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Paciente de 4 anos é levado ao pronto atendimento com queixa de dor abdominal mal definida iniciada há 2 meses. Mãe relata que a queixa é intermitente, e que nos últimos 2 dias tem se intensificado, associando-se a distensão abdominal. Nega outras patologias. Diurese e evacuações nor- mais (SIC). Ao exame físico: EGB, aaa, eupneico, hidratado, corado ACP fisiológica. Abdome distendido, difusamente doloroso a palpação profunda, com massa palpável em QIE. Extremidades perfundidas, sem edema ou cianose. O sintoma guia é a dor abdominal. Existem várias hipóteses diagnósticas para dor abdominal. Ajudam no diagnóstico da consti- pação. A constipação funcional são as princi- pais na área da pediatria. Constipação intestinalConstipação intestinal S5-Ped Gabriela Brito CASO CLÍNICO Introdução Devidos a urbanização, o seden- tarismo e as mudanças alimentares, houve um aumento de ocorrência de constipação. Estudos mostraram que fibra alimentar é importante tanto na prevenção como no tratamento da constipação. Critérios de Roma Padrão de evacuação normal S5-Ped Gabriela Brito Constipação Lactentes e pré-escolares: Escolares e adolescentes: Pelo menos 2 critérios, em < de 4 anos, por no mínimo 1 mês: - 2 ou menos evacuações por semana; - Pelo menos 1 episódio por semana de incontinência fecal, após aquisição do controle do esfíncter anal; - Comportamento de retenção para evitar a defecação; - Evacuações com dor ou dificuldade; - Presença de grande quantidade de fezes no reto; - Eliminação de fezes de grande diâ- metro, que podem causar entupimen- to do vaso sanitário; Pelo menos 2 dos critérios, em criança igual ou maior ao esperado para 4 anos de idade, e que não preencha diagnósticos para SII: - 2 ou < evacuações/semana no vaso sanitário; - Pelo menos 1 episódio/semana de incontinência fecal; - Comportamento de retenção ou retenção voluntária das fezes; - Evacuações com dor ou dificuldade; - Presença de grande quantidade de fezes no reto; - Eliminação de fezes de grande diâ- metro, que podem causar entupi- mento do vaso sanitário; 1º descartar síndrome do intestino irritado, ai sim pensar em constipação. Disquezia do lactente Ocorrência, durante 10-20 minutos, de episódios de gemidos e choro, acompanhados de vermelhidão da face, antecedendo as várias elimina- ções diárias de fezes amolecidas. Ocorre em menores de 6 meses. Ocorre uma incoordenação entre o aumento da pressão abdominal com relaxamento do assoalho pélvico. Definição alternativa: Sintoma caracterizado pela ocorrência de qualquer das seguintes manifes- tações, independentemente do inter- valo entre as evacuações: - Eliminação de fezes duras, na forma de cíbalos ("bolinhas"), seixos ou cilíndricas com rachaduras; - Dificuldade ou dor para evacuar; - Eliminação esporádica de fezes muito calibrosas que entopem o vaso sani- tário; Frequência das evacuações inferior a 3 vezes por semana (exceto crianças com AME). Distúrbios de defecação Incontinência fecal por retenção Conhecido também como soilling ou escape fecal. Consiste na perda involuntária de fezes nas vestes, associada a impactação fecal (não é o conteúdo fecal propriamente dito). S5-Ped Gabriela Brito Deveria ser caracterizado apenas após o 4º ano de vida. Há fezes impactados na ampola fetal, que fica dilatada devido o acúmulo de fezes, favorecendo a descida de conte- údo fecal pelas laterais e suja a roupa íntima. Incontinência fecal não retentiva Encoprese. Ato completo de defe- cação, em sua plena sequência fisiológica, porém em local e/ou momento inapropriados. Em geral é secundária a distúrbios psicológicos. Pseudo-constipação Ocorrência de evacuação de fezes macias, em frequência menor que 3 vezes por semana, em lactentes em aleitamento materno exclusivo. Prevalência Trabalhos mostram uma prevalência muito grande de constipação nos pacientes pediátricos. Impacto Queixa principal em 3% das consultas pediátricas, 25% das consultas em gas- troenterologia pediátrica. Fisiologia colônica e da defecação Para ter uma defecação adequada, é necessário ter função motora colônica normal, abordando integridade da estrutura anatômica neuromuscular (esfíncteres anais externo e interno e assoalho pélvico) e coordenação dos reflexos neurais. Fisiopatologia da constipação No paciente constipado funcional há impactação, ampola dilatada com conteúdo fecal duro retido e presença de conteúdos mais "frescos" que escapam pelas laterais da ampola. S5-Ped Gabriela Brito Serve para facilitar a identificação das fezes. O normal é bristol 3 e 4. É o ciclo vicioso da constipação intesti- nal funcional. Fatores do desvio da fisiologia da evacuação - Hereditários e constitucionais (preva- lência 4 vezes maior em gemêos mo- nozigóticos); - Alimentares (dieta pobre em fibras aumenta o risco de constipação crônica, alergia alimentar, aleitamento artificial aumenta o risco de constipa- ção); - Emocionais; - Alteração da motilidade colônica (ca- usa ou consequência?); Apresentação clínica - Comportamento retentivo é obser- vado sobretudo a partir do 2o ano de vida; - Incontinência por retenção é obser- vado mais tardiamente (4-5 anos); - Dor abdominal recorrente; - Vômitos; - Sangue nas fezes; - Infecções urinárias de repetição; - Retenção urinária; - Enurese; - Hiporexia; Complicações Sinais de alerta - Retardo na eliminação de mecônio; - Déficit de crescimento; - Ausência de comportamento de re- tenção; - Ampola retal vazia; - Anormalidades na pigmentação cutâ- nea; - Presença de sintomas extra-intesti- nais; S5-Ped Gabriela Brito - Fezes finas ou em fita; - Relação com introdução de alimen- tos; - Eliminação explosiva de gases e fe- zes; - Falta de resposta ao tratamento con- vencional; - Idade de início <12 meses e ausência de escape fecal; Constipação intestinal crônica Abordagem diagnóstica Se o paciente apresentar constipação por mais de 2 semanas, sem sinais de alerta, estabelece-se o diagnóstico de constipação funcional. Sem resposta ao tratamento convencional: deve-se solicitar TSH, T4, pesquisa de anti- corpos para doença celíaca, sódio e cloro no suor, dosagem de cálcio. Se exames normais e constipação per- siste: fazer manometria anorretal. Se após todos os procedimentos des- critos a constipação não for contro- lada, considerar: enema baritado, RNM de medula espinhal, biópsia retal pro- funda, manometria colônica. MANOMETRIA ANORRETAL Avalia a resposta do esfíncter diante estímulos. ENEMA BARITADO Mostra dilatação do cólon. Funcional X Hirchsprung S5-Ped Gabriela Brito Tratamento Baseado em 4 pilares: ORIENTAÇÃO GERAL Explicar os mecanismos de retenção e escape fecal. Redução de tensões familiares e dos sentimentos de inse- gurança e inferioridade do paciente. RECONDICIONAMENTO DO HÁBITO INTESTINAL Sentar no vaso por pelo menos 5 minutos após as principais refeições, atentar para a postura adequada no sanitário. Para crianças em período de treinamento esfinctérico, suspender o treinamento até controle da consti- pação. ESVAZIAMENTO DO FECALOMA - O esvaziamento do cólon e do reto é conseguido com a administração diária de enemas por 2-4 dias; - Se necessário, manter até completa eliminação das fezes e a criança apresentar 1-2 evacuações amolecidas ao dia; - Alternativa: desimpactação oral MANUTENÇÃO Uso de laxantes (óleo mineral- não fazer em < 2 anos, leite de magnesia, lactulose), fibra alimentar (solúveis e insulúveis). Em casos mais graves, manter por 6 a 24 meses. S5-Ped Gabriela Brito 1- Criança com 3 anos de idade é acompanhada regularmente pelo pediatra no ambulatório infantil com o diagnóstico de constipação intestinal crônica, estabelecido Segundo o Consenso de Paris (2005) e pelo critério de Roma (2006). O crescimento e o desenvolvimento são adequados para a idade e o exame físico geral e segmentar normais. Não há relato de soiling e encoprese. Naabordagem diagnóstica desse paciente, qual dos procedimentos a seguir descritos é mais adequado? A) Solicitar rx de abdomen e enema opaco B) Solicitar trânsito intestinal C) Solicitar manometria intestinal D) Solicitar biópsia retal com dosagem de acetilcolinesterase E) Nenhum procedimento laboratorial. O diagnóstico é basicamente clínico. 2- Qual dos seguintes laxantes não deve ser prescrito para crianças menores de um ano e portadores de “paralisia cerebral” com constipação crônica? A) Óleo mineral B) Latulose C) Leite de magnesia D) Oligossacarídeos E) Sais de ferro 3- Na avaliação da constipação intestinal na infância, causas orgânicas de constipação devem ser consideradas. As alterações clínicas (história ou exame clínico) que sugerem o diagnóstico de Doença de Hirschsprung ou megacolon agangliônico, em uma criança portadora de constipação intestinal crônica, são: A) Comportamento retentivo e inconti- nência fecal. B) Leve distensão abdominal e início do quadro após o glÚten na dieta. C) Retardo na eliminação de mecônio e ampola retal vazia ao toque retal. D) Sangue nas fezes e medo de evacuar. E) Associação com vômitos e distúrbio hidroeletrolítico frequente. 4- Um lactente de 2 meses de idade é levado para o atendimento medico com história de distensão abdominal e constipação. A mãe informa que a criança eliminou mecônio no terceiro dia de vida e, atualmente, passa vários dias sem evacuar, sendo, por vezes, necessária a utilização de estímulo retal com supositório. O lactente foi desmamado aos 12 dias de vida, e, no momento, faz uso de leite de vaca integral engrossado. Ao exame clínico, apresenta abdome distendido e doloroso, e o toque retal revela ampola retal vazia. S5-Ped Gabriela Brito Após a retirada do dedo examinador, houve eliminação explosiva de gases e fezes em grande quantidade. A hipótese diagnóstica mais provável para o caso é: A) Constipação crônica funcional. B) Fibrose cística. C) Alergia a proteína do leite de vaca. D) Doença de Hirschsprung.
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