniações é o abaulamento local, que se destaca principalmente em momentos onde é exercida grande pressão sobre o abdome (ex.: carregar peso). À exceção desse achado, normalmente o quadro é oligossintomático, podendo haver menção a sensação de peso na área herniada. A dor intensa é um sinal sugestivo de complicações, como o encarceramento ou estrangulamento de vísceras. Assim, é evidente que o diagnóstico de hérnias de parede abdominal é clínico, baseado em pontos importantes durante a anamnese, na palpação e em manobras positivas ao exame físico. A ultrassonografia e outros exames de imagem podem ser empregados em caso de casos complexos ou de dúvida diagnóstica. A técnica mais comum é a manobra de Valsalva (elevação forçada da pressão no abdome), que pode ser amparada pela manobra de Landvar (oclusão do anel inguinal interno). Caso haja abaulamento, a hérnia inguinal é direta, uma vez que o ponto de saída típico está obstruído. Comparação da manobra de Landvar entre uma hérnia direta e uma indireta Durante a avaliação, é necessário observar se o conteúdo herniado pode ou não se exteriorizar e retornar à normalidade a partir do anel herniário. Caso isso seja possível, a hérnia é redutível. Do contrário, é denominada como encarcerada (impossibilidade de retorno pois as vísceras estão presas ao anel), ainda podendo ser comprimida com auxílio dos dedos, As herniações encarceradas podem ainda sofrer estrangulamento, comprometendo a circulação local e podendo levar à necrose das áreas “presas”. Representação das hérnias de acordo com sua capacidade de retorno ao compartimento abdominal Alguns diagnósticos diferenciais que devem ser considerados são: Júlia Figueirêdo – HM VI Hérnias inguinais: o Varicocele; o Hidrocele; o Testículo ectópico; o Adenomegalia inguinal. Hérnias umbilicais: o Diástase do M. reto abdominal (ausência de ruptura da linha alba). ABORDAGEM TERAPÊUTICA NA CIRURGIA: A escolha terapêutica se dá a partir da determinação da apresentação da hérnia. Nos casos em que ela se encontre redutível, é possível direcionar o paciente ao watchful waiting (acompanhamento da evolução) ou para operações eletivas. Para as hérnias encarceradas nação complicadas, inicialmente se tenta a redução clínica acompanhada por analgésicos e relaxantes musculares, como uma forma de “ganhar tempo” para um procedimento eletivo. ATENÇÃO: hérnias estranguladas NÃO devem ser reduzidas, sendo necessária uma cirurgia de urgência. Houve uma grande evolução no campo cirúrgico no que se refere à correção de hérnias da parede abdominal. As principais técnicas já usadas são: Bassini: consistia na sutura entre os tendões contínuo e inguinal, com tensão elevada (favorece recidivas); Mc Vay: utilizava a sutura do tendão conjunto ao ligamento pectíneo, permitindoreparos na região femoral (recidivas ainda comuns); Shouldice: baseada na sutura das camadas da parede abdominal uma sobre a outra (imbricamento de camadas), com menor índice de recorrência; Sobreposição de camadas na técnica corretiva de Shouldice Lichtestein: é a técnica “padrão-ouro” atualmente, utilizando uma tela com baixa tensão para a correção de hérnias inguinais. Representação da técnica de Lichtestein Para a resolução de hérnias femorais, o tratamento irá empregar ou a técnica de Mc Vay o plug femoral (dispositivo que preenche o canal femoral), ou a laparoscopia para cobertura telada. Hérnias umbilicais, epigástricas e incisionais são todas corrigidas por meio de telas sem tensão, aplicadas após ressecção total do saco herniário. Por fim, há duas técnicas de operação por laparoscopia, a TEP (totalmente extra- peritoneal), e a TAPP (trans-abdominal pré- peritoneal). Júlia Figueirêdo – HM VI A diferença entre elas reside na penetração ou não da cavidade abdominal. Comparação entre as técnicas de correção de hérnias por laparoscopia No que se refere às complicações cirúrgicas, destacam-se infecção da área de incisão, sangramentos, lesão de nervos e orquite isquêmica. Por ser um agente externo reativo, a tela pode dificultar o manejo de infecções (antibioticoterapia inacessível), podendo ser recomendada sua remoção. ABORDAGEM DIAGNÓSTICO-CIRÚRGICA EM COLELITÍASE: A vesícula biliar representa o principal local de acúmulo dessas formações, sendo os acometimentos ductais resultantes da migração calculosa originada dessa região. Não há, no entanto, impeditivo para a formação de cálculos nos ductos que conduzem a bile, situação principalmente em quadros de estase biliar ou infecções. De modo geral, os cálculos podem ser divididos quanto a sua composição, como de colesterol ou pigmentares. Ainda que possam ser puros, a maioria tem formação mista, com concentrações variadas de cada componente. Cálculos biliares puros formados por colesterol (fila superior) e formações mistas (fila inferior) QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO: Na maioria das situações, a litíase vesicular é diagnosticada de forma incidental durante uma ultrassonografia de abdome, sem que houvesse a presença de sinais ou sintomas sugestivos, e parâmetros laboratoriais normais. Esse achado apresenta baixo risco de desenvolvimento de complicações, com apenas 20% dos casos resultando em sintomas após 20 anos. A colecistolitíase sintomática, no entanto, tem evolução vem mais agressiva, marcada pela dor/cólica biliar (epigástrio ou hipocôndrio direito), intensa e intermitente. Náuseas e vômitos também são sintomas frequentes em pacientes com litíase biliar. Caso esse quadro tenha duração > 6h, é possível suspeitar de complicações, como colecistite. O exame de imagem mais utilizado para o diagnóstico de litíase biliar é a ultrassonografia de abdome, uma vez que outros métodos acessíveis, como a radiografia, apresentam baixa sensibilidade e especificidade. São identificados cálculos de até 2mm, que se mostram como imagens ecogênicas móveis com formação de sombra acústica posterior. Júlia Figueirêdo – HM VI Presença de cálculos em vesícula biliar com formação de sombra acústica à USG Quando a USG não pode ser utilizada, um método alternativo é a colecistografia oral, empregada apenas para indivíduos com possibilidade de sucesso na terapia de dissolução oral, de forma a avaliar a patência do ducto cístico. Radiografia obtida em diferentes incidências, associada à colecistografia oral Também pode ser empregada a ultrassonografia endoscópica (CPRE) ou a colangiopancreatografia por ressonância magnética (CPRNM), capazes de visualizar a vesícula mesmo com alças intestinais repletas de gás, podendo também excluir a possibilidade de coledocolitíase. A CPRE permite a realização de procedimentos terapêuticos, ao passo que a CPRNM tem função apenas diagnóstica. Coledocolitíase em porção distal do ducto em CPRE Na análise laboratorial desses pacientes, a presença de elevação da fosfatase alcalina ou da amilase são sugestivos da ocorrência simultânea de coledocolitíase. TRATAMENTO E COMPLICAÇÕES: O tratamento da litíase biliar assintomática normalmente não é indicado, pois o risco para desenvolvimento de complicações é muito baixo. No entanto, a colecistectomia profilática pode ser recomendada a grupos mais vulneráveis, como crianças, obesos pré-gastroplastia redutora e pacientes com alto risco para câncer biliar. O manejo da colecistolitíase sintomática, por sua vez, é direcionado principalmente para a realização de colecistectomia videolaparoscópica, que apresenta capacidade curativa na maioria dos casos, além de apresentar menor tempo de recuperação do que sua versão laparoscópica. Alguns pacientes podem ser submetidos a tratamentos não cirúrgicos, como a dissolução oral (redutor da secreção de colesterol e antinucleação) e a litotripsia extracorpórea por ondas de choque. O tratamento deve ser mantido com doses diárias até que duas USG consecutivas (com intervalo de um mês entre elas) indiquem ausência de litíase. Júlia Figueirêdo – HM VI A litotripsia, por sua vez, pode ser utilizada como método acessório na terapia de dissolução oral, estimulando a fragmentação de cálculos em partículas menores. No entanto, seu uso vem decaindo em decorrência do elevado índice de recorrência para litíase. Algoritmo para a escolha terapêutica em pacientes com litíase biliar As complicações da litíase biliar são bastante comuns, podendo inclusive ser o primeiro sinal do quadro. As manifestações mais frequentes são a colecistite aguda, pancreatite e colangite. Ressalta-se que o tratamento da colangite é frequentemente clínico, por meio de antibioticoterapia empírica, ao passo que aqueles com apresentação supurativa necessitam de intervenção urgente para descompressão. Mecanismo fisiopatológico da litíase biliar associado às complicações mais comuns decorrentes do quadro Uma importante complicação, ainda que menos comum, é a síndrome de Mirizzi, na qual um cálculo impactado no ducto cístico ou no colo da vesícula biliar provoca obstrução mecânica do ducto hepático comum. Os sintomas mais frequentes são dor abdominal, febre e icterícia (tríade de Charcot), podendo estar presentes vômitos, colúria, acolia fecal e prurido. Impactação de cálculo biliar no duodeno como desencadeador da Síndrome de Mirizzi Esse processo pode ser estratificado pela classificação de Csendes, a saber: Tipo I: compressão extrínseca do ducto colédoco ou ducto hepático como resultado de um cálculo impactado no ducto cístico ou no infundíbulo da vesícula; Tipo II: formação de uma fístula colecistobiliar com diâmetro inferior a 1/3 do ducto obstruído; Tipo III: a fístula passa a assumir tamanho inferior a 2/3 da circunferência do ducto afetado; Tipo IV: há expansão para toda a área ductal; Tipo V: é um agravante de qualquer apresentação acima, definido pela formação de fístulas colecistoentéricas. Júlia Figueirêdo – HM VI Representação esquemática da evolução da síndrome de Mirizzi Normalmente o tratamento da síndrome de Mirizzi é cirúrgico, com a abordagem escolhida dependendo da classificação de Csendes do paciente. A via laparoscópica pode ser usada na colecistectomia com (tipo II) ou sem (tipo I) fechamento da fístula, ao passo que, na presença de fístula colecisto-coledociana (tipos II, III e IV), a laparotomia é obrigatória, seguida pela drenagem biliar. Júlia Figueirêdo – HM VI Avaliação da severidade de quadros de colecistite e colangite de acordo com os guidelines Tokyo 2018 (consideram-separâmetros clínicos e laboratoriais para essa classificação)
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