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Drogas que afetam o Sistema Imune Existem drogas que podem manipular o sistema imune, exercendo uma imunoterapia. Temos dois principais grupos de drogas, sendo o primeiro as drogas imunossupressoras, as quais são utilizadas em caso de doenças autoimunes intrínsecas (como lúpus eritematoso sistêmico, púrpura sistêmica e artrite reumatoide), doenças inflamatórias, alergias e também para transplante de órgãos. O segundo grupo são as drogas imunoestimulantes, as quais são usadas em casos de distúrbios de imunodeficiência (AIDS), câncer (principalmente do sistema linfático) e doenças infecciosas crônicas que o animal não é capaz de eliminar. Imunossupressão Inespecífica Iniciando com as drogas imunossupressoras temos aquelas que causam imunossupressão inespecífica, ou seja, inibem fatores relacionados com diversos alvos dentro da resposta imune. Ela abrange várias vias do sistema imune, porém pode causar aumento da susceptibilidade a infecções oportunistas de todos os tipos (bacteriana, viral ou fúngica). Além disso, também aumenta o risco de linfomas e cânceres correlatos, pois reativa vírus cancerogênicos incubados. Como exemplos temos a radiação, corticosteroides e drogas citotóxicas. Radiação A radiação é imunossupressora, pois previne a divisão celular. Ela pode afetar as células por meio de raios ionizantes (que atingem o DNA, causando mutações permanentes em genes, podendo ser letais) ou por meio de ionização da água e formação de radicais livres de oxigênio e hidroxila (que podem destruir o DNA e inibir a divisão). Corticosteroides Os glicocorticoides (como o cortisol) são imunossupressores naturais do indivíduo produzidos pelas glândulas adrenais durante um processo inflamatório ou em estresse. Os corticosteroides são drogas análogas a esse hormônio utilizadas como imunossupressores e anti-inflamatórios. Ao serem administrados, os corticosteroides são diretamente absorvidos nas células e se ligam a receptores que, no núcleo da célula, estimulam a síntese de IκBα, o qual é um inibidor do NF-κβ. Ao inibir o NF-κβ, ocorre um bloqueio na síntese de citocinas e na resposta de linfócitos T. Várias drogas podem ser utilizadas para obter esse efeito. Temos corticosteroides de efeito curto (em menos de 12h), de efeito intermediário e de efeito longo (mais de 48 horas). Temos também drogas com diferentes potenciais anti-inflamatórios. Exemplos estão na tabela a seguir: Droga Potencial anti- inflamatóri o Duração do efeito Cortisona 0.8 Curto Hidrocortisona 1.0 Curto Prednisona 4.0 Intermediári o Metilprednisolo na 5.0 Intermediári o Triancinolona 5.0 Intermediári o para longo Flumetasona 15.0 Longo Dexametasona 30.0 Longo Betametasona 35.0 Longo Vale ressaltar que essas drogas podem possuir efeito mineralocorticoide (retém sódio) e/ou glicocorticoide (aumenta a glicemia). A dexametasona, por exemplo, tem atividade apenas glicocorticoide, levando a menor retenção de sódio, ou seja, mais indicada para pacientes com problemas renais, cardíacos ou com hipertensão. Por outro lado, a hidrocortisona tem maior ação mineralocorticoide, ou seja, aumenta a retenção de sódio. Os corticosteroides afetam a produção e a circulação de leucócitos e modificam o metabolismo de proteínas, carboidratos e gorduras. Em equinos e bovinos, o número de eosinófilos, basófilos e linfócitos circulantes cai, porém o número de neutrófilos no sangue aumenta, pois há uma diminuição na aderência ao endotélio vascular e reduzida migração para os tecidos inflamados. A quimiotaxia de neutrófilos, monócitos e eosinófilos é suprimida. Temos supressão das capacidades citotóxicas e fagocíticas dos neutrófilos, diminuição da atividade bactericida dos macrófagos e neutrófilos, depressão da citotoxicidade celular dependente de anticorpos (ADCC) depressão da capacidade dos linfócitos em produzir citocinas, inibição das enzimas lisossomais e diminuição do processamento de antígenos em macrófagos. Há também inibição da fosfolipase (com isso não há produção de leucotrienos e prostaglandinas) e diminuição da produção de IL-1 por macrófagos. Os corticosteroides induzem a atrofia tímica, suprimem a proliferação de linfócitos, interferem no reconhecimento do MHC-II e bloqueiam a produção de linfotoxina. Também suprimem a inflamação aguda e inibem o aumento da permeabilidade vascular e vasodilatação, com isso, previnem a formação de edema. Ao mesmo tempo, bloqueiam a migração dos leucócitos dos capilares. No que se refere a resposta humoral, os linfócitos B tendem a ser resistentes aos corticosteroides, necessitando doses enormes para inibir a síntese de anticorpos. Além disso, não tem nenhum efeito sobre o complemento. Em relação as células NK, os corticosteroides promovem a apoptose dessas células no timo, afeta a ADCC e aumenta o nível de IFN produzida por elas. Os corticosteroides também inibem a proliferação de fibroblastos, retardando a cicatrização. As características de um hemograma de estresse são: poucos linfócitos circulantes (linfopenia) e muitos neutrófilos (neutrofilia). Os corticosteroides mais utilizados para pequenos animais são a prednisona (cães) e a prednisolona (gatos). Já para grandes animais são empregados a betametasona e a dexametasona. Essas drogas são perigosas, pois por serem análogas ao hormônio da adrenal, interferem no eixo hipofisário-adrenal, induzindo a síndrome de Cushing. Por isso é importante utilizar doses fisiológicas ao animal, visto que doses altas podem causar hiperadrenocorticismo, aumentando a susceptibilidade a infecções. O hiperadrenocorticismo está relacionado com níveis de cortisol alto, o que acarreta em interferências no ADH (diminui a concentração da urina), poliúria, polidipsia, aumento do catabolismo proteico (fraqueza muscular) interferência no ciclo de renovação dos pelos (causa uma alopecia de padrão simétrico bilateral), sinais diabetogênicos (como glicosúria), interferência na insulina (causa hiperglicemia), infecções urinárias e dérmicas, redistribuição da gordura, aumento de colesterol e triglicerídeos, interferência na vitamina D (causa prejuízos na absorção de cálcio) e hepatomegalia. Se ocorrer uma interrupção abrupta no uso dos corticosteroides, poderá ocorrer comprometimento da função cortical da adrenal, acarretando em hipofunção da adrenal (ou hipoadrenocorticismo). Com isso o animal apresenta vômito, diarreia, apatia, hipotensão e hipoglicemia. Portanto, deve-se ocorrer a diminuição gradual das doses de corticoides. Drogas Citotóxicas As drogas citotóxicas também são imunossupressoras inespecíficas, porém eles são responsáveis por inibir a divisão celular. Como exemplo temos os agentes alquilantes, os análogos de purina e os antagonistas de ácido fólico. Agentes Alquilantes Eles atuam diretamente na mitose, pois fazem ligações cruzadas com as hélices de DNA, impedindo sua separação e bloqueando, assim, a divisão celular. Como exemplo, a ciclofosfamida afeta células em repouso e em divisão e é utilizada em terapias a tumores linfoides ou doenças autoimunes. Ela impede ambas as respostas de linfócitos T e B, portanto, tem efeito anti- inflamatório. O principal efeito tóxico é a supressão da medula óssea, mas temos também alterações gastrintestinais, cistite hemorrágica, teratogênese, infertilidade e aumento a susceptibilidade a infecções oportunistas. Antagonistas do Ácido Fólico Os antagonistas do ácido fólico causam falhas na síntese de timidina e purina, como o metotrexato. Como consequência temos supressão da formação de anticorpos, portanto, é recomendado em casos de artrite reumatoide. Porém, pode presentar efeitos tóxicos, como depressão da medula óssea. Análogos de PurinaEssas drogas competem com as purinas na síntese de ácidos nucleicos. Como exemplo temos a azatioprina (para cães) e o cloranbucil (para gatos). Esses medicamentos suprimem a ativação e mitose de linfócitos T e B, além de inibirem a produção de macrófagos (possui atividade anti-inflamatória). A azatioprina é indicada para cães em caso de anemia hemolítica, doenças autoimunes, lúpus sistêmicos e artrite reumatoide e tem como efeitos tóxicos depressão da medula óssea, vômito, diarreia, hepatotoxicidade e pancreatite. Por outro lado, o cloranbucil tem como efeitos adversos a mielossupressão, toxicidade gastrintestinal e pode ser neurotóxico em doses elevadas. Imunossupressão Específica A imunossupressão específica é muito importante para evitar a rejeição de enxertos. Como exemplos temos os inibidores de calcineurina, os anticorpos monoclonais e drogas especificas para alergias. Inibidores de Calcineurina Como exemplo temos a ciclosporina e o tacrolimo, os quais agem inibindo a calcineurina (um mediador químico transdutor de sinal para o núcleo), inibindo assim a síntese de IL-2. A ciclosporina, ao bloquear a calcineurina, inibe a transdução de sinal e bloqueia a produção de IL-2 e IFN-γ pelos linfócitos T, portanto, faz o bloqueio das respostas Th1. Com isso, ela previne a indução do MHC de classe I nos aloenxertos, portanto, é muito importante para transplantes. Como efeito colateral, a ciclosporina aumenta a produção de TGF-β, aumentando o crescimento de tumores. Esse medicamente é utilizado para fistulas perianais, atopia imunomediada, anemia hemolítica imunomediada, trombocitopenia imunomediada, miastenia gravis e meningoencefalite granulomatosa. Seus efeitos adversos são nefrotoxicidade, vômito e diarreia. O tacrolimo e sirolimo são agentes bloqueadores da calcineurina que inibem a produção de IL-2, IL-3, IL-4, IL-5, IFN-γ e TNF-α. Seus efeitos citotóxicos são ulceração, vasculite, anorexia e vômitos em cães. Vale ressaltar que o sirolimo também inibe a cicatrização de feridas. O tacrolimo é muito mais potente que a ciclosporina em inibir as respostas de linfócitos T e B. Também é superior em prevenir a rejeição de aloenxertos e xenoenxertos. Anticorpos Monoclonais Os anticorpos monoclonais podem ser importantes imunossupressores específicos. O Rituximab é um anti CD20 (murino ou humano) presente em linfócitos B utilizado em linfomas não-Hodgkin e doenças autoimunes. Seus efeitos colaterais são hipotensão, broncoespasmo e anormalidades hematológicas. O muromonab-CD3 (OKT3) é utilizado em casos de transplante renal e cardíaco. O anti-anticorpo Rh0 é utilizado quando há eritoblastose fetal. Drogas para Alergia Imunossupressores específicos podem ser utilizados para tratar alergias. A alergia é uma resposta de hipersensibilidade imediata provocada pela histamina, PAF e leucotrienos. A histamina causa broncocostrição, vasodilatação periférica, aumento da permeabilidade vascular e da secreção gástrica, é um neurotransmissor e atua sobre a musculatura lisa gastrintestinal. Os adrenérgicos são drogas que atuam contra os efeitos dos mediadores liberados pelos mastócitos. Como exemplo temos: adrenalina, salbutamol, formoterol e pseudoefedrina. Os anti-histamínicos agem competindo pelos receptores da histamina. Como exemplo temos: dexclorfeniramina, loratadina e fexofenadina. Por fim, existem também drogas que agem impedindo a liberação de mediadores pelos mastócitos e basófilos. Como exemplo temos o cromoglicato dissódico e o cetotifeno. Vale ressaltar que todas essas drogas podem ser utilizadas em caso de choque anafilático. Imunoestimulantes Os imunoestimulantes elevam a imunidade inata ou adaptativa, sendo indicados em caso de distúrbios de imunodeficiência (AIDS), câncer (principalmente do sistema linfático) e doenças infecciosas crônicas. Tais drogas não precisam ser administradas com um antígeno. Bactérias e Produtos Bacterianos Bactérias e seus produtos são muito utilizadas como imunoestimulantes, pois estimulam TLRs e, com isso, ativam macrófagos e DCs e estimulam a síntese de citocinas. O BCG (bacilo de Calmette-Guérin) é uma cepa viva atenuada de Mycobacterium bovis que aumenta as respostas mediadas por linfócitos B e T, fagocitose, a rejeição de aloenxertos e a resistência a infecção. É muito utilizado para tratar sarcoides equinos. Carboidratos complexos Os carboidratos complexos derivados de leveduras (como o zimosan, glicanos, poliglicose aminada e lentinanas) também são imunoestimulantes. Eles aumentam a atividade fagocítica ao ativar macrófagos, podendo funcionar como adjuvantes e potencializar a resistência aos agentes infecciosos. O acemanana (um derivado da Aloe vera) é um potencializador e estimulador da síntese de citocinas. É empregado no tratamento de tumores em gatos, cães e peixes. Drogas Imunoestimuladoras O levamisol é um anti-helmíntico de amplo espectro que estimula a diferenciação do linfócito T e sua resposta a antígenos. Também aumenta a citotoxicidade mediada por células, a produção de linfocinas, a fagocitose de macrófagos e neutrófilos e a ativação e maturação de DCs. É utilizado na doença não-Hodgkin, artrite reumatoide e para câncer colorretal. Vitaminas Algumas vitaminas, como A, D e E são bem importantes para imunidade. O ácido retinóico (um metabólico da vitamina A) aumenta a citotoxicidade e a proliferação de linfócitos T, pois estimula a produção de IL-2. A vitamina D é utilizada por macrófagos e DCs para a produção de catelicidina, um peptídeo antimicrobiano. A vitamina E e o selênio estimulam a proliferação de células B e possuem ação antioxidante. Timomodulina A timomodulina é o lisado ácido do timo de vitelo. Ela acarreta em aumento da série branca e vermelha, sendo utilizada após radioterapia ou quimioterapia. Citocinas As citocinas purificadas como, IL-1, IL-2, IL-12, TGF e IFN, geralmente possuem efeitos mínimos nos processos patológicos e estão acompanhadas por efeitos adversos significativos. A administração de IFN-γ inibe a replicação viral e estimula a ativação de macrófagos, células NK e linfócitos T CD8+. Entretanto, quando em doses altas possui efeitos colaterais, como febre, inapetência, trombocitopenia, toxicidade hepática, renal e neurológica e inibição da hematopoese. IFNs do tipo I (IFN-α e IFN-β) recombinantes também são utilizados. Por exemplo, o IFN-ω recombinante felino é usado contra FIV e FeLV. A IL-2 recombinante também é utilizada para aumentar a imunidade ao promover a multiplicação e diferenciação de clones de linfócitos T. Porém, causa efeitos colaterais, como mal-estar, síndrome do extravasamento capilar, diarreia e febre. As principais restrições quanto ao uso de imunoglobulinas e citocinas são pelo reconhecimento do sistema imune como antígeno, gerando resposta contra estes mediadores e também por possuírem grande quantidade de reações adversas.
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