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1 Gabrielle Nunes MORFOLOGIA UCXIII NEUROMA TRAUMÁTICO Neuroma de amputação ou pseudoneuroma: tumor do tecido nervoso (não neoplásico) decorrente de um reparo ineficiente do SNP, por regeneração hiperplásica de nervo seccionado. Epidemiologia: mais frequente em jovens, mas pode surgir em qualquer idade; traumas e amputações são as causas mais comuns, mas pode-se observar associação com arteriovenosa, mordeduras e queimaduras. MECANISMOS DE LESÃO AOS NERVOS PERIFÉRICOS LACERAÇÕES Resultam de lesões cortantes e podem complicar quando um fragmento ósseo proveniente de uma fratura lacera um nervo. AVULSÕES Ocorrem quando se aplica uma lesão em um nervo periférico, geralmente como resultado de uma força empregada em um dos membros. REPARO DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO A recuperação funcional do nervo seccionado depende muito da facilitação encontrada pelo alinhamento das células de Schwann onde as extremidades ficam justapostas. • Essa regeneração é caracterizada por brotamento e alongamento de prolongamentos a partir de cotos axonais proximais. Se há espaço maior entre as extremidades, com coágulo que induz neoformação de tecido conjuntivo, as células de Schwann formam cordões desorganizados, e os axônios regenerados, vindos do coto proximal, não são orientados para atingirem os túneis nos segmentos distais e, assim, chegarem corretamente ao seu destino. Muitos axônios passam a ter um trajeto anômalo e formam estruturas plexiformes, com fibras nervosas que chegam, às vezes, a formar pequena tumoração, geralmente dolorosa, conhecida como neuroma de amputação. HISTOPATOLOGIA Lesão é formada por massa bem definida e não encapsulada de numerosos axônios e células de Schwann embebidas em tecido cicatricial/fibroso próximo ao nervo lesado. Dedos supranumerários mostram quadro histológico de neuroma traumático, podendo este resultar de amputação intrauterina. Em resumo, o neuroma traumático consiste em uma mistura desordenada de axônios, células de Schwann e tecido conjuntivo. Infiltrado inflamatório crônico rico em macrófafagos Hemácias fora dos vasos NERVOS SAUDÁVEIS NEUROMAS TRAUMÁTICOS POUCO AFETADO Preservação da arquitetura fascicular notando-se grandes fascículos individualizados e envolvidos por perinêurio. A principal alteração é a diminuição da população de axônios mielínicos de grande calibre, restando pequenos axônios e axônios amielínicos. MUITO AFETADO 2 Gabrielle Nunes Na área mais afetada, além das alterações axonais, prevalece perda da arquitetura fascicular, com muitos pequenos fascículos não envolvidos por perinêurio e orientados em várias direções, em meio a denso tecido fibroso cicatricial. OVOIDE LINK: http://anatpat.unicamp.br/nptneuroma1.html CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Manifesta-se como um pequeno tumor subcutâneo, único ou múltiplo, às vezes doloroso, podendo associar-se à anestesia local. http://anatpat.unicamp.br/nptneuroma1.html 3 Gabrielle Nunes NEUROMA DE MORTON CONSIDERAÇÕES Neurite digital plantar ou metatarsalgia de morton: É considerada uma neuropatia compressiva e tem como característica o espessamento (fibrose perineural), proliferação vascular e degeneração nervosa em torno do nervo interdigital plantar. Ocorre com mais frequência entre o 3º e 4º pododáctilo. Quando acomete o 1º e o 2º metatarso é denominado NEUROMA DE JOPLIN. PATOGENIA É uma síndrome de aprisionamento de nervos, causada por pinçamento/ aprisionamento crônico do nervo pelo ligamento intermetatarsal transverso profundo. ETIOLOGIA Ocorre comumente em adultos do sexo feminino e provavelmente está relacionada a posição do pé em sapatos de salto alto ou devido a isquemia (pressão crônica no pé) ou trauma repetitivo por sapatos inapropriados. • Outros contribuintes: excesso de peso, atividade física intensa ou traumas repetitivos EPIDEMIOLOGIA: Geralmente ocorre em indivíduos de meia-idade (35-65 anos) e geralmente em mulheres; uni ou bilateral (15%); APRESENTAÇÕES CLÍNICAS METATARSALGIA: Produz dor característica no antepé, levando o paciente, em algumas ocasiões, a retirar o sapato e massagear os dedos. Essa dor irradia-se para os dedos, podendo ocorrer fenômenos parestésicos nas áreas inervadas pelos ramos nervosos envolvidos e sensação de queimação. • Fatores de piora: Sapatos antifisiológicos (compressão) • Pesquisar dor na articulação MTF – não é típico do Morton, pensar em outro diagnóstico (sinovite MTF) EXAME FÍSICO: É caracterizado pela presença do SINAL DE MULDER: A compressão laterolateral do antepé que desencadeia o quadro doloroso, com irradiação da dor ou hiperestesia no trajeto do nervo digital entre o 3º – 4º dedos- a dor é desencadeada pelo deslocamento do neuroma. • Podemos ter a presença de um “clique” quando as cabeças dos metatarsianos são manualmente comprimidas entre si. MACROSCOPIA Há espessamento ou edema fusiforme do nervo digital plantar em sua bifurcação, com espessamento dos tecidos tendossinoviais adjacentes. Há fibrose perineural do nervo digital plantar. O nervo é afetado geralmente no nível da cabeça metatarsal. MICROSCOPIA ACHADOS HISTOPATOLÓGICOS: Proliferação vascular: espessamento, fibrose, hialinização e trombose dos vasos sanguíneos; paredes vasculares com redução da luz; Fibrose perineural: espessamento e hialinização das paredes epi e endoneural; proliferação de células de Schwann e fibroblastos; Degeneração das fibras nervosas: desmielinização e acentuado esgotamento dos axônios dentro do nervo digital > diminuição no número e diâmetro das fibras mielínicas. Deposição de material eosinofílico amorfo; Não há infiltrado inflamatório; LÂMINAS 4 Gabrielle Nunes EXAMES DE IMAGEM DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: deve incluir radiculopatias lombares, síndrome do túnel do tarso, fratura de estresse dos metatársicos, calosidades plantares associadas a dedos em martelo ou em garra, doença de Freiberg, neurites periféricas e neuropatias, bursites intermetatársicas, artrite reumatóide, tumor metatársico e tumores de partes moles do antepé. RAIO-X Geralmente não permite a visualização do neuroma, mas auxilia a excluir outras causas de compressão ou dor, ou seja, faz diagnóstico diferencial das metatarsalgia. ULTRASSOM Corresponde ao exame de primeira escolha: Baixo custo, fácil acesso e faz diagnóstico, localização e avaliação das dimensões do neuroma. OBS: Para avaliação do sistema musculoesquelético é ideal a utilização de transdutores de alta frequência – melhor para tecidos moles, lineares e com baixa profundidade. Método operador dependente. ACHADOS NA USG CORTE TRANSVERSAL: Característica de massa: Lesão hipoecoíca – mas pode ser mista, redonda (fusiforme), de contornos regulares e bem definidos no espaço intermetatarsal proximal à cabeça do metatarso; • Não é compressível (sólidos); • Espessura normal < 2mm • Espessura patológica > 5mm USG COM DOPPLER: pra diferenciar o neuroma da bursite (vascularização periférica); no neuroma, por ser um tecido fibrótico a vascularização pode ou não aparece e quando apresenta essa vascularização difusa; • BURSITE INTERMETATARSAL: espessamento do tecido sinovial (sinovite). RESSONÂNCIA É um exame de alta precisão e pode ser solicitado em: USG duvidosa; casos de recidiva pós-cirúrgica; ACHADOS NA RM CORTE CORONAL É um corte axial aparente; SOLICITAÇÃO: RM coronal em T1; Característica do achado: gordura e músculo em hipersinal e neuroma com hiposinal bem delimitado (descrever dimensões); Uso do T2 com saturação de gordura: diagnóstico diferencial de neuroma x bursite (realce total devidoao conteúdo líquido); • Apaga a gordura e o que é líquido fica mais evidente (bursite com realce periférico x neuroma com realce mais difuso); TRATAMENTO CONSERVADOR: mudança de calçados (retorno em 3 meses para avaliar resposta) e do estilo de vida, AINEs, injeção corticosteróides (deve ser feita apenas uma vez, devido à atrofia gordurosa e mudanças na pigmentação da pele. CIRÚRGICO: • Dorsal: 80% de bons resultados = técnica mais usada. Secção do nervo e supultamento de sua extremidade na cápsula articular ou músculos interósseos. Fazer secção do ligamento transverso. • Plantar: menos utilizado devido à possibilidade de cicatriz plantar dolorosa. Preferido para neuromas recorrentes. • Secção do ligamento transverso: questionável, pois a avaliação de casos de recidiva mostrou que o ligamento se reconstitui com o tempo LINK: https://www.passeidireto.com/arquivo/68587195/neuroma- traumatico-e-neuroma-de-morton-histopatologia https://www.passeidireto.com/arquivo/68587195/neuroma-traumatico-e-neuroma-de-morton-histopatologia https://www.passeidireto.com/arquivo/68587195/neuroma-traumatico-e-neuroma-de-morton-histopatologia 5 Gabrielle Nunes DORES NEUROPÁTICAS PERIFÉRICAS COMPRESSIVAS SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO Mononeuropatia resultado da compressão do nervo mediano a nível do punho. É mais predominante em mulheres com idade entre 40-60 anos. É causada por qualquer lesão que reduza significativamente o tamanho do túnel do carpo, ou, na maioria das vezes, aumente o tamanho de algumas das estruturas e revestimentos, que o atravessam (p.ex., inflamação das bainhas sinoviais. RELEMBRANDO A ANATOMIA TÚNEL DO CARPO: É a passagem profunda ao retináculo dos músculos flexores entre os tubérculos dos ossos escafoide e trapezoide na região lateral e o osso pisiforme e o hámulo do osso hamato na região medial. Passa por ele o nervo mediano, o paratendão dos músculos flexores superficiais e profundos, ligamento transverso. • Tem composição óssea na base e ligamentar no teto. • Pisiforme e o tubérculo do escafoide, na primeira fila; • Hâmulo do hamato e o trapézio, na segunda fila; É uma área bem limitada e o aumento de qualquer um dos componentes pode aumentar a pressão intratunal levando a compressão do nervo mediano. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O nervo mediano é a estrutura mais sensível do túnel e ele é o responsável por emitir dois ramos sensitivos terminais que suprem a pele da mão; portanto, pode haver nos três dedos e meio laterais: • Parestesia (formigamento); • Hipoestesia (diminuição da sensibilidade) ou anestesia (ausência de sensibilidade); • Pode haver perda progressiva da coordenação e da força do polegar; A sensibilidade cutânea palmar não é afetada porque o ramo do nervo mediano que supre essa área tem origem proximal e não atravessa o túnel do carpo. AVALIAÇÃO POR MÉTODOS DE IMAGEM O diagnóstico de imagem é importante nos casos duvidosos e, especialmente, nos sintomas recorrentes ou não aliviados após a liberação cirúrgica do túnel do carpo. ELETRONEUROMIOGRAFIA Mais comumente usado para a confirmação diagnóstica; Padrão ouro, no qual o tempo de latência do nervo mediano demonstra uma acurácia muito boa para a detecção da STC. RX E TC Representam valor diagnóstico limitado, exceto pela avaliação da estenose óssea do carpo e calcificações de partes moles. Corte longitudinal: espessamento lateral do nervo; Corte transversal: aumento global do diâmetro do fascículo; CORTE TRANSVERSAL (AXIAL) RM Aumento do sinal do nervo nas imagens ponderadas em T2; Espessamento do nervo na altura da primeira fileira do carpo; Achatamento do nervo na altura da segunda fileira do carpo Abaulamento do retináculo; Padrão normal: Padrão fascicular do nervo. A partir do exame é possível medir as dimensões dos fascículos, não podendo passar de 0,10cm; Padrão patológico: dimensões acima de 0,10cm e perda da ecogenicidade normal do fascículo; 6 Gabrielle Nunes DORES NEUROPÁTICAS PERIFÉRICAS INFLAMATÓRIAS HANSENÍASE GENERALIDADES É uma doença crônica, causada pela bactéria Mycobacterium leprae, a qual é única bactéria que invade os nervos. Caracteriza-se por alteração, diminuição ou perda da sensibilidade térmica, dolorosa, tátil e força muscular, principalmente em mãos, braços, pés, pernas e olhos e pode gerar incapacidades permanentes. Transmitida de pessoa a pessoa que possua o bacilo; Período de incubação: 6 meses-6anos; O curso e as formas clínicas da doença são determinados pelo grau de resposta imunitária. QUADRO CLÍNICO HANSENÍASE TUBERCULOIDE: A pele apresenta pequenas lesões papuloides e a placa apresenta anestesia térmica, dolorosa e tátil. A paralisia só se instala quando as disfunções sensitivas já estiver avançada. QUANDO CLÍNICO HANS. VIRCHWIANA: Não apresenta manchas visíveis, pele avermelhada, seca, infiltrada; apresenta pápulas, nódulos, hansenomas e madarose; o quadro afeta vísceras como fígado, baço, adrenais, testículos, medula óssea e globo ocular; HISTOPATOLOGIA A FIBROSE DO NERVO É UMA DAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA HANSENÍASE: a bactéria gera estímulos a síntese de metaloproteases (MMP), assim como, induz transdiferenciação das células de Schwann em miofibroblastos, o que pode também estar envolvido na intensa deposição de colágeno nos nervos afetados. Expressão excessiva da quimiocina fibrogênica CCL2 foi detectada em nervos, podendo também contribuir para a fibrose. HANSENÍASE TUBERCULOIDE Há alto grau de resposta imunitária (Th1), limitando a proliferação e a disseminação dos bacilos, que são dificilmente detectados. Há mono ou polineurite e granulomas com células epitelioides e gigantes, células mononucleadas e, ocasionalmente, necrose caseosa. Infiltrado linfocitário na periferia. Os nervos estão parcial ou totalmente destruídos por tecido fibrosos. Há preferência por nervos superficiais por terem temperatura mais baixa, o que favorece o crescimento bacilar. Os nervos afetados, como os nervos ulnar, mediano, facial, auricular posterior e sural, apresentam-se endurecidos e espessados. Raros ou nenhum bacilo dentro dos nervos devido a grande resposta inflamatória. HANSENÍASE VIRCHOWIANA É a forma mais contagiosa da doença e ocorre quando os macrófagos são incapazes de destruir dos bacilos. Associa-se a baixo grau de resposta imunitária e disseminação hematogênica dos microrganismos, levando a polineuropatia simétrica com perda sensitiva, inicialmente para temperatura e dor. OS BACILOS PROLIFERAM ABUNDANTEMENTE DENTRO DE MACRÓFAGOS, DANDO- LHES ASPECTO ESPUMOSO (CÉLULAS DE VIRCHOW). O CARÁTER VACUOLADO DAS CÉLULAS DE VIRCHOW É DADO PELOS BACILOS E POR LÍPIDES. Infiltrado de macrófagos, poucos linfócitos e grande de bacilos no citoplasma de células de Schwann (especialmente nas adjacentes a axônios amielínicos), macrófagos, células perineurais e endoteliais. Baciloscopia altamente positiva (IB=0-6+); Multibacilar 7 Gabrielle Nunes No interior dos fascículos os bacilos (em forma de bastonetes) podem ser bem demonstrados pela coloração de Ziehl-Neelsen. Estão livres ou no interior de células, onde formem acúmulos, as globias. Desmielinização e perda axonal predominantemente das fibras mielínicas pequenas e amielínicas, fibrose endoneural e perineural, e espessamento da parede capilar. As lesões da hanseníase virchowiana nos nervos são menos destrutivas que as da tuberculóide, por não haver necrose caseosa. VARIEDADES DA HANSENÍASE VIRCHOWIANA LUCIO E ALVARADO: Caracteriza-se por vasculite acentuada, com proliferação endotelial e trombose nos vasos de médio calibre e da hipoderme. Oclusão vascular provocando necrose isquêmica, infartos hemorrágicos e ulcerações. Comprometimentovisceral acentuado. HISTIOIDE: Caracteriza-se por lesões com aspecto queloidiano que surge na fase recidiva da doença. Geralmente acomete paciente que, durante o tratamento tornaram-se suforresistentes. Macrófagos indiferenciados, não vacuolados, dispostos em feixes e redemoinhos. Histopatologia: histiócitos fusiformes e um grande número de bacilos. DIAGNÓSTICO A biópsia de nervo, comumente dos nervos sural, radial superficial ou ramo dorsal do ulnar, é um meio importante de se diagnosticar a hanseníase nas formas neurais puras, quando as lesões cutâneas não estão claramente definidas, e para se avaliar a efetividade do tratamento, já que há casos de regressão da lesão cutânea com persistência das manifestações neurais, inclusive com bacilos viáveis no nervo. EXAMES DE IMAGEM SÍTIOS DE ACOMETIMENTO: nervo ulnar na região do cotovelo no túnel cubital e pré e pós-túnel, o nervo mediano no túnel do carpo e pré-túnel, o nervo fibular comum na altura da cabeça e do colo da fíbula, e o nervo tibial no túnel do tarso. ULTRASSONOGRAFIA Mais objetiva e eficiente; Possibilita o estudo de múltiplos nervos e de longos segmentos dos nervos periféricos; Relativamente barata e acessível; ACHADOS: Espessamento neural, desarranjo focal da arquitetura fascicular e hipoecogenicidade do nervo; Aumento de vascularização intraneural e perineural (Doppler). 8 Gabrielle Nunes Espessamento considerável do nervo; RESSONÂNCIA MAGNÉTICA Também é capaz de evidenciar o espessamento neural; Aumento do sinal em T2; Realce neural após injeção de contraste (Gadolínio); Podem ser identificados linfonodos inflamatórios. 9 Gabrielle Nunes DOR NEUROPÁTICA CENTRAL HISTOPATOLOGIA HERPES ZOSTER Observa-se no gânglio afetado intenso infiltrado linfocitário, necrose de neurônios e neuronofagia, proliferação reacional das células satélites, além de necrose e trombose de pequenos vasos intraganglionares. Como o vírus se estende à medula espinal via raíz posterior, o segmento correspondente ao gânglio acometido pode mostrar mielite aguda. ENCEFALITE HERPÉTICA Histologicamente, as lesões são as das encefalites virais em geral: necrose de neurônios corticais, neuronofagia e células grânulo- adiposas. Muitos neurônios e células da glia apresentam inclusões virais, intranucleares e intracitoplasmáticas. Em pacientes que ultrapassaram a fase aguda nota-se atrofia e gliose dos lobos temporais, podendo mostrar cistos. INFECÇÕES CRANIANAS: HERPES SIMPLES Ocasionalmente, o herpes-vírus infecta um gânglio da raiz dorsal. Essa infeção causa dor forte no segmento dermatômico suprido pelo gânglio, desencadeando tipo de dor segmentar que circunda em faixa o hemicorpo. A doença é chamada herpeszóster ou “cobreiro”, devido às erupções cutâneas que geralmente surgem. ENCEFALITE POR HERPES Corresponde as encefalites esporádicas mais comuns (20%), apresentam alta mortalidade (50-70%). ETIOLOGIA: Adultos: 95% dos casos é o herpes simples tipo l (HSV-1). Pelo menos 70% dos casos de encefalite por HSV-1 resultam da reativação do vírus latente a partir do gânglio trigeminal. Porém cerca de um terço dos casos são decorrentes de infecção primária. Neonatal: 80-90% dos casos pelo herpes simples tipo II (HSV-2). QUADRO CLÍNICO: O espectro de acometimento neurológico varia desde neurite isolada, com acometimento predominante do quinto, sétimo e oitavo nervos cranianos, até crises epilépticas febris ou secundárias a meningoencefalite necro-hemorrágica, principalmente no sistema límbico e nos lobos temporais. Adultos: cefaleia, alteração do estado mental, com redução do estado de consciência, associada a déficit neurológico focal (ex. paralisia facial, afasia, hemiplegia), crise epiléptica e febre; Neonatal: manifestações inespecíficas de dificuldade para sugar, irritabilidade, letargia e crises epilépticas. Pode estar associada a infecção disseminada, com manifestações hepáticas, adrenais e de outros órgãos. DIAGNÓSTICO: PCR do líquido cerebroespinhal e no tecido encefálico; eletroencefalograma (EEG); RM; HISTOPATOLOGIA: encefalite necrotizante hemorrágica aguda pelo HSV-1, com reconhecido tropismo pelas estruturas do sistema límbico, estendendo-se ao lobo temporal medial, córtex insular e à região orbitofrontal posterior. Congestão severa com necrose tecidual importante associada à hemorragia cortical, geralmente com acometimento bilateral, porém assimétrico; Infiltrado de linfócitos e macrófagos As lesões evoluem com zonas de liquefação por necrose, que se tornam cavitadas e resultam em marcada atrofia. Partículas virais são demonstráveis por imuno-histoquímica por até três semanas após o início da infecção. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA HSV-1: Normal em casos precoces ou serem evidentes áreas hipoatenuantes que expandem o lobo temporal e produzem certo efeito expansivo local. Com a progressão da doença pode observar áreas de necrose hemorrágica; Quadro avançado/sequelas: Encefalomalacia multicística, atrofia e calcificação parenquimatosa. Degeneração reticular no topo da vesícula, resultando em uma vesícula multiocular. Em maior aumento, as células tumefactas exibem cromatina pálida homogênea característica e moldagem do núcleo. 10 Gabrielle Nunes HSV-2: Áreas hipoatenuantes na substância periventricular RESSONÂNCIA Método mais sensível e pode apontar alterações até poucas horas após o inicio dos sintomas. ENCEFALITE PELO HSV-I LOBOS TEMPORAL E FRONTAL SÃO MAIS ACOMETIDOS. ESTÁGIOS PRECOCES: edema no córtex temporal medial, na substância branca dos lobos temporais e na porção inferior dos frontais, caracterizado por hipersinal em T2/FLAIR, com expansão das regiões acometidas. A impregnação pelo contraste ocorre geralmente com padrão giriforme e é menos frequente nas fases mais precoces, tornando-se proeminente com a progressão da doença. DIFUSÃO (movimentação das moléculas de água): útil para o acompanhamento da resposta ao tratamento. ENCEFALITE PELO HSV-2 Perda da distinção entre as substâncias branca e cinzenta. T2: necrose hemorrágica cortical e as calcificações podem ser caracterizadas por hiposinal; Áreas de difusibilidade restrita também podem ser detectadas nas fases precoces. (A)FLAIR; (B)DIFUSÃO (mais sensível que o flair e o T2); O emprego da difusão deve ser prioritário para valorização dos achados precoces e também para o melhor acompanhamento da resposta terapêutica. Imagens axiais de TC sem contraste (A e B) evidenciam hipoatenuação difusa da substância branca cerebral. Imagens axial de RM em T1 (C) e sagital T2 (D) demonstra a alteração difusa do sinal da substância branca e dos tálamos, delimitando algumas áreas de encefalomalacia multicística DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL - Encefalite autoimune (límbica) - Meningoencefalite - Neoplasia - Infarto - Estado pós-crise epiléptica - Neurossífilis TC sem contraste, em corte axial: Edema de substância branca do lobo temporal (áreas hipodensa). Áreas de hemorragia: córtex hiperdenso. Herniação do uncus para a cisterna supraquiasmática. VÍRUS DA VARICELA-ZÓSTER O vírus da varicela-zóster (VZV) pode causar duas manifestações clínicas diferentes: a varicela e o herpes-zóster. São doenças caracterizadas basicamente por manifestações cutâneas, em que o envolvimento do SNC é bastante raro em indivíduos imunocompetentes. 11 Gabrielle Nunes Vírus pode ficar em latência em núcleos de nervos cranianos, usualmente no trigêmeo, ou em gânglios de raízes espinais dorsais. ACHADOS CLÍNICOS E LABORATORIAIS COMPLICAÇÕES em IMUNODEPRIMIDOS: pode associar-se a encefalite,meningite asséptica, encefalomielite pós-infecciosa e ataxia cerebelar aguda. Neurite, mielite e/ou herpes oftálmico, com envolvimento do ramo oftálmico do nervo trigêmeo; AIDS: leucoencefalite multifocal, ventriculite, meningoencefalite aguda, mielite necrotizante focal e angiite necrotizante com envolvimento de artérias leptomeníngeas, levando a infartos cerebrais. ACHADOS DE IMAGEM TOMOGRAFIA Não é tão útil: mesmo com contraste, constituem alterações encefálicas bastante sutis e raramente observadas. RESSONÂNCIA ACHADOS Lesões subcorticais do tipo placas, demonstrando rápida desmielinização e lesões ativas que podem realçar após a administração de gadolínio. Edema e hemorragias podem estar presentes; Hipersinal focal ou segmentar no tronco encefálico e substância cinzenta supratentorial T2/FLAIR: Na meningoencefalite: áreas de hipersinal no córtex; ENCEFALITE NECROTIZANTE Aspecto em alvo em T2/FLAIR; nervos cranianos envolvidos espessados e hiperintensos; A administração de gadolínio e a inclusão de sequências ponderadas em Tl com cortes finos e supressão de gordura são importantes para a caracterização do envolvimento de nervos cranianos e o acometimento leptomeníngeo. Imagem axial T1 com saturação de gordura pós-gadolínio (A) demonstra impregnação pelo contraste da porção intracanalicular do oitavo nervo craniano direito, com extensão ao gânglio geniculado (seta). Imagem coronal T1 pós-gadolínio (B) com impregnação do sétimo e do quinto nervos cranianos direitos (setas). TUMORES DE BAINHA NEURAL Os tumores de bainha neural vão acometer três tipos de células: células de Schwann; células perineurais; células fibroblástica; Os dois principais tipos de tumores são o schwannoma e neurofibroma que são diferenciadas por: composição celular, padrão de crescimento e síndromes associadas. QUAL PRINCIPAL DIFERENÇA? O schwannoma cresce deslocando os axônios do nervo e no tumor propriamente dito não há axônios. Os axônios podem ser observados na periferia do tumor ou na capsula. No neurofibroma as células tumorais proliferam-se entre os axônios, divulsionando-os. Os métodos de imagem são úteis no diagnóstico, no entanto, é necessário avaliar o histopatológico para diferenciar em neurofibroma ou schwannoma. EPIDEMIOLOGIA Pacientes da terceira e quarta década de vida Não possuindo predileção por sexo 5% das neoplasias benignas de partes moles NEUROFIBROMA GENERALIDADES Os neurofibromas são tumores benignos da bainha dos nervos periféricos que incorporam e expandem os nervos acometidos. Podem originar-se desde a raiz dorsal do gânglio até os ramos nervosos terminais de qualquer nervo. O quadro está associados à neurofibromatose em 10% dos casos. São tumores únicos ou múltiplos de consistência macia, semigloboso ou pediculado; geralmente são indolores e com coloração semelhante a da pele ou violáceos. Apresentam padrão de crescimento imprevisível e usualmente desenvolvem-se desde a infância até a vida adulta. Uma taxa aumentada de crescimento pode ser observada na puberdade e durante a gravidez. Geralmente tem crescimento lento, < 5cm e são indolores. As lesões de grandes nervos permanecem no epineuro e têm cápsula verdadeira. As lesões de pequenos nervos tendem a ultrapassar o epineuro, mas ficam bem circunscritas. 12 Gabrielle Nunes PODEM SER DE 3 TIPOS: NEUROFIBROMAS PLEXIFORMES (NFP): Tem predileção por plexos nervosos (grandes troncos nervosos: braquial, lombossacral). O envolvimento é difuso ao longo do segmento neural de seus ramos, com expansões tortuosas (‘bola de vermes”. ACHADO PATOGNOMÔNICO NOS EXAMES DE IMAGEM e relacionado com a neurofibromatose tipo 1. Não é possível separar a lesão dos nervos (ao contrário do schwannoma) Filetes nervosos espessados e tortuosos DIFUSO: Lesão mal delimitada na gordura, se infiltram ao longo dos septos de tecido conjuntivo. MORFOLOGIA MACROSCOPICAMENTE: São lesões circunscritas/fusiformes, mas não encapsuladas, compostas por células alongadas distribuídas em uma matriz mucoide ou entre feixes de tecido colágeno. Células de Schwann (desorganizadas e dispersas), fibroblastos e células perineurais em uma matriz de fibras colágenas e substância mucoide. MICROSCOPICAMENTE: Células alongadas/ fusiformes e onduladas em disposição na matriz frouxa e pálida. Não há a arquitetura compacta em feixes observada nos schwannoma. ACHADOS O USO DE GADOLÍNEO É ESSENCIAL PARA A AVALIAÇÃO RADIOLÓGICA: IMPREGNAÇÃO EM ALVO (Periferia hiperintensos, centro hipointenso e áreas tumorais heterogêneas). Lesão expansiva dentro da raiz nervosa (neurofibroma) x lesão mais periférica e não localizada dentro do nervo TRATAMENTO: Cirúrgico, mas não é possível separá-los do nervo, exigindo uma excisão completa do tumor e do nervo. SCHWANNOMA Tumores benignos, originados das células de Schwann, os quais são os tumores mais comuns de nervos periféricos, incluindo nervos cranianos. Possuem capsula verdadeira; A maioria surge no ângulo ponto cerebelar, onde estão ligados com o VIII par craniano. São em sua maioria esporádicos e solitários, sua apresentação clínica varia conforme a localização. Geralmente, os sintomas estão associados ao efeito de massa local ou disfunção do nervo de onde eles surgem. Tem crescimento lento e não infiltra o cérebro, mas pode causar distorção considerável do tronco cerebral. ACHADOS HISTOPATOLÓGICOS ANTONI A • ANTONI B ACHADOS DE IMAGEM • Massas bem circunscritas, que empurram estruturas adjacentes • Degeneração cística e gordurosa são comuns, calcificações são raras; • Hipossinal em Tl e hipersinal heterogéneo em T2; • Impregnação homogénea pelo gadolínio quando pequenos e heterogéneo quando grandes, devido a necrose ou hemorragia; • Podem estar associados a schwannomas de outras regiões. 13 Gabrielle Nunes Imagens da coluna lombar no plano sagital T2 (C) e T1 pós-Gd (D) evidenciam múltiplos nódulos ao longo das raízes da cauda equina compatíveis com schwannoma. NEUROFIBROMATOSE Doença genética autossômica dominante causada por uma má formação da proteína neurofibromina (proteína relacionada com o controle da proliferação celular. O gene relacionado com a doença é o NF1, um gene extenso e de fácil mutação. A perda da função da neurofibromina pode resultar em um controle inadequado da proliferação e diferenciação celulares, determinando a ocorrência de lesões na pele manchas "café com leite" e neurofibromas, bem como displasias mesodérmicas (ectasia durai e lesões ósseas) e tumores do SNC, principalmente gliomas. EPIDEMIOLOGIA ADULTOS: a sintomatologia está presente em praticamente 100%, alguns com sintomas brandos, outros com manifestações mais intensas. CRIANÇAS: sintomas vão surgindo e se intensificando com a idade. NEONATOS: Menos da metade apresenta algum sintoma. Apesar de ser uma doença genética, alguns casos podem ser os primeiros na família a partir de mutações. TIPO I Além dos sintomas principais, temos: • Sardas axilares ou inguinais • Nódulos de Lisch ( íris) • Tumor do nervo óptico (glioma) • Problemas de aprendizagem • Deformidades esqueléticas • Neurofibroma plexifome (massas ao redor de grandes nervos TIPO II Além dos sintomas principais, temos: • Neurinomas do acústico (tumores do nervo auditivo) • Schwannomas • Neuropatia intratável • Meningeomas • Opacidade do cristalino (catarata) Além disso, uma outra particularidade é que esse tipo de NF tem os seus sintomas se iniciando quando o indivíduo é um jovem-adulto geralmente. DIAGNÓSTICO CRITÉRIOS DO NIH PARA DIAGNÓSTICO DA NF1 O diagnóstico da doença se baseia na presença de dois ou mais dos critérios a seguir: 1. Seis ou mais manchas“café com leite” a) Maiores que 1,5cm de diâmetro na fase pós-puberal b) Maiores que 0,5cm na fase pré-puberal 2. Dois ou mais neurofibromas de qualquer tipo ou um ou mais neurofibromas plexiformes (NFP) 3. Sardas nas regiões axilares ou inguinais (sinal de Crowe) 4. Glioma óptico 5. Dois ou mais nódulos de Lisch (hamartomas retinianos) 6. Uma lesão óssea típica: displasia da asa do esfenoide ou afilamento cortical de um osso longo, com ou sem pseudoartrose 7. Parente de primeiro grau com diagnostico de NF1 pelos critérios descritos
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