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Universidade Federal Fluminense (UFF) / Campus Volta Redonda Disciplina: Escola, Currículo e Interculturalidade Aluna: Beatriz Bitencourt Barbosa Sineiro Artigo: Direitos Humanos, Educação e Interculturalidade/ as tensões entre igualdade e diferença (Vera Maria Candau). Atualmente, o fato de que o mundo está passando por grandes mudanças que ainda não se é de completo entendimento, é cada vez mais aceito. Para muitos, não vive-se apenas uma época de mudanças rápidas e marcantes, e sim uma mudança de época. É de entendimento comum que os direitos humanos representam uma construção da modernidade e que estão repletos de processos, valores, afirmações que a modernidade propôs e as que ela propõe e as que a sociedade deixou de legado e continua estimulando todos a realizar. Entretanto, para muitos outros, os direitos humanos encontram-se em crise devido ao novo contexto cultural, social e econômico, marcado pela globalização e pelos inúmeros impactos das novas tecnologias, ou seja, por esse mundo complexo conhecido popularmente entre muitos como pós-modernidade. Em síntese, toda a base moderna enfatiza a questão da igualdade de todos os seres humanos. A igualdade é vista como a chave para que o entendimento a respeito de toda a luta da modernidade pelos direitos humanos seja bem sucedido. Porém, o centro de interesse atual aparenta ter se deslocado, não em questão de se negar igualdade, mas no sentido de se colocar muito mais em evidência o tema da diferença, um tema que apenas entrou em discussão nos tempos atuais, no entanto esta assume grande importância e tornou-se um direito, não só o direito dos diferentes a serem iguais, mas o direito de afirmar a diferença. Por um lado, tanto no plano internacional quanto no plano nacional, há um discurso que afirma a importância dos direitos humanos, mas as violações crescem cada vez mais. No plano internacional é possível perceber um grande retrocesso, como por exemplo, o combate à tortura em qualquer circunstância. Outro elemento importante da problemática atual dos direitos humanos relaciona-se à indivisibilidade e à exigibilidade. A doutrina dos direitos humanos colocou grande destaque na ideia da indivisibilidade dos direitos das diferentes gerações, porém, a exigibilidade desses direitos ainda é muito frágil, principalmente no que refere-se aos direitos sociais, econômicos e culturais. Nessa perspectiva, segundo Santos (2006, p. 445-447), para que os direitos humanos possam verdadeiramente ser ressignificados hoje, numa perspectiva que não nega as suas raízes, não nega a sua história, mas quer trazê-los para a problemática de hoje, eles terão que passar por um processo de reconceitualização. Essa passagem passa algumas ideias que o autor enumera da seguinte maneira: Primeiro tem-se a superação do debate entre o universalismo e o relativismo cultural, seguindo pelo segundo ponto que diz que todas as culturas possuem concepções da dignidade humana. Já o terceiro ponto afirma que todas as culturas são incompletas e problemáticas nas suas concepções de dignidade humana. O quarto ponto diz que nenhuma cultura é monolítica, todas as culturas comportam versões diferentes da dignidade humana. Por fim, o quinto e último ponto diz respeito à afirmação de que todas as culturas possuem a tendência de separar as pessoas e os grupos sociais entre dois princípios: princípio da igualdade e princípio da diferença. A problemática ao redor do multiculturalismo acaba gerando uma grande polêmica no momento atual e uma entre as dificuldades para se adentrar à problemática diz respeito à polissemia do termo. Existem duas abordagens fundamentais em relação à problemática do multiculturalismo: uma descritiva e outra prescritiva. A primeira afirma que o multiculturalismo é uma característica das sociedades atuais e sabe-se que vive-se em sociedades multiculturais que dependem de cada contexto histórico, político e sociocultural. A segunda, por sua vez, entende o multiculturalismo não simplesmente como um dado da realidade, mas como uma maneira de atuar, de intervir, de transformar a dinâmica social. Neste contexto, refere-se a três perspectivas consideradas fundamentais e que estão na base das diversas propostas: o multiculturalismo assimilacionista, o multiculturalismo diferencialista ou monoculturalismo plural e o multiculturalismo interativo, também conhecido como interculturalidade. O multiculturalismo assimilacionista parte da afirmação de que vive-se em uma sociedade multicultural, no sentido descritivo e, nessa sociedade multicultural, nem todos têm as mesmas oportunidades, ou seja, não existe nenhuma igualdade de oportunidades entre os cidadãos. Um segundo parecer é entendido como multiculturalismo diferencialista ou monoculturalismo plural e tal abordagem propõe colocar a ênfase no reconhecimento da diferença, garantir a expressão das diferentes identidades culturais presentes num determinado contexto e garantir espaços em que estas se possam expressar. O multiculturalismo aberto e interativo, por sua vez, enfatiza a interculturalidade por considerá-la a mais apropriada para a construção de sociedades democráticas e inclusivas, que articulem políticas de igualdade com políticas de identidade. Algumas características explicitam essa concepção. Uma delas é a promoção estipulada da inter-relação entre diferentes grupos culturais existentes em certa sociedade. Nessa perspectiva, essa posição localiza-se em confronto com todas as visões diferencialistas que contribuem para processos decisivos de afirmação de identidades culturais específicas, assim como com as ópticas assimilacionistas que não reconhecem a explicitação da riqueza das diferenças culturais. Uma terceira característica é elaborada em cima da afirmação de que as técnicas de hibridização cultural são mobilizadores da construção de identidades abertas, o que infere que as culturas não são puras e sabe-se que sempre que a humanidade buscou promover a pureza cultural e étnica, as conseqüências foram claramente trágicas, gerando inúmeras catástrofes como: genocídio, holocausto, eliminação e negação do outro. Já uma última característica relaciona-se com o fato de não separar as questões da diferença e da desigualdade existentes hoje de modo especialmente conflitivo, tanto no plano mundial quanto em cada sociedade presente. Em diferentes trabalhos e pesquisas realizados nos últimos anos, a autora procurou identificar e enumerar alguns dos desafios ao se tentar promover uma educação intercultural em perspectiva crítica que respeite e promova os direitos humanos que foram agrupados em torno de determinados núcleos fundamentais. O primeiro está relacionado à necessidade de desconstrução, posto que para a melhoria de uma educação intercultural é necessário adentrar completamente no universo de preconceitos e discriminações que está impregnado em todas as relações sociais que configuram os contextos atuais. O segundo núcleo relaciona-se com a combinação entre a igualdade e a diferença no nível das políticas educativas, bem como das práticas pedagógicas. Quanto ao terceiro núcleo, ele diz respeito ao cumprimento dos processos de construção das identidades culturais, tanto como pessoa quanto como coletivo. Ademais, uma especial atenção deve ser dada aos aspectos relativos à hibridização cultural e à constituição de novas identidades culturais e, por fim, um último núcleo tem como eixo fundamental possibilitar algumas experiências de interação sistemática com os outros, ou seja, para que possa-se perspectivar a maneira de situar-se diante do mundo e atribuir-lhe sentido, é indispensável que haja uma intensa interação com diferentes modos de expressar-se e diferentes modos de viver. Desenvolver uma educação intercultural na perspectiva apresentada neste texto acaba sendo uma questão complexa repleta de desafios que exige que sejam feitas problematizações de diferentes dados do modo como hoje concebe-se práticas educativas esociais. A perspectiva intercultural tem buscado promover uma educação para o reconhecimento do outro e, nessa perspectiva, conclui-se que a relação da diferença e igualdade, ao mesmo passo que ajuda em um desenvolvimento social, pode gerar conflitos no sentido de identificação do ser, assim, busca-se um equilíbrio entre esses termos, a fim de manter a sociedade com os mesmos direitos à igualdade e mesmo assim o direito a ser diferente em frente à um padrão, ou seja, como afirma Santos (2006), temos o direito a sermos iguais sempre que a diferença nos inferioriza, assim como temos o direito de sermos diferentes sempre que a igualdade nos descaracteriza.
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