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1 Caro aluno Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em pe- ríodo integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A seguir, apresentamos cada seção: No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cuidadosa seleção de conteúdos multimídia para complementar o repertório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc. Tudo isso é en- contrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos temas estudados – há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões de aplicativos que facilitam os estudos, com conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, em uma seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso aluno. multimídia Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreensão de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos temas para além da superficial memorização de fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato em seu dia a dia. vivenciando Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desempenho ao fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resolvê- -las com tranquilidade. áreas de conhecimento do Enem Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, cria- mos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aque- les que aprendem visualmente os conteúdos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organiza- ção dos estudos e até a resolução dos exercícios. diagrama de ideias Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é ela- borada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos conteúdos de cada área, de cada disciplina. Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como Bio- logia e Química, História e Geografia, Biologia e Matemática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com essa realidade por meio de explicações que relacionam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizan- do temas da atualidade. Assim, o aluno consegue entender que cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive. conexão entre disciplinas Herlan Fellini De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvol- vida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo o território nacional. incidência do tema nas principais provas Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada coleção tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolução das ques- tões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, com- pletos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam as explicações dadas em sala de aula. Qua- dros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno que vai se dedicar à rotina intensa de estudos. teoria Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fazem parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compilados, deparamos-nos com modelos de exercícios resolvidos e comenta- dos, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difícil com- preensão torne-se mais acessível e de bom entendimento aos olhos do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever, a qualquer momento, as explicações dadas em sala de aula. aplicação do conteúdo 2 © Hexag Sistema de Ensino, 2018 Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2020 Todos os direitos reservados. Autores Alessandra Alves Vinicius Gruppo Hilário Diretor-geral Herlan Fellini Diretor editorial Pedro Tadeu Vader Batista Coordenador-geral Raphael de Souza Motta Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica Hexag Sistema de Ensino Editoração eletrônica Arthur Tahan Miguel Torres Matheus Franco da Silveira Raphael de Souza Motta Raphael Campos Silva Projeto gráfico e capa Raphael Campos Silva Imagens Freepik (https://www.freepik.com) Shutterstock (https://www.shutterstock.com) ISBN: 978-65-88825-00-6 Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à dis- posição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições. O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não repre- sentando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora. 2020 Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino. Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP CEP: 04043-300 Telefone: (11) 3259-5005 www.hexag.com.br contato@hexag.com.br 3 SUMÁRIO GEOGRAFIA GEOGRAFIA 1 GEOGRAFIA 2 Aulas 45 e 46: Região Norte: Amazônia 6 Aulas 47 e 48: Região Nordeste 33 Aulas 49 e 50: Região Sudeste 53 Aulas 51 e 52: Regiões Centro-Oeste e Sul 64 Aulas 45 e 46: População: teorias demográficas 80 Aulas 47 e 48: População: conceitos e transição demográfica 87 Aulas 49 e 50: População brasileira 98 Aulas 51 e 52: Fluxos migratórios nacionais e internacionais 117 4 Competência 1 – Construir significados para os números naturais, inteiros, racionais e reais. H1 Reconhecer, no contexto social, diferentes significados e representações dos números e operações – naturais, inteiros, racionais ou reais. H2 Identificar padrões numéricos ou princípios de contagem. H3 Resolver situação-problema envolvendo conhecimentos numéricos. H4 Avaliar a razoabilidade de um resultado numérico na construção de argumentos sobre afirmações quantitativas. H5 Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos numéricos. Competência 2 – Utilizar o conhecimento geométrico para realizar a leitura e a representação da realidade e agir sobre ela.H6 Interpretar a localização e a movimentação de pessoas/objetos no espaço tridimensional e sua representação no espaço bidimensional. H7 Identificar características de figuras planas ou espaciais. H8 Resolver situação-problema que envolva conhecimentos geométricos de espaço e forma. H9 Utilizar conhecimentos geométricos de espaço e forma na seleção de argumentos propostos como solução de problemas do cotidiano. Competência 3 – Construir noções de grandezas e medidas para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano. H10 Identificar relações entre grandezas e unidades de medida. H11 Utilizar a noção de escalas na leitura de representação de situação do cotidiano. H12 Resolver situação-problema que envolva medidas de grandezas. H13 Avaliar o resultado de uma medição na construção de um argumento consistente. H14 Avaliar proposta de intervenção na realidade utilizando conhecimentos geométricos relacionados a grandezas e medidas. Competência 4 – Construir noções de variação de grandezas para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano. H15 Identificar a relação de dependência entre grandezas. H16 Resolver situação-problema envolvendo a variação de grandezas, direta ou inversamente proporcionais. H17 Analisar informações envolvendo a variação de grandezas como recurso para a construção de argumentação. H18 Avaliar propostas de intervenção na realidade envolvendo variação de grandezas. Competência 5 – Modelar e resolver problemas que envolvem variáveis socioeconômicas ou técnico-científicas, usando representações algébricas. H19 Identificar representações algébricas que expressem a relação entre grandezas. H20 Interpretar gráfico cartesiano que represente relações entre grandezas. H21 Resolver situação-problema cuja modelagem envolva conhecimentos algébricos. H22 Utilizar conhecimentos algébricos/geométricos como recurso para a construção de argumentação. H23 Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos algébricos. Competência 6 – Interpretar informações de natureza científica e social obtidas da leitura de gráficos e tabelas, realizando previsão de tendência, extrapolação, interpolação e interpretação. H24 Utilizar informações expressas em gráficos ou tabelas para fazer inferências. H25 Resolver problema com dados apresentados em tabelas ou gráficos. H26 Analisar informações expressas em gráficos ou tabelas como recurso para a construção de argumentos. Competência 7 – Compreender o caráter aleatório e não determinístico dos fenômenos naturais e sociais e utilizar instrumentos ade- quados para medidas, determinação de amostras e cálculos de probabilidade para interpretar informações de variáveis apresentadas em uma distribuição estatística. H27 Calcular medidas de tendência central ou de dispersão de um conjunto de dados expressos em uma tabela de frequências de dados agrupados (não em classes) ou em gráficos. H28 Resolver situação-problema que envolva conhecimentos de estatística e probabilidade. H29 Utilizar conhecimentos de estatística e probabilidade como recurso para a construção de argumentação. H30 Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos de estatística e probabilidade. 5 GEOGRAFIA 1: Incidência do tema nas principais provas UFMG A prova costuma cobrar conhecimentos sobre Geografia física das regiões do Brasil. Dê atenção às regiões Norte e Centro-Oeste. Não tem Geografia na prova da Unifesp.As questões que mais caem são sobre Geogra- fia do Brasil. A prova pode relacionar questões econômicas com aspectos geomorfológicos das regionais. Aborda questões sobre o desenvolvimento econômico e as desigualdades regionais do Brasil. Análises das características morfoclimáticas regionais. Atente-se também aos processos de urbanização. Aborda conhecimentos sobre Geografia física regional. Atente-se aos aspectos do relevo, hidrografia, vegetação e clima. Costuma cobrar questões sobre ocupação e desenvolvimento regional relacionado aos impactos ambientais sobre os biomas. O Enem tradicionalmente cobra conhecimentos sobre questões ambientais e biomas brasileiros. Dê atenção aos processos de ocupação e exploração de cada região. Questões sobre Geografia física são predo- minantes. Atente-se aos aspectos geológicos, relevo, hidrografia, clima, vegetação e solos de cada região brasileira. Atente-se aos aspectos da Geografia econômi- ca, como industrialização, urbanização e setores da economia das regiões brasileiras. Cobra Geografia de forma bem ampla dentro do campo de Estudos Sociais. Não costuma apresentar questões específicas sobre regiões brasileiras. Atente-se a problemas ambientais das regiões do Brasil. Não tem Geografia na prova da FCM-MG.Questões que exigem interpretação de texto. Atente-se aos problemas ambientais regionais. O tema mais comum é relacionado às ques- tões ambientais de cada regional. 6 Região NoRte: AmAzôNiAAULAS 45 e 46 CompetênCia: 4 Habilidades: 26 e 29 “Não há como aceitar a ideia simplista de que determi- nados espaços ecológicos devam corresponder a espaços econômicos, numa sobreposição plena e totalmente ajus- tável. É utópico supor que o potencial dos recursos naturais de uma área possa ser avaliado em termos de uma socie- dade homogênea na sua estrutura de classes e de padrões de consumo. Somente as comunidades indígenas têm a possibilidade de utilização direta dos recursos oferecidos por um espaço geoecológico determinado.” (Aziz Ab’SAber) “A floresta precisa ter valor em pé.” (berthA becker) 1. AmAzôniA É comum referir-se à região Norte como Amazônica. No entanto, para planejar e promover o desenvolvimento, a região amazônica é dividida em Amazônia legal, Amazônia internacional e ainda como região Norte. Amazônia legal e Amazônia internacional 7 A Amazônia legal, também chamada de Amazônia bra- sileira, foi instituída pela lei nº 1.806/1953, durante o go- verno Vargas. A partir de então, os Estados do Mato Gros- so, Tocantins (na época, Goiás) e metade do Maranhão (até o meridiano de 44º) foram incorporados à região, não necessariamente nesta ocasião, mas a legislação permitiu que, posteriormente, isso fosse feito. Com a definição, o governo pretendia levar desenvolvimento à região. Os critérios para incorporação à Amazônia legal são as características naturais, como bacia hidrográfica, o clima equatorial, as comunidades tradicionais (indí- genas, seringueiros, ribeirinhos) e a própria floresta. Além das questões naturais, existem as questões polí- ticas... E fazer parte da Amazônia legal é ter acesso a recursos. A instituição da definição geográfica e polí- tica da Amazônia legal também possibilitou a desmis- tificação de ideias, como a de que a Amazônia não é uma grande planície, pois possui grandes planaltos e extensas depressões. A Amazônia internacional engloba nove países: Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa (departamento ultramarino da França) e Suriname. Isso equivale a aproximadamente 7 milhões de km2 da Amé- rica do Sul – mais de 60% dessa área estão no Brasil. Sua extensão corresponde à região ocupada pela floresta Ama- zônica, além de áreas de transição para o cerrado e para caatinga, no sul do Maranhão e Tocantins, além de campos, terra firme, alagados, cidades, metrópoles, vilas, pequenas comunidades e muitos idiomas. A região Norte, por sua vez, a maior macrorregião do Brasil, é onde está localizada grande parte da Amazônia brasileira. Possui 3.869.639,9 km2, ou seja, mais de 45% do território brasileiro e compreende os Estados do Ama- zonas, Pará, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá e Tocantins. Esse macrodomínio se destaca pela extraordinária conti- nuidade de suas florestas, pela grandeza de sua rede hi- drográfica e pelas sutis variações de seus ecossistemas em nível regional e de altitude. 1.1. Aspectos físicos Relevo Depressões Depressão da Amazônia ocidental Depressão marginal norte-amazônicaDepressão marginal sul-amazônica Depressão do Araguaia Depressão do Tocantins Planaltos Planaltos residuais norte-amazônicos Planaltos residuais sul-amazônicos Planaltos da Amazônia oriental Planaltos e chapadas da bacia do Parnaíba Planícies Planície do rio Amazonas Planície do rio Araguaia Planície e pantanal do rio Guaporé Planície e tabuleiros litorâneos Predomina nessa região um relevo com altitudes modestas de até 200 metros. Essas terras baixas acompanham os vales dos rios da bacia Amazônica, formando as extensas planícies. As terras mais elevadas encontram-se principalmente no norte dos Estados de Roraima e do Amazonas, onde se localiza o ponto mais alto do Brasil, o pico da Neblina, com 2,9 mil metros de altitude, na serra do Imeri, fronteira com a Venezuela (região do planalto das Guianas). Mais ao sul da região, existe uma es- trutura complexa de relevo, composta de chapadas e planaltos residuais, principalmente nos Estados de Rondônia e do Pará. 8 1.1.1. Hidrografia “O mundo das águas na Amazônia é o resultado direto da excepcional pluviosidade que atinge a região. O grande rio, ele próprio, nasce em plena cordilheira dos Andes, através de três braços, onde existem precipitações nivais e degelo de primavera, a mais de quatro mil metros de altitude. Fora esse setor andino restrito e localizado, o corpo principal da bacia hidrográfica depende de um regime hidrológico totalmente pluvial.” (Aziz Ab’SAber) Bacia hidrográfica do rio Amazonas MApA elAborAdo no bAnco de inforMAçõeS e MApAS doS trAnSporteS de SecretAriA executivA do MiniStério doS trAnSporteS A bacia Amazônica é navegável da foz até Nauta, no Peru, numa extensão de mais de 4 mil quilômetros. Como os rios facilitam o transporte e a comunicação, o maior po- voamento da região concentra-se nas planícies do rio Amazonas e de alguns de seus afluentes. A locomoção da população local é amplamente dependente desta bacia. Os igarapés, por exemplo, foram fundamentais para a ocupa- ção indígena da Amazônia, uma vez que a invenção da canoa possibilitou a organização da maioria dos grupos indígenas da região. A hidrografia é a característica mais marcante da re- gião, que apresenta a maior bacia hidrográfica da Terra, cobrindo mais de 7 milhões de km2, banhando, além de terras brasileiras (4 milhões apenas no Brasil), terras na Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela. Essa imensa rede depende de dois fatores: a floresta Ama- zônica (e sua evapotranspiração) e o clima equatorial, com chuvas em quase todos os dias do ano. Essa é uma das características mais famosas pela qual a Amazônia é conhecida – sua bacia hidrográfica e sua infinidade de água doce. O Amazonas tem sua origem na nascente do rio Apurí- mac (alto da parte ocidental da cordilheira dos Andes), no sul do Peru, e deságua no oceano Atlântico junto ao rio Tocantins, no delta do Amazonas, no norte brasileiro. Ele entra no território brasileiro com o nome de rio Soli- mões e, finalmente, em Manaus, após a junção com o rio Negro. Assim que suas águas se misturam, ele recebe o nome de Amazonas e como tal segue até a sua foz no oceano Atlântico. Sua foz é classificada como mista, por apresentar uma foz em estuário e em delta, o único com essa característica no mundo. 9 A quantidade de água liberada pelo Amazonas para o oceano Atlântico é enorme, cerca de até 300 mil m3 por segundo na estação chuvosa. O rio empurra uma pluma grande de água doce no oceano. A pluma tem cerca de 400 km de comprimento e entre 100 e 200 km de largura. A água doce, sendo mais leve, substitui o oceano salgado, diluindo a salinidade e alterando a cor da superfície do oce- ano por muitos quilômetros. Vários navios, durante séculos, relataram água doce perto da Amazônia, ainda que bem longe da vista da terra, o que, de outra forma, parecia ser o oceano aberto. § Rio Nhamundá: um dos principais afluentes do rio Trombetas, é responsável por dividir os Estados do Amazonas e do Pará. Possui um leito arenoso e águas azul-escuras. Com sua nascente na serra do Jatapu, ele percorre mais de 300 km até chegar ao Amazonas. Sendo bastante utilizado para ativ- idades esportivas como a prática da pesca, é nele que se encontra o tucunaré, um dos peixes mais famosos e que atrai os pescadores por causa do seu estilo de briga (eles atacam qualquer objeto que veem). Rio Tapajós: percorre a extensão de 795 km, inicialmen- te, sendo formado pelos rios Arinos e Juruena. Ao che- gar ao seu afluente Capitão Teles Pires, recebe o nome de Tapajós. É um dos principais afluentes do Amazonas e, quando deságua neste, não se mistura com as águas claras do rio, por causa de sua composição. As águas desse rio possuem uma característica importante: são cristalinas e, assim como outros rios, o Tapajós também tem sido alvo da pesca esportiva, com peixes como o jáu, a piranha e o tucunaré. Há empresas que até dis- ponibilizam barcos com rádio, TV, vídeo, cozinheiros e guias para os turistas e visitantes do local. O rio banha os Estados do Mato Grosso, Pará e Amazonas. Rio Xingu: na margem direita do Amazonas, com 1.979 km de extensão, o rio Xingu atravessa o Mato Grosso até chegar na Amazônia. Tendo uma bacia que cobre uma área de 531 mil km2, faz parte dela 35 municípios e cerca de 25 mil indígenas que vivem ao longo desse rio. Destacado por cachoeiras que possuem mais de 50 metros de altura, ele é constantemente ameaçado pelo desmatamento no Brasil. É em seu curso que a usina de Belo Monte foi construída, próxima ao município de Altamira, no sudoeste do Pará. Rio Juruá: nascendo na serra da Contanama, no Peru, a 453 m de altitude, é um dos mais importantes afluentes da Amazônia, por ser bastante caudaloso e o mais sinu- oso da região. Banha as cidades de Carauari, Juruá, Ei- runepé, Itamarati, Ipixuna e Canamari. De sua foz até o rio Tarauacá, sua largura média é de 140 m, caindo para 100-120 m nos estirões e 80-120 metros nas curvas. Seu leito pode sofrer variações entre 8-16 metros no nível das águas entre a vazante e a enchente, respecti- vamente. Mais de mil km de seu curso são navegáveis durante a cheia (janeiro e fevereiro); no período da seca (maio a setembro), a navegação se restringe a 136 milhas de sua foz. § Rio Juruá: com 3.240 km, é o mais notável aflu- ente do Amazonas, nascido da junção dos rios Mamoré e Guaporé, em frente à cachoeira Ma- deira, formada por grandes rochedos e ilhas, como também por entulhos trazidos durante as enchentes. Pode ser navegável de sua foz até a Alguns dos principais afluentes do Brasil § Rio Negro: é o maior afluente da margem esquer- da do rio Amazonas, o mais extenso rio de água negra do mundo e o segundo maior em volume de água – atrás somente do Amazonas, o qual ajuda a formar. Tem sua origem entre as bacias do rio Orinoco e Amazônica, e também conecta-se com o Orinoco através do canal de Casiquiare. Na Colômbia, onde tem a sua nascente, é chamado de rio Guainia. Seus principais afluentes são os rios Branco e Vaupés, que disputam ser o começo do rio Orinoco junto com o rio Guaviare, que drena a região leste dos Andes, na Colômbia. Após passar por Manaus, une-se ao rio Solimões e, a partir dessa união, passa a se chamar rio Amazonas. O rio Negro é navegável por 720 quilômetros acima de sua foz e pode chegar a ter um mínimo de 1 metro de água em tempo de seca, mas há muitos bancos de areia e outras dificuldades menores. Na estação das chuvas, transborda, inundando as regiões ribeirinhas em distâncias que vão de 32 km até 640 km. O rio negro possui essa cor por causa do húmus que é carregado para dentro do rio com as inundações. O grau de acidez de suas águas é elevado, com um pH de 3,8 a 4,9 (devido à grande quantidade de ácidos em seu interior, proveniente da decomposição dos vegetais), por isso muitos insetos e mosquitos não sobrevivem na região. Este rio recebe o nome de “rio da fome”, porque é pobre e possui poucos nutrientes para os peixes. A ci- dade de Manausé banhada pelo rio que percorre 1.700 km e banha a Venezuela, a Colômbia e o Brasil. Quando o rio Negro se encontra com o rio Solimões, que possui uma cor clara, ele fica bicolor. § Rio Solimões: sua nascente se encontra no Peru e, só quando entra em solo brasileiro, recebe este nome. Ao chegar em Manaus e passar por todos os seus afluentes, ele atinge o comprimento de aproximadamente 1.700 km. É um rio de muita influência para o Norte, pois é nele que as princi- pais atividades são realizadas, como pesca, trans- porte, comércio, lazer e pesquisas. 10 cabeceira de Santo Antônio, na divisa com os Es- tados do Amazonas e do Mato Grosso. O principal braço do Madeira deságua no Amazonas, com cerca de 50 km a montante da cidade de Itacoa- tiara. Em suas águas barrentas, carrega restos de árvores, terras caídas, balsedos (ilhotas flutuantes formadas por emaranhado de plantas) e matupás (capim aquático), principalmente na enchente, o que inspira muito cuidado, pois por ele trafegam centenas de embarcações. Durante as estiagens, emergem bancos de areia, que mudam de direção nas cheias, e baixios, que obrigam os navegantes a reduzir a velocidade das embarcações. Nesse rio, próximo à cidade de Porto Velho, ficam as usinas hidrelétricas de Santo Antônio e de Jiral. § Rio Purus: com águas barrentas iguais a do So- limões e variando de cor conforme a época da enchente ou vazante, esse rio nasce com o nome de Pucani a uma altitude de 500 m, na serra de Contamana, que o separa da bacia do rio Ucayalli. Seus principais formadores são os riachos Curiuja e Cujar. É um rio bem extenso, considerando que possui cerca de 3.325 km de extensão. § Rio Içá ou Putumayo: afluente do Amazonas, com a maior parte de seu percurso no Estado brasileiro do Amazonas, é paralelo ao rio Japurá. O Içá possui 1.645 km de extensão, nasce nos contrafortes andinos do Equador com o nome de Putumayo, corre em direção sudeste, faz a divisa entre a Colômbia e o Peru, percorre terras colom- bianas e, com 310 km aproximadamente, adentra o território brasileiro, no Estado do Amazonas, quando passa a chamar-se Içá. Deságua no rio Amazonas, próximo à cidade de Santo Antônio do Içá, com uma desembocadura de 700 m de largura aproximadamente e uma altitude, neste ponto, de 55 m. É navegável quase na totalidade. § Rio Paru: é um dos rios que banha o Estado do Pará. Nasce na serra de Tumucumaque, na fron- teira com o Suriname, cruzando em toda a sua ex- tensão o município de Almeirim, no Pará, até de- saguar na margem esquerda do rio Amazonas. Em seu curso superior e médio, cruza as nações dos povos apalaí e wayana. Possui ainda em seu curso a cachoeira Acutumã. Não se deve confundir este rio com o rio Paru do Oeste, que nasce próximo ao Pará, mas deságua no rio Trombetas, afluente do Amazonas, e que serve de divisa entre os mu- nicípios de Óbidos e Oriximiná, também no Pará. Este último, em seu curso, atravessa as nações dos tiriós e dos zoé. § Rio Uatumã: é um curso de água, afluente da margem esquerda do rio Amazonas. Tem instala- do em seu leito a usina hidrelétrica de Balbina. A sua nascente se localiza na divisa dos Estados do Amazonas e de Roraima, no maciço das Guianas. 1.1.2. Clima cliMogrAMA dA região norte, Município de uAupéS, AM cliMA equAtoriAl (2.892 MM) O clima da região amazônica é equatorial úmido, carac- teriza-se por elevadas médias de temperatura e de preci- pitação, durante todo o ano, e a sua amplitude térmica é bastante estável. 1.1.3. Vegetação Apesar de a região amazônica abrigar manchas de ve- getação de cerrado e de campos, em Roraima, Rondônia e no Amapá, além de vegetação litorânea, no Pará e no Amapá, a maior parte de sua cobertura vegetal é forma- da pela floresta Amazônica, também conhecida como floresta tropical pluvial, hileia ou floresta equatorial. - Saga da Amazônia – Geraldo Azevedo multimídia: música 11 Floresta Amazônica O fato de possuir terras nos dois lados da linha do Equa- dor reflete diretamente na marcha dos períodos de maior precipitação no espaço total da região amazônica, pois, en- quanto a porção sul é dominada por chuvas de verão austral (de janeiro a março), a porção norte recebe chuvas mais in- tensas durante o verão boreal (de maio a julho). Entre esses dois períodos extremos, existem transações progressivas, sendo que, na maior parte da calha central, chove também nos meses de março a maio. Como as demais formações vegetais do Brasil, a floresta Amazônica vem sofrendo significativas intervenções huma- nas predatórias, como as queimadas e os desmatamentos decorrentes da ação de madeireiros, da implantação de fa- zendas de gado e de agricultura e de empresas de mineração. De modo geral, são encontrados na floresta Amazônica dois ecossistemas principais: as matas de terra firme e as matas de inundação, como vimos anteriormente nas aulas de domínios morfoclimáticos. Perfil do rio Amazonas, com suas respectivas vegetações 1.2. Processo de ocupação e políticas públicas na Amazônia No governo militar, a Amazônia foi marcada por uma série de políticas voltadas para promover a ocupação e o de- senvolvimento da região Norte, considerada, até então, um grandioso vazio demográfico. Esse vasto “espaço vazio” existente na Amazônia e seus recursos naturais surgiam para os representantes militares como forma de soluciona- rem os problemas de ordens econômica, social e geopolí- tica. A Amazônia se tornava envolvida pelo projeto militar de desenvolvimento e ocupação. No entanto, todo processo de ocupação vivenciado no ter- ritório amazônico é considerado, por muitos pesquisado- res e estudiosos, como um processo que ocorreu de forma desordenada e predatória, em que as palavras de ordem eram “integrar para não entregar” e “homens sem terra para terra sem homens”, definidas como estratégias milita- res que aliaram a ideia de desenvolver e ocupar a região a uma estratégia de segurança nacional. A definição de “de- sordenada” surgiu à medida que houve ausência de plane- jamento adequado para o processo, e a de “predatória” se entende pela falta de gerência do Estado brasileiro, o que viabilizou a redução de florestas, desaparecimento de nas- centes e favoreceu a redução de algumas espécies de plan- tas e animais, comprometendo a flora e a fauna presentes na região. Essas medidas ratificaram a idealização de que a Amazônia necessitava, a qualquer custo, ser desbravada, povoada e protegida de possíveis interesses estrangeiros voltados à internacionalização da região e, ao mesmo tempo, visava a inserir na região a lógica de livre-mercado, à medida que se financiavam os projetos infraestruturais básicos necessários para ocupação e consequente expan- são da fronteira agrícola, facilitando, ao mesmo tempo, o 12 deslocamento da fronteira econômica dos grandes centros, à medida que se tornava viável as instalações das primeiras indústrias privadas, resultantes dos projetos de integração e fomentadas por meio da liberação de recursos governa- mentais em prol da região. As políticas de ocupação implantadas, em geral, tinham como objetivo atrair colonos para a região amazônica, visan- do a fortalecer um ciclo de povoamento regional, por meio de estímulo à imigração de pequenos produtores e agriculto- res oriundos do sul e sudeste do País. Estas políticas assegu- raram o povoamento da região, como forma de resguardar a soberania nacional, assim como do território amazônico. Assim, foi possível utilizar a região para manobras políticas – em um contexto que favorecia a política agrária brasileira –, pois surgia como válvula de escape para as pressões ocor- ridas nas regiões Nordeste e Sul, influenciadas, principalmen- te, pelos constantes e intensificados conflitos agrários. O desenvolvimento da Amazônia brasileira envolve dois pe- ríodos: o primeiro corresponde ao regime militar, quando foram implantadas várias estratégias de desenvolvimento com objetivo de se obterem vantagens econômicas e ganhosimediatos, o que resultou em consideráveis impactos socio- ambientais nas áreas rurais e urbanas da Amazônia; já para o segundo período, pós-constituinte, são observados maior desempenho e responsabilidade do governo federal, com a formulação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento sustentável da Amazônia. No primeiro período, o governo fe- deral buscou formular e introduzir um conjunto de políticas de integração da Amazônia, com base no decreto-lei nº 1.106, de junho de 1970, criando o Plano de Integração Nacional (PIN) e os Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento (ENIDs), justificados com caráter de urgência e pelo relevante interesse público de promover a maior integração à economia nacional das regiões compreendidas nas áreas de atuação da Sudam. Os programas foram estabelecidos por meio do Pro- grama Avança Brasil e favoreceu a formação de novas frentes de expansão do povoamento rumo ao interior da região. A partir de então, o governo começou a viabilizar um proces- so dinâmico e estruturado para a ocupação da região. Neste contexto, surgiram vários projetos, entre eles as construções das rodovias Transamazônica (BR-230), Cuiabá–Santarém e Perimetral Norte, que visavam à política de estruturação e ex- pansão dos eixos rodoviários, os quais objetivavam viabilizar, de forma intensa, o processo de interligação da região aos demais centros econômicos do Brasil. As primeiras ocupa- ções na região fizeram surgir as primeiras cidades, que, em comum, tinham a arquitetura voltada para frente dos rios, fato justificado devido aos principais meios de locomoção disponíveis na região dependerem dos rios e igarapés, seja para transporte humano ou para escoamento da produção e exportação da borracha produzida. AberturA dA trAnSAMAzônicA A partir de 1970, influenciado, diretamente, pelas facili- dades de locomoção, disponibilidade de terras e de finan- ciamentos advindos do governo federal começam a ser observados crescentes fluxos migratórios e de colonização das margens dessas grandes rodovias. A partir de então se observa uma nova estruturação no modo de ocupação da região, em que as cidades começam a surgir de frente para as estradas e as rodovias, apresentando extraordinário crescimento, impulsionado pelos surtos de desenvolvimen- to advindos da exploração dos recursos naturais , facilidade de acesso e disponibilidade de terras. As agrovilas O modelo dos militares para ocupação da Amazônia previa a construção de agrovilas, que eram núcleos residenciais e, ao mesmo tempo, lotes de terra para produção. Faziam parte do plano de colonização, onde brasileiros de várias regiões pudessem lá se esta- belecer com suas famílias e, sobretudo, povoar aquele território praticamente isolado do resto do País. Para garantir razoáveis condições de vida aos novos ha- bitantes, o projeto previa a construção de estrutura urbana usando a madeira das árvores derrubadas nos lotes de plantação. Assim, dotaram-se as agrovilas de residências, escolas, rodoviária, instalações comerci- ais, centro de lazer, posto médico etc. A criação de uma rede de pequenas cidades planeja- das ao longo da Transamazônica vislumbrou não só a ocupação pioneira de uma vasta área de floresta a ser colonizada, mas também e principalmente a possib- ilidade de construção de um ambiente urbano novo, sem contingências. 13 Pois ali, segundo seus idealizadores, as desigualdades seriam eliminadas, com a reforma agrária garantindo a distribuição de renda mais igualitária. Ali, “homens selecionados” seriam capazes de utilizar as modernas técnicas da agropecuária e incrementar a produção agrícola. A nova comunidade planejada, “coesa, feliz e progressista”, receberia orientação sobre conduta do grupo, moral, espírito comunitário e religioso. O traçado racionalista dos núcleos urbanos aproximaria os moradores e a seleção criteriosa dos colonos im- pediria a segregação por religião, costumes, vínculos pregressos ou procedência. Esta estrutura urbano-ru- ral seria a base para “uma nova civilização“. Para atrair colonos para a Amazônia, uma grande campanha publicitária foi lançada em rádio, televisão e jornal. A notícia do assentamento de colonos na Transamazônica circulou entre os sem-terra através da mídia e do contato pessoal. Candidatos viajaram até as cidades onde a seleção estava acontecendo, e líde- res de Igrejas protestantes usaram seus púlpitos para dar conhecimento aos membros da sua congregação das oportunidades de se “buscar a terra prometida”; cartas dos pioneiros encorajaram seus familiares a se inscreverem no processo seletivo de colonos. Órgãos do governo, entre eles o Incra e o Banco do Brasil, se encarregavam da administração e do finan- ciamento de plantações, mas o plano não colheu os resultados esperados. Alguns colonos ficaram por lá; a maioria, porém, não se adaptou às condições de vida na selva e deixou a região. Em contraste com a bem-sucedida colonização privada do norte do Paraná, o empreendimento estatal no território amazônico apresentou problemas de concepção, de implantação e de gerenciamento. Mais que isso, aproximou-se de um modelo utópico, idealizando não apenas o ambiente físico, mas também o homem vin- culado a ele. Ao longo do período entre 1977 e 1987, intensificou-se a pressão da população sobre a floresta, principalmente nas regiões de Rondônia e de Mato Grosso, em torno do eixo Cuiabá–Rio Branco e em Tocantins, Maranhão e Pará, localizando-se em torno de quase toda extensão da malha rodoviária Belém–Brasília. Já no período entre 1988 e 1991, houve uma expansão no processo de ocupação, em todo território, sendo observados focos de populações nos Estados de Roraima, Acre, Pará, principalmente, na cidade de Santarém, e às margens da BR-364. O fato que chama a atenção, neste período, está na elevação dos níveis de ocupação das terras no Estado do Mato Grosso, influenciada, diretamente, pela expansão da pecuária e introdução da monocultura da soja na Amazônia. Neste sentido, as políticas públicas para a Amazônia ex- pressaram interesses divergentes e conflituosos – umas baseadas no favorecimento de novas infraestruturas para o desenvolvimento econômico, principalmente do agrone- gócio em grande escala, e outras focadas nos interesses das populações locais e na sustentabilidade socioambien- tal. Além dessa influência gerada por parte dos projetos rodoviários de ligação da região às demais regiões do País, outros projetos impulsionaram o fluxo migratório para a Amazônia, entre eles o projeto Grande Carajás, fazendo parte da terceira fase do projeto de desenvolvimento da região Norte e voltado não só para o ramo da mineração, mas também para a metalurgia, agricultura, reflorestamen- to e pecuária, que foi considerado, por muitos, como sendo um dos pilares do programa de desenvolvimento e integra- ção da região. Na visão do governo federal, devido a sua magnitude, com o projeto ressurgiu, novamente, o poten- cial econômico e um novo ciclo de povoamento da região. Pensar em políticas públicas para a região amazônica requer uma análise contextual em termos da dinâmica territorial e sociopolítica envolvida no processo de desenvolvimento da região. Neste sentido, é importante enfatizar que, apesar de seu registro verde no imaginário global, a região amazônica vem se tornando progressivamente, nas últimas décadas, palco de inúmeros conflitos envolvendo uma gama bastante diferen- ciada de atores, tais como instituições governamentais, ONGs, populações indígenas, pequenos agricultores, pescadores arte- sanais, quilombolas, grupos extrativistas, grandes latifundiários, madeireiros, garimpeiros, entre outros. Tais conflitos expressam não apenas uma luta material pelo uso dos recursos naturais da região, mas também disputas simbólicas em torno da sig- nificação destes recursos e de diversos elementos da natureza para cada um dos grupos envolvidos. O processo de integração regional, promovido a partir dasegunda metade do século XX, teve forte influência sobre os conflitos na região. Paralelamen- te aos programas de integração regional, a política ambiental brasileira também contribuiu fortemente para a configuração atual deste espaço tanto no plano concreto como no plano simbólico, tendo sido, em alguns casos, a origem de conflitos entre diferentes usos e interesses sobre o território. multimídia: sites www.mma.gov.br 14 1.3. Aspectos populacionais A Amazônia legal possui uma extensão de 5,217 milhões de km2, correspondente a cerca de 61% do território na- cional, e abrange os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão, a oeste do meridiano 44º. Em que pese sua grande extensão territorial, o efetivo demográfico da região é de 21 milhões de habitantes, ou seja, 12,4% da população nacional, o que lhe confere a menor densida- de demográfica do Brasil (4,14 hab/km2). Historicamente, a dinâmica demográfica da Amazônia es- teve sempre condicionada aos períodos de prosperidade e decadência por ela experimentados, que eram acompa- nhados de fluxos e refluxos de população, resultado de sua frágil base econômica de natureza extrativista. A partir de 1970, contudo, com a implementação, na Amazônia, de um conjunto de políticas de desenvolvimento, imprimiu-se uma nova configuração ao seu processo de ocupação eco- nômica e demográfica. O padrão de povoamento regional, tradicionalmente fundamentado na circulação fluvial, sofreu alterações estruturais significativas nas quatro últimas décadas, em decorrência do processo de ocupação econômica verifica- do. As rodovias atraíram o povoamento para terra firme e para novas áreas, abrindo grandes clareiras na floresta e, sob o influxo da nova circulação, a Amazônia urbani- zou-se e industrializou-se, embora com sérios problemas sociais e ambientais. A várzea e a terra firme, elementos históricos de organização da vida regional, embora esma- ecidos, permanecem como pano de fundo. Duas características marcantes devem ser ressaltadas em relação à ocupação do espaço regional: § Padrão linear: na Amazônia, a integração terrestre e fluvial do território tendeu a formar eixos de trans- porte e infraestrutura ao longo e em torno dos quais se concentram investimentos públicos e privados. Esses eixos acabam definindo um macrozoneamento da re- gião e neles concentram-se a população, os migrantes e os núcleos urbanos, com forte pressão sobre o meio ambiente. Tal macrozoneamento também conforma grandes espaços entre os eixos, domínio de terras indí- genas, unidades de conservação e populações extrati- vistas e ribeirinhas isoladas. cASAS Ao longo do rio JutAí, Afluente do rio AMAzonAS populAção ribeirinhA (2013) § Grande arco de povoamento: o adensamento de estradas, no leste do Pará, Maranhão, Tocantins, Mato Grosso e Rondônia, compõe um grande arco de po- voamento. Essa faixa acompanha a borda da floresta, justamente onde se implantaram as estradas, e se situa como cerne da economia regional, à exceção da Zona Franca de Manaus e de alguns projetos de mineração. A ocupação da região amazônica se fez em surtos de- vassadores ligados à valorização momentânea de pro- dutos no mercado internacional, seguidos de longos períodos de estagnação. A esse padrão associam-se duas características básicas da ocupação regional: a ocupação se fez invariavelmente e ainda hoje se faz a partir de iniciativas externas; e a importância da Geo- política, que explica o controle de tão extenso território com tão poucos recursos. A Geopolítica esteve sempre associada a interesses econômicos, mas estes foram As Amazônias de Bertha K. Becker (em três vo- lumes) reúne as pesquisas de mais de 40 anos da geógrafa sobre a região. Bertha Becker é uma referência internacional em Geografia Po- lítica, principalmente em estudos sobre a Ama- zônia, que considerava estratégica para o país. Sua obra propõe um novo modelo de desen- volvimento sustentável para a região: “Produzir para preservar.” Assim, chama a atenção para necessidade do desenvolvimento social, eco- nômico e tecnológico integrado, protegendo a natureza, a qualidade de vida da população local e a autonomia do Brasil no mundo global. As Amazônias - Bertha K. Becker multimídia: livros 15 via de regra malsucedidos na sua implementação, não conseguindo estabelecer uma base econômica e populacional estável, capaz de assegurar a soberania sobre a área. O controle do território foi mantido por estratégias de intervenção em locais estratégicos, de posse gradativa da terra (uti possidetis) e da criação de unidades administrativas diretamente vinculadas ao governo central. No período entre 1970 e 2010, a população amazônica quase triplicou, evoluindo de, aproximadamente, 7,3 mi- lhões para 21 milhões de habitantes, em decorrência das elevadas taxas anuais de crescimento experimentadas, sempre superior à média brasileira, que se mostra decli- nantes ao longo das três últimas décadas – 4,38% a.a. (1970-1980), 3,30% (1980-1991) e 2,26% (1991-2000). Essa tendência manifesta-se em quase todas as unidades federadas, à exceção do Amapá, que registrou taxas cres- centes e elevadas de incremento populacional, atingindo 5,71% a.a. (1991-2000), como resultado de fluxos migra- tórios em direção ao Estado. A distribuição da população entre os Estados mantém o seu perfil concentrador, embora mais atenuado. Cerca de 70% do total de habitantes estão em apenas três Estados: Pará (29,41%), Maranhão (26,84%) e Amazonas (13,36%). Ressalte-se, todavia, que o Maranhão vem declinando sua participação relativa, uma vez que passou de 41,60 (1970) para 26,84% (2001), que mostra sua característica de Es- tado de emigração. Em oposição, Rondônia, Mato Grosso e Amapá, embora ainda detenham reduzida participação no contingente populacional total, ampliaram-na de forma significativa, despontando, dessa forma, como novas áreas de atração populacional. 1970 1980 1991 2000 Legenda 1.500.000 750.000 150.000 Princ. Rodovias Princ. Rios Delimitação das Ufs. 0 150 700 km Escala Grá�ca Fonte: Censos Demográ�cos (1970-2000). Elaboração: Douglas Sarhler Projeção: Lat.xLong.SD69 * População dos municipios com mais de 20.000 hab. Os demais municipios não estão representados. * populAção doS MunicípioS coM MAiS de 20 Mil hAbitAnteS. oS deMAiS MunicípioS não eStão repreSentAdoS. elAborAção: douglAS SAthler. proJeção: lAt × Long. SAD69. fonte: cenSoS deMográficoS (1970-2000). A composição da população por sexo mantém certo equilíbrio entre o número de homens e mulheres, já que eles represen- tam 50,4% do total populacional e elas, 49,5%. A faixa etária da população amazônica é essencialmente caracterizada pelos jovens. O contingente dos menores de 20 anos de idade representa 51% do efetivo total, o que suscita a necessidade de fortalecimento de políticas públicas sociais dire- cionadas para esse segmento populacional, principalmente na área educacional e de formação profissional. Outro aspecto a destacar do crescimento demográfico refere-se ao componente migração, cujo papel foi relevante na conformação do atual perfil demográfico da região, sobretudo nos anos 1970. Apesar da indisponibilidade de dados mais recentes que permitam uma avaliação mais precisa do movimento migratório para a Amazônia, é opinião majoritária que a migração inter-regional reduziu-se em relação às décadas anteriores e, hoje, é dominantemente de natureza intrarregional. Existem diferenças na história e nas formas de ocupação das distintas porções da Amazônia legal. Parte dos movimentos no século XX envolvendo o Mato Grosso, Maranhão e Tocantins é mais antiga que a ocupação dos demais Estados. Há também diferenças significativas entre os Estados do Norte. Antes da década de 1970, já havia um pequeno fluxo migratório para 16 o sul do Pará, norte de Goiás (atual Tocantins), Rondônia e Acre, num processo de “colonização espontânea” que buscava “terrasvirgens”, na verdade já ocupadas por indígenas e posseiros. Na década de 1970, a colonização intensiva ocorreu inicialmente em áreas cortadas pela rodovia Transamazônica, no Pará. Diante dos problemas ali enfrentados, o governo passou a conceder incentivos para a incorporação de terras por grandes empreendimentos agropecuários (ocupação em larga escala). De modo geral, sob o regime militar, novos fluxos migratórios se dirigiram para as margens dos novos eixos rodoviários, atraídos pelos projetos de colonização e de desenvolvimento. Pirâmide etária do Brasil por Estados (2010) AtlAS geográfico eScolAr. rio de JAneiro: ibge (2010). É importante sublinhar as direções dos fluxos migratórios que balizam o povoamento atual e indicam a direção fu- tura. O Estado do Mato Grosso seguido do Pará, na sua porção leste, foram aqueles que mais atraíram migrantes entre 1991 e 1996. Contudo, esse padrão tradicional foi rompido em três pontos: § A emergência de novas áreas de atração no extremo norte, isto é, no Amapá, na porção que faz fronteira com o Pará e a Guiana, e em Roraima, na fronteira com a Venezuela e no eixo da BR-174. § O delineamento de novos corredores de povoamento. A partir de Mato Grosso, um segue a estrada Cuiabá– Santarém (BR-153) e outro penetra pelo Estado do Amazonas, em direção a Manaus e à BR-174. No Pará, a migração para a calha do Amazonas tende a se ligar ao norte, com forte migração para o Amapá. § A grande redução da migração para Rondônia que, re- vertendo sua condição de receptor, hoje pode ser con- siderado um Estado de emigração, principalmente em favor de Roraima. Embora com ritmo reduzido e de caráter sobretudo intrarre- gional, a migração continua a ser fator espontâneo e induzido de ocupação pioneira do território e de abertura de matas, delineando novos corredores de povoamento que unem o sul da Amazônia a Roraima e Amapá, onde se reproduz o ciclo do uso da terra, característico da região nas últimas décadas. 17 O binômio mobilidade/urbanização da população é um dos mais dolorosos aspectos do processo de ocupação regional, uma vez que as cidades não tiveram condições de recursos e de tempo para absorver os migrantes. Como resultado, a Amazônia é uma floresta urbanizada, em que seu processo de formação de núcleos urbanos representa um dos maiores problemas ambientais nessa região. Em contraposição, a população rural vem apresentando ta- xas de crescimento decrescentes e negativas. Registrou, no período 1991-2000, a taxa de –1,72%, fato verificado em cinco dos nove Estados, denotando um contínuo e progres- sivo processo de esvaziamento da zona rural. Associada ao crescimento da população urbana, verifica- -se a formação de novos núcleos. Contudo, o traço mais importante da urbanização é a alteração no tamanho das cidades. Até 1970, elas mantinham um padrão estável de forte primazia urbana, pois o crescimento contínuo sempre foi concentrado nas capitais estaduais. A partir de então, esse padrão foi rompido, com a exceção dos Estados do Amazonas, Roraima e Amapá. A Amazônia é, assim, a única região do País onde cresce a população que vive em cidades com menos de 100 mil habitantes, sendo expressivo o crescimento de cidades pe- quenas entre 20 e 50 mil habitantes. “Quanto às cidades, tiveram um papel logístico essencial no processo de ocupação. A Amazônia tornou-se uma floresta urbanizada, com 61% da população, em 1996, vivendo em núcleos urbanos, apresentando ritmo de crescimento superior ao das demais regiões do País, a partir de 1970, e uma desconcentração urbana, à medida que cresceu a população não mais apenas nas capi- tais estaduais, mas nas cidades de menos de 100 mil habitantes. É verdade que as cidades se tor- naram um dos maiores problemas ambientais da Amazônia, dadas a velocidade da imigração e a carência de serviços, mas são também importante mercado regional.” (berthA becker, 1997) Esse processo é decorrente, sobretudo, da criação de municípios, após a Constituição de 1988, processo esse que incidiu de forma intensa e generalizada em todos os Estados da região. Fator importante a registrar é que as capitais, apesar de continuarem crescendo em termos absolutos, não são mais as principais concentradoras da população urbana, que hoje passa a viver, crescente- mente, em cidades médias e pequenas fora das grandes aglomerações. O ritmo de urbanização, embora acelerado até agora, tende a se reduzir por dois motivos: primeiro, porque a multiplicação de núcleos, ocorrida na década de 1990, deveu-se, em grande parte, ao intenso processo de for- mação de novos municípios e não dá sinais de continui- dade; e, segundo, devido ao arrefecimento da imigração. Este livro oferece a estudantes, professores, pesquisadores, especialistas em gestão e po- líticas públicas – e a todos os interessados neste tema – uma compreensão da dinâ- mica regional amazônica a partir da análise das formas conflituosas de sua apropriação por diferentes autores. Essa compreensão é pontuada pelo conceito de fronteira, desen- volvido pela autora em obras anteriores, en- quanto espaço não plenamente estruturado e, por isto mesmo, potencialmente gerador de realidades novas; um espaço cuja especi- ficidade é a sua virtualidade histórica. A este conceito somam-se perspectivas derivadas da observação aguda das complexidades do contexto contemporâneo, que contribuem para redefinir a dinâmica da região. Amazonia - Geopolítica na Virada do III Milenio - Bertha K. Becker multimídia: livros 1.3.1. Urbanização Uma das características mais marcantes do recente processo de ocupação demográfica do espaço regio- nal amazônico diz respeito à urbanização, que vem se fazendo em ritmo intenso e acelerado, introduzindo profundas mudanças na estrutura do povoamento re- gional. Entre 1970 e 2000, a população urbana cresceu mais que a população total, com taxas correspondentes ao dobro da média do País, passando de 35,7% para 68,2%, embora a taxa de crescimento anual da popu- lação urbana apresente tendência declinante ao longo do período. 18 viStA AéreA do Município de rio brAnco, cApitAl do Acre (2014) População da Amazônia legal (2007)* População da Amazônia Legal (2007)* Legenda Projeção: Lat.x.Long SAD69 Elaboração: Douglas Sathler * População dos munícipios com mais de 20.000 hab. Os demais munícipios não estão representados. Estimativas: IBGE (2007). Fonte: Contagem (2007). Delimitação das Ufs. Prínc. Rodovías Prínc. Rios 150,000 750,000 1.500,000 0 Escala Gráfica 350 700 km * populAção doS MunicípioS coM MAiS de 20 Mil hAbitAnteS. oS deMAiS MunicípioS não eStão repreSentAdoS. eStiMAtivAS: ibge (2007). elAborAção: douglAS SAthler. proJeção: lAt. × Long. SAD69. fonte: contAgeM (2007). O acelerado e descentralizado processo de urbanização regional não é sinônimo de uma urbanização autônoma, revelando muito mais uma “emancipação dependente”. Com efeito, as cidades e municípios dependem da trans- ferência de recursos financeiros, sobretudo da União, e da arrecadação do ICMS (imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de comuni- cação), incrivelmente concentrados nos municípios das capitais estaduais. Deste modo, os municípios não corres- pondem a uma força econômico-financeira motriz, mas certamente constituem uma força política, à medida que expressam o pacto entre o poder local e as instâncias su- periores da ordem federativa. - Amazônia – Roberto Carlos multimídia: música 19 1.4. Desenvolvimento econômico, impactos ambientais e propostas de solução A economia na Amazônia baseou-se no extrativismo de produtos como látex, açaí, madeira e castanha. No Pará, Rondônia e Mato Grosso, é significativa a agropecuária, com enormes fazendas de criação de gado de corte e plan- tação de soja. Em Rondônia, nos últimos anos, também vem ganhando destaque a plantação de café. A região também é rica emminérios – no Pará, está a serra dos Carajás, a mais importante área de mineração do País, produtora de grande parte do minério de ferro exportado, e a serra do Navio, no Amapá, rica em manganês. A extra- ção mineral, porém, praticada sem os cuidados adequados, contribui para a destruição ambiental. No Amazonas, na região de Coari, está o maior polo de extração de petróleo em terra firme do Brasil, onde há também produção de gás natural. No Amazonas, o gasoduto Coari–Manaus, em fase de conclusão, busca atender a carência de energia do Ama- zonas, especialmente da capital, onde está o maior polo eletroeletrônico da América latina. O governo federal oferece incentivos fiscais para a ins- talação de indústrias no Amazonas, especialmente para montadoras de eletrodomésticos. Sua administração cabe à Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), e os incentivos deverão permanecer em vigor, já que o Polo Industrial de Manaus (PIM), além de ser a base da econo- mia do Amazonas, também contribui para diminuir o des- matamento no Estado, segundo estudos da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). De acordo com levantamento da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), a região ocupa o segundo lugar – atrás do Sudeste – nos investimentos públicos e privados. A região amazônica tem priorizado a oferta e a redistri- buição de energia para seus Estados. O Pará, por exemplo, concluiu, em 1999, a linha Tramoeste, que leva a energia de Tucuruí, no rio Tocantins, ao oeste paraense. No Amazo- nas, como a planície da bacia Amazônica inviabiliza a cons- trução de hidrelétricas, o Estado investe no gás natural. Um exemplo disso é a instalação do gasoduto Urucu–Co- ari–Manaus, construído pela Petrobras, que liga o Polo Arara, localizado na região petrolífera de Urucu (município de Coari, Amazonas) à refinaria Isaac Sabbá, em Manaus, num trajeto de 663,2 km, que abastece sete municípios. Sua construção foi parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e recebeu R$ 2,49 bilhões de financia- mento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes). Sua vazão é de 4,1 milhões de m3 diários e está em operações desde 2009. O programa federal de eletrificação rural – Luz no Campo – atende os Estados de Rondônia, Acre, Roraima, Pará e Tocan- tins. A chegada da energia elétrica permitiu a mecanização da agricultura. No rio Madeira, em Rondônia, estão sendo construídas duas grandes usinas hidrelétricas que, além de atender a região, levará energia para o Sudeste do País. 1.4.1. Redes de informação e tecnologia O Sipam/Sivam – Proteção e Vigilância da Amazônia – é um gigantesco projeto do governo brasileiro para o controle da Amazônia, baseado em tecnologia moderna, sob o qual jaz uma estratégia contra a intervenção territorial externa, com relação ao tráfico de drogas e ao meio ambiente. Iniciativa na- cional, com um custo total de US$ 1,4 bilhão e necessitando de tecnologia avançada, o projeto se fez graças às facilida- des de financiamento externos, com o banco estadunidense Eximbank voltando a fazer um empréstimo ao Brasil, e com grandes facilidades, respondendo por 85% do financiamento. Foi através do financiamento do projeto Sivam que os EUA conseguiram participar, de alguma forma, no War on Drugs (guerra às drogas) no Brasil. E a Amazônia entra, no século XXI, sob o comando de um sofisticado sistema de informação. Alguns núcleos urbanos regionais servem de apoio ao projeto. 1.4.2. Extrativismo do látex Por volta de 1870, a região amazônica passou a receber grande número de migrantes – principalmente da região Nordeste, em razão da seca prolongada no sertão nordes- tino e do desenvolvimento de atividades extrativistas no norte do País, como a extração de castanha-do-pará, de madeiras e do látex para a fabricação da borracha. Naquele período, a borracha já era conhecida no mercado mundial; no entanto, foi somente a partir de 1888, após a invenção do pneu e da popularização do automóvel, que a borracha transformou-se num produto de grande valor e de grande procura pelas indústrias. Em 1910, metade da borracha consumida no mundo saía da Amazônia. A procura por seringueiras nativas levou mui- tas pessoas, desde o final do século XIX, a se embrenhar na mata e atingir a região que é hoje o Estado do Acre – na época, o território pertencia à Bolívia. MigrAnteS nordeStinoS, no finAl do Século xix 20 O extrativismo do látex e da castanha-do-pará (fim do sé- culo XIX e início do século XX) foi o motor do processo de produção e organização do espaço regional, estimulando: § a atração de migrantes brasileiros de outras regiões e de imi- grantes estrangeiros (espanhóis, portugueses, franceses etc.); § a construção dos portos de Belém e de Manaus; § a incorporação do Acre ao território brasileiro e a funda- ção das cidades de Xapuri e Brasileia, pelos seringueiros; § a expansão da rede urbana e a modernização dos es- paços urbanos, principalmente de Manaus e de Belém; § a instalação de pequenas indústrias de bens de consu- mo, sobretudo em Belém e Manaus; e § a atração de capitais estrangeiros, por meio da instala- ção de bancos, empresas de comércio e companhias de navegação inglesas, francesas e estadunidenses. Além desses impulsos à produção de espaços geográfi- cos, foram implantadas colônias agrícolas na chamada Zona Bragantina, no nordeste do Pará, ocupados por migrantes nordestinos e estrangeiros que lá desenvol- veram a agricultura. Essas colônias foram criadas por iniciativas públicas e privadas, e os loteamentos foram vendidos a longo prazo ou doados aos interessados em se estabelecer no lugar e desenvolver atividades agrícolas e de criação de animais. Com a perda de mercado, a região Norte deixou de receber investimentos e fluxos migratórios e de ser um espaço de atração populacional, desacelerando o processo de cons- trução espacial, retomado apenas a partir da década de 1930 e, principalmente, 1960, por meio de políticas de in- centivo do governo federal. Arco do deSMAtAMento ou fronteirA AgrícolA 1.4.3. A mineração e o avanço da agropecuária: os problemas ambientais decorrentes Os projetos de mineração A mineração apresentava-se como alternativa viável para o desenvolvimento da Amazônia, com destaque ao Pro- jeto Minério de Ferro Carajás, gerido pela CVRD – Com- panhia Vale do Rio Doce – e localizado no município de Marabá, sudeste do Pará. Outro projeto de grande porte, localizado também no Pará, foi o Projeto Trombetas, que consistia na mineração e exportação de bauxita metalúr- gica. Analisando-se os documentos da época, percebia-se uma grande preocupação com o desenvolvimento, sem levar em conta os custos sociais e ambientais. Pretendia- -se com os projetos em implantação transformar a região num importante exportador de produtos mínero-metalúr- gicos e também de produtos agrícolas. A partir do Projeto Ferro Carajás (mina, ferrovia e por- to), foi concebido todo um programa de aproveitamen- to integrado de recursos minerais, agrícolas e florestais. Denominado Projeto Grande Carajás, que visava dar su- porte a investimentos do setor privado na região, tinha o objetivo de atender a projetos agrícolas e industriais que se instalassem numa área de 900 mil km2, que cir- cunda o polo minerado. O Projeto Trombetas teve, em 1979, o início de sua ope- ração de mineração e de exportação de bauxita meta- lúrgica, primeira etapa na produção do alumínio primá- rio, pela Mineração Rio do Norte (MRN), no município de Oriximiná, às margens do rio Trombetas. No início da operação, a madeira não considerada de lei era utilizada na secagem do minério. Atualmente, os resíduos da bio- massa, removidos para facilitar a mineração, são aprovei- tados para o reflorestamento. 21 A serra do Navio, implantada no final da década de 1950, no Amapá, foi até a década de 1990 a principal mina de manganês do Brasil, com uma produção acumulada de mais de 30 milhões de toneladas. Em1968, havia a preocupação com o crescimento da pauta de exportação, mas também com a ocupação do espaço. Buscava-se sair da economia baseada na indústria extrativa vegetal e em modestas atividades agropecuárias, para novas formas agropastoris e a industrialização dos produtos naturais. A exaustão dessa mina foi compensada com a definição de novas reservas no sul do Pará, em especial a jazida do Igarapé do Azul. A casseterita é o principal mineral de minério de estanho. Foi encontrada pela primeira vez na região em 1952, no antigo território de Rondônia, mas sua exploração econômica só se iniciou em 1959, através da garimpagem. Tratava-se de uma atividade sazonal, em que se trabalhava na estação seca nos aluviões, e, quando chovia, os garimpeiros iam para as cida- des ou retornavam às áreas agrícolas de origem. Na década de 1980, houve uma gradual substituição da garimpagem pela produção mecanizada, controlada por grandes grupos privados, como o Grupo Paranapanema, que implantou e opera a mina de Pitinga, maior produtora do País, no municí- pio de Presidente Figueiredo, no Estado do Amazonas. iMAgeM de SAtélite de cArAJáS (pA), eM 2009. uMA enorMe crAterA é reSultAdo dA reMoção de MilhõeS de tonelAdAS de Minério de ferro. tAl iMpActo obrigA AS eMpreSAS A cuMprireM uM rígido progrAMA de recuperAção de áreAS degrAdAdAS e coMpenSAção AMbientAl. O garimpo de ouro na Amazônia tem sido praticado de modo desordenado e itinerante. Essa prática deixa grandes problemas socioeconômicos para as comunidades locais, tendo em vista o dano ambiental causado pelas práticas rudimentares, como a amalgamação ineficiente combinada ao lançamento de rejeitos no meio ambiente. No entanto, após décadas de intensa extração, com mais de duas mil toneladas produzidas, a garimpagem passou por transfor- mações à medida que o ouro, facilmente aproveitável, tem se tornado escasso. Os principais distritos de produção do ouro na Amazônia são Roraima (zona fronteiriça com a Ve- nezuela), vale do Tapajós (regiões de Itaituba e Santarém), norte do Amapá (regiões de Cassiporé, Calçoene e Vila do Lourenço) e o distrito da serra de Carajás (serra Pelada). A exploração mineral colaborou para o desmatamento e não considerou os impactos socioeconômicos decorrentes dessa atividade. Verificou-se o surgimento de cidades sem uma in- fraestrutura adequada, além da exploração de jovens para o trabalho semiescravo e a invasão de terras indígenas. fonte: Youtube multimídia: vídeo Amazônia em chamas Baseado em fatos reais, o filme conta a vida e o assassinato do líder Chico Mendes, seringueiro que organizou os povos da floresta para lutar con- tra o desmatamento provocado pelos fazendeiros. 22 O caso da Renca A Reserva Mineral de Cobre e seus Associados (Renca) foi criada em 1984, no fim da ditadura militar, com o objetivo de fazer pesquisa mineral nessa região. Tem 47 mil km2 de área, equivalente ao Estado do Espírito Santo. A ideia era ex- plorar o potencial dos recursos minerais da região. Apesar de estar localizada no limite dos Estados do Pará e do Amapá, em plena floresta Amazônica, não havia preocupação do governo da época em preservar a Amazônia. Quando foi criada, a pesquisa mineral na Renca seria feita exclusivamente pelo Estado. Com o decreto do governo de Michel Temer, abre a atividade de pesquisa e, consequentemente, a atividade de mineração, ao setor privado. A ideia do governo é atrair investimentos para a área, dinamizando a economia do País. O primeiro decreto extinguindo a Renca foi publicado em 22 de agosto de 2017. Tinha apenas quatro artigos e não deixava clara a extensão que a atividade mineradora do setor privado teria dentro da Renca. Porém, devido à má repercussão da decisão, o governo decidiu editar novo decreto, esclarecendo como será feita a pesquisa mineral na antiga Renca. 23 Ambientalistas argumentam que a decisão por decreto não permitiu a discussão com a sociedade. Um projeto de lei, por exemplo, exige a realização de audiências públicas no congresso para o debate. Estima-se que de 15% a 30% da área serão liberados ao setor privado para pesquisa mineral. O restante é ocupado por unidades de conservação – são nove no total, sendo sete de proteção ambiental e duas terras indígenas. O novo decreto reforça outras normas já existentes e deixa claro que não será autorizada pesquisa mineral nem será concedida lavra ou qualquer outro tipo de direito de exploração minerária nas unidades de conservação, exceto se previsto no plano de manejo dessas unidades. Das sete unidades de proteção ambiental que têm sobreposição com a Renca, três (estação ecológica do Jari, parque nacional Montanhas do Tumucumaque e reserva biológica de Maicuru) são de proteção integral, ou seja, a mineração não é permitida. Há quatro áreas de uso sustentável, isto é, a mineração será permitida, se prevista no plano de manejo. Em duas delas (reserva extrativista do rio Cajari e floresta estadual do Amapá), já foi tomada a decisão de não liberar a atividade. O plano de manejo da floresta estadual do Paru libera a atividade mineradora em algumas de suas áreas. Já a reserva de desenvolvimento sustentável do rio Irataputu não tem plano de manejo ainda. Por enquanto, a mineração é proibida lá, e só será autorizada se o plano de manejo assim prever futuramente. Há duas terras indígenas cortadas pela Renca: Waiãpi, no Amapá, e Rio Paru D’Este, no Pará. Segundo a Funai, a terra indígena Waiãpi é de uso exclusivo do povo waiãpy, com população de 874 pessoas (dados do Censo de 2010). Já a terra indígena Rio Paru D’Este é de uso exclusivo dos povos apalaí e wayana, com população de 244 pessoas (dados de 2010). A extinção da Renca não muda em nada o status dessas áreas. Há, no entanto, projeto de lei que tramita no congresso para permitir a atividade mineradora em terras indígenas, dentro ou fora da Renca. O avanço do agronegócio Na Amazônia, o avanço do agronegócio é, claramente, uma consequência de um contexto mundial, no qual mercados externos pressionam e incentivam a produ- ção de determinados produtos. Neste sentido, a expres- são “conexão hambúrguer” é bastante apropriada para descrever o rápido aumento das exportações de carne das Américas do Sul e Central para atender a cadeias de lanchonetes estadunidenses, levando ao desfloresta- mento naqueles países. Na década de 1980, o Brasil ex- portava pouca carne e tal ligação não se aplicava para o País. Porém, entre 1997 e 2003, o volume de expor- tação disparou e alguns fatores explicam este aumento tão significativo: § a desvalorização da moeda nacional, fazendo com que o preço da carne (em reais) dobrasse, incentivando a expansão de áreas de pastagem; § a melhora na situação da febre aftosa no País, permitin- do o acesso da carne brasileira a diversos mercados; e § melhoras infraestruturais e tecnológicas na região Amazônica. Associado a estes aspectos, pode-se incluir ainda o impulso proporcionado pela Lei Kandir, ao isentar da tributação de ICMS os produtos primários destinados à exportação e a redução do IPI para máquinas agrícolas. Quanto à produção na Amazônia legal, a produção de soja passou de aproximadamente 3 milhões de toneladas, em 1990, para cerca de 20 milhões, em 2005, porém, sofreu uma queda no ano seguinte (ficando por volta de 17,5 milhões) e, em 2008, voltou à faixa dos 20 milhões de toneladas. Por todos os números apresentados, fica evidente, en- tão, que se trata de uma importantíssima atividade, do ponto de vista econômico, e que, por isso mesmo, des- perta interesse geral. Entretanto, é importante que não se confunda questão econômica como um peso absoluto em detrimento dos aspectos sociais e ambientais, pois é cada vez mais difundido e aceito (o que realmente parece inquestionável) que o mundo precisa buscar o desenvol- vimento de maneira sustentável. O desmatamento na Amazônia apresentou acentuado crescimento a partir do início da década de 1990, com a principal mudança douso do solo se dando em razão da enorme expansão da área ocupada por pastagens, as quais correspondiam a cerca de 70% das áreas des- matadas em 1995 – a avassaladora maioria das áreas desmatadas acaba convertida para pastagens. Diversos autores consideram que o “arco do desmatamento” (faixa do território aproximadamente paralela ao limi- te entre as macrorregiões norte e centro-oeste, que se estende do sul do Pará até o Acre, passando pelo nor- te dos Estados do Tocantins, Mato Grosso e Rondônia e que se constitui na região onde a fronteira agrícola avança em direção à floresta Amazônica) é a mais ativa fronteira no mundo, em termos de perda total de flores- ta e intensidade de atividade de fogo. 24 Historicamente, o padrão dominante de conversão da flo- resta foi de exploração de madeira em pequena escala ou agricultura de subsistência, seguido pela consolidação por pecuária extensiva ou abandono para floresta secun- dária. Recentemente, porém, o Brasil vem se tornando um líder na produção mundial de grãos, especialmente a soja. A grande questão que surge – a qual terá impor- tantes consequências para os serviços ecológicos e para a dinâmica de desmatamentos futuros – é se essa expan- são de campos agricultáveis contribui diretamente para o desflorestamento ou ocorre somente pela intensificação de uso de áreas já desmatadas. Por meio da combinação de observações de campo com dados de satélite, estudos examinaram o destino dos gran- des desflorestamentos, durante o período de 2001-2004, a fim de prover evidências das contribuições relativas de agricultura e pasto para a redução de floresta no período. Segundo os resultados obtidos, em todos os anos a média de áreas abertas para agricultura era mais que o dobro da média para pastagens. A evolução da soja apresentava, ainda, relação de dependência com o preço mundial da- quele grão em cada período. Assim, as pastagens continu- avam sendo o uso predominante de áreas desflorestadas, mas os resultados indicavam uma tendência de aumento do desflorestamento destinado à agricultura. Para os auto- res deste estudo, este aumento significaria, então, um novo paradigma do desflorestamento na Amazônia, definido por maiores e mais rápidas taxas de conversão da floresta. Efeito arrasto Os possíveis impactos da soja não se limitam àque- les diretamente relacionados às áreas convertidas a tal cultura. Graças ao peso político que possui, a sojicultura promove a implantação de obras de in- fraestrutura na região em que avança, especialmente as relacionadas a transporte, tais como rodovias, fer- rovias, portos etc. A implantação desses projetos de infraestrutura (especialmente de transporte) em uma região provoca um efeito que se denomina “efeito arrasto”. Tal efeito consiste, basicamente, na atração de outras atividades/investimentos para a região, em virtude da infraestrutura implantada, as quais, muitas vezes, geram impactos ambientais negativos. Dentre estas outras atividades, costumam estar incluídas, por exemplo, a pecuária e a extração madeireira, ambas potencialmente danosas à biodiversidade. O problema dessa situação recai na falta de um me- canismo legal, pelo qual o governo possa estabelecer compromissos irrevogáveis para que não sejam con- struídos projetos específicos que sejam reconhecida- mente danosos. Pode-se citar, como exemplo, o caso de Santarém, no Pará, para a qual se destacam como infraestru- tura de transporte a hidrovia Teles Pires–Tapajós, a rodovia Cuiabá–Santarém e o porto de Santarém. A hidrovia Teles Pires–Tapajós destinava-se fundamen- talmente ao transporte de soja. Porém, ela foi suspensa, em 1997, em decorrência de falhas no seu estudo de impactos ambientais, especificamente no que concernia a impactos relacionados às tribos indígenas existentes na área. A pavimentação da rodovia Santarém–Cuiabá, obra incluída no programa do governo federal denom- inado ”Avança Brasil”, também tinha como principal motivação o escoamento da soja. A pressão política pela pavimentação daquela rodovia era liderada por Blairo Maggi, do Grupo Maggi, o qual estava finan- ciando a plantação de soja na região e a construção do terminal portuário de Santarém. Além desse “efeito arrasto”, cerca da metade da área potencial para ex- pansão da soja no Brasil (50 milhões de hectares) é considerada vegetação secundária, que, muitas vezes, já cumprem de 80% a 85% do papel de uma floresta madura, ou seja, já poderiam ser consideradas pratica- mente regeneradas. Dessa forma, desmatá-las nova- mente teria impacto similar ao desmatamento de uma vegetação primária, no que diz respeito ao clima, à bio- diversidade, às águas e a outros aspectos ambientais. A construção de barragens Houve erros na escolha de alguns terrenos para construir barragens hidrelétricas; além disso, os gastos e o tempo destinados a essas construções não melhoraram as condições socioeconômicas das populações e estimularam conflitos entre povos locais e trabalhadores braçais. Surgiram questões relativas à apropriação de terra e impac- tos na flora e na fauna amazônicas. O Movimen- to dos Atingidos por Barragens (MAB) foi criado nesse contexto de resistência, assunto a ser trat- ado mais adiante. 25 A construção de rodovias, sem que fossem mensu- rados os impactos ambientais, sejam eles naturais, sociais, ecológicos ou fundiários, devasta as áreas marginais e não promove uma ocupação ordenada, planejada, que atenda às necessidades das popu- lações residentes. Além disso, esses projetos descon- sideraram a proteção dos mananciais, elementos cen- trais na Amazônia. Uma séria questão que afeta o meio rural em toda a região relaciona-se à posse da terra. Historicamente, a questão fundiária constitui-se em tema recorrente na região, geradora de disputas que, com frequência, resul- tam em violência e assassinatos. De acordo com estudos, até meados da década de 1960, a quase totalidade das terras da Amazônia era constituída por terras públicas e sem titulação como propriedade privada. Essas terras eram ocupadas por pequenos posseiros, que nelas ha- viam constituído seu trabalho efetivo (como extrativistas na coleta de frutos, raízes, óleos, resinas e sementes das matas ou como pequenos agricultores). Os naturais da região habitavam essas terras secularmente, sem disputa ou conflito, assim como muitos migrantes de longa data. Essa situação começou a mudar no decorrer das décadas de 1970 e 1980, quando o governo federal iniciou um projeto de ocupação e desenvolvimento da Amazônia. A proposta governamental baseava-se em oferecer inúmeras vantagens fiscais a grandes empresários e grupos econô- micos nacionais e internacionais que quisessem investir novos capitais nos empreendimentos que viessem a se ins- talar na região. A partir dessa política, uma série de fatores contribuíram para gerar a disputa pela terra na região: des- de empresários que não investiram os recursos em novas empresas na região, mas sim na compra de terras para simples especulação futura, passando pelo significativo au- mento populacional ocasionado pela atração de migrantes. O legado desse período foi o surgimento de conflitos vio- lentos pela disputa da terra por toda a região. Os projetos governamentais foram responsáveis por trans- formações devastadoras na Amazônia. Cerca de 50% das áreas destinadas foram devastadas para a introdução de atividades agrícolas e pecuárias. A extração madeireira, de forma seletiva, atingiu outras áreas, além das permitidas inicialmente, pois não houve uma fiscalização coordenada. Além disso, esses programas estimularam conflitos entre fazendeiros e seringueiros, latifundiários e índios, latifun- diários e posseiros, garimpeiros e índios, índios e peões da agropecuária, povos da floresta e pecuaristas. A região amazônica é constituída atualmente por uma di- versidade social muito mais complexa que anteriormente, e é palco de conflitos entre os que pretendem lucrar com a derrubada da floresta e
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