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Padronização e controle de materiais em saúde APRESENTAÇÃO O funcionamento de uma instituição de saúde representa um desafio à área de gestão, pois, ao mesmo tempo que deve ser prestado bom atendimento, também é necessário que os custos de funcionamento sejam adequados à realidade da empresa. No que diz respeito à qualidade do atendimento prestado, é possível vincular os benefícios da padronização e do controle de materiais e medicamentos, visto que a definição de insumos de boa qualidade ao atendimento do cliente representará comprometimento com as pessoas que procuram a instituição com o intuito de comprar seus serviços. Considerando a questão do domínio das despesas, é possível considerar que a padronização e o controle de materiais e medicamentos nas empresas do segmento de saúde representam uma ferramenta colaborativa de elevada importância, em razão do volume financeiro que a aquisição de insumos, vinculados ao atendimento das necessidades dos clientes, representa. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar a padronização e o controle de materiais e medicamentos, sua descrição e as vantagens obtidas com sua adoção. Verá também as etapas que precisam ser transcorridas para sua execução e as técnicas existentes para o estabelecimento de controles efetivos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever a padronização de materiais e medicamentos em saúde.• Identificar as etapas necessárias para a implantação de padronização de materiais e medicamentos em saúde. • Apontar o que é e como deve ocorrer o controle de materiais e medicamentos em saúde.• INFOGRÁFICO Instituições de saúde precisam apresentar diversas características para que agradem a seus clientes; entre elas, duas apresentam importância redobrada dentro do contexto: qualidade no atendimento e segurança à saúde do cliente. Em muitas situações, a empresa busca reduzir seu custo operacional comprando materiais para uso direto no atendimento de clientes que não têm qualidade compatível com os atributos citados anteriormente. O gestor dos trabalhos precisa estar ciente de que a economia de recursos deve se dar em itens que não interfiram no atendimento do cliente; para isso, é necessário muito cuidado e também um canal aberto com colaboradores envolvidos diretamente no atendimento de clientes. No Infográfico, você vai observar as desvantagens de optar pela compra de materiais de qualidade duvidosa, levando em consideração apenas o aspecto preço. CONTEÚDO DO LIVRO Ter processos de trabalho e insumos utilizados de maneira padronizada é uma prática que oferece benefícios às empresas de todos os segmentos. Na área da saúde não é diferente, pois a adoção de padronização no uso de materiais e medicamentos proporcionará melhoria nos controles administrativos estabelecidos e oferecerá racionalidade na utilização dos recursos da empresa. No capítulo Padronização e controle de materiais em saúde, da obra Gestão da cadeia de suprimentos em saúde, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai ver a importância de padronizar e controlar o uso de materiais e medicamentos, entenderá o que é esse processo, conhecerá as etapas necessárias para a implantação e analisará como deve ocorrer o controle dos itens. Boa leitura. GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS EM SAÚDE Jacson Costa Alves Padronização e controle de materiais em saúde Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Descrever a padronização de materiais e medicamentos em saúde. � Identificar as etapas necessárias para a implantação de padronização de materiais e medicamentos em saúde. � Apontar o que é e como deve ocorrer o controle de materiais e me- dicamentos em saúde. Introdução Neste capítulo, você vai poder entender as razões que levam as institui- ções de saúde a realizar movimentações em seus processos de trabalho e com seus recursos humanos visando ao alcance da padronização de materiais e medicamentos. Para tanto, você vai ler sobre as principais etapas que precisam ser estabelecidas para o atendimento, na plenitude, das necessidades de implantação de padronização de uso de materiais e medicamentos. Por fim, você vai poder ver que outra forma de trabalho muito adequada à gestão dos insumos é o estabelecimento de atividades de controle. É importante salientar que as empresas necessitam sempre evoluir seus métodos de trabalho, visando à melhoria de seus resultados finan- ceiros ou apenas à sua permanência no mercado de maneira competi- tiva. As teorias e as técnicas de padronização e controle de materiais e medicamentos que serão apresentadas possuem uma alta capacidade de impacto nesses parâmetros. 1 O caráter evolutivo que a padronização traz para organizações da área da saúde Movimentar recursos de uma empresa é uma das atividades mais sérias dos gestores de instituições. Com isso, o responsável deve, em geral, sempre buscar o desenvolvimento amplo da sua instituição, a melhoria da qualidade da atividade-fim da empresa, a conclusão dos trabalhos de forma mais rápida ou, até mesmo, o desempenho da atividade de maneira mais econômica. Existem muitas formas de aprimorar o cotidiano das empresas nos diversos setores, mas é importante enfatizar que existem locais que apresentam maior mobilização de recursos. Esse é o caso do almoxarifado e da farmácia, locais que acondicionam diversos insumos e cuja exigência de recursos financeiros é muito significativa, necessitando, portanto, de maior cuidado. Uma forma de melhorar a organização e diminuir os custos dos setores representativos é a padronização, uma maneira de trabalhar que já é utilizada há muito tempo e apresenta excelentes resultados. A importância de padroni- zação foi descrita já pelos primeiros teóricos da administração, e, portanto, se a empresa não trabalha dessa forma, será preciso incorporar tais práticas em seu cotidiano. Para alcançar ótimos resultados no processo de padronização, será neces- sário compreender aspectos teóricos relacionados a esse assunto, pois, embora apresente bons resultados, ele não pode ser trazido ao contexto sem que haja o conhecimento de elementos principais, tais como a definição do conceito, de quem participa de determinada atividade, de quais são os resultados que podem ser alcançados e qual é o legado que fica para a empresa após a adoção dessa metodologia de trabalho. O esclarecimento de tais questões trará uma boa noção da representatividade desse trabalho no ambiente empresarial. Inicialmente, deve-se explicar qual é o conceito de padronização. Ela consiste no estabelecimento de regras que visam à execução dos trabalhos de maneira igual por colaboradores que detenham o mesmo cargo. Ou seja, um médico não pode tratar um paciente hipertenso de maneira diferente dos demais colegas, da mesma forma que um profissional de enfermagem não pode fazer um curativo de média proporção usando técnica diferente da utilizada por seus colegas. Quando há diferenças na execução dos trabalhos, dificil- mente os resultados benéficos aparecem. Devido a isso, a gestão precisa agir para eliminar tais disparidades e promover um ambiente em que os trabalhos são realizados de maneira padronizada. De acordo com Mello (2011), ocorre padronização quando as tarefas são realizadas sempre do mesmo jeito, com Padronização e controle de materiais em saúde2 a finalidade de alcançar o mesmo resultado. A padronização é, portanto, a forma que orientará as rotinas e os procedimentos das empresas visando ao alcance da qualidade na totalidade. Quando ocorre uma situação de alteração relevante nos processos de tra- balho, é fundamental que todos os envolvidos sejam chamados para contribuir na construção do conceito, participando com sugestões e se engajando no treinamento. Empresas da área da saúde possuem atividades laborais multifa- cetadas,com muitos colaboradores envolvidos. Essa característica exige que o profissional responsável pela implementação da padronização fique muito atento, de modo que não se esqueça de nenhum componente envolvido, uma vez que o processo de comunicação entre o executor e os impactados pela mudança precisa se estabelecer; do contrário, o projeto pode não alcançar os resultados desejados. Para ilustrar a importância da comunicação na implantação da padronização de materiais e medicamentos em uma empresa de saúde, é possível imaginar a seguinte necessidade: os médicos devem participar pelo fato de prescreverem medicamentos e materiais para atendimento, os profissionais de enfermagem também necessitam participar pelo fato de manejarem os itens, e na mesma situação estão os colaboradores dos setores de farmácia e almoxarifado, além de outros setores menos volumosos. Com essa exemplificação, pode-se perceber que uma parte significativa de pessoas precisa ser envolvida em um projeto dessa natureza. De acordo com Falconi (2004), padronizar é discutir os procedimentos de um serviço mediante a reunião de pessoas que estão envolvidas com ele, até que se descubra aquele que for melhor. É importante, além da análise do processo, buscar sempre melhorá-lo, a fim de corrigir os seus problemas. Feito isso, pode ser implementado o padrão da organização. Também é necessário treinar as pessoas, pois isso garante que o processo será executado conforme o que foi planejado. Dessa forma, a padronização será aplicada corretamente e estará de acordo com os objetivos da empresa. A adoção dessa sistemática mobiliza deveras a empresa, e por isso é preciso verificar quais serão os benefícios obtidos com a agregação dessas técnicas na rotina de trabalho da empresa, são eles: redução de custos, aumento da qualidade e desenvolvimento da equipe de trabalho. O primeiro ponto a ser alcançado está vinculado à redução de custo, pois, à medida que o número de itens para realizar a tarefa vai diminuindo, o valor financeiro imobilizado em estoque recua. Tal fato promove uma diminuição do custo de capital, e por consequência o valor da despesa operacional é mitigado. 3Padronização e controle de materiais em saúde O segundo elemento é a elevação da qualidade. Essa situação ocorrerá porque elementos de baixa qualidade e desempenho deixam de ser adquiridos, e com isso tem-se a certeza de que se estará disponibilizando aos funcionários insumos com reconhecida qualidade, proporcionando a eles a realização de seus trabalhos sem percalços. Por fim, procedimentos enxutos qualificados e ágeis transportam nossas equipes de trabalho para um contexto melhorado, de forma que eles não mais aceitarão o retrocesso. Tal fator não pode ser mensurado. Essa é a chamada evolução, que precisa ser permanentemente buscado pela gestão. A padronização estabelece dentro das organizações um processo que causará melhorias na qualidade por meio da redução de custos, melhorando o tempo de execução das tarefas e aumentando a segurança, além de fazer que as pessoas debatam sobre aquilo que está sendo padronizado. Dessa maneira, desenvolver e cumprir novas regras, bem como promover sua modificação devem ser ações incentivadas de modo a servir como melhoria nos trabalhos. O último ponto a ser abordado guarda relação com a questão do legado que um processo de padronização pode deixar no ambiente organizacional em que foi desenvolvido. É possível reconhecido que essa prática trará uma cultura de aprimoramento ao ambiente. Se o mundo apresenta características de alta dinamicidade, não é possível aceitar que a instituição mantenha suas atividades de maneira imutável. No cenário de saúde, em que as dificuldades se apresentam a todo momento, o gestor precisa fomentar a agregação de melhorias constantes e contínuas, e a constatação da necessidade de um processo de padronização não pode ser desprezada. Várias empresas ainda não perceberam os benefícios oriundos de sua otimização e, portanto, permanecem sem melhorias estratégicas, passando por dificuldades sem apresentar evoluções. Em busca da melhoria contínua, a padronização é a atividade de estabelecer e utilizar padrões que possibilitam uma visão geral da empresa e a relação direta entre cada um dos setores. É possível realizar várias constatações em relação à padronização, como o que significa o tamanho do envolvimento que ela gera na empresa e os benefícios que traz. Entretanto, o legado de evolução advindo da prática de incentivar a melhoria nos processos talvez seja, entre as benesses, a mais valiosa em longo prazo. Na Figura 1, é feita uma representação gráfica que demonstra como essa evolução ocorre. É possível visualizar que, a cada vez que ocorre uma padronização, o nível de excelência do trabalho se eleva. Sempre deve ser objetivo do gestor da área da saúde melhorar os seus processos de trabalho. Com a adoção da padronização, essas melhorias pretendidas têm grande probabilidade de serem alcançadas. Como ocasionam mudanças positivas, propiciarão que as alterações futuras sejam cada vez mais significativas. Padronização e controle de materiais em saúde4 Figura 1. Evolução do processo de trabalho por meio da adoção de padronização. Fonte: Adaptada de Justa (2010). Melhoria Melhoria Padronização Padronização Padronização 2 Etapas que precisam ser alcançadas para a implantação da padronização de materiais e medicamentos na área da saúde O gestor da área da saúde é o profissional que tem a incumbência de construir alternativas que levem a organização à qual está vinculado ao alcance de melhorias constantes e contínuas. Tendo em vista a necessidade de sempre aprimorar a execução dos trabalhos, uma alternativa usual é a padronização de materiais e medicamentos que pertencem à instituição de saúde, pois, como já foi tratado, o valor destinado para adquirir esses elementos tem uma grande representatividade no custo operacional. Para iniciar a alteração nos métodos de trabalho, é necessário que ocorra um fluxo de acontecimentos. Esse cuidado visa à ocorrência de um rito de implantação concatenado que minimize eventuais conflitos e intercorrências gerais que podem vir a ocorrer durante a execução. As etapas que precisam ser obedecidas precisam fluir numa sequência estabelecida, que é a seguinte: identificação de materiais e medicamentos que estão sendo utilizados sem regramento, iniciação da discussão dos procedimentos de padronização com as áreas técnicas, criação de documentos informativos de novas condutas e procedimentos, comunicação das mudanças aos colaboradores envolvidos diretamente na atividade, treinamento e desenvolvimento das áreas executo- ras e, como última etapa, a verificação da realização dos procedimentos nos locais de trabalho. O primeiro aspecto que precisa ser contemplado para começar o trabalho de padronização está vinculado à identificação de materiais e medicamentos que estão em uso de maneira desordenada e que necessitam ser padronizados. Quando essa constatação é feita, necessariamente deve ser formada uma Comissão de Padronização de Medicamentos e Materiais (CPMM), que deverá ser composta por equipe multidisciplinar com caráter técnico. As discussões 5Padronização e controle de materiais em saúde sobre uso de insumos adequados estarão sob a égide desse grupo, nomeado formalmente. Considerando a importância das pautas designadas a essa co- missão, é de extrema valia que seus membros estejam ligados fortemente ao atendimento das necessidades dos clientes, que possuam conhecimento técnico/ científico atualizado e dediquem tempo suficiente para desempenhar essa importante função. Para Maia Neto (2005), a seleção dos membros integrantes da CPMM deve atender a critérios que permitam reunir os profissionais que dão ao grupo um entendimento técnico vasto para a tomada de decisão nas reuniões habituais, devendo ter uma regularidade de aproximadamente 30 dias. Identificando os insumos que necessitamser padronizados, juntamente com a formação da CPMM, devem iniciar as reuniões periódicas e as discussões sobre quais elementos ficarão no cadastro da farmácia e almoxarifado. Essas discussões devem ser balizadas por argumentos técnicos, ouvindo os profis- sionais que fazem uso dos itens diariamente em seus ambientes de trabalho. Quando os debates e as decisões sobre tal assunto são feitos obedecendo a esse critério, a adesão dos colaboradores aumenta significativamente. A CPMM, dentro dos hospitais ou das clínicas de atendimento básico, é responsável pela avaliação do uso clínico de medicamentos e materiais, desenvolvendo políticas para gerenciar o uso, a administração e o sistema de seleção. Ela funciona como um foro que avalia e discute todos os aspectos do tratamento medicamentoso e orienta as áreas médicas, de enfermagem, administrativa e de farmácia sobre temas relacionados a medicamentos. As decisões da CPMM serão regras incorporadas na rotina da institui- ção de saúde. Por isso, é necessário que as deliberações sejam descritas em documentos formais, aos quais os envolvidos deverão obedecer sob pena de caracterizar uma transgressão à nova metodologia, caracterizando uma de- sobediência a um ente imbuído de poder formal. O documento formal recebe nomenclaturas diferentes nas diversas empresas de saúde — em determinados locais, são chamados de comunicados internos, em outros, de parecer técnico —, porém o que cabe ressaltar é que esse procedimento precisa ser atendido para que seja dada continuidade à ação. Conforme descreve Kunsch (2003), a comunicação formal é relacionada com o sistema de normas que regem o comportamento, os objetivos, as estratégias e conduzem as responsabilidades dos participantes da organização. Concluída a etapa de formalização das atividades, faz-se necessário in- formar as alterações aos profissionais de medicina, enfermagem, farmácia, administração e todos os envolvidos diretamente nos processos. Esse método de comunicação é uma etapa imprescindível, pois tal mudança precisa ser Padronização e controle de materiais em saúde6 transmitida para que as deliberações da CPMM sejam incorporadas à rotina de trabalho mais rapidamente, permitindo que os benefícios sejam alcança- dos em período menor de dias. Para melhor fluidez, é recomendável que se estabeleça uma comunicação vertical descendente que permita o trânsito da informação diretamente da comissão aos subordinados a ela. A comunicação vertical consiste em uma transmissão de informação para baixo ou para cima. A comunicação para baixo começa do topo e vai descendo através dos níveis de gerência, supervisores e operários. O treinamento das áreas envolvidas é outro ponto importante que deverá ser obedecido para que o êxito possa ser obtido. Alguns grupos terão impacto reduzido em suas atividades, porém outros grupos podem ser muito afetados. É justamente nos que sofrerão maiores alterações que as horas de treinamento devem ser majoradas. O aspecto descrito pode ser exemplificado da seguinte forma: os médicos plantonistas não sofrerão muitas mudanças em suas ativi- dades, pois deixarão de prescrever um determinado medicamento para usar outro similar; entretanto, a farmácia deverá enfrentar mudanças maiores, uma vez que as deliberações da CPMM podem alterar até mesmo os processos de trabalho do setor. Para Araújo e Garcia (2008), o treinamento é realizado com o intuito de mudar atitudes para que os indivíduos alcancem o sucesso e se adequem aos novos tempos. Essa característica moderna das organizações faz que o quadro funcional aceite melhor novos processos e também aumente a produtividade. Como última etapa necessária para a implantação de padronização de medicamentos e materiais, surge a necessidade de verificar a realização dos procedimentos nos locais de trabalho. Tal necessidade se dá com o intuito de verificar se existe algum desvio de regra ou procedimento que não está sendo observado. A constatação é uma atividade muito importante para corrigir eventuais anomalias presentes. Se porventura não for observada essa exigência, o projeto corre o risco de não ser incorporado à rotina, e esse acontecimento negativo colocará em risco toda a energia que foi despendida nos estágios anteriores. De acordo com o conceito de Corbari e Macedo (2011), a atividade de controle, cuja finalidade é medir e avaliar o desempenho e os resultados do projeto em uma empresa, poderá ser aplicada em qualquer entidade, por fazer parte das funções da administração. Os gestores, por meio das estratégias elaboradas no planejamento, definem a direção e a coordenação das ativida- des operacionais de tal forma que a inexistência ou deficiência de controles internos acaba refletindo negativamente em suas funções. 7Padronização e controle de materiais em saúde Ao tomar conhecimento do caminho a ser percorrido para a implantação da padronização de materiais e medicamentos, é possível perceber que as fases se sucedem de maneira lógica, sendo difícil imaginar alteração de etapas sem que o produto final tenha seu resultado prejudicado. Existe uma semelhança entre os itens tratados no material e o ciclo PDCA, o chamado processo admi- nistrativo, que está representado na Figura 2 para que seja possível perceber a semelhança entre ambos. Figura 2. Processo administrativo — Ciclo PDCA. Fonte: Periard (2011, documento on-line). A ideia a que nos remete o ciclo PDCA é a de que tudo tem início no quadrante verde, onde está localizado o Plan (“planejamento”, em português). Nesse momento, devemos identificar os problemas que ocasionam dificuldades em nosso processo de trabalho e, a partir dessa constatação, construir planos de ação para atenuá-los ou até mesmo eliminá-los completamente. Superada essa primeira etapa, avança-se para o quadrante amarelo, chamado Do (“fazer”, em português). Nessa etapa, os planos de ação, elaborados na etapa anterior, serão colocados em prática — nesse momento podemos constatar, de maneira presencial, a aplicabilidade do que foi pensado. Na etapa do quadrante azul, Check (“checar”, em português), será o momento de realizar a avalição sobre Padronização e controle de materiais em saúde8 o atingimento de metas que foram estipuladas. Para isso, será necessária a construção de indicadores específicos, que vão mensurar o êxito alcançado. Como última etapa, temos o quadrante vermelho, Action (“agir”, em portu- guês). Esse é o momento em que serão feitas ações corretivas em situações que precisam ser aprimoradas, ou, se o objetivo foi plenamente atendido, é a hora de padronizar a nova metodologia de trabalho. 3 Formas de estabelecer controles para medicamentos e materiais O controle do uso de medicamentos e materiais de uma instituição de saúde é uma atividade que não pode ser desconsiderada, devido ao grande volume de dinheiro que é necessário para manter os estoques abastecidos para uso diário. Quando a gestão de uma empresa de segmento de saúde desprestigia essa tarefa, podem ocorrer diversas situações negativas, as quais desgastam a imagem da administração e, desse modo, levantam suspeição sobre a com- petência dos responsáveis pela condução do negócio. A diversidade de inconformidades que podem ocorrer com a indolência do controle de estoque é grande. As mais comuns são as seguintes: compra excessiva de materiais e medicamentos, ocasionando alta imobilização de dinheiro; compra em quantidade inferior ao necessário, ocasionando ausência de insumos imprescindíveis; furtos de itens de alto valor agregado; expiração de datas de validade em compras excessivas; e dificuldade de prestação de contas a órgãos fiscalizadores de uso de remédios. Para Bowersox e Closs (2010), o controle de estoque é um procedimento diário que se faz necessário para que se cumpra a política de estoque. O controle consiste em verificar as quantidades disponíveis e acompanhar suas variações ao longo do tempo. Essas funções podem ser desempenhadas manualmenteou via computador, sendo as principais diferenças entre essas formas a velocidade, a precisão e o custo. Existem diferentes maneiras de realizar controle de estoque. Algumas alternativas exigem mais energia na realização e outras, menos. O gestor precisa optar pela metodologia que usará, embora em muitas ocasiões seja necessário adotar mais de um mecanismo para conseguir atingir o objetivo. Entre as formas mais conhecidas, estão as seguintes: inventários gerais de estoque, inventários cíclicos de estoque, análise por centro de custo, controles especiais com medicamentos controlados e de emergência, curva ABC e curva XYZ. 9Padronização e controle de materiais em saúde O inventário geral de medicamentos e materiais consiste em fazer contagem total dos insumos disponíveis. É uma forma que necessita da mobilização de muitos colaboradores e cujo tempo de execução é considerável; além disso, é desejável que os setores não forneçam produtos durante a contagem, para evitar divergências de informações. Normalmente, esse trabalho é realizado uma vez durante o ano, com o objetivo de confrontar as posições de estoque registradas oficialmente, seja por software específico ou por outra metodologia. Para Martins e Alt (2009), o inventário tem grande utilidade para controle de estoque. Ele é realizado mediante uma contagem de todos os itens em estoque, de acordo com o período a ser examinado. Caso ocorra diferenças de itens, com sobras ou faltas, terá de ser feito um ajuste no valor contábil. Outra forma de controlar estoques numerosos é a relação de inventários cíclicos de estoque. Essa sistemática consiste em realizar contagem de deter- minados produtos, obedecendo a critério escolhido previamente, em períodos de tempos mais regulares. A realização dessa atividade tem o caráter de acompanhar as movimentações de forma próxima, entretanto sem ter que mobilizar um número grande de colaboradores, tampouco necessitar de parar o setor para o qual a contagem está sendo feita. De acordo com Martins e Alt (2009), os inventários cíclicos têm como objetivo distribuir as contagens ao longo do ano com maior frequência, no entanto concentrando em cada mês uma menor quantidade de itens, pois, fazendo isso, é possível realizar uma redução de toda a operação, oferecendo melhores condições para a análise. Dividir as unidades consumidoras em centros de custo é outra metodologia de controle de estoque, uma vez que será possível verificar o desembolso financeiro que cada área exige. A partir dessa constatação, é possível fazer uma opção em realizar controle mais focado em setores específicos. Quando são examinadas separadamente as despesas das áreas, é possível estabelecer uma visão crítica sobre consumos individualizados, alertando situações que exijam maior fiscalização por parte do gestor. Com isso, pode ser feita uma cobrança aos responsáveis dos centros de custo para que se engajem na ati- vidade de controle de estoque. Conforme preconizam Martins e Alt (2009), os centros de custo são criados para dividir a empresa em áreas com objetivo de descentralizar a administração, atribuindo responsabilidade ao coordenador e, ao mesmo tempo, possibilitando a avaliação de sua gestão. Padronização e controle de materiais em saúde10 Outra peculiaridade no controle de estoque de empresas da área de saúde vincula-se à gestão de medicamentos de uso controlado e para situações de emergência. As substâncias de uso controlado normalmente são segregadas em ambiente específico e necessitam ser fechadas com chave, com restrição de acesso, garantindo o manejo a poucos colaboradores. É muito importante possuir zelo extremado, pois é necessária a prestação de contas das referidas drogas às autoridades sanitárias. Portanto, além dos procedimentos usuais, será preciso estabelecer processo de controle específico aos medicamentos de uso controlado. Em relação aos medicamentos usados em situação de emergência, não será possível adotar a conduta de segregação, pois dificultar o acesso pode redundar em demora excessiva na retirada em situação célere. Para contornar essa adversidade, será preciso contar com o apoio dos responsáveis pela área de atendimento, que terão poder para autorizar o uso desses itens, os quais receberão lugares específicos, próximos ao local de atendimento do cliente, para guarda. A adoção dessas condutas diferenciadas visa a evitar morosidade em situações especiais. Realizar o controle de estoque categorizando os insumos é outra forma de obter êxito no controle. Uma das maneiras adotadas com essa intenção chama-se classificação ABC, que consiste em categorizar os itens de acordo com a representatividade financeira, de maneira que 20% dos maiores consumidores de recursos financeiros são classificados como insumos A, os 30% subsequentes são classificados com B e o restante como C efetivamente. A vantagem no estabelecimento dessa forma de trabalho é que ela cria uma possibilidade de priorização clara, alertando o gestor sobre quais são os itens que impactam fortemente no custo de reposição dos estoques. Com isso, é possível estabelecer medidas mais focadas. De acordo com Rodrigues (2007), com a ajuda da classificação ABC muitas empresas têm conseguido êxito no controle e acuracidade dos estoques, além de alcançarem redução de gastos na manutenção, pois assim é possível dar prioridade aos itens mais importantes, sem deixar de lado os insumos que fazem parte do consumo, mesmo que sua parcela de custo represente valor inferior aos demais. 11Padronização e controle de materiais em saúde Por fim, um bom controle de estoque deve impedir ocorrências de faltas de produtos, pois isso prejudica o serviço que está sendo prestado. Para evitar esse acontecimento negativo, é muito usual o uso da classificação XYZ, uma metodologia de trabalho que avalia a criticidade dos itens, ou seja, o quão imprescindíveis eles são para as tarefas da empresa. Uma das dificuldades dessa técnica é a subjetividade da classificação dos itens, pois é necessário que profissionais vinculados ao atendimento forneçam avaliação da criticidade dos itens. O principal objetivo de classificar itens é redobrar o cuidado em relação aos mais críticos, para que não ocorra a utilização total sem a devida reposição. A classificação fica da seguinte forma: � Classe X, itens de baixa criticidade — a falta desses itens não representa gravidade, pois há várias alternativas de materiais e medicamentos substitutos e o fornecimento dos itens é facilitado e rápido; � Classe Y, itens de criticidade média — a falta desses itens pode causar gravidade, uma vez que são itens relativamente fáceis de ser substituídos ou adquiridos em caso de falta; � Classe Z, itens de máxima criticidade — considerados imprescindíveis para o andamento das tarefas, sua falta ocasionará graves problemas, pois não podem ser substituídos e sua compra é complicada e demorada. Quando o tema está atrelado a controle de estoque, existem várias aborda- gens que podem ser realizadas, como economia de recursos, desenvolvimento de processo, diminuição de falhas e demais interpretações; porém, deve ser enfatizado que esse trabalho precisa de constante monitoramento para que funcione na plenitude. Quando essas atividades descem no nível de prioridade, podem ocorrer grandes problemas, o que pode, por consequência, macular a imagem da administração, suscitando uma provável inoperância do gestor em proteger, com suas técnicas específicas, área tão importante para a instituição de saúde. Parte importante da atividade de gestão, o controle de estoque não pode ser desprezado pela equipe de trabalho responsável. A adoção de inventários gerais ou cíclicos mostra que a empresa zela por seus recursos e tem o hábito de conferir a utilização de materiais e medicamentos. No que tange à curva ABC, ela é um método de priorização de itens mais representativos, tendo em vista que em muitas ocasiões o estoque possui centenasou até mesmo milhares de itens, fato que impede a realização de inventários gerais frequentes. Já a curva XYZ demonstra controle de estoque vinculado a impedir a falta de produtos de alta criticidade em estoque. Padronização e controle de materiais em saúde12 ARAÚJO, L. C. G.; GARCIA, A. A. Gestão de pessoas: estratégias e integração organizacional. São Paulo: Atlas, 2008. BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D. J. Logística empresarial: o processo de integração da cadeia de suprimento. São Paulo: Atlas, 2010. CORBARI, E. C.; MACEDO, J. J. Controle interno e externo na administração pública. Curitiba: IBPEX, 2011. FALCONI, V. Gerenciamento da rotina do trabalho no dia a dia. 7. ed. Belo Horizonte: DG, 2004. JUSTA, M. PDCA e SDCA. In: BLOG do Marcelo Justa. [S. l.], 18 set. 2010. Disponível em: http://marcelojusta.blogspot.com/2010/09/29-pdca-e-sdca.html. Acesso em: 22 jul. 2020. KUNSCH, M. M. K. Planejamento de relações públicas na comunicação integrada. 4. ed. São Paulo: Summus, 2003. MAIA NETO, J. F. Farmácia hospitalar e suas interfaces com a saúde. Brasília: RX, 2005. MARTINS, P. G.; ALT, P. R. C. Administração de materiais e recursos patrimoniais. São Paulo: Saraiva, 2009. MELLO, C. H. P. Gestão da qualidade. São Paulo: Pearson, 2011. PERIARD, G. O ciclo PDCA e a melhoria contínua. In: SOBRE administração. Rio de Janeiro, 1 jun. 2011. Disponível em: http://www.sobreadministracao.com/o-ciclo-pdca-deming- e-a-melhoria-continua/. Acesso em: 22 jul. 2020. RODRIGUES, P. R. A. Gestão estratégica da armazenagem. 2. ed. São Paulo: Aduaneiras, 2007. Leitura recomendada FALCONI, V. Qualidade total: padronização de empresas. 2. ed. Belo Horizonte: Falconi, 2014. 13Padronização e controle de materiais em saúde Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Padronização e controle de materiais em saúde14 DICA DO PROFESSOR O gestor precisa apresentar muitos atributos para que consiga realizar com maestria sua atividade. Ter capacidade de identificar a situação que necessita de aprimoramento não é suficiente; o profissional precisa ter argumentos para engajar a equipe de trabalho, bem como insistência em acompanhar se a proposta de mudança que foi implantada surtiu o efeito desejado ou se precisa de ajuste. Veja, na Dica do Professor, quais atitudes devem ser adotadas na construção de projetos em empresas da área da saúde. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! NA PRÁTICA Implantar mecanismos de controle dentro de um setor com muitas atividades estabelecidas concomitantemente é sempre um desafio. No entanto, não é salutar estabelecer uma rotina de trabalho sem a mensuração dos resultados. Quando os mecanismos de controle começam a ser implantados, na maioria das vezes ocorre resistência por parte dos executores da tarefa; porém, cabe salientar que essa norma não pode retroceder, uma vez que toda atividade de trabalho necessita ser controlada para que se possa mensurar seu desempenho. Neste Na Prática, você verá como o coordenador administrativo Paulo, do Hospital Dia Home Care, agiu para estabelecer mecanismos de controle na farmácia. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Logística hospitalar: os caminhos dos medicamentos e insumos médicos Neste vídeo, veja informações relacionadas aos itens de tecnologia para manuseio de materiais e medicamentos. É possível observar a complexidade de um trabalho dessa natureza, bem como as soluções desenvolvidas para eliminar desperdícios e melhorar a segurança do paciente. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Atuação da comissão de farmácia e terapêutica em um hospital de ensino Este artigo examina aspectos relacionados à comissão de farmácia e terapêutica de um grande hospital brasileiro, trazendo detalhes da formação da comissão, suas atribuições e resultados que seus trabalhos alcançaram. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Administração de operações e da cadeia de suprimentos O capítulo 8 deste livro faz um apanhado sobre a gestão de estoques na área hospitalar, proporcionando familiaridade com diversos termos habituais nessa área de gestão.
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