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Engenharia biomédica e gestão de equipamentos médicos APRESENTAÇÃO A grande demanda de novas tecnologias na área da saúde e o aumento da expectativa e da qualidade de vida da população mundial fazem surgir um novo profissional, que ligue o setor técnico de Engenharia com os profissionais de saúde. Esse profissional recebe a denominação de engenheiro biomédico, e ele surge com a promessa de transformar as demandas de uma indústria crescente na área da saúde em produtos com alta qualidade, segurança e eficácia. Entre as principais atividades realizadas por essa classe profissional, destaca-se a gestão dos equipamentos médicos no ambiente hospitalar. Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá aprender sobre a área da engenharia biomédica e o surgimento desse ramo de atuação e seu impacto junto às tecnologias em saúde e sobre o ambiente hospitalar. Você também será capaz de verificar como a engenharia biomédica pode contribuir no funcionamento de um hospital, nos processos de controle de riscos, aquisição de tecnologias em saúde, manutenções e todo o processo que envolve a gestão dos equipamentos médicos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Detalhar as características mais importantes a respeito da engenharia biomédica.• Identificar as formas de organização dos processos de trabalho da área de engenharia biomédica. • Definir instrumentos de planejamento e gestão dos equipamentos médicos.• INFOGRÁFICO A engenharia biomédica é um curso multidisciplinar tanto de formação quanto de atuação dos seus profissionais. Sua grade curricular é composta por conceitos de anatomia humana, cálculos, físicas, sistemas de gestão e conhecimento do funcionamento de diversos produtos médicos. Por ser uma área de atuação entre saúde e tecnologias, suas práticas relacionam-se a questões técnicas, de comunicação, gestão, legislações e sua aplicação no campo prático e do ambiente hospitalar. Dessa forma, uma pluralidade de práticas e características deverá ser desenvolvida para que a engenharia biomédica possa ser aplicada no ambiente hospitalar. Veja mais no Infográfico a seguir. CONTEÚDO DO LIVRO Os processos de diagnóstico e tratamento dos pacientes evoluem muito rápido atualmente. Essa grande evolução dá-se por uma demanda crescente de equipamentos médicos presentes nos hospitais. Ao encontro dessa demanda de equipamentos médicos, faz-se necessário um setor específico que seja dedicado às práticas de gestão destes, permitindo aos profissionais de saúde executarem suas práticas sem preocupações com equipamentos e fatores técnicos relacionados a estes. No capítulo Engenharia biomédica e gestão de equipamentos médicos, da obra Hotelaria, hospitalidade e humanização, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai compreender melhor o que é a engenharia biomédica e a gestão de equipamentos e como esses processos de gestão acontecem. Você vai perceber que a engenharia pode atuar de forma a auxiliar para a maior segurança e qualidade do atendimento aos pacientes, promovendo um trabalho multidisciplinar com as equipes de saúde e administrativas do hospital. Boa leitura. HOTELARIA, HOSPITALIDADE E HUMANIZAÇÃO Luiz Fernando Junior Rodrigues Engenharia biomédica e gestão de equipamentos médicos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Detalhar as características mais importantes a respeito da engenharia biomédica. Identificar as formas de organização dos processos de trabalho da área de engenharia biomédica. Definir instrumentos de planejamento e gestão dos equipamentos médicos. Introdução A engenharia biomédica é uma área de atuação de profissionais de engenharia que surge da crescente demanda por tecnologias dentro do ambiente hospitalar, para tratamento e diagnóstico de doenças e para garantir melhor qualidade de vida às pessoas. A engenharia biomédica surgiu nos anos de 1950–1960 e é caracterizada pelo desenvolvimento de dispositivos médicos (ENDERLE; BLANCHARD; BRONZINO, 2005). Atual- mente, a engenharia biomédica é uma área multidisciplinar e de capaci- dade plural, podendo atuar no desenvolvimento de dispositivos médicos, novos biomateriais, estudos de biomecânica, gestão de tecnologias no ambiente hospitalar, engenharia de reabilitação e bioinformática. No Brasil, nos anos 1970, o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Gra- duação e Pesquisa de Engenharia (COPPE), programa de pós-graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi o pioneiro na área de engenharia biomédica. Após cerca de três décadas, surgiram os pri- meiros cursos de graduação no Brasil, sendo a Universidade do Vale da Paraíba (UNIVAP) a pioneira nessa modalidade de práticas. Desde então, há crescente demanda da engenharia biomédica, principalmente para a gestão dos equipamentos médicos nos hospitais, sendo o profissional reconhecido pelo sistema CONFEA/CREA. A gestão dos equipamentos médicos é uma das partes mais re- levantes para a continuidade das práticas em saúde e gestão do hospital como um todo. Sua necessidade se refere à segurança dos pacientes e dos profissionais de saúde e à otimização de recursos financeiros do hospital. Equipamentos que apresentam manutenção e calibração em dia tendem a falhar menos, e isso tem impacto direto no número de pacientes atendidos e/ou na redução do tempo de espera para tratamentos ou diagnósticos. Pacientes, profissionais de saúde e administração são beneficiados pela maior eficiência dos serviços prestados. Neste capítulo, você vai estudar sobre a engenharia biomédica e sua importância na qualidade e na segurança nos atendimentos em saúde. Você verá como surgiu o conceito de engenharia biomédica e toda a sua complexidade para dentro e fora do ambiente hospitalar. Além disso, você estudará sobre como a engenharia pode usar suas habilidades e competências para a construção de métricas e como estas são aplicáveis às práticas diárias da saúde. 1 Contexto da engenharia biomédica Nas últimas décadas, a engenharia biomédica tem apresentado um papel fundamental no desenvolvimento das mais variadas classes de tecnologias com foco na saúde (Figura 1). Grupos de pesquisa ao redor do mundo têm procurado desenvolver novas ferramentas para a análise de imagens de raios x e ressonância magnética. A inteligência artifi cial se torna a cada dia uma ferramenta importante para o setor da saúde e muitos profi ssionais e pesquisadores têm procurado, por meio dessa ferramenta, diagnosticar doenças e lesões que são praticamente impossíveis de serem detectadas por meio do olho humano, na análise de uma imagem de ressonância, mas que a máquina consegue encontrar padrões em bancos de dados e, assim, diagnosticar com até três anos de antecedência uma doença no joelho, por exemplo. Outros grupos têm procurado formas de criar biomateriais que sejam capazes de interagir com o organismo humano, de forma a estimular a produção de novos tecidos, garantindo uma recuperação mais rápida de Engenharia biomédica e gestão de equipamentos médicos2 uma lesão ou cirurgia. A engenharia de tecidos é uma das formas que a engenharia biomédica tem trabalhado para criar dispositivos implantáveis que sejam mais biocompatíveis e bioativos. Essas práticas têm uma vasta aplicabilidade, principalmente em pacientes que sofreram lesões graves e que foram acometidos por doenças como o câncer e que precisaram remover grandes quantidades de tecidos. Figura 1. Diagrama das diversas áreas de atuação da engenharia biomédica. Muitos estudos têm focado na questão de engenharia de reabilitação e no uso de robótica e microcontroladores para devolver às pessoas o movimento de membros superiores e inferiores. Equipes usando as mesmas tecnologias aplicadas ao estudo do movimento, importantes no desenvolvimento de próteses e na criação de filmes de ação, têm auxiliadoatletas e equipes esportivas para maximizar os seus desempenhos e minimizar os riscos de lesão deles. 3Engenharia biomédica e gestão de equipamentos médicos No ambiente hospitalar, a engenharia biomédica a cada dia se torna mais importante. A grande utilização de equipamentos eletrônicos para diagnós- tico, cuidado e tratamento dos pacientes força a necessidade de uma equipe com forte conhecimento na área de eletrônica, programação, biomateriais e conhecimento dos tecidos e sistemas do corpo humano. Nesse sentido, a engenharia biomédica tem contribuído de maneira ativa e promissora na aplicação de habilidade e conceitos de engenharia aplicados à manutenção, à calibração, à gestão e aos treinamentos para a melhora das práticas de saúde. A engenharia biomédica, como um novo ator dentro do ambiente hospitalar, vem somar às demais equipes, principalmente na ampliação da segurança ao paciente, mas também aos profissionais de saúde. Em muitos hospitais, principalmente nos de alta complexidade, é possível perceber a presença do engenheiro biomédico diretamente nos procedimentos cirúrgicos. Nesses casos, o engenheiro apresenta dois papéis fundamentais. O primeiro está relacionado com a avaliação dos equipamentos médicos pré-cirurgia, de forma a evitar qualquer problema no decorrer da cirurgia. No segundo, a engenharia biomédica ganha papel de destaque, com a participação de pro- fissionais no decorrer de processos cirúrgicos, auxiliando a equipe médica na utilização e no controle de equipamentos de alta complexidade e custos. Esse reconhecimento da importância do cuidado e da gestão dos equipamen- tos médicos no hospital é referenciado pela RDC nº. 02/2010, que estabelece o seguinte texto para o gerenciamento das tecnologias em saúde: […] estabelecer os critérios mínimos, a serem seguidos pelos estabeleci- mentos de saúde, para o gerenciamento de tecnologias em saúde utilizadas na prestação de serviços de saúde, de modo a garantir a sua rastreabilidade, qualidade, eficácia, efetividade e segurança e, no que couber, desempenho, desde a entrada no estabelecimento de saúde até seu destino final, incluindo o planejamento dos recursos físicos, materiais e humanos, bem como da capacitação dos profissionais envolvidos no processo destes (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2010, documento on-line). Apesar de não especificar no texto a questão de um determinado profis- sional ou um setor dentro do hospital, o mercado e os órgãos reguladores e fiscalizadores elencaram a engenharia biomédica para essas práticas e con- troles. Assim sendo, a engenharia é realmente um setor necessário em todos os hospitais e a engenharia biomédica figura entre uma das principais, pois lida diretamente com os profissionais de saúde, pacientes e médicos, seja de forma direta ou indireta. Engenharia biomédica e gestão de equipamentos médicos4 Quando a engenharia biomédica é aplicada dentro do ambiente hospitalar, ela é, muitas vezes, denominada engenharia clínica. Essa nomenclatura é aplicada no sentido de demonstrar que o profissional está atuando em um setor específico para o cuidado dos equipamentos médicos do hospital. Muitos lugares fizeram essa distinção porque a engenharia biomédica é muito mais complexa e maior do que a engenharia clínica, sendo esta considerada uma subárea da engenharia biomédica. 2 Contribuição da engenharia biomédica para a gestão dos equipamentos médicos No ambiente hospitalar, uma das primeiras práticas realizadas pela engenharia biomédica está relacionada à parte de manutenção dos equipamentos médicos. Esta atividade é certamente uma das mais procuradas quando se recomenda o setor de engenharia biomédica/clínica em um hospital. Contudo, a manutenção é uma pequena parte do processo de atuação da engenharia biomédica. A contribuição da engenharia biomédica é muito mais complexa do que simplesmente realizar processos de manutenção, tão pouco realizar consertos de equipamentos que estejam estragados e que necessitem de cuidados imedia- tos. Em um processo de gestão de equipamentos médicos, faz-se necessário o entendimento total do parque tecnológico do hospital e conhecer as equipes de saúde, de tecnologia da informação (TI) e dos setores administrativo e contábil. Somente a partir do conhecimento de todas as variáveis presentes no sistema, a engenharia é capaz de articular processos que auxiliem na gestão geral do hospital e, principalmente, na gestão dos equipamentos médicos. Articulações e práticas diárias da engenharia biomédica Na Figura 2 é apresentado um diagrama de como o setor de engenharia bio- médica (aqui denominado de engenharia clínica) deve articular com os demais atores do ambiente hospitalar. Somente com essa articulação é possível realizar as práticas de gestão dos equipamentos preconizadas por lei e esperadas para maior qualidade dos atendimentos em saúde. A seguir é descrito em maiores detalhes como podem ser estabelecidas essas interações e suas necessidades e motivações. 5Engenharia biomédica e gestão de equipamentos médicos Enfermeiros: profi ssionais que apresentam nível técnico e superior. São a frente de atenção direta com o paciente e usuários diretos de grande parte dos equipa- mentos médicos. Seu contato com a engenharia biomédica é fundamental para registro do parque tecnológico, abertura de chamados de manutenção, controles e aplicação de treinamentos e estudo para aquisição de novas tecnologias. Médicos: profi ssionais de nível superior e que estão diretamente em contato com o paciente. Sua relação, assim como para a enfermagem, deve ser direta com a engenharia biomédica, pois como consumidores das tecnologias, eles detêm grande conhecimento dessas e são fundamentais para a aquisição de equipamentos médicos. Profi ssionais aliados à saúde: neste caso, pode-se incluir outros engenheiros, que têm papel do cuidado da estrutura predial. Muitas vezes, esse setor é denominado de engenharia hospitalar e engloba setores de engenharia elétrica, civil e mecânica. Pacientes: na maioria das práticas e atividades, a engenharia biomédica não vai ter contato direto. Contudo, deverá ser sempre o foco do setor, fomentando a segurança para o atendimento deles. Ambiente hospitalar: engloba toda a estrutura física interna e externa ao hospital. A engenharia biomédica deve ter total acesso e conhecimento dos ambientes, pois os equipamentos médicos necessitam de redes elétricas confi - áveis, redes lógicas robustas e seguras, além de suprimento de redes de gases e vácuo com a qualidade preconizada por lei. Pesquisas clínicas: observadas somente em hospitais de grande porte e alta complexidade. Por ser um setor de alta capacitação técnica e multidisciplinar, o ambiente de engenharia biomédica é favorável e muito necessário para o desenvolvimento de pesquisas, principalmente quando houver a necessidade de equipamentos médicos. Agências reguladoras: estão no cerne das práticas de engenharia. A engenharia deve ser sempre baseada e organizada para cumprir as demandas dos órgãos reguladores e fi scalizadores. Agências de fomento: essenciais para o fomento de pesquisas. Assim como para pesquisas clínicas, suas atividades junto à engenharia são normalmente observadas em hospitais de grande porte e alta complexidade. Engenharia biomédica e gestão de equipamentos médicos6 Convênio público/privado: é importante para a redução de custos e otimização dos recursos fi nanceiros. Neste caso, esses convênios podem ser favoráveis para a otimização do parque tecnológico do hospital. Administração hospitalar: é fundamental o estreito laço entre a administração e a engenharia biomédica. Sem a consciência da alta administração hospitalar não existe gestão dos equipamentos médicos. Gestão é um processo que deve começar de cima, pois envolve custos e demandas de capital humano e material. Vendedores: empresas de vendas de equipamentos, serviços, peças de re- posição, etc. Importantes para o desenvolvimentoda gestão, pois, fora do ambiente hospitalar, a gerência de deslocamento de equipamentos, técnicos e peças fi ca fora do controle da engenharia e uma boa comunicação com eles se torna fundamental. Figura 2. Diagrama que demonstra as práticas do engenheiro dentro do ambiente hospitalar. Fonte: Terra et al. (2014, documento on-line). 7Engenharia biomédica e gestão de equipamentos médicos Como descrito anteriormente, a gestão de equipamentos permeia todos os setores e necessita de comunicação e práticas com a mais variada gama de profissionais. A engenharia biomédica deve ser a centralizadora desses pro- cessos de gestão, contudo, deve-se compreender que não é somente ela a sua responsável. O impacto da gestão bem estruturada e seu efeito na segurança e na qualidade do atendimento corroboram com questões de ética e práticas de saúde no ambiente hospitalar (PORTO; MARQUES, 2016). Para saber mais sobre o impacto da gestão de equipamentos médicos realizada pela engenharia biomédica/clínica, leia o artigo Avaliação econômica da implantação de um serviço de Engenharia Clínica em hospital público brasileiro (SOUZA; MILAGRE; SOARES, 2012). 3 Engenharia e gestão aplicada à saúde Para o desenvolvimento da gestão dos equipamentos médicos, muitas ferra- mentas podem ser aplicadas para auxiliar nas atividades e garantir o desenvol- vimento das práticas. Dentre essas ferramentas, é possível citar as seguintes: engenharia de fatores humanos, análise de modo e efeito de falha no cuidado da saúde (HFMEA, do inglês Heathcare Failure Modes, Effects Analysis), ciclo PDCA, diagrama de Ishikawa, 5W2H e análise de causa-raiz. Análise de modo e efeito de falha no cuidado da saúde O HFMEA é uma metodologia que foi desenvolvida especifi camente para avaliar e controlar os riscos na assistência à saúde (DEROSIER et al., 2002). O método propõe a quebra de sistemas em componentes inferiores para se evidenciar os modos de falha potenciais. É aplicado para o entendimento de um processo ou características de um produto, podendo ser aplicado para a aquisição de uma nova tecnologia ou para os equipamentos já existentes. Sua prática envolve a criação de uma equipe multidisciplinar, tendo como líder uma pessoa com experiência no uso dessa ferramenta. A metodologia é caracterizada pela construção de uma tabela (Quadro 1), que é utilizada para descrever as falhas potenciais, as consequências, as causas e como elas podem ser trabalhadas. Engenharia biomédica e gestão de equipamentos médicos8 HFMEA HFMEA Passo 4 — Análise de riscos HFMEA Passo 5 — Identificar ações e resultados M od o de fa lh a: p rim ei ra a va lia çã o do m od o de fa lh a er m in aç ão d as c au sa s p ro vá ve is Ca us as p ro vá ve is Escore Árvore de decisões Ti po d e aç ão (e lim in ar , c on tr ol ar o u ac ei ta r) Aç õe s r ec om en da da s o u ju st ifi ca tiv a pa ra p ar ar Av al ia çã o do s r es ul ta do s Re sp on sá ve l Pl an o de c on tin gê nc ia Se ve rid ad e Pr ob ab ili da de Ri sc o Fr ag ili da de e m u m ú ni co p on to ? Ex ist em m ed id as d e co nt ro le ? É de te ct áv el ? Co nt in ua r? Quadro 1. Exemplo de planilha do tipo HFMEA Análise de causa-raiz Este tipo de metodologia, como o próprio nome demonstra, tem sua aplicação para a determinação da causa central de um problema observado (TERRA et al., 2014). Sua metodologia inicial é simplifi cada, pois ela apresenta apenas três perguntas primárias para o início do seu estudo: 1. Qual é o problema? 2. Por que este problema aconteceu? 3. Quais são as atividades que podem ser realizadas para corrigir este problema e evitá-lo no futuro? 9Engenharia biomédica e gestão de equipamentos médicos A ferramenta é iniciada com estas questões, mas as respostas obtidas podem ser extremamente complexas e difíceis de serem obtidas. A maneira generalista permite sua aplicação em uma variada gama de atividades diárias da engenharia biomédica. Imagine o caso de um respirador mecânico que apresenta falhas de funcionamento e leva a óbito os pacientes que fazem uso dele. Vamos fazer as perguntas: 1. Qual é o problema? Resposta: O equipamento para sem aviso e alarmes e houve o óbito de um paciente. 2. Por que este problema aconteceu? Resposta: Esta resposta precisará de muitos testes no equipamento. A equipe de engenharia deverá fazer simulações de funcionamento, conectá-lo a analisadores e verificar todos os logs de erro. Isso pode envolver diversos profissionais que atendem às empresas que prestam manutenção e calibração desse equipamento — complexo, demorado e oneroso para o hospital. Neste caso, o equipamento estava funcionando e o problema estava relacionado a uma falha da rede elétrica e a uma conexão de tomada feita de forma indevida no leito do hospital. 3. Quais atividades podem ser realizadas para corrigir este problema e evitá-lo no futuro? Resposta: após observada a causa-raiz do problema, a tomada foi arrumada e a ligação feita de forma indevida foi desfeita. O equipamento não voltou a apresentar o mesmo problema. Como pode ser observado, a análise de causa-raiz é simples nas perguntas, mas isso não significa que as respostas são diretas e fáceis. Para a resolução do caso, foram investidas muitas horas de atividades até encontrar a resposta do problema na tomada. A equipe precisou desenvolver testes em laboratório e na sala em que ocorreu a falha do equipamento e, somente após tudo ter sido avaliado, obteve-se a resposta definitiva. 5W2H A ferramenta do 5W2H apresenta uma grande aplicabilidade em diversas partes da gestão dos equipamentos médicos. A sua construção permite a criação de uma listagem de pontos importantes conforme são elaboradas cinco perguntas: 1. 1W: What? — O quê? 2. 2W: Why? — Por quê? Engenharia biomédica e gestão de equipamentos médicos10 3. 3W: Who? — Quem? 4. 4W: Where? — Onde? 5. 5W: When? — Quando? 6. 1H: How? — Como? 7. 2H: How much? — Quanto custa? Vamos montar um exemplo de como o 5W2H pode funcionar na prática de gestão. Você precisa realizar a compra de um novo respirador mecânico para a UTI e pode fazer esse estudo usando essa ferramenta. Ela pode ser feita em forma de tabela ou em texto, como iremos fazer. 1. O que comprar? Resposta: respirador mecânico para o setor de UTI. A compra deverá atender à demanda de cinco novos leitos de UTI. 2. Por que comprar? Resposta: o hospital vai inaugurar os novos leitos de UTI e não existem equipamentos em estoque que atendam a essa demanda. 3. Quem escolhe o que será comprado? Resposta: será feita uma reunião entre a equipe de engenharia biomédica, os médicos e os enfermeiros da UTI para avaliar as necessidades técnicas. Após a reunião, serão mapeados os fornecedores que atendam a essa demanda. 4. Onde será feita a compra? Resposta: junto ao fornecedor que apresente a melhor proposta. Nela, o fornecedor deverá entregar um descritivo do equipamento, das manutenções, dos treinamentos e das peças de reposição. 5. Como será feita a compra? Resposta: o setor de compra irá realizar as tratativas legais e o processo de compra após as definições técnicas estabelecidas previamente. 6. Quanto irá custar? Resposta: o valor final deve ser inferior ao estabelecido pela alta administração do hospital para a aquisição dos equipamentos. Não há necessidade de comprar o mais barato, porém, deve-se procurar a melhor relação custo e demanda técnica. 11Engenharia biomédica e gestão de equipamentos médicos Como foi descrito neste capítulo, o engenheiro biomédico é um profis- sional multidisciplinar com forte atuação em diversas áreas relacionadas ao desenvolvimento de soluções tecnológicas à saúde. Sua atuação no ambiente hospitalar se torna cada vez mais necessária e suas habilidades relacionadas a conceitos técnicos e de gestãosão importantes para o funcionamento das práticas diárias do hospital. Além disso, foi possível perceber que existem muitas ferramentas importantes para avaliar e gestar as tecnologias em saúde e seu conhecimento e aplicação podem ser o diferencial na solução de diferentes casos no ambiente hospitalar. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução — RDC nº 2, de 25 de janeiro de 2010. Dispõe sobre o gerenciamento de tecnologias em saúde em estabelecimentos de saúde. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil: seção 1, Brasília, DF, n. 16, p. 79, 25 jan. 2010. Disponível em: https://www20.anvisa.gov.br/segurancadopaciente/ index.php/legislacao/item/rdc-2-de-25-de-janeiro-de-2010. Acesso em: 2 maio 2020. DEROSIER, J. et al. Using health care failure mode and effect analysis: the VA National Center for patient safety’s prospective risk analysis system. The Joint Commission Journal on Quality Improvement, [s. l.], v. 28, n. 5, p. 248–267, 2002. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/ S1070-3241(02)28025-6. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/ abs/pii/S1070324102280256?via%3Dihub. Acesso em: 02 maio 2020. ENDERLE, J. D.; BLANCHARD, S. M.; BRONZINO, J. D. Introduction to biomedical engineering. 2nd ed. Burlington: Elsevier Academic Press, 2005. PORTO, D.; MARQUES, D. P. Engenharia clínica: nova “ponte” para a bioética? Revista Bioética, Brasília, v. 24, n. 3, p. 515–527, set./dez. 2016. DOI: https://doi.org/10.1590/1983- 80422016243151. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1983-80422016000300515&lng=pt&tlng=pt. Acesso em: 2 maio 2020. SOUZA, D. B. de; MILAGRE, S. T.; SOARES, A. B. Avaliação econômica da implantação de um serviço de engenharia clínica em hospital público brasileiro. Revista Brasileira de Engenharia Biomédica, Rio de Janeiro, v. 28, n. 4, p. 327–336, dez. 2012. DOI: https:// doi.org/10.4322/rbeb.2012.042. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rbeb/v28n4/ a04v28n4.pdf. Acesso em: 2 maio 2020. TERRA, T. G. et al. Uma revisão dos avanços da engenharia clínica no Brasil. Disciplinarum Scientia. Série: Naturais e Tecnológicas, Santa Maria, v. 15, n. 1, p. 47–61, 2014. Disponível em: https://pdfs.semanticscholar.org/feb1/2a60464bbb344176907d451da22bbb1e0e56. pdf. Acesso em: 2 maio 2020. Engenharia biomédica e gestão de equipamentos médicos12 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 13Engenharia biomédica e gestão de equipamentos médicos DICA DO PROFESSOR Os equipamentos médicos fazem parte da grande maioria dos atendimentos em saúde, e o conhecimento desse parque tecnológico é fundamental em todo hospital. A engenharia biomédica atua como responsável por esses equipamentos, e o seu registro e conhecimento fazem parte dos processos de organização e práticas desse setor. A partir desse registro, é possível o entendimento das demandas necessárias para manutenções, calibrações e cumprimento de resoluções da Anvisa. Na Dica do Professor, você vai conhecer um pouco mais das práticas diárias da engenharia biomédica e como o registro dos equipamentos médicos faz parte dos processos de organização desse setor. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! NA PRÁTICA A gestão de riscos faz parte das práticas diárias de gestão dos equipamentos médicos, e o ciclo PDCA é uma importante ferramenta para essa avaliação. Esse tipo de ferramenta permite aos seus usuários o planejamento, a ação de mudar, a avaliação posterior ao que foi alterado e a aplicação de uma ação de mudança contínua aos processos dentro do hospital. Veja, Na Prática, a aplicação do ciclo PDCA na UTI de um hospital real e como essa ferramenta foi utilizada para avaliar o risco de queda de um monitor multiparamétrico e as ações realizadas para redução dos riscos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Aplicação de métodos de engenharia de fatores humanos para avaliação e mitigação de riscos no processo de radioterapia Nesta dissertação, a autora descreve a aplicação da engenharia de fatores humanos na área da saúde. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Carga de hélio em ressonância nuclear magnética (RNM/MRI) — gases medicinais e engenharia clínica Vídeo muito interessante de um momento não muito comum nas práticas diárias da engenharia biomédica. A carga de hélio não é algo feito de forma corriqueira, pois envolve alto custo e parada de máquina. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! O desafio da gestão de equipamentos médico-hospitalares no Sistema Único de Saúde Neste texto, o autor aborda os desafios e as práticas para a gestão de equipamentos médicos dentro do Sistema Único de Saúde, apresentando as diferenças entre estruturas públicas e privadas e o impacto no qualitativo dos equipamentos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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