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Jí-Paraná Novembro de 2010 Locimar Massalai O LIE da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira como espaço de promoção da aprendizagem Paula Andréa Prata Ferreira Locimar Massalai O LIE da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira como espaço de promoção da aprendizagem Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação do Curso de Especialização Tecnologias em Educação como requisito parcial para obtenção de título de Especialista em Tecnologias em Educação. Orientador Profa. M. Sc. Paula Andréa Prata Ferreira Coordenação Central de Educação a Distância Curso de Especialização Tecnologias em Educação Jí-Paraná Novembro de 2010 Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização do autor, do orientador e da universidade. Perfil do aluno Sou vírgula e nunca um ponto final. Feito de sonhos, movido por projetos. Aprendi gostar do meu nome e, por conseguinte gostar de mim. Três coisas me salvaram do desespero: ter uma família, ser amado e a paixão pela leitura. Catarinense por questões biológicas e Jiparanaense por circunstâncias sócio- culturais. Formado em Pedagogia- Educação Infantil e Anos Iniciais e Orientação Educacional. Pós-graduado em Metodologia do Ensino Superior, Psicopedagogia Clínica e finalizando o Curso de Serviço Social. Atualmente exercendo a função de Orientador Educacional na Escola de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubitschek de Oliveira em Ji-Paraná. Dedicatória Para: Érica Massalai, mãe e anjo cuidador. Márcia Andréia K. Massalai, irmã e amiga. Josane, irmã por adoção e confidente. Jurema, diretora da escola Juscelino Kubistchek de Oliveira por me recolher quando estava “rodado” na Representação de Ensino, sem escola para trabalhar. Cida, Dilça, Inês e Neide, “meninas” da secretaria da escola pela ajuda atenta e valiosa em todos os momentos. Divina e Francis, por me acolher incondicionalmente no LIE. Todas as professoras e professores da escola pelo respeito e validação do meu trabalho. As senhorinhas da cozinha e dos serviços gerais por me paparicar tanto. Cléo do NTE de Ji- Paraná por ser tão delicada e elegante comigo fazendo-me ver e crer o quanto sou capaz. Às crianças e adolescentes do 1º ao 6º ano pelo milagre da alegria irreverente, do sonho e da festa. Ao Ney Leal, amigo e companheiro de vida comum. Agradecimentos Às colegas do Curso por serem exemplo de superação e apoio. Às queridas Ana Paula Abreu Fialho, Mediadora e Paula Prata, Orientadora, pela paciência pedagógica firme e afetiva, promotoras de amadurecimento. Resumo O trabalho que segue é antes de tudo um exercício de leitura e compreensão mais atenta de como funciona o Laboratório de Informática educativa da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira, no município de Ji-Paraná em Rondônia, nos três períodos em que a escola atende sua clientela, a saber: matutino, vespertino e noturno, cada período acompanhado por uma coordenadora específica para tal. Como relato de experiência, este exercício de pesquisa tem como objetivo precípuo perceber, entender e posteriormente identificar como professores e alunos ocupam e utilizam o espaço do LIE para promoção da aprendizagem. Foram ouvidos professores, alunos e coordenadoras do LIE e ainda feitas algumas observações no próprio LIE, observações estas com características da observação participante. Percebeu-se que o LIE é um espaço muito mais utilizado pelos alunos do que pelos professores ou por estes com seus alunos. Notou-se que todos o percebem de fato como um espaço de aprendizagem em que o elemento „pesquisa‟ tem preponderância sobre outros. Além disso, quando os professores acompanham o aluno, este aproveita melhor o espaço do LIE. Ficou bastante claro também que muitos professores utilizam as tecnologias em suas aulas e com experiências significativas, mas que não são compartilhadas com seus pares em momento algum, pois cada um trabalha de forma isolada. Cada um na sua solidão. Palavras-chave 1. Informática Educativa. 2. Aprendizagem. 3. Currículo. 4. Formação de Professores. 5. Gestão Democrática. SUMÁRIO Lista de Imagens ...................................................................................................... 8 Lista de Gráficos ...................................................................................................... 9 Lista de Tabelas ...................................................... Erro! Indicador não definido. 1 - Introdução......................................................................................................... 10 2 – As novas tecnologias e a escola da educação básica ....................................... 15 2.1 - A escola na cultura digital ....................................................................... 166 2.2 - O letramento digital ou a alfabetização tecnológica .................................. 19 2.3 - A Escola de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira – história e contexto ........................................................................... 211 2.4 - O cenário e a metodologia da pesquisa ..................................................... 28 2.5- A fala dos sujeitos: coordenadoras, professores e alunos ........................... 30 2.6- As fichas de agendamento para alunos e professores no LIE como instrumento de racionalização.......................................................................... 422 2.7- A Noite Cultural: Diversidade Cultural na América Latina e Caribe....... 455 Conclusão ............................................................................................................ 488 Referencias Bibliográficas ................................................................................... 522 Anexos ................................................................................................................. 544 Anexo I – Plano de ação do Laboratório de Informática Educativa da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubitschek de Oliveira . 544 Anexo II – ficha de agendamento para alunos ................................................... 56 Anexo III – Ficha de Registro de aula para o Laboratório e Telessala – Seduc 57 Anexo IV – Ficha de agenda para as professoras do período vespertino .......... 58 Lista de Imagens Imagem 01: espaço de lazer chamado Beira Rio Cultural que fica localizado as margens do Rio Machado que corta a cidade........................................................23 Imagem 02: campinho de futebol improvisado localizado na Rua Maringá próximo ao Estádio de Futebol chamado Biancão.................................................24 Imagem 03: Logomarca do Programa Gescolar....................................................26 Imagem 04: Crianças do 5º “A” fazendo pesquisa no LIE sobre Juscelino Kubistchek de Oliveira, para projeto, cujo objetivo era resgatar a história da escola.....................................................................................................................41 Imagem 05: Visão panorâmica do LIE da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira em dia reservado para o uso exclusivo de professores........................................................................................................41 Imagem 06: Cartaz afixado na porta do LIE lembrando aos alunos os horários em que o mesmo está reservado somente para professores ........................................42 Imagem 07: Cartaz confeccionado por uma turma de alunos do Ensino Médio Regular do período noturno, representandotrazendo informações sobre a culinária cubana....................................................................................................................46 Imagem 08: Mesa enfeitada com comidas frutas e comidas típicas.....................46 Imagem 09: Grupo de alunos do Ensino Médio caracterizados para executar uma dança típica.............................................................................................................47 Imagem 10: Desfile das Bandeiras de todos os Países da América Latina e Caribe.....................................................................................................................47 Lista de Gráficos Gráfico 01: Local de nascimento dos alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira – ano de 2010...............27 Gráfico 02: Curso do Proinfo Integrado “Introdução à educação digital”............37 Lista de Tabelas Tabela 01: Número de alunos e local de nascimento.............................................27 10 1 - Introdução “Aprender a pesquisar, fazendo pesquisa é próprio de uma educação interdisciplinar, que, segundo nossos dados, deveria se iniciar desde a pré- escola”. (FAZENDA, 1995, p.88) A primeira pergunta que poderíamos nos fazer, simples por sinal, tem um caráter teleológico: “para que serve o laboratório de informática educativa em uma escola?”. Qual sua finalidade dentro de um contexto em que a escola não pode ser uma ilha, à medida que o seu entorno - e leia-se aqui, todos os outros espaços – possuem dimensões pedagógicas e de aprendizagens que transcendem o currículo escolar e que muitas vezes o superam. Já foi o tempo em que a escola era concebida como a única promotora de saber. Hoje ela é apenas uma juntamente com tantas outras. Porém, não queremos dizer que perdeu sua importância para a formação das pessoas. Olhando com mais atenção a realidade das escolas estaduais e municipais de Jí-Paraná, constata-se que em sua grande maioria que existem laboratórios de informática educativa. Este é um fato. Agora, se questionamos como este espaço está sendo “habitado”, aí a história muda de figura. É verdade também que de uma forma ou de outra, os alunos acessam a internet e tem contato com o computador via lan houses da cidade. Isto foi comprovado por mim mesmo quando acompanhava uma atividade de pesquisa com a professora Abiu 1 em uma turma do 4ª ano do Ensino Fundamental. Ao começar as atividades com Geografia, motivou os alunos que antes pesquisassem em casa o significado da palavra “Geografia”, e aí, foi dando exemplos de fontes de pesquisa. Ficamos surpresos que, a grande maioria citou a internet como fontes de pesquisa e dos 35 alunos da sala, 21 tinham acesso à internet, e muitos destes, nas lan houses de seus bairros. 1Usaremos nomes de frutas como codinomes, de forma a preservar a identidade dos professores. Assim, o abiu é uma fruta silvestre da região amazônica e do Peru, levemente adocicada. 11 Diante do aumento de tantas possibilidades causadas pelas transformações tecnológicas e seu adorável mundo novo, a era da internet ou da informatização, (não sei bem qual definição ficaria melhor aqui), trouxe mudanças inexoráveis não apenas em termos de praticidade, mas na visão de mundo e na forma de como concebemos as coisas. Nossa visão de mundo foi e está mudando pela rapidez das transformações causadas pela interne. São novas necessidades causadas por tantas mudanças. Weiss (2001) defende a idéia de que a informática tornou-se uma necessidade no mundo em que vivemos. Assim, é a escola que tem a missão de preparar o indivíduo para dar respostas aos desafios desta sociedade e não pode simplesmente ignorá-la ou deixar de tomá-la como aliada no processo de ensino- aprendizagem, até porque as crianças já nascem mergulhadas em um ambiente altamente tecnologizado. E, que neste sentido, a informática educativa pode auxiliar na promoção de um currículo acadêmico integrado, mas que é preciso definir quais são os objetivos da Informática Educativa na escola. A realidade pede um professor atento às mudanças e não apenas um neólatra. Um professor que veja seu aluno como parceiro no imenso desafio de transformar informação em conhecimento, e que, neste sentido, jamais será superado, pois como afirma Demo (2008, p. 14) desafiando-nos a caminhar, a nos colocarmos em marcha, apesar do atraso histórico: “No entanto, como as novas tecnologias vieram para ficar e só fazem inovar-se com pressa cada vez maior, elas acabam impondo-se à revelia da escola. É uma pena que a inovação tenha de vir de fora, compulsoriamente. Vamos pagar caro por esse atraso. No entanto, se quisermos mudanças de dentro, no sentido de saber lidar com as novas tecnologias em nome do direito de estudar da população, a figura-chave é o professor. Ele é o elo mais estratégico dessa corrente.” Percebemos muitos professores na escola, com boas práticas quando usam as tecnologias, mas solitários no seu fazer. Vejo isto em minha escola. Temos poucos espaços para trocas e partilhas. Perde-se uma riqueza muito grande porque 12 os professores não têm este espaço de trocas. Dentro deste contexto, Ramos (2009, p.4) diz claramente que: “A inserção do computador na escola para prover aprendizagem sugere mudanças pedagógicas que englobam a organização da escola, a dinâmica da sala de aula, o papel do professor e dos alunos e a relação com o conhecimento. É necessária uma reestruturação do ensino, não só na sua estrutura física e metodologia, bem como nas inter-relações, o que demanda uma nova postura profissional dos professores e um repensar dos processos educacionais, principalmente aqueles relacionados com a formação de profissionais e com os processos de aprendizagem.” É claro que o desafio de se avançar é uma tarefa hercúlea com o modelo de escola e de gestão que temos. Porém, é possível fazê-lo começando com a formação dos professores e de como esta deverá será feita. Tomando como base a realidade da escola onde atuamos, percebemos uma presença constante dos alunos no Laboratório, no horário oposto das aulas, principalmente alunos dos anos finais do ensino fundamental e ensino médio. Os alunos freqüentam o LIE para fazer pesquisas solicitadas por seus professores, montar slides no Power Point para apresentação de trabalhos escolares, procurar vídeos no You Tube para alguma apresentação cultural e também para digitação de atividades. Não usam MSN ou Orkut porque estão bloqueados. Tais alunos muitas vezes estão à frente dos professores e sabem mais do que eles. Neste descompasso, se assim poderíamos dizer, é preciso não somente dar aos professores uma formação técnica do tipo como usar o computador, etc. Acreditamos que seja preciso aos poucos mudar toda uma cultura do uso de tais recursos. Não apenas usar as novas tecnologias com mentalidade tradicional. Mudar a mentalidade e a forma de ver tais instrumentos. É triste constatar, por exemplo, que a escola onde atuamos está entre as três piores no índice do IDEB 2 dentre as escolas estaduais de nosso município. 2 O IDEB é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Foi criado em 2007 com o objetivo de medir a qualidade do ensino das escolas da rede pública. 13 Com o pouco tempo que tivemos do tempus fugit,voltamos nossa atenção sobre como os professores utilizam o laboratório de informática educativa da escola, como eles vêem este espaço e quais as dificuldades que sentem em utilizá- lo, pois pelo que constamos, eles precisavam ser ouvidos e gostaram de conversar conosco. Trabalhamos com falas das duas coordenadoras do LIE, alguns professores e alunos dos anos finais do ensino fundamental e do terceiro ano do ensino médio. Isto nos possibilitou registrar como se fosse uma fotografia, talvez não muito nítida ainda, do Laboratório de Informática Educativa da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira. Fotografia esta que foi sendo tirada enquanto cada pessoa ia relatando suas experiências. Foi um exercício de escuta atento e prazeroso que veio a confirmar mais uma vez a necessidade de tornar a nossa prática de gestores, não apenas interventiva, mas acima de tudo investigativa. A atitude investigativa é o motor básico do exercício profissional, pois possibilita o desocultamento do real a partir do momento que enquanto orientador educacional, por exemplo, investigo aquilo que eu conheço e que me incomoda, porque existe um imperativo ético-moral que me impulsiona: ajudar o educando a se ver, ver o outro e o mundo que o rodeia. E como diz Minayo (1999, p.17), “nada pode ser intelectualmente um problema, se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática”. Sentimos que um dos grandes problemas da escola hoje é ouvir seus atores, interpretar suas necessidades e respeitar seus protagonismos. O que segue é na verdade desejo sincero de registrar um pedaço da história da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira a partir do depoimento de alguns de seus atores quando falam partindo de suas visões sobre o que significa para eles o Laboratório de Informática Educativa no contexto da escola e de suas práticas educativas. Ao apresentarmos a visão das coordenadoras do LIE, alunos e professores, levantamos questões que 14 podem abrir caminhos para outras pesquisas. Como todo relato de experiências, este trabalho poderá ter outros desdobramentos. 15 2 – As novas tecnologias e a escola da educação básica “Nem a salvação nem a perdição reside na técnica. Sempre ambivalentes, as técnicas projetam no mundo material nossas emoções, intenções e projetos. Os instrumentos que construímos nos dão poderes, mas, coletivamente responsáveis, a escolha está em nossas mãos.” (LÉVY, 1999, p. 16-17) É sempre tentador achar que as novas tecnologias resolverão todos os problemas da educação, ou parte deles. Que basta, por exemplo, dotar a escola de um excelente laboratório de informática ou outro aparato qualquer que venha trazer a sensação de que agora sim, as dificuldades daquela escola serão resolvidas e seus alunos aprenderão mais e se tornarão cidadãos mais críticos. Acreditamos que a inserção das novas tecnologias ajuda sim, porque são atrativas para os alunos; porém, é preciso que sejam repensadas as formas de como estas são utilizadas na escola. “É papel da escola democratizar o acesso ao computador, promovendo a inclusão sócio-digital de nossos alunos. É preciso também que os dirigentes discutam e compreendam as possibilidades pedagógicas deste valioso recurso. Contudo, é preciso estar conscientes de que não é somente a introdução da tecnologia em sala de aula, que trará mudanças na aprendizagem dos alunos, o computador não é uma “panacéia” para todos os problemas educacionais.” (Rocha, 2008, p.01) Encontramos na escola onde trabalhamos alunos que não manipulam a internet ou não tem acesso ao computador, mas vivem em uma sociedade que de certa forma está tão enredada com o linguajar tecnológico, que não é mais possível fazer de conta ou prescindir dele. Assim, faz parte do cotidiano de nossos alunos o acesso ao mundo das tecnologias mesmo que através de mínimos sociais, isto é, via escola, um cursinho oferecido por tal deputado ou programas oferecidos pela prefeitura. Percebemos quando conversamos com os alunos dos 6º ano até o ensino médio, um forte sentimento de exclusão que faz com que percam a dimensão do sonho, de uma perspectiva melhor de vida. O cotidiano desses alunos é marcado por forte sentimento de exclusão, ao mesmo tempo em que necessitam quase que desesperadamente de referenciais para pautar suas vidas, e às vezes, encontram estas referências nos professores e na própria escola. 16 Dentro desta situação, Pais (2008) questiona que se a sociedade atual vivencia mudanças significativas na forma de organizar a vida cotidiana, a escola não pode ficar marginalizada deste processo evolutivo. E que se o contexto social onde a escola está inserida está tomado por inovações tecnológicas, sem o domínio das mesmas, é quase que impossível de se conquistar a cidadania. Como fazer com a escola seja um espaço de construção desta cidadania e que os alunos sejam estimulados a construí-la juntamente com todos os envolvidos no processo educativo? Quem convive diariamente com alunos em uma escola pública de periferia em um bairro periférico sabe de que tecido é feito este cotidiano. Cotidiano que poderíamos caracterizar como aquele: [...] de todos os dias e de todos os homens, [...] percebida e apresentada diversamente nas suas múltiplas cores e faces: a vida dos gestos, relações e atividades rotineiras de todos os dias; um espaço do banal, da rotina e da mediocridade; um espaço privado de cada um, rico em ambivalências, tragicidades, sonhos e ilusões; o micro mundo social que contém ameaças e, portanto, carente de controle e programação política e econômica; um espaço de resistência e possibilidade transformadora. (CARVALHO & NETTO, 2005, p. 14) Então, o que a informática, a internet, as tecnologias podem trazer de possibilidade para superar esta exclusão e dar ao currículo, à escola uma expressão mais viva e mais dinâmica? Haja vista que em meio à algazarra dos alunos ou entre uma agressão, manifesta-se a necessidade de mudanças. O que um Laboratório de Informática poderia agregar de novo na função e no significado da escola ontologicamente? Pois ela continua, às vezes, sendo uma das poucas referências de cidadania e promoção de vida. 2.1 - A escola na cultura digital O uso da internet na escola está inexoravelmente mudando as relações entre professores e alunos e a forma como estes dois atores aprendem e ensinam. Mudam-se as relações e as concepções do que seja ensinar e aprender, como também a concepção do que é a função da escola. São mudanças colossais que 17 nem sempre são bem ou pacificamente assimiladas pela escola. Antes de tudo, tem de ser vistas como mudanças culturais, discutidas na escola. Com muita propriedade Fagundes (2006) afirma que: “Trata-se de uma mudança de cultura, mudanças de concepções, de um novo paradigma. Esta situação provoca instabilidade e muitas incertezas. Toda a formação dos professores tem sido feita em cima de certezas, de princípios estabelecidos para a preservação, para a conservação, na concepção de que um bom professor deve conhecer mais profundamente o que vai ensinar. É corrente afirmar-se que os professores estão mal preparados porque não „dominam‟ os conteúdos que ensinam. Além disso ele também deve ter um bom „domínio‟ de sua classe de alunos, para manter a disciplina, referindo-se ao „bom comportamento‟ dos alunos. E nesta formação eles dominam também os materiais pedagógicos, manejam bem as tecnologias de ensino.” O grande “tapa na cara” - com luva de pelica é claro, - que Léa Fagundes nos dá e que nos tem provocado muita reflexão, é quando ela trabalha a idéia de que não se trata de integrar as tecnologias no currículo, e sim, integrar a escola a cultura digital.Percebemos que a escola permanece com sua cultura, com sua tradição e quando se apropria da tecnologia quer colocá-la a serviço da preservação de um passado arcaico e autoritário, como também com suas respectivas metodologias e visões de mundo que não respondem mais a vida atual. Ora, se pensarmos com um pouco de coragem, vamos assumir que a escola não está respondendo àquilo que lhe cabe neste novo século de novas luzes, novas formas de conhecimentos dinâmicos e altamente criativos. É como se estivéssemos vestindo ou tentando vestir uma roupa que não nos cabe mais. Se formos olhar atentamente vamos considerar que Pais (2008, p. 14) têm razão quando afirma que: “Tendo em vista que a prática docente está essencialmente associada à natureza das ações realizadas pelos alunos, a ampliação das atividades didáticas através do computador, a ampliação deve levar em consideração esses dois níveis de envolvimento. Ações de professores e alunos são redimensionadas pelo uso desse novo suporte didático, ditando uma postura de envolvimento que certamente não se identifica com as condições tradicionais. Em outros termos, a construção das competências objetivadas para a formação do aluno depende também da disponibilidade do professor de se engajar na redefinição de sua própria prática, incorporando a ela a componente tecnológica de sua própria formação. Para isso, 18 é preciso que a iniciativa individual de cada um seja exercida em sintonia com a capacidade de participar ativamente em propostas de trabalho coletivo.” É verdade: a cultura digital é uma nova cultura e que exige tempo para ser assimilada. Exige tempo sim, mas necessita coragem, empenho para ser implantada e assumida na escola e, além disso, que não basta conseguir equipamentos, para que esta inclusão se efetive. É o que Fagundes (2006) defende como um grande desafio, a saber: o de incorporar as tecnologias como ferramentas de ensino, ou seja, integrá-las às práticas docentes. Dentro desta nova cultura digital, sem querer entrar em neologismos maçantes ou modismos pedagógicos que fazem perder a força das teorias que os engendraram, o professor assume o papel de aprendiz permanente. Não existe mais alguém formado, pronto e acabado. E isto nem sempre é fácil de assimilar dentro de uma cultura que ainda continua imperando nas escolas, ou seja, aquela em que o professor tem imensa dificuldade para sentar e estudar. Como superar esta resistência que domina o processo da formação continuada? Uma das propostas seria a de ajudar os educadores a tematizar suas práticas. Temos feito pequenas experiências em nossa escola e tem dado certo, ajudando assim os professores a vencer com paciência esta resistência em estudar e aprender a lidar com o computador, por exemplo. Tivemos por um tempo no primeiro semestre de 2010, uma sessão de estudos promovida nas segundas-feiras no horário oposto, onde buscamos ajudar os professores do 1º ao 5º ano a melhorar suas práticas pedagógicas à medida que refletiam. A partir destas sessões, surgiram atividades interessantes como o uso do blog com seus alunos por determinadas professoras. O que nos faltou foi mais interação com o laboratório de Informática e TV Escola, para assim expandirmos ainda mais o uso das mídias no cotidiano escolar. Estas sessões ficaram paradas por um tempo em função da troca e da saída da supervisora para outra escola e agora estão sendo timidamente retomadas. O grande desafio futuro é fazer estes momentos com professores do 6º ao 9º ano e o pessoal do ensino médio. 19 Percebemos que eles possuem mais resistência. Porém, pedem ajuda e se ressentem quando observam o pessoal dos anos iniciais do ensino fundamental sentando e trocando entre si. Outro dia um aluno do 3º ano do ensino médio veio até a coordenação pedagógica e desabafou: “estou terminando o ensino médio sem noções básicas de química”. É uma pancada no estômago ouvir um grito como este. E quando estas situações acontecem - e que não são poucas e nem isoladas - somos acometidos, às vezes, por um sentimento de impotência. Outras vezes, de revolta e tantas outras de frustração. A reação mais natural, diríamos assim, é de buscar um culpado. É culpa de quem quando o aluno não aprende ou quando visivelmente ele está saindo da escola sem as competências necessárias para dar prosseguimento aos estudos, por exemplo? Defendemos aqui a idéia de que a escola precisaria se avaliar mais vezes enquanto instituição. Acompanhar melhor seus professores e suas práticas. Orientá-los. Ouvi-los. Para ajudar vale citar uma provocação de Fagundes (2006) quando afirma que: “Em nossa concepção, o auxílio de que o professor precisa, e merece receber, deve se constituir num apoio em serviço e em experiências de capacitação, em que ele possa experimentar por si mesmo as novas práticas de uso das tecnologias na educação, interagindo com seus pares na realidade de sua escola. Essa formação precisa ser compartilhada, mantendo-se a comunicação na rede para sustentar os questionamentos e as reflexões pertinentes. Para tornar-se um orientador da construção de conhecimento de seus alunos, ele precisa também tornar-se um construtor de inovações.” Assim o que está em jogo nesta mudança de visões e postura dos professores, muito mais do que reprovar ou não os alunos, é o desafio de saber como incorporar as tecnologias às atividades de sala de aula, com avaliações capazes de medir as habilidades e competências que as novas gerações precisam desenvolver para viver em tempos tão desafiadores. 2.2 - O letramento digital ou a alfabetização tecnológica A escola do jeito que está ai já não responde mais. Percebo isto em relação à situação dos alunos que estão saindo do ensino médio na minha própria escola. O descontentamento é imenso. Em coro eles dizem que não estão 20 preparados para nada. Ler, escrever e interpretar, esta última muito mais, são habilidades indispensáveis para que uma pessoa seja mais cidadã, ainda mais quando levamos em conta a realidade de um país como o nosso onde cidadania, democracia e luta por direitos e políticas públicas ainda são realidades incipientes. No inicio do ano, quizemos perguntar para os pais o que eles estavam achando da qualidade do ensino que a escola estava oferecendo. Tivemos duas surpresas: a primeira delas é que os pais não queriam responder porque estavam muito ocupados ou atrasados para o trabalho. Claro depois avaliamos nossa forma de abordagem pois ela mesmo teve seus contratempos. A segunda surpresa foi constatar que 98% estava contente e achava o ensino de ótima qualidade. No fundo eles não tem noção do que seja uma educação de qualidade, pois para a maioria, a função da escola é ensinar ler e escrever. No entando, podemos constatar o porquê toda esta noção trazida pelos pais está equivocada, como mostra as palavras de Demo (2008, p. 11): [...] “Se fôssemos corretos com as crianças, elas teriam que ser alfabetizadas com computador, pela razão simples de que essa máquina (ou algo similar) vai ser parceira delas pela vida afora, inevitavelmente. Alfabetizar sem computador significa, falando cruamente, atrasar a vida da criança. Temos inúmeras razões/desculpas para não fazermos isso, a começar pelos custos e problemas de acesso, em especial por parte das populações mais marginalizadas. Por isso mesmo, não cabe fantasiar propostas que não têm a mínima condição de realização concreta. Ademais, ler, escrever e contar é muito pouco, quase nada, ainda que demoremos até três anos para inventar esta mixaria. Não se trata, como se alegou, apenas de fluência tecnológica, mas de cidadania fluente que sabe aproveitar-se de novas plataformas tecnológicas para colocar o bem comum acima das apropriações privadas.” Diante do exposto, questiono o modelo de escola que temos e não a sua importância.Não é somente mudar o currículo, temos que repensar a escola no seu sentido mais amplo. Hernández (1998, p. 19) prefaciando o seu livro Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho, corrobora justamente este nosso posicionamento quando afirma que o interessante na experiência sua com projetos de trabalho foi: 21 “Comprovar que era possível organizar um currículo escolar não por disciplinas acadêmicas, mas por temas e problemas nos quais os estudantes se sentissem envolvidos, aprendessem a pesquisar (no sentido de propor-se uma pergunta problemática, procurar fontes de informação que oferecessem possíveis respostas) para depois aprender a selecioná-las, ordená-las, interpretá-las e tornar público o processo seguido”. A escola não é a única que educa, por isto precisa aprender a articular. Fico pasmo quando percebo que ainda temos professores “ensinando geografia, história e etc.” somente com questionário. Outro dia, por exemplo, um aluno questionou um professor na escola que pediu que a turma fizesesse 20 questões do conteúdo de determinada disciplina. Ele respondeu para o professor: “Do que me adianta tudo isto? Vou aprender o que com isto?”. E aí já sabemos onde o aluno foi parar. Não se trata de adaptar as novas tecnologias ao cotidiano das escolas, mas acompanhar a autonomamente as mudanças colossais que vão acontecendo no mundo, onde já ouvimos falar da web 3.0, ou seja, a web semântica. O letramento digital é um desafio imperioso acima de tudo para professores e gestores. 2.3 - A Escola de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira – história e contexto O Governador do Estado de Rondônia, Ângelo Angelim 3 , conforme consta do Decreto 2728 de 17 de setembro de 1985, no uso das atribuições que lhe eram conferidas o art. 70, inciso III da Constituição Estadual, e, além disso, o que consta do processo N.º 001147, legitimou a criação da Escola de 1º e 2º Graus Juscelino Kubitschek de Oliveira, localizado na Rua Governador Jorge Teixeira, 827 no Bairro de Nova Brasília. No art. 2º do mesmo decreto estabeleceu a Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Ji-Paraná a responsabilidade de 3 Foi nomeado como governador pelo então presidente da República José Sarney e encerra assim em Rondônia, o ciclo dos governadores nomeados. Governou Rondônia de maio de 1985 a 14 de março de 1987. Sua administração procurou priorizar o setor produtivo, a educação e a saúde. Concorreu para senador em 1990, mas não foi eleito. 22 adotar as providências necessárias ao funcionamento da referida Escola. De acordo com o Parecer 169/CEE/RO/98 a escola passou a se chamar Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubitschek de Oliveira, localizada a Rua Governador Jorge Teixeira nº. 827 – Bairro de Nova Brasília em Ji-Paraná – Rondônia - CEP 76.908-468. Atualmente a escola atende alunos do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental e Médio, EJA fundamental e médio, funcionando nos três períodos: matutino, vespertino e noturno. Além de possuir professores habilitados nas mais diversas áreas, conta com os seguintes especialistas no seu quadro gestor: duas supervisoras e dois orientadores educacionais. Quanto à direção da escola, por mais que assuma um discurso democrático, e de gestão democrática, foi nomeada via indicação política, contrariando o que estabelece a LDB 9.394 de 20 de Dezembro de 1996 quando afirma no artigo 14: Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. A escolha dos diretores por indicação política causa na escola um retrocesso quanto à prática da gestão democrática, já que a nomeação coloca de lado a escolha direta de seus representantes. Percebem-se diretores amarrados e engessados por falta de respaldo junto a seus representados, perdendo assim a credibilidade da comunidade educativa. A comunidade da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubitschek de Oliveira possui uma clientela cujo padrão socioeconômico é constituído por famílias em sua grande maioria de baixa renda e 23 que recebem Bolsa Família 4 . É elevado o número de alunos que vivem somente com as avós, cujos pais foram trabalhar ou nos Estados Unidos, Espanha e Portugal ou mesmo em fazendas de gado nas regiões próximas. Os bairros do entorno onde a escola está inserida são muito violentos, onde a ausência do Estado é quase que absoluta quando se pensa em políticas públicas voltada para a saúde, deporto e lazer. A cidade de Ji-Paraná tinha, segundo o censo de 2000, 111.010 habitantes. E quando se pensa em áreas de lazer, vamos verificar que são poucas para o número de habitantes que a cidade possui. Constatamos três espaços públicos e que estão localizados no centro da cidade. Um deles aparece abaixo na imagem 01. A maioria dos espaços de lazer são campinhos de futebol que a própria população organiza, conforme consta na imagem 02. Imagem 01: espaço de lazer chamado Beira Rio Cultural que fica localizado as margens do Rio Machado que corta a cidade. 4 O Programa Bolsa Família foi criado para ajudar as famílias de baixa renda e garantir a elas o direito à alimentação, acesso à educação e à saúde. Tem como objetivo maior a inclusão social por meio de transferência de renda e garantia de acesso a serviços essenciais. 24 Imagem 02: campinho de futebol improvisado localizado na Rua Maringá próximo ao Estádio de Futebol chamado Biancão. São poucos os espaços públicos de lazer, o que de certa forma justifica o alto índice de criminalidade juvenil. Em entrevista realizada com a assistente social do CREAS 5 , e que trabalha com o programa Liberdade Assistida 6 verificamos que são atendidos por mês de 45 a 50 casos de adolescentes e jovens em conflito com a lei. A relação entre ausência de espaços públicos de lazer e aumento de violência e criminalidade juvenil é reforçada por Silva e Versiani (2009, p.6-21) quando afirmam que: “O lazer transcende as esferas do descanso e do divertimento para se firmar, por meio de sua vivência, também como um instrumento de resistência à realidade desigual em que vivem os homens e como um veículo propulsor de desenvolvimento humano, principalmente quando sua prática se orienta a partir de valores educacionais. E que quando o jovem não tem muitas opções para se ter uma vida saudável, quando o mesmo não quer (ou não pode) estudar, não trabalha (ou trabalha informalmente fazendo os chamados „bicos‟), alimenta-se mal, dorme mal, é discriminado socialmente, não pratica esportes porque não tem 5 Centro de Referência Especializadoda Assistência Social é um dispositivo do Sistema Único da Assistência Social que trabalha com famílias em situação de risco pessoal e social. 6 Liberdade Assistida é um programa que prevê medidas sócio-educativas a jovens com idade entre 12 e 21 anos, que tenham cometido atos infracionais. 25 como entrar na escola (porque não estuda nela) e em seu bairro (ou na região) não possui espaços públicos para a prática de atividades físicas, culturais, de lazer, a única alternativa para não ficar totalmente „à toa‟ é assistir televisão, quando não acessar a internet, ou passar um bom tempo com as „turmas‟ juvenis, como as gangues, por exemplo.” A escola, dentro deste microcosmo, se torna uma ilha de paz e um dos poucos lugares humanos. Existem centenas de igrejas evangélicas, cada uma com suas peculiaridades e com ênfase na teologia da prosperidade. O bairro onde está inserida a escola não tem rede de esgotos e as ruas são de terra batida. Em muitas casas faltam até mesmo água tratada e serviço de coleta de lixo. Em meio a este contexto a escola atende atualmente mil e quatrocentos e sessenta e sete alunos, que vivem nos bairros próximos à escola: Nova Brasília, São Francisco, Val Paraíso e Juscelino Kubitschek. Conforme podemos constatar na tabela e gráfico abaixo (Tabela 01 e Gráfico 01 respectivamente), a partir de dados obtidos na secretaria da escola e que foram extraídos do Programa Gescolar 7 . Sobre o Gescolar, a diretora da escola informou que “ajudou muito na secretaria porque é mais completo do que o outro (Programa Aluno). Se a gente conseguir explorar tudo o que ele oferece, é fabuloso. A gente paga todos os meses R$ 100,00 para a manutenção dele e é uma beleza. Foi uma mão na roda para o pessoal da secretaria. Lá estão todos os dados dos alunos.” Conclui a diretora. 7 É um programa de gestão desenvolvido para instituições de ensino com o objetivo de gerenciar os registros da secretaria da escola sobre os alunos, professores, matrícula, controle de notas, emissão de boletins e espelhos, etc. 26 Imagem 03: Logomarca do Programa Gescolar Com a leitura dos dados obtidos podemos perceber que a maior parte dos alunos é nascida em Ji-Paraná, seguido de outras cidades do Estado de Rondônia, depois por outros Estados da Federação e até de outros Países. O Estado de Rondônia reconheceu um decréscimo da população migrante em relação a total. Em 1991, 62% da população era migrante. Segundo o último censo demográfico (2000), cerca de 52% são migrantes. Há grande redução da imigração para Rondônia que, revertendo sua condição de receptor, hoje pode ser considerado um estado de emigração, principalmente em favor de Roraima. Isto, no entanto, não significa que áreas específicas se revigorem através do estímulo de novos vetores. Caso exemplar e a cidade de Buritis (RO), a 300 quilômetros de Porto Velho. [...] Os resultados do último censo demográfico apontam para a confirmação do arrefecimento dos fluxos migratórios inter-regionais, ao mesmo tempo, que ocorre a acentuação da mobilidade espacial da população intra- regional. Também seguindo a tendência nacional, mas, em ritmo menor, a Amazônica vem vivenciando um processo de urbanização acelerado ocasionado, principalmente, por movimentos migratórios do tipo rural-urbano. Nas últimas décadas, de 1970 a 2000 é forte a tendência da concentração populacional urbana e da urbanização do território com o surgimento de novos núcleos urbanos e municípios. (MARCONDES, 2009, p. 1) Através da tabela abaixo se pode ter uma visão geral do número de alunos matriculados na escola em 2010 e onde nasceram. É oportuno lembrar que nem sempre este conhecimento a cerca da vida dos alunos são conhecidos pelos gestores e professores. Não são conhecidos e tampouco trabalhados e levados em consideração na prática pedagógica. 27 Nascidos em Ji- Paraná Nascidos em outras cidades de Rondônia Nascidos em outros Estados Nascidos em outro País TOTAL Ensino Fundamental – 1º ao 5ª ano 441 91 48 01 581 Ensino Fundamental 6º ao 9º ano 361 87 33 02 483 Ensino Médio Vespertino 63 13 05 0 81 Ensino Fundamental Noturno - 6º ao 8º ano 97 23 23 0 143 Ensino Médio Noturno 109 45 25 0 179 1.071 259 134 3 1.467 Tabela 01: Número de alunos e local de nascimento – matrícula 2010. Gráfico 01: Local de nascimento dos alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira – ano de 2010. Um dos primeiros grandes desafios da escola é de fato ajudar o grande número de alunos que chegam ao 6º ano do ensino fundamental com grandes dificuldades na leitura e na escrita, bem como na alfabetização matemática. Um segundo desafio é acompanhar e ajudar os professores a tornar sua prática 28 pedagógica mais dinâmica e que responda ao que se espera da educação hoje. E o terceiro é tornar a gestão mais democrática e participativa incluindo dentro deste, momentos de avaliação enquanto instituição. 2.4 – O cenário e a metodologia da pesquisa A prática do ouvir crianças, adolescentes e professores na escola tem se tornado para nós, exercício de humildade epistemológica e uma possibilidade imensa de conhecer estes atores, um exercício quase etnográfico, já que “perco”, às vezes, um longo tempo percebendo a rotina da escola com todas suas linguagens e linguajares. Sim, um exercício etnográfico já que de certa forma é uma etnografia escolar assim como no dizer de Geertz (1989, p. 7) falando do exercício de observar: “É como tentar ler (no sentido de „construir uma leitura de‟) um manuscrito estranho, desbotado, cheio de eclipses, incoerências, emendas suspeitas e comentários tendenciosos, escrito não com os sinais convencionais do som, mas com exemplos transitórios de comportamentos modelados.” Declarei este prazer durante todo o percurso desta pós-graduação e até o final “briguei” dizendo que meu interesse maior seria em ouvi-los, pois se não posso mudar nada sozinho, posso entendê-los, dar a oportunidade de falar. Fascinam-me as pérolas ditas e também aquelas não ditas no intervalo do silêncio entre um sorriso e uma expressão que não saiu da boca, que não foi proferida, mas poderia: “o que será que este cara quer perguntando isto para mim?” Ou no final da fala com uma professora: “agora me diga qual é mesmo o objetivo deste interrogatório? Soltou uma gostosa gargalhada em seguida. Ou outra: “que bom interagir com você, pois sempre saio acrescida”. E ainda outra: “Era somente isto? “O papo estava tão bom”. Percebemos o poder da palavra e da troca, palavra esta que no dizer de Bachelard (1990, p.35) ganha um significado por que: “Toda a expressão falada não é outra senão eco de uma sonoridade natural do ser, do seu ser. E sempre o ser, um ser, os seres são uma garantia da Palavra. O ser da Palavra é só uma forma do Ser. A Palavra é sempre um instrumento.” 29 A palavra se tornou um instrumento e provocou em nós dois sentimentos: um de alegria e outro de reconhecimento de que não conhecemos o professorado da nossa escola. Não os escutamos como deveríamos. Porque nos esquecemos do puxão de orelha feito por Freire (2003, p. 45) quando afirma que: “Pormenores assim da cotidianidade do professor, portanto igualmente do aluno, a que quase sempre pouca ou nenhuma atenção se dá, têm na verdade um peso significativo na avaliação da experiência docente. O que importa, na formação docente, não é a repetição mecânica do gesto, este ou aquele, mas a compreensão do valor dos sentimentos, das emoções, do desejo, da insegurança a ser superada pela segurança, do medo que, ao ser "educado", vai gerando a coragem.” Todos os sujeitos que responderam às provocações da entrevista semi- estruturada o fizeramnuma tarde de calor intenso (46 graus) em uma escola baixa, porque os engenheiros e arquitetos (estou sendo moderno e generoso de pensar que tais profissionais estiveram presentes no momento de pensar a construção da escola JK) que a planejaram jamais levaram em conta que vivemos em um Estado que faz calor quase todos os meses do ano, e que neste em especial, passa por uma seca terrível, como também, é claro, por conseqüência entendem bem pouco de educação ou porque jamais leram Freire (2003, p. 45): “a eloqüência do discurso „pronunciado‟ na e pela limpeza do chão, na boniteza das salas, na higiene dos sanitários, nas flores que adornam. Há uma pedagogicidade indiscutível na materialidade do espaço”. Quando se pensa em nossas escolas tem que se entender que elas foram todas feitas em toque de caixa dentro do contexto de um Estado de migração intensa que Perdigão e Bassegio (1992, p. 164) comentam que: “Estado de Rondônia começou a receber numerosos contingentes de famílias migrantes. Desta forma, enquanto a população não chegava a 37 mil habitantes em 1950, vinte anos depois, 1970, já estava com 70 mil. Já 1980 atingia quase 500 mil habitantes. O crescimento nesta década foi de 16,1%. Com o lema “Integrar para não entregar” o regime militar incentivou a ocupação da Amazônia. Nossa escola foi criada, exatamente nesta década no boom da migração em 1985 De acordo com o senso demográfico do ano de 2000, 30 Rondônia tinha exatamente 1.379.787. Tudo foi feito assim meio como de provisório. Calor, fumaça, escola sem ventilação, salas superlotadas e o professor disputando com o barulho de dois ruidosos ventiladores a atenção dos alunos. A despeito deste ambiente nem um pouco confortável e favorável fomos recebidos com um alegre e respeitoso sorriso: “Pode ser aqui mesmo Locimar, aqui na sala de aula mesmo?”. Quanto aos alunos, no começo foram mais cautelosos, porém depois que o assunto se tornou familiar, a conversa rendeu e se tornou uma discussão coletiva. Enfim, um espaço de troca. Um papo legal. Um papo cabeça. 2.5- A fala dos sujeitos: coordenadoras, professores e alunos A primeira pessoa a ser entrevistada foi a coordenadora provisória do LIE no período matutino, pois a outra está de Licença Prêmio. Formada em Letras pelo Prohacap 8 ·. Anteriormente estava atuando na TV Escola. Não fez nenhum curso em Informática Educativa: “Aprendi em casa alguma coisinha, e agora estou aprendendo alguma coisinha aqui”, asseverou. A professora relatou que quando chega de manhã à escola, liga os computadores, arruma a sala e orienta na hora de imprimir os trabalhos dos alunos, como também anota o que querem pesquisar e o tipo de pesquisa. O que não entende, procura ajuda de algum professor. A entrevista com ela foi feita no próprio LIE, enquanto isso, animados grupos de alunos do ensino fundamental pesquisavam comidas típicas dos respectivos países que lhe tocaram por ocasião da Noite Cultural 9 . Ao se referir a um grupo dos animados adolescentes (eram seis) em um computador, disse: “aquela turminha está ali desde manhã e eles não 8 Programa de Habilitação e Capacitação em parceria com a Unir, Sintero e Prefeituras, cujo objetivo era qualificar professores leigos, desafio imposto pela LDB 9.394/96. 9 Noite Cultural é um projeto que a escola desenvolve todos os anos colocando em evidência alguma situação peculiar dos países da América Latina e do Caribe. Cada ano é trabalhado com países de um continente e neste ano, estamos trabalhando com Países da América Latina e Caribe. 31 sabem o que querem, tentei ajudar. Querem comidas típicas do Brasil, querem coisas práticas, não querem ler receitas muito longas, preferem as gravuras e não querem ler as receitas. O professor que é responsável pela apresentação deles na Noite Cultural também tentou explicar, mas eles não entenderam. Com essas coisas da Noite Cultural, os alunos estão pesquisando muito. Eles têm dificuldades de ler para ver o que eles querem. Se o texto for muito grande, eles desistem logo”. Continuou relatando uma situação em que uma aluna veio pesquisar sobre a Guerra do Vietnã uns três dias consecutivos. Como o LIE 10 estava muito cheio, e ela não entendeu nada, desistiu e disse: “Vou ficar sem a nota, não entendi nada”. Olha para mim, sorri e conclui sua fala dizendo: “É gostoso trabalhar aqui, porque o ambiente provoca”. Existiam alguns alunos do primeiro ano do ensino médio no LIE e aproveitamos para conversar com eles. Era um grupo de três alunos e todos afirmaram que o LIE significa pesquisa. Por exemplo: “Esse espaço para mim significa pesquisa”; “É bom para os alunos ter (sic) esse lugar para pesquisar”; “Os professores pedem muito para a gente pesquisar”. Um aluno relatou que a professora distribui os assuntos e disse: “Vocês escolhem se vão apresentar em slides ou cartazes. Quando a professora está junto, orientando a gente, é muito melhor”. Nesta fala se percebe claramente que para o professor o desafio maior é o de ajudar o aluno a transformar informação em conhecimento. Para Pais (2008, p. 20): “Cresce a cada dia a necessidade de um novo desafio docente que é a competência de trabalhar com informações, ter competência para pesquisá-las, associá-las e aplicá-las às situações de interesse do sujeito do conhecimento”. 10 Sigla usada para fazer referência ao Laboratório de Informática Educativa ou Educacional. 32 Os alunos quando se referiram a uma das professoras que os acompanha no LIE ressaltaram a professora Pupunha: “Gostamos da professora Pupunha 11 porque ela vem ajudar a gente mais vezes aqui no laboratório de informática. A maior dificuldade que temos é que a internet é muito lenta e aí fica todo mundo amuntuado (sic) em cima de um computador só”. Conversamos com um grupo de alunos do terceiro ano do ensino médio período vespertino, que estavam na escola na manhã do dia 24 de setembro de 2010. Um deles, ao se referir à importância do LIE, asseverou: “Aqui é um lugar mais calmo para a gente estudar. Tem o ar condicionado, é mais fresco e a gente fica mais a vontade. O que a gente acha difícil é entender o conteúdo. A pesquisa na internet dá mais informações, pois o livro é muito limitado e aqui na internet não existe limite. A gente pesquisa aqui muito pouco porque tem poucos computadores e tá sempre cheio. Tem muita gente na sala que até tem computador em casa, mas não tem internet”. A outra coordenadora do LIE que atende no período vespertino e noturno e que agora passarei a chamar de Cupuaçu, 12 . Ela é formada em Educação Física também no Prohacap e tem especialização em Supervisão, Orientação e Gestão Escolar. Fez também o curso do Proinfo Integrado 13 . Na entrevista ela relata que a partir de sua experiência, percebe que os professores usam muito o LIE para 11 A pupunha é uma palmeira nativa da região Amazônica consumida na forma de frutos e de palmito. É uma palmeira de clima tropical, que, quando adulta, pode atingir mais de 20 metros de altura em poucos anos. É usada também como uma palmeira ornamental. O consumo dos frutos da pupunheira, cozidos em água e sal, é tradicional na região Amazônica. 12 O cupuaçu é uma fruta grande, pesada, volumosa e perfumada. As folhas de sua árvore são grandes; suas sementes são muitas e também grandes, envoltas em uma polpa branca, ácida e de aroma bastante forte e agradável. 13 O curso de formação continuada do Proinfo Integrado é organizado em três etapas que juntos formam 180 horas: Curso de Introdução à Educação Digital com 40 horas; Curso Tecnologias na Educação: Aprendendo e Ensinando com as TIC de 100 horas e o Curso de Elaboraçãode Projetos com 40 horas. http://educacao.centralblogs.com.br/post.php?href=proinfo+integrado+curso+completo&KEYWORD=5811&POST=3162309 http://educacao.centralblogs.com.br/post.php?href=proinfo+integrado+curso+completo&KEYWORD=5811&POST=3162309 33 apresentação de trabalho e para fazer o diário eletrônico que foi adotado na escola, (não sem a resistência de muitos professores). Pais (2008, p. 15) ao falar desta resistência comenta que: “É possível perceber no cotidiano pedagógico uma certa expectativa, por parte dos professores, quanto à vontade de utilizar os novos recursos de informática na educação. Muitas vezes, essa expectativa até mesmo se transforma em sentimento de insegurança ou de resistência em alterar a prática de ensino. Nesse caso, tal como acontece na sociedade, alguns se reservam o direito de se colocarem à margem das transformações induzidas pela tecnologia e certamente passam a ter menos condições de vivenciarem a nova ordem profissional. Por outro lado, grande parte dos professores percebe a necessidade de aprimorar suas estratégias didáticas através do computador. Mesmo identificando dificuldades relativas à formação, percebe-se a existência de uma consciência voltada para a busca de propostas que possam atender a problemas lançados pela sociedade da informação.” A coordenadora relata que os do Ensino Médio têm mais facilidade porque usam mais o computador e a internet e os professores os provocam mais. Além disso, preferem trabalhar mais em casa ou na lan house. Já os do ensino fundamental, principalmente dos anos finais do ensino fundamental, freqüentam mais o LIE. Cupuaçu afirmou que uma das dificuldades é a linguagem do Linux, o que também foi relatado na fala dos alunos que usam em casa e nas lan houses o Windows: “A nomenclatura do Linux é mais complicada”, conclui Cupuaçu. Continuando nossa conversa disse que: “Às vezes os professores pedem pesquisas para os alunos, mas não conhecem o material a ser pesquisado. Pedem para pesquisar um site, por exemplo, sem nunca ter acessado o mesmo. Outro dia chegou aqui o aluno X, cujo professor mandou pesquisar um assunto em determinado site e este descobriu quando foi abri-lo que estava todo em Inglês. Conclusão: o professor não conhecia o site, pois não tinha antes visitado o mesmo.” Quando o assunto diz respeito às dificuldades encontradas nas atividades do LIE, Cupuaçu fala que o desafio maior é com os alunos “do período da noite, pois a maioria não sabe mexer no computador. Os professores pedem trabalhos 34 dentro da metodologia científica, mas os alunos nem sabem o que é uma folha de rosto. Os professores não explanam o assunto na sala de aula para depois encaminhar a pesquisa. Um professor encaminhou um grupo de alunos para fazer uma pesquisa sobre as idéias de Marx sobre Capitalismo, mas a gente vê que eles não têm noções mínimas de conhecimento sobre Marx, o que ele fez, escreveu e tampouco compreensão de conceitos elementares o marxismo. Ai fica complicado, né? Eu também tenho dificuldade de entender Marx, aliás, muita dificuldade mesmo”. Pondera que no “período da tarde os professores explanam mais os assuntos da pesquisa antes de mandar os alunos para o LIE. Neste período 80% dos professores trabalham antes o assunto em sala de aula e 20% somente encaminha para a pesquisa. Seria interessante pelo menos o professor explicar para o aluno o que ele vai pesquisar”, conclui. Cupuaçu continua relatando que o objetivo principal do LIE é: “A inclusão digital de alunos e inclusive de professores, mas não sobra tempo nem para mim, nem para o professor parar e se preparar. Vejo muito os professores improvisando em relação ao LIE, chegam na hora e agendam (ver em anexo modelo de ficha que o professor preenche) sem planejamento”. A conversa vai animada e intensa com Cupuaçu. Ela nos informa que: “O laboratório funciona nos três turnos com 27 computadores ligados em rede. Vou te contar uma coisa interessante que aconteceu ontem noite e foi a primeira vez que a professora X, veio ao LIE. Observei que ela tem domínio de conteúdo e disciplina com os alunos. Tinha um senhorzinho que nunca tinha pego (sic) num no computador e no final ficou feliz da vida porque conseguiu digitar quatro frases. Mas eu vejo que a professora tem conhecimento da disciplina dela. Ontem 14 isto aqui a tarde estava lotado com alunos da noite. O ano que vem vou sair do LIE, isto aqui é pouco valorizado. O povo fica achando que a gente vive só na internet”. 14 23/09/2010 35 No outro dia Cupuaçu veio trabalhar no período matutino e estávamos fazendo o exercício de observar a rotina do LIE. Os alunos iam chegando aos poucos. Duas alunas entram e se dirigem a Cupuaçu dizendo: “É que a gente queria fazer uma pesquisa para a Noite Cultural”. Chegam mais duas e dizem: “Queremos pesquisar sobre Bahamas”. Entram mais quatro alunos da professora Pupunha e dizem: “Nós viemos fazer pesquisa sobre ciências. É para pesquisar sobre um animal que a gente quer conhecer mais, a professora Pupunha pediu”. Diante desta demanda a coordenadora Cupuaçu olhou para mim sorrindo e falou: “Deixa eu passar por esses meninos”. E admoesta-os: “Pessoal, vamos usar o fone de ouvido somente quando tivermos trabalhos com vídeo, tá beleza?” Neste momento já havia cinco duplas de alunos no LIE com dois alunos em cada computador e todos eram dos 6º anos. Cupuaçu falou com voz branda: “Meninada, se precisarem de ajuda estamos aqui, me chamem.” Olha, para e fala: “Locimar, vai ter tanta dança nesta Noite Cultural que será preciso duas noites para apresentar tudo. E as comidas típicas? Nem me fale”. Foi possível perceber que a maioria dos alunos presentes trabalhava com certa autonomia e discutiam baixinho o que estavam lendo seguida de anotações em seus cadernos. Quanto à entrevista com os professores conseguimos conversar com quatro, sendo que dentre eles, apenas dois não trabalham nos anos finais do ensino fundamental. Os outros dois trabalham nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio. Foram receptivos, abertos e gostaram muito da troca. Um deles questionou: “Porque a gente não fala disto mais vezes, né?”. O primeiro entrevistado foi o professor Açai, 15 que leciona a disciplina de Física no ensino médio. Tem 32 anos e é graduado em Física pela Universidade 15 O açaí é um fruto consumido há muito tempo pelos indígenas e moradores da região amazônica, devido as suas qualidades nutritivas. É também largamente utilizado para a produção de um refresco (“vinho” de açaí). O açaizeiro é palmeira tropical, perene, nativa da Amazônia oriental, predominante ao longo dos igarapés, terrenos de baixada e áreas com umidade permanente. 36 Federal de Rondônia. Trabalha na escola há três anos. Disse que compreende o LIE como um espaço onde os alunos se familiarizam com as tecnologias. Ele declarou: “Minha matéria precisa muito das tecnologias para avançar e ser mais atrativa para os alunos. Tenho um blog onde os alunos utilizam muito. Acessam mais na casa deles ou na escola em horário oposto cujo endereço é: www.fisicajk.blogspot.com”. E relata que o blog tem “estreita os relacionamentos entre professor e aluno”. E acentua ainda: “Gosto de levar meus alunos no LIE porque prezo muito a parte conceitual da física. Sei que eu preciso melhorar muito no uso do LIE, pois sei que informática e aprendizagem caminham juntas”. Informou que seu TCC de conclusão na graduação foi sobre “a construção de animações interativas fundamentadas em modelos que descrevem a natureza, principalmente os fenômenos da física e a aplicação de animações interativas como suporte didático à fundamentação teórica e explanações deconteúdos de cursos de física em sala de aula”. A próxima entrevistada foi a professora Uixi 16 de Biologia que trabalha ciências nos anos finais do ensino fundamental e biologia no ensino médio. Muito animada e comunicativa disse: “Eu uso constantemente o LIE, às vezes até demais. Os alunos se sentem mais motivados, pois a internet traz novas informações, informações mais atualizadas, mais completas e atuais. E ali no LIE, uma coisa puxa a outra. Acho que toda a sala de aula deveria ser um espaço mais ou menos como o LIE. Ah se a internet funcionasse mesmo. Agora até que tá boa, mas a demanda é grande demais. Quando os alunos estão no LIE se integram mais. Às vezes eu venho no horário oposto para ajudar os alunos pesquisar e eles tiram dúvidas comigo. O único negativo é quando eles querem vasculhar o que não devem (sexo). Tem vezes que eles sabem mais coisas do que eu e me enrosco um pouco no salvamento de arquivos porque o Linux é difícil demais. Eu aprendi 16 Fruta do mato que é muito perfumada e quando madura se aproveita a polpa e casca, que é fininha, para comer e ainda se faz brinquedos com o caroço que se divide ao meio e faz-se cuia, sutiã, óculos e etc. http://www.fisicajk.blogspot.com/ 37 mais sozinha do que em cursos. Eu tentei fazer o Proinfo, mas não gostei da metodologia”. É muito comum o problema relatado pela professora em relação à metodologia do Proinfo. O professor começa animado e desiste. Estão sobrecarregados e não tem ânimo para vir no horário oposto. O gráfico abaixo (Gráfico 02) se refere aos dados sobre a capacitação em “Introdução à educação digital” oferecida pelo LIE em 2009 para professores da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira, em Ji-Paraná/ RO. Gráfico 02: Curso do Proinfo Integrado “Introdução à educação digital” - 40 horas Acreditamos que a partir da idéia de Pais (2008) a inserção da informática na escola encontra-se imbricada entre as transformações tecnológicas e as novas condições de aprendizagem. E certamente a inserção da informática na educação provoca alterações tanto nas condições quanto na realização do trabalho didático. 38 A última professora entrevistada foi Cubiu 17 . Ela é formada em História pelo Prohacap, tem 49 anos e trabalha somente no ensino médio com as disciplinas de História e Filosofia. Ao falar da utilização do LIE em suas aulas disse: “Serve para aprofundar os conhecimentos e despertar nos alunos a necessidade de conhecer mais algo diferente. O aluno sai beneficiado porque entra em contato com a pesquisa. Só que do computador eu só sei relar (sic), tocar. Meus alunos sabem mais do que eu. Eu passo para eles a fonte de pesquisa. Quase não uso o LIE, porque se demora demais para conseguir uma vaga. Acho que os professores deveriam ter mais formação e mais tempo apropriado para isto, pois os cursos que são oferecidos precisariam ser mais sérios e despertar a vontade mesmo de participar”. É muito interessante notar que nesta fala, a professora reconhece a importância do computador como instrumento de apoio à sua prática, bem como de sua fragilidade/limitação diante do mesmo. Porém, demonstra uma idéia de formação a partir de momentos especiais. Talvez por não tenha o alcance ou compreensão do que seja de fato uma formação em serviço e de como esta pode acontecer na escola. Como ela existe outros tantos professores em nossa escola esperando melhorar sua prática a partir de palestras - diríamos assim, “miraculosas” - que trouxessem de fato a receita para que os alunos aprendessem mais e motivados, etc. Já afirmamos isto em outra parte desta monografia e o retomamos agora: os professores estão muito sozinhos na escola, cada um com seu fazer e suas metodologias. Corrêa (2006, p. 48) ratifica com propriedade esta nossa fala quando afirma que: “O uso que fazemos dos recursos tecnológicos depende do contexto educacional no qual estamos inseridos e depende das redes cotidianas de trabalho que vivenciamos. A cultura é extremamente individualista – cada profissional deve 17 O cubiu é um fruto bastante nutritivo de sabor e aroma agradáveis. Na Amazônia, é usado pelas populações tradicionais como alimento, medicamento e cosmético. O fruto pode ser consumido ao natural, ou principalmente como tira gosto de bebidas, ou processado para sucos, doces, geléias e compotas. Pode ainda ser utilizado em caldeirada de peixe ou como tempero de pratos à base de carne e frango. 39 fazer-se por si mesmo -, o que consiste apenas numa linguagem mais atual para a antiga meritocracia. No dia-a-dia do trabalho, cada um deve garantir a sua sala de aula, a sua pesquisa, o seu projeto, a sua unidade de trabalho. Estamos permanentemente isolados.” Vamos brincar com o texto: “bingo!”. Era isto mesmo que estávamos procurando para dizer do nosso sentimento em relação aos professores e professoras da escola onde atuamos. Teríamos que superar esta visão e prática individualistas no cotidiano a prática docente. Temos bons professores na escola, que gostam do que fazem e isto já é um bom começo, além disso, acreditamos não que não podemos prescindir deste sentimento. Porém, junto com um gostar, está também um melhorar e aprofundar a prática. Faltam rodas de conversa, momentos de trocas de experiências. E tanto quanto sabemos, os gestores tem muita responsabilidade quanto a isto. Vasconcelos (2006) defende que os gestores precisam provocar e dinamizar encontros semanais. Eles são a linha de frente desta ação. Estes encontros servem para refletir de forma critica e coletiva as práticas individuais e coletivas. São espaços singulares para que as questões de avaliação da aprendizagem e metodologias sejam rediscutidas, aclaradas e ressignificadas. Ao se perguntarem sobre os “porquês”, de suas ações e formas de concretizá-las, certamente estarão superando práticas autoritárias e obsoletas. Acreditamos neste processo e defendemos que a responsabilidade primeira está na mão dos gestores. Por exemplo, na nossa escola (estamos lá há quase três anos) não houve nenhuma avaliação sobre o uso do LIE tanto pelos professores, como pelos alunos. Não foi necessária ou não foi provocada? Sentida? Desejada? Estas perguntas ficam por aí, ecoando. Certamente não somente em nós. Encontramos hoje 18 , por ocasião de mais um momento de observação no LIE, um grupo de alunas do 9º ano e estavam pesquisando sobre a grande região amazônica. Já na reta final da pesquisa e ao imprimir o resultado final de sua 18 19/10/2010. 40 busca, uma das adolescentes suspirou: “ainda bem que deu tudo certo”. Observando a dificuldade delas para imprimir o texto, pedimos para olhar e constatamos que era apenas uma cópia sem referência alguma de fonte. Ao serem questionadas sobre o que estava faltando no trabalho, a coordenadora do LIE adiantou-se e disse: “está fora da estética”. Não contentes, continuamos a questionar e mesmo assim não foi possível de que percebessem por elas mesmas que faltava a referência, uma introdução e uma conclusão ao trabalho. Falamos da importância de se colocar as referências, da necessidade de uma introdução e conclusão para cada trabalho. Após este discurso, uma das alunas observou: “o professor só manda a gente copiar e depois ele dá um visto e a gente sabe que não aprende muita coisa com isto. O que a gente aprendeu sobre a região amazônica foi com a professora da 4ª série.” Esta não é uma situação isolada na escola e abre precedentes para projetos com os professores e com os alunos para que aprendam a pesquisar e utilizem a metodologia da pesquisa no cotidiano de suas práticas. Estesprojetos são necessários, possíveis e urgentes! Tanto se falou da iniciação científica na educação básica e o quanto se precisa caminhar quanto a isto, pois é verdade que os procedimentos científicos tem que ser abordados desde cedo. “Nem sempre é possível à própria pessoa sozinha perceber as muitas leituras que sua prática revela. Nesse sentido, é fundamental o papel de um interlocutor que vá ajudando a pessoa a se perceber, que vá ampliando as possibilidades de leitura de sua prática docente e da prática docente de outros colegas. O papel de um supervisor ou de um coordenador pedagógico é fundamental nesse caso”. (FAZENDA, 1995, p. 72) Abaixo seguem três imagens do LIE da escola (Imagem 03, 04 e 05). Consideramos o espaço bastante apropriado quando se trata de organização, internet (que funciona relativamente bem), impressora para alunos e etc. 41 Imagem 04: Crianças do 5º “A” fazendo pesquisa no LIE sobre Juscelino Kubistchek de Oliveira, para um projeto, cujo objetivo era resgatar a história da escola. Imagem 05: Visão panorâmica do LIE da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Juscelino Kubistchek de Oliveira em dia reservado para o uso exclusivo de professores. 42 Imagem 06: Cartaz afixado na porta do LIE lembrando aos alunos os horários em que o mesmo está reservado somente para professores. 2.6- As fichas de agendamento para alunos e professores no LIE como instrumento de racionalização Desejamos tecer alguns comentários acerca das fichas de agendamentos para alunos que deverão ser preenchidas como procedimento normal para a utilização do LIE. Os agendamentos foram preenchidos pelas coordenadoras do LIE ou professores. (vide ficha no anexo II). Começamos dando uma olhada mais atenta às Fichas de Agendamento para Alunos compreendendo o período de março de 2010 a setembro. Examinamos 58 fichas entre os dias 18 de março de 2010 a 22 de setembro de 2010. Cada ficha constava de 11 espaços de agendamento, ou seja, 11 grupos de alunos gerando no total destas 58 fichas, 638 agendamentos. Dentre os 638 agendamentos feitos neste período, apenas 100 foram agendados para alunos do ensino médio. Porém, é preciso atentar que na escola existem apenas cinco turmas 43 de alunos do ensino médio: duas do 1º ano, duas do 2º ano e apenas uma do 3º ano. Quando se trata de turmas dos anos finais do ensino fundamental temos: seis turmas dos 6ºs anos; quatro turmas dos 7ºs; quatro turmas dos 8ºs anos e quatro turmas dos 9ºs anos. Considerando que cada turma tenha aproximadamente 30 alunos, temos aí um total de 710 alunos nos anos finais do ensino fundamental. Quando uma das coordenadoras do LIE afirma que os alunos do ensino médio procuram pouco o LIE, talvez não tenha levado em conta que são um menor em relação ao número de alunos da escola perfazendo um total de 130 alunos, pois a única turma de 3º ano do ensino médio vespertino tem apenas 10 alunos e as duas do 1º ano e as outras duas do 2º ano tem juntas, 120 alunos. Então, podemos dizer que se levarmos em consideração o número total de alunos do ensino médio, eles utilizam muito o LIE. Em relação à primeira etapa do ensino fundamental – 1º ao 5º ano - percebeu-se apenas a presença de 04 grupos de alunos durante todo o período observado. Interessante observar que os grupos de alunos que estiveram no LIE são duas turmas de 5º ano, cujas professoras fizeram o Proinfo Integrado e têm uma prática docente mais dinâmica: fazem aulas-passeio, utilizam jogos pedagógicos, gincanas da matemática e da tabuada, visitas às empresas e a reservas ecológicas, etc. A despeito da prática destas duas professoras, quanto ao uso do LIE por alunos e professores dos anos iniciais do ensino fundamental, ainda é um grande desafio para os professores. E é bom ressaltar que não esta “negligência” quanto ao uso do computador e da internet não é porque os alunos não pedem. Pelo contrário, eles vivem cobrando dos coordenadores e professores: “Porque a gente também não vai para o laboratório mexer com o computador?”. Este reclame é constante principalmente por parte dos alunos dos 5ºs anos. No 44 início deste ano, a professora Camu-camu 19 fez um resgate das mídias passando pelo vinil, fita cassete, VHS, DVD e CD. Estivemos presente e foi um momento rico de troca e aprendizagem com os alunos do 5º ano. Em momento algum demonstraram desconhecer alguma das mídias apresentadas. O restante dos agendamentos, ou seja, 538 foram feitos por alunos e respectivos professores dos anos finais do ensino fundamental, com uma incidência maior de alunos dos 9ºs anos. E porque a maioria procura se encontra nesta etapa da educação básica? Os alunos são mais motivados? Professores mais dinâmicos? Caberiam aqui tantas outras perguntas e outras respostas. Percebemos dentro deste contexto três situações: a primeira situação a ser observada é a de que de fato, os alunos dos anos finais do ensino fundamental gostam de pesquisar no LIE; a segunda situação é que três professoras que trabalham nesta etapa são provocativas e instigam seus alunos a buscar mais e também os acompanham; a terceira e bastante óbvia é que são em maior número, conforme observação feita acima. Quanto se tratou do objetivo pelo qual os alunos estavam buscando o LIE, dos 638 agendamentos, 74 foram para atividade com slides – Power point, ora para utilizar os slides como recurso de apresentação de pesquisa, ora para apresentar estas pesquisas no próprio LIE, pois possui um Data-show. Os outros 564 agendamentos foram feitos para pesquisa a pedido dos professores com o uso da internet. E quanto aos professores que mais solicitaram pesquisa para os alunos no LIE, como já afirmamos acima, foram os dos anos finais do ensino fundamental. 19 Pode ser encontrados à beira dos igarapés, rios ou em regiões alagadas da região amazônica. Pouco consumido in natura por ser bastante ácido, apesar de doce. É fruta indicada para o preparo de refrescos, sorvetes, picolés, geléias, doces ou licores. 45 Quando se tratou da agenda específica para preenchimento por parte dos professores, (vide ficha anexo IV), tivemos acesso apenas àquelas referentes aos 02/08 a 20/09 de 2010. Notou-se que os professores utilizaram o LIE para apresentação de atividades, seminários em sua maioria, com seus alunos. Na parte específica exigida para descrever os objetivos do conteúdo ou da atividade, todos colocaram estas expressões: “apresentação de trabalho” ou “apresentação de seminário”. Em uma ficha de agendamento apareceu a seguinte expressão: “realizar atividade do Eixo 3 do proinfo”. Nas últimas fichas do mês de setembro não houve nenhum registro quanto a objetivos; os professores apenas preencheram a data, turma, o horário e no local do conteúdo colocaram o nome deles. Caberia aqui uma observação quanto ao objetivo e necessidade do preenchimento correto do formulário de uso do LIE, o que em linhas gerais significa: organização e planejamento. Observamos a mesma dificuldade que acontece quanto ao uso da TV Escola: improviso e falta de clareza quanto aos critérios do uso do LIE. Partindo das observações acima, verifica-se que o LIE é um espaço de aprendizagem em que alunos e professores transitam com grande freqüência. Disto não cabe a menor dúvida. Cupuaçu quando fala de seu trabalho no LIE desabafa: “o ano que vem quero sair do LIE porque aqui não somos valorizados nem vistos”. 2.7- A Noite Cultural: Diversidade Cultural na América Latina e Caribe E falando em desafio, A Noite Cultural promovida pela escola 20 , e cujo tema era Diversidade Cultural na América Latina e no Caribe, foi exitosa. Se o objetivo era representar a riqueza cultural dos países que representam esta região do mundo através das
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