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APOSTILA OFICIAL HISTÓRIA DO FEUDALISMO

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HISTÓRIA DO FEUDALISMO 
IGREJA CATÓLICA NA IDADE MÉDIA 
BAIXA IDADE MÉDIA - FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS EUROPEUS 
1ª ANO PROFº ALEX GAMBOA 
 
A história do feudalismo – o surgimento desse 
conjunto de práticas de ordem econômica, social e política 
– remonta à crise do escravismo romano, quando ocorreu 
uma ruralização. A história do feudalismo está vinculada a 
dois fenômenos históricos: a crise do Império Romano e as 
invasões dos bárbaros. 
 
 
 
Denomina-se feudalismo o modo de produção 
dominante na Europa Ocidental durante a Idade Média 
(séculos V - XV), isto é, o modo de vida, com seus 
componentes econômicos, sociais, políticos e culturais, da 
população europeia no período mencionado. 
O feudalismo nasceu e se estruturou em uma fase 
histórica conhecida como Alta Idade Média (séculos V-X) e 
entrou em declínio na chamada Baixa Idade 
Média (séculos XI-XV), quando seus elementos mais 
característicos sofreram profundas transformações. Vale 
lembrar que o feudalismo assumiu características 
diferenciadas em diferentes regiões da Europa. 
 
CARACTERÍSTICAS GERAIS 
Economia autossuficiente: a agricultura era a 
principal atividade econômica na Idade Média e era 
praticada pelos servos nos feudos. Estes eram constituídos 
pelo castelo – onde residia o senhor, sua família e seus 
dependentes –, pelas terras cultivadas pelos servos e pela 
vila onde estes habitavam. Os servos, sujeitos à intensa 
tributação em troca da proteção fornecida pelos senhores 
feudais, produziam apenas o necessário para a subsistência 
do feudo, pois as técnicas agrícolas empregadas eram 
rudimentares e não havia mercado consumidor de 
excedentes. A economia feudal era, portanto, 
essencialmente rural: o comércio praticamente 
desapareceu e as cidades se despovoaram. 
 
Sociedade estamental: a sociedade feudal dividia-
se em estamentos ou ordens. O critério de diferenciação 
social era a posse de terras e a função social. Assim, as 
categorias que compunham a sociedade feudal eram 
o clero (os que oravam), a nobreza (os que guerreavam) e 
os servos (os que trabalhavam). A mudança de grupo social 
era praticamente impossível e, portanto, tratava-se de uma 
sociedade estática. 
Descentralização política: o poder político, no 
sistema feudal, era descentralizado e exercido pelas 
categorias privilegiadas da sociedade (nobreza e clero), 
excluindo a grande maioria da população. Os senhores 
feudais monopolizavam o poder político e administrativo em 
seus feudos sem sofrer a interferência de qualquer outro 
poder. O rei era uma figura decorativa com jurisdição sobre 
seus domínios, exclusivamente. 
Relações de suserania e vassalagem: 
o suserano era o senhor feudal, dono das terras, que, em 
troca da proteção que oferecia aos servos e da permissão 
que lhes concedia para que produzissem em seus domínios, 
recebia a obediência e a fidelidade dos vassalos. O vassalo 
era também obrigado a pagar impostos ao suserano. As 
relações de suserania e vassalagem eram estabelecidas 
durante um ritual herdado das tradições germânicas 
denominado homenagem. Nessa cerimônia, o feudo 
(parcela de terra) era concedido ao vassalo, que, em troca, 
jurava fidelidade ao suserano, comprometendo-se a 
acompanhá-lo nas guerras. O suserano, por sua vez, jurava 
dar proteção ao vassalo. 
Relações servis de produção: os servos estavam 
sujeitos à intensa tributação em troca da proteção 
fornecida pelos senhores feudais e da concessão para 
trabalhar as terras e delas extrair sua subsistência. As 
obrigações servis mais comuns eram: 
• corveia: trabalho gratuito nas terras do senhor (manso 
senhorial) em alguns dias da semana; 
• talha: porcentagem da produção do manso servil; 
• banalidades: tributos cobrados pelo uso de instrumentos 
ou bens do senhor, como o moinho, o forno e o celeiro. 
Teocentrismo: na Idade Média, a cultura achava-se 
impregnada de elementos religiosos. A maior preocupação 
do homem medieval era agradar a Deus e, assim, conseguir 
a salvação de sua alma. A Igreja Católica difundia essa 
visão de mundo e garantia seu poder, ao apresentar-se 
como intermediária entre Deus e os homens. 
 
 
 
 
“Muitas instituições romanas e germânicas foram 
importantes na estruturação da ordem feudal. A clientela, 
que estabelecia as relações de dependência social entre 
os indivíduos na sociedade romana, constituiu a base 
sobre a qual se desenvolveram as relações de 
dependência do mundo feudal (senhor-servo). 
O colonato, outra herança romana, impôs a 
fixação do homem (colono) à terra. Instituído pelo 
governo imperial, o colonato originalmente objetivava 
conter o êxodo rural e a crise de abastecimento 
provocada pela falta de mão de obra escrava. Os 
colonos, embora juridicamente livres, não podiam 
abandonar as terras, submetendo-se à autoridade dos 
grandes proprietários rurais. Juntamente com 
o precarium (entrega de terras a um grande senhor em 
troca de proteção), o colonato constituiria a base da 
servidão medieval. O comitatus, instituição germânica 
que estabelecia a relação de lealdade entre os guerreiros 
e o chefe tribal, foi o alicerce das relações feudais de 
suserania e vassalagem.” 
(VICENTINO, Cláudio. História Geral. São Paulo, Scipione, 
1997; p.110) 
Além do comitatus, o feudalismo herdou dos 
germânicos o direito consuetudinário, isto é, normas legais 
não escritas e baseadas nos usos e costumes, nas tradições 
dos povos. 
A militarização da sociedade medieval também é 
uma característica a ser enfatizada. O feudalismo nasceu 
em meio às ondas invasoras, aos ataques, saques e 
pilhagens dos povos germânicos, árabes, normandos e 
magiares. A defesa e a guerra tornaram-se atividades 
importantes para o homem da Idade Média. Por isso, a 
figura do cavaleiro e seu modo de vida e valores eram tão 
valorizados. 
 
IGREJA CATÓLICA NA IDADE MÉDIA 
A Igreja Católica na Idade Média era a instituição 
mais poderosa da Europa. A Igreja preservou certos 
costumes greco-romanos e foi também responsável pela 
sobrevivência da Europa Ocidental. Além de dominar o 
cenário religioso e influenciar o modo de pensar e as formas 
de comportamento da época, a Igreja Católica na Idade 
Média possuía grande poder econômico: era dona de um 
enorme patrimônio e de terras em grande quantidade. 
O movimento renascentista dos séculos XV e XVI 
chamava a Idade Média de “Idade das Trevas”, em uma 
clara demonstração de repúdio aos valores medievais. 
Segundo seus representantes, a intensa religiosidade do 
período e o controle exercido pela Igreja sobre a 
mentalidade e cultura, impediu ou dificultou a produção 
artístico-intelectual. 
A mentalidade predominante na Idade Média era 
teocêntrica. A religião era o centro das preocupações 
humanas e a vida terrena deveria ser uma preparação para 
se atingir a vida eterna. Dessa forma, os poderes da Igreja e 
de seus representantes eram enormes e, por isso, a 
instituição eclesiástica foi a principal produtora e irradiadora 
da cultura medieval. A imobilidade da sociedade medieval 
refletia-se na cultura. Assim, não havia especulação, 
curiosidade ou investigação. Os padrões éticos e estéticos 
eram ditados pelos religiosos e levavam ao imobilismo e ao 
conformismo. 
Assim, a produção artístico-cultural na Idade Média 
era impregnada de valores religiosos, predominantes na 
época. 
Arquitetura: aparecimento dos estilos românico e 
gótico na construção de igrejas e catedrais. O estilo 
românico é mais sólido e sombrio; o gótico, típico da Baixa 
Idade Média, é mais leve e iluminado. 
 
 
 
 
 
Igreja da idade média 
Literatura: a língua predominante na Idade Média 
era a usada nos ofícios sagrados, ou seja, o latim. Nos 
mosteiros, monges copistas dedicavam suas vidas a 
reproduzir obras em língua latina da Antiguidade, mas 
também clássicos em grego. Desenvolveram-se também apoesia épica, valorizando os ideais da cavalaria, e o 
trovadorismo, em sua forma romântica ou satírica. 
Artes: tanto a pintura como a escultura refletiam 
uma visão estática e religiosa do mundo. As figuras humanas 
eram reproduzidas segundo esses padrões e os temas 
religiosos eram os únicos permitidos. Vale destacar a 
produção de iluminuras – pequenas gravuras que ilustravam 
os textos sagrados. 
Filosofia: o principal filósofo medieval, responsável 
pelo fortalecimento de uma visão estática e conformista do 
mundo, foi São Tomás de Aquino, fundador da Escolástica. 
Segundo esse pensador, o conhecimento era resultado da 
união entre razão e fé, estando, portanto, acessível a alguns 
poucos escolhidos por Deus. Tal forma de pensar 
inviabilizava o desenvolvimento científico, pois 
desestimulava a especulação e a investigação. 
 
 
Tomás de Aquino 
 
A Igreja, portanto, era a grande responsável pela 
produção cultural da Idade Média. Essa instituição usufruía 
de grande prestígio e poder entre a população europeia 
medieval. Dividida em clero secular (“os que vivem no 
mundo” – párocos, bispos e cardeais) e clero regular (“os 
que seguem regras” – os habitantes dos mosteiros: monges 
e abades), a Igreja contava com uma rígida hierarquia que 
pressupunha respeito e obediência às ordens emanadas 
dos superiores. 
Havia leis eclesiásticas, que governavam a vida dos 
cristãos, e tribunais especiais, destinados a julgar os 
infratores. As ideias religiosas eram divulgadas pelos 
párocos, que viviam em contato direto com a população. 
Esses religiosos, porém, muitas vezes despreparados para a 
vida de sacrifícios que a Igreja impunha, ou desinteressados 
em fazê-los, acabavam por apresentar um comportamento 
pouco adequado aos olhos dos fiéis. 
Gradualmente, o clero tornou-se corrupto e 
decadente e muitos fiéis começaram a questioná-lo e, até 
mesmo, abandoná-lo. Nasceram as heresias – movimentos 
que questionavam o poder e a doutrina da Igreja e que, por 
esse motivo, foram violentamente perseguidas e 
combatidas. No interior do próprio clero, surgiram indivíduos 
comprometidos com a luta pela moralização do clero, 
como por exemplo, a Ordem de Cluny – seguidores de São 
Bento, ou beneditinos. 
A ordem de Cluny surgiu em 910 e, em pouco 
tempo, difundiu-se por toda a Europa. Seus objetivos eram 
moralizar, reformar e fortalecer a Igreja, por meio da 
normatização do comportamento clerical e da luta contra 
a interferência do poder temporal nos assuntos espirituais. 
Dirigindo-se para o Sacro Império Romano Germânico, 
condenava o Cesaropapismo (o controle da Igreja pelo 
Imperador: este nomeava não apenas os bispos – a nobreza 
clerical -, mas o próprio papa) e a simonia (o controle do 
clero local pela nobreza senhorial: os senhores feudais 
nomeavam bispos e curas, que vendiam cargos e 
controlavam a população). Os beneditinos condenavam, 
acima de tudo, a submissão do poder da Igreja ao poder 
do imperador na região do Sacro Império. 
A luta contra o poder imperial por parte da Igreja 
teve em Gregório VII, seu maior expoente. O papa Gregório 
VII entrou em choque violento com o poder temporal do 
imperador do Sacro Império, Henrique IV, em um episódio 
conhecido como a Querela das Investiduras. 
Percebendo que a origem dos males que 
assolavam a Igreja era o poder que o Imperador e os nobres 
possuíam para nomear pessoas despreparadas e corruptas 
para os postos eclesiásticos, o papa proibiu que isso 
continuasse a ocorrer (1075). Considerando-se prejudicado 
por não mais poder nomear papas, o imperador, Henrique 
IV, não acatou a ordem papal. Gregório VII excomungou o 
imperador, mas diante de seu pedido de perdão (Canossa, 
1077), desculpou-o. Em 1122, as disputas entre a Igreja e o 
Império se acalmaram, com a assinatura da Concordata de 
Worms, que estabelecia que o Papa usufruiria da investidura 
espiritual e o imperador, da política. 
 
BAIXA IDADE MÉDIA - FORMAÇÃO DOS 
ESTADOS NACIONAIS EUROPEUS 
O período da história europeia conhecido 
como Baixa Idade Média (séculos X-XV) corresponde 
à crise do modo de produção feudal. Tal crise foi resultado 
de um profundo processo de transformações 
socioeconômicas, políticas e culturais, iniciado com o 
movimento das Cruzadas. Os principais sintomas da crise do 
feudalismo foram a dinamização econômica – com a 
substituição da economia de subsistência pela economia 
de mercado (renascimento comercial e urbano) –, o 
surgimento da burguesia – um novo grupo social, ligado às 
atividades mercantis e artesanais urbanas – e o 
fortalecimento do poder central dos reis, originando os 
Estados Nacionais Europeus. 
Esse processo de desorganização das estruturas 
feudais foi lento e gradual, atingindo seu ápice no século 
XIV e dando origem a um novo sistema econômico 
conhecido como capitalismo. 
 
As Cruzadas 
 
A Europa da Alta Idade Média, quando se 
estruturou o feudalismo, experimentou inúmeros ataques 
invasores que resultaram no isolamento geográfico e 
econômico da Europa em relação ao restante do mundo. 
Os ataques também contribuíram para manter a 
estabilidade do ritmo de crescimento populacional. 
A partir do século IX, porém, as invasões à Europa 
cessaram. Isso ocasionou um rápido crescimento 
demográfico, decorrente da queda da taxa de 
mortalidade e da alta da taxa de natalidade. A melhoria 
das técnicas de cultivo, a ampliação das áreas dedicadas 
à agricultura e a diminuição dos surtos epidêmicos foram 
decisivos para promover um rápido e constante aumento 
da população, que estava além do poder de absorção da 
estrutura do feudo. O resultado disso foi o crescimento, na 
Europa, de uma população marginal: abandonando os 
feudos pelas dificuldades de sobrevivência, muitos 
indivíduos passaram a vagar pelas estradas e percorrer 
vilarejos, ora promovendo saques e assaltos, ora pedindo 
esmolas. O banditismo e a mendicância tornaram-se 
frequentes, ameaçando a ordem feudal e atemorizando as 
populações dos feudos. 
Alguns desses servos expulsos dos feudos, porém, 
estabeleceram-se em aldeias, ou antigos núcleos urbanos, 
onde exerciam uma incipiente atividade comercial e 
artesanal. 
Preocupada com o aumento da população 
marginal e do perigo que ela representava para a ordem 
vigente, a elite feudal, liderada pela Igreja, enxergou uma 
forma de solucionar o problema do excedente 
demográfico na Europa. Nasceram, assim, as Cruzadas. 
As Cruzadas eram expedições militares-religiosas, 
convocadas pelo Papa Urbano II, cujo objetivo anunciado 
era libertar a Terra Santa, onde se encontra o Santo 
Sepulcro, que na época estava sob domínio muçulmano. 
Outras razões, no entanto, levaram os cristãos europeus a se 
engajarem no movimento: 
• o Império Bizantino esperava ajuda dos cristãos do 
Ocidente para impedir o avanço turco-otomano em 
direção ao seu território; 
• a Igreja Católica sonhava em ampliar e fortalecer seu 
poderio e uma vitória nas Cruzadas certamente lhe 
garantiria prestígio; 
• a nobreza feudal começava a sentir os efeitos do 
crescimento populacional, vendo suas terras se tornarem 
insuficientes para legar aos filhos; buscavam, assim, 
ampliar seus domínios territoriais; 
• os comerciantes das cidades italianas viram nas Cruzadas 
a chance de restabelecer os contatos com o Oriente, 
recuperando o acesso ao rentável comércio de 
especiarias; 
• os marginalizados não tinham nada a perder: ao aderir às 
Cruzadas, ganhavam importância social e, possivelmente, 
riqueza. 
• Com estas palavras o papa conclamou os cristãos 
europeus a participarem do movimento cruzadista: 
“Deixai os que outrora estavam acostumados a se 
baterem, impiedosamente, contra os fiéis, em guerras 
particulares, lutarem contra os infiéis [...] Deixai os que até 
aqui foram ladrões, tornarem-se soldados. Deixai aqueles, 
que outrora se bateram contra seus irmãos e parentes, 
lutarem agora contra os bárbaros,como devem. Deixai os 
que outrora foram mercenários, a baixos salários, 
receberem agora a recompensa eterna. 
Uma vez que a terra que vós habitais, fechada de 
todos os lados pelo mar e circundada por picos de 
montanhas, é demasiadamente pequena à vossa grande 
população: sua riqueza não abunda, mal fornece alimento 
necessário aos seus cultivadores [...] tomai o caminho do 
Santo Sepulcro; arrebatai aquela terra à raça perversa e 
submetei-a a vós mesmos. Essa terra em que, como diz a 
Escritura, ‘jorra leite e mel’ foi dada por Deus aos filhos de 
Israel. Jerusalém é o umbigo do mundo; a terra é mais que 
todas frutífera, como um novo paraíso de deleites. 
“(In VICENTINO, Cláudio. História Geral. São Paulo, 
Scipione, 1997; p.134) 
Entre 1096 e 1270, foram organizadas inúmeras 
Cruzadas como a dos Mendigos, a dos Nobres, a dos Reis e 
a das Crianças, entre outras. Se o sucesso militar não foi 
obtido, pois os cristãos fracassaram diante da resistência 
muçulmana, os efeitos do movimento cruzadista sobre a 
vida europeia entre os séculos XI e XV foram de extrema 
importância. Vale destacar: 
• o restabelecimento dos contatos entre Oriente e 
Ocidente através do mar Mediterrâneo; 
• o renascimento comercial e urbano; 
• o surgimento e fortalecimento de uma nova camada 
social, a burguesia; 
• o enfraquecimento do poder da nobreza feudal. 
 
O comércio e as cidades 
As Cruzadas reabriram o Mediterrâneo ao comércio 
com o Oriente. A partir das cidades italianas de Gênova e 
Veneza, surgiram rotas comerciais que se dirigiam tanto 
para Constantinopla e Alexandria, onde se obtinham as 
especiarias, quanto para o norte da Europa (mares Báltico 
e do Norte), onde essas especiarias eram consumidas. As 
rotas comerciais cruzavam o continente europeu, levando 
e trazendo mercadorias e, obviamente, enriquecendo 
aqueles que se dedicavam à prática do comércio. 
No cruzamento dessas rotas surgiram as feiras – 
locais onde se trocavam mercadorias e onde ocorria o 
câmbio de moedas. Essas feiras, surgidas no interior dos 
domínios feudais, tornaram-se permanentes e receberam o 
nome de burgos (cidades), nas quais viviam mercadores e 
artesãos, que eram abastecidos pela produção rural dos 
servos e que forneciam especiarias e artigos artesanais às 
populações vizinhas. 
Os nobres sofisticaram seus hábitos de consumo, 
desejando, cada vez mais, adquirir as exóticas mercadorias 
orientais. Para isso, concordaram em comutar o pagamento 
das obrigações em produtos ou serviços por dinheiro. Ao 
mesmo tempo, os servos contavam agora com uma 
alternativa de vida melhor, nas cidades. Muitos deles, 
portanto, abandonaram os feudos. A burguesia se fortalecia 
enquanto a nobreza perdia poder. 
Os comerciantes das cidades reuniam-se em 
associações mercantis conhecidas como hansas, das quais 
a mais famosa foi a Hansa Teutônica ou Liga Hanseática, 
que se desenvolveu na região dos mares Báltico e do Norte, 
reunindo mercadores de aproximadamente 80 cidades. 
A vida nas cidades era precária. As residências 
eram mal construídas, as ruas estreitas e sujas, o 
abastecimento de água deixava a desejar. Seus habitantes 
amontoavam-se em pequenos cômodos e estavam sujeitos 
a frequentes ondas epidêmicas. 
Os artesãos dos burgos também formaram 
associações para defender seus interesses. Essas 
associações eram denominadas corporações de ofício: 
reuniam artífices de uma mesma atividade. Cada 
corporação regulamentava a atividade de seus membros, 
controlando qualidade da matéria-prima, os preços de 
venda e, até mesmo, o número de oficiais dedicados a 
certo ofício. 
Nas oficinas artesanais, trabalhavam o mestre – 
proprietário da oficina e dos instrumentos de produção –, os 
aprendizes – jovens que, em troca do aprendizado, 
trabalhavam para o mestre – e os jornaleiros – indivíduos 
remunerados para auxiliar o mestre nas épocas de maior 
trabalho. 
 
Formação dos Estados Nacionais Europeus 
Enquanto nas cidades, a burguesia se desenvolvia 
e se fortalecia, no campo, a nobreza perdia o controle sobre 
a população. Ao mesmo tempo, a fragmentação do poder 
político, típica do feudalismo, prejudicava as atividades 
comerciais, devido à diversidade de padrões monetários, 
pesos e medidas e leis e à cobrança de pedágios nas 
estradas que passavam pelos feudos. 
A burguesia, objetivando remover os obstáculos ao 
pleno desenvolvimento de suas atividades, começou a 
investir na centralização do poder político do rei. Equipou-o 
com um exército mercenário (normalmente, estrangeiro), e 
permitiu que ele impusesse a tributação e a justiça real em 
todo o território e que definisse as fronteiras nacionais. 
A burguesia, preparada para o desempenho de 
atividades burocráticas, compunha parte da burocracia 
necessária para o controle do Estado, agora unificado e 
nacional. 
Em cada região da Europa, o processo de 
formação das Monarquias Nacionais seguiu ritmos e 
padrões diferentes. 
A formação da monarquia francesa 
A fragmentação do Império Carolíngio, promovida 
pelo Tratado de Verdun, foi seguida por uma fase de 
consolidação dos amplos poderes da nobreza. A partir do 
século XII, porém, quando a Europa começou a viver um 
rápido processo de transformações da estrutura feudal, 
houve uma tendência à centralização política no antigo 
território dos francos. 
A dinastia capetíngia, substituta da carolíngia, foi a 
responsável pela tarefa de superar a autonomia dos 
senhores feudais, instalando progressivamente um poder 
real forte e de caráter nacional. O rei Filipe Augusto (1180-
1223) foi o grande artífice da centralização política 
francesa, graças à irrecusável colaboração financeira da 
burguesia: organizou um exército nacional e permanente, 
expandiu as fronteiras do reino e criou um imposto nacional 
para subsidiar os gastos do Estado. No reinado de Luís IX 
(1226-1270), foi instituíram-se uma moeda nacional e 
tribunais reais – última instância de apelação, superando os 
tribunais locais. Filipe IV (1285-1314) prosseguiu a tarefa 
centralizadora herdada de seus antecessores e, entrando 
em choque com a Igreja, conseguiu fortalecer ainda mais 
os poderes do rei. 
A formação da monarquia inglesa 
O processo de centralização do poder político na 
Inglaterra seguiu um caminho diferente do da França. No 
século IX, o território inglês foi invadido pelos normandos, 
chefiados por Guilherme, o Conquistador. O poder central 
na Inglaterra nasceu forte: o rei, chefe militar, conseguiu 
impor um rígido controle sobre a nobreza britânica. 
A dinastia Plantageneta, substituta daquela 
fundada por Guilherme, no entanto, não foi capaz de 
manter a supremacia do poder central sobre os poderes 
locais dos nobres. Ao longo dos séculos XII-XIV, assistiu-se à 
uma lenta fragmentação dos poderes na Inglaterra. Os 
monarcas que mais contribuíram para isso foram: 
Ricardo Coração de Leão (1189-1198), cujo 
envolvimento nas Cruzadas o tornou um rei ausente, o que 
favoreceu as intenções particularistas dos nobres. 
João Sem Terra (1199-1216), que, em 1215, foi 
obrigado a jurar a Magna Carta. Devido aos gastos 
excessivos desse rei e do aumento dos impostos por ele 
promovidos, a nobreza conseguiu impor um documento 
que estabelecia que o rei não poderia criar nem aumentar 
impostos sem autorização prévia do Grande Conselho dos 
nobres. Limitava-se, assim, a autonomia financeira do 
Estado inglês. 
 
 
Magna Carta 
Henrique III, em cujo reinado nasceu o Parlamento 
inglês (1295) 
A formação da monarquia portuguesa 
A expansão marítimo-comercial europeia dos 
séculos XV e XVI, responsável pela chegada dos europeus à 
América, inseriu-se no quadro de crise do 
feudalismo europeu de fins da Idade Média. O papel 
pioneiro desempenhado por Portugal nesse processo está 
ligado às condições de superação dessa crise pelos 
lusitanos. A precoce centralização do poder político 
(formação da monarquia nacional)em Portugal foi decisiva 
para a superação dos entraves feudais que dificultavam o 
pleno desenvolvimento comercial da região. 
Portugal e a Guerra de Reconquista 
A Península Ibérica, situada no extremo oeste do 
continente europeu, esteve, ao longo de sua história, 
exposta a invasões. Seus primeiros habitantes – celtas e 
iberos – eram originários do norte da África. No século IX 
a.C., os fenícios, povo de navegadores e comerciantes, 
ocuparam a região, que se tornou a colônia de Cartago, 
cidade mercantil do norte africano. Ao final das Guerras 
Púnicas (século III a.C.), a vitória de Roma sobre os 
cartagineses determinou a incorporação da península 
ao Império Romano. No século V, as invasões germânicas, 
que contribuíram para o esfacelamento desse império, 
deram início ao domínio visigodo. Finalmente, no século VIII, 
os árabes muçulmanos, conhecidos na região 
como mouros, invadiram a península, onde permaneceram 
por cerca de mil anos. 
Os ibéricos sempre lutaram contra o domínio árabe, 
mas, a partir do século XI, essa luta converteu-se em guerra: 
a Guerra de Reconquista – processo que marcou 
profundamente a história portuguesa. 
Na Península Ibérica da Idade Média, graças à 
ocupação muçulmana, o feudalismo típico da Europa 
centro-ocidental não chegou a se cristalizar em todos os 
seus elementos. Havia uma incipiente centralização do 
poder em torno do rei já durante a Baixa Idade Média. 
O poder dos nobres, mesmo em seus domínios, era 
limitado pela autoridade real. O rei, para garantir a 
continuidade da luta contra os mouros, não concedia terras 
em caráter hereditário à nobreza. Com o objetivo de 
neutralizar o desejo de autoridade absoluta dos nobres, o rei 
oferecia relativa independência às cidades que estavam 
menos sujeitas ao controle senhorial. Finalmente, a servidão 
na Península Ibérica foi mais flexível que em outras partes da 
Europa medieval: o engajamento dos camponeses na luta 
contra os mouros determinou a escassez de mão de obra, 
obrigando os senhores feudais a remunerar os servos para 
obter trabalhadores. O “assalariamento” dos camponeses 
aumentava a produção agrícola, garantindo o 
abastecimento dos soldados em luta. 
Além disso, o ruralismo da economia feudal não se 
verificou de maneira tão forte em Portugal. Apesar da 
importância da produção agrária, fundamentada em 
azeite, cereais e vinho, desenvolveu-se no litoral lusitano 
uma significativa atividade marítimo-comercial, baseada 
na pesca, que fortaleceu o setor burguês da sociedade, 
interessado em superar as fracas características feudais que 
existiam na região. 
Portugal surgiu como reino independente em 1139. 
Da luta contra os mouros na Península Ibérica nasceram 
quatro reinos: Aragão, Castela, Leão e Navarra. Afonso VI, 
rei de Castela, obteve importantes vitórias contra os árabes 
e, para isso, contou com o apoio militar de alguns nobres 
franceses, que viam a Reconquista como uma forma 
de Cruzada. Entre eles, destacaram-se os irmãos Raimundo 
e Henrique de Borgonha. Em troca do auxílio oferecido ao 
rei de Castela, receberam as terras tomadas dos mouros. D. 
Henrique de Borgonha tornou-se senhor da região 
compreendida entre os rios Minho e Douro, 
denominada condado Portucalense, que, no entanto, 
permanecia sob jurisdição de Castela. Seu filho, D. Afonso 
Henriques, o Conquistador, expandiu as fronteiras do 
condado, vencendo os mouros, e atingiu a foz do rio Tejo, 
onde atualmente se encontra a cidade de Lisboa. 
Rompendo a tradição medieval, D. Afonso Henriques 
proclamou, em 1139, a autonomia do condado em relação 
à Castela, e se tornou o primeiro rei de Portugal, fundador 
da dinastia de Borgonha. 
Os monarcas da dinastia de Borgonha mantiveram 
a tendência centralizadora do poder e a submissão da 
nobreza iniciada por D. Afonso I. A expansão territorial 
prosseguiu: o domínio lusitano foi estendido até o sul da 
Península. 
Ao longo do século XIV, a burguesia comercial 
fortaleceu-se em detrimento do enfraquecimento da 
nobreza. Isso se deveu, sobretudo, à grave crise que assolou 
a Europa nesse século e que foi responsável pela superação 
do feudalismo europeu. Em virtude da crise agrícola, de 
ondas epidêmicas e de guerras, a população sofreu 
drástica redução. Isso resultou na intensificação da 
exploração dos servos, o que gerou revoltas camponesas. O 
clima de insegurança generalizou-se pelo continente, 
levando os mercadores da Itália e de Flandres a substituírem 
as rotas terrestres pela marítima. Com isso, as cidades 
portuárias de Lisboa e Porto ganharam importância, 
servindo de escala para as embarcações que navegavam 
pelo Mediterrâneo. A burguesia dessas cidades ganhou 
prestígio e riqueza. 
Por outro lado, os conflitos sociais no campo, motivados 
pela intensificação da exploração dos servos imposta pelos 
senhores, afrouxaram os laços de servidão e enfraqueceram 
a nobreza feudal. 
A Revolução de Avis 
O último rei da dinastia de Borgonha, D. Fernando, 
morreu em 1383 e não deixou filho homem. D. Beatriz, sua 
filha mais velha, era casada com o rei de Castela, D. João I. 
Se ela assumisse o trono lusitano, Portugal perderia sua 
autonomia, retornando ao domínio castelhano. Para evitar 
que isso ocorresse, houve uma intensa mobilização de 
diversos setores da sociedade lusa – sobretudo da 
burguesia, que desejava manter seu progresso econômico -
, opondo-se frontalmente à nobreza feudal do país, que 
desejava reduzir a autoridade do rei. 
Enquanto a crise sucessória não se resolvia, D. 
Leonor, viúva de D. Fernando, assumiu o trono português, 
mostrando grande simpatia pela causa castelhana. A 
burguesia, liderada por Álvaro Pais e Nuno Álvares, passou a 
exigir que a coroa fosse cedida a D. João, Mestre de Avis, 
irmão bastardo de D. Fernando. O povo, estimulado pela 
burguesia, aclamou D. João, rei de Portugal. Os castelhanos 
invadiram o país, dando início a uma guerra civil: de um 
lado, enfileiravam-se as tropas de Castela e a nobreza 
fundiária; de outro, encontrava-se a burguesia comercial, a 
nobreza militar e a população pobre do campo e das 
cidades. Em 1385, após intensos conflitos, D. João foi 
oficialmente aclamado rei de Portugal 
pelas Cortes reunidas em Coimbra. A paz com Castela foi 
formalizada em 1411. 
A Revolução de Avis marcou o fim do processo de 
centralização política em Portugal: a nobreza, derrotada 
pela burguesia, submeteu-se à autoridade do rei que, por 
sua vez, defendia os interesses dos grupos mercantis. 
Nasceram, assim, as condições favoráveis para a expansão 
do comércio e para as navegações portuguesas. 
Assim, Portugal conseguiu, antes das demais nações 
europeias, centralizar fortemente o poder político em mãos 
do rei, condição necessária à expansão ultramarina. 
A crise do século XIV 
No século XIV, o feudalismo entrou em sua fase de 
agonia. Durante a Baixa Idade Média, o rápido crescimento 
populacional acabou sendo lentamente absorvido pelo 
comércio, pela melhoria das técnicas de cultivo e pela 
ampliação das áreas agrícolas, permitindo ao feudalismo 
uma sobrevida de três séculos. A partir do século XIV, a lenta 
contaminação da estrutura feudal por tais transformações 
havia comprometido a base do sistema, fadando-o à 
queda. 
Fatores externos ao feudalismo foram responsáveis 
pela aceleração de seu declínio, especialmente a 
acentuada queda da população ocorrida no início do 
século XIV. O declínio demográfico decorreu sobretudo da 
onda de fome que assolou a Europa, devido às más 
colheitas, e aos surtos epidêmicos, principalmente a Peste 
Negra, que dizimaram a população europeia no final da 
Idade Média. 
O decréscimo populacional levou ao aumento da 
exploração dos servos no campo e, consequentemente, à 
eclosão de rebeliões camponesas conhecidas 
como jacqueries. Ao mesmo tempo, restringiu o comércio, 
graças ao declínio do mercado consumidor. 
A Guerra dos Cem Anos(1337-1453) foi um 
elemento agravante nesse quadro de crise. Esse conflito 
envolveu a França e a Inglaterra e teve como causas 
imediatas: 
• a disputa pela posse da Flandres – região possuidora da 
mais numerosa indústria de tecidos da Europa. Importava a 
lã inglesa, enriquecendo os nobres ingleses. Os franceses, 
objetivando substituir a Inglaterra nesse lucrativo comércio, 
tentavam invadir a região; 
• a presença de feudos do rei da Inglaterra em território 
francês, que os reis da França, em pleno processo de 
fortalecimento de sua autoridade, almejavam anexar. 
A guerra desenrolou-se de forma equilibrada e 
devastadora por mais de um século, gerando insegurança 
e aprofundando os sintomas de crise vividos pela economia 
europeia. 
Pode-se concluir que a crise do século XIV significou 
a incompatibilidade entre o dinamismo econômico 
manifestado a partir do século XI e a estrutura estática do 
feudalismo. Esse sistema, por suas próprias características, foi 
incapaz de conviver com um acelerado ritmo de 
crescimento econômico e, consequentemente, 
desintegrou-se. A resposta à crise do século XIV foi a 
expansão marítima europeia, que buscava mercados e 
metais que mantivessem em ritmo acelerado o crescimento 
econômico europeu. Foi assim que nasceu o capitalismo 
comercial.

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