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AULA IV - Ensino de História e Culturas Afro-brasileira, Africana e Indígena

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Prévia do material em texto

Relações étnico-raciais, ensino de 
História e Culturas Afro-brasileira, 
Africana e Indígena
APRESENTAÇÃO
O Brasil é um país fortemente marcado pela diversidade étnico-racial decorrente da presença das 
matrizes indígena, europeia e africana ao longo da história. As Leis Federais ns. 10.639/2003 e 
11.645/2008 constituem marcos na legislação brasileira e afirmam justamente a necessidade de 
se pensar uma educação que reconheça e valorize as diferentes visões de mundo, as experiências 
históricas e a contribuição dos diferentes povos na formação cultural da sociedade brasileira. 
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar sobre a importância das matrizes indígena, 
europeia e africana na formação histórica e cultural do Brasil, além de conhecer as Leis ns. 
10.639/2003 e 11.645/2008 e compreender de que forma o ensino de História pode se configurar 
numa importante via para a concretização da cidadania e do respeito às diferenças.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Reconhecer a importância das matrizes indígena, europeia e africana na formação histórica 
e cultural do Brasil.
•
Analisar o histórico das Leis ns. 10.639/2003 e 11.645/2008.•
Identificar as possibilidades de trabalho acerca das culturas afro-brasileira, africana e 
indígena por meio do ensino de História.
•
DESAFIO
Passados mais de 10 anos desde a criação da Lei nº 10.639/2003, o que se percebe na prática 
escolar, ainda, é o despreparo para trabalhar com as temáticas afro-brasileiras em sala de aula, 
juntamente com o desconhecimento, por parte dos professores, de uma historiografia que 
reconheça os negros em seu papel de protagonismo ou, então, a manutenção de materiais 
didáticos que os deixem à margem da História do Brasil.
Em meados dos anos 1970, por exemplo, ocorreu no Brasil um fenômeno da juventude 
escolarizada pelo regime militar, dos jovens negros motivados pelos Direitos Civis conquistados 
nos Estados Unidos com o Movimento Black Power, as guerrilhas na África e o surgimento de 
novos países africanos de língua portuguesa. Esses jovens negros brasileiros empreenderam um 
esforço de apropriação das questões políticas e sociais dos negros norte-americanos e em 
diálogo com uma África – imaginada –, assim, diante do fracasso do projeto integrador dos anos 
1960, organizaram-se em grupos que promoviam os Bailes Black. Artistas como Tony Tornado, 
Wilson Simonal e King Combo destacaram-se com suas performances musicais revestidas de 
cunho político, no que viria depois a ser conhecido como o Movimento Black Rio, conforme 
você pode ver no vídeo a seguir:
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
 
Você, professor de uma escola pública de Ensino Fundamental, sabe que a História do Brasil é 
marcada por diversos recortes historiográficos como esse, mas que, no entanto, continuam 
desconhecidos no contexto escolar e na sociedade. Além disso, o livro didático disponibilizado 
em sua escola não traz contextualizações para além daquelas do período colonial brasileiro.
Dessa forma, escreva um texto, amparado pelo que é previsto na Lei nº 10.639/2003, que 
explique os seguintes pontos:
1. Como professor, qual o seu papel diante das histórias como a do Movimento Black Rio, 
abordada no vídeo? 
 
2. Qual o seu papel junto ao corpo docente e à comunidade escolar? 
 
3. Como desenvolver aulas que problematizem essa ausência historiográfica do livro didático?
INFOGRÁFICO
Com a Lei nº 10.639/2003, que posteriormente foi alterada para Lei nº 11.645/2008, pela 
primeira vez na história do ensino de História, Arte e Literatura, temáticas dedicadas aos 
africanos e aos afro-brasileiros perpassariam, ao menos oficialmente, para além da passividade e 
da escravidão, na medida em que foram enfatizados o ensino e a aprendizagem da “luta” do 
povo africano e de seus descendentes e suas contribuições para a formação social, política, 
cultural e econômica do Brasil.
No Infográfico a seguir, clicando em cada um dos anos, é possível ver os eventos que 
contribuíram para a criação das Leis Federais ns. 10.639/2003 e 11.645/2008. 
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
CONTEÚDO DO LIVRO
O Brasil é um país marcado pela diversidade, a começar pelas suas características naturais, ou 
seja, a pluralidade dos povos que formam a sua população e a heterogeneidade dos aspectos 
históricos e culturais que formam o mosaico da sociedade brasileira. Em outros termos, pode-se 
dizer que a formação do povo brasileiro é decorrente da presença e das relações entre povos 
indígenas, africanos e imigrantes europeus.
Para saber mais, acompanhe a leitura do capítulo Relações étnico-raciais, ensino de História e 
Culturas Afro-brasileira, Africana e Indígena, da obra Estudos culturais e antropológicos, que 
serve como base teórica desta Unidade de Aprendizagem.
Boa leitura.
ESTUDOS 
CULTURAIS 
ANTROPOLÓGICOS
Guilherme Marin
Relações étnico-raciais, 
ensino da história e 
cultura afro-brasileira, 
africana e indígena
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 Reconhecer a importância das matrizes indígena, europeia e africana 
na formação histórica e cultural do Brasil.
 Desenvolver uma abordagem sobre o histórico das Leis nº 10.639/2003 
e nº 11.645/2008.
 Abordar as possibilidades de trabalho acerca da cultura afro-brasileira,
africana e indígena através do ensino de história.
Introdução
O Brasil é um país fortemente marcado pela diversidade étnico-racial de-
corrente da presença das matrizes indígena, europeia e africana ao longo 
da história. As Leis Federais nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008 constituem 
marcos na legislação brasileira e afirmam justamente a necessidade de se 
pensar uma educação que reconheça e valorize as diferentes visões de 
mundo, as experiências históricas e a contribuição dos diferentes povos 
na formação cultural de nossa sociedade. Ao educador cabe conhecer 
os debates existente em torno de tais legislações e pensar um ensino 
que vise promover a igualdade no exercício da cidadania e, sobretudo, 
o respeito às diferenças. Concebemos que o ensino de história pode se
configurar em importante via para a concretização das temáticas em
pauta, conforme você vai ver ao longo deste texto.
Relacoes_Etnico-raciais.indd 1 22/09/2017 14:27:01
A importância das matrizes indígena, europeia 
e africana na formação histórica e cultural do 
Brasil
O Brasil é um país marcado pela diversidade, a começar pelas suas carac-
terísticas naturais, a pluralidade dos povos que formam a sua população e a 
heterogeneidade dos aspectos históricos e culturais que formam o mosaico 
da sociedade brasileira. Em outros termos, podemos dizer que a formação do 
povo brasileiro é decorrente da presença e das relações entre povos indígenas, 
africanos e imigrantes europeus (TRENNEPOHL, 2014). Para acompanhar 
esse processo de formação, partiremos do aspecto retrospectivo, tecendo uma 
breve caracterização das diversas etnias que contribuíram para a constituição 
do povo brasileira, porém, sempre tendo em vista que nesse caminho não 
houve nada de pacífi co, pois os diversos grupos sociais se relacionaram de 
maneiras diferenciadas.
A costa atlântica, ao longo de milênios, foi percorrida e ocupada por inume-
ráveis povos indígenas que disputavam os melhores lugares para se alojarem. 
Nos últimos séculos, porém, os índios de fala tupi, bons guerreiros, instalaram-
-se ao longo de toda a costa atlântica pelo Amazonas acima, subindo pelos 
rios principais, como o Paraguai, o Guaporé e o Tapajós até suas nascentes. 
Configuraram, desse modo, a ilha Brasil, prefigurando o que viria a ser o 
nosso país (RIBEIRO, 1995).
O legado indígena começou com a inspiração para a construção das pri-
meiras casas portuguesas, seguindo com a rede para dormir, o banho de rio, o 
uso da mandioca na alimentação, cestos de fibras de vegetais e um numerosovocabulário nativo, principalmente tupi, associado às coisas da terra: no nome 
dos lugares, nos vegetais e na fauna (FRANTZ; TRENNEPOHL, 2014).
Mas as contribuições indígenas não param por aí. A primeira contribuição 
dos povos indígenas teve início logo após a chegada dos portugueses, uma vez 
que os índios, pacificados e dominados, ensinaram-lhes as primeiras formas 
de sobrevivência na selva, como lidar com várias situações perigosas nas 
matas e como orientar-se nas diversas expedições realizadas (SURUÍ, 2017). 
Nas expedições empreendidas pelos desbravadores e colonizadores portu-
gueses, os indígenas fizeram-se presentes como guias e serviçais, conforme 
atestam vários registros documentais da época. Ao longo de toda a história 
da colonização brasileira, os povos indígenas estiveram ora como aliados na 
expulsão de outros invasores estrangeiros, ora como mão de obra nas frentes 
de expansão agrícola ou extrativista (SURUÍ, 2017).
Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena2
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Além disso, os índios, através de sua forte ligação com a floresta, descobri-
ram nela uma variedade de alimentos, como a mandioca (e suas variações como 
a farinha, o pirão, a tapioca, o beiju e o mingau), o caju e o guaraná, utilizados 
até hoje em nossa alimentação. Esse conhecimento das populações indígenas 
em relação às espécies nativas é fruto de milhares de anos de conhecimento da 
floresta. Neste âmbito, eles experimentaram o cultivo de centenas de espécies 
como o milho, a batata-doce, o cará, o feijão, o tomate, o amendoim, o tabaco, 
a abóbora, o abacaxi, o mamão, a erva-mate e o guaraná (PROGRAMA DE 
DOCUMENTAÇÃO DE LÍNGUAS E CULTURAS INDÍGENAS, 2012).
Outro benefício que faz parte da herança indígena diz respeito às florestas, 
plantas e ervas medicinais. O conhecimento da flora e das propriedades das 
plantas os fez utilizá-las nos tratamentos de doenças. Por exemplo, a alfavaca, 
que tem função antigripal, diurética e hipotensora, ou o boldo, que é digestivo, 
antitóxico, combate a prisão de ventre e que pode ser usado também nas 
febres intermitentes, são descobertas dos índios ainda utilizadas por muitas 
pessoas no cotidiano (PROGRAMA DE DOCUMENTAÇÃO DE LÍNGUAS 
E CULTURAS INDÍGENAS, 2012).
Os portugueses, provenientes da Península Ibérica (na Europa), possuíam 
no rol de suas experiências culturais o contato com povos fenícios, gregos, 
romanos, judeus, árabes, visigodos, mouros, celtas e africanos. É deles o 
idioma português, principal veículo da cultura brasileira e, por extensão, da 
cultura greco-romana, marco da civilização ocidental. Deles provém a religião 
católica, com seus anjos e santos, depois simbioticamente unidos a entidades 
de religiões africanas (FRANTZ; TRENNEPOHL, 2014).
Em termos culturais, podemos elencar várias contribuições lusitanas à 
formação cultural brasileira. No que se refere ao calendário, pode-se dizer 
que as duas festas mais difundidas no Brasil, o carnaval e as festas juninas, 
só chegaram aqui por intermédio dos portugueses. Chamada inicialmente 
de ‘joanina’ por homenagear São João, as festas dos santos populares, como 
são conhecidas em Portugal, acabaram virando festa junina, incorporada aos 
costumes locais brasileiros. Outros exemplos de festas populares que tem o pé 
em Portugal são a Festa do Divino, a Farra do Boi e a Folia de Reis (MUNDO 
LUSÍADA, 2016).
Além das festas populares, o folclore brasileiro também sofreu grande 
influência do folclore lusitano, incorporando uma série de criaturas e seres 
mágicos que faziam parte do imaginário do povo português, tais como o 
bicho-papão, a cuca e o lobisomem. Diversas danças brasileiras também 
vieram de Portugal. Destaque para o maracatu, o fandango e a caninha-verde. 
Ritmo musical tradicional do Nordeste, especialmente nas cidades de Olinda e 
3Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena
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Recife, no estado de Pernambuco, acredita-se que o maracatu tenha chegado 
ao Brasil pela mão dos portugueses por volta de 1700. Já o fandango, dança 
em pares que tem raiz no Barroco, adentrou no país cerca de meia década 
depois e permanece popular até hoje no Sul. Outra modalidade de dança de 
pares, a caninha-verde é ainda mais antiga, tendo sido introduzida durante o 
Ciclo da Cana-de-Açúcar em regiões canavieiras por todo o país. Atualmente 
é considerada típica do Ceará (MUNDO LUSÍADA, 2016).
Outra grande herança portuguesa para a cultura brasileira são as cantigas 
de roda, que eram bastante comuns em Portugal na época do descobrimento. 
Músicas clássicas como Escravos de Jó, Sapo Cururu e Roda Pião, além das 
populares Atirei o Pau no Gato e Ciranda-Cirandinha, são todas de origem lusi-
tana. Muitos dos pratos hoje considerados típicos da gastronomia brasileira são 
nada menos que resultado de adaptações da culinária portuguesa às condições 
do Brasil Colônia. Alguns exemplos são a feijoada, o quindim, o caldo verde, 
a cachaça e, claro, a bacalhoada. Do mesmo modo, várias frutas, legumes e 
verduras naturais de Portugal foram trazidos para serem plantados em terras 
brasileiras e, com isso passaram a ser introduzidos nas comidas daqui, como 
jaca, fruta-do-conde, coco, manga, couve, pepino, alface, cebola e alho, entre 
vários outros, além dos condimentos e ervas (MUNDO LUSÍADA, 2016).
A influência africana no processo da formação da sociedade brasileira 
começou a ser delineada pelo tráfico negreiro, com o qual milhões de africanos 
deixaram, forçadamente, o continente africano e despontaram no Brasil para 
exercer o trabalho escravo (FERREIRA, 2013). Para garantir o controle sobre 
eles, separaram-nos, dificultando a comunicação e a fuga. Mesmo assim, 
tornaram-se a principal força de trabalho no Brasil, contribuindo para o desen-
volvimento da economia brasileira durante os primeiros séculos (FRANTZ; 
TRENNEPOHL, 2014).
O escravo africano era um elemento de suma importância no campo eco-
nômico do período colonial, sendo considerado “[...] as mãos e os pés dos 
senhores de engenho porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar 
e aumentar fazenda, nem ter engenho corrente [...]” (ANTONIL, 1982, p. 89 
apud FERREIRA, 2013). Em outros termos, para os portugueses, a escravidão 
era necessária para a execução de seu projeto de desenvolvimento. 
Contudo, a contribuição africana no período colonial foi muito além do 
campo econômico, uma vez que os escravos souberam reviver suas culturas 
de origem e recriaram novas práticas culturais através do contato com outras 
Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena4
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culturas. Além da prática cultural diferenciada ressaltada, os africanos, ainda, 
incorporaram algumas práticas europeias e indígenas, além de influenciá-los 
culturalmente. O intercâmbio cultural entre os elementos citados contribuiu 
para uma formação cultural afro-brasileira híbrida e bastante peculiar (FER-
REIRA, 2013).
É válido destacar que os africanos não constituíam um grupo homogêneo 
entre si. Apesar da origem diversa dos escravos africanos, dois grupos se desta-
caram no Brasil: os bantos e os sudaneses. Os bantos foram assim classificados 
devido à relativa unidade linguística dos africanos oriundos de Angola, Congo 
e Moçambique. No Brasil, bantos e sudaneses se misturaram, resultando em 
cruzamentos biológicos, culturais e religiosos (FERREIRA, 2013). 
Segundo Paiva (2001, p. 36):
Misturavam-se informações, assim como etnias, tradições e práticas 
culturais. Novas cores eram forjadas pela sociedade colonial e por ela 
apropriadas para designar grupos diferentes de pessoas, para indicar 
hierarquização das relações sociais, para impor a diferença dentro de 
um mundo cada vez mais mestiço. Da cor da pele à dos panos que a 
escondia ou a valorizava até a pluralidademulticor das ruas coloniais, 
reflexo de conhecimentos migrantes, aplicados à matéria vegetal, mineral, 
animal e cultural. 
Assim, é possível perceber que as relações culturais estabelecidas entre 
os povos africanos propiciaram a construção de uma identidade cultural bra-
sileira ou uma cultura afro-brasileira (FERREIRA, 2013), uma vez que eles 
não tiveram medo de “inventar códigos de comportamentos e de recriarem 
práticas de sociabilidade e culturais” (PAIVA, 2001). Assim, este cruzamento 
foi resultado de um longo processo que propiciou uma riqueza cultural peculiar 
ao Brasil (Figuras 1 e 2).
Por fim, é válido considerar que as três matrizes étnicas aqui analisadas 
são partes constitutivas da formação histórica e cultural brasileira. Cada 
um, à sua maneira, exerceu contribuições significativas para a constituição 
do mosaico cultural de nosso território e, como pudemos observar, não de 
forma homogênea ou pacífica, mas sim fortemente heterogênea e também 
repleta de contradições. Eis aqui uma pequena parte da origem do Brasil que 
conhecemos e ao qual pertencemos. 
5Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena
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Figura 1. Jogo de Capoeira: mescla de movimentos de artes marciais 
e musicalidade, de origem africana, praticado no Brasil desde o 
século XVI. Em novembro de 2014, recebeu o título de Patrimônio 
Cultural Imaterial da Humanidade, pela UNESCO.
Fonte: Will Rodrigues/Shutterstock.com
Figura 2. A forte presença indígena na cultura brasileira.
 Fonte: Filipe Frazao/Shutterstock.com
Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena6
Relacoes_Etnico-raciais.indd 6 22/09/2017 14:27:02
Roda de Capoeira: Patrimônio da Humanidade 
Uma das manifestações culturais mais conhecida no Brasil e reconhecida no mundo, a 
Roda de Capoeira recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. O 
título foi concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a 
Cultura (UNESCO). Após votação durante a 9ª sessão do Comitê Intergovernamental para 
a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial, a Roda de Capoeira ganhou oficialmente o título.
Originada no século XVII, em pleno período escravista, a capoeira desenvolveu-se 
como forma de sociabilidade e solidariedade entre os africanos escravizados, estratégia 
para lidarem com o controle e a violência. Hoje, é um dos maiores símbolos da iden-
tidade brasileira e está presente em todo território nacional, além de ter praticantes 
em mais de 160 países, em todos os continentes. 
A Roda de Capoeira e o Ofício dos Mestres de Capoeira tiveram o reconhecimento do 
IPHAN como Patrimônio Cultural Brasileiro em 2008 e estão inscritos, respectivamente, 
no Livro de Registro das Formas de Expressão e no Livro de Registro dos Saberes. O 
Patrimônio Cultural Imaterial abrange expressões de vida e tradições de toda parte do 
mundo que ancestrais passam para seus descendentes. Segundo a UNESCO, embora 
procure manter uma identidade e continuidade, esse patrimônio é vulnerável porque 
muda constantemente.
Por isso, a comunidade internacional adotou a Convenção para a Salvaguarda do 
Patrimônio Cultural Imaterial em 2003. O documento legal define o que é Patrimônio 
Cultural Imaterial, além de definir também o comitê e os métodos de trabalho dele 
(Portal Brasil, 2014).
Uma abordagem sobre o histórico das leis nº 
10.639/2003 e nº 11.645/2008
Em 2003, concretizou-se uma antiga reivindicação dos movimentos negros com 
a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana 
nas instituições públicas e privadas do Brasil, a partir da promulgação da Lei 
Federal 10.639/2003. 
[...] Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, 
oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura 
Afro-Brasileira. 
§ 1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo 
incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros 
no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade 
7Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena
Relacoes_Etnico-raciais.indd 7 22/09/2017 14:27:02
nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, 
econômica e política pertinentes à História do Brasil. 
§ 2 Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão 
ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas 
de Educação Artística e de Literatura e História Brasileira [...] (BRASIL, 2003). 
Com a Lei, que posteriormente foi alterada para Lei nº 11.645/2008, pela 
primeira vez na história do ensino de História, Arte e Literatura temáticas 
dedicadas aos africanos e afro-brasileiros perpassariam, ao menos oficialmente, 
para além da passividade e da escravidão, na medida em que fora enfatizado 
o ensino e aprendizagem da “luta” do povo africano e de seus descendentes e 
suas contribuições para a formação social, política, cultural e econômica do 
Brasil (MURINELLI, 2012).
A década de 1980 é demarcada como sendo de grande luta de movimentos 
em favor da causa afrodescendente e do combate à desigualdade racial e aos 
preconceitos. Na década seguinte, as temáticas ligadas às questões étnico-
-raciais passaram a ter mais importância dentro dos debates políticos. É somente 
nessa década, por exemplo, que a mídia, a sociedade, o governo da União e 
as instituições escolares se voltaram, de fato, para essas questões e passaram 
a discuti-las de modo mais apropriado e profundo. 
Nesse mesmo período histórico, outras políticas públicas especificamente 
voltadas para a população afrodescendente foram criadas, como, por exemplo, 
a instauração do Movimento Pré-Vestibular para Negros e Carentes (PVNC), 
inicialmente no Estado do Rio de Janeiro, com a intenção de promover a 
entrada nos alunos negros nas universidades públicas. A Marcha Zumbi dos 
Palmares, no ano de 1995, também contribuiu para que o Estado brasileiro 
voltasse seus olhos para as lutas anti-racistas, forçando, a partir de então, o 
reconhecimento público da existência do racismo no Brasil e incentivando, 
assim, uma ação mais diretiva no sentido de se discutir o problema e realizar 
algumas medidas de combate ao racismo. 
No ano de 1996, o Governo da União lançou o Programa Nacional de 
Direitos Humanos, isto é, um documento que estabelece um conjunto de 
metas para promover os Direitos Humanos, de modo geral, e a luta contra a 
discriminação racial de modo específico. No conjunto dessas proposições, 
encontravam-se ações afirmativas para negros e outras propostas de políticas 
públicas, voltadas para a superação da discriminação racial e exclusão social 
que impediam muitos brasileiros de se tornarem cidadãos.
Foi a partir do contexto constitucional que o deputado Paulo Paim apre-
sentou à Câmara Federal a proposição de lei que seria o princípio da Lei nº 
Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena8
Relacoes_Etnico-raciais.indd 8 22/09/2017 14:27:02
10.639/2003, muito embora tal projeto tenha sido arquivado em 1995. Todavia, 
uma das grandes conquistas foi a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação Nacional – LDB – 9.394/1996 e os Parâmetros Curriculares Nacionais 
(PCNs). De acordo com essas leis, vemos o tema Pluralidade Cultural, em 
que se enfatiza a necessidade de trabalho e compreensão das diversas culturas 
que formam a sociedade brasileira, defendendo a tolerância e a diversidade 
étnica e cultural.
Na década de 2000, presenciou-se uma intensificação dos debates acerca 
da questão étnico-racial no Brasil. O ponto culminante se deu com o envol-
vimento do Estado e, por conseguinte, com a participação do Brasil na “III 
Conferência Mundial Contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia 
e Intolerância Correlata”, organizada pela ONU e realizada em Durban, naÁfrica do Sul, no ano de 2001 (MURINELLI, 2012).
Conforme aponta Marques (2014), a Conferência de Durban fortaleceu as 
entidades do Movimento Social Negro, demonstrando a necessidade de se 
implantar, no Brasil, ações afirmativas e políticas de combate ao racismo e às 
desigualdades étnico-raciais. Ainda segundo a autora, apesar de ser possível 
identificar avanços significativos para a população negra, especialmente garan-
tidos por meio de legislações advindas do governo Fernando Henrique Cardoso 
e fortalecidos nos mandatos de Luis Inácio Lula da Silva, a desigualdade entre 
negros e brancos ainda permanece. A ideologia etnocêntrica é hegemônica e 
ainda dita muitos dos princípios e regras da educação brasileira. 
Em suma, convém destacar que a Lei nº 10.639/2003 é fruto do Projeto 
de Lei nº 259/99, proposto na Câmara dos Deputados pelo então Deputado 
Federal pelo PT/MS Eurídio Benhur Ferreira, ativista do Movimento Negro 
de Campo Grande (Grupo TEZ Trabalho - Estudos Zumbi), e pela Deputada 
Federal Ester Grossi (PT/RS). Com a aprovação daquela Casa de Leis, foi 
enviado ao Senado da República no dia 05 de abril de 2003 e, no dia 09 de 
maio de 2003, sancionado (MARQUES, 2014).
Segundo Marques (2014, p. 558):
 A referida lei representou um avanço significativo no campo do cur-
rículo e, consequentemente, no trabalho docente, na medida em que 
disciplina a educação das relações étnico-raciais, quando entende que é 
imprescindível que as práticas escolares reflitam sobre o etnocentrismo 
e enfrentem o racismo, o preconceito e a discriminação racial, por muito 
tempo marginalizados no contexto das escolas do Brasil. 
9Relações étnico-raciais, ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena
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 Em 2008, após pressões dos movimentos indígenas e indigenistas no Brasil, 
obteve-se a aprovação da Lei nº 11.645/2008, na qual as mesmas orientações 
com relação às temáticas afro-brasileiras e africanas foram destinadas às 
temáticas indígenas. Desse modo, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional (9394/96), no que diz respeito à diversidade cultural brasileira, em 
seu Artigo 26-A, passou a ter a seguinte redação:
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino 
médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e 
cultura afro-brasileira e indígena. 
§ 1º. O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá 
diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação 
da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o 
estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos 
indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio 
na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições 
nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. 
§ 2º. Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos 
povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o cur-
rículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura 
e história brasileira. (BRASIL, 2008).
Freitas (2010) tece uma importante consideração: a inclusão da experiência 
indígena no ensino de história é um direito dos indígenas e também dos não 
indígenas. Como entender essa generalização? A resposta, conforme o autor, 
está no cultivo da necessária ideia de diversidade: nossos filhos têm o direito 
de saber que não estão sozinhos no mundo e que a escola, a TV, os livros, a 
feira, o futebol e a cidade não foram inventados, apenas, para o seu próprio 
usufruto e o do seu grupo de amigos e vizinhos. Nossos alunos têm o direito 
de saber que os seus modos e os modos de viver (pensar, agir e sentir) dos 
seus pais não são os únicos possíveis, os principais ou os mais adequados a 
serem reproduzidos dentro de uma mesma escola.
Em suma, nossos filhos e alunos têm o direito de saber que as pessoas são 
diferentes. Eles precisam saber que o mundo é plural e a cultura é diversa. 
Que essa diversidade deve ser conhecida, respeitada e valorizada. E mais, 
eles precisam saber que a diferença e a diversidade são benéficas para a 
convivência das pessoas, a manutenção da democracia e a sobrevivência de 
nossa espécie (FREITAS, 2010).
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As possibilidades de trabalho acerca da cultura 
afro-brasileira, africana e indígena através do 
ensino de história
Após as refl exões aqui tecidas em torno das relações étnico-raciais e as leis nº 
10.639/2003 e nº 11.645/2008, destinaremos esta parte fi nal do texto a elencar 
algumas possibilidades de trabalho e abordagens acerca da cultura afro-
-brasileira, africana e indígena a partir do ensino de história. Compreende-se 
que uma abordagem por meio da História abre perspectivas para pensar as 
temáticas em outras áreas do conhecimento.
Assim, diante da relevância e do dever de ensinar a cultura e a história 
africana, afro-brasileira e indígena, é necessário perguntar: Quais são os 
temas e conteúdo a serem abordados? Quais aspectos da cultura em questão 
devem ser considerados? Quais metodologias e recursos serão necessários 
para trabalhar as temáticas selecionadas?
Conceição (2010) comenta que, com relação aos temas e conteúdos, é 
importante fugir dos estereótipos que demarcam as culturas africana e indí-
gena como sendo algo exótico. É preciso selecionar temas e conteúdos que 
apresentem a valorização das lutas dos negros no Brasil (e no mundo), seus 
diferentes modos de vida, sua cultura, formas de sobrevivência, contribuições 
para a política e para a economia. Através do ensino de história, perpassando 
outras disciplinas, é importante destacar a formação dos Quilombos e das 
comunidades quilombolas no passado e na atualidade. As diferentes formas de 
resistência dos negros no Brasil e o modo como se constituíram, por exemplo, 
os movimentos sociais negros e indígenas na atualidade. 
Observe nos tópicos abaixo outras possibilidades de trabalhos, abordagens 
e significados, conforme listadas por Conceição (2010):
  Candomblé (significado para os afro-brasileiros): praticado no Brasil, 
desde o século XVIII, essa expressão religiosa é caracterizada pelo culto 
aos orixás através de um rico ritual de trocas simbólicas no qual nenhuma 
entidade, bichos, plantas, minerais, homens (vivos e mortos) é excluída 
da busca da força vital ou axé. Como exemplo de preservação da tradição 
de matriz africana, o Candomblé vem sendo ressignificado para os dias 
de hoje. Como já foi visto socialmente? Prática de feitiçaria, animismo; 
motivo de perseguição pela Igreja Católica através do Santo Ofício.
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  Brincadeiras de negro: folguedos, danças e batuques (significado para 
os afro-brasileiros): estratégia disfarçada dos negros para reviver seus 
ritos, cultuar seus deuses e retomar a linha do relacionamento comu-
nitário. Como já foram vistas socialmente? Inicialmente aconselhadas 
pelos colonizadores como estratégia de controle dos negros escravos, 
passou a ser proibida nos textos legais do Império a partir de 1814.
  Capoeira (Significado para os afro-brasileiros): manifestação de ma-
triz africana reelaborada no Brasil a partir do repertório de vivências 
dos africanos e seus descendentes; desde o século XIX faz parte das 
tradições afro-brasileiras. Congrega elementos da ancestralidade afri-
cana e da historicidade dos contextos sociais. Mistura de luta, jogo, 
mandinga, musicalidade e corporalidade, expressa um profundo diálogo 
com a identidade afro-brasileira. Como já foi vista socialmente? Pelo 
Decreto nº 847/1890 do Código Penal da República dos Estados Unidos 
do Brasil foi considerada contravenção penal e somentenos anos 1930 
sai oficialmente da ilegalidade.
Perceba que tais temáticas, embora possam ser privilegiadas no ensino de 
história, podem perpassar outras áreas do saber, e tudo dependerá da cria-
tividade do professor ou do orientador da atividade. Essas são algumas das 
temáticas possíveis de serem trabalhadas. O importante é sempre buscar fugir 
dos estereótipos e mostrar que tais práticas e manifestações são elementos 
fundamentais para a compreensão de nossa própria sociedade.
No que se refere especificamente às temáticas indígenas, listamos a seguir 
algumas possibilidades a partir das reflexões de Silva (2012):
  Considerar sempre a atualidade dos povos indígenas. Ou seja, por 
meio de usos de mapas para localização dos povos indígenas atuais, 
desvincular a ideia de passado colonial em que todos os índios supos-
tamente foram exterminados. O Censo do IBGE/2010 contabilizou a 
população indígena no Brasil em cerca de 900 mil indivíduos – os que 
se autodeclaram índios.
  Dar ênfase nas sociodiversidades indígenas, desmistificando ima-
gens genéricas do “índio”, da chamada “cultura indígena”. É preciso 
discutir as diferentes expressões socioculturais indígenas no passado e 
no presente, questionando a clássica dicotomia ‘Tupi’ versus ‘Tapuia’. 
Sugere-se, por exemplo, utilizar fotografias para demonstrar as socio-
diversidades dos povos indígenas no Brasil.
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 Evidenciar a participação efetiva dos povos indígenas nos diversos
momentos históricos ao longo da história do Brasil, desnaturalizando a 
ideia equivocada da presença do “índio” apenas na época do ‘Descobri-
mento’ ou somente na “formação do Brasil”. Ou seja, problematizando 
o lugar pensado e o ocupado pelos povos indígenas na história do país.
Silva (2012) enfatiza que é interessante, ainda, promover momentos de 
intercâmbio entre os povos indígenas e os estudantes durante o calendário 
letivo, por meio de visitas previamente preparadas do alunado às aldeias, bem 
como de indígenas às escolas. Essa ação deve ser desenvolvida, sobretudo, nos 
municípios onde atualmente habitam povos indígenas, como forma de buscar 
a superação dos preconceitos e as discriminações. 
 “O povo brasileiro” é um documentário elaborado a partir da obra homônima de 
Darcy Ribeiro (1995). Em “O Povo Brasileiro”, o antropólogo Darcy Ribeiro nos conduz 
pelos caminhos da nossa formação como povo e nação. 
Afinal, quem são os brasileiros? Que matrizes nos alimentaram? Que traços nos 
distinguem? A série é uma recriação da narrativa de Darcy Ribeiro em linguagem 
televisiva. Os programas, de 26 minutos cada, discutem a formação dos brasileiros, sua 
origem mestiça e a singularidade do sincretismo cultural que dela resultou. 
Com imagens captadas em todo o Brasil, material de arquivo raro, depoimentos 
de Antonio Cândido, Luis Melodia e Antonio Risério, entre outros, e a participação 
especial de Chico Buarque e Tom Zé, o documentário propicia um debate sobre 
nossas origens, nossos percursos históricos, nossos temas e problemas e também 
nossas perspectivas de futuro. 
Em 1995, lendo os primeiros capítulos dos originais de “O Povo Brasileiro”, Isa Grinspum 
Ferraz sugeriu a Darcy Ribeiro (1922-1997), com quem colaborou por 13 anos, que 
contasse aquela história para mais gente, em programas de televisão. Apesar de já 
muito doente, Darcy aceitou a provocação e, por quatro dias, tornou-se ator de um 
grande depoimento sobre a formação cultural d’O Povo Brasileiro. 
Os capítulos do documentário estão divididos nas seguintes temáticas: Matriz Tupi; 
Matriz Lusa; Matriz Afro; Encontros e Desencontros; Crioulo; Brasil Sertanejo; Brasil 
Caipira; Brasil Sulino; Brasil Caboclo; Invenção do Brasil; O povo Brasileiro.
Direção: Isa Grinspum Ferraz (2000).
Acesse o link ou o código a seguir. 
https://goo.gl/F6uImN 
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BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da 
educação nacional. Brasília: Presidência da República, 1996. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 10 set. 2017.
BRASIL. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro 
de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir 
no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e 
Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 
2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm>. 
Acesso em: 10 set. 2017.
BRASIL. Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro 
de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as 
diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de 
ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. 
Brasília: Presidência da República, 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm>. Acesso em: 10 set. 2017.
CONCEIÇÃO, M. T. O trabalho em sala de aula com a história e a cultura afro-brasileira 
no ensino de história. In: OLIVEIRA, M. M. D. (Org.). História: ensino fundamental. 
Brasília: MEC, 2010. 
FERREIRA, M. C. C. A influência africana no processo de formação da cultura afro-brasileira. 
A Cor da Cultura, 29 mar. 2013. Disponível em: <http://www.acordacultura.org.br/
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artigos/29082013/a-influencia-africana-no-processo-de-formacao-da-cultura-afro-
-brasileira>. Acesso em: 12 ago. 2017.
FRANTZ, J. A.; TRENNEPOHL, V. L. A formação do povo brasileiro. In: TRENNEPOHL, V. 
L. (Org.). Formação e desenvolvimento da sociedade brasileira. Ijuí: Unijuí, 2014. p. 43-60.
FREITAS, I. Experiência indígena no ensino de História. In: OLIVEIRA, M. M. D. (Org.). 
História: ensino fundamental. Brasília: MEC, 2010.. 
MARQUES, E. P. S. Educação e relações étnico-raciais no Brasil: as contribuições das 
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MUNDO LUSÍADA. Cultura brasileira exibe ampla herança portuguesa. Jornal Mundo 
Lusíada, 08 abr. 2016. Disponível em: <http://www.mundolusiada.com.br/cultura/
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MURINELLI, G. R. Narrativas de futuros professores de história sobre os afrobrasileiros no 
contexto do pós-abolição: um estudo em meio a lei federal 10.639/03. 2012. Dissertação 
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“O POVO brasileiro: a formação e o sentido do Brasil” – Darcy Ribeiro. Revista Prosa 
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Acesso em: 10 set. 2017. 
PAIVA, E. F. Escravidão e universo cultural na colônia. Minas Gerais: UFMG, 2001.
PORTAL BRASIL. Roda de capoeira recebe título de Patrimônio da Humanidade. Portal 
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PROGRAMA DE DOCUMENTAÇÃO DE LÍNGUAS E CULTURAS INDÍGENAS. Influência 
da cultura indígena em nossa vida vai de nomes à medicina. [S.l.]: PROGDOC, 2012. 
Disponível em: <http://prodoc.museudoindio.gov.br/noticias/retorno-de-midia/66-
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em: 13 ago. 2017.
RIBEIRO, D. O povo brasileiro. São Paulo: Cia das Letras, 1995. 
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base na Lei 11.645/2008. Revista História Hoje, Rio de Janeiro (ANPUH), v. 1, n. 2, p. 
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TRENNEPOHL, V. L. (Org.). Formação e desenvolvimento da sociedade brasileira. Ijuí: 
Unijuí, 2014.
Leituras recomendadas
FAUSTO, B. História do Brasil. 12. ed. São Paulo: EDUSP, 2006.
FREYRE, G. Casa grande & senzala. São Paulo: Global, 2006.
HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
MATTA, R. O que faz do Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986.
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DICA DO PROFESSOR
As matrizes étnicas do indígena, do branco europeu e do negro africano são partes constitutivas 
da formação histórica e cultural brasileira. Cada um, à sua maneira, exerceu contribuições 
significativas para a constituição do mosaico cultural de nosso território, não de forma 
homogênea ou pacífica, mas, sim, de forma fortemente heterogênea e também repleta de 
contradições. Porém, você sabe o que etnia e diversidade cultural significam?
Acompanhe no vídeo a seguir!
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EXERCÍCIOS
1) Em 2003, uma antiga reivindicação dos movimentos negros se concretizou com a 
obrigatoriedade do ensino de história e culturas afro-brasileira e africana nas 
instituições de ensino públicas e privadas de todo o país, a partir da promulgação da 
Lei Federal no 10.639/2003. É possível afirmar que essa Lei:
A) Propõe a obrigatoriedade do ensino da cultura africana nos estabelecimentos de Ensinos 
Fundamental e Médio da rede pública de ensino. Nos demais estabelecimentos, como os 
privados, a lei permanece de maneira opcional.
B) Institui a obrigatoriedade da história e do ensino das culturas africana e afro-brasileira em 
todos os estabelecimentos de ensino, públicos e privados, no intuito de mostrar as 
diferentes experiências de tais povos que participaram (e participam) da formação de nossa 
sociedade.
C) Institui a obrigatoriedade do ensino da história e das culturas africana e afro-brasileira 
especificamente para a disciplina de História, uma vez que os temas perpassam 
exclusivamente tal disciplina.
Institui a obrigatoriedade do ensino da história e das culturas africana e afro-brasileira D) 
apenas na disciplina de Artes, por entender que somente ela propicia uma abertura para o 
trabalho nessa perspectiva.
E) Institui, de maneira opcional, o ensino da história e das culturas africana e afro-brasileira 
nos estabelecimentos de ensino.
2) Tanto a Lei no 10.639/2003 quanto a Lei no 11.645/2008 (na sua atualização, na qual 
as mesmas orientações foram destinadas às temáticas indígenas) podem ser 
consideradas políticas públicas educacionais de ação afirmativa por terem a seguinte 
finalidade:
A) Promover a reparação, o reconhecimento e a valorização de diferentes grupos que foram 
subjugados por meio, dentre outras medidas, da discriminação, da exclusão ou da 
marginalização da história desses povos.
B) Promover, exclusivamente, a reparação desses grupos que foram discriminados 
historicamente na sociedade brasileira. As políticas afirmativas educacionais servem 
apenas para garantir o ensino da cultura e da história desses povos nas escolas.
C) Promover apenas o reconhecimento da história e das culturas africana, afro-brasileira e 
indígena, porque não há mais nada que se possa fazer com o passado.
D) Prescrever metodologias de ensino e formas de lidar com a cultura dos diferentes povos 
que formaram a sociedade brasileira.
E) Estabelecer apenas um conjunto de reflexões sobre a história da trajetória dos povos 
africanos e indígenas no Brasil. Questões como metodologias, reconhecimento, igualdade, 
valorização da cultura cabem estritamente às escolas da Educação Básica.
A educação para as relações étnico-raciais tem por alvo a formação de cidadãos, 
mulheres e homens empenhados em promover condições de igualdade no exercício de 
direitos sociais, políticos, econômicos, de ser, viver, pensar, próprios aos diferentes 
3) 
pertencimentos étnico-raciais e sociais. De maneira mais específica, pode-se dizer 
que:
A) A educação para as relações étnico-raciais está direcionada apenas para as instituições de 
Ensino Fundamental, pois entende-se que, impondo às crianças os valores de outros povos, 
certamente elas irão respeitá-los no futuro.
B) A educação para as relações étnico-raciais constitui apenas uma formalidade em 
cumprimento às exigências das Leis ns. 10.693/2003 e 11.645/2008.
C) Na educação para as relações étnico-raciais, cada professor é livre para trabalhar qualquer 
temática africana e/ou indígena, desde que realize pelo menos uma atividade no ano letivo.
D) A educação para as relações étnico-raciais prevê apenas abordagens de cunho cultural.
E) A educação para as relações étnico-raciais deve ocorrer em todos os âmbitos educacionais. 
Além disso, deve promover metodologias que auxiliem no desenvolvimento da cidadania, 
no reconhecimento e na valorização das diferentes experiências históricas e culturais que 
formam a sociedade brasileira.
4) A escravidão africana foi uma significativa experiência histórica desenvolvida ao 
longo do Brasil colonial. Nesse sentido, pode-se dizer que os africanos foram 
essenciais para a economia brasileira desse período porque:
A) Consistiam numa escravidão diferente daquela que ocorria em outras regiões colônias, por 
exemplo, nas Antilhas. No Brasil, os africanos recebiam salários pelos seus trabalhos, 
porém, não eram considerados cidadãos.
B) Consistiam na principal mão de obra que os senhores de engenho dispunham para a 
produção extremamente lucrativa do açúcar. Devido a isso, o tráfico de escravos acentuou-
se no Brasil colônia.
C) Consistiam numa mão de obra secundária, porque os indígenas eram os verdadeiros 
responsáveis pelo corte e pelo refino do açúcar.
D) Por meio deles, o açúcar pôde ser comercializado em importantes países da Europa, como 
Holanda, Bélgica e Espanha.
E) Empenharam-se, junto com os indígenas, a partir de uma relação pacífica e politizada, no 
desenvolvimento e no crescimento dos engenhos de açúcar, obtendo, desse modo, uma 
pequena parte do lucro total da produção.
5) A manutenção da identidade de um grupo está relacionada com o cultivo de aspectos 
culturais. Desse modo, pode-se afirmar que uma(algumas) das formas de manutenção 
do construto de uma etnia é(são):
A) A gravação digital de costumes para que possam ser preservados para a posterioridade.
B) O tombamento do local de origem de uma etnia.
C) Os costumes e as tradições, como comemorações que evocam as memórias coletivas ou 
reforçam mitos que constituem o arcabouço interpretativo do grupo.
D) A popularização e a comercialização das características culturais e dos símbolos de uma 
etnia. Isso pode ser observado no comércio de produtos artesanais específicos de uma 
etnia, como as bonecas Karajás.
E) A identidade de um grupo étnico diz respeito apenas à cor da pele.
NA PRÁTICA
É comum, em muitas escolas, que os professores sejam incumbidos de realizar atividades 
relativas ao Dia do Índio. Ocorre que, mesmo após a criação da Lei nº 11.645/2008, devido às 
circunstâncias como o tempo, a necessidade de vencer conteúdos, avaliações e trabalhos, ou até 
mesmo a desinformação, muitos professores acabam por realizar atividades superficiais e 
estereotipadas.
Clique na imagem a seguir e acompanhe como a temática indígena ainda é abordada na prática 
escolar e de queforma pode-se mudar isso.
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SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do 
professor:
No artigo Aprender, ensinar e relações étnico-raciais no Brasil, é possível compreender os 
processos de ensinar e de aprender em meio a relações étnico-raciais e quais os desafios 
para o ensino de história e culturas afro-brasileira e africana.
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Aprofunde seus conhecimentos por meio da leitura do artigo Ensino de história e 
diversidade cultural: possibilidades e desafios, o qual aborda a edição da Lei nº 10.639, de 
2003, que introduziu a obrigatoriedade do estudo da história e das culturas afro-brasileira 
e africana no currículo escolar da Educação Básica, contribuindo para a discussão deste 
tema, possibilitando a ruptura do modelo eurocêntrico no ensino e a construção de uma 
educação multicultural na escola brasileira.
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