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Análise de Situações Reais de Grupo

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95
Unidade 4
Análise de Situações Reais de Grupo por 
Meio das Pesquisas, Jogos, Técnicas Gru-
pais e Vivências
Apresentação
O fenômeno grupal está presente em todas as 
áreas da vida de um ser. Estes encontros humanos, 
que ocorrem nos grupos, podem ser salutares ou não. 
Os diferentes grupos podem ser analisados e cui-
dados para que todos os integrantes possam se benefi-
ciar de tal vivência. Para tanto, existem métodos e estra-
tégias para este auxílio grupal através de intervenções.
Na atualidade, cuidar dos grupos amplia a área 
de cuidado de forma eficaz e pela própria estrutura 
grupal atinge maior número de pessoas, as quais vão 
poder se beneficiar. Muitas vezes, uma simples dinâ-
mica de grupo pode auxiliar uma pessoa a se conhe-
cer melhor e, com isso, perceber melhor os outros e 
desenvolver a empatia. 
A empatia é um aspecto que para ser desenvol-
vido e treinado depende da presença de outro ser. 
Outros aspectos também importantes são de-
senvolvidos com o auxílio da presença de outro ser 
humano, inclusive, aspectos que podem auxiliar não 
só na convivência grupal, mas na vida do indivíduo 
como um todo.
96
Hoje se vive em uma sociedade em que muitas 
feridas na alma e no corpo são abertas.
O que se tem de solução, embora o processo 
seja complexo, encontra-se na própria capacidade de 
um ser humano se oferecer a outro como um tutor 
de resiliência. 
Um líder na atualidade precisa ter em mente 
que vai se deparar com pessoas as quais, naturalmen-
te, vão necessitar de um líder que possa se relacionar 
com o grupo, exercitando sua inteligência emocio-
nal, mas também que possa se oferecer como tutor 
em seu processo de resiliência e de seus liderados.
Ao pensar nos profissionais de saúde, os quais 
se deparam com o trágico todos os dias, torna-se 
impossível não imaginar que, de algum modo, tais 
vivências não irão afetá-los. Nesse sentido, o papel 
do líder é extremamente importante para o processo 
de superação de tais vivências.
As atividades coletivas auxiliam o desenvolvi-
mento do ser humano em aspectos muito importan-
tes, como será abordado nesta unidade.
97
4. Análise de Situações Reais de Grupo Por 
Meio de Pesquisas, Técnicas 
Grupais e Vivências.
Este capítulo pretende fazer um recorte sobre 
algumas pesquisas e técnicas grupais que permi-
tem observar, analisar, compreender e intervir em 
situações reais, nos contextos grupais. Para tanto, 
torna-se importante recordar que o ser humano é 
um ser social em sua essência, naturalmente, bus-
ca grupos dos quais possa fazer parte, pois nesses 
grupos outras pessoas estarão presentes, com seus 
aspectos subjetivos. 
Por aspectos subjetivos compreende-se, segun-
do Cabral e Nick (1989 p.370):
“SUBJETIVO - O que somente existe em virtude de 
uma experiência psíquica ou mental da pessoa ou su-
jeito. O que é intrinsicamente inacessível à observação 
de mais de uma pessoa e caracteriza, portanto, a expe-
riência exclusiva de uma pessoa. Subjetivo e sujeito são 
antônimos de objetivo e objeto”.
As primeiras experiências subjetivas de um ser 
acontecem dentro do primeiro grupo que o ser faz 
parte, ou seja, a família. Desde as primeiras experi-
ências grupais até as adquiridas na idade adulta, o 
98
ser está em constante processo de construções vin-
culares e aprendizagem, portanto, é através destes 
encontros intersubjetivos entre os seres que estes 
fenômenos acontecem (RIVIÈRE, 2012).
Muitas vezes, estes encontros intersubjetivos, 
que ocorrem nos grupos, podem ser salutares, ou-
tras vezes nem tanto, e apontam para uma impres-
cindível intervenção, neste caso, os estudos e pesqui-
sas sobre grupos tornam-se uma necessidade, assim 
como as estratégias e técnicas para melhor análise 
e intervenções em situações reais e humanas que 
acontecem nos grupos.
Os grupos que podem ser auxiliados com tais 
técnicas são, por exemplo, a família, os grupos de 
trabalho dentro de uma instituição ou organiza-
ção, grupos de usuários dos serviços de saúde, os 
grupos dentro de uma determinada comunidade e 
outros. As técnicas vão variar de acordo com o ob-
jetivo a que se propõe.
Os seres humanos estão em constante proces-
so mudança, apesar das dificuldades que apresen-
tam frente ao novo. Estas mudanças que aconte-
cem através do processo de aprendizagem sofrem 
interferência dos medos básicos, que se referem ao 
medo da morte e do ataque, presentes desde a Pré-
-História, ora manifestados de forma consciente, 
ora inconsciente. Ao se pensar em análise de situa-
ções reais de grupos, não se podem esquecer esses 
99
padrões de funcionamento psíquico, tão bem des-
critos por Rivière (1998).
Com relação à análise de situações reais de 
grupo por meio de pesquisa, o campo é bem vas-
to nas áreas da Política e do Marketing, que vêm 
usufruindo do método de pesquisa qualitativo para 
atingir seus eleitores e consumidores respectiva-
mente. Felizmente, as pesquisas sobre análise de 
situações reais de um grupo não se limitam às áreas 
citadas, mas aparecem no campo das pesquisas na 
saúde coletiva, saúde do trabalhador, saúde mental, 
epidemiologia e outros.
Dentre as pesquisas que analisam as situações 
reais de um grupo, está a da pesquisadora Menezes 
(2012), que constatou, por meio de um estudo de 
caso realizado com um grupo de trabalhadores em 
uma fábrica de manequim, a estreita relação entre a 
dinâmica psíquica dos trabalhadores e a precarização 
do trabalho. Aponta a precarização do trabalho que 
se manifesta através de um contexto relacional de 
servidão, como fonte de sofrimento psíquico, pro-
dução de sentimentos de desamparo e consequente 
adoecimento do trabalhador. 
Outra importante área de pesquisa a ser con-
siderada para analisar situações reais de grupos 
encontra-se no campo da saúde mental, através de 
levantamentos sobre as doenças que mais incapa-
citam no mundo, os estudos apontam que, das dez 
100
mais incapacitantes, cinco se referem a problemas da 
saúde mental, a depressão é responsável por 13%, 
o alcoolismo por 7,1%, a esquizofrenia por 4%, o 
transtorno bipolar por 3,3% e o transtorno obses-
sivo-compulsivo por 2,8%. Os transtornos mentais 
são responsáveis por 12% das incapacitações por 
doença, em geral, nos países desenvolvidos, este nú-
mero sobe para 23% (MURRAY, LOPEZ, 1996). 
Como é possível observar, os transtornos men-
tais atingem uma boa parcela da população, isto não 
é coincidência, e sim um reflexo de uma série de 
eventos ligados a problemas individuais e coletivos. 
As doenças têm uma história e cada época tem 
suas doenças. São vivenciadas de modos diferentes 
em função da época em que ocorrem. 
Existem diferenças entre os flagelos do passado 
(flagelos coletivos) e as doenças (individuais) de hoje.
Existe uma ligação muito forte entre o grau 
de desenvolvimento de uma sociedade e o estado 
geral de sua saúde.
Os estudos sobre saúde mental, em nosso mo-
mento contemporâneo, têm muito que contar sobre 
os grupos humanos e as possibilidades de interven-
ções, pois apesar de todo o avanço da medicina e 
o uso desenfreado de medicamentos para curar a 
alma, ela continua insistentemente a apresentar sua 
rebeldia, através de seu sofrimento, o qual, muitas 
vezes, os remédios apresentam apenas uma eficácia 
101
simbólica e em um movimento refratário a alma é 
que insiste em não se render à medicalização da vida. 
As medicações com certeza têm sua eficácia e 
são necessárias para algumas situações, mas a ques-
tão aqui levantada diz respeito a seu uso exclusivo 
em detrimento das relações humanas, sendo que es-
tas últimas apresentam alta potência curativa através 
do próprio encontro humano, como será levantado 
na próxima sessão desta unidade. 
Ao pensar em grupos humanos e análise de si-
tuações reais através de técnicas grupais e vivenciais, 
após a explanação sobre os transtornos mentais, al-
gumas perguntas podem surgir.
Quais os tipos de técnicas grupais e vivenciais 
que contemplam a análise e intervenção em situa-
ções reais de grupos?Sabe-se que as técnicas de grupo, neste momento 
da humanidade, são extremamente eficazes, não so-
mente por atender um número maior de pessoas, mas 
pela eficácia que a própria vivência em grupo propicia, 
por meio do exercício da solidariedade e afetividade 
que, de um modo geral, os grupos também podem ofe-
recer para um sistema humano que tem adoecido por 
flagelos individuais, como as doenças psíquicas. 
As técnicas grupais e vivenciais são utilizadas 
em uma gama de situações que vão desde institui-
ções públicas até as privadas na área da saúde, mas 
também na educacional e empresarial.
102
Para iniciar o assunto é necessário fazer alguns 
apontamentos, toda técnica grupal propicia uma vi-
vência, então, neste texto, as técnicas grupais serão 
compreendidas como vivências grupais.
Podem-se dividir as técnicas grupais da seguin-
te forma: a dinâmica de grupo, os grupos operativos 
e os grupos terapêuticos. 
A dinâmica de grupo é um conjunto técnicas 
que dispõem de recursos, que podem ser utilizados 
em diferentes áreas e com finalidades diversas. Po-
dem ser utilizadas na área organizacional com a fi-
nalidade de desenvolvimento pessoal, recrutamento 
e seleção, integração do grupo de trabalho, desliga-
mento de funcionário, e outros. Na educação, pode 
ser utilizada como integração entre alunos e profes-
sores, como grupos de prevenção a situações de risco 
e outros. Na área terapêutica pode ser utilizada como 
instrumento de tratamento em abordagens diferen-
tes, mas, particularmente na abordagem psicodra-
mática, é um recurso fundamental através dos jogos 
psicodramáticos (FIGLIE; MELO; PAYA 2004). 
Este conjunto de técnicas, que dizem respeito 
às intervenções em dinâmica de grupo, é utilizado 
em diversos setores e sua flexibilidade no uso, se 
deve em parte a sua estratégia de criar situações fo-
cadas, por exemplo, brincadeiras, jogos, exercícios, 
dramatizações e outros com objetivos bem delinea-
dos a serem atingidos.
103
As dinâmicas de grupo, embora tenham obje-
tivos bem definidos, e estratégias focadas para a re-
alização dos mesmos, são recursos que apresentam 
uma forma indireta de lidar com assuntos diversos 
e que, normalmente, dizem respeito a situações que 
envolvem relações interpessoais, intrapessoais, afeti-
vas e outras (FIGLIE; MELO; PAYA, 2004).
Por exemplo, um profissional da psicologia 
que supervisionava uma determinada equipe de 
saúde do Programa de Saúde da Família organizou 
alguns exercícios de dinâmica de grupo que tinham 
como objetivo melhorar as relações interpessoais 
dentro da equipe de profissionais do Programa de 
Saúde da Família, isto foi feito por meio de dinâ-
micas que despertavam a solidariedade e o afeto 
entre os mesmos. Naturalmente, o assunto não fora 
tratado anteriormente de forma direta, mas, através 
do exercício de dinâmica de grupo, tais sentimen-
tos puderam se manifestar e ser trabalhados para 
maior integração do grupo.
Neste exemplo, as técnicas de dinâmica de grupo 
foram utilizadas por um profissional da psicologia, mas 
são técnicas que, por terem seus objetivos bem defi-
nidos e estratégias bem focadas, podem ser utilizadas 
por profissionais de outras áreas. O mais importante a 
ser destacado a respeito dos exercícios de dinâmica de 
grupo não é quem vai aplicá-los, mas o seu significado 
e sua finalidade, segundo Fritzen (1989).
104
Portanto, existem exercícios que despertam a 
solidariedade, outros têm como objetivo despertar o 
potencial humano adormecido, outros ainda se pro-
põem a auxiliar as pessoas a perceberem os movi-
mentos do seu inconsciente, enfim, existe uma varie-
dade grande de técnicas para contemplar as relações 
humanas interpessoais e intrapessoais.
A seguir, dois quadros com exemplos adapta-
dos para este texto de dinâmicas de grupo retiradas 
do livro de Fritzen (1989), que, segundo o autor, têm 
como objetivo propiciar um maior conhecimento de 
si e dos outros, assim como, melhorar as relações 
interpessoais, despertar os sentimentos de solidarie-
dade de confiança e descobrimento entre as pessoas 
integrantes de um grupo.
Figura 17: modelo de dinâmicas de grupo:
Novos Nomes
Obejtivo: diminuir o problema de esteriótipos 
que sofrem as pessoas de um grupo e os pre-
conceitos que por vezes estão associados a eles.
Tamanho do grupo: Qualquer tamanho de 
grupo.
Material utilizado: Uma lista com nomes mas-
culinos e femininos, se o grupo for misto.
Ambiente fisico: Uma sala que possa acomo-
dar o grupo.
105
Conhecimento 
Pessoal: 
Gráfico da 
vida.
Objetivos:Oferecer a oportunidade aos inte-
grantes da dinâmica de fazer um feedback da 
sua vida. Propiciar a expreessão de vivências e 
sentimentos ao grupo.
Tamanho do grupo: Oito a dez pessoas. Tem-
po: 35 minutos. Material: Folhas de papel em 
branco, caneta ou lápiz. Ambiente: sala com 
carteira.
Prcesso: A pessoa que vai aplicar a dinâmica 
esclarece, que para haver maior esponteneidade 
num grupo formado por pessoas que ainda não 
se conhecem existe uma oportunidade valiosa 
para se livrarem das expectativas resultantes 
de suas identidades passadas, adotando novos 
nomes, concordando em não falar inicialmen-
te, sobre seus antecedentes, ocupação, cidade 
onde nasceram, etc. Em alguns momentos, 
certas profissões evocam certos comportamen-
tos esteriotipados, os quais despertam no gru-
po reações tambem esteriotipadas. Ex: médico, 
enfermeiras, psicologo e outros.
Processo: Os integrantes do grupo antes de se 
conhecerem recebem novos nomes, e vão ser 
conhecidos apenas por este nome durante a 
dinâmica.A distribuição dos nomes pode ser 
ao acaso, por escolha dos integrantes do grupo 
em concordancia com a pessoa que vai assumir 
o nome, ou ainda, cada integrante escolhe o 
nome que for mais significativo para ele.
Pode acontecer de alguns participantes deseja-
rem trocar os nomes durante a dinâmica, assim 
como alguns desejarem retornar aos seus pró-
prios nomes revelando sua identidade e queren-
do conhecer a de outro membro do grupo.
Fonte: adaptção por fonseca, 2013. Modelo de dinâmica de grupo de frittzen, 
1989.
Figura 18: modelo de dinâmica de grupo?
106
Processo: A pessoa que vai aplicar a dinâmica 
incia com a explicação dos objetivos da dinâmi-
ca, seguindo com a distribuição do material. É 
solicitado para cada participante traçar um linha 
com ângulos e curvas, os quais representem fatos 
de sua vida, nos ultimos meses ou ano. O gráfico 
poderá expressar sentimentos e vivências.
Após esta atividade cada membro do grupo irá 
fazer uma exposição do seu gráfico para o grupo 
ressaltando os aspéctos importantes.
Ao terminar esta troca, caminha-se para os de-
poimentos e comentários entre os membros do 
grupo.
Fonte: modelo de dinâmica de grupo de frittzen, 1989. Adaptação por 
fonseca, 2013.
As dinâmicas de grupo podem também ser 
compreendidas como grupos operativos como será 
apresentado a seguir.
Os Grupos operativos têm uma aplicação bem 
extensa, pode-se pensar que eles são uma espécie de 
recipiente dos outros tipos de grupos que se pro-
põem a intervenções em situações reais.
Os grupos operativos foram descritos e criados 
por Pichon Rivière (1998), e tem como finalidade e 
objetivo a mobilização de estruturas estereotipadas, 
nas dificuldades de aprendizagem e comunicação, 
dificuldades ligadas às ansiedades básicas que são 
naturalmente despertadas frente às possibilidades de 
mudança, expressas pelo medo da perda e do ataque, 
que, em uma linguagem psicanalítica, dizem respeito 
às ansiedade depressiva e paranoide, respectivamen-
107
te. Estas ansiedades emergem juntas e se alimentam 
entre si, segundo o autor em um processo natural 
do ser humano, como reação ao novo, mas são su-
peradas através do processo aprendizagem que se 
faz pelo exercício da comunicação humana. Toda 
esta movimentação surge frente a uma tarefa pro-
posta pelo grupo, que pode ser desde um grupo de 
aprendizagem até um grupo terapêutico, ambos se 
formam em torno de uma tarefa. No primeiro, a ta-
refa seria a aprendizagemem si, no segundo, a tarefa 
proposta estaria ligada ao bem-estar dos integrantes, 
ou sua cura.
Os papéis, inicialmente, são fixos, mas mu-
dam naturalmente quando as lideranças funcionais 
surgem. Por lideranças funcionais o autor entende 
como operativas, que são altamente eficazes e se 
constroem no aqui e agora, de acordo com a neces-
sidade do grupo, ou seja, qualquer integrante do gru-
po pode assumir o papel de liderança.
Os grupos podem ser homogêneos, ou he-
terogêneos, verticais ou horizontais, primários ou 
secundários, mas à medida que aumenta a homo-
geneidade de tarefa, o grupo pode apresentar sua 
heterogeneidade adquirida através de uma diferen-
ciação progressiva e acolhida dentro do contexto 
grupal (RIVIÈRI, 1998).
Esta teoria sobre grupos operativos apresenta 
alguns conceitos interessantes já expressos: O con-
108
ceito de vínculo que aponta para os personagens 
parentais, que podem surgir de forma inconsciente 
dentro de um contexto grupal, os integrantes po-
dem repetir padrões de relacionamento adquiridos 
em suas relações familiares sem perceber que estão 
diante de relações novas, que demandam um novo 
modo de se relacionarem; o conceito de formação 
de papéis, que diz respeito aos lugares ocupados 
pelos integrantes, por exemplo, o do bode expia-
tório, o porta-voz, o sabotador, o líder, que pode 
variar em sua expressão; o conceito de modelo do 
cone invertido, que diz respeito aos movimentos 
grupais, por exemplo, aos processos de afiliação 
grupal, pertinência, comunicação, cooperação, 
aprendizagem e o contexto emocional do grupo; 
os conceitos de verticalidade, que diz respeito à 
história de cada integrante do grupo contemplada, 
a ideia de horizontalidade que se expressa através 
do aqui e agora do grupo; o conceito de pré-tarefa, 
que diz dos movimentos grupais que surgem antes 
da realização da tarefa, e que podem impedir uma 
ação realmente nova, expressa na própria realiza-
ção da tarefa; os conceitos de depositário, deposi-
tante e depositado das ansiedades básica, ou medos 
básicos (ZIMERMAN, 2000).
Estes conceitos podem ser observados em 
movimentos de diferentes grupos, inclusive nas 
grupoterapias.
109
O coordenador de grupos operativos tem como 
objetivo centrar na tarefa proposta, seja ela de apren-
dizagem ou terapêutica.
Outro modelo de intervenção em situações re-
ais de grupo são os grupos terapêuticos, que podem 
ser divididos em dois tipos, como identifica Zimer-
man (2000), os de autoajuda e os de psicoterapia.
Os grupos de autoajuda comumente são gru-
pos que se formam por pessoas que tem em comum 
algum tipo de sofrimento que é reconhecido por 
quem integra o grupo, ou melhor, por quem sofre 
pela mesma razão. Tem seu início marcado em 1935, 
com a formação dos alcoólicos anônimos, e é con-
siderado uma das formas de intervenções grupais 
mais antigas para quem sofre de dependência de ál-
cool (FIGLIE; MELO; PAYA, 2004). 
Nesses grupos alguns fatores parecem con-
tribuir para seu sucesso evidente, os integrantes se 
reconhecem como alguém que sofre, recorrem sem-
pre ao amparo grupal e iniciam através do grupo um 
processo interno de autocura.
Eles surgem, inicialmente, através dos alcoóli-
cos anônimos, mas seu modelo de funcionamento 
vem sendo estendido para outros campos, por exem-
plo, grupos de diabéticos, grupos dos que amam de-
mais e outros.
E, por fim, os grupos psicoterápicos, estes podem 
se diferenciar, de acordo com suas abordagens teóricas. 
110
As abordagens podem ser de orientação psica-
nalítica, psicodramática, sistêmica, cognitivo-com-
portamental e outras. De um modo geral, elas têm 
como objetivo, através de seus construtos teóricos 
e práticos, se aproximarem da cura dos problemas 
apresentados, sendo que a definição de cura também 
pode variar de acordo com a abordagem teórica
O que todas estas abordagens apresentam em 
comum é a possibilidades de analisar e intervir em 
situações reais de grupos, no auxílio dos que sofrem. 
Essa possibilidade é o que anima e mantém viva 
a chama da esperança que a solução para o sofrimen-
to humano está no próprio encontro humano, e, um 
dos lugares privilegiados para que isto possa ocorrer 
são os contextos grupais.
4.1. Desenvolvimento da Consciência Crítica 
E Das Habilidades Interpessoais Através das 
Atividades Coletivas
Ao iniciar esta unidade sobre o tema do desen-
volvimento da consciência crítica humana e das ha-
bilidades interpessoais através das atividades coleti-
vas, naturalmente, se remete a temática das relações 
do ser com ele mesmo e com outros seres humanos 
ou com mundo ao seu redor.
O próprio desenvolvimento da consciência crí-
tica é condicionado na dialética que se dá entre a 
111
reflexão do ser sobre ele mesmo, que propicia uma 
consciência de si, e a reflexão e atenção ao mundo 
externo e consciência do outro. Portanto, esta cons-
ciência se desenvolve dentro de um contexto de re-
lação intrapessoal e interpessoal situados no mundo.
As atividades coletivas são espaços privilegiados, 
para esta bonita valsa do encontro entre o ser e o ou-
tro, possibilitando conhecimento de si e do outro.
Para maior compreensão sobre o conceito de 
consciência crítica se faz necessário compreender 
primeiramente o que é consciência. Normalmente, 
este termo está associado à capacidade do ser huma-
no de apreender a realidade através da capacidade 
intelectual, mas o ser humano é capaz de apreender 
a realidade através de outras capacidades, por exem-
plo, dos sentidos, percepções conscientes e incons-
cientes, assim como através das emoções. 
A consciência crítica, então, se desenvolve jun-
to com o desenvolvimento do ser em um constante 
processo de aprendizagem que acontece por meio 
de sua vivência interna e com outros seres.
Essa atividade psíquica permite aos seres que 
estejam no mundo com algum conhecimento. Per-
mite também a análise de si mesmo e dos outros, 
considerando as possíveis diferenças e semelhanças, 
os limites e os valores de uma pessoa ou sociedade, 
através de uma postura reflexiva, que pode facilitar a 
diferenciação do que é moral ou ético.
112
Esta consciência crítica se desenvolve acompa-
nhando o desenvolvimento individual do ser e da hu-
manidade, pois acompanha os constantes movimen-
tos evolutivos do ser e do mundo. À medida que o ser 
evolui, ela também e se altera. É um processo intima-
mente ligado ao desenvolvimento do ser e do mundo.
A consciência de si desenvolve-se através de 
um processo de atenção, concentração e reflexão 
dos estados internos e de suas manifestações, sejam 
elas intencionais ou não. A consciência do outro se 
desenvolve através do processo da concentração da 
consciência e atenção no exterior, no mundo exter-
no e no outro (COTRIM, pág. 42 a 45,2008). 
Ambas as consciências desenvolvem-se tam-
bém através das manifestações humanas, como no 
primeiro caso, o ato de falar, posicionar-se frente a 
algo, criar, afirmar, sofrer, inovar, ser feliz etc. No 
segundo, o processo se dá através do encontro hu-
mano, do escutar o outro, assimilar o que vem de 
fora, renovar, ou abrir para o novo.
A consciência de si, também ocorre frente ao 
encontro humano, um exemplo claro disso é o pro-
cesso de psicoterapia, no qual o ser, através de suas 
manifestações verbais ou não, acolhidas pelo analis-
ta, pode fazer uma interlocução entre questões pes-
soais e ele mesmo. 
Ainda no que diz respeito à consciência do ou-
tro, é importante ressaltar a dimensão da alteridade, 
113
que, enquanto processo, trata-se desta percepção 
do que é o outro, e surge através do contato com 
o outro. Na psicologia, o conceito de alteridade diz 
respeito à concepção que o ser tem sobre a diferença 
entre ele e o outro, entre o ego e o outro (Dicionário 
de psicologia, 1973).
O mesmo conceito, oferecido pelo dicionário de 
filosofia (ABBAGNANO, 1998 p. 34-35), apresenta-
-se como a eminência do ser em ser o outro, colocar-
-se no lugar do outro, constituir-se como o outro.
Para finalizar, alteridade trata daassimilação e 
compreensão do outro em toda sua dimensão hu-
mana incluindo suas diferenças. Quanto maior for a 
consideração a respeito da alteridade, menor a pos-
sibilidade de conflitos entre os seres e os grupos, e 
este exercício humano é possível frente a atividades 
coletivas, que vão desde as profissionais até as de 
lazer, entre outras.
Para finalizar a temática sobre consciência críti-
ca, é importante ressaltar a necessidade de um equilí-
brio entre a consciência de si e a do outro, pois o in-
divíduo que se centra somente na consciência alheia 
pode agir sem reflexão sobre a autoconsciência e 
desenvolver comportamentos grupais contrários às 
suas concepções, assim como o ser que fica preso 
somente à consciência de si pode desenvolver com-
portamentos narcisistas, submetendo outras pessoas 
a seus desejos sem respeito às diferenças. 
114
Outro conceito importante para ser descrito 
nesta unidade diz respeito ao conceito de inteligên-
cia emocional, o qual desembocará no conceito de 
inteligência relacional. 
4.2 Inteligência Emocional
Ao falar sobre relações humanas e liderança 
ocorre uma aproximação do conceito de inteligên-
cia emocional, pois os seres humanos, antes de tudo, 
são seres emocionais. No passado, o conceito de in-
teligência foi muito estudado e a inteligência, nestes 
estudos, era considerada como uma função mental, 
intimamente ligada a outras funções, tais como a 
percepção, o pensamento, a memória e o raciocínio 
lógico (OSÓRIO, 2003).
No dicionário de psicologia, encontra-se a 
definição da seguinte forma (CABRAL; NICK, 
1989 pg. 193):
INTELIGÊNCIA- Segundo o ponto de vista básico 
adotado pelos vários autores que o definiram, em termos 
psicológicos, o conceito de inteligência pode abranger di-
ferentes significados. (1) Binet: “Tendência para adotar e 
manter uma direção definida; capacidade de fazer adap-
tações com o intuito de alcançar uma determinada meta; 
poder e auto-crítica.” (2) Craparèd: “Nível mental, consi-
derado globalmente.” (3) Burt: “Fator inato da atividades 
115
cognitivas” (4) J. Chaplin: “Capacidade de resolver proble-
mas frente a novas situações. Capacidade de utilizar efeti-
vamente conceitos abstratos.” Estas definições não devem 
ser consideradas independentemente umas das outras; elas 
apenas enfatizam diferentes aspectos do processo.
Como se pôde observar trata-se de um proces-
so global, que inclui várias funções psíquicas e não 
é somente uma questão de cognição ou memória ou 
rapidez, mas algo que auxilia o ser frente a situações 
novas, nem todas as pessoas que são rápidas em ra-
ciocínio, por exemplo, lidam bem frente a situações 
emocionais novas. 
Por um longo tempo, os aspectos que eram res-
saltados nas avaliações de inteligência, basicamente 
diziam respeito às funções mentais de precisão e ra-
pidez na realização de cálculos numéricos, de fluên-
cia e compreensão verbal, de velocidade da percep-
ção ou da habilidade em rememorar e da capacidade 
de raciocínio (OSÓRIO, 2003). Aparentemente, 
estes aspectos identificavam o grau de inteligência 
disponível na mente do ser. 
A partir deste ponto, nesta pequena introdução 
sobre o conceito de inteligência, se torna importante 
o início da ampliação do mesmo. 
Todas essas funções mentais descritas sempre 
estiveram intimamente relacionadas com as emo-
116
ções, basta retomar as unidades anteriores desta 
obra, as quais apontam para o ser humano enquanto 
um ser essencialmente emocional e relacional.
É fácil observar, por exemplo, que quando as 
pessoas estão deprimidas, uma das primeiras fun-
ções psíquicas a serem afetadas é a memória, assim 
como as pessoas que estão vivendo em ambientes 
com muitos conflitos interpessoais, muitas vezes, 
não conseguem ter agilidade perceptiva sobre o que 
está acontecendo, sendo necessário alguém de fora 
intervir, pois este último avalia a situação melhor por 
não estar envolvido emocionalmente na mesma.
Os fatores emocionais estão relacionados com 
os cognitivos desde sempre, na área da psicologia 
tem um ditado de autor desconhecido, que diz que, 
“criança feliz naturalmente vai bem na escola”. 
Nessa relação de interdependência entre os 
afetos e a cognição, existe mais um ingrediente im-
portante, que diz respeito à consideração a ser feita 
sobre o ser humano, por ser ele um ser biopsicos-
social se torna necessário ressaltar outros aspectos 
envolvidos no desenvolvimento da inteligência, não 
mais somente a capacidade cognitiva, mas também a 
emocional e relacional (OSÓRIO, 2003).
O autor Goleman (1995), em seu livro sobre 
inteligência emocional, ressalta vários aspectos des-
ta função psíquica a serem considerados em sua di-
mensão. Listou cinco principais domínios a serem 
117
observados no que diz respeito as capacidades da 
inteligência emocional, sendo que, três delas estão 
ligadas a relação do indivíduo com ele mesmo, ou 
seja, o seu relacionamento intrapessoal. Elas são o 
autoconhecimento emocional, o controle emocional 
e a automotivação. Essas habilidades dizem respeito 
à identificação das próprias emoções no momento 
em que surgem, o manejo adequado das mesmas e 
o uso das mesmas para situações determinadas, ou 
frente a objetivos ou ainda realizações pessoais.
As outras duas dimensões também tratam de 
aspectos importantes ligados à relação com os ou-
tros ou relações interpessoais. Estes outros domínios 
são o reconhecimento de emoções em outras pesso-
as e as habilidades em relacionamento interpessoal. 
O reconhecimento das emoções no outro se trata do 
exercício da empatia, da capacidade de reconhecer e 
compreender os sentimentos dos outros. As habili-
dades em relacionamento interpessoal dizem respei-
to à interação com outros seres humanos, através do 
uso de competências interpessoais, que nascem de 
uma disponibilidade para o encontro humano, mas 
também de um esforço prático e teórico realizado a 
partir das vivências grupais. 
Figura 19: inteligência emocional – luz quântica 
nos tempos atuais
118
Por que pensar em um esforço, prático e teóri-
co para desenvolver a competência interpessoal?
Pelo simples fato de que não se desenvolve tal 
inteligência através do isolamento social, há estudos 
que podem ajudar a compreender melhor o ser hu-
mano e que podem ser levados para a prática através 
do exercício da vida em grupos. 
Os grandes teóricos da psicologia, da psicanáli-
se e da fi losofi a iniciaram esta incrível jornada sobre 
o conhecimento do ser humano há muito tempo, e 
Emotional
Intelligence
Man
agin
g
Emo
tions
Identifying
Emotions
Eval
uatin
g
Emo
tions
UsingEmotions
FONTE: THUMBS.DREAMSTIME, 2013. Disponível em: http://thumbs.
dreamstime.com/z/intelig%C3%AAncia-emocional-27770224.jpg
119
seus trabalhos estão disponíveis para todos que se 
interessarem em, também, iniciar esta jornada de en-
contro com o outro e consigo mesmo. 
Através de pesquisas realizadas sobre as inte-
rações precoces, muito se descobriu a respeito das 
disposições inatas do recém-nascido. Sabe-se que o 
bebê nasce com um equipamento de base, ou me-
lhor, certa organização neurológica e fisiológica so-
fisticada e com uma gama de funções perceptivas, 
dentre elas a percepção visual, a auditiva e a olfativa, 
que o tornam um parceiro singular em ação de ini-
ciativa e pronto para interagir com a mãe em um 
contexto interpessoal.
Esta organização sofisticada trata-se de um 
modo individual e particular de ritmos estabelecidos 
através do sono e de descargas motoras em intera-
ção com o ambiente. 
Estes ritmos e descargas são diferentes para 
cada bebê, apontam para a originalidade de cada um, 
por exemplo, a figura da mãe para um determina-
do bebê pode funcionar como estímulo pacificador 
frente às descargas motoras provenientes do pró-
prio organismo. Em outro bebê, o estado de alerta 
pode ser alterado quando se vê diante de estímulos 
nocivos, ele pode adormecer aos poucos, revelando 
deste modo a capacidade de subtrair-se do estímulo 
nocivo, ocorrendo uma atividadedinâmica de para-
-excitação (BRAZELTON, 1987).
120
Este exemplo de uso do estado de vigília de-
monstra uma complexa capacidade de o bebê orga-
nizar-se diante de um estímulo, uma capacidade de 
se tranquilizar. Pode ocorrer também uma reação 
diferente desta citada, dependendo da originalidade 
do mesmo, ele pode se expor ainda mais ao estí-
mulo, permanecendo acordado, como no caso das 
insônias precoces.
Com relação às funções perceptivas, sabe-se que 
o bebê nasce preparado para receber os estímulos 
vindos do adulto, discriminá-los e a respondê-los de 
modo que a comunicação entre ambos se estabeleça.
Deste modo, o bebê não é somente um reflexo 
do ambiente, ele vai, também, através da interação 
com sua mãe, provocá-la de modo ativo para o iní-
cio de um processo de comunicação e aprendizagem 
entre ambos.
Este recorte teórico feito sobre o funcionamen-
to psíquico dos bebês aponta para uma potenciali-
dade praticamente inata da inteligência emocional 
e relacional, neurologicamente, o ser nasce pronto 
para manifestar-se de modo espontâneo e habilitado 
para o encontro humano, tais potencialidades em-
brionárias ficam aguardando para serem despertadas 
em um primeiro momento, através do outro, mas, 
em um segundo momento, este mesmo bebê já cres-
cido e adulto pode vir a ser um agente do desper-
tar humano, para pessoas que em decorrência dos 
121
traumas da vida se veem encapsuladas em sua dor e 
impedidos de reabilitar sua competência emocional 
e relacional.
A próxima sessão desta unidade vai tratar sobre 
o conceito de resiliência, já introduzido levemente 
no parágrafo anterior. 
4.3 Resiliência
O termo Resiliência tem sua origem na discipli-
na da física, trata-se de uma capacidade de um de-
terminado material que, após sofrer tensão, retorna 
a seu estado original, exemplos destas matérias são 
os utilizados pelos dentistas na fabricação de apare-
lhos ortodônticos. Estes materiais acumulam energia 
quando submetidos ao estresse sem se romperem, 
após o período de exposição à tensão.
Esta terminologia, embora originalmente surgi-
da na área de física, vem sendo utilizado e adaptado 
para outras áreas do conhecimento, como na psico-
logia, tornando-se um conceito psicológico aplica-
do aos indivíduos, às famílias, às organizações e nas 
áreas sociais.
Por resiliência pode-se entender que são pro-
cessos de superação que os indivíduos vivenciam 
após se depararem com crises e adversidades (YU-
NES, 2001). O conceito de resiliência compreendi-
do desta forma aproxima-se da compreensão que é 
122
dada pelos pesquisados brasileiros e de língua latina, 
portanto, um pouco diferente dos pesquisadores in-
gleses e americanos, como será apontado a seguir.
Embora o termo resiliência fosse familiar nas 
disciplinas da física e engenharia, o seu uso pelas ci-
ências humanas é relativamente novo e adquire, com 
relação ao construto teórico sobre resiliência, sig-
nificados diferentes em diferentes países nos quais 
vem sendo pesquisado, variando de acordo com a 
familiaridade com o termo e o tempo. Tal distinção 
torna-se importante na introdução desse tema para 
melhor compreensão.
Os estudos norte-americanos e ingleses sobre 
resiliência, ligados à área da psicologia, surgiram, ini-
cialmente, no final da década de setenta e no início 
dos anos oitenta, quando, neste período, ocorreram 
mudanças de enfoque nas pesquisas em psicologia, 
em consequência de demandas que surgiram ligadas 
às mudanças socioculturais. Até então, tais estudos 
eram ancorados na psicopatologia e se debruçavam 
nas questões referentes ao adoecimento do ser, havia 
pouco ou quase nada de material sobre aspectos di-
tos saudáveis. O enfoque era o de avaliação de riscos, 
centrado na doença e em fatores que poderiam levar 
o ser humano a um prejuízo social ou biológico.
Nos estudos iniciais sobre resiliência, acredi-
tava-se que certos indivíduos eram invulneráveis às 
situações traumáticas ou de risco.
123
Através de pesquisas com crianças foi obser-
vado que algumas delas, apesar de expostas a situa-
ções de risco para o desenvolvimento normal, não 
adoeciam, eram praticamente invulneráveis aos ris-
cos (BRANDÃO; MAHFOUD; GIANORDOLI-
-NASCIMENTO, 2011). 
Estes estudos levaram à observação de que cer-
tas crianças possuíam algum grau de vulnerabilidade 
ou predisposição individual para não obterem suces-
so no enfrentamento das situações de risco, assim 
como uma disposição para o desenvolvimento de 
doenças psíquicas ou físicas frente aos traumas, en-
quanto outras apresentavam algumas características 
que as auxiliavam na superação de situações de risco. 
Tais estudos passaram a levantar quais seriam estas 
características.
Embora esses estudos iniciais praticamente 
descrevam inicialmente crianças invencíveis, poucos 
pesquisadores fixaram somente nesta ideia, pois a 
ideia de invencibilidade limitava as pesquisas. 
No que diz respeito a um dos conceitos de 
resiliência atuais utilizado na área da psicologia, a 
American Psychological Association (APA, 2010) 
aponta a resiliência como um processo no qual o ser 
consegue se adaptar a experiências muito complexas 
e difíceis com eficácia, através do exercício de seus 
recursos, como flexibilidade mental e emocional e 
manejo de demandas externas e psíquicas internas.
124
Neste conceito sobre resiliência, observa-se 
que ocorre uma mudança, o ser não é exatamente 
invencível, mas é capaz de processualmente acio-
nar recursos ou potências para superar uma situ-
ação traumática.
A mudança de enfoque que surge a partir destas 
décadas de pesquisas em resiliência, trata-se de uma 
mudança de paradigma que levou os pesquisadores 
a mudarem do enfoque de riscos para o enfoque de 
resiliência. O enfoque na resiliência aponta que os 
fatores de risco irão encontrar pessoas que não esta-
rão simplesmente paradas ou determinadas a danos 
permanentes, mas vão reagir, superar e voltar a viver, 
apesar do sofrer.
Outro pesquisador sobre resiliência, Sabbag 
(2012) aponta que tal fenômeno humano diz respei-
to a certa competência dos seres ou de instituições 
que auxilia no enfrentamento das adversidades, pos-
sibilitando inclusive, uma aprendizagem nova. Neste 
sentido, trata-se de um fenômeno humano que pode 
ser desenvolvido e melhorado, pois tal fenômeno se 
apresenta como um processo de tomada de consci-
ência das atitudes e habilidades ativadas no enfren-
tamento do sofrimento e uma postura ativa frente à 
dor de resolutividade. 
Ainda nesta linha de pensamento de Job (2003), 
através de seus estudos sobre resiliência em institui-
ções, conclui que tal competência denota também, 
125
uma postura ativa frente à situação geradora de ten-
são ou sofrimento em uma tentativa e desejo de re-
solver o problema.
Até este momento, as definições sobre o 
conceito de resiliência baseiam-se nos estudos 
americanos e ingleses e dizem respeito a com-
petências que um indivíduo ou uma organização 
para lidar com a adversidade. 
Estes estudos, embora alguns sejam atuais, se-
guem a linha de raciocínio cujo conceito de resili-
ência diz respeito a uma capacidade de resistir aos 
problemas sem ser afetado, são pessoas que resistem 
ao estresse sem adoecerem e são auxiliados neste 
processo através de características individuais, tais 
como: personalidades flexíveis, sociabilidade, criati-
vidade na resolução dos problemas e senso de auto-
nomia (YUNES, 2003). 
As pesquisas quantitativas nesta abordagem do 
fenômeno naturalizam a resiliência como uma capaci-
dade humana e como um indicativo de vida saudável.
Em seu artigo sobre resiliência, Yunes (2003) 
aponta algumas características de famílias resi-
lientes, como as famílias que conseguem atribuir 
sentido às adversidades, olhando-as positivamen-
te, com certa transcendência e espiritualidade. 
Apresentam também flexibilidade, coesão, recur-
sos sociais e econômicos com relação aos padrões 
de organização. No que diz respeito à comunica-
126
ção nestas famílias resilientes, ela é exercida comclareza, e as emoções são expressas abertamente, 
apresentam também comportamento colaborati-
vo entre si frente às adversidades. 
Os pesquisadores brasileiros e de língua latina 
vão compreender o conceito de resiliência de for-
ma ampliada, para eles, resiliência trata-se de uma 
possibilidade de recuperação, mas esta recuperação 
vai além de simplesmente recuperar-se de um dano, 
significa uma superação do que se era. As pesqui-
sas que são realizadas a partir desta concepção do 
conceito se interessam por indivíduos fragilizados 
frente às adversidades, tem como meta recuperá-los, 
fortalecê-los para que ocorra a superação do trau-
ma (BRANDÃO; MAHFOUD; GIANORDOLI-
-NASCIMENTO, 2011).
Esses pesquisadores não abandonaram com-
pletamente o conceito de resiliência relacionado 
aos fenômenos de resistência ao estresse, mas eles 
acrescentaram a este conceito a ideia de resiliência 
como um processo de superação e recuperação após 
situações traumáticas. Assim como muitas pesquisas 
americanas e inglesas, atualmente, se apoiam no con-
ceito de resiliência tal como descrito.
Pode-se pensar então que resiliência são pro-
cessos a serem cuidadosamente avaliados que dizem 
respeito tanto a características individuais que uma 
pessoa possa ter e que a auxiliem a resistir as adver-
127
sidades, ou ao estresse, quanto à condição ou possi-
bilidade de superação e recuperação de pessoas que 
não resistiram às adversidades e adoeceram. 
Desta forma, o conceito torna-se mais realista 
e aplicável tanto em indivíduos como em organiza-
ções, e a partir desta visão pode-se pensar que todos, 
de alguma forma, podem auxiliar no processo de 
resiliência de pessoas que se encontram em adversi-
dades através do simples exercício da solidariedade. 
Pois, com a ampliação do conceito e das pesquisas 
neste campo, outro termo importante surge que diz 
respeito aos tutores de resiliência.
O psicanalista Cyrulnik (2004) trata do con-
ceito como um processo, um conjunto de fenôme-
nos sincronizados que dizem respeito à capacidade 
do ser de lutar frente à adversidade, mas também 
de uma abertura para receber uma mão estendida 
quando já se sucumbiu a dor, e esta pode vir do 
social através de uma professora, ou um técnico de 
enfermagem em um hospital, ou ainda através de 
um processo de psicoterapia, neste sentido todos 
podem ser tutores da resiliência, da recuperação de 
alguém que está em sofrimento. 
O processo de resiliência para este pesquisador 
inclui a fala, mas é necessária a espera do ser para 
que ele consiga falar, pois, ao falar sobre o trauma, 
ele o revive e a ferida é sentida, mas, desta vez, para 
que ela seja cicatrizada.
128
O resiliente tem guardado dentro de si vivên-
cias infantis seguras que o auxiliam a receber a mão 
estendida, mas Cyrulnik (2004) afirma que mesmos 
os seres que foram privados de tais vivências po-
dem obtê-las mais tarde, porém, lentamente, es-
tas serão assimiladas. Esta construção é possível, 
contanto que o meio ofereça para os feridos alguns 
tutores de resiliência. Pessoas dispostas a escutar 
e acolher o sofrimento do outro em um simples 
movimento de solidariedade.
Antes de finalizar esta obra, vale ressaltar que 
os feridos estão em toda parte, nas famílias, nos gru-
pos de trabalho, nas ruas e até mesmo nos grupos de 
lazer, assim como os tutores de resiliência em poten-
cial, e, às vezes, como aponta Cyrulnik (2004), uma 
simples palavra ou expressão de um sorriso serve de 
instrumento de resiliência para quem foi ferido. Vale 
ressaltar também que pensar em relações humanas 
e liderança também é lembrar que a solução para o 
ser humano está no próprio humano e nesta incrível 
jornada que é este encontro. 
Figura 20: resiliência
129
FONTE: http://reginagiannetti.files.wordpress.com/2013/04/resiliencia-
blog.png
130
Exercícios
1) O que são aspectos subjetivos?
2) Quais são os grupos que podem se beneficiar 
com estratégias grupais?
3) Como as técnicas grupais podem ser divididas?
4) O que é consciência crítica? 
5) Quais são as capacidades da inteligência 
emocional? 
133
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