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Locimar Massalai O Laboratório de Informática Educativa da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira em Ji-Paraná, Rondônia na visão de alunos e professores. Paula Andréa Prata Ferreira Ji-Paraná, outubro de 2010 Local e Data Locimar Massalai Sou vírgula e nunca um ponto final. Feito de sonhos, movido por projetos. Aprendi gostar do meu nome e, por conseguinte gostar de mim. Três coisas me salvaram do desespero: ter uma família, ser amado e a paixão pela leitura. Catarinense por questões biológicas e Jiparanaense por circunstâncias sócio-culturais. Formado em Pedagogia Educação Infantil e Anos Iniciais e Orientação Educacional. Pós-graduado em Metodologia do Ensino Superior e Psicopedagogia Clínica e finalizando o Curso de Serviço Social. Atualmente exercendo a função de Orientador Educacional na Escola de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubitschek de Oliveira em Ji-Paraná. Dedicatória Para três mulheres que me nutrem e me maternam, rosto concreto da Mãe de Deus neste tempo: Márcia Andréia, minha irmã, Érica Massalai minha mãe e Josane, amiga, irmã por adoção e confidente. Agradecimentos Às colegas do Curso por serem exemplo de superação e apoio. Às queridas Ana Paula Abreu Fialho, Mediadora e Paula Prata, Orientadora, pela paciência pedagógica firme e afetiva, promotoras de amadurecimento. Resumo O trabalho que segue é antes de tudo um exercício de leitura e compreensão mais atenta de como funciona o Laboratório de Informática educativa da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira, no município de Ji-Paraná em Rondônia, nos três períodos em que a escola atende sua clientela, a saber: matutino, vespertino e noturno, cada período acompanhado por uma coordenadora específica para tal. O objetivo precípuo deste exercício de pesquisa foi perceber entender e posteriormente analisar como professores e alunos ocupam e utilizam o espaço do LIE para promoção da aprendizagem. Foram ouvidos professores, alunos e coordenadoras do LIE e ainda feitas algumas observações no próprio LIE, observações estas com características da observação participante. Percebeu-se que o LIE é um espaço muito mais utilizado pelos alunos do que pelos professores ou por estes com seus alunos. Notou-se que todos o percebem de fato como um espaço de aprendizagem em que o elemento ‘pesquisa’ tem preponderância sobre outros. Além disso, quando os professores acompanham o aluno, este aproveita melhor o espaço do LIE. Ficou bastante claro também que muitos professores utilizam as tecnologias em suas aulas e com experiências significativas, mas que não são compartilhadas com seus pares em momento algum, pois cada um trabalha de forma isolada. Cada um na sua solidão. Palavras-chave: Informática Educativa; Aprendizagem; Currículo; formação de professores; gestão democrática. Sumário 1. Introdução A primeira pergunta que poderíamos nos fazer, simples por sinal, tem um caráter teleológico: “para que serve o laboratório de informática educativa em uma escola?”. Qual sua finalidade dentro de um contexto em que a escola não pode ser uma ilha, à medida que o seu entorno - e leia-se aqui, todos os outros espaços – possuem dimensões pedagógicas e de aprendizagens que transcendem o currículo escolar e que muitas vezes o superam. Já foi o tempo em que a escola era concebida como a única promotora de saber. Hoje ela é apenas uma juntamente com tantas outras. Porém não queremos dizer que perdeu sua importância para a formação das pessoas. Olhando com mais atenção a realidade das escolas estaduais e municipais de Jí- Paraná, constata-se que em sua grande maioria que existem laboratórios de informática educativa. Este é um fato. Agora, se questionamos como este espaço está sendo ‘habitado’ aí a história muda de figura. É verdade também que de uma forma ou de outra, os alunos acessam a internet e tem contato com o computador via lan houses da cidade. Isto foi comprovado por mim mesmo quando acompanhava uma atividade de pesquisa com a professora Abiu1 em uma turma do 4ª ano do Ensino Fundamental. Ao começar as atividades com Geografia motivou os alunos que antes pesquisassem em casa o significado da palavra “Geografia”. E ai foi dando exemplos de fonte de pesquisa. Ficamos surpresos que, a grande maioria citou a internet como fonte de pesquisa e dos 35 alunos da sala, 21 tinha acesso à internet e muitos destes, nas lan houses de seus bairros. Diante do aumento de tantas possibilidades causadas pelas transformações tecnológicas e seu adorável mundo novo, a era da internet ou da informatização, (não sei bem qual definição ficaria melhor aqui), trouxe mudanças inexoráveis não apenas em termos de praticidade, mas na visão de mundo e na forma de como concebemos as coisas. Nossa visão de mundo foi e está mudando pela rapidez das transformações causadas pela interne. São novas necessidades causadas por tantas mudanças. 1 O Abiu é uma fruta silvestre da região amazônica e do Peru, levemente adocicada. Weiss (2001) defende a idéia de que a informática tornou-se uma necessidade no mundo em que vivemos, e a escola que tem a missão de preparar o indivíduo para dar respostas aos desafios desta sociedade não pode simplesmente ignorá-la ou deixar de tomá-la como aliada no processo de ensino-aprendizagem até porque as crianças já nascem mergulhadas em um ambiente altamente tecnologizado. E que neste sentido, a informática educativa pode auxiliar na promoção de um currículo acadêmico integrado, mas que é preciso definir quais são os objetivos da Informática Educativa na escola. A realidade pede um professor atento às mudanças e não apenas um neólatra. Um professor que veja seu aluno como parceiro no imenso desafio de transformar informação em conhecimento e que, neste sentido, jamais será superado, pois como afirma Demo (2008, p. 14) desafiando-nos a caminhar, a nos colocarmos em marcha, apesar do atraso histórico: “No entanto, como as novas tecnologias vieram para ficar e só fazem inovar-se com pressa cada vez maior, elas acabam impondo-se à revelia da escola. É uma pena que a inovação tenha de vir de fora, compulsoriamente. Vamos pagar caro por esse atraso. No entanto, se quisermos mudanças de dentro, no sentido de saber lidar com as novas tecnologias em nome do direito de estudar da população, a figura-chave é o professor. Ele é o elo mais estratégico dessa corrente.” Percebemos muitos professores na escola, com boas práticas quando usam as tecnologias, mas solitários no seu fazer. Vejo isto em minha escola. Temos poucos espaços para trocas e partilhas. Perde-se uma riqueza muito grande porque os professores não têm este espaço de trocas. Dentro deste contexto, Ramos (2009, p.4) diz claramente que: A inserção do computador na escola para prover aprendizagem sugere mudanças pedagógicas que englobam a organização da escola, a dinâmica da sala de aula, o papel do professor e dos alunos e a relação com o conhecimento. É necessária uma reestruturação do ensino, não só na sua estrutura física e metodologia, bem como nas inter-relações, o que demanda uma nova postura profissional dos professores e um repensar dos processos educacionais, principalmente aqueles relacionados com a formação de profissionais e com os processos de aprendizagem. É claro que o desafio de se avançar é uma tarefa hercúlea com o modelo de escola e de gestão que temos. Porém é possível fazê-lo. Começando com a formação dos professores e de como esta seráfeita. Tomando como base a realidade da escola onde atuamos, percebemos uma presença constante dos alunos no Laboratório, no horário oposto das aulas, principalmente alunos dos anos finais do ensino fundamental e ensino médio. Os alunos freqüentam o LIE para fazer pesquisas solicitadas por seus professores, montar slides no Power point para apresentação de trabalhos escolares, procurar vídeos no you toube para alguma apresentação cultural e também para digitação de atividades. Não usam MSN ou Orkut porque estão bloqueados. E muitas vezes estão à frente dos professores e sabem mais do que eles. Neste descompasso, se assim poderíamos dizer, é preciso não somente dar aos professores uma formação técnica do tipo como usar o computador, etc. Acreditamos que seja preciso aos poucos mudar toda uma cultura do uso de tais recursos. Não apenas usar as novas tecnologias com mentalidade tradicional. Mudar a mentalidade e a forma de ver tais instrumentos. É triste constatar, por exemplo, que a escola onde atuamos está entre as três piores no índice do IDEB dentre as escolas estaduais de nosso município. Com o pouco tempo que tivemos do tempus fugit, voltamos nossa atenção sobre como os professores utilizam o laboratório de informática educativa da escola, como eles vêem este espaço e quais dificuldades que sentem em utilizá-lo, pois pelo que constamos, eles precisavam ser ouvidos e gostaram de conversar conosco. Trabalhamos com falas das duas coordenadoras do LIE, alguns professores e alunos dos anos finais do ensino fundamental e do terceiro ano do ensino médio. Isto nos possibilitou registrar como se fosse uma fotografia, (talvez não muito nítida ainda), do Laboratório de Informática Educativa da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira. Fotografia esta que foi sendo tirada enquanto cada pessoa ia relatando suas experiências. Foi um exercício de escuta atenta e prazerosa que veio confirmar mais uma vez a necessidade de tornar a nossa prática de gestores, não apenas interventiva, mas acima de tudo investigativa. A atitude investigativa é o motor básico do exercício profissional, pois possibilita o desocultamento do real a partir do momento que enquanto orientador educacional, por exemplo, investigo aquilo que eu conheço e que me incomoda, porque existe um imperativo ético-moral que me impulsiona: ajudar o educando a se ver, ver o outro e o mundo que o rodeia. E como diz Minayo (1999, p.17), “nada pode ser intelectualmente um problema, se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática”. Sentimos que um dos grandes problemas da escola hoje é ouvir seus atores, interpretar suas necessidades e respeitar seus protagonismos. O que segue é na verdade o desejo sincero de registrar um pedaço da história da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira a partir do depoimento de alguns de seus atores quando falam partindo de suas visões sobre o que significa para eles o Laboratório de Informática Educativa no contexto da escola e de suas práticas educativas. 2. Vida, escola e tecnologias – revisão de literatura “Nem a salvação nem a perdição reside na técnica. Sempre ambivalentes, as técnicas projetam no mundo material nossas emoções, intenções e projetos. Os instrumentos que construímos nos dão poderes, mas, coletivamente responsáveis, a escolha está em nossas mãos.” (Lèvy, 1999, p. 16-17) O titulo desde capitulo surge provocado pela criação do blog com este nome, por ocasião de uma atividade do curso Tecnologias em Educação (www.massalai.blogspot.com). O contato direto com alunos e professores em uma escola real, que logo mais apresentaremos algumas informações sobre a mesma nos faz refletir que a vida, a escola e as tecnologias estão intrinsecamente unidas. Encontramos na escola ainda, alunos que não manipulam a internet ou não tem acesso ao computador, mas vivem em uma sociedade que de certa forma está tão enredada com o linguajar tecnológico, que na é mais possível fazer de conta ou prescindir dele. Assim, faz parte do cotidiano de nossos alunos o acesso ao mundo das tecnologias mesmo que através de mínimos sociais, isto é, via escola, um cursinho oferecido por tal deputado ou programas oferecidos pela prefeitura. Percebemos na escola em que trabalhamos quando conversamos com os alunos dos 6º até o ensino médio, um forte sentimento de exclusão que faz com que percam a dimensão do sonho, de uma perspectiva melhor de vida. O cotidiano desses alunos é marcado por forte sentimento de exclusão. Ao mesmo tempo em que necessitam quase que desesperadamente de referenciais para pautar suas vidas. E às vezes encontram esta referência nos professores e na própria escola. Dentro desta situação, Pais (2008) questiona que se a sociedade atual vivencia mudanças significativas na forma de organizar a vida cotidiana, a escola não pode ficar marginalizada deste processo evolutivo. E que se o contexto social onde a escola está inserida está tomado por inovações tecnológicas, sem o domínio das mesmas, é quase que impossível de se conquistar a cidadania. Como fazer com a escola seja um espaço de construção desta cidadania e que os alunos sejam estimulados a construí-la juntamente com todos os envolvidos no processo educativo? http://www.massalai.blogspot.com/ Quem convive diariamente com alunos em uma escola pública de periferia em um bairro periférico sabe de que tecido é feito este cotidiano. Cotidiano que poderíamos caracterizar como aquele: [...] de todos os dias e de todos os homens, [...] percebida e apresentada diversamente nas suas múltiplas cores e faces: a vida dos gestos, relações e atividades rotineiras de todos os dias; um espaço do banal, da rotina e da mediocridade; um espaço privado de cada um, rico em ambivalências, tragicidades, sonhos e ilusões; o micro mundo social que contém ameaças e, portanto, carente de controle e programação política e econômica; um espaço de resistência e possibilidade transformadora. (CARVALHO & NETTO, 2005: 14) Então, o que a informática, a internet, as tecnologias podem trazer de possibilidade para superar esta exclusão e dar ao currículo, à escola uma expressão mais viva e mais dinâmica? Haja vista que em meio à algazarra dos alunos, entre uma agressão manifesta-se a necessidade de mudanças. O que um Laboratório de Informática poderia agregar de novo na função e no significado da escola ontologicamente, porque ela continua, às vezes sendo uma das poucas referências de cidadania e promoção de vida? 2.1. A escola na cultura digital O uso da internet na escola está inexoravelmente mudando as relações entre professores e alunos e a forma como estes dois atores aprendem e ensinam. Mudam-se as relações e as concepções do que seja ensinar e aprender e da função da escola. São mudanças colossais que nem sempre são bem ou pacificamente assimiladas pela escola. Antes de tudo, tem de ser vistas como mudanças culturais, discutidas na escola. Com muita propriedade Fagundes (2006) afirma que: Trata-se de uma mudança de cultura, mudanças de concepções, de um novo paradigma. Esta situação provoca instabilidadee muitas incertezas. Toda a formação dos professores tem sido feita em cima de certezas, de princípios estabelecidos para a preservação, para a conservação, na concepção de que um bom professor deve conhecer mais profundamente o que vai ensinar. É corrente afirmar-se que os professores estão mal preparados porque não "dominam" os conteúdos que ensinam. Além disso ele também deve ter um bom "domínio" de sua classe de alunos, para manter a disciplina, referindo-se ao "bom comportamento" dos alunos. E nesta formação eles dominam também os materiais pedagógicos, manejam bem as tecnologias de ensino. O grande “tapa na cara”- com luva de pelica é claro, que Léa Fagundes nos dá e que nos tem provocado muita reflexão, é quando ela trabalha a idéia de que não se trata de integrar as tecnologias no currículo, e sim, integrar a escola na cultura digital. Percebemos que a escola permanece com sua cultura, com sua tradição e quando se apropria da tecnologia quer colocá-la a serviço da preservação de um passado arcaico e autoritário e com suas respectivas metodologias e visões de mundo que não respondem mais. Ora, se pensarmos com um pouco de coragem, vamos assumir que a escola não está respondendo àquilo que lhe cabe neste novo século de novas luzes e novas formas de conhecimentos dinâmicos e altamente criativos. É como se estivéssemos vestindo ou tentando vestir uma roupa que não nos cabe mais. Se formos olhar atentamente vamos considerar que Pais (2008, p. 14) têm razão quando afirma que: Tendo em vista que a prática docente está essencialmente associada à natureza das ações realizadas pelos alunos, a ampliação das atividades didáticas através do computador, a ampliação deve levar em consideração esses dois níveis de envolvimento. Ações de professores e alunos são redimensionadas pelo uso desse novo suporte didático, ditando uma postura de envolvimento que certamente não se identifica com as condições tradicionais. Em outros termos, a construção das competências objetivadas para a formação do aluno depende também da disponibilidade do professor de se engajar na redefinição de sua própria prática, incorporando a ela a componente tecnológica de sua própria formação. Para isso, é preciso que a iniciativa individual de cada um seja exercida em sintonia com a capacidade de participar ativamente em propostas de trabalho coletivo. É verdade: a cultura digital é uma nova cultura e que exige tempo para ser assimilada. Exige tempo sim, mas necessita coragem e empenho para ser implantada e assumida na escola. E que não basta conseguir equipamentos, para que esta inclusão se efetive. É o que Fagundes (2006) defende como um grande desafio, a saber: o de incorporar as tecnologias como ferramentas de ensino, ou seja, integrá-las às práticas docentes. Dentro desta nova cultura digital, sem querer entrar em neologismos maçantes ou modismos pedagógicos que fazem perder a força das teorias que os engendraram, o professor assume o papel de aprendiz permanente. Não existe mais alguém formado, pronto e acabado. E isto nem sempre é fácil de assimilar dentro de uma cultura que ainda continua imperando nas escolas, ou seja, aquela em que o professor tem imensa dificuldade para sentar e estudar. Como superar esta resistência que domina o processo da formação continuada? Uma das propostas seria a de ajudar os educadores a tematizar suas práticas. Temos feito pequenas experiências em nossa escola e tem dado certo ajudando assim os professores a vencer com paciência esta resistência em estudar e aprender a lidar com o computador, por exemplo. Tivemos por um tempo no primeiro semestre de 2010, uma sessão de estudos promovida nas segundas-feiras no horário oposto, onde buscamos ajudar os professores do 1º ao 5º ano a melhorar suas práticas pedagógicas a medida que refletiam. A partir destas sessões, surgiram atividades interessantes como o uso do blog com seus alunos por determinadas professoras. O que nos faltou foi mais interação com o laboratório de Informática e TV Escola, para assim expandirmos ainda mais o uso das mídias no cotidiano escolar. Estas sessões ficaram paradas por um tempo em função da troca e da saída da supervisora para outra escola e agora estão sendo timidamente retomadas. O grande desafio futuro é fazer estes momentos com professores do 6º ao 9º ano e o pessoal do ensino médio. Percebemos que eles possuem mais resistência. Porém pedem ajuda e se ressentem quando observam o pessoal dos anos iniciais do ensino fundamental sentando e trocando. Outro dia um aluno do 3º ano ensino médio veio até a coordenação pedagógica e desabafou: “estou terminando o ensino médio sem noções básicas de química”. É uma pancada no estômago ouvir um grito como este. E quando estas situações acontecem e que não são poucas e nem isoladas, somos acometidos, às vezes, por um sentimento de impotência. Outras vezes, de revolta e tantas outras de frustração. A reação mais natural, diríamos assim, é de buscar um culpado. É culpa de quem quando o aluno não aprende ou quando visivelmente ele está saindo da escola sem as competências necessárias para dar prosseguimento aos estudos, por exemplo? Defendemos aqui a idéia de que a escola precisaria se avaliar mais vezes enquanto instituição. Acompanhar melhor seus professores e suas práticas. Orientá-los. Ouví-los. Para ajudar vale citar uma provocação de Fagundes (2006) quando afirma que: Em nossa concepção, o auxílio de que o professor precisa, e merece receber, deve se constituir num apoio em serviço e em experiências de capacitação, em que ele possa experimentar por si mesmo as novas práticas de uso das tecnologias na educação, interagindo com seus pares na realidade de sua escola. Essa formação precisa ser compartilhada, mantendo-se a comunicação na rede para sustentar os questionamentos e as reflexões pertinentes. Para tornar-se um orientador da construção de conhecimento de seus alunos, ele precisa também tornar-se um construtor de inovações. Assim o que está em jogo nesta mudança de visões e postura dos professores, muito mais do que reprovar ou não os alunos, é o desafio de saber como incorporar as tecnologias às atividades de sala de aula, com avaliações capazes de medir as habilidades e competências que as novas gerações precisam desenvolver para viver em tempos tão desafiadores. 2.2. O letramento digital ou a alfabetização tecnológica A escola do jeito que está ai já não responde mais. Percebo isto em relação à situação dos alunos que estão saindo do ensino médio na minha própria escola. O descontentamento é imenso. Em coro eles dizem que não estão preparados para nada. Ler, escrever e interpretar, esta última muito mais, são habilidades indispensáveis para que uma pessoa seja mais cidadã, ainda mais quando levamos em conta a realidade de um país como o nosso onde cidadania, democracia e luta por direitos e políticas públicas ainda são realidades incipientes. No inicio do ano, quizemos perguntar para os pais o que eles estavam achando da qualidade do ensino que a escola estava oferecendo. Tivemos duas surpresas: a primeira delas é que os pais não queriam responder porque estavam muito ocupados ou atrasados para o trabalho. Claro depois avaliamos nossa forma de abordagem pois ela mesmo teve seus contratempos. A segunda surpresa foi constatar que 98% estava contente e achava o ensino de ótima qualidade. No fundo eles não tem noção do que seja uma educação de qualidade, pois para a maioria, a função da escola é ensinar ler e escrever. No entando, podemos constatar o porquê toda esta noção trazida pelos pais está equivocada, como mostra as palavras de Demo (2008, p. 11): [...] “Se fôssemos corretos com as crianças, elas teriam que ser alfabetizadas com computador, pela razão simples de que essa máquina (ou algo similar) vai serparceira delas pela vida afora, inevitavelmente. Alfabetizar sem computador significa, falando cruamente, atrasar a vida da criança. Temos inúmeras razões/desculpas para não fazermos isso, a começar pelos custos e problemas de acesso, em especial por parte das populações mais marginalizadas. Por isso mesmo, não cabe fantasiar propostas que não têm a mínima condição de realização concreta. Ademais, ler, escrever e contar é muito pouco, quase nada, ainda que demoremos até três anos para inventar esta mixaria. Não se trata, como se alegou, apenas de fluência tecnológica, mas de cidadania fluente que sabe aproveitar-se de novas plataformas tecnológicas para colocar o bem comum acima das apropriações privadas.” Diante do exposto, questiono o modelo de escola que temos e não a sua importância. Não é somente mudar o currículo, temos que repensar a escola no seu sentido mais amplo. Hernández (1998, p. 19) prefaciando o seu livro “Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho”, corrobora justamente este nosso posicionamento quando afirma que o interessante na experiência sua com projetos de trabalho foi: “Comprovar que era possível organizar um currículo escolar não por disciplinas acadêmicas, mas por temas e problemas nos quais os estudantes se sentissem envolvidos, aprendessem a pesquisar (no sentido de propor-se uma pergunta problemática, procurar fontes de informação que oferecessem possíveis respostas) para depois aprender a selecioná- las, ordená-las, interpretá-las e tornar público o processo seguido”. A escola não é a única que educa, por isto precisa aprender a articular. Fico pasmo quando percebo que ainda temos professores “ensinando geografia, história.... somente com questionário. Outro dia, por exemplo, um aluno questionou um professor na escola que pediu que a turma fizesesse 20 questões do conteúdo de determinada disciplina. Ele respondeu para o professor; “Do que me adianta tudo isto? Vou aprender o que com isto?” E aí já sabemos onde o aluno foi parar. Não se trata de adaptar às novas tecnologias ao cotidiano das escolas, mas acompanhar a autonomamente as mudanças colossais que vão acontecendo no mundo onde já ouvimos falar da web 3.0, a web, ou seja a web semântica. O letramento digital é um desafio imperioso acima de tudo para professores e gestores. 3. Apresentando a Escola – contando um pouco de sua história e contexto O Governador do Estado de Rondônia, Ângelo Angelim2, conforme consta do Decreto 2728 de 17 de setembro de 1985, no uso das atribuições que lhe eram conferidas o art. 70, inciso III da Constituição Estadual, e, além disso, o que consta do processo N.º 001147, legitimou a criação da Escola de 1º e 2º Graus Juscelino Kubitschek de Oliveira, localizado na Rua Governador Jorge Teixeira, 827 no Bairro Nova Brasília. No art. 2º do mesmo decreto estabeleceu à Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Ji-Paraná a responsabilidade de adotar as providências necessárias ao funcionamento da referida Escola. De acordo com o Parecer 169/CEE/RO/98 a escola passou a se chamar Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubitschek de Oliveira, localizada a Rua Governador Jorge Teixeira nº. 827 – Bairro de Nova Brasília em Ji-Paraná – Rondônia - CEP 76.908-468. Atualmente a escola atende alunos do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental e Médio, EJA fundamental e médio, funcionando nos três períodos: matutino, vespertino e noturno. Além de possuir professores habilitados nas mais diversas áreas conta com os seguintes especialistas no seu quadro gestor: duas supervisoras e dois orientadores educacionais. Quanto à direção da escola, por mais que assuma um discurso democrático, de gestão democrática, foi nomeada via indicação política, contrariando o que estabelece a LDB 9.394 de 20 de Dezembro de 1996 quando afirma no artigo 14: Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. 2 Foi nomeado como governador pelo então presidente da República José Sarney e encerra assim em Rondônia, o ciclo dos governadores nomeados. Governou Rondônia de maio de 1985 a 14 de março de 1987. Sua administração procurou priorizar o setor produtivo, a educação e a saúde. Concorreu para senador em 1990, mas não foi eleito. A escolha dos diretores por indicação política causa na escola um retrocesso quanto à prática da gestão democrática, já que a nomeação coloca de lado a escolha direta de seus representantes. Percebem-se diretores amarrados e engessados por falta de respaldo junto a seus representados, perdendo assim a credibilidade da comunidade educativa. A comunidade da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubitschek de Oliveira possui uma clientela cujo padrão socioeconômico é constituído por famílias em sua grande maioria de baixa renda e que recebem Bolsa Família3. É elevado o número de alunos que vivem somente com as avós, cujos pais foram trabalhar ou nos Estados Unidos, Espanha e Portugal ou mesmo em fazendas de gado nas regiões próximas. Os bairros do entorno onde a escola está inserida são muito violentos onde a ausência do Estado é quase que absoluta quando se pensa em políticas públicas voltada para a saúde deporto e lazer. A cidade de Ji-Paraná tinha, segundo o censo de 2000, 111.010 habitantes. E quando se pensa em áreas de lazer vamos verificar que são poucas para o número de habitantes que a cidade possui. Constatamos três espaços públicos e que estão localizados no centro da cidade. Um deles aparece abaixo na foto 01. A maioria dos espaços de lazer são campinhos de futebol que a própria população organiza, conforme consta na foto 02. Foto 1 - Espaço de lazer chamado “Beira Rio Cultural” que fica localizado às margens do Rio Machado que corta a cidade. 3 O Programa Bolsa Família foi criado para ajudar as famílias de baixa renda e garantir a elas o direito à alimentação, acesso à educação e à saúde. Tem como objetivo maior a inclusão social por meio de transferência de renda e garantia de acesso a serviços essenciais. Figura 1 - Campinho de futebol improvisado - Rua Maringá próximo ao Estádio de Futebol chamado Biancão. Praças públicas inexistem o que de certa forma justifica o alto índice de criminalidade juvenil. Esta constatação é reforçada por A escola, dentro deste microcosmo se torna uma ilha de paz um dos poucos lugares humanos. Existem centenas de igrejas evangélicas cada uma com suas peculiaridades com ênfase na teologia da prosperidade. O bairro onde está inserida a escola não tem rede de esgotos e as ruas são de terra batida. Em muitas casas faltam até mesmo água tratada e serviço de coleta de lixo. Em meio a este contexto, a escola atende a atualmentemil e seiscentos e sessenta e sete alunos distribuídos em três turnos (matutino, vespertino e noturno), oferecendo o Ensino Fundamental do 1º ao 9º anos, e Ensino Médio. São residentes dos Bairros: Nova Brasília, São Francisco, Val Paraíso e Juscelino Kubitschek. Aproximadamente, 95% dos alunos são nascidos em Ji-Paraná e os outros 5% são distribuídos de emigração de outros Estados e Municípios brasileiros. Um dos primeiros grandes desafios da escola é de fato ajudar o grande número de alunos que chegam ao 6º ano do ensino fundamental com grandes dificuldades na leitura e na escrita, bem como na alfabetização matemática. Um segundo desafio é acompanhar e ajudar os professores a tornar sua prática pedagógica mais dinâmica e que responda ao que se espera da educação hoje. E o terceiro é tornar a gestão mais democrática e participativa incluindo dentro deste, momentos de avaliação enquanto instituição. 4. Quando as coordenadoras do LIE, professores e alunos falam deste espaço e seus significados. 4.1. Apresentando a turma A prática do ouvir crianças, adolescentes e professores na escola tem se tornado para mim não apenas um exercício de humildade epistemológica como também uma possibilidade imensa de conhecer estes atores, um exercício quase etnográfico, já que ‘perco’, às vezes, um longo tempo percebendo a rotina da escola com todas suas linguagens e linguajares. Sim, um exercício etnográfico já que de certa forma é uma etnografia escolar assim como no dizer de GEERTZ ( 1989: 7) falando do exercício de observar: É como tentar ler (no sentido de “construir uma leitura de”) um manuscrito estranho, desbotado, cheio de eclipses, incoerências, emendas suspeitas e comentários tendenciosos, escrito não com os sinais convencionais do som, mas com exemplos transitórios de comportamentos modelados. Fiquei dizendo deste prazer durante todo o percurso desta pós-graduação e até o final ‘ briguei’ dizendo que meu interesse maior seria em ouvi-los, pois se não posso mudar nada sozinho, posso entendê-los, dar a oportunidade de falar. Fascinam-me as pérolas ditas e também aquelas não ditas no intervalo do silêncio entre um sorriso e uma expressão que não saiu da boca, que não foi proferida, mas poderia: “o que será que este cara quer perguntando isto para mim? Ou no final da fala com uma professora: “agora me diga qual é mesmo o objetivo deste interrogatório (e soltou uma gostosa gargalhada)? Ou outra: “que bom interagir com você, pois sempre saio acrescida” ou outra, era somente isto? “O papo estava tão bom”. O poder da palavra e da troca, palavra esta que no dizer de Bachelard (1990, p.35) ganha um significado porque “ toda a expressão falada não é outra senão eco de uma sonoridade natural do ser, do seu ser. E sempre o ser, um ser, os seres são uma garantia da Palavra. O ser da Palavra é só uma forma do Ser. A Palavra é sempre um instrumento.” A palavra se tornou um instrumento e provocou em mim dois sentimentos: um de alegria e outro de reconhecimento de que não conheço os professores da minha escola. Não os escuto como deveria. Porque me esqueço do puxão de orelha feito por Freire (2003, p. 45) quando afirma que: “Pormenores assim da cotidianidade do professor, portanto igualmente do aluno, a que quase sempre pouca ou nenhuma atenção se dá, têm na verdade um peso significativo na avaliação da experiência docente. O que importa, na formação docente, não é a repetição mecânica do gesto, este ou aquele, mas a compreensão do valor dos sentimentos, das emoções, do desejo, da insegurança a ser superada pela segurança, do medo que, ao ser "educado", vai gerando a coragem.” Todos os sujeitos que responderam às provocações da entrevista semi- estruturada o fizeram numa tarde de calor intenso (46 graus) em uma escola baixa, porque os engenheiros e arquitetos (estou sendo moderno e generoso de pensar que tais profissionais estiveram presentes no momento de pensar a construção da escola JK) que a planejaram jamais levaram em conta que vivemos em um Estado que faz calor quase todos os meses do ano e que neste, em especial passa por uma seca terrível e também é claro e conseqüentemente não entendem nada de educação ou porque jamais leram Freire (2003, p. 45) quando afirma que “a eloqüência do discurso "pronunciado" na e pela limpeza do chão, na boniteza das salas, na higiene dos sanitários, nas flores que adornam. Há uma pedagogicidade indiscutível na materialidade do espaço”. Quando se pensa em nossas escolas tem que se entender que elas foram todas feitas em toque de caixa dentro do contexto de um Estado de migração intensa que Perdigão e Bassegio (1992, p. 164) comentam que: “Estado de Rondônia começou a receber numerosos contingentes de famílias migrantes. Desta forma, enquanto a população não chegava a 37 mil habitantes em 1950, vinte anos depois, 1970, já estava com 70 mil. Já 1980 atingia quase 500 mil habitantes”. Com o lema “Integrar para não entregar”, o regime militar incentivou a ocupação da Amazônia. Nossa escola foi criada, exatamente nesta década, no boom da migração, em 1985 De acordo com o senso demográfico de 2000, Rondônia tinha exatamente 1.379.787. Tudo foi feito assim meio como de provisório. Calor, fumaça, escola sem ventilação, salas superlotadas e o professor disputando com o barulho de dois ruidosos ventiladores a atenção dos alunos. A despeito deste ambiente nem pouco confortável e favorável fomos recebidos com um alegre e respeitoso sorriso. “Pode ser aqui mesmo Locimar, aqui na sala de aula mesmo?”. Quanto aos alunos, no começo foram mais cautelosos, porém depois que o assunto se tornou familiar a conversa rendeu e se tornou uma discussão coletiva. Um espaço de troca. Um papo legal. Um papo cabeça. 4.2. Ouvindo Coordenadoras do LIE, Professores e Alunos A primeira pessoa a ser entrevistada foi a coordenadora ‘temporária’ do LIE no período matutino porque a outra está de Licença Prêmio. Formada em Letras pelo Prohacap4·. Antes estava atuando na TV Escola. Não fez nenhum curso em Informática Educativa. “Aprendi em casa alguma coisinha, e agora estou aprendendo alguma coisinha aqui”, asseverou. Quando chega de manhã na escola, liga os computadores, arruma a sala e orienta na hora de imprimir os trabalhos dos alunos e anota o que querem pesquisar e o tipo de pesquisa. O que não entende, procura ajuda de algum professor. A entrevista com ela foi feita no próprio LIE enquanto animados grupos de alunos do ensino fundamental pesquisavam comidas típicas dos respectivos países que lhe tocaram por ocasião da 4 Programa de Habilitação e Capacitação em parceria com a Unir, Sintero e Prefeituras, cujo objetivo era qualificar professores leigos, desafio imposto pela LDB 9.394/96. Noite Cultural5. Ao se referir a um grupo dos animados adolescentes (eram seis) em um computador disse: “aquela turminha está ali desde manhã e eles não sabem o que querem, tentei ajudar. Querem comidas típicas do Brasil, querem coisas práticas, não querem ler receitas muito longas, preferem as gravuras e não querem ler as receitas. O professor que responsável pela apresentação deles na Noite Cultural também tentou explicar, mas eles não entenderam. Com essas coisas da Noite Cultural os alunos estão pesquisando muito. Eles têm dificuldades de ler para ver o que eles querem. Se o texto for muito grande, eles desistem logo”. Continuou relatando uma situação em que uma aluna veio pesquisar sobre a Guerra do Vietnã uns três dias consecutivos e como o LIE6 estava muito cheio e ela não entendeu nada, desistiu e disse: “vou ficar sem a nota, não entendi nada”. Olha para mim, sorri e conclui sua fala dizendo: “é gostoso trabalhar aqui, porque o ambiente provoca”. Existiam alguns alunos do primeiro ano do ensino médio no LIE e aproveitamos para conversar com eles.Era um grupo de três alunos e todos afirmaram que o LIE significa pesquisa. Por exemplo: “esse espaço para mim significa pesquisa”. “É bom para os alunos ter esse lugar para pesquisar”. “Os professores pedem muito para a gente pesquisar”. Um aluno relatou que a professora distribui os assuntos e diz: “vocês escolhem se vão apresentar em slides ou cartazes. Quando a professora está junto, orientando a gente, é muito melhor. (o desafio de transformar informação em conhecimento). “Gostamos da professora Pupunha7 porque ela vem ajudar a gente mais vezes aqui no laboratório de informática. “A maior dificuldade que temos é que a internet é muito lenta e ai fica todo mundo amuntuado (sic) em cima de um computador só”. 5 Noite Cultural é um projeto que a escola desenvolve todos os anos colocando em evidência alguma situação peculiar dos países da América Latina e do Caribe. Cada ano é trabalhado com países de um continente e neste ano, estamos trabalhando com Países da América Latina e Caribe. 6 Sigla usada para fazer referência ao Laboratório de Informática Educativa ou Educacional. 7 A pupunha é uma palmeira nativa da região Amazônica e que é consumida na forma de frutos e de palmito, desde épocas pré-colombianas. É uma palmeira de clima tropical, de rápido crescimento e que, quando adulta, pode atingir mais de 20 metros de altura em poucos anos. Por essa razão, é usada também como uma palmeira ornamental. O consumo dos frutos da pupunheira, cozidos em água e sal, é tradicional na região Amazônica. É uma iguaria valiosa, de grande aceitação no mercado. (http://www.riomudas.com.br/pupunha.htm) http://www.riomudas.com.br/pupunha.htm Conversamos com um grupo de alunos do terceiro ano do ensino médio período vespertino que estavam na escola na manhã do dia 24 de setembro de 2010. Um deles, ao se referir à importância do LIE asseverou: “Aqui é um lugar mais calmo para a gente estudar. Tem o ar condicionado, é mais fresco e a gente fica mais a vontade. O que a gente acha difícil é entender o conteúdo. A pesquisa na internet dá mais informações, pois o livro é muito limitado e aqui na internet não existe limite. A gente pesquisa aqui muito pouco porque tem poucos computadores e tá sempre cheio. Tem muita gente na sala que até tem computador em casa, mas não tem internet”. A outra coordenadora do LIE, que atende no período vespertino e noturno e que agora passarei a chamá-la de Cupuaçu8 é formada em Educação Física também no Prohacap e tem especialização em Supervisão, Orientação e Gestão Escolar. Fez também o curso do Proinfo integrado9. Na entrevista, ela relata que a partir de sua experiência, percebe que os professores usam muito o LIE para apresentação de trabalho e fazer o diário eletrônico que foi adotado na escola, não sem a resistência de muitos professores. Quanto aos alunos, relata que os do Ensino Médio têm mais facilidade porque usam mais e os professores os provocam mais. E que preferem trabalhar mais em casa ou na lan house. Já os do ensino fundamental, principalmente dos anos finais do ensino fundamental, freqüentam mais o LIE. Afirmou que uma das dificuldades é a linguagem do Linux, o que também foi relatado na fala dos alunos que usam em casa e nas lan houses o Windows. “A nomenclatura do Linux é mais complicada”, conclui Cupuaçu. Continuando nossa conversa disse que: “Às vezes os professores pedem pesquisas para os alunos, mas não conhecem o material a ser pesquisado. Pedem para pesquisar um site, por exemplo, sem nunca ter acessado o mesmo. Esses dias chegou aqui o 8 O cupuaçu é uma fruta grande, pesada e volumosa, perfumadíssima. As folhas de sua árvore são grandes; suas sementes são muitas e também grandes, envoltas em uma polpa branca, ácida e de aroma bastante forte e agradável. 9 O curso de formação continuada do Proinfo Integrado é organizado em três etapas que juntos formam 180 horas: Curso de Introdução à Educação Digital com 40 horas;Curso Tecnologias na Educação: Aprendendo e Ensinando com as TIC de 100 horas e o Curso de Elaboração de Projetos com 40 horas. http://educacao.centralblogs.com.br/post.php?href=proinfo+integrado+curso+completo&KEYWORD=5811&POST=3162309 http://educacao.centralblogs.com.br/post.php?href=proinfo+integrado+curso+completo&KEYWORD=5811&POST=3162309 aluno X, cujo professor mandou pesquisar um assunto em determinado site e este descobriu quando foi abri-lo que estava todo em Inglês. Conclusão: o professor não conhecia o site, não tinha antes visitado o mesmo.” Quando o assunto diz respeito às dificuldades encontradas nas atividades do LIE, Cupuaçu fala que o desafio maior é com os alunos “do período da noite pois a maioria não sabe mexer no computador. Os professores pedem trabalhos dentro da metodologia científica mas os alunos nem sabem o que é uma folha de rosto. Os professores não explanam o assunto na sala de aula para depois encaminhar a pesquisa. Um professor encaminhou um grupo de alunos para fazer uma pesquisa sobre as idéias de Marx sobre Capitalismo mas a gente vê que eles não tem noções mínimas de conhecimento sobre Marx, o que ele fez, escreveu e tampouco compreensão de conceitos elementares o marxismo. Ai fica complicado, né? Eu também tenho dificuldade de entender Marx, aliás muita dificuldade mesmo”. Pondera que no “período da tarde os professores explanam mais os assuntos da pesquisa antes de mandar os alunos para o LIE. Neste período, 80% dos professores trabalham antes o assunto em sala de aula e 20% somente encaminha para a pesquisa. Seria interessante pelo menos o professor explicar para o aluno o que ele vai pesquisar”, conclui. Cupuaçu continua relatando que o objetivo principal do LIE é: “A inclusão digital de alunos e inclusive de professores, mas não sobra tempo nem para mim nem para o professor parar e se preparar. Vejo muito os professores improvisando em relação ao LIE, chegam na hora e agendam (ver em anexo modelos de ficha que os professores preenchem) sem planejamento”. A conversa vai animada e intensa e nos informa que: “O laboratório funciona nos três turnos com 27 computadores ligados em rede. Vou te contar uma coisa interessante que aconteceu ontem noite e foi a primeira vez que a professora X, veio ao LIE. Observei que ela tem domínio de conteúdo e disciplina com os alunos. Tinha um senhorzinho que nunca tinha pego num no computador e no final ficou feliz da vida porque conseguiu digitar quatro frases. Mas eu vejo que a professora tem conhecimento da disciplina dela. Ontem, (23/09/2010) isto aqui a tarde estava lotado com alunos da noite. O ano que vem vou sair do LIE, isto aqui é pouco valorizado. O povo fica achando que a gente vive só na internet”. No outro dia Cupuaçu veio trabalhar no período matutino e estávamos fazendo o exercício de observar a rotina do LIE. Os alunos iam chegando aos poucos. Duas alunas entram e se dirigem à Cupuaçu dizendo: é que a gente queria fazer uma pesquisa para a Noite Cultural”. Chegam mais duas e dizem: “queremos pesquisar sobre Bahamas”. Entram mais quatro alunos da professora Pupunha e dizem: “nós viemos fazer pesquisa sobre ciências, é para pesquisar sobre um animal que a gente quer conhecer mais, a professora Pupunha pediu”. Diante desta demanda a coordenadora Cupuaçu olhou para mim sorrindo e falou: “deixa eu passar por esses meninos”. E admoesta-os: “Pessoal, vamos usar o fone de ouvido somente quando tivermos trabalhos com vídeo, tá beleza?” Neste momento já haviam 5 duplas de alunos no LIE com dois alunos em cada computador e todos eram dos 6º anos. Cupuaçu falou com voz branda: “meninada, se precisarem de ajuda estamos aqui, me chamem.” Olha para e fala: “Locimar, vai ter tanta dança nesta Noite Cultural que será preciso duas noites para apresentar tudo, e as comidas típicas? Nem me fale”. Foi possível perceber que a maioria dos alunospresentes trabalhava com certa autonomia e discutiam baixinho o que estavam lendo seguida de anotações em seus cadernos. Quanto à entrevista com os professores conseguimos conversar com quatro, sendo que dentre eles, apenas dois não trabalham nos anos finais do ensino fundamental os outros dois trabalham nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio. Foram receptivos, abertos e gostaram muito da troca. Um deles questionou: “porque a gente não fala disto mais vezes, né?”. O primeiro entrevistado foi o professor Açai10, que leciona a disciplina de Física no ensino médio. Tem 32 anos e é graduado em Física pela Universidade Federal de Rondônia. Trabalha na escola há três anos. Disse que compreende o LIE como um espaço onde os alunos se familiarizam com as tecnologias. “Minha matéria precisa 10 O açaí é um fruto consumido há muito tempo pelos indígenas e moradores da região amazônica, devido as suas qualidades nutritivas. É também largamente utilizado para a produção de um refresco (“vinho” de açaí). O açaizeiro, Euterpe oleracea Mart., é palmeira tropical, perene, nativa da Amazônia oriental, predominante ao longo dos igarapés, terrenos de baixada e áreas com umidade permanente. muito das tecnologias para avançar e ser mais atrativa para os alunos. Tenho um blog onde os alunos utilizam muito. Acessam mais na casa deles ou na escola em horário oposto cujo endereço é www.fisicajk.blogspot.com” E relata que o blog tem (ver uma citação aqui) “estreita os relacionamentos entre professor e aluno”. Acentua: “gosto de levar meus alunos no LIE porque prezo muito a parte conceitual da física, sei que eu preciso melhorar muito no uso do LIE, pois sei que informática e aprendizagem caminham juntas”. Informou que sou TCC de conclusão na graduação foi sobre “a construção de animações interativas fundamentadas em modelos que descrevem a natureza, principalmente os fenômenos da física e a aplicação de animações interativas como suporte didático à fundamentação teórica e explanações de conteúdos de cursos de física em sala de aula”. A próxima entrevistada foi a professora Uixi11 de Biologia que trabalha ciências nos anos finais do ensino fundamental e biologia no ensino médio. Muito animada e comunicativa disse: “Eu uso constantemente o LIE, às vezes até demais. Os alunos se sentem mais motivados, pois a internet traz novas informações, informações mais atualizadas, mais completas e atuais. E ali no LIE, uma coisa puxa a outra. Acho que toda a sala de aula deveria ser um espaço mais ou menos como o LIE. Ah se a internet funcionasse mesmo. Agora até que tá boa, mas a demanda é grande demais. Quando os alunos estão no LIE se integram mais. Às vezes eu venho no horário oposto para ajudar os alunos pesquisar e eles tiram dúvidas comigo. O único negativo é quando eles querem vasculhar o que não devem (sexo). Tem vezes que eles sabem mais coisas do que eu e me enrosco um pouco no salvamento de arquivos porque o Linux é difícil demais. Eu aprendi mais sozinha do que em cursos. Eu tentei fazer o proinfo, mas não gostei da metodologia”. Quando a professora fala da metodologia do Proinfo isto acontece muitas vezes. O professor começa animado e desiste. Estão sobrecarregados e não tem ânimo para vir no horário oposto. Alguma coisa teria que ser feita, pois nem todos os professores são resistentes ao uso das tecnologias na escola, a professora Uixi é um exemplo de superação e que sabe aprender com seus alunos. 11 Fruta do mato que é muito perfumada e quando madura se aproveita a polpa e casca, que é fininha, para comer e ainda se faz brinquedos com o caroço que se divide ao meio e faz-se cuia, sutiã, óculos e etc. http://www.fisicajk.blogspot.com/ A última professora entrevistada foi Cubiu12 que é formada em História pelo Prohacap e tem 49 anos e trabalha somente no ensino médio com as disciplinas de História e Filosofia. Ao falar da utilização do LIE em suas aulas disse: “Serve para aprofundar os conhecimentos e despertar nos alunos a necessidade de conhecer mais algo diferente. O aluno sai beneficiado porque entra em contato com a pesquisa. Só que do computador eu só sei relar (sic), tocar. Meus alunos sabem mais do que eu. Eu passo para eles a fonte de pesquisa. Quase não uso o LIE, porque se demora demais para conseguir uma vaga. Acho que os professores deveriam ter mais formação e mais tempo apropriado para isto, pois os cursos que são oferecidos precisariam ser mais sérios e despertar a vontade mesmo de participar”. INCOMPLETO, FALTA CONCLUIR A CITAÇÃO ESTÁ SOLTA. PAULA, GOSTARIA DE SABER SE POSSO FAZER UM COMENTÁRIO SOBRE AS FICHAS QUE ESTAO EM ANEXO... TENHO MUITAS QUE FORAM PREENCHIDAS POR PROFESSORES OU A ANÁLISE DESTE MATERIAL SERIA UMA TRABALHO POSTERIOR? 12 O cubiu (Solanum sessiliflorum) é um fruto bastante nutritivo de sabor e aroma agradáveis. Na Amazônia, o cubiu é usado pelas populações tradicionais como alimento, medicamento e cosmético. O fruto do cubiu pode ser consumido ao natural, ou principalmete como tira gosto de bebidas, ou processado para sucos, doces, geléias e compotas. Pode ainda ser utilizado em caldeirada de peixe ou como tempero de pratos à base de carne e frango. O cubiu pode também ser utilizado no tratamento da anemia, da pelagra e no controle dos níveis elevados de colesterol, ácido úrico e glicose no sangue. Os índios peruanos Waonrani utilizam as folhas, galhos e raízes das plantas jovens, fervidas e maceradas, para tratar de mordidas de aranhas e cicatrizar ferimentos externos. O suco do cubiu pode ser utilizado para dar brilho aos cabelos. http://www.inpa.gov.br/cpca/areas/cubiu.html http://www.inpa.gov.br/cpca/areas/cubiu.html Referencial Bibliográfico BACHELARD, Gaston. Fragmentos de uma poética do fogo. São Paulo: Brasiliense, 1990. DEMO, Pedro. Habilidades do século XXI. B. Téc. SENAC: a R. Educ. Prof., Rio de Janeiro, v. 34, n.2, maio/ago. 2008. Disponível em: http://www.oei.es/pdf2/habilidades- seculo-xxi.pdf. Acesso em: 19 de set. 2010. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 23ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003. GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. GENTE de Opinião. Ângelo Angelim. 2006. 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Anexos http://www.cinted.ufrgs.br/renote/jul2009/artigos/10a_daniela.pdf Anexo I – Plano de ação do Laboratório de Informática Educativa da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubitschek de Oliveira 1 – Justificativa Entre as finalidades do uso de computadores na escola para ao ensino fundamental e médio na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino K. de Oliveira, está a participação dos alunos em prática e compreensão da tecnologia e dos fundamentos científicos e tecnológicos do processo de ensino aprendizagem. 2 – Objetivos Trabalhar a informática educacional, orientando professores e alunos a conhecer informações através do sistema de computadores e transforma-los em conhecimentos, inserindo-os assim a inclusão digital e aprimorando suas fontes de pesquisas, facilitando assim a aprendizagem e o desenvolvimento de projetos e atividades que possibilitem a melhoria do ensino. 2.1 – Objetivos Específicos ► Facilitar o processo de ensino aprendizagem; ► Familiarizar o aluno com as tecnologias digitais, como um instrumento diário, e importante para suas atividades educacionais; ► Proporcionar aos professores mais uma ferramenta de apoio pedagógico; ► Desenvolver, acompanhar e avaliar projetos com os professores e envolvendo multi- meios. 3 – Metodologia Desenvolver a informática Educativa através de projetos independentes, atividades interdisciplinares e individuais. 4 – Avaliação O projeto estará sendo avaliado no decorrer de sua execução ao longo do ano. Anexo II – ficha de agendamento para alunos ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO JUSCELINO KUBITSCHEK DE OLIVEIRA LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA AGENDA DE HORÁRIOS PARA ALUNOS Data Ano/Turma Aluno Tema Professor Horário Anexo III – Ficha de Registro de aula para o Laboratório e Telessala – Seduc Registro Aula Para laboratório e Telessala Modalidade Série Turma Turno Disciplina Recurso Pedagógico Tipo EDUCATIVO OU APLICATIVO Qual? Descrição Conteúdo Data Nome completo Professor Obs. Total de Alunos Aula Obs. As pesquisas feitas na internet deverão ser registradas também nesse formulário. Esse conteúdo será acessado somente por mim, pela REN e SEDUC PVH. Anexo IV – Ficha de agenda para as professoras do período matutino Turma Data Tempo Conteúdo Objetivo Professora
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