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CA PA MA TE MÁ TI CA Prezado associado, prezada associada, os últimos anos, a APEOESP tem lutado de maneira firme e persistente para que todos os professores da rede estadual de ensino, e também os das redes municipais, tenham estabilidade no emprego, fundamental para assegurar a todos os direitos da nossa carreira e importante condição para a melhoria da qualidade de ensino, tendo em vista que assegura a professoras e professores a tranqüilidade necessária para uma dedicação ainda maior a suas tarefas enquanto educadoras e educadores. A APEOESP luta para que professores e professoras que hoje possuem vínculos precários com as redes de ensino, como contratados em caráter temporário, mas que se dedicaram durante anos ao magistério público, tenham direito à estabilidade e que lhes sejam assegurados direitos aos quais nunca tiveram acesso. Também defendemos que a única forma de ingresso no magistério público seja através de concurso público. Queremos também que o tempo de serviço dos professores ACTs seja utilizado como critério classificatórios nos concursos públicos e que os mesmos não sejam eliminatórios. Temos conseguido obter avanços importantes nessa luta, como a realização de vários concursos para professores PEB I e II, em todas as disciplinas. Agora, novamente, a luta da APEOESP resultou na realização de novo concurso para PEB II (Educação Artística, Matemática, Física, Geografia e Filosofia) e Diretor de Escola. Evidentemente, a APEOESP não poderia se furtar a, mais uma vez, colaborar com seus associados e associadas para que obtenham o melhor desempenho nesses concursos. E, como sempre fazemos, queremos aprimorar ainda mais essa nossa contribuição, ampliando as oportunidades e melhorando a qualidade dos cursos preparatórios que a entidade tem promovido e dos materiais que temos editado por ocasião de todos os concursos. É com essa disposição que passamos às mãos de cada um de nossos associados e associadas que participarão desses concursos o presente caderno, desenvolvido e publicado com o cuidado que merecem todos os professores e professoras que dele farão uso. Esperamos que esta iniciativa propicie a todos e todas as condições necessárias para uma grande participação nos concursos que se avizinham. Bom proveito e boa sorte a todos e todas! Carlos Ramiro de Castro Presidente ALVES, Sérgio. Ladrilhando o plano com quadriláteros. Revista do Professor de Matemática. São Paulo:Sociedade Brasileira de Matemática, n. 51, p. 7-9, 2003 ............................................... 4 ÁVILA, Geraldo. Grandezas incomensuráveis e números irracionais. Revista do Professor de Matemática, São Paulo: Sociedade Brasileira de Matemática, n. 5, p. 6-11, 1984................... 4 BOYER, Carl. História da matemática. 2.ed. São Paulo: Edgard Blucher, 1999 .......................... 5 BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. PCN+ Ensino Médio: Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Brasília: MEC; SEMTEC, 2002 ............................... 14 BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Brasília: MEC/SEMTEC, 2002. p. 200-273 .................................................................................. 19 BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental; Matemática. Brasília: MEC/ SEF, 1998. v. 3 ............. 24 CHEVALLARD, Yves; BOSCH, Marianna; GASCON, Josep. Estudar matemáticas: o elo perdido entre o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 17-71 ........................................ 25 COURANT, Richard; ROBBINS, Hebert. O que é matemática? Uma abordagem elementar de métodos e conceitos. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2000 .................................................... 28 D‘AMBRÓSIO, Ubiratan. Educação matemática: da teoria à prática. 12. ed. São Paulo: Papirus, 2005 ................................................................................................................................ 34 EZENSBERGER, Hans Magnus. O Diabo dos números: um livro de cabeceira para todos aqueles que têm medo de matemática. São Paulo: Companhia das Letras, 1997 ............................ 44 HAZZAN, Samuel; POMPEO, José N. Matemática financeira. São Paulo: Atual, 2001 ................ 49 IEZZI, Gelson e outros.Coleção Fundamentos de Matemática Elementar. São Paulo: Atual. 11 v. Vol. 1: Conjunto e funções ...................................................................................................... 52 Vol. 2: Logaritmo ..................................................................................................................... 55 Vol. 3: Trigonometria ............................................................................................................... 57 Vol. 4: Seqüências. Matrizes. Determinantes. Sistemas .......................................................... 60 Vol. 5: Combinatória e Probabilidade ..................................................................................... 62 Vol. 6: Números Complexos. Polinômios. Equações................................................................ 64 Vol. 7: Geometria Analítica ..................................................................................................... 69 Vol. 8: Limites. Derivadas. Noções de integrais ...................................................................... 72 Vol. 9: Geometria plana .......................................................................................................... 76 Vol. 10: Geometria Espacial .................................................................................................... 80 Vol. 11: Matemática Comercial, Matemática Financeira e Estatística Descritiva .................... 84 IFRAH, Georges. Os números - A história de uma grande invenção. São Paulo: Globo, 1989 ....... 87 KRULIK, Stephen e REYS, Robert E. (orgs.). A resolução de problemas na matemática escolar. São Paulo: Atual, 1997 .................................................................................................... 92 LELLIS, Marcelo; IMENES, Luiz M. Matemática e o novo ensino médio. Educação Matemática em Revista, São Paulo, Sociedade Brasileira de Educação Matemática, v 8 n. 9/10, 2001 ........... 105 LIMA, Elon Lages. Polígonos eqüidecomponíveis. Revista do Professor de Matemática, São Paulo: Sociedade Brasileira de Matemática, n. 11, p. 19-25, 1987 ......................................... 108 MAGALHÃES, Marcos N.; LIMA, Antonio C. P. Noções de probabilidade e estatística. São Paulo: EDUSP, 2004 ...................................................................................................................... 110 PIRES, Célia M. C. Currículos de matemática: da organização linear à idéia de rede. São Paulo: FTD, 2000 ................................................................................................................... 113 ROSA, Ernesto. Didática da matemática. 11. ed. São Paulo: Ática, 2001. Cap. 1, 2 e 3 ........... 116 ROSA, Euclides. Mania de Pitágoras. Revista do Professor de Matemática, São Paulo: Sociedade Brasileira de Matemática, n. 2, p. 14-17, 1983 ............................................................ 117 SÃO PAULO. Secretaria de Estado da Educação/Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Experiências matemáticas. São Paulo SEE/CENP, 1994 - Vol. 1 – 5ª Série ................................................................................................................... 119 - Vol. 2 – 6ª Série ................................................................................................................... 123 - Vol. 3 – 7ª Série ................................................................................................................... 128 - Vol. 4 – 8ª Série ...................................................................................................................132 SÃO PAULO. Secretaria de Estado da Educação/Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. O Currículo na Escola Média: desafios e perspectivas. São Paulo SEE/CENP, 2004; p. 124-158 ........ 136 SHILOV, G. E. Construindo gráficos. São Paulo: Atual, 1998 ..................................................... 140 SHULTE, Albert P.; COXFORD, Arthur. As idéias da álgebra. São Paulo: Atual, 1994 .................. 140 4 Nº 26 • MAIO/2006 ALVES, Sérgio. Ladrilhando o plano com quadriláteros. Revista do Professor de Matemática. São Paulo: Sociedade Brasileira de Matemática, n. 51, p. 7-9, 2003. Síntese elaborada por Wanda Silva Rodrigues Um professor do interior de Mi- nas Gerais perguntou ao autor se qualquer quadrilátero convexo ou não geraria uma pavimentação do plano. A resposta à pergunta formu- lada (que é surpreendentemente afir- mativa!) pode ser justificada de vári- as maneiras. O autor apresenta a mesma solução trabalhada na ofici- na. O leitor pergunta, realizada du- rante o l encontro da RPM. A idéia básica é colocar, em volta de um vértice fixado, os quatro ângulos do quadrilátero. Lembre-se de que a soma das medidas desses ângulos é igual a 360°. O autor desenvolve a demonstração e a ilustra, fazendo uso de figuras como exemplo. ÁVILA, Geraldo. Grandezas incomensuráveis e números irracionais. Revista do Professor de Matemática, São Paulo: Sociedade Brasileira de Matemática, n. 5, p. 6-11, 1984. Síntese elaborada por Marcos Lanner de Moura Grandezas incomensuráveis e números irracionais Alguns conceitos, em matemáti- ca, parecem muitos simples a uma visão superficial, mas em uma análi- se mais cuidadosa revelam aspectos surpreendentes. É o caso dos concei- tos de reta e de número, abordados neste texto. Na primeira grande crise do desen- volvimento da Matemática, ao final do 5º século a.C., uma questão com que lidavam os matemáticos gregos era a de comparar grandezas da mesma es- pécie. Dado dois segmentos retilíneos AB e CD, significava que sempre exis- tiria um terceiro segmento EF de for- ma que AB contido um número intei- ro de vezes em AB e um número intei- ro de vezes em CD, sendo assim um submúltiplo comum de AB e CD. Dois segmentos nessas condições são di- tos comensuráveis, justamente por ser possível medi-los ao mesmo tempo com a mesma unidade EF. Por volta de 450 e 400 a.C os pitagóricos descobriram grandezas incomensuráveis, o que de fato con- traria nossa intuição geométrica. Eles comprovaram que a diagonal e o lado de um mesmo quadrado são incomen- suráveis, o que foi uma derrota para eles. Os pitagóricos acreditavam na possibilidade de explicar todos os fe- nômenos do mundo sensível em ter- mos dos números e de suas relações, seja na Geometria ou na Música. O número era, para eles, a essência de tudo. Porém eles entendiam por nú- mero apenas aquilo que hoje chama- mos de “números naturais”. Portan- to, esta descoberta deixava claro que os números não podiam explicar tudo, e se constituía em um sério entrave à filosofia pitagórica. Ainda, outros ar- gumentos propostos por filósofos (dentre os quais, os de Zeno são os mais conhecidos), nesta época, tam- bém apontavam dificuldades na su- posta harmonia entre a Geometria e os números. Isto culminou numa cri- se que só foi superada definitivamen- te com a teoria da criação dos núme- ros reais, no século XIX, pelo mate- mático alemão Richard Dedekind. Uma conseqüência da existência de grandezas incomensuráveis é a existência de pontos na reta sem abscissas racionais. Esses pontos da reta sem abscissas racionais tem por abscissas números irracionais. Essas foram as primeiras demonstrações, por redução ao absurdo, que se fize- ram na Antigüidade. Enquanto tal grau de sofisticação já era alcançado na Matemática em 400 a.C., na Físi- ca, somente no século XVII, com o trabalho de cientistas como Galileu e Newton, que se alcançaria um desen- volvimento comparável ao da mate- mática de mais de dois milênios atrás. Nº 26 • MAIO/2006 5 BOYER, Carl B. História da Matemática. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 1999. Síntese elaborada por Wanda Silva Rodrigues Nesta obra, o leitor verificará que o nível de conhecimento matemáti- co geralmente pressuposto é o de um estudante de curso superior de 2° ou 3° ano. Mas este material pode tam- bém ser visto como um recurso a mais para leitores com preparo matemáti- co superior ou inferior a este. Cada capítulo termina com uma coleção de exercícios geralmente dis- tribuídos em três categorias. São ques- tões de tipo ensaio, destinadas a indi- car a capacidade do leitor para orga- nizar e exprimir com suas palavras o que foi discutido no capítulo. Seguem- se exercícios relativamente fáceis, que exigem provas de alguns teoremas mencionados no próprio capítulo ou sua aplicação a várias situações. Os exercícios não fazem parte da exposi- ção e podem ser dispensados pelo lei- tor, sem perda de continuidade. Existem, no texto, referências a notas de rodapé; em geral, de nature- za bibliográfica. No fim de cada capí- tulo, há uma lista de leituras sugeridas. Há também algumas referências so- bre a vasta literatura em periódicos do campo e obras em outras línguas. O texto desta obra adere mais es- tritamente a um arranjo cronológico, dando ênfase aos elementos históricos. O objetivo do livro é apresentar a His- tória da Matemática com fidelidade, não só para com a estrutura e exatidão ma- temáticas, mas também para com a perspectiva e detalhes históricos. Capítulo 1 - Origens primitivas Boa parte do que chamamos de Matemática, atualmente, deriva de idéias originalmente centradas nos conceitos de número, grandezas e for- mas. Algumas definições antiquadas da Matemática (ciência do número e grandeza) já não são válidas, apenas sugerem as origens dos diversos ra- mos da matemática. O desenvolvi- mento do conceito de número foi um processo longo e gradual. O homem difere de outros animais principalmen- te por causa de sua linguagem, cujo desenvolvimento foi essencial para que surgisse o pensamento matemá- tico abstrato. As palavras que expri- mem idéias numéricas, no entanto, apareceram mais lentamente. O conceito de número inteiro é o mais antigo na Matemática; e sua ori- gem se perde nas névoas da Pré-His- tória. A noção de fração racional, po- rém, surgiu relativamente tarde e, em geral não estava diretamente relacio- nada aos sistemas dos inteiros. Entre as tribos primitivas, parece não ter havido quase nenhuma necessidade de usar frações. As frações decimais foram, essencialmente, um produto da idade moderna da Matemática. Mas realizar muitas afirmações sobre as origens da Matemática (seja da Arit- mética ou da Geometria) é arriscado, pois os primórdios do assunto são mais antigos que a arte de escrever. Capítulo 2 - Egito As civilizações caracterizadas pelo uso de metais surgiram, primeiramen- te, em vales e rios, como os do Egito, Mesopotâmia, Índia e China. Por isso, designaremos a parte mais antiga do período histórico pelo nome de “está- gio mesopotâmico”. Antes de 4.000 a.C., uma forma primitiva de escrita estava em uso tanto no vale da Mesopotâmia como no Nilo. Muito de nossas informações sobre a Matemá- tica egípcia vem do Papiro Rhind, o mais extenso documento matemático do Antigo Egito. Muito dos cálculos apresentados nesse papiro são eviden- tes exercícios para jovens estudantes. A operação aritmética fundamental era a adição; e nossas operações de mul- tiplicação e divisão eram efetuadas por sucessivas “duplicações”. Capítulo 3 - Mesopotâmia O tipo de escrita cuneiforme (desen- volvida pelos sumérios durante o quar- to milênio, muito antes de Abraão) pode ser a mais antiga forma de comunica- ção escrita. Provavelmente, é anterior à hieroglífica egípcia, que pode derivar dela. O uso antigo da escrita na Mesopotâmia é atestado por centenas de plaquetas de barro, encontradas em Uruk e com data de cerca de 5.000 anos 6 Nº 26 • MAIO/2006 atrás. Leis, registros de impostos, estó- rias, lições de escola, cartas pessoais; tudo isso e muitas outras coisas eram inscritascom um estilete nessas plaque- tas de barro mole. Depois disso, eram cozidas ao sol ou em fornos. Tais documentos, felizmente, eram muito menos vulneráveis aos estra- gos do tempo que os papiros egípci- os e, por isso, existe muito mais do- cumentação sobre a Matemática da Mesopotâmia que sobre a do Egito. O sistema decimal comum à mai- oria das civilizações antigas e moder- nas foi proveniente da Mesopotâmia, sob uma notação que dava a base 60 como fundamental. Qualquer que tenha sido a origem, o sistema sexagesimal de numeração teve vida notadamente longa, pois, até hoje, seus restos permanecem nas unidades de tempo e nas medidas dos ângulos – apesar da forma fundamen- talmente decimal de nossa sociedade. A numeração cuneiforme babilôni- ca, para os inteiros menores, seguia as mesmas linhas que a hieroglífica egípcia, com repetições dos símbolos para unidades e dezenas. A princípio, os babilônios não tinham um símbo- lo para o zero, embora às vezes dei- xassem um espaço vazio para indicar o zero. No entanto, ao tempo da con- quista por Alexandre – o Grande, um símbolo especial, consistindo de duas pequenas cunhas colocadas obliqua- mente, foi inventado para marcar o lugar onde um numeral faltasse. O símbolo babilônico para o zero, apa- rentemente, não terminou de todo com a ambigüidade, pois parece ter sido usado só para posições interme- diárias. As operações aritméticas fun- damentais eram tratadas pelos babilônios de modo não muito dife- rente do usado hoje; e com facilidade comparável. Entre as plaquetas babilô- nicas, encontram-se tabelas conten- do potências sucessivas de um certo número – semelhante às nossas ta- belas de logaritmos. Tabelas exponen- ciais (ou logarítmicas) foram encon- tradas onde são dadas as dez primei- ras potências para as bases 9 – 16 – 1,40 e 3,45 (todos quadrados perfei- tos). A solução de equações quadráti- cas e cúbicas na Mesopotâmia é um feito notável; admirável não tanto pelo alto nível de habilidade técnica quan- to pela maturidade e flexibilidade dos conceitos algébricos envolvidos. Para os babilônios, a Geometria não era uma disciplina matemática no nosso sentido, mas uma espécie de Álgebra ou Aritmética aplicada, em que números são ligados a figuras. O co- nhecimento babilônico do Teorema de Pitágoras não se limitava ao caso do triângulo retângulo isósceles. Capítulo 4 - A Jônia e os pitagóricos O mundo grego, por muitos sécu- los, teve seu centro entre os mares Egeu e Jônio, mas a civilização helênica não estava só localizada ali. Em 600 a.C., colônias gregas podiam ser encontra- das ao longo das margens do Mar Ne- gro e Mediterrâneo. Foi nessas regiões afastadas que um novo impulso se manifestou na Matemática. Diz-se que Tales de Mileto e Pítágoras de Samos, em suas passagens pelo Egito, apren- deram Geometria. Indo para a Babilônia, que estava sob o esclareci- do governante caldeu Nabucodonosor, Tales provavelmente entrou em conta- to com tabelas e instrumentos astro- nômicos. O que se sabe sobre a vida e obra de Tales é realmente muito pou- co. Tales era um homem de negócios e Pitágoras, um profeta e místico que fundou a escola pitagórica, cujo lema era “Tudo é Número”. Uma das ques- tões mais importantes diz respeito à geometria pitagórica e à construção do pentagrama (ou pentágono estrelado). A geometria tem dois grandes te- souros: 1) o Teorema de Pitágoras; 2) a divisão de um segmento em média e extrema razão (secção áurea). Supõe- se usualmente que a maior parte do conteúdo dos dois primeiros livros de Os Elementos é devida aos pitagóricos. O estudo das proporções ou das igual- dades de razões, presumivelmente, for- mava, de início, uma parte da Aritmé- tica ou Teoria dos Números Pitagóricos. Mais tarde, as quantidades a, b e c (que entravam em tais proporções) seriam, provavelmente, olhadas como grande- zas geométricas. De modo geral, pa- recem ter existido dois sistemas prin- cipais de numeração na Grécia: um, provavelmente o mais antigo, é conhe- cido como notação Ática (ou herodiâ- nica); o outra é chamado Sistema Jônio (ou alfabético). Ambos possu- em a base decimal, mas o primeiro é mais primitivo, baseado num simples esquema de interação, como a jun- ção de símbolos na numeração hieroglífica primitiva do Egito e, de- pois, nos numerais romanos. Capítulo 5 - A Idade heróica O quinto século a.C. foi um perío- do crucial na história ocidental, pois foi iniciado com a derrota dos invaso- res persas e terminou com a rendição de Atenas a Esparta. No entanto, du- rante a segunda metade do quinto século, circularam relatos persisten- tes e consistentes sobre alguns mate- máticos que estavam preocupados com certos problemas. Foram essas questões que formaram a base de grande parte dos desenvolvimentos posteriores na Geometria. Esse perí- odo foi chamado de “Idade Heróica da Matemática”. São dessa época os três problemas famosos (ou clássicos): • Quadratura do círculo. • Duplicação do cubo. • Trissecção do ângulo. Cerca de 2.200 anos depois, se- ria provado que todos os três são im- possíveis de resolver apenas com ré- gua e compasso. O Teorema de Hipócrates sobre as áreas de círculos parece ser o mais antigo enunciado sobre mensuração curvilínea no mundo grego. Desse teorema, Hipócrates deduziu a primei- ra quadratura rigorosa de uma área curvilínea da história da Matemática. Parece bem razoável supor que ao menos as formulações de muito do que está nos livros III e IV de Os Elementos provinham da obra de Hipócrates. Pelo fim do quinto século a.C., exis- tia em Atenas um grupo de mestres profissionais muito diferente dos pitagóricos. Os discípulos de Pitágoras estavam proibidos de aceitar paga- mento para partilhar seus conheci- mentos com os outros. Os sofistas, pelo contrário, abertamente se susten- tavam dando aulas aos seus conci- dadãos. Entre esses estava Hípias, um dos mais antigos matemáticos que te- mos informação; nos diálogos de Platão encontramos muita coisa so- bre ele (Platão se opunha totalmente aos sofistas em geral). Também é bom ter em mente que tanto Pitágoras (o Nº 26 • MAIO/2006 7 pai dos sofistas) quanto Sócrates (seu arquiinimigo) eram contrários à Ma- temática e às Ciências. A Idade He- róica da Matemática produziu meia dúzia de grandes figuras; entre esses, deve ser incluído Demócrito de Abdera, conhecido como filósofo da química. A chave para a matemática de Demó- crito é encontrada em sua doutrina física do atomismo. Capítulo 6 - A idade de Platão e Aristóteles Platão é importante na História da Matemática, principalmente por seu papel como inspirador e guia de ou- tros. Talvez a ele mesmo se deva a distinção clara que se fez, na Grécia antiga, entre Aritmética (no sentido da Teoria dos Números) e Logística (a técnica de computação). Platão considerava a Logística ade- quada para negociantes e guerreiros, que precisam aprender a arte dos nú- meros, ou não saberiam dispor suas tro- pas. Mas o filósofo, por outro lado, tam- bém precisava conhecer a Aritmética, “porque deve subir acima do mar das mudanças e captar o verdadeiro ser”. Além disso, Platão afirma, na Repúbli- ca, que a Aritmética tem um poder muito grande de elevar a mente, compelindo- a a raciocinar sobre o número abstrato. Platão teve grande influência para que a Matemática se tornasse parte essen- cial do currículo para a educação de homens do estado. Na juventude de Platão, a descoberta do incomensurá- vel causou um verdadeiro escândalo lógico, pois pareceu arruinar teoremas envolvendo proporções. Mas a crise re- sultante do incomensurável foi enfren- tada com sucesso, graças à imagina- ção de Eudoxo. Eudoxo deve ser lem- brado na História da Matemática não só por seu próprio trabalho, mas tam- bém pelo de seus discípulos. Aristóteles foi o homem mais erudi- to de todos os tempos. Sua morte é con- siderada como o marco do fim do pri- meiro grande período, a Idade Helênica. Aristóteles, assim como Eudoxo, foi dis- cípulo de Platão. Mas também foi mes- tre de Alexandre, o Grande. Aristóteles era, antes de tudo, um filósofo e um biólogo;mas estava completamente a par das atividades dos matemáticos. Capítulo 7 - Euclides de Alexandria Na história da civilização, costuma- se distinguir dois períodos no mundo grego: a parte mais antiga, chamada de Idade Helênica, e a segunda, Helenística ou Alexandrina (esta últi- ma ocorreu após as mortes, quase si- multâneas, de Alexandre e Aristóteles. Com a morte de Alexandre, seu império foi dividido entre os generais do exército grego e se desfez. Em Ate- nas, onde Aristóteles fora considera- do um estrangeiro, o filósofo verifi- cou que se tornara impopular. Aca- bou deixando Atenas e morreu no ano seguinte. O controle da parte egíp- cia do império coube a Ptolomeu I. Este governante criou em Alexandria uma escola (ou instituto) conhecida como Museu. Para ensinarem como professores, ele chamou um grupo de sábios de primeira linha. Entre eles, o autor do texto matemático mais bem sucedido de todos os tempos – Euclides. Pouco se sabe sobre a vida de Euclides. Euclides e Elementos são, freqüentemente, considerados si- nônimos. Cinco obras de Euclides so- breviveram até hoje: 1) Os Elementos. 2) Os dados. 3) Divisão de figuras. 4) Os fenômenos. 5) Óptica. A universidade de Alexandria não diferia muito das instituições moder- nas de cultura superior. Parte dos pro- fessores, provavelmente, eram notá- veis na pesquisa; outros, eram melho- res como administradores; e outros, eram conhecidos pela capacidade de ensinar. Pelos relatos que possuímos, Euclides pertencia à última categoria. Capítulo 8 - Arquimedes de Siracusa Durante toda a Idade Helenística, o centro de atividade matemática permaneceu em Alexandria. Mas o maior matemático desse tempo – e de toda a Antigüidade – não nasceu nessa cidade. Arquimedes pode ter estudado por algum tempo em Alexandria com os estudantes de Euclides. Também manteve comunicação com os ma- temáticos de lá. Mas foi em Siracusa que ele viveu e morreu. Durante as Guerras Púnicas, a ci- dade de Siracusa se viu envolvida na luta entre Roma e Cartago. Durante o cerco, Arquimedes inventou engenho- sas máquinas de guerra para manter o inimigo à distância: catapultas para lançar pedras; cordas, polias e gan- chos para levantar e espatifar os navi- os romanos; invenções para queimar os navios. Mas Arquimedes não foi o primeiro a usar alavancas, nem mes- mo a formular a Lei Geral. As obras de Aristóteles contêm a afirmação de que dois pesos, numa alavanca, se equilibram quando suas distâncias são inversamente propor- cionais ao fulcro. A obra de Arquimedes sobre a Lei da Alavanca faz parte de seus trata- dos. Ele pode ser chamado de Pai da Física Matemática não só por seu Sobre o equilíbrio de planos, mas tam- bém por outro tratado em dois volu- mes: Sobre corpos flutuantes. Arquimedes, como seus predeces- sores, foi atraído pelos três famosos problemas de Geometria e a, bem co- nhecida, Espiral de Arquimedes. For- neceu soluções para dois deles. A obra Sobre espirais foi muito admirada, mas pouco lida, pois era considerada a mais difícil obra de Arquimedes. Além dis- so, nem todas as obras de Arquimedes chegaram até nós. Capítulo 9 - Apolônio de Perga Durante a Idade Helenística, três matemáticos se destacaram: Euclides, Arquimedes e Apolônio. Deles, temos os títulos de muitas obras perdidas. Em alguns casos, sabemos qual o assunto do tratado, pois Papus deu uma breve descrição de alguns. Seis das obras de Apolônio estavam incluídas em dois dos tratados mais avançados de Euclides. Era uma coleção chamada Tesouro da Análise. Foram os tratados de Apolônio: Lugares planos, Dividir em uma razão, Cortar uma área, Tangências, As Cônicas (oito livros). Esta última derrotou todos os ri- vais no campo das secções cônicas, inclusive As Cônicas de Euclides. Na Antigüidade, nenhuma tentativa pa- rece ter sido feita para aperfeiçoá-lo. Os Elementos, de Euclides, e As Cônicas, de Apolônio, foram, de lon- ge, as melhores obras em seus cam- 8 Nº 26 • MAIO/2006 pos. Os métodos de Apolônio, em muitos pontos, são tão semelhantes aos modernos que seu tratado che- ga a ser considerado como uma Ge- ometria Analítica, antecipando Des- cartes em 1800 anos. Capítulo 10 - Trigonometria e mensuração na Grécia A Trigonometria, como os outros ramos da Matemática, não foi obra de um único homem – ou nação. Teore- mas sobre as razões entre os lados de triângulos semelhantes já eram conhe- cidos e usados pelos antigos egípcios e babilônios. As obras de Euclides não incluem a Trigonometria, no sentido estrito da palavra, mas há teoremas equivalentes a leis ou fórmulas trigono- métricas específicas. Aristarco, segun- do Arquimedes e Plutarco, propôs um sistema heliocêntrico; antecipando Copérnico em mais de um milênio e meio. Não se sabe bem quando sur- giu na Matemática o uso sistemático do círculo de 360°, mas parece que isso se deve, em grande parte, a Hiparco, através de sua tabela de cor- das. Devemos lembrar que, desde os dias de Hiparco até os tempos mo- dernos, não havia coisas como razões trigonométricas. Essas, a princípio, ti- veram a forma de cordas num círcu- lo. A Geometria grega parece não ter tido boa acolhida na Mesopotâmia até a conquista árabe. Os árabes nos con- tam que a “Fórmula de Heron” (para área do triângulo) já era conhecida por Arquimedes, mas a demonstração de Heron em sua A métrica é a mais an- tiga que temos. Capítulo 11 - Ressurgimento e declínio da matemática grega O período que consideramos nes- te capítulo, de Ptolomeu a Proclus, cobre quase quatro séculos (do se- gundo ao sexto). Mas nossa exposi- ção se baseia, em grande parte, em apenas dois tratados importantes. Deles, só existem partes, que estão incluídas em várias outras obras de menor significado. Heron e Ptolomeu eram gregos, mas viviam num mundo politicamen- te dominado por Roma. Durante toda sua longa história, a Roma antiga pou- co contribuiu com a Ciência e a Filo- sofia; e menos ainda com a matemá- tica. É neste período que encontramos o maior algebrista grego, Diofante de Alexandria. E, ao fim desse período, apareceu o último geômetra grego im- portante, Papus de Alexandria. A prin- cipal obra que conhecemos de Diofan- te é a Arithimetica: um tratado que era formado, originalmente, por 13 li- vros dos quais apenas os seis primei- ros se preservaram. Na Grécia antiga, a palavra “Aritmé- tica” significava “Teoria dos Números”. Nos seis livros preservados da Arithimetica, há um uso sistemático de abreviações para potências de núme- ros e para relações e operações. A Co- leção, o mais importante tratado de Papus, continha oito livros, mas o pri- meiro livro e a primeira parte do segun- do livro se perderam. No livro III da Co- leção, Papus faz uma distinção clara entre problemas planos, sólidos e line- ares. Os primeiros eram construtíveis apenas com régua e círculos; os segun- dos, resolúveis por uso de secções cônicas; os terceiros exigiam outras curvas que não retas, círculos e cônicas. Os Livros VI e VIII da Coleção tra- tam principalmente de aplicações da Matemática à Astronomia, à Óptica e à Mecânica. Capítulo 12 - China e Índia As civilizações da China e da Ín- dia são mais antigas que as da Grécia e Roma, porém não mais que as do Vale do Nilo e Mesopotâmia. A inven- ção e a origem da Matemática chine- sa, em geral, parece ter sido indepen- dente de influência ocidental. Tanto nas obras chinesas como nas egípcias, chama a atenção a jus- taposição de resultados precisos e im- precisos, primitivos e elaborados. A numeração chinesa permaneceu es- sencialmente decimal, com notações marcadamente diferentes das de ou- tros países. Possuía símbolos diferen- tes para os dígitos de um a dez e sím- bolos adicionais para as potências de dez; predominava o princípio multi- plicativo e o posicional. Os chineses conheciam as ope- rações sobre frações comuns, para as quais achavam o mínimo deno- minador comum. O Ssu-yüan yü-chien (precioso espelho dos quatro elementos) é o item de maior interesse histórico e matemático, sendo datado de 1.303 a.C. Os quatro elementos (céu, ter- ra, homeme matéria) são as repre- sentações de quatro incógnitas na mesma equação. O livro representa o ápice do desenvolvimento da Álge- bra chinesa, pois trata de equações simultâneas e de equações que vão até o 14° grau. A Índia, assim como o Egito, ti- nha seus “estiradores de corda”. Ti- nha também as primitivas noções geométricas; adquiridas por causa das construções (e medidas) dos templos e altares. Em uma das versões da obra Sulvasutras, (datando, talvez, do tempo de Pitágoras), encontramos regras para a construção de ângulos retos por meio de trenas de corda. Mesmo que os hindus tenham ad- quirido seus conhecimentos trigono- métricos do helenismo cosmopolita de Alexandria, o material em suas mãos tomou uma forma nova. A Trigono- metria hindu era um instrumento útil e preciso para a astronomia. A segunda metade do Aryabhatiya trata da me- dida do tempo e de Trigonometria Es- férica. Há indicações de que o sistema de numeração hindu fosse decimal, posicional, aditivo e multiplicativo. Era do conhecimento hindu as operações fundamentais e a Álgebra. Diferentemente dos gregos, os hin- dus consideravam como números as raízes irracionais. Bhaskara foi o último matemáti- co medieval importante na Índia. Em sua obra, o Lilavati, compilou proble- mas de Brahmagupta e outros, acres- centando observações próprias e no- vas. Esta obra contém tópicos sobre: equações lineares e quadráticas, sim- ples mensuração, progressões aritmé- ticas e geométricas, radicais, tríadas pitagóricas e outros. Capítulo 13 - A hegemonia árabe Com a expansão das conquistas árabes, as constantes lutas entre si e a guerra contra seus inimigos, que duraram mais de um século (por vol- ta de 750 a.C.), o califa al-Mansur estabeleceu uma nova capital em Bag- dá, cidade que logo se transformaria no novo centro da Matemática. Os árabes eram rápidos na absorção da Nº 26 • MAIO/2006 9 cultura dos vizinhos que conquista- vam: sírios, gregos, egípcios, persas, turcos e muitos outros, Bagdá, nesse tempo, trouxe para si estudiosos da Síria e Mesopotâmia; e foi estabelecida uma “Casa da Sabedoria”, compará- vel ao antigo Museu de Alexandria. Entre os mestres, havia um mate- mático e astrônomo, AI-Khowarizmi, cujo nome, como o do Euclides, iria tornar-se familiar na Europa Ociden- tal. Além de tabelas astronômicas e tratados sobre o astrolábio e o reló- gio do sol, AI-Khowarizmi escreveu dois livros sobre Aritmética e Álgebra que tiveram papéis muito importan- tes na História da Matemática. Capítulo 14 - A Europa na Idade Média Para a História da Matemática, o período antigo encerra-se no ano de 524. É o mesmo ano da morte de Boécio e é a mesma época em que o abade romano Dionísio propôs a cro- nologia baseada na era cristã. Inicia- se, então, o período medieval, que se estende até 1436. Durante esse período, os que se destacavam em matemática escrevi- am em árabe e viviam na Ásia e na África islâmicas. Diz-se que, pelo fim da Idade Média, havia duas espécies de matemáticos: os das escolas reli- giosas / universidades e os que se ocupavam de negócios e comércio; e havia rivalidade entre as duas. No século XIII, autores de várias clas- ses sociais ajudaram a popularizar o “algarismo”. Entre eles, Leonardo de Pisa, mais conhecido como Fibonacci. O livro em que Fibonacci descreve o novo algarismo é um clássico célebre - Líber Abaci. Este não é sobre o ábaco, é um tratado muito completo sobre métodos e problemas algébricos, em que o uso de numerais indoarábicos é fortemente recomendado. Fibonacci era um algebrista, mas escreveu tam- bém um livro intitulado Practica Geometriae. Esse parece ser baseado numa versão árabe da Divisão de Fi- guras, de Euclides (hoje perdida) e nas obras de Heron sobre mensuração. Capítulo 15 - O Renascimento O primeiro livro impresso na Eu- ropa Ocidental data de 1.447. E pelo fim do século, mais de 30.000 edi- ções de várias obras já estavam cir- culando. Dessas, poucas eram obras matemáticas; mas essas poucas, jun- to com os manuscritos existentes, for- neceram uma base para expansão. Durante 100 anos após a queda de Constantinopla, as cidades da Euro- pa central (notadamente Viena, Cra- cóvia, Praga e Nuremberg) foram lí- deres em Astronomia e Matemática. Mas foi a Alemanha e a Itália que for- neceram a maior parte dos matemá- ticos do início da Renascença. Em 1.484 foi composta, na Fran- ça, a obra intitulada Triparty em Ia science dês nombres, escrita por Nicolas Chuquet. A primeira das três partes diz respeito às operações arit- méticas racionais sobre os números, incluindo uma explicação dos nume- rais indoarábicos. A segunda parte trata de raízes de números. E a últi- ma parte, sem dúvida a mais impor- tante, diz respeito à Regle des pre- miers, isto é, a “regra da incógnita”, ou o que chamaríamos de Álgebra. A segunda metade da última parte tra- ta da resolução de equações. A primeira metade do século XVI viu surgir uma nuvem de álgebras ale- mãs, entre as mais importantes de- las está a Arithmetica Integra, de Michael Stifel, na qual inclui o triân- gulo de Pascal e o tratamento dos números negativos, radicais e potên- cias. São também dessa época Cardano e Tartaglia. que deram um grande impulso à pesquisa em Álge- bra com a resolução de equações cúbicas e quadráticas. Outro impor- tante algebrista, Rafael Bombelli, mostrou, com seu engenhoso racio- cínio, o papel importante que os nú- meros imaginários conjugados iriam desempenhar no futuro. A Geometria Pura no século XVI não ficou inteiramente sem represen- tantes. A obra de Werner se relacio- na de perto com os estudos sobre cônicas da Antigüidade. A Matemática, durante a Renas- cença, foi largamente aplicada à Con- tabilidade, Mecânica, mensuração de terras, Arte, Cartografia, óptica - e havia numerosos livros tratando das Artes Plásticas. No entanto, o inte- resse pelas obras clássicas permane- cia forte. A Geometria, na primeira metade do século XVI, dependera ex- clusivamente das propriedades ele- mentares ensinadas em Euclides. Werner fora uma exceção. Capítulo 16 - Prelúdio à matemática moderna. A transição da Renascença para o mundo moderno também se fez atra- vés de um grande número de figuras intermediárias como: Galileu Galilei, Cavalieri, Stevin, Girard, John Napier Johann Kepler e François Viète. Foi a Álgebra de Viète que forne- ceu contribuições mais consistentes para a época, pois foi a que chegou mais perto das idéias modernas. Para ele, Matemática é uma forma de raci- ocínio e não uma coleção de truques, como Diofante imaginava. Viète suge- riu um novo modo de abordar a reso- lução das cúbicas e interpretou as ope- rações algébricas fundamentais algebricamente. Viète foi o fundador de uma Álgebra literal e usou a Trigonome- tria como ferramenta para a Álgebra. John Nepier, proprietário escocês, só se interessava por certos aspectos da Matemática, particularmente os que se referiam à Computação e à Trigo- nometria. As “Barras de Napier” eram bastões em que itens de tabuadas de multiplicação eram esculpidos - ser- viam ao uso prático. Napier conta que trabalhou em sua invenção dos loga- ritmos durante vinte anos antes de pu- blicar seus resultados. Ele afirma que o conceito de função logarítmica está implícito ao longo de toda sua obra de logaritmos. O panfleto de Galileu (de 1.606) sobre o compasso geomé- trico foi seu único tratado estritamen- te matemático. Stevin se interessava pelas aplicações da Física, repleta de elementos infinita- mente pequenos. Desde 1.604, Kepler se envolvera com secções cônicas em seus trabalhos de óptica, analisando as propriedades dos espelhos parabólicos. A idéia de que a parábola tem dois fo- cos (e um deles tendendo ao infinito) deve-se a Kepler. Mas enquanto Kepler estudava barris de vinho, Galileu estive- ra observando os céus com um teles- cópio e rolando bolas sobre planos in- clinados. Os resultados desses esforços foram dois famosos tratados: um de As- tronomia e outro de Física. 10 Nº 26 • MAIO/2006 Capítulo 17 - O tempo de Fermat e Descartes A França é que veio a sero disputa- do centro da Matemática durante o se- gundo terço do século XVII. As figuras principais foram René Descartes e Pierre de Fermat. Mas outros franceses tam- bém fizeram contribuições importantes: Torricelli, Roberval, Girard Desargues e Blaise Pascal. Nessa época, ainda não existiam organizações de matemáticos profissionais. Mas na Itália, França e Inglaterra já havia grupos científicos mais ou menos organizados. A principal contribuição de Descar- tes à Matemática foi a fundação da Geometria Analítica. Sua obra, La Géométrie, levou a Geometria Analíti- ca ao conhecimento de seus contem- porâneos. Esta obra não foi apresen- tada ao mundo como um tratado iso- lado, mas como um dos três apêndi- ces do Discours de Ia Méthode, em que ele apresenta ilustrações de seu méto- do filosófico geral. Os outros dois apên- dices eram La Dioptrique (contendo a primeira publicação da Lei de Refração) e Les météores (contendo, entre ou- tras coisas, a primeira explicação quan- titativa satisfatória do arco-íris). Praticamente toda a La Géométrie está dedicada a uma completa apli- cação da Álgebra à Geometria e da Geometria à Álgebra. Mas há pouca coisa, nesse tratado, que se asseme- lha ao que, hoje, se considera como Geometria Analítica. É uma pena que Fermat não tenha publicado quase nada em toda sua vida, pois sua ex- posição era muito mais sistemática e didática que a de Descartes. Além dis- so, sua Geometria Analítica era um tanto mais próxima da nossa: as duas concepções se aproximavam pelo fato de as ordenadas serem usualmente tomadas perpendicularmente ao eixo das abscissas. Como Descartes, Fermat percebia a existência de uma Geometria Ana- lítica com mais de duas dimensões. Fermat se ocupara de muitos aspec- tos da análise infinitesimal - tangen- tes, quadraturas, volumes, compri- mentos de curvas, centros de gravi- dade. O tratado dado por Desargues às cônicas é muito belo, embora sua linguagem não seja convencional. Aos 14 anos, Blaise, juntamente com seu pai, participou das reuniões informais da Academia de Mersenne, em Paris. Nessa academia, veio a conhecer as idéias de Desargues. Aos 18 anos, dedicou-se a planejar uma máquina de calcular e, nos anos seguintes, conseguiu construí-la e vendeu cer- ca de 50 dessas máquinas. Capítulo 18 - Um período de transição Durante o período que estamos considerando - o intervalo entre Des- cartes e Fermat, de um lado; Newton e Leibniz, de outro - havia duas regi- ões, em particular, onde a Matemáti- ca estava florescente: a Grã- Bretanha e os Países Baixos. Dois assuntos eram muito populares nesse período: Geo- metria Analítica e a Análise Matemáti- ca. A Geometria de Descartes foi muito difundida. De todos os matemáticos que anteciparam partes do cálculo di- ferencial e integral, ninguém chegou mais perto dessa nova Análise que Barrow. Ele parece ter reconhecido cla- ramente a relação inversa entre os pro- blemas de tangente e de quadraturas. Capitulo 19 - Newton e Leibniz Durante o período entre 1.665 e 1.666, logo depois de Newton ter se formado, o Trinity College foi fechado por causa da peste e Newton foi para casa viver – e pensar. O resultado foi o período mais produtivo de desco- bertas matemáticas jamais registradas. Foi durante esses meses que ele fez quatro de suas principais descobertas: 1) O Teorema Binomial. 2) O cálculo. 3) A Lei de Gravitação. 4) A Natureza das Cores. O Teorema Binomial foi transcrito numa carta e enviado a Leibniz. Numa segunda carta a Leibniz, Newton ex- plicou, detalhadamente, como tinha chegado a essa série binomial. Mas o próprio Newton nunca publicou esse teorema, nem o provou. Mesmo as- sim, redigiu e publicou várias exposi- ções de sua análise infinita. A De Analysi, de Newton, tinha mais conteúdo do que qualquer ou- tro trabalho sobre séries infinitas. A primeira exposição do cálculo que Newton imprimiu foi o mais admira- do tratado científico de todos os tem- pos, onde apresentou os fundamen- tos da Física e da Astronomia na lin- guagem da Geometria Pura. Leibniz, aos 17 anos, obteve o grau de bacharel. Aos 20, estava prepara- do para o grau de doutor em direito, mas este lhe foi recusado por causa de sua pouca idade. Entrou no servi- ço diplomático e tornou-se membro da Royal Society. Em 1.676, visitou Londres, trazendo consigo sua máqui- na de calcular. Durante esses anos, en- tre suas duas visitas a Londres, o Cál- culo Diferencial tomou forma. De seus estudos sobre séries infinitas e o tri- ângulo harmônico, Leibniz se voltou para a leitura das obras de Pascal so- bre a ciclóide e outros aspectos da análise infinitesimal. Por volta de 1.676, chegou à mesma conclusão que New- ton chegara vários anos antes: quer uma função fosse racional ou irraci- onal, algébrica ou transcendente (pa- lavra que Leibniz inventou), as ope- rações de somas e diferenças podiam sempre ser aplicadas. A grande con- tribuição de Leibniz à Matemática foi o cálculo, mas ele também era filóso- fo. Por isso, sua contribuição mais sig- nificativa à Matemática foi em lógica. Capítulo 20 - A Era Bernoulli As contribuições matemáticas dos Bernoullis, assim como as de Leibniz, se encontram, principalmente, em ar- tigos e revistas, especialmente a Acta Eruditorum. Mas Jacques Bemoulli também escreveu um tratado clássi- co chamado Ars Conjectandi (Arte de Conjecturar); este é o mais antigo vo- lume substancial sobre a Teoria das Probabilidades. A segunda parte des- se tratado contém também os “núme- ros de Bernoulli”. Estes surgiram como coeficientes numa fórmula de recor- rência para as somas das potências dos inteiros e, hoje, encontram apli- cações em outras questões. Jeán Ber- noulli também escreveu dois peque- nos textos sobre o cálculo diferencial e integral e, enquanto se encontrava em Paris (1692), ensinou a um jovem marquês francês (G.F.A., de L’Hospital) a nova disciplina leibniziana. Jean Bernoulli assinou um pacto pelo qual, a troco de um salário regu- lar, concordava em enviar a L’Hospital suas descobertas matemáticas, para Nº 26 • MAIO/2006 11 que fossem usadas como o marquês desejasse. O resultado foi uma das mais importantes contribuições de Bernoulii: A Regra de L’Hospital. Todos os filhos de Jean (Nicholas, Daniel e Jean II) ocu- param postos de professores de Mate- mática. Destes, o que mais se desta- cou foi Daniel Bernoulli, pois é lembra- do, principalmente, por ter feito a dis- tinção entre a Teoria das Probabilida- des, entre a “esperança matemática” e a “esperança moral”; ou entre “fortu- na física” e “fortuna moral”. A Teoria das Probabilidades teve numerosos de- votos durante o começo do século XVIII; e um dos mais importantes foi De Moivre, que produziu uma quantidade de pesquisa considerável. De Moivre, ao lidar com números imaginários e funções circulares, chegou quase a re- conhecer as funções hiperbólicas. Ao tempo em que os Bernoullis e seus associados estavam defenden- do os desenvolvimentos na Geome- tria Analítica, Cálculo e Probabilida- des, a Matemática na Itália fluía mais ou menos sem destaque, com algu- ma preferência pela Geometria. Capítulo 21 - A Idade de Euler As obras de Euler também mar- caram época. Pode ser dito com jus- tiça que Euler fez pela análise infinita de Newton e Leibniz o que Euclides fizera pela Geometria de Eudoxo e Teaetetus; ou o que Viète fizera pela Álgebra de al-Khowarizmi e Cardano. Os três símbolos, e - p - i, pelos quais Euler, em grande parte, é res- ponsável, podem ser combinados com os dois inteiros mais importan- tes, 0 e 1, na célebre igualdade epi +1 = 0, que contém os cinco nú- meros mais significativos (bem como a mais importante relação e equa- ção) em toda a Matemática. Com sua audácia, através das manipulações de séries infinitas, Euler obteve resultados que tinham fugido de seus predecessores. O tratamento imaginativo que deu às séries o levou a algumas notáveis relações entre a Análise e a Teoria dos Números. Para a Teoria dos Logaritmos, contribuiu não só com a definição em termos de expoentes (que usamos hoje), mas também com a idéia corretaquanto aos logaritmos de números negativos. Euler, os Bernoullis e D’Alambert, por terem uma instrução ampla - em Direito, Medicina, Ciências e Matemá- tica -, colaboraram com Denis Diderot nos 28 volumes da célebre Encyclo- pédie (ou Dictionnaire Raisonné dês Sciences, dês Arts et dês Métiers). Para a Encyclopédie, D’Alambert escreveu o muito admirado Discours Préliminaire, bem como a maior parte dos artigos matemáticos e científicos. D’Alambert tornou-se um dos que abri- ram caminho para a Revolução Fran- cesa. Ele gastou muito tempo e esfor- ço tentando provar o teorema conjectu- rado por Girard. Atualmente, esse teorema é conhecido como o Teorema Fundamental da Álgebra: toda equa- ção polinomial f(x) = 0 com coeficien- tes complexos de grau n31 tem, pelo menos, uma raiz complexa. Hoje, D’Alambert talvez seja mais conhecido pelo que se chama “Princípio D’Alam- bert” - As ações e reações internas de um sistema de corpos rígidos em mo- vimento estão em equilíbrio. Capítulo 22 - Matemáticos da Revolução Francesa São eles: Monge, Lagrange, Laotace, Legendre, Carnot e Condorcet. Um dos resultados mais tangíveis da Revolução foi o sistema métrico como conhecemos hoje. Condorcet é mais lembrado como pioneiro em Matemática Social, especialmente peta aplicação das probabilidades e estatísticas aos problemas sociais. Com o inicio da Revolução, os pen- samentos de Condorcet se voltaram para problemas administrativos e po- líticos. Em 1.792, publicou seu pla- no, mas a idéia de instrução gratui- ta foi alvo de ataques. Somente anos depois de sua morte, a França reali- zou o ideal de Condorcet: instrução pública gratuita. Monge foi o prin- cipal advogado de instituições mais avançadas de ensino. Em 1.794, como membro ativo da Comissão de Obras Públicas, participou da cria- ção da famosa École Polytechnique, na qual foi tanto administrador como professor. Nessa escola, ensinou estereotomia (hoje Geometria Des- critiva). Além do estudo de sombra, perspectiva e topografia, dava aten- ção às propriedades das superfícies (incluindo retas normais e planos tangentes) e à Teoria das Máquinas. Outra escola da época, a École Normale, tinha em seu corpo docente Monge, Lagrange, Legendre e Laplace. Monge publicou Geometrie Descri- ptive, com apontamentos de suas au- las nesta escola. Por outro lado, com os apontamentos de aula do curso so- bre “Aplicação da Análise à Geometria”, ministrado na École Polytechnique, pu- blicou uma obra com o título de “Geo- metria Analítica”. Carnot era um sol- dado, um político e um geômetra. Mas era também um especulador. Carnot não foi o único desse grupo de revolu- cionários a sentir a necessidade de maior rigor na Matemática: Legendre escreveu que sua intenção era fazer um livro muito rigoroso. Os campos em que Legendre fez contribuições significativas foram: 1) Equações diferenciais. 2) Cálculo. 3) Teoria das Funções. 4) Teoria dos números. 5) Matemática Aplicada. Compôs um tratado em três volu- mes: Exercices du Calcul Integral, que rivalizava com o de Euler. Legendre foi uma figura importante em geodésia. E, ligado a isso, ele desen- volveu o método estatístico dos mí- nimos quadrados. Lagrange foi professor nas duas escolas. Para os estudantes da École Normale, ele ministrou aulas que, hoje, seriam adequadas para uma classe colegial (Álgebra avançada); para os estudantes no nível mais avançado da École Polytechnique, deu um curso de Análise e preparou o que, a partir daí, foi considerado um clássico da Mate- mática. Todas suas anotações de aula foram publicadas. Lagrange é, em ge- ral, considerado o mais notável mate- mático do século XVIII, sendo somente Euler um sério rival. Suas publicações versavam sobre: cálculo de variações, Mecânica, o problema dos três cor- pos. Também publicou suas primei- ras ideias sobre as funções derivadas e a Teoria das Equações. Laplace tam- bém ensinou nessas escolas. A Teoria das Probabilidades deve mais a Lapla- ce que a qualquer outro matemático. Sua obra, Théorie Analytique, mos- tra a mão de um mestre da Análise que conhece o cálculo avançado. 12 Nº 26 • MAIO/2006 Capítulo 23 - O tempo de Gauss e Cauchy Gauss foi considerado o maior matemático do século XIX e, prova- velmente, de todos os tempos. A tese de doutorado de Gauss provou que toda equação polinomial f(x) = 0 tem, pelo menos, uma raiz, quer os coefi- cientes sejam reais ou imaginários; ou seja, é o próprio Teorema Funda- mental da Álgebra. A prova desse teorema, dada por Gauss na tese, baseia-se, em parte, em considerações geométricas. Anos depois, Gauss publicou duas novas demonstrações, esforçando-se por encontrar uma prova inteiramente al- gébrica. Dois anos depois do apare- cimento de sua tese, publicou seu li- vro mais conhecido: um tratado, em Latim, sobre a Teoria dos Números. Essa obra é a principal responsável pelo desenvolvimento da linguagem e notação do ramo da Teoria dos Nú- meros, mais conhecida como Álge- bra das Congruências. Essa nova concepção de Álgebra fornece um exemplo de classes de equivalência. Nessa obra, Gauss in- cluiu a primeira descoberta importante que fizera em matemática: a constru- ção do polígono regular de 17 lados. Cauchy estudou e depois foi pro- fessor na École Polytechnique, sen- do discípulo de Lagrange e Laplace. Seguia a tradição de Lagrange em sua preferência por Matemática Pura em forma elegante, com a devida aten- ção a provas rigorosas. Tudo o que produzia era logo publicado. Ele deu ao Cálculo Elementar o caráter que tem hoje, tornando fundamental o conceito de limite de D’Alambert. Mas também lhe deu um caráter aritméti- co de maior precisão. Durante o século XVIII, a Integra- ção fora tratada como inversa da Di- ferenciação. A definição de Cauchy torna claro que a derivada não existe num ponto em que a função seja descontínua. No entanto, a integral pode não causar dificuldades. Mes- mo curvas descontínuas podem de- terminar uma área bem definida. O nome de Cauchy aparece, hoje, ligado a muitos teoremas sobre séri- es infinitas. Capítulo 24 - A Idade Heróica na geometria Uma característica importante da Geometria da segunda metade do sé- culo XIX era o entusiasmo com que eram estudadas as transformações de tipos variados. Um dos mais populares dentre es- ses grupos de transformações era for- mado pelo que, atualmente, se chama Geometria Projetiva, que já fora anun- ciada na obra de Pascal e Desargues. Mas somente no começo do século XIX é que foi, sistematicamente, desenvol- vida, especialmente por Poncelet. Ou- tra característica importante foi o surgimento da Geometria não- euclidiana. Lobachevsky, em 1829, publicou um artigo (On the Principles of Geometry) que marca oficialmente o nascimento da Geometria não- euclidiana. Seu passo revolucionário foi publicar uma geometria especificamen- te construída sobre uma hipótese em conflito direto com o postulado das paralelas. Este postulado afirma que, por um ponto C, fora de uma reta AB, pode-se traçar mais de uma reta no plano, não encontrando AB. Com esse novo postulado, Loba- chevsky deduziu uma estrutura geomé- trica harmoniosa, sem contradições lógicas inerentes. Era, em todos os sentidos, uma geometria válida, mas ela parecia tão contrária ao senso co- mum que o próprio Lobachevsky a chamou de “geometria imaginária”. A Geometria não-euclidiana, por várias décadas, foi considerada um aspecto da Matemática um tanto à margem; até ser completamente integrada atra- vés das idéias de Riemann. Ao mostrar que a soma de mais de dois ângulos retos pode ser reali- zada sobre a superfície de uma esfe- ra, Riemann provou a consistência dos axiomas de que a Geometria não- euclidiana deriva. Capítulo 25 - A aritmetização da Análise A palavra chave da Análise é fun- ção e foi especialmente no esclareci- Nº 26 • MAIO/2006 13 mento desse termo que surgiu a ten- dência à aritmetízação. Riemann era um matemático de interesses múltiplos e mente fértil, con- tribuindo não só para a Geometria e a Teoria dos Números como também para a Análise. Em Análise, é lembra- do porseu papel no refinamento da definição de integral, pela ênfase que deu às equações de Cauchy-Riemann e pelas “superfícies de Riemann”. A Teoria dos Números trata, pri- mariamente, dos inteiros ou, mais geralmente, das razões dos inteiros – os chamados números racionais. Tais números são sempre raízes de uma equação linear ax + b = 0, com coe- ficientes inteiros. A Análise real lida com um tipo de número mais geral, que pode ser racional ou irracional. Uma causa de preocupação que estava no cerne do programa de aritmetização era a fal- ta de qualquer definição da expres- são “número real”. Os números reais podem ser sub- divididos em dois tipos, de dois mo- dos diferentes: 1) Como racionais e irracionais. 2) Como algébricos e transcendentes. Cantor mostrou que, mesmo a classe dos números algébricos (mui- to mais geral que a dos racionais), ainda tem a mesma potência que a dos inteiros. Portanto, são os núme- ros transcendentais que dão ao sis- tema dos números reais a “densida- de”, que resulta em maior potência. Os incríveis resultados de Cantor o levaram a estabelecer a Teoria dos Conjuntos como um ramo da Mate- mática. Foi completamente desenvol- vida e, em meados do século XX, te- ria efeitos profundos sobre o ensino da Matemática. Capítulo 26 - O surgimento da Álgebra abstrata Em meados do século XIX, a Ál- gebra foi quase um monopólio britâ- nico. Cayley foi um dos primeiros a estudar as matrizes: um exemplo da preocupação britânica com a forma e a estrutura na Álgebra. Enquanto os matemáticos Cayley e Hamilton esta- vam desenvolvendo dois novos tipos de Álgebra, uma terceira forma de Ál- gebra, radicalmente diferente, estava sendo inventada por um inglês prati- camente autodidata, George Boole. Ele mostrou que sua Álgebra fornecia um algoritmo simples para raciocíni- os silogísticos. Hoje, a Álgebra Booleana é larga- mente usada não só por matemáticos puros, mas também por outros, que a aplicam aos problemas de seguros e de Teoria da Informação. Entre os que continuaram a obra de Boole, após sua morte, estavam De Morgan e Benjamin Pierce. Esses dois desco- briram, independentemente, a chama- da Lei de Dualidade de De Morgan. A multiplicidade de álgebras inven- tadas no século XIX poderia ter dado à Matemática uma tendência centrí- fuga se não tivessem sido desenvol- vidos certos conceitos estruturais. Um dos mais importantes desses conceitos foi a noção de grupo, pois foi, sem dúvida, a força mais importante para a coesão; foi também um fator es- sencial no surgimento das idéias abs- tratas. Não houve uma pessoa respon- sável pelo surgimento da idéia de gru- po, mas a figura que mais se sobres- saiu nesse contexto foi Évariste Galois. As preocupações com a estrutura e o surgimento de novas álgebras, espe- cialmente durante a segunda metade do século XIX, levaram a amplas generali- zações quanto ao número e à geome- tria. A Itália reduziu sua participação no desenvolvimento da Álgebra abstrata; mais que a França, a Alemanha e a In- glaterra. Durante os últimos anos do século XIX, contudo, surgiram mate- máticos italianos que se interessaram profundamente pela lógica matemáti- ca. O mais conhecido foi Giuseppe Peano, cujo nome é lembrado por as- sociação aos axiomas de Peano, dos quais dependem tantas construções rigorosas de Álgebra e da Análise. Capítulo 27 - Aspectos do século XX Uma das contribuições definitivas do século XIX foi o reconhecimento de que a Matemática não é uma ci- ência natural, mas uma criação inte- lectual do homem. Poincaré pode ser considerado como um matemático que simbolizou a transição do século XIX e XX. Sua tese de doutorado fora sobre equações diferenciais (não método de resolução, mas teorema de existência), que leva- ram a uma de suas mais célebres con- tribuições à Matemática – as proprie- dades das funções automorfas. Na verdade, ele foi, virtualmente, o fun- dador da teoria dessas funções. O outro matemático foi Hilbert. Hilbert legou à Matemática muito mais que uma coleção de problemas. Ele publicou um volume pequeno, mas famoso, chama- do Grundlagen der Geometrie (Funda- mentos da Geometria), e tornou-se o principal representante de uma “escola axiomática”. Essa escola foi influente na formação de atitudes contemporâneas e no ensino da Matemática. Hilbert se interessava por todos os aspectos da Matemática Pura. Seu nome está ligado a uma curva sim- ples, que enche um espaço e é mais fácil de descrever que a semelhante dada por Peano. Hilbert, como Poincaré, era um matemático de mui- tas facetas; ele contribuiu com a Te- oria dos Números, a lógica matemá- tica, as equações diferenciais, o pro- blema dos três corpos e outros as- pectos da Física matemática. O alto grau de abstração formal que se introduziu na Análise, Geome- tria e Topologia, no começo do sécu- lo XX, não podia deixar de invadir a Álgebra. O resultado foi um novo tipo de Álgebra, às vezes, inadequadamen- te, descrita como Álgebra Moderna. A Teoria dos Conjuntos e a Teoria da Medida invadiram uma grande parte da Matemática. O primeiro ano des- se século foi auspicioso para as Pro- babilidades, tanto na Física quanto na Genética. A Teoria da Medida e a extensão do conceito de Integração promoveram uma associação mais ín- tima entre Análise e Probabilidades, especialmente depois da metade do século XX. As Probabilidades e a Es- tatística, no século XX, estão intima- mente ligadas não só com a Mate- mática Pura, mas também com uma característica notavelmente diferente de nosso tempo – uma crescente de- pendência dos computadores. A eletricidade alterou tanto nosso modo de viver que, freqüentemente, se diz que vivemos numa era elétrica. Ago- ra os aparelhos eleirônicos podem es- tar a ponto de alterar grande parte de nosso desenvolvimento matemático. 14 Nº 26 • MAIO/2006 BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. PCN + Ensino Médio: Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SEMTEC, 2002. Síntese elaborada por Maria José Marques A REFORMULAÇÃO DO ENSINO MÉDIO E AS ÁREAS DO CONHECIMENTO A reformulação do Ensino Médio no Brasil, introduzida pela LDBEN e regulamentada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais e pelo PCNEM, procurou atender à necessidade de atualização da educação brasileira, para impulsionar a democratização social e cultural, ampliando a parce- la da juventude brasileira que com- pleta a educação básica e responden- do aos desafios impostos por proces- sos globais. A idéia central estabele- ce o ensino médio como etapa con- clusiva da educação básica, desafi- ando a comunidade educacional a superar as limitações do antigo Ensi- no Médio organizado em duas prin- cipais tradições formativas: a pré-uni- versitária e a profissionalizante. A versão pré-universitária caracteri- zava-se pela ênfase na divisão discipli- nar do aprendizado. Seus objetivos edu- cacionais se expressavam, e, usualmen- te, ainda se expressam, em termos de listas de tópicos, a partir de que o do- mínio de cada disciplina era requisito necessário e suficiente para o prosse- guimento dos estudos. Era aceitável que só no ensino superior tais conhecimen- tos disciplinares adquirissem amplitu- de cultural ou sentido prático. A natu- reza propedêutica não era contestada ou questionada, mas hoje é inaceitá- vel. Já em sua versão profissionalizante, o ensino médio era caracterizado por uma ênfase no treinamento para faze- res práticos, voltados para atividades produtivas ou de serviço. O novo ensino médio passa a as- sumir a responsabilidade de prepa- rar para a vida, qualificar para a cida- dania e capacitar para o aprendizado permanente, em eventual prossegui- mento dos estudos ou diretamente no mundo do trabalho. As transfor- mações de caráter econômico, soci- al ou cultural que levaram à modifi- cação dessa escola, no Brasil e no mundo, não tornaram o conhecimen- to humano menos disciplinar em qualquer das três áreas em que o novo ensino médio foi organizado. A intenção de completara formação geral do estudante implica uma ação articulada no interior de cada área e no conjunto das áreas, que não é compatível com um trabalho solitá- rio, definido no interior de cada dis- ciplina, No mundo atual, de tão rápi- das transformações e de tão difíceis contradições, estar formado para a vida significa mais do que reproduzir dados, denominar classificações ou identificar símbolos. Significa: - saber informar-se, comunicar-se, argumentar, compreender e agir; - enfrentar problemas de diferentes naturezas; - participar socialmente, de forma prática e solidária; - ser capaz de elaborar críticas ou pro- postas; - adquirir uma atitude de permanente aprendizado (aprender a aprender). A mudança quantitativa no Ensi- no Médio é significativa; dobrou de tamanho na última década, receben- do um novo público. Deste, apenas a quarta parte vai se encaminhar para o Ensino Superior. A perspectiva dos jovens brasileiros, na escolaridade básica, é receber qualificação mais ampla para a vida e para o trabalho. Isso exige uma revisão na escola, que se deve adequar ao seu público atu- al, a fim de promover, para todos os alunos, a realização pessoal, a quali- ficação para um trabalho digno, para a participação social e política e para uma cidadania plena. Isso indica a necessidade: 1) de revisão do projeto pedagógico de mui- tas escolas que não se renovam há décadas, criadas em outras circuns- tâncias, para um outro público e para um mundo diferente deste dos nos- sos dias; 2) de vencer o isolamento das disciplinas no currículo do Ensino Médio; 3) de deixar de trabalhar com a mera transmissão de informações, desprovidas de contexto e voltadas para a resolução de exercícios padro- nizados, visando aos exames de ingres- so ao curso superior; 4) de superar a Nº 26 • MAIO/2006 15 velha expectativa - dos jovens, suas fa- mílias e, quando não, da própria es- cola - de que os agentes do processo educacional são os professores, trans- missores de conhecimento, enquan- to os alunos são receptores passivos e a escola, o local da transmissão. Tais expectativas são equivocadas e, soma- das a um ensino descontextualizado, resultam em desinteresse e baixo de- sempenho. Geram desentendimentos em que os alunos ou seus pais consi- deram os professores fracos e desin- teressados e os docentes pensam exa- tamente o mesmo de seus alunos, numa escola na qual o desafio do aprendizado e a alegria do convívio dão lugar à apatia, à tensão, à displicên- cia ou à violência, em proporções que variam com as circunstâncias. A nova escola de ensino médio pre- cisa: 1) ser um projeto de realização humana; 2) ter alunos e professores ati- vos e comprometidos ; 3) ser um lugar em que o aprendizado esteja próximo das questões reais, apresentadas pela vida comunitária ou pelas circunstânci- as econômicas, sociais e ambientais. Novas orientações para o ensino O volume objeto desse resumo pro- põe um ensino compatível com as no- vas pretensões educativas, trazendo para o professor elementos de utilida- de na definição de conteúdos e de op- ções metodológicas e explicitando for- mas de articulação entre as disciplinas. Nessa proposta, competências e conhe- cimentos são desenvolvidos em con- junto e se reforçam reciprocamente. Conhecimentos, competências, disciplinas e seus temas estruturadores O novo Ensino Médio deve estar atento para superar contradições en- tre conhecimentos e competências. É preciso reconhecer o caráter disci- plinar do conhecimento e, ao mes- mo tempo, organizar e direcionar o aprendizado para que cada discipli- na, na sua especificidade, possa de- senvolver competências gerais. Não há receita nem definição úni- ca ou universal para as competênci- as, que são qualificações humanas amplas, múltiplas e que não se ex- cluem entre si, ou para a relação e a distinção entre competências e habi- lidades. Por exemplo, os PCNEM explicitam três conjuntos de compe- tências: comunicar e representar: in- vestigar e compreender; contextualizar social ou historicamente os conheci- mentos. De forma semelhante, mas não idêntica, o ENEM aponta cinco competências gerais: dominar dife- rentes linguagens, desde idiomas até representações matemáticas e artís- ticas; compreender processos, sejam eles sociais, naturais, culturais ou tecnológicos; diagnosticar e enfren- tar problemas reais: construir argu- mentações; elaborar proposições so- lidárias. As competências relacionam- se a um número bem maior de habi- lidades. De forma geral, pode-se con- ceber cada competência como um feixe ou uma articulação coerente de habilidades. Como metáfora, poder- se-ia comparar competências e ha- bilidades com as mãos e os dedos: as primeiras só fazem sentido quan- do associadas às últimas. A articulação entre as áreas Envolve uma sintonia de tratamen- tos metodológicos e pressupõe a com- posição do aprendizado de conheci- mentos disciplinares com o desenvol- vimento de competências gerais, por exemplo: uma aula de Química, disci- plina da área de Ciências da Natureza e Matemática, ao tratar da ocorrência natural e da distribuição geográfica de determinados minérios de importância econômica, assim como dos métodos de extração e purificação, poderá lidar com aspectos políticos, econômicos e ambientais aparentemente pertinentes a disciplinas da área de Ciências Hu- manas, ao mesmo tempo que estará desenvolvendo o domínio de nomen- claturas e linguagens que poderiam ser atribuídas à área de Linguagens e Có- digos, transcendendo, assim, a inten- ção formativa tradicionalmente asso- ciada ao ensino da Química. A articulação entre as disciplinas de cada uma das áreas Deve ser realizada a partir de pon- tos de contato real entre as disciplinas (por ex., noção de escala), e ser traba- lhada por meio de métodos comuns (por ex., experimentação). Enfim, com um objetivo mais pedagógico do que epistemológico, é preciso um esforço da escola e dos professores para rela- cionar as nomenclaturas e, na medida do possível, partilhar culturas. AS CIÊNCIAS DA NATUREZA E MATEMÁTICA Caracterização da área Formada pelas disciplinas Biolo- gia, Física, Química e Matemática. São ciências que têm em comum a investigação da natureza e dos desen- volvimentos tecnológicos e compar- tilham linguagens para a representa- ção e sistematização do conhecimen- to de fenômenos ou processos natu- rais e tecnológicos. As competências gerais no aprendizado das Ciências da Natureza e Matemática Competências do eixo Representação e Comunicação - Símbolos, códigos e nomenclatu- ras: reconhecer e utilizar adequa- damente, na formas oral e escrita, símbolos, códigos e nomenclatura da linguagem científica. - Articulação dos símbolos e códigos: ler, articular e interpretar símbolos e códigos em diferentes linguagens e representações, tais como sen- tenças, equações, esquemas, dia- gramas, tabelas, gráficos e repre- sentações geométricas. - Análise e interpretação de textos e outras comunicações: consultar, analisar e interpretar textos e co- municações de ciência e tecnologia, veiculados por diferentes meios. - Elaboração de comunicações: ela- borar comunicações orais ou es- critas para relatar, analisar e siste- matizar eventos, fenômenos, expe- rimentos, questões, entrevistas, vi- sitas e correspondências. - Discussão e argumentação de temas de interesse: analisar, argumentar e posicionar-se criticamente em rela- ção a temas de ciência e tecnologia. Competências do eixo Investigação e Compreensão - Estratégias para enfrentamento de situações-problema: identificar, em dada situação-problema, informa- ções ou variáveis relevantes e pos- síveis estratégias para resolvê-la. 16 Nº 26 • MAIO/2006 - Interações, relações e funções; invariantes e transformações: iden- tificar fenômenos naturais ou gran- dezas em dado domínio do conhe- cimento científico e estabelecer re- lações; identificar regularidades, invariantes e transformações. - Medidas, quantificações, grande- zas e escalas: selecionar e utilizar instrumentos de medição e de cál- culo, representar dados e utilizares- calas, fazer estimativas, elaborar hi- póteses e interpretar resultados. - Modelos explicativos e representati- vos: reconhecer, utilizar, interpretar e propor modelos explicativos para fenômenos ou sistemas naturais ou tecnológicos. - Relações entre conhecimentos dis- ciplinares, interdisciplinares e interáreas: articular, integrar e sis- tematizar fenômenos e teorias den- tro de uma ciência, entre as várias ciências e áreas de conhecimento. Competências do eixo Contextualização Sócio-Cultural e Histórica: - Ciência e tecnologia na história: com- preender o conhecimento científico e o tecnológico como resultados de uma construção humana, inseridos num processo histórico e social. - Ciência e tecnologia na cultura contemporânea: compreender a ci- ência e a tecnologia como partes integrantes da cultura humana con- temporânea. - Ciência e tecnologia na atualidade: reconhecer e avaliar o desenvolvi- mento tecnológico contemporâ- neo, suas relações com as ciênci- as, seu papel na vida humana, sua presença no mundo cotidiano e seus impactos na vida social. - Ciência e tecnologia, ética e cida- dania: reconhecer e avaliar o cará- ter ético do conhecimento científico e tecnológico e utilizar esses conhe- cimentos no exercício da cidadania. BIOLOGIA Um ensino por competências nos impõe um desafio, que é organizar o conhecimento a partir, não da lógica que estrutura a ciência, mas de situa- ções de aprendizagem que tenham sen- tido para o aluno, que lhe permitam adquirir um instrumental para agir em diferentes contextos e, principalmen- te, em situações inéditas de vida. Tra- ta-se, portanto, de inverter o que tem sido a nossa tradição de ensinar Bio- logia como conhecimento descontex- tualizado, independentemente de vivên- cias e de referências a práticas reais, e colocar essa ciência como meio para ampliar a compreensão sobre a reali- dade, recurso graças ao qual os fenô- menos biológicos podem ser percebi- dos e interpretados, e instrumento para orientar decisões e intervenções. Temas estruturadores do ensino de Biologia As principais áreas de interesse da Biologia contemporânea se voltam para a compreensão de como a vida (e aqui se inclui a vida humana) se organiza, estabelece interações, se reproduz e evolui, desde sua origem, transforman- do-se, não apenas em decorrência de processos naturais, mas também de- vido à intervenção humana e ao em- prego de tecnologias. Enfatizando que não há um caminho único, as Orien- tações Curriculares sugerem seis temas estruturadores, que são: 1. Interação entre os seres vivos; 2. Qualidade de vida das populações humanas; 3. Identidade dos seres vivos; 4. Diversidade da vida; 5. Transmissão da vida, ética e ma- nipulação gênica; 6. Origem e evolução da vida. Organização do trabalho escolar É importante ter em mente que não é possível ensinar tudo. Atual- mente ocorre uma mudança de foco: o importante não é que conteúdos o professor desenvolveu, mas quais foram adequadamente assimilados pelos alunos, pois não existe ensino se não houver aprendizagem. Devem ser selecionados conteúdos e estra- tégias que possibilitem ao aluno en- tender não só a sua realidade parti- cular, mas sim o contexto maior no qual essa realidade específica se in- sere. A escola deve fornecer ao alu- no ferramentas para uma atuação consciente em sua vida, dotando-o da competência de compreender, uti- lizar e transformar a realidade. As- sim ele será capaz de procurar, sele- cionar e utilizar qualquer informação de que tenha necessidade no decor- rer de sua vida. As situações de apren- dizagem devem se desenvolver a partir das experiências significativas vividas anteriormente por ele, na escola ou fora dela, pois elas o levam a cons- truir, mais facilmente, idéias a respei- to dos fenômenos. Além disso, por estarem baseadas em experiências cotidianas, essas idéias costumam ser sólidas e, muitas vezes, incompatíveis com os conceitos científicos que o professor pretende lhe apresentar. Por esse motivo, é necessário que se es- tabeleçam vínculos entre o conteúdo pedagógico que é apresentado ao alu- no e aqueles conhecimentos que já integram a sua estrutura cognitiva. Estratégia para a acão Para desenvolver todas as compe- tências, é imprescindível que os conhe- cimentos se apresentem como desafi- os cuja solução envolve mobilização de recursos cognitivos, investimento pes- soal e perseverança para uma tomada de decisão. Importa o desenvolvimen- to de atividades que solicitem dos alu- nos várias habilidades, entre elas o es- tabelecimento de conexões entre con- ceitos e conhecimentos tecnológicos, o desenvolvimento do espirito de coo- peração, de solidariedade e de respon- sabilidade para com terceiros. O trabalho do professor Deixar de ser um transmissor para ser um mediador. Entende-se a medi- ação como intervenção do professor para desencadear o processo de cons- trução do conhecimento (aprendiza- gem) de forma intencional, sistemáti- ca e planejada, potencializando ao máximo as capacidades do aluno. Pos- sibilitar a transmissão de valores, as motivações, os saberes culturais e os significados. Ajudar a interpretar a vida. Estratégias para a abordagem dos temas O processo ensino aprendizagem deve ser bilateral, dinâmico e coleti- vo. Em Biologia, para o estabelecimen- to de uma relação dialógica em sala de aula, são propostas as estratégias de experimentação, estudo do meio, desenvolvimento de projetos, jogos, seminários, debates e simulações. Nº 26 • MAIO/2006 17 FÍSICA A Física deve se apresentar como um conjunto de competências especí- ficas que permitam perceber e lidar com os fenômenos naturais e tecnológicos, presentes tanto no cotidiano mais ime- diato quanto na compreensão do uni- verso distante, a partir de princípios, leis e modelos por ela construídos. O conhecimento de Física passa a ser compreendido como um instrumento para a compreensão do mundo. Os critérios que orientam a ação pedagó- gica deixam, portanto, de tomar como referência primeira “o que ensinar de Física”, passando a centrar-se sobre o “para que ensinar Física”, explicitando a preocupação em atribuir ao conhe- cimento um significado no momento mesmo de seu aprendizado. Temas estruturadores do ensino de Física Foram selecionados seis temas: 1. Movimentos: variações e conser- vações; 2. Calor, ambiente e usos de energia; 3. Som, imagem e informação; 4. Equipamentos elétricos e teleco- municações; 5. Matéria e radiação; 6. Universo, Terra e vida; Esses temas organizam-se em unidades temáticas, que não devem ser confundidas como lista de con- teúdos mínimos. Organização do trabalho escolar Os critérios para seleção, estabe- lecimento de seqüências e planeja- mento devem ter, como linhas mes- tras, as competências e a necessida- de de impregnar de significado práti- co e visão de mundo o conhecimen- to físico apresentado ao jovem. Estratégias para a ação Considerar objetos, coisas e fenô- menos que façam parte quer do uni- verso vivencial do aluno, como carros, lâmpadas ou televisões, quer de seu imaginário, como viagens espaciais, naves, estrelas ou o Universo. Assim, devem ser contempladas sempre es- tratégias que contribuam para esse diálogo. Utilizar a bagagem cultural de vários conhecimentos físicos que os alunos construíram fora do espaço escolar na explicação dos fenômenos ou processos que observam em seu dia-a-dia. A experimentação deve ser um meio bastante utilizado, não ne- cessariamente no laboratório. Experi- mentar pode significar observar situ- ações e fenômenos a seu alcance, em casa, na rua ou na escola, desmontar objetos tecnológicos, tais como chu- veiros, líquidificadores, construir apa- relhos e outros objetos simples, como projetores ou dispositivos óptico-me- cânicos. Pode também envolver desa- fios, estimando, quantificando ou bus- cando soluções para problemas reais. Formas de expressão do saber da Física O ensino de Física tem enfatizado a expressão do conhecimento apren- dido através da resolução de proble- mas e da linguagem matemática. Para o desenvolvimento
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