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Telemedicina APRESENTAÇÃO Nos últimos anos ocorreu uma verdadeira revolução tecnológica na informática e nas comunicações, que permitiram a integração entre os serviços médicos do mundo, quebrando barreiras geográficas, culturais e, até mesmo econômicas, facilitando a democratização do conhecimento. Dentro desse contexto, surge a telemedicina, que se trata da utilização dos modernos recursos de comunicação em prol das atenções médicas. O avanço da Internet e dos meios tecnológicos permitiu a evolução desses sistemas remotos de medicina, e o impulso para o desenvolvimento da telemedicina foi a potencialidade de suas aplicações práticas, que a tornam necessária para médicos e pacientes. Nesta Unidade de Aprendizagem, você entenderá como surgiu a telemedicina, os processos que envolvem a sua implantação e o que melhorou ou dificultou na saúde a partir dessa inovação. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever a origem da telemedicina.• Identificar os procedimentos e os protocolos de uso da telemedicina.• Enumerar os prós e contras da utilização da telemedicina.• INFOGRÁFICO A telemedicina é definida como a prestação de serviços de medicina a distância e as tecnologias de informação e comunicação são utilizadas para a sua implementação. A palavra vem do grego Tele, que significa (distância) + medicina. É reconhecida como telemedicina desde dois profissionais de saúde discutindo um caso por telefone ao uso de tecnologia avançada em comunicações e tecnologia da informação para realizar consultas, diagnósticos e até cirurgias a distância e em tempo real. Até pouco tempo atrás, o que se esperava era ter acesso físico a um médico, contudo, as distâncias eram grandes e os meios de comunicação e transporte lentos, além da pouca disponibilidade de médicos. Veja, neste Infográfico, como o advento tecnológico trouxe mudanças culturais, maior oportunidade de estudo e meios de comunicação mais rápidos, e como isso interferiu na medicina. CONTEÚDO DO LIVRO A telemedicina é uma realidade presente em diversas áreas da saúde, em vários países pelo mundo, constituindo uma importante inovação que promete revolucionar a prática. Acesso, equidade, qualidade e custo são os principais problemas enfrentados pelos sistemas universais de saúde. Nesse contexto, a telemedicina vem sendo vista como uma ferramenta importante para o enfrentamento dos desafios contemporâneos dos sistemas de saúde pelo mundo. A maioria dos serviços de telemedicina já é rotineiramente oferecida nos países mais desenvolvidos. Nos países em desenvolvimento, a telemedicina tem o potencial de solucionar grandes desafios da saúde, especialmente na ampliação do acesso a serviços médicos especializados, na melhoria da qualidade da atenção à saúde, na redução do tempo gasto entre o diagnóstico e a terapia, na racionalização de custos e no apoio à vigilância epidemiológica, auxiliando na identificação e no rastreamento de problemas de saúde pública. No capítulo Telemedicina, da obra Tecnologias em saúde, você vai conhecer a origem da telemedicina, entender os procedimentos e os protocolos envolvidos e identificar os pontos positivos e negativos de sua utilização. Boa leitura. TECNOLOGIAS EM SAÚDE Gésica Graziela Julião Telemedicina Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deverá apresentar os seguintes aprendizados: � Descrever a origem da telemedicina. � Identificar os procedimentos e protocolos de uso da telemedicina. � Enumerar os prós e contras da utilização da telemedicina. Introdução Ao longo dos anos, a assistência médica passou a focar no paciente e não mais na doença. Com isso, as tecnologias da informação e comu- nicação se combinaram para formar a telemedicina, a fim de oferecer assistência médica àqueles que a necessitam nos mais diferentes lugares. A telemedicina é a prática realizada por meio da telecomunicação para diagnóstico, monitorização e tratamento de pacientes em situações em que não é possível realizar o atendimento de forma presencial. Essa prática veio para facilitar o acesso dos pacientes aos recursos de cuidado em saúde, permitindo aos médicos diagnosticar e tratar sem atrasos e deslocamentos desnecessários. Embora o conceito de telemedicina possa parecer muito recente, essa forma de prestação de serviços de medicina a distância está em funcionamento há algumas décadas. No início do século XIX, foram feitas as primeiras tentativas de enviar imagens radiográficas por telegrafia. Nos dias atuais, essas práticas foram concretizadas e já é possível fazer consultas médicas em tempo real por meio de sistemas de câmeras e microfones, além de realizar cirurgias por meio de robôs comandados por um cirurgião especialista a quilômetros de distância. Por essas razões, torna-se fundamental que os profissionais de saúde conheçam essas possibilidades de assistência à saúde, pois somente com a prática que a técnica é desenvolvida e divulgada. Em razão do potencial oferecido pela telemedicina em assistência médica, educação a distância e pesquisa científica, é imprescindível aprofundar sua definição, seu campo de ação, sua importância e a sua constante inovação, a fim de oferecer cada vez mais benefícios para os profissionais e os pacientes. Neste capítulo, você vai conhecer a origem da telemedicina, enten- der os procedimentos e protocolos envolvidos e identificar os pontos positivos e negativos de sua utilização. Origem da telemedicina Acredita-se que a ideia de transmitir informações a distância para fins médicos surgiu logo após a invenção do telefone por Alexander Graham Bell, quando um médico foi consultado sobre tratamentos e indicações de pacientes localizados em áreas distantes. Na literatura, o registro de que o telefone foi utilizado para transmitir imagens radiográficas data de 1950 e foi feito na Universidade da Pensilvânia. Em 1959, na Universidade de Nebraska, foram unidos dois equipamentos de televisão bidirecional com outras salas, transmitindo imagens e sons que posteriormente foram utilizados em terapias de grupo. No início dos anos 60, surgiu a transmissão radial de navios que, estando longe do porto, precisavam de relatórios médicos de radiografias e eletrocardiogramas. Em 1967, a Universidade de Miami e o Jackson Memorial Hospital tornaram- -se os pioneiros na transmissão de eletrocardiogramas de unidades móveis de bombeiros. Já em 1968, os primeiros sons de um estetoscópio, um microscópio e um eletrocardiograma foram transmitidos no Hospital de Massachusetts (COSOI, 2002). Na atualidade, as tecnologias de informação e comunicação uniram-se para criar a telemedicina com o objetivo de disponibilizar assistência médica a quem necessita e se encontra em locais isolados, sem acesso à assistência médica adequada. A telemedicina inclui a educação em saúde, as saúdes pública e comunitária, o desenvolvimento de programas e políticas de saúde e prevenção, os estudos epidemiológicos, entre outros. Entretanto, foi o cres- cimento da internet que difundiu o serviço conhecido como e-health, que se refere a toda prática de medicina realizada por meio dessa rede. A telemedicina está direcionada a diversas áreas e atores da sociedade, como: universidades, hospitais, atenção primária, secundária e terciária à saúde, clínicas privadas, médicos, enfermeiros, paramédicos, população em geral, entre outros setores. Pretende-se com essa prática conquistar mais respaldo científico nas tomadas de decisão, diminuir a variabilidade clínica, atender às expectativas dos pacientes e dos profissionais com relação à possibilidade de atender a todos independentemente do local onde reside e que a qualidade da Telemedicina2 assistência seja similar àquela oferecida no atendimento tradicional (CABRAL; GALVÁN; CANE, 2008). De acordo com Cabral, Gálvan e Cane (2008), os principais objetivos da telemedicina são: � prevenir,alertar, supervisionar e controlar a disseminação das doenças transmissíveis e não transmissíveis, melhorando a vigilância epidemio- lógica em saúde; � contribuir para a integração dos serviços que compõem o sistema de saúde, com qualidade, eficiência e equidade para benefício de todos, especialmente daqueles que estão em maior vulnerabilidade social; � promover a colaboração mútua entre governos, planejadores, profissio- nais de saúde, sociedade civil e comunidades locais para criar um sistema de informação e atenção de saúde confiável, oportuno e qualificado, por meio da capacitação para investigação, prevenção e controle de doenças; � agilizar a assistência prestada, por meio da definição de condutas em tempo real, diminuição de encaminhamentos desnecessários, facilita- ção de diagnósticos oportunos e tratamentos menos onerosos para a população. Assim como outras tecnologias, a telemedicina não tem uma definição universalmente estabelecida. Por exemplo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), trata-se da oferta de serviços ligados aos cuidados com a saúde, nos casos em que a distância é um fator crítico. Tais serviços são providos por profissionais da área de saúde, por meio de tecnologias de informação e de comunicação para diagnósticos, prevenção e tratamento de doenças, para a contínua educação de profissionais de saúde, assim como para fins de pesquisa e avaliações, em que o objetivo principal é melhorar a saúde das pessoas e das comunidades (URTIGA; LOUZADA; COSTA, 2004). Essa definição da OMS contempla a oferta de serviços, a educação perma- nente dos profissionais e a pesquisa. Já a definição da American Telemedicine Association, além destas, inclui a educação para o paciente. A definição da National Aeronautics and Space Administration (NASA) aborda a permanência do homem no espaço. E a definição da Telemedicine Information Exchange enfatiza a importância das tecnologias de comunicação na transferência de dados. Dentro do contexto de definições, cabe aqui esclarecer alguns termos. O termo telemedicina é utilizado para referir os serviços de saúde à distância, com intuito de promoção de saúde, controle de doenças, instrução ao paciente ou comunidade, dentre outras coisas. Já o termo telessaúde é utilizado quando 3Telemedicina a telemedicina está orientada ao campo da gestão da saúde pública (URTIGA; LOUZADA; COSTA, 2004). Procedimentos e protocolos de uso da telemedicina A telemedicina pode interagir com qualquer disciplina da medicina, desde a cirurgia até a análise epidemiológica em zonas endêmicas, assim como ajuda a otimizar a cobertura de saúde nas regiões remotas, estendendo o alcance das especialidades médicas e melhorando a interação entre as instituições de saúde e os pacientes. Essas contribuições podem ser enquadradas dentro de um conjunto de serviços básicos, dentre eles a teleinformação, a teleassistência, o telemonitoramento, entre outros. A teleinformação, por exemplo, permite capacitar vários profissionais de saúde de diferentes áreas e localidades, por meio de videoconferências com um corpo docente altamente capacitado. Dessa forma, se resolvem problemas ocasionados pela distância, pelos altos custos dos treinamentos presenciais (CABRAL; GALVÁN; CANE, 2008). Já a teleassistência, ou teleconsulta, surgiu com a necessidade de reduzir custos e desconfortos com deslocamentos, melhorar a atenção à saúde de pacientes que precisam de revisões periódicas por tempo indeterminado, como os portadores de doenças crônicas. Com essa tecnologia, a assistência à saúde pode ser realizada com o paciente em sua casa, em seu trabalho ou internado em outra instituição de saúde, por meio de uma conexão remota com um profissional capacitado. A utilização de telemonitoramento por wearable devices (dispositivos vestíveis que têm biossensores, por exemplo, relógios que têm entre suas funções o monitoramento cardíaco e que por meio de aplicativos conseguem armazenar tais informações), ajuda a controlar os sinais vitais do paciente e armazenar a história clínica dele em uma base de dados que permite que o profissional busque essas informações no momento do atendimento ao paciente (CABRAL; GALVÁN; CANE, 2008; MALDONADO; MARQUES; CRUZ, 2016). Segundo Cabral, Galván e Cane (2008) e González Fraga e Herrera Rodríguez (2007), a telemedicina, portanto, pode ser classificada em cinco tipos fundamentais. Veja a seguir. 1. Telediagnóstico: envio de dados, sinais e imagens com finalidade diagnóstica. Telemedicina4 2. Telemonitoramento: monitoramento remoto de parâmetros vitais com finalidade de vigilância e identificação precoce em caso de alterações que colocam a vida do paciente em risco. 3. Teleterapia: controle de equipamentos a distância. 4. Teledidática: uso de videoconferências para educação em saúde de pacientes e capacitação de profissionais. 5. Telecomunicação: aplicação de recursos adaptados para pessoas surdas, mudas, cegas, entre outras limitações, para que seja possível ofertar assistência preventiva de agravos e promotora de saúde a essa população também. Nos últimos anos, empresas multinacionais têm investido muito na produção de dispositivos tecnológicos que se utilizam da telemedicina para serem usufruídos por profissionais e pacientes. Isso se deve ao grande desenvolvimento das teleco- municações e dos softwares que são capazes de armazenar grande quantidade de informações e transmiti-las em tempo real. Essa transmissão pode ser realizada por meio de relatórios, de vídeo ou de som e a quilômetros de distância (COSOI, 2002). Associados a esses dispositivos, são incorporados estetoscópios eletrônicos capazes de transmitir sons do coração e do pulmão para um médico especialista avaliar de forma remota e poder intervir na assistência quando necessário. Os sons transmitidos pelo estetoscópio são semelhantes aos obtidos pela escuta direta do paciente e, eventualmente, permitem o diagnóstico de pneumonia, derrame, sopro cardíaco, entre outros agravos (COSOI, 2002). Na dermatologia, também são utilizadas câmeras dermatoscópicas, que enviam imagens de alta definição para serem avaliadas por dermatologistas. Dessa forma, é possível realizar acompanhamento de lesões suspeitas ou encaminhamento quando necessário. A utilização de um otoscópio e um escopo odontológico, assim como a de um dermatoscópio, pode facilitar o diagnóstico de forma precisa e a distância (COSOI, 2002). Em cirurgia, a telemedicina pode ser empregada de diferentes formas, uma delas é o ensino a distância, no qual as cirurgias podem ser transmitidas por internet de alta velocidade em tempo real ou previamente gravadas. Assistir as cirurgias em tempo real permite a discussão entre o cirurgião e demais pessoas durante o acompanhamento das operações. Nesses casos, os aspectos técnicos, as dificuldades e o processo decisório são compartilhados com a 5Telemedicina plateia, o que pode aumentar o nível de compreensão de todos os envolvidos e interferir no processo decisório do cirurgião. As cirurgias gravadas, por outro lado, não permitem que se vivenciem todos os momentos das operações, o que pode limitar a amplitude do aprendizado. Porém, não impedem a discussão entre plateia, cirurgião e demais pessoas e, ainda, utilizam menos tempo de transmissão do que as cirurgias ao vivo, o que resulta em menores custos (CUTAIT, 2001). Do ponto de vista ético, as transmissões de cirurgia ao vivo ou gravadas necessitam do consentimento do paciente, após explicar-lhe as implicações da cirurgia ao vivo, bem como se deve preservar sua identidade. Do ponto de vista legal, cabe relatar ao paciente quem o irá operar. Aspectos adicionais que estão sendo ponderados dizem respeito ao acesso e à posse das informações geradas pelo procedimento (CUTAIT, 2001). Por essas e outras questões, incluindo as exigências tecnológicas, o uso da robótica e as habilidades necessárias aos profissionais para atuarem com eficiênciae segurança, é que a telecirurgia tem muitas barreiras a serem superadas até atingir um nível de maturação satisfatório (URTIGA; LOUZADA; COSTA, 2004). A telemedicina tem sido aplicada em muitas especialidades da medicina convencional, entretanto, com níveis de maturação diferentes para cada área. A radiologia e a patologia são duas especialidades muito desenvolvidas dentro da telemedicina, em razão do fato de comumente os radiologistas e os patolo- gistas não interagirem diretamente com o paciente, mas, na maioria das vezes, apenas com o diagnóstico por meio de imagens. Sendo assim, a telemedicina não alterou a forma com que esses profissionais estão habituados a trabalhar, o que consequentemente contribui para a aceitabilidade dessas especialida- des dentro da telemedicina. Cabe ressaltar que a maneira como as imagens chegam a esses profissionais mudou com o advento da telemedicina, mas a forma de interpretação diagnóstica das imagens, não (URTIGA; LOUZADA; COSTA, 2004). A dermatologia e a oftalmologia são especialidades em fase de maturação. Acredita-se que essas áreas da medicina ainda não tenham alcançado maior aceitação da telemedicina em razão da falta de padrões tecnológicos e de protocolos clínicos testados e disseminados. Entretanto, a teledermatologia tem um grande potencial para se desenvolver, porque a maioria das doenças estão visíveis, tornando perfeitamente possível os diagnósticos por meio de imagens. Da mesma forma, o uso da teleoftalmologia também se mostra bastante apropriado, já que os dispositivos ópticos e de imagem proveem Telemedicina6 a base para a maioria das avaliações dos pacientes, permitindo ao médico diagnosticar, prescrever e tratar o paciente a distância, com base em imagens do olho (URTIGA; LOUZADA; COSTA, 2004). Prós e contras da utilização da telemedicina Prós Existe acordo entre os pesquisadores sobre as evoluções da Telemedicina em relação à segurança, efetividade, eficiência e satisfação. De maneira geral, os pacientes e profissionais apresentam um alto grau de satisfação com o uso da telemedicina por favorecer o acesso mais equitativo à população, preservando a intimidade e a confidencialidade da informação transmitida, assim como um interesse em criar e regulamentar as leis de proteção aos dados em saúde (CABRAL; GALVÁN; CANE, 2008). Em um estudo realizado na Espanha por Chugani et al. (2009), os par- ticipantes avaliaram os benefícios do uso da telemedicina na resolução de diferentes problemas. Dentre as situações referidas como melhores após a implementação da telemedicina, estão: a capacitação e a pesquisa em saúde, a comunicação entre profissionais e serviços de diferentes especialidades e níveis de assistência, a grande procura por consultas médicas, as listas de espera por atendimentos e o excesso de tarefas burocráticas. Problemas como dificuldade de acesso aos serviços de saúde ou a profis- sionais especializados, tanto por motivos geográficos como por limitações físicas ou segurança no deslocamento, no caso de pacientes em privação de liberdade, também podem ser minimizados com a utilização da telemedicina. Nas especialidades como psiquiatria e infectologia a possibilidade de atender com qualidade sem expor o paciente à estigmatização da sociedade é outro fator relevante (CHUGANI et al., 2009). González Fraga e Herrera Rodríguez (2007) referem que estudos sobre a eficácia da telemedicina em muitos países sugerem que é um recurso que contribui expressivamente para a melhoria da qualidade da assistência médica, para a redução do tempo entre o diagnóstico e o tratamento, assim como para a extensão dos serviços médicos às localidades de difícil acesso. Além disso, os custos com hospitalização, transporte e pessoal são reduzidos. 7Telemedicina A possibilidade de operar ou controlar uma cirurgia a distância constitui-se em grande desafio científico e tecnológico, sendo uma conquista importante para a medicina, reconhecida pela classe médica e pela população em geral. Trata-se de uma prática de controle parcial dos instrumentos cirúrgicos a dis- tância, sendo que o procedimento propriamente dito é realizado pelo cirurgião local. Outra vantagem referida por Cutait (2001) é a troca de informações entre os profissionais, em especial nos casos de maior complexidade, quando falta experiência ou quando se pretende compartilhar responsabilidade. Um dos exemplos de utilização dessa prática são os casos de urgência, pois em algumas situações o plantonista não tem as qualificações necessárias para tomar as melhores decisões. Assim, um campo enorme de atuação é nas cirurgias de urgência, em que nem sempre o plantonista tem as credenciais apropriadas para tomar as melhores decisões. O aparecimento de novas tecnologias e inovações na medicina permitem o desenvolvimento de muitas investigações e a divulgação de seus resultados, o que resulta em conhecimentos mais concretos na área médica e oferece a possibilidade de ampliar muitos serviços de saúde e aprimorar ferramentas de apoio para diagnóstico, prevenção, promoção e emergências médicas (GON- ZÁLEZ FRAGA; HERRERA RODRÍGUEZ, 2007). Contras Todas as vezes em que surge uma novidade em tecnologia na medicina, seguida de sua incorporação, iniciam-se os processos de avaliação dos riscos e dos benefícios que tal inovação pode trazer, conforme exemplificado no Quadro 1. Os benefícios já foram citados aqui, cabe a partir de agora elencarmos alguns pontos negativos da telemedicina. Nos casos de cirurgias transmitidas em tempo real por meio de recursos televisuais que permitem a interação entre o cirurgião e a plateia, composta por um público desconhecido e espalhado pelo mundo afora, assim como pode haver interferência positiva na conduta do profissional em atuação, pode acon- tecer de essa interferência prejudicar o discernimento e o processo decisório do cirurgião, prejudicando o paciente. Além do alto custo dessa técnica, em razão do tempo prolongado de transmissão e do fato de que os médicos, pelas condições de trabalho, têm cada vez menos tempo para se capacitar, muitos podem preferir assistir apenas aos “melhores momentos” (CUTAIT, 2001). Telemedicina8 Com relação aos recursos humanos, trata-se da resistência de aderir novas tecnologias por parte de alguns profissionais, que, por vezes, estão acomodados e não têm características como comprometimento, inovação e forças de von- tade. Uma vez que o sucesso de novas técnicas em medicina está diretamente relacionado à motivação do profissional que a executa. Uma técnica que é imposta por uma administração sem o devido suporte aos profissionais e a capacitação destes sobre a sua importância tem poucas chances de motivá- -los. Além do mais, a boa relação entre a administração e os trabalhadores é fundamental para a o progresso da instituição. Há ainda aspectos relacionados à falta de visão do futuro da maioria dos gestores, o que provoca o surgimento de uma série de barreiras diretamente relacionadas com a dificuldade de mudança e inovação. O setor da saúde é considerado difícil de modificar em razão da divisão e da falta de conexão existente em seu modelo organizacional (CHUGANI et al., 2009). Com relação aos riscos após a implantação de um programa de telemedicina, também estão relacionados o comprometimento e o envolvimento das pessoas nesse processo, uma vez que as atividades de telemedicina que dependem exclusivamente desses valores apresentam um alto risco de não alcançar a sustentabilidade. Complementar a isso, é extremamente necessário manter os profissionais interessados para evitar que projetos sejam abandonados em razão da falta de comprometimento do pessoal envolvido (CHUGANI et al., 2009). A aceitação dos usuários dos serviços de saúde também pode ser um fator prejudicial, quando se trata da interpretação da população de que a telemedicina pode prejudicar a relação médico-paciente. Para minimizar essa situação, é preciso uma nova forma de oferecerserviço em algo, normal e natural, mesmo que a sua implantação requeira mudanças organizacionais importantes. Uma mudança na cultura e na organização do trabalho pode ser necessária no processo de adaptação (CHUGANI et al., 2009). A equidade proporcionada com a implantação da telemedicina pode não ser bem aceita quando essa tecnologia é implantada em apenas determinados locais e não em outros, sem considerar outras regiões com necessidades similares. As desigualdades podem afetar a disponibilidade de ferramentas de suporte disponíveis para profissionais de saúde, quando não acessíveis a todos. Outro fator relevante é a sustentabilidade tecnológica, visto que o atual desenvolvimento tecnológico permite implantar vários programas de teleme- dicina, todavia, existem limitações decorrentes do próprio uso dessa inovação que podem dificultar sua implantação e seu funcionamento normalizado. 9Telemedicina De um lado, problemas relacionados aos sistemas incompatíveis e falhas na operacionalidade; por outro lado, persistem dúvidas sobre as ferramentas téc- nicas para garantir a confidencialidade e a segurança de informações sensíveis e pessoais, a fim de evitar problemas éticos e legais (CHUGANI et al., 2009). Muitas implantações de programas de telemedicina são financiadas com recursos provenientes de projetos de investigação que exigem o envolvimento da administração para garantir que o financiamento seja suficiente e estável, a fim de manter recursos humanos e técnicos para realizar a atividade. Além disso, é necessário incluir no orçamento recursos suficientes para avaliar os diferentes aspectos relacionados a cada programa de telemedicina (CHUGANI et al., 2009). O alto custo dos recursos requer que, desde o início, a incorpo- ração de novas tecnologias seja acompanhada por uma avaliação sistemática de seus benefícios. As críticas com relação ao alto custo e os benefícios das novas tecnologias tornam os cuidados à saúde mais caros. É necessário realizar os estudos avaliativos pertinentes, para certificar sua eficácia e eficiência e os aspectos éticos do uso da tecnologia médica (GONZÁLEZ FRAGA; HERRERA RODRÍGUEZ, 2007). Além disso, a revolução tecnológica produziu um crescente interesse pelas questões de saúde, transformando os problemas de saúde pública e, em par- ticular, os cuidados médicos em assuntos de natureza tecnológica e política. Dessa forma, é preciso uma reflexão sobre os aspectos éticos e bioéticos implícitos nas atividades de telemedicina, ao passo que a ciência e a tecnologia juntas permitem aumentar a capacidade de intervir diretamente na vida de pessoas e comunidades. No entanto, também é essencial que a implantação da telemedicina seja independente das possíveis mudanças políticas (CHUGANI et al., 2009). A telemedicina provoca consequências quando usada de forma indevida, como o consumo excessivo, podendo ocasionar desvios de recursos, que prejudicam a atenção de outras necessidades primárias em saúde. Por isso, é necessário que, antes de incorporar novas tecnologias, sejam analisadas algumas questões: se seu uso é justificado, se é melhor do que a tecnologia já utilizada, se existe pessoal qualificado para sua exploração, qual a possibili- dade de estar disponível para toda a população ou se será usada apenas por alguns. É preciso definir os riscos que sua aplicação implica e determinar os controles necessários para sua aceitação e também que tipo de consentimento deve ser obtido do paciente em quem será aplicado (GONZÁLEZ FRAGA; HERRERA RODRÍGUEZ, 2007). Telemedicina10 Prós Contras Acesso à assistência à saúde Maior distanciamento da relação entre médico e paciente Melhora da equidade Maior distanciamento da relação entre profissionais de saúde Melhora da qualidade de assistência Dificuldades organizacionais e burocráticas Facilidade nas pesquisas de saúde Capacitação de pessoal Troca de informações entre profissionais Desenvolvimento de protocolos Assistência à saúde de forma remota Dúvidas sobre a qualidade do atendimento — Altos custos — Dificuldade de adesão dos profissionais e dos pacientes Quadro 1. Aspectos envolvidos na utilização da telemedicina Portanto, a grande vantagem da telemedicina é a transformação na dis- tribuição da educação em saúde e na prática da medicina, pelo simples fato de eliminar a distância, especialmente na assistência prestada a populações isoladas, sobretudo no Brasil, um país que agrega grande dimensão territorial e distribuição pouco uniforme dos serviços de saúde. Por exemplo, em casos específicos de indivíduos que vivem acamados ou idosos com dificuldades de locomoção, é impossível ter disponível todos os especialistas necessários para analisá-los (URTIGA; LOUZADA; COSTA, 2004). No entanto, uma grande barreira a ser transposta pela telemedicina é, com certeza, o financiamento para investir em equipamentos e treinamentos de pessoal até que ela possa gerar sua própria receita operacional. Em razão de a prática da telemedicina ser diferente da interação presencial entre paciente e médico, os princípios éticos merecem ser respeitados pelos profissionais que se dispõem a utilizar essa prática. Porém, no que se refere às experiências na implantação de telemedicina, inúmeras possibilidades ainda estão por vir (URTIGA; LOUZADA; COSTA, 2004). 11Telemedicina CABRAL, M. B.; GALVÁN, P.; CANE, V. Telemedicina: metas y aplicaciones. Memorias del Instituto de Investigaciones em Ciencias de la Salud, v. 6, n. 1, p. 40−44, 2008. Disponível em: http://revistascientificas.una.py/index.php/RIIC/article/view/314/241. Acesso em: 18 nov. 2019. CHUGANI, V. M. et al. Implantación de programas de telemedicina en la sanidad pública de España: experiencia desde la perspectiva de clínicos y decisores. Gaceta Sanitaria, v. 23, n. 3, p. 223–229, 2009. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/gs/2009. v23n3/223e-229/. Acesso em: 18 nov. 2019. COSOI P., E. Telemedicina en el mundo. 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Disponível em: http://scielo.isciii.es/pdf/albacete/v4n1/especial1.pdf.Acesso em: 18 nov. 2019. Telemedicina12 Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 13Telemedicina DICA DO PROFESSOR Conforme Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) n.º 2.227/18, os médicos que atuam em território brasileiro podem realizar consultas online, telecirurgias e telediagnóstico, entre outras formas de assistência médica a distância, utilizando-se de tecnologias disponíveis na área da saúde. Essa Resolução foi elaborada após muitos debates realizados entre profissionais da área, e baseada em rígidos parâmetros éticos, técnicos e legais da profissão. Veja, nesta Dica do Professor, mais sobre essa resolução, que teve como objetivo proporcionar assistência médica ao maior número de pessoas, utilizando dos avanços nas tecnologias digitais e eletrônicas, tão dinâmicas e presentes no cotidiano das pessoas. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! NA PRÁTICA A telemedicina é uma tecnologia amplamente utilizada para monitoramento de pacientes, troca de informações entre profissionais médicos e avaliação de resultados de exames, sejam eles laboratoriais ou de imagem. Com a criação e a implementação da Estratégia de Saúde da Família (ESF), parte das populações tradicionais da Amazônia, como é o caso de algumas das populações ribeirinhas, teve acesso à saúde, que não tinha antes. Porém, em se tratando de uma região geográfica diferenciada onde a população se estabelece ao longo dos rios, e, na maioria das vezes, sem acesso por estradas, muitas pessoas permanecem completamente isoladas. Nesse cenário, a telemedicina contribui para associar tecnologia de informação e promoção de saúde, diminuindo a distância dessas populações com os grandes centros. Na Prática, você verá um exemplo real de aplicação da telemedicina como estratégia de promoção de saúde em comunidades ribeirinhas da Amazônia. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Telemedicina: uma visão geral do estado da arte Veja, neste artigo, o que é telemedicina, conforme a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS), assim como as suas aplicações. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Telemedicina Einstein Assista, neste vídeo, a um exemplo de utilização da telemedicina em um dos hospitais mais renomados do Brasil: o Albert Einsten. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Telemedicine and the doctor/patient relationship Leia, neste artigo, as implicações que envolvem a utilização do recurso de telemedicina tanto para o profissional quanto para os pacientes. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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