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Gênero Apocalíptico


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Estudo Bíblico: 
Gênero Apocalíptico
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Anderson Oliveira Lima
Revisão Textual:
Prof.ª Me. Sandra Regina Fonseca Moreira
Apocalípticos Canônicos: Daniel
• Introdução;
• Daniel é um Apocalipse?
• As Duas Partes de Daniel;
• Traços Apocalípticos em Daniel.
• Introduzir o estudo do livro de Daniel como um apocalipse canônico;
• Conhecer temas relevantes para a discussão acadêmica a respeito do livro de Daniel que 
reforçam os saberes adquiridos sobre o gênero apocalipse;
• Exercitar o olhar atento aos elementos característicos do gênero apocalíptico na leitura de 
partes selecionadas de Daniel.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
Apocalípticos Canônicos: Daniel
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como seu “momento do estudo”;
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos 
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o 
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de 
aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e de se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Apocalípticos Canônicos: Daniel
Contextualização
Seguimos com nossos estudos a respeito da literatura bíblica apocalíptica e, 
dessa vez, mergulharemos de maneira intensa na coleção canônica de textos para 
estudar o livro de Daniel, um apocalipse que, por tradição, por sua colocação na 
seção profética da Bíblia cristã, chamamos de profeta.
Nossos objetivos seguem praticamente os mesmos das unidades anteriores: es-
tamos aprendendo a ler livros de gênero apocalíptico, mergulhando num gênero 
de literatura antiga (e religiosa) e em sua história, suas nuanças, suas aplicações... 
Mas, assim, por meio de Daniel, tocamos nossos alvos mais diretamente, pois a 
disciplina se propunha, acima de tudo, a estudar os livros apocalípticos da Bíblia. 
De pronto, aprendemos que a apocalíptica não se limita, no cânone, ao Apocalipse 
de João.
O que há de novo, portanto, é a aplicação do conhecimento previamente ad-
quirido à análise de uma obra canônica. Se não somos movidos pela curiosidade 
que suscitava a oportunidade de ler uma obra exótica, como aconteceu com 
1Enoque, dessa vez, nossa motivação é extraída das surpresas que nossa nova 
perspectiva de análise pode proporcionar à releitura de uma obra já conhecida 
de todos. E não julgue que o estudo de Daniel nos poupa de dificuldades: além 
daqueles embaraços comunicativos próprios da linguagem apocalíptica, há ques-
tões de ordem religiosa/teológica que cercam os estudos do livro de Daniel que 
podem se tornar problemas para o desenvolvimento de nossa carreira acadêmica.
Portanto, viremos a próxima página com aquela sadia curiosidade intelectual 
que nos trouxe até aqui, neste estágio do curso; prossigamos com bom ânimo 
para aprender e superar antigos erros; encontremos a alegria singular da conquis-
ta do conhecimento. Os estudos de literatura apocalíptica sempre nos reservam 
boas surpresas.
Figura 1 – Profeta Daniel – Vitrais em Bruxelas
Fonte: Getty Images
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Introdução
A presença de Daniel no Antigo Testamento é um sinal de que há algo errado 
com aquela maneira cristã fundamentalista de lidar com os textos bíblicos. Segun-
do essa tradição, houve um período de aproximadamente quatro séculos nos quais 
Deus não se comunicou com a humanidade através de livros inspirados. Mas essa 
asserção está baseada em equívocos.
Primeiro, é preciso observar que certos juízos bem estreitos de ordem teoló-
gica estão implicados nesse modo de explicar aquilo que chamam de revelação. 
Quando a coleção de livros que compõem um cânone é tida como a única possi-
bilidade de comunicação inspirada por determinado espaço de tempo, deixa-se de 
fora um número muito maior de livros (e outras manifestações místicas que eram 
bem usuais, considerando que a oralidade prevalecia como veículo da cultura) que, 
por motivos escusos, ocultos ignorados, muitas vezes perseguidos como heresia, 
destruídos... Mais sério ainda é o fato de essa teologia limitar, com considerável 
prepotência, a ação do Deus que cultua. Ela afirma, sem ruborizar, que conhece 
os limites da ação divina e classifica, para os seus, quando Deus pode ou não pode 
agir, falar, inspirar.
Então, nos deparamos, no cânone, com uma obra como Daniel, um apocalip-
se que não deveria ser colocado ao lado dos profetas tradicionais. Veremos nas 
próximas páginas que Daniel é um livro do século II, isto é, do chamado período 
interbíblico, justamente daquele tempo em que Deus, supostamente, não teria se 
comunicado. As evidências que nos levam a essa datação são várias, mas, como 
dissemos, as conclusões a que elas nos levam contrariam as convicções teológicas 
de certos grupos conservadores que insistirão em hipóteses menos seguras, teorias 
que, atualmente, não contam com nenhuma aceitação acadêmica.
É bom lembrar que, no cânone da Bíblia Hebraica (o livro sagrado dos judeus), Daniel não é 
considerado um livro profético. A coleção, também conhecida como Tanakh, está dividida 
em três grandes grupos: Torá, Neviim e Ketuvim (TNK), grupos que, em português, chama-
mos de Lei, Profetas e Escritos. O interessante é que Daniel está inserido na terceira parte, 
isto é, nos Escritos, indicando que o próprio cânone desencoraja os leitores judeus a conside-
rarem Daniel ao lado dos livros proféticos.
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Tratamos alhures do Mito dos Vigilantes de 1Enoque e seu amplo alcance e 
influência para o pensamento religioso judaico e toda a produção apocalíptica sub-
sequente. Neste sentido, Daniel não deixa nada a desejar: ele é o único escrito pro-
priamente apocalíptico da Bíblia Hebraica (COLLINS, 2010, p. 133) e se tornou, 
ao lado do próprio Apocalipse de João, um dos mais conhecidos livros apocalípti-
cos da história (NOGUEIRA, 2008, p. 50). Daniel é um herdeiro da profecia, claro, 
mas composto a partir de vários paradigmas que caracterizam o gênero apocalipse 
que, como já vimos, só veio a existir propriamente a partir do século III a.C. Diante 
dessa certeza, Daniel nos proporciona um exemplo próximo para refletir sobre a 
9
UNIDADE Apocalípticos Canônicos: Daniel
simbologia apocalíptica, sobre a pseudonímia, sobre a ficcionalidade visionária, so-
bre as relações entre as narrativas de revelação e o cenário político de seu tempo, 
sobre o pessimismo tão presente em todos os apocalipses, entre outras coisas.
Figura 2 – Daniel interpreta a escritura na parede (Daniel 5)
Fonte: Getty Images
Daniel É um Apocalipse?
Há uma confusão a respeito da leitura que as comunidadesreligiosas fazem do 
livro de Daniel que precisa ser desfeita logo de saída:
As comunidades religiosas, alheias à pesquisa acadêmica, têm dificuldades 
em lidar com os aspectos literários da Bíblia, motivo pelo qual consideramos 
disciplinas como essa de suma importância para qualquer pessoa que tenha a 
pretensão de trabalhar com essas comunidades, servindo-lhes como referência 
de leitura e interpretação. Falando dessas dificuldades, é como se os saberes 
acumulados a respeito de toda a produção literária da humanidade não se apli-
cassem apenas à Bíblia; e isso porque, como sabemos, para essas comunida-
des, a Bíblia não é um livro como os outros, mas é um livro sagrado. É comum 
que esse leitor religioso, ingenuamente, ignore a possibilidade de que um narra-
dor manipule os tempos verbais e conte uma história do passado como se fosse 
uma testemunha ocular dos fatos narrados; ele supõe que esses jogos literários 
não condizem com a Palavra de Deus, supõe que Deus (como autor) é obrigado 
a dizer sempre a verdade de maneira literal e que a ficção é uma forma de falsi-
dade indigna de seu caráter.
Independentemente de nossas posições quanto ao status da Bíblia como texto 
sagrado, importa saber, ao menos no contexto acadêmico, que a Bíblia pode, sim, 
ser estudada como um livro. Aquilo que aprendemos sobre os traços característicos 
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11
da literatura apocalíptica através do estudo, por exemplo, do apócrifo 1Enoque, se 
aplica também aos livros canônicos. Assim, a pseudonímia, a imaginação mítica, a 
ficcionalidade, a profecia escrita após o autor já conhecer o desenrolar dos eventos 
previstos (vaticinium ex eventu), etc., são elementos que também se aplicam ao 
estudo dos livros bíblicos e, dentre eles, ao de Daniel.
De modo mais específico, o livro de Daniel costuma confundir o leitor moderno 
(e desinformado quanto à tradição acadêmica de pesquisa) tanto pelo uso da pseu-
donímia (quando o livro é atribuído a um autor fictício), quanto pelo recurso a uma 
narrativa localizada temporalmente no passado. Entretanto, sabe-se que “o livro de 
Daniel foi escrito ao redor dos conflitos e guerrilha entre os Macabeus e os generais 
selêucidas e os judeus que abraçaram o projeto dos dominadores (entre os anos 167 
a 142 a.C.)” (RODRIGUES, 2018, p. 787), ou seja, num tempo em que a literatura 
apocalíptica era predominante. Todavia, a narrativa “apresenta o seu personagem 
principal em meio à crise que foi instaurada nos dias da invasão de Nabucodonosor” 
(RODRIGUES, 2018, p. 787). Noutras palavras, o autor cria uma história predomi-
nantemente ficcional, que se passa num tempo literário construído a partir de dados 
históricos de 587 a.C., e isso “com o objetivo de ajudar os leitores a interpretar a rea-
lidade de perseguição e perda de identidade que estão vivendo no presente (violência 
e perseguição de Antíoco IV Epífanes)” (RODRIGUES, 2018, p. 787).
Guardemos isto:
Ainda que a narrativa se desenvolva no palácio de Nabucodonosor e de 
Belshasar no 6° século, ela objetiva motivar e consolar judeus que estão 
sendo pressionados pelos selêucidas (governantes gregos, descendentes 
de Alexandre Magno) a abandonar sua religião tradicional em Jerusalém 
no 2° século a.C. (NOGUEIRA, 2008, p. 52)
O período helenístico é aquele marcado pela influência cultural exercida pelo império 
grego sobre as províncias que caíram sob seu domínio a partir dos dias de Alexandre 
Magno (336-323 a.C.) até o início da dominação romana (fim do século I a.C.). Daniel 
reflete a visão de judeus que, nesse tempo, ficaram numa região disputada pelo controle 
dos Ptolomeus (sediados em Alexandria, no Egito) e dos Selêucidas (sediados em 
Antioquia, na Síria), os quais herdaram parte dos territórios dominados por Alexandre 
após a morte do imperador (HADOT, 1999, p. 139-140). Um processo de inculturação se 
deu naturalmente por algum tempo através das crescentes relações comerciais internas, 
gerando, inclusive, conflitos entre grupos judaicos mais ou menos conservadores que 
divergiam sobre a assimilação dos hábitos estrangeiros e a manutenção das tradições 
locais. Até que, no reinado de Antíoco IV (175-163 a.C.), as coisas mudaram e a velha 
tolerância dos Selêucidas para com os costumes locais se transformou em perseguição 
e violência contra os judeus. Impaciente com aqueles que se opunham, Antíoco decidiu 
exterminar a religião judaica em 168 a.C., proibindo sacrifícios, circuncisões, a guarda do 
sábado e as celebrações em datas sagradas para os judeus. O livro de Daniel respira as 
tensões desse momento histórico, tenso e decisivo. (RUSSELL, 2005, p. 10-26)
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UNIDADE Apocalípticos Canônicos: Daniel
Para citar apenas um exemplo de como as comunidades religiosas se equivocam 
em sua maneira de lidar com o livro de Daniel, conferiremos, a seguir, algumas 
palavras do paratexto (Introdução) que antecede o livro de Daniel na Bíblia de 
Estudo NVI (2003, p. 1453-1454), o qual aborda questões de autoria e datação a 
partir de uma perspectiva conservadora que, nalguns estudos, é chamada de teoria 
do exílio. (ANDRADE, 2013, p. 47)
Sobre a autoria, lemos: “O livro apresenta Daniel como autor em vários tre-
chos, como 9.2 e 10.2”. Note-se, portanto, que o autor dessa introdução a Daniel 
nega o fenômeno da pseudonímia, confiando cegamente naquilo que o narrador 
do texto bíblico diz. Lembremos, todavia, que a pseudonímia era comum e que a 
maioria dos livros do período eram narrados em nome de personagens fictícios. 
Quanto à datação, o autor da introdução afirma: “O livro foi provavelmente fina-
lizado em 530 a.C., pouco depois de Ciro conquistar a Babilônia, em 539 a.C.”. 
Novamente, ele confia no cenário descrito (mundo do texto) de maneira ingênua, 
como se não houvesse, na história da literatura, um número incontável de histó-
rias contadas que se passam em tempos e lugares distantes daqueles em viveram 
seus autores reais.
Estes são apenas alguns exemplos que demonstram certo preconceito religioso 
quanto à aplicação das teorias literárias aos estudos bíblicos. Mas os problemas 
para quem quer ler Daniel literalmente (de modo fundamentalista) são, na ver-
dade, muito maiores do que as questões sobre autoria e datação nos permitem 
vislumbrar. Collins trata desse tema delicado, dizendo:
Daniel é apresentado como uma figura de um passado relativamente re-
cente. Detalhes da história poderiam, a princípio, ser verificados nas fon-
tes históricas, e os estudiosos conservadores têm trabalhado sem cessar, 
em vão, para fazê-lo. Os contos de Daniel pululam de problemas histó-
ricos [...] O fato de Daniel ser localizado no contexto histórico do exílio, 
em vez de na Antiguidade primordial, não é indicação de confiabilidade 
histórica. (COLLINS, 2010 p. 133-134)
Collins cita, dentre os exemplos que nos dá desses problemas de historicidade, o 
famoso caso do personagem que em Daniel é chamado de “Dario, o Medo”:
O conquistador da Babilônia foi Gobryas, governador de Gutim, um ge-
neral de Ciro, rei da Pérsia. Não se conhece, na história, alguma pessoa 
chamada de Dario, o Medo. O sucessor de Ciro, como rei da Pérsia, era 
chamado de Dario. O autor de Daniel herdou um esquema de quatro 
reinos, no qual a Média precedia a Pérsia, e parece altamente provável 
que ele tenha criado a figura de Dario, o Medo, para se encaixar nesse 
esquema. (COLLINS, 2010, p. 134)
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Além de sabermos que livros apocalípticos não existiam nos dias do exílio babilônico, um 
dos argumentos mais antigos para quem defende que Daniel seja um livro do século II a.C. 
(teoria macabeia), dos dias de Antíoco Epífanes, é que o narrador emprega em suas analo-
gias uma série de eventos históricos conhecidos, mas só até certo ponto. Ele simplesmente 
desconhece a sucessão dos eventos, ignora o que ocorre posteriormente, dando-nos a en-
tender que os anúncios proféticos, cujos cumprimentos são historicamente verificáveis, fo-
ram escritos após a data desses cumprimentos (vaticinium ex eventu). Por conta disso, Collins 
não temeassegurar que “a datação das visões de Daniel no segundo século (capítulos 7-12) 
é aceita como acima de dúvidas pela pesquisa crítica” (COLLINS, 2010, P. 136-137). Porém, 
note-se que não há argumentos tão seguros para datar as partes “novelísticas” que estão 
encadeadas entre os capítulos 1 a 6, as quais podem ter surgido de maneira independente 
e em períodos diferentes, tendo sido coletadas e reeditadas no século II a.C. para compor, 
finalmente, o livro de Daniel que conhecemos.
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Apesar de termos citado paratextos de uma Bíblia como evidências de que, no 
Brasil, a leitura popular e religiosa de Daniel segue por caminhos antiquados, há 
saídas interessantes para o leitor interessado em conteúdos mais seguros para 
sua pesquisa de valor científico. A Bíblia Tradução Brasileira (2018) traz uma 
Introdução ao Livro do Profeta Daniel (escrita por Rafael Rodrigues) que cor-
rige essa tradição de maneira competente. Rodrigues declara, desde o começo, 
que “O livro de Daniel é um dos famosos livros do gênero literário apocalipse” 
(RODRIGUES, 2018, p. 787), e isso nos leva a adotar esse texto como fonte bem 
mais segura para a coleta de dados introdutórios sobre o livro de Daniel. Aliás, 
o conteúdo dessa introdução de Rodrigues serviu como fonte bibliográfica para 
a composição das páginas anteriores, o que reflete nossa posição favorável à sua 
adoção como obra de valor para os estudos bíblicos.
Por hora, isso basta para intro-
duzir nossos estudos de Daniel. 
Note-se que não nos estendere-
mos demasiadamente em ques-
tões de outras disciplinas sobre 
o Antigo Testamento ou sobre o 
que os Profetas podem contem-
plar. Nosso propósito é extrair 
dessa leitura maior bagagem para 
nosso conhecimento a respeito do 
gênero apocalíptico, o que nos 
autoriza a passar, imediatamente, 
para o estudo de partes do livro 
de Daniel.
Figura 3 – Mosaico do Profeta Daniel
Fonte: Getty Images
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UNIDADE Apocalípticos Canônicos: Daniel
As Duas Partes de Daniel
Quanto ao conteúdo, Daniel tem suas peculiaridades: o livro, embora seja 
amplamente conhecido como um apocalipse, traz um vasto conteúdo narrativo 
que, evidentemente, não nos parece exatamente apocalíptico. Novamente, somos 
forçados a lembrar que os livros bíblicos são obras compósitas, peças de literatu-
ra produzidas a partir da colagem de diferentes materiais literários preexistentes.
Em A Arte da Narrativa Bíblica, Robert Alter tratou de alguns dos conhecidos problemas de 
descontinuidade, duplicações e contradições dos textos bíblicos. O autor propôs que os auto-
res e redatores bíblicos trabalhavam com noções de unidade narrativa diferentes das nossas 
e procurou demonstrar, através de análises, que, na maioria dos casos, é possível encontrar 
uma lógica subjacente às narrativas compósitas da Bíblia sem atribuir cada aparente deslize 
à incompetência ou à ingenuidade dos antigos escritores e redatores. Alter desenvolveu, as-
sim, o conceito de “arte compósita”, o qual pode ser conhecido através das linhas abaixo, que 
oferecem um bom exemplo de como Alter lida com essa questão:
A decisão de apresentar em sequência relatos ostensivamente contraditórios do 
mesmo acontecimento é um equivalente narrativo da técnica da pintura pós-
-cubista de justapor ou sobrepor uma perspectiva de perfil e uma perspectiva 
frontal da mesma cabeça. O olho normal jamais conseguiria enxergar as duas 
perspectivas ao mesmo tempo, mas é uma prerrogativa do pintor representá-las 
como uma percepção simultânea na composição de sua pintura, seja para explo-
rar as relações formais entre dois pontos de vista, seja para fazer uma representa-
ção abrangente de seu objeto. De maneira análoga, o escritor bíblico tira partido 
da natureza compósita de sua arte para revelar uma tensão de pontos de vista 
que irá orientar a maior parte das narrativas bíblicas [...] (ALTER, 2007, p. 219)
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Sobre a singular mistura de materiais “novelísticos” e apocalípticos de Daniel, 
temos à nossa disposição mais algumas linhas de Paulo Nogueira:
Nele temos tradições antigas apocalípticas misturadas a elementos nove-
lísticos de diáspora. Isto dá ao livro uma dinâmica interessante em que as 
partes propriamente visionárias estão inseridas entre narrativas que tra-
tam de como jovens judeus se portaram exemplarmente na corte de Na-
bucodonosor, na Babilônia, no 6° século a.C. (NOGUEIRA, 2008, p. 51)
Os estudiosos costumam dizer que Daniel pode ser dividido em duas 
partes: Na primeira (capítulos 1-6) encontramos narrativas que nos remetem, 
intertextualmente, à história de José, que ocupa uma porção considerável na 
parte final de Gênesis. Almir Lima Andrade chamou-os de “contos de corte” 
14
15
(ANDRADE, 2013). O que temos é a história do judeu fiel que atravessa 
circunstâncias ameaçadoras, que se vê forçado a sobreviver noutro país, a se 
manter temente a seu Deus sob as pressões de outra cultura, que ascende na 
hierarquia local de maneira improvável com o auxílio de Deus, o qual se manifesta 
na capacidade sobrenatural de interpretar sonhos, entre outras coisas. Mesmo aí, 
nessa primeira parte, podemos encontrar passagens verdadeiramente apocalípticas, 
especialmente nas seções em que Daniel interpreta sonhos.
Mas é na segunda parte (capítulos 7-12) que surgem, definitivamente, os sonhos 
e visões de Daniel, todos de conotação futurista, visionária, empregando um forte 
simbolismo apocalíptico que, ao mesmo tempo, esconde e revela as relações dessas 
visões com a história presente dos judeus sob o domínio dos selêucidas.
Falando de maneira geral, afirma-se que “Os apocalipses apresentam uma 
linguagem em forma de protesto e resistência ao poder opressor e centralizador” 
(RODRIGUES, 2018, p. 787), tendo como marca “a crítica dos poderes 
estabelecidos e a visão de um novo tempo de justiça e paz” (NOGUEIRA, 2008, 
p. 50). Mas isso também é, como estudamos anteriormente (salvo as proporções), 
um traço característico da literatura profética. Daniel herda esse traço crítico 
e político, se apresentando como um dos textos simbólicos que “ajudam as 
comunidades perseguidas e oprimidas a entender a opressão e a buscar pistas de 
saída”. (RODRIGUES, 2018, p. 787)
Importante!
Um parágrafo de Paulo Nogueira vale a pena ser lido neste momento, por ressaltar os 
pontos que estamos estudando. Atente, nessa breve leitura, sobre o modo como ele re-
afirma a relação de conteúdos que aproximam Daniel e o Gênesis, entendendo essas 
narrativas como “literatura de diáspora”, isto é, um gênero narrativo cujo conteúdo tem 
a clara finalidade de estimular pessoas que vivem sob as pressões de uma cultura estran-
geira e querem, de alguma maneira, manterem-se fieis às suas tradições:
Este tipo de literatura de diáspora – que lembra o relato de José do Egito do livro 
do Gênesis – tenta convencer os judeus de que é possível ter sucesso, com fideli-
dade aos preceitos tradicionais e sob a proteção de Deus, mesmo no estrangeiro 
e sob pressão. (NOGUEIRA, 2008, p. 51)
Importante!
Mosaico de Sadraque, Mesaque e Abednego na fornalha ardente - Catedral de Westminster, 
disponível em: http://bit.ly/2PTBG2oEx
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UNIDADE Apocalípticos Canônicos: Daniel
Traços Apocalípticos em Daniel
Para fecharmos nosso estudo dedicado ao apocalíptico livro de Daniel (um típico 
apocalipse que está entre os textos canônicos), faremos apenas alguns breves co-
mentários sobre seu conteúdo apocalíptico. Como antes, não queremos nos pren-
der à interpretação detalhada do livro, mas demonstrar como os traços típicos do 
gênero apocalipse determinam os caminhos dessa narrativa visionária.
Ao procurarmos uma passagem que servisse bem de exemplo, lembramos logo 
que um dos capítulos mais emblemáticos desse apocalipse de Daniel é o sétimo, 
onde lemos sobre a experiência visionária de Daniel e os traços da linguagem tipi-
camente apocalíptica tomam conta de cada espaço. Façamos uma rápida leitura:
Falou Daniel e disse: Vi na minha visão noturna, e eis que os quatro 
ventos do céu irrompiam sobreo grande mar. Quatro grandes animais, 
diferentes uns dos outros, subiam do mar. O primeiro era como um leão 
e tinha asas de água; enquanto eu olhava, foram-lhe arrancadas as asas, 
ele foi levantado da terra e posto em dois pés como um homem, e foi-lhe 
dado um coração de homem [...] (DANIEL 7.2-4)
Daniel é, nessa passagem, o visionário involuntário, o eleito para receber dos céus 
as revelações consideradas relevantes. É visível que, diferente de um profeta tradi-
cional, Daniel vê coisas de alcance universal, vê o movimento dos “quatro ventos do 
céu” sobre o “grande mar”, isto é, vê coisas que dizem respeito ao mundo todo. E a 
linguagem simbólica (quiçá mais compreensível aos homens daqueles dias), indireta, 
descrevendo coisas estranhas às coisas típicas da natureza, toma conta das linhas, 
confundindo-nos enquanto revela. Progressivamente, ele descreve estranhos animais 
que são acordados pelos ventos que irrompiam sobre o grande mar, uma apresenta-
ção que culmina na descrição do mais temível deles.
Na sequência dessa visão, Daniel vê tronos e “um que era Antigo de dias [...] o 
seu vestido era branco como a neve, e os cabelos da sua cabeça, como pura lã [...] 
(Daniel 7.9-10). O mais marcante na história da leitura cristã desse capítulo não é 
o ancião, mas a aparição de “um como Filho do Homem” que é apresentado ao 
“Antigo de dias” e recebeu “domínio, e glória, e um reino, para que todos os povos, 
nações e línguas o servissem” (Daniel 7.13-14). Esse personagem enigmático sus-
citaria muita discussão teológica, muitas releituras, e seria mesmo decisiva para os 
rumos dos messianismos judaicos e, claro, para as origens do próprio cristianismo 
(NOGUEIRA, 2008, p. 60-61).
Após o versículo 15 o visionário, perturbado pelas visões, aborda um dos 
circundantes para inquirir-lhe a respeito do significado do que via. Este outro, 
que assume a posição de um guia, um intermediário entre o humano visionário 
e as coisas celestiais, passa a explicar os símbolos: os animais são reinos que 
se erguem na terra e que sucumbem quando os “santos do Altíssimo” usurpam 
o poder definitivamente. O último dos animais, mais terrível, tinha chifres que 
representavam reis e um deles, Antíoco IV Epífanes, é interpretado como aquele 
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que “falará palavras contra o Altíssimo e consumirá os santos do Altíssimo”, até 
que também seria destronado, para a exaltação dos santos (Daniel 7.15-27).
Ou seja, os leitores de Daniel veriam 
todas essas visões como evidências de 
que Deus os via, conhecia seus lamen-
tos e tinha reservado para seus inimigos 
estrangeiros um juízo justo. Todavia, a 
apocalíptica é determinista e pessimis-
ta, não deixa espaço para que alguém 
altere o rumo dos acontecimentos, mas 
anuncia uma crise crescente que não 
pode ser interrompida, que conduz a 
história a seu fim. As catástrofes anun-
ciadas, o domínio temporário das hostes 
malignas e a perseguição aos santos são 
inevitáveis; é preciso crer e suportar, so-
frer e esperar o dia do juízo divino, da 
intervenção sobrenatural.
Figura 4 – Daniel interpreta o sonho
de Nabucodosor (Daniel 4)
Fonte: Getty Images
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UNIDADE Apocalípticos Canônicos: Daniel
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
Bíblia
Na Unidade de nosso material didático, empregamos, quando citações bíblicas foram 
necessárias, a Bíblia Tradução Brasileira (2018), publicação conjunta da Fonte 
Editorial e da Sociedade Bíblica do Brasil. Além de apreciarmos a tradução (cuja 
história merece ser conhecida), sua nova edição de 2018 traz importantes contribuições 
de especialistas brasileiros que criaram introduções para cada um dos livros bíblicos. 
Indicamos a leitura dessa nova edição da Bíblia, tanto pelo valor de sua tradução, 
quanto pelas preciosas introduções acadêmicas que ela possui.
Introdução ao livro de Daniel
Além de indicarmos a Bíblia Tradução Brasileira, vale ressaltar a Introdução ao livro 
de Daniel, escrita por Rafael Rodrigues (RODRIGUES, 2018, p. 787-789). Esse texto 
breve foi empregado algumas vezes ao longo de nosso material didático como fonte 
bibliográfica e, sem dúvida, enriquece sobremaneira o estudo do livro bíblico para 
quem tem essa edição em mãos.
O que é Apocalipse
Temos que reafirmar algo que, provavelmente, já demos a entender noutros momentos 
desse curso: Paulo Augusto de Souza Nogueira é o maior especialista brasileiro nos 
estudos do gênero apocalipse. Novamente, seu pequeno livro O que é apocalipse 
foi uma referência bibliográfica de grande relevância; por isso, indicamos a leitura do 
capítulo dedicado ao livro de Daniel (Desmascarando os poderes), um texto de fácil 
acesso que cairia bem como reforço para o conteúdo aqui estudado (NOGUEIRA, 
2008, p. 49-71).
 Leitura
Apresentação dos Contos de Corte no Livro de Daniel: Análise de sua Estrutura
O artigo de Almir Andrade Lima que trata dos “contos de corte” de Daniel 1-6 e, logo 
em suas primeiras páginas, das teorias sobre a datação do livro (teoria do exílio e 
teoria macabeia) é uma leitura complementar que pode interessar aos estudantes. 
http://bit.ly/2PU71ls
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Referências
ANDRADE, Almir Lima. Apresentação dos contos de corte no livro de Daniel: 
análise de sua estrutura. Orácula, ano 9, n. 14, p. 46-63, 2013.
ALTER, Robert. A arte da narrativa bíblica. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
Bíblia de Estudo NVI. São Paulo: Editora Vida: 2003.
Bíblia Tradução Brasileira – introduções acadêmicas. São Paulo: Fonte Editori-
al; Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2018.
COLLINS, John J. A imaginação apocalítica: uma introdução à literatura 
apocalíptica judaica. São Paulo: Paulus, 2010.
HADOT, Pierre. O que é a filosofia antiga? São Paulo: Edições Loyola, 1999.
NOGUEIRA, Paulo. O que é apocalipse (Coleção primeiros passos, 333). São 
Paulo: Brasiliense, 2008.
RODRIGUES, Rafael. Introdução ao livro do profeta Daniel. In. Bíblia Tradução 
Brasileira – Introduções Acadêmicas. São Paulo: Fonte Editorial; Barueri: Socie-
dade Bíblica do Brasil, 2018, p. 787-789.
RUSSEL, David S. Entre o Antigo e o Novo Testamento: o período interbíblico. 
São Paulo: Abba Press, 2005.
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