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O CONCEITO DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO

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O CONCEITO DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO 
INTRODUÇÃO 
 
Na tentativa de tutela do direito à assistência à saúde muitos advogados optam 
pela via do mandado de segurança. Da repetição desta prática e das conseqüências negativas 
que esta escolha pode ter para a defesa do Estado e para suas finanças nasceu a preocupação 
com a definição de critérios para a utilização do mandado de segurança para a defesa deste 
direito material e outros em face do Estado. 
Depois de algumas reflexões resta claro que esta via processual não pode ser 
utilizada para a defesa do direito à assistência saúde, pois haveria clara lesão aos princípios do 
devido processo legal material e formal. 
Isto ocorre porque no direito à assistência à saúde sua norma reguladora não 
contém em sua hipótese de incidência uma completa definição dos aspectos material, espacial, 
temporal, pessoal e quantitativo, ficando para a autoridade administrativa sua definição 
posterior, o que pode se dar por inúmeras prestações estatais alternativas. Desta 
alternatividade, decorre a iliquidez do direito, assim como a necessidade de um procedimento 
de execução posterior à sentença para sua efetivação, seja judicial ou administrativo. 
Ao direito sem definição dos aspectos de sua hipótese de incidência aqui se chama 
direto ilíquido. Quando esta definição se dá, mas ainda assim é necessário um procedimento 
de execução para efetivação do direito, o mandado de segurança mostra-se inadequado à 
tutela do direito do cidadão, exatamente porque o rito célere desta ação não contém esta fase. 
Daí ser incabível o mandado de segurança e ser chamado de direito iliquidável aquele que não 
prescinde desta fase procedimental. 
Porém, nem todo direito líquido pode ser tutelado por mandado de segurança. Isto 
ocorrerá quando a parte não dispuser de prova documental para sua defesa. A isto se chama 
direito incerto. De todo modo, quando esta prova não puder ser obtida pelo autor ou quando o 
réu não puder defender-se adequadamente pela prova documental, o direito será incertificável. 
De todos estes caracteres do direito líquido e certo, percebe-se que há direitos, 
como exemplificativamente é o caso do direito à assistência à saúde, que não são líquidos 
nem certos porque os aspectos material, quantitativo, temporal, espacial e pessoal de sua 
hipótese de incidência não estão definidos em sua norma reguladora e precisam de uma 
liquidação pela autoridade de saúde pública por um ato administrativo discricionário, porque 
há necessidade de dilação probatória incompatível com o rito do mandado de segurança e 
porque há necessidade de um procedimento administrativo ou judicial para cumprimento da 
ordem emitida no mandado de segurança, especialmente em razão da alternatividade das 
prestações estatais que possam efetivar o direito do cidadão. 
Não estando presente uma das duas condições acima, o mandado de segurança 
não deve se processado, mas a parte poderá buscar tutela por ação ordinária. Quando e como 
estarão presentes estas condições é o objeto deste texto que apresentará explanação sobre a 
relação entre o devido processo legal e a finalidade do mandado de segurança, as diversas 
tentativas efetuadas de definição do conceito de direito líquido e certo, a construção de um 
novo conceito de direito líquido e certo e dos efeitos da sentença quando observado o 
inadimplemento das condições referentes ao direito líquido e certo. Por fim, as conclusões 
apresentadas ao longo do texto, serão reunidas no capítulo de conclusão. 
 
1 DA RELAÇÃO ENTRE O DEVIDO PROCESSO LEGAL E A 
FINALIDADE DO MANDADO DE SEGURANÇA 
 
Explica Nelson Nery Júnior como surgiu o devido processo legal material do 
desdobramento do devido processo legal formal1: 
“O conceito de ‘devido processo’ foi-se modificando no tempo, sendo que doutrina e 
jurisprudência alargaram o âmbito de abrangência da cláusula, de sorte a permitir 
interpretação elástica, o mais amplamente possível, em nome dos direitos 
fundamentais do cidadão.” 
Neste sentido, Luiz Rodrigues Wambier2 explica o que se deve entender como 
devido processo legal formal explicitando que deste princípio: 
“decorrem alguns postulados básicos para o sistema democrático, tais como: 
“o do julgamento por um juiz natural, o da instrução contraditória com amplitude de 
defesa, o da assistência judiciária aos necessitados, isto é, que pretendam a decisão 
judicial, mas não disponham de meios para custear a ativação do sistema judiciário, 
dentre tantos outros de igual relevância.” 
 A escolha pelo advogado do autor quanto à ação que irá propor não pode violar 
tais princípios. Quando for o caso de um direito em face do Estado, ele está impedido de usar 
 
1 NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. 8ª ed. São Paulo : RT, 2004, p. 
65. 
2 WAMBIER, Luiz Rodriguez. Anotações sobre o Princípio do Devido Processo Legal. Revista de Processo, n. 
63, 1991, p.55. 
uma ação que impeça o réu de defender-se eficazmente, violando-se a ampla defesa e o 
contraditório por causa da redução indevida das possibilidades de prova pelo ente público. 
Outro princípio jurídico que pode vir a ser violado é o juiz natural decorrente do 
devido processo legal formal. Sucede que a lei estabelece para o mandado de segurança um 
juiz natural diverso do da ação de obrigação de fazer. Pode acontecer que um dos dois juízes 
seja mais favorável a sua pretensão, o que pode levar o autor a optar por uma ação e não outra 
somente para escolher este juízo. Como no direito público a competência é sempre absoluta, 
não está ao talante do particular escolher o foro. Este o entendimento de Nelson Nery Júnior: 
“É importante salientar que o princípio do juiz natural, como mandamento 
constitucional, aplica-se, no processo civil, somente às hipóteses de competência 
absoluta, já que preceito de ordem pública. Assim, não se pode admitir a existência 
de mais de um juiz natural, como corretamente decidiu a corte constitucional 
italiana. A competência cumulativa ou alternativa somente é compatível com os 
critérios privatísticos de sua fixação, isto é, em se tratando de competência 
relativa.”3 
Daí a inevitável conclusão de que a escolha entre mandado de segurança e ação de 
obrigação de fazer não cabe ao autor e sim à lei. E a lei claramente definiu que somente cabe 
mandado de segurança quando houver direito líquido e certo. De outro modo, a ação ordinária 
de obrigação de fazer é mandatória. Somente assim se respeitará o princípio do juiz natural. 
Também a escolha impensada do mandado de segurança para casos em que não 
haja direito líquido e certo e sua admissão pelo Judiciário põem em risco a coisa julgada e 
facilitam o aparecimento de litispendência. Isto porque o autor pode intentar uma das ações e 
se sucumbir pode ajuizar outra ação no outro juízo e ter seu pedido processado, inclusive 
obtendo liminar. E a situação ainda mais se agrava porque é consenso na doutrina de que o 
impetrante do mandado de segurança pode desistir de sua ação sem o consentimento do réu4. 
Neste caso, surge a possibilidade de o autor ajuizar seu mandado de segurança somente para 
testar o juízo. Se conseguir a liminar, dá prosseguimento ao processo; se não, desiste e ajuíza 
a ação ordinária de obrigação de fazer em outro juízo para ter uma segunda chance de liminar. 
E há ainda a hipótese de o autor não obter êxito com uma ação e sem desistir da primeira 
tentar a segunda em clara litispendência, ou de descaradamente, violando a coisa julgada 
 
3 NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. 8ª ed. São Paulo : RT, 2004, p. 
100-101. 
4 FERRAZ, Sérgio. Mandado de Segurança. São Paulo: Malheiros, p. 309 
desfavorável, ajuizar uma segunda ação no outro foro. Bem se vê que há necessidade de 
critérios claros para definição de oque seja direito líquido e certo para preservar a boa-fé 
processual, o juiz natural, a coisa julgada e evitar-se a litispendência. 
Assim, se não for caso de direito líquido e certo, deve o juiz extinguir o feito ou 
mandar o autor emendar a inicial, remetendo-o às vias ordinárias com aplicação analógica do 
art. 277 § 5º do CPC. 
Esta inadequação do mandado de segurança para a tutela do direito à assistência à 
saúde e outros que não sejam líquidos e certos pode ser extraída de sua finalidade que por sua 
vez vem de seu histórico5. Sua finalidade é a tutela de um direito líquido e certo violado por 
uma ilegalidade manifesta praticada por uma autoridade pública que descumpre um dever 
expressamente previsto e delimitado em lei. Historicamente, foi o mandado de segurança 
concebido à imagem e semelhança do “Habeas Corpus”, seguindo seu procedimento célere e 
a possibilidade de concessão de liminar, além de acesso facilitado às instâncias superiores do 
Poder Judiciário. Daí que a natureza jurídica de uma ação e de outra é a mesma: ambas são 
writs processuais. Logo, o regime jurídico de ambas deve ser tanto quanto possível igual. 
Quem adequadamente definiu a finalidade do mandado de segurança foi Sérgio 
Ferraz: 
“se trata não só de um remédio judicial que tem o fito de garantir a realização e 
observância do direito líquido e certo ameaçado por ato (comissivo ou omissivo) de 
autoridade pública (ou seus delegados), eivado de ilegalidade ou abuso de poder; 
mas sobretudo, de que o mandado de segurança é, em si, uma das garantias 
constitucionais fundamentais, como tal expressamente instituído e arrolado no 
basilar art. 5º da nossa Carta Política – o artigo que funda o estatuto básico dos 
direitos individuais, coletivos e difusos.”6 
 
Da finalidade do mandado de segurança, percebe-se que este não foi concebido 
para discutir o mérito dos atos administrativos e sim para a tutela do direito do cidadão 
violado por uma autoridade desarrazoada. Percebe-se também que a finalidade é questionar 
um ato coator de uma autoridade pública coatora digna deste nome. Até por isto a 
competência para julgamento do mandado de segurança é firmada pela competência da 
autoridade pública. Os recursos cabíveis e especialmente a suspensão de segurança já 
denunciam que efetivamente a finalidade do mandado de segurança é cobrar o cumprimento 
 
5 Para um completo histórico do mandado de segurança ver BARBI, Celso Agrícola. Do Mandado de Segurança. 
10ª ed. Editora Forense, Rio de Janeiro, 2002, p 25-36. 
6 FERRAZ, Sérgio. Mandado de Segurança. São Paulo: Malheiros, p. 17. 
de um dever legal de uma autoridade pública. A suspensão de segurança e estes recursos 
servem principalmente para desfazer a indevida mistura feita pela autoridade pública entre 
seus interesses pessoais e os interesses públicos. Como o mandado de segurança é uma ação 
mandamental, sua utilização fica claramente vedada quando houver interesse do administrado 
na tutela de seu patrimônio. Disto tudo se extrai que outra de suas finalidades é a de servir 
como curinga, às vezes como ação às vezes como recurso, devido a sua maleabilidade e seu 
procedimento simplificado similar ao dos recursos, especialmente quando há sua utilização 
contra ato judicial. 
Da finalidade do mandado de segurança, resta inequívoco que as partes no 
mandado de segurança são o cidadão e a autoridade pública. Em tese, somente quando fosse 
discutida relação jurídica envolvendo o cidadão e a autoridade pública é que se poderia 
utilizar o mandado de segurança, pois o ente público não será parte no processo por falta de 
interesse jurídico. Sendo a relação jurídica entre o cidadão e o ente público, não poderia o 
cidadão usar mandado de segurança devendo utilizar uma ação comum, sendo que a ação de 
obrigação de fazer é a que mais se presta a substituí-lo. 
Mas o que fazer com todos os mandados de segurança que diariamente são 
ajuizados para discutir relações jurídicas entre o ente público e o particular? Deveriam ser 
extintos ou terem suas iniciais emendadas com aplicação analógica nos termos do art. 277 § 5º 
do CPC para serem transformados em ação de obrigação de fazer. 
Entendimento diverso permite que haja violação ao princípio do juiz natural, à 
coisa julgada e gera o risco de litispendência. Se não for adotado este entendimento, deve-se 
permitir que o Poder Público defenda-se convenientemente, respeitando-se a ampla defesa e o 
contraditório e assegurando-se-lhe a possibilidade de produção de provas e de recursos, pois 
do contrário também o devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório serão violados. 
Em sendo a relação jurídica de direito material entre o cidadão e a autoridade, esta 
deve defender-se com advogado próprio7 através das informações (sua natureza jurídica neste 
caso será de contestação), sendo que o ente público não terá interesse na demanda. Contudo, 
mesmo assim, este deverá ser intimado para que seja desfeita eventual mistura indevida dos 
interesses pessoais da autoridade com os legítimos interesses públicos, podendo o ente 
público adotar as medidas que forem cabíveis. Aqui o interesse da autoridade é o de defender-
 
7 Apesar de que a lei 12.016/2009 não prevê aplicação subsidiária do CPC, parece que esta aplicação subsidiária 
continua possível e válida quando houver lacuna na lei de regência do mandado de segurança e houver 
compatibilidade do CPC com a lei colmatada. 
se de eventuais sanções penais, administrativas e civis decorrentes de seu ato digno de ser 
chamado de coator. 
Em sendo a relação jurídica de direito material entre o cidadão e o ente público, o 
mandado de segurança deveria ser extinto, eis que dirimir controvérsia sobre esta relação não 
é sua finalidade. Se não o for, a contestação do ente público por conveniência da economia 
processual deve ser apresentada na mesma peça das informações da autoridade8. Com isto, 
esta peça será um elemento de prova e ao mesmo tempo uma contestação. 
Outro fato que demonstra a correição deste pensamento é que é muito comum a 
impetração de mandado de segurança pela pessoa jurídica de direito público em face de uma 
autoridade pública que pertence a seus quadros. Isto deixa inequívoco que a parte ré no 
mandado de segurança é a autoridade pública e não o ente público. 
 
2 DAS DIVERSAS TENTATIVAS EFETUADAS DE DEFINIÇÃO DO 
CONCEITO DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO 
 
É importante notar que há direta relação ente a finalidade do mandado de 
segurança e a categoria jurídica do direito líquido e certo. Esta categoria é central para a 
compreensão do cabimento do mandado de segurança. Desde o surgimento da expressão 
direito certo e incontestável até hoje, seguindo-se do momento em que foi excluído o conceito 
de ordem manifestamente ilegal da legislação do mandado de segurança como elemento 
caracterizador do direito material violado, passando-se pelas definições apresentadas por 
vários mestres do Direito, a doutrina tem vacilado na formulação de um adequado conceito 
para o direito líquido e certo. 
Nas primeiras tentativas de definição, este direito foi concebido como aquele em 
que as questões jurídicas não demandassem uma análise profunda. Seriam os direitos 
relacionados a questões simples. Esta primeira definição9 foi rapidamente superada e após 
alguma vacilação consolidou-se o entendimento do Ministro do STF Costa Manso de que 
deveria ser o direito comprovado de plano na forma exclusivamente documental. Portanto, um 
conceito meramente processual desligado do direito material. Todos os demais conceitos 
foram derrotados especialmente o do Ministro Castro Nunes10 do STF que entendia ser 
 
8 Sobre a duplicação desnecessária de defesas com mesmo conteúdo pelo ente público e a autoridade coatora que 
era expressamente prevista na legislaçãorevogada e não é mais desde a lei 1.533/51ver BARBI, Celso Agrícola. 
Do Mandado de Segurança. 10ª Ed. Rio de Janeiro : Forense. 2002. p 161. 
9 BARBI, Celso Agrícola. Do Mandado de Segurança. 10ª Ed. Rio de Janeiro : Forense. 2002. p 50-52. 
10 idem 
necessária a existência de uma ordem manifestamente ilegal e o descumprimento de um dever 
legal pela autoridade impetrada. 
Outros doutrinadores como Hely Lopes Meirelles adotam este entendimento 
quase que integralmente com pequenas alterações. No caso de Hely Lopes Meirelles11 há o 
acréscimo de que o direito deve poder ser exercido de imediato e ser delimitado em sua 
extensão. Já Alfredo Buzaid12 insiste na tentativa de ligar o direito material ao direito líquido 
e certo e na conceituação de direito incontestável. A Professora Maria Sylvia Zanella Di 
Pietro13 entende que o direito pleiteado não pode ser passível de prestações indeterminadas, 
genéricas, fungíveis e alternativas, mas de resto acolhe o posicionamento de Costa Manso. O 
Professor Sérgio Ferraz14 considera que direito líquido e certo é ao mesmo tempo uma 
condição da ação e seu mérito. E por fim, os doutrinadores15 que comentam a nova lei do 
mandado de segurança adotam quase sem questionamentos o conceito do Ministro Costa 
Manso. 
Contudo, pelos problemas acima elencados relacionados aos princípios 
processuais do devido processo legal, do juiz natural, da ampla defesa e do contraditório, além 
da violação da coisa julgada e do risco aumentado de litispendência, todos estes conceitos 
devem ser considerados insatisfatórios. Assim, parte-se em busca de construir-se um novo 
conceito de direito líquido e certo. O primeiro passo pode ser dado pela análise da iliquidez do 
direito à assistência à saúde que suscitou as reflexões. 
A prática forense diária mostra que este direito não tem seus aspectos material, 
quantitativo, temporal, espacial e pessoal definidos na hipótese de incidência16 de sua norma 
reguladora e isto porque há uma alternatividade destes aspectos. Além disto, estes aspectos 
são definidos por Políticas Públicas veiculadas por atos administrativos discricionários. Nesta 
 
11 MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de Segurança. 26ª ed. São Paulo : Malheiros, 2004, p. 36-37 
12 BUZAID, Alfredo. Do Mandado de Segurança. In Revista Forense.v. 164, p. 11-12. 
13 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 8ª ed. São Paulo : Atlas. 1997. p. 511. 
14 FERRAZ, Sérgio. Mandado de Segurança. São Paulo: Malheiros, p. 34 e seguintes. 
15 BUENO, Cássio Scarpinella. A Nova Lei do Mandado de Segurança. 1ª Ed. São Paulo : Saraiva. 2009. 227p; 
CRUZ, Luana Pedrosa de Figueiredo et all. Comentários à Nova Lei do Mandado de Segurança. 1ªed. São Paulo 
: Revista dos Tribunais, 2009, p.189; GAJARDONI, Fernando da Fonseca. SILVA, Márcio Henrique Mendes. 
FERREIRA, Olavo A. Vianna Alves. Comentários à Nova Lei de Mandado de Segurança. 1ª ed. Rio de Janeiro : 
Método. 2009, p. 20; MEDINA, José Miguel Garcia e ARAÚJO, Fábio Caldas. Mandado de Segurança 
Individual e Coletivo. 1ª ed. São Paulo : Revista dos Tribunais, 2009, p.34. 
16 Foi Geraldo Ataliba, eminente tributarista, que divulgou importante contribuição científica para compreensão 
do nebuloso conceito de fato gerador. Segundo sua teoria, existe um fato jurídico que é descrito por uma 
hipótese de incidência. Para compreender melhor a hipótese de incidência e estabelecer critérios científicos de 
validade jurídica de normas tributárias, ele conclui que a norma reguladora da hipótese de incidência tem cinco 
aspectos: material, pessoal, temporal, espacial e quantitativo. Será utilizada esta conceituação nesta exposição 
para compreender os caracteres do direito à assistência à saúde e a adequação do mandado de segurança a sua 
tutela. Seu pensamento pode ser encontrado em: ATALIBA, Geraldo. Hipótese de incidência tributária. 2. ed. 
Revista dos Tribunais, 1975. 
formulação, os usuários até podem vir a descontentarem-se, mas a autoridade de modo algum, 
estará agindo ilegalmente nem se omitindo. Não será, portanto, a autoridade pública digna do 
nome de coatora nem terá dado ordem alguma manifestamente ilegal. 
Além disto, o mandado de segurança mostra-se inadequado para a tutela de 
direitos ilíquidos porque não possui um procedimento de execução em sua legislação e porque 
devem ser tidos por direitos ilíquidos todos aqueles que precisam de um procedimento, se não 
judicial pelo menos administrativo, para sua efetivação. 
O direito à assistência à saúde é também incerto, porque não pode ser 
adequadamente comprovado e contraprovado de plano. Tanto para a demonstração dos fatos 
constitutivos do direito do autor (que ele está doente e que o tratamento por ele pleiteado é o 
adequado a seu caso) quanto para a demonstração dos fatos impeditivos, modificativos e 
extintivos do direito do autor (que há um tratamento alternativo de mesma eficácia e 
segurança para o autor) há necessidade de perícia médica esclarecedora de conhecimento 
técnico17, sendo que os documentos médicos apresentados pelo autor e os pareceres técnicos 
dos entes públicos não são suficientes para excluir a necessidade de perícia médica por ou não 
serem dotados de presunção de veracidade ou não serem imparciais. 
Percebe-se que a utilização de mandado de segurança pelo usuário do SUS em 
face do ente público viola o princípio da isonomia processual. Deste princípio e do devido 
processo legal, decorre o princípio do contraditório. Deste princípio, decorre o direito 
constitucional à produção da prova. Este direito é limitado pela legitimidade dos meios de 
obtenção da prova, daí falar-se em direito constitucional à produção da prova lícita. 
Quanto a este direito Fredie Didier Júnior chega a afirmar: “Considera-se o direito 
à prova como direito fundamental, derivado dos direitos fundamentais ao contraditório e ao 
acesso à justiça.”.18 
E continua afirmando que este direito é implícito ao sistema jurídico pátrio e tem 
assento tanto no direito interno quanto internacional, pois o Brasil aderiu à Convenção 
Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), incorporado pelo Decreto 
n. 678/69, no seu art. 8º e ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, incorporado 
pelo Decreto nº 592/92 no seu art. 14.1, alínea “e”. 
E Luiz Guilherme Marinoni explica o conteúdo deste direito: 
“O direito de produzir prova engloba o direito à adequada oportunidade de requerer 
a sua produção, o direito de participar da sua realização e o direito de falar sobre os 
 
17 LOPES, João Batista. Manual das Provas no Processo Civil. Campinas: Kennedy, 1974. p 56. 
18 DIDIER JÚNIOR, Fredie. Direito Processual Civil. 2ª ed. Editora Jvspodium, 2006, p 463. 
seus resultados. No caso de prova determinada de ofício vale o mesmo, pois a parte 
não só tem o direito de sobre ela se pronunciar, mas o direito de participar de sua 
realização.”19 
 A prova lícita é aquela que foi obtida por meio não ilícito e que respeitou os 
procedimentos legais previstos para a sua produção. 
Devido à sua incerteza, o direito à assistência à saúde impossibilita a 
documentação (prova documentada) de uma perícia ou testemunho para ser utilizada como se 
fosse prova documental em mandado de segurança. Sendo ilegal por violar as normas 
processuais, porém moralmente legítima, a prova documentada20 somente pode ser aceita no 
processo se passar pelo crivo do contraditório posteriormente. Para isto deverá ser refeita, 
devendo o procedimento ser adequado a esta finalidade. Como o direito constitucional à 
produção da prova lícita deve incluir o direito à produção de todas as provas moralmente 
admissíveis, sendo inadequado o rito para esta finalidade, ou o procedimento deverá ser 
adaptado, ou deve-se extinguir o processo. No caso do mandado de segurança, devido ser 
inadequado adaptar-se o procedimento,o processo deve ser extinto ou determinada a emenda 
da inicial para o rito do art. 461 do CPC, nos termos do art. 277 § 5º do CPC aplicável 
analogicamente. 
A inadequação do mandado de segurança para tutela do direito à assistência à 
saúde decorre ainda da indispensabilidade da perícia nestas ações. Neste sentido, Moacyr 
Amaral Santos em seu célebre “A Prova Judiciária no Cível e no Comercial” já alertava para a 
indispensabilidade da perícia quando precisasse o juízo decidir sobre a sanidade de uma 
pessoa: 
“Fatos há, com efeito, que impõem prova por meio de perícia. Assim, as condições 
de segurança de um edifício, a natureza e o valor de riquezas do sub-solo, o estado 
de sanidade de uma pessoa. A verificação de tais fatos depende necessariamente de 
conhecimentos técnicos”21 
Esta indispensabilidade se demonstra pelo fato de que somente esta prova é apta a 
demonstrar o estado de sanidade do autor e porque somente ela pode aclarar se há alternativa 
terapêutica para o tratamento do autor e qual o tratamento mais adequado para ele. A 
necessidade do perito não deriva apenas da dificuldade de interpretação de dados técnicos. 
Assim, em todos os casos em que a necessidade de conhecimento técnico entranha-se no 
 
19 MARINONI, Luiz Guilherme. Novas Linhas de Processo Civil. São Paulo : Malheiros, 1999. p. 258-259. No 
mesmo sentido, veja-se MOREIRA, José Carlos Barbosa. “A Garantia do Contraditório na Atividade de 
Instrução”. Revista de Processo, n. 35, 1984, p.231. 
20 CUNHA, Leonardo José Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo. 3ª ed. São Paulo : Dialética. 2005. p. 312. 
21 SANTOS, Moacyr Amaral. Prova Judiciária no Cível e Comercial. São Paulo: Max Limonad, 1980. v. 3, 
p.154. 
ponto controvertido de modo que é impossível ao juízo decidir o mérito da lide sem recorrer a 
um perito, há indispensabilidade da prova pericial. 
No caso do direito à assistência à saúde raramente ocorrem fatos pretéritos que 
precisem ser reconstituídos para deslinde da causa que não tenham sido documentados nem 
tenham deixado vestígios para exame pericial, tornando indispensável a prova testemunhal, 
mas se for este o caso, então de direito certo não se trata e descabe falar-se em mandado de 
segurança. 
O mesmo se pode dizer quanto à ausência de direito certo em caso de 
indispensabilidade da prova pericial. Se for inaplicável o art. 427 do CPC, certamente se 
tratará de um direito incertificável. 
A perícia e a testemunha documentada têm o mesmo valor que um informante do 
perito ou do juízo e por isto, caracteriza-se uma prova assim realizada como mero indício, não 
servindo para que a parte se desincumba de seu ônus probatório e tenha a lide julgada a seu 
favor, mas pode ser levada em consideração com outros elementos para análise da 
antecipação de tutela. Esta é a correta interpretação do art. 368 do CPC. 
Os documentos médicos não têm presunção de veracidade por não serem públicos 
nem dotados de fé pública, mesmo quando oriundos dos serviços públicos de saúde, pois são 
sigilosos, deles não se extraindo certidões22. A única exceção quanto à presunção de 
veracidade é dos documentos emitidos pelos serviços oficiais de perícia médica, mas ainda 
assim o direito ao sigilo permanece. 
Estas circunstâncias demonstram que a eleição da via do mandado de segurança 
pelo autor em muitos casos pode representar um indevido cerceamento de defesa, pois impede 
ao ente público que exerça sua ampla defesa e o contraditório adequadamente pela 
impossibilidade do ente público produzir a prova testemunhal ou pericial indispensável à 
demonstração de suas alegações. 
 
3 DA CONSTRUÇÃO DE UM NOVO CONCEITO DE DIREITO 
LÍQUIDO E CERTO 
 
Assim, consolidando o conceito de um direito líquido e certo cabe dizer que ele é 
o que pode ser adequadamente defendido por um writ processual. Este é uma ação de eficácia 
potenciada que serve justamente para agilizar a prestação jurisdicional. Esse resultado é 
 
22 SANTOS, Lenir. Conhecendo seus direitos na saúde pública. 1ª ed. Campinas : Conselho Nacional de 
Secretários de Saúde, 2006. p. 42. 
obtido com a supressão em seu procedimento de tudo que é desnecessário tanto para o autor 
quanto para o réu, pois não lhes faz falta nem traz prejuízo algum para as partes nem para 
terceiros. 
Trata-se de um refinamento da técnica processual que serve para tutela de alguns 
direitos especiais que tenham características específicas adequadas a este tipo de ação. 
Quando o direito não é adequado, a parte autora está proibida de usar o writ. 
Este tipo de ação perde totalmente seu sentido quando é prolongado 
indevidamente seu procedimento. A celeridade buscada é perdida. É por este motivo que o 
mandado de segurança como um writ processual que é inadmite espaço para criatividade 
procedimental, tanto do juiz quanto das partes. 
Conclusão que se extrai destas características do mandado de segurança é que é 
indevida toda emenda de inicial, toda dilação probatória, todo recurso inadequado e todo 
procedimento de execução. Se há necessidade destes prolongamentos processuais, é porque 
diante de direito líquido e certo não se está. 
A eficácia potenciada do writ deriva de sua natureza ambígua. Como o 
procedimento é célere e a ação prevê citação com o nome esdrúxulo de notificação do réu 
para informações, o writ fica em tudo semelhante a um recurso. É por isto que os writs 
processuais muitas vezes são utilizados como sucedâneos recursais. Esta característica do writ 
permite que o autor ou o réu possa escalar por via acelerada, sem prequestionamentos ou 
esgotamento de instância, a pirâmide dos órgãos jurisdicionais do Estado. 
Direito líquido e certo não é uma condição da ação, mas sim são duas condições 
específicas de procedibilidade, sendo a primeira o direito líquido e a segunda o direito certo e 
ambas devem estar preenchidas para que a parte possa usar a via do mandado de segurança. 
Direito líquido é aquele violado por uma autoridade coatora que descumpriu um 
dever previsto expressamente no Ordenamento Jurídico e que além disto está adequado ao 
cumprimento de uma ordem do juiz sem necessidade de um procedimento de execução, seja 
administrativo, seja judicial. 
Ocorrerá este descumprimento do dever em três situações: ilegalidade manifesta 
(toda vez que a autoridade cometer um ilícito penal, administrativo ou civil e não puder 
justificá-lo com alguma cláusula de exclusão da ilicitude como seria exemplificativamente o 
estrito cumprimento de um dever legal), descumprimento de um dever que deva ser realizado 
conforme um ato administrativo vinculado, ou descumprimento de um dever que deva ser 
realizado conforme um ato discricionário depois de ter sido deliberado pela autoridade como 
será seu dever. 
Na doutrina quem refere esta possibilidade de transmutação de um ato discricionário 
para vinculado, ensejando após esta conversão (aqui chamada de deliberação sobre o mérito 
administrativo) sua impugnação por mandado de segurança são José Miguel Garcia Medina e 
Fábio Caldas de Araújo23: 
“O juiz nunca realizará a revisão do ato administrativo, quanto ao juízo 
discricionário da autoridade, desde que inexistente qualquer abuso de autoridade.(...) 
Outro ponto a ser considerado é que muitos atos, inicialmente discricionários, 
transformam-se em vinculados, após a explicitação da motivação.” 
Nos atos vinculados a lei regula inteiramente os cinco elementos do ato: 
competência, finalidade, objeto, forma e motivo. Nos discricionários, somente os dois 
primeiros24. Os três últimos compõem o mérito administrativo que é insindicável pelo Poder 
Judiciário. Após esta deliberação sobre o mérito administrativo pela autoridade é que ocorre 
liquidação de um direito para fins de mandado de segurança com a emissão do ato 
discricionário. Antes desta liquidação, o direito não pode ser tutelado pormandado de 
segurança, porque os aspectos material, pessoal, espacial, temporal e quantitativo da hipótese 
de incidência da norma reguladora do direito ainda estão indefinidos. Contudo, não basta a 
liquidação do direito violado por um ato administrativo discricionário, é preciso ainda que ele 
prescinda de um procedimento executório para ser líquidável. 
Afora isto, descabe qualquer tutela jurisdicional se o ato administrativo não foi 
emitido, pois estaria o Poder Judiciário a sindicar o mérito administrativo e mesmo que se 
admita a análise pelo juiz deste conteúdo, esta não pode ser feita pelo mandado de segurança, 
pois a parte na ação certamente será o ente público. Caso se aceite que o ente público possa, 
em tese, ser parte no mandado de segurança, este será impróprio para questionamento de 
direitos ilíquidos e iliquidáveis. 
Tampouco caberá mandado de segurança para análise da razoabilidade do mérito 
administrativo, exceto se a falta de razoabilidade for tal que configure uma manifesta 
ilegalidade. 
Verifica-se a adequação de um direito à ausência de um procedimento executório 
administrativo ou judicial para determinar-se sua liquidez quando o dever correlato ao direito 
puder ser cumprido pela autoridade somente com a emissão de um ato legal, anulação do ato 
ilegal e realização de um ato no mundo real de acordo com a ordem dada. Se, no entanto, o 
 
23 MEDINA, José Miguel Garcia e ARAÚJO, Fábio Caldas. Mandado de Segurança Individual e Coletivo. 1ª ed. 
São Paulo : Revista dos Tribunais, 2009, p.37-38. 
24 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 21ª ed. São Paulo : Malheiros, 2006. p. 
410-411. 
juiz precisar escrever um manual para a autoridade sobre tudo que ela deve fazer passo a 
passo minudenciando o cumprimento de sua ordem, o direito é ilíquido por precisar de um 
procedimento executório, seja administrativo, seja judicial. 
Direito certo é aquele que admite prova pelo autor dos atos constitutivos de seu 
direito apenas pela via documental sem dilações probatórias e contraprova pelo réu dos fatos 
impeditivos, modificativos e extintivos do direito do autor apenas pela via documental. De 
outro modo o autor não pode usar o mandado de segurança: ou porque não pode provar suas 
alegações documentalmente ou porque estaria cerceando a defesa do réu que precisaria de 
outros meios de prova para demonstrar suas alegações. 
 
4 DOS EFEITOS DA SENTENÇA QUANDO OBSERVADO O 
INADIMPLEMENTO DAS CONDIÇÕES REFERENTES AO DIREITO 
LÍQUIDO E CERTO 
 
Quanto às conseqüências do adimplemento ou não do direito líquido e certo para 
uso do mandado de segurança, há várias hipóteses que dependem principalmente da 
liquidabilidade e certificabilidade do direito material. 
Devem ser tidos por iliquidáveis os direitos que exigirem para sua efetivação mais 
do que o simples cumprimento de uma ordem, carecendo de um procedimento executivo 
judicial ou administrativo. E incertificáveis são os direitos que exigirem para sua prova e 
contraprova meios de prova diversos da prova documental. 
Um direito pode ser ilíquido porque sua norma de incidência admite ampla 
alternatividade no conteúdo em algum dos aspectos deste direito. Isto ocorre quando o ato 
impugnado for discricionário e o dever da autoridade não está prévia e expressamente 
determinado em lei. Neste caso cabe à autoridade definir o mérito administrativo. Enquanto 
não houver esta deliberação, o direito será ilíquido, mas em tese será liquidável. Antes da 
deliberação, o mandado de segurança deverá ser extinto sem julgamento de mérito por faltar 
direito líquido, podendo a parte, após a deliberação, pleitear tutela jurisdicional. Ao deliberar 
sobre o mérito administrativo, a autoridade pode ou não cometer manifesta ilegalidade. De um 
modo ou de outro, o direito foi definido pela autoridade, sendo que a manifesta ilegalidade ou 
não é impertinente para fins de análise da procedibilidade do direito pelo writ de mandado de 
segurança, mas pertinente para análise do mérito do direito. 
Depois de definido o direito com a deliberação sobre o mérito administrativo pela 
autoridade será possível analisar-se se ele é liquidável ou não. Será liquidável, se para 
efetivação do direito não for necessário um procedimento judicial ou administrativo. Se for 
necessário um procedimento, o direito será sempre iliquidável. Cumprido o procedimento e 
efetivado o direito, o titular fruirá o bem da vida, mas o direito continuará iliquidável porque 
somente foi efetivado após o fim do procedimento necessário. 
Haverá necessidade de um procedimento sempre que for necessária a realização 
de mais de um ato jurídico ou fático para efetivação do direito. O direito incerto poderá 
tornar-se certo pela obtenção de prova documental quando isto for possível e quando não for 
necessária perícia ou oitiva de testemunha. 
Vislumbram-se três tipos de sentenças em mandado de segurança: 1) o juízo 
analisa os fatos e conclui que o autor tem ou não tem direito ao bem da vida pleiteado (Para 
isto antes concluiu que o direito do autor era simultaneamente liquidável e certificável e foi 
liquidado e certificado. Neste caso, há coisa julgada material quanto ao direito subjetivo 
vindicado e também sobre o mérito do mandado de segurança, não se admitindo nem outro 
mandado de segurança nem outra ação ordinária sobre o tema, pois tanto a via ordinária 
quanto a mandamental estarão fechadas); 2) o juízo analisa os fatos e conclui que o autor não 
tem direito líquido e certo, porém o direito é simultaneamente liquidável e certificável (A 
conseqüência é que o autor poderá/deverá ajuizar novo mandado de segurança após obter a 
prova que o certifique ou após a deliberação liquidante da autoridade, havendo julgamento de 
mérito positivo do mandado de segurança e não havendo julgamento do mérito relacionado ao 
direito subjetivo, estando fechada a via ordinária); 3) o juízo conclui que o direito não é 
certificável ou não é liquidável (A conseqüência é que o direito somente pode ser defendido 
por ação ordinária e a sentença proferida faz coisa julgada quanto ao mérito do mandado de 
segurança, fecha a via mandamental, adentra ao conteúdo do direito material, mas não define 
o mérito da ação ordinária intentável para defesa do direito). 
O juízo deve pronunciar-se em todo mandado de segurança não apenas sobre se 
há ou não direito líquido e certo, mas também se o direito é liquidável ou não e se é 
certificável ou não. 
Se o direito for incertificável, a conseqüência é a extinção do mandado de 
segurança sem análise do mérito com envio do autor para a via ordinária ou determinação da 
emenda nos termos do art. 277 § 5º do CPC para que seja também seguida a via ordinária. 
Neste segundo caso a vantagem para o autor é a possibilidade de preservação de sua liminar 
se assim o juiz entender por bem. Se o direito é ilíquidável por ser necessário um 
procedimento de execução, as conseqüências são as mesmas do direito incertificável. Em 
ambos os casos trata-se da terceira hipótese de sentença acima narrada que julga o mérito do 
mandado de segurança, mas ainda deixa aberta a via ordinária. 
Se o direito for líquido, restou definido de forma manifestamente ilegal e também 
é certo, o processo será julgado com análise do mérito e a via da ação ordinária lhe estará 
fechada em razão da proibição de violação do juiz natural e da possibilidade de litispendência 
e violação da coisa julgada. Trata-se da primeira hipótese de sentença acima narrada que julga 
o mérito do mandado de segurança e também analisa o direito material. 
Outro problema é quanto aos atos vinculados e discricionários. Várias hipóteses se 
põem. 
Se a parte autora narra que o dever da autoridade é oriundo de um ato vinculado e 
não houve descumprimento, há julgamento de mérito desfavorável ao impetrante. Se houve 
descumprimento, há julgamento de méritofavorável ao impetrante. Trata-se da primeira 
hipótese de sentença acima narrada. 
Se narra um dever da autoridade oriundo de um ato vinculado, mas que na 
verdade decorre de um ato discricionário sem que tenha havido deliberação da autoridade que 
defina o direito, o juiz deve extinguir o processo sem julgar o mérito, pois a hipótese não é 
ainda de direito líquido, mas será após a deliberação. O mesmo ocorrerá se a parte não tiver 
ainda obtido prova certificadora de seu direito que seja certificável. Trata-se da segunda 
hipótese de sentença acima. 
Após a deliberação o juízo poderá analisar se o direito é liquidável e certificável. 
Sendo o direito liquidável e certificável, o juiz deve admitir mandado de segurança e não se 
deve admitir ajuizamento de ação ordinária por violação do juiz natural e risco de 
litispendência e de violação da coisa julgada. Se houver manifesta ilegalidade na deliberação, 
deve julgá-lo procedente. É o caso da primeira hipótese de sentença acima. 
Se não houver manifesta ilegalidade na deliberação e o cidadão pretender discutir 
o mérito administrativo, sendo seu direito liquidável e certificável e já tendo sido liquidado e 
certificado, a demanda deve ser julgada improcedente, pois incabível a análise do mérito 
administrativo em sede judicial. Havendo ou não análise do mérito administrativo, sendo 
procedente ou não a ação, a sentença se enquadrará sempre no caso da primeira hipótese 
acima. 
Se não houver manifesta ilegalidade na deliberação, o direito for liquidável e 
certo, houver um dever liquidado descumprido e o que pleiteia o cidadão é justamente o 
cumprimento no modo deliberado pela autoridade, o mandado de segurança deve ser 
processado, pois estarão adimplidas as condições do direito líquido e do direito certo. Aqui a 
hipótese é a mesma de descumprimento de dever consignado em ato vinculado. Se for 
realmente o caso de descumprimento impõe-se o julgamento de procedência da ação. Se não 
for, a improcedência. Em ambos os casos com julgamento de mérito, tanto do mandado de 
segurança quanto do direito material, restando fechadas ambas as vias. É o caso da primeira 
hipótese de sentença. 
Por fim, consigne-se que ambas as condições devem estar presentes para o 
ajuizamento de mandado de segurança: direito líquido e direito certo. Se não for certo o 
direito, nada adiantará ser líquido. E como a parte não poderá usar o mandado de segurança 
por falta de certeza, terá que ajuizar ação ordinária. 
Não sendo líquido e certo o direito da parte autora, ainda que a relação jurídica de 
direito material seja entre o cidadão e a autoridade pública, é incabível o mandado de 
segurança, sendo adequada a ação pelo procedimento comum cabível em face desta 
autoridade e não em face do ente público, pois o que se discute é uma relação jurídica entre o 
cidadão e a autoridade e não entre aquele e o ente público. 
De todos estes caracteres do direito líquido e certo, percebe-se que há direitos, 
como exemplificativamente é o caso do direito à assistência à saúde, que não são líquidos 
nem certos porque os aspectos material, quantitativo, temporal, espacial e pessoal de sua 
hipótese de incidência não estão definidos em sua norma reguladora e precisam de uma 
liquidação pela autoridade de saúde pública por um ato administrativo discricionário, porque 
há necessidade de dilação probatória incompatível com o rito do mandado de segurança e 
porque há necessidade de um procedimento administrativo ou judicial para cumprimento da 
ordem emitida no mandado de segurança, especialmente em razão da alternatividade das 
prestações estatais que possam efetivar o direito do cidadão. 
Por fim, a utilização do mandado de segurança contra ato judicial é possível, 
podendo tornar-se mais freqüente, em razão dos casos de pedido de antecipação de tutela e 
das alterações na legislação que restringem o cabimento do agravo com concessão do efeito 
suspensivo e na jurisprudência que restringe o cabimento do recurso extraordinário contra as 
liminares deferidas em acórdão. 
 
CONCLUSÃO 
 
1 A tentativa de tutela do direito à assistência à saúde por meio do mandado de 
segurança demonstra as insuficiências do conceito de direito líquido e certo elaborado por 
Costa Manso Ministro do STF em 1936. Problemas como a violação do princípio do juiz 
natural e da coisa julgada e da geração de litispendências entre mandado de segurança e ação 
de obrigação de fazer demonstram que é preciso regular os casos em que cabível o mandado 
de segurança e os em que é cabível a ação de obrigação de fazer em face do Estado. A solução 
passa pela definição do conceito de direito líquido e certo. 
2 Se não for caso de direito líquido e certo, deve o juiz extinguir o feito ou mandar 
o autor emendar a inicial, remetendo-o às vias ordinárias com aplicação analógica do art. 277 
§ 5º do CPC. 
3 Esta inadequação do mandado de segurança para a tutela do direito à assistência 
à saúde e outros que não sejam líquidos e certos pode ser extraída de sua finalidade. Sua 
finalidade é a tutela de um direito líquido e certo violado por uma ilegalidade manifesta 
praticada por uma autoridade pública que descumpre um dever expressamente previsto e 
delimitado em lei. 
4 Percebe-se que sua finalidade é questionar um ato coator de uma autoridade 
pública coatora digna deste nome. Até por isto a competência para julgamento do mandado de 
segurança é firmada pela competência da autoridade pública. 
5 Outra de suas finalidades é a de servir como curinga, às vezes como ação às 
vezes como recurso, devido a sua maleabilidade e seu procedimento simplificado similar ao 
dos recursos, especialmente quando há sua utilização contra ato judicial. 
6 Da finalidade do mandado de segurança, resta inequívoco que as partes no 
mandado de segurança são o cidadão e a autoridade pública. Quando a relação jurídica base 
de direito material controvertida for entre o cidadão e o ente púbico, descabe mandado de 
segurança. Quando for entre a autoridade pública e o cidadão, descabe ação de obrigação de 
fazer. 
7 É importante notar que há direta relação entre a finalidade do mandado de 
segurança e a categoria jurídica do direito líquido e certo. Após alguma vacilação consolidou-
se o entendimento do Ministro do STF Costa Manso de que deveria ser considerado direito 
líquido e certo aquele comprovado de plano na forma exclusivamente documental. Portanto, 
um conceito meramente processual desligado do direito material. Todos os demais conceitos 
foram derrotados. Consolidando-se na doutrina e na jurisprudência este conceito que persiste 
até os nossos dias. 
8 Contudo, pelos problemas acima elencados relacionados aos princípios 
processuais do devido processo legal, do juiz natural, da violação da coisa julgada e do risco 
aumentado de litispendência, e dos prejuízos que o uso de um writ processual pode gerar para 
a ampla defesa e o contraditório, todos os conceitos elaborados com base na formulação de 
Costa Manso devem ser considerados insatisfatórios. 
9 O mandado de segurança mostra-se inadequado para a tutela de direitos 
ilíquidos e iliquidáveis porque não possui um procedimento de execução em sua legislação e 
porque devem ser tidos por direitos ilíquidos todos aqueles que precisam de um 
procedimento, se não judicial pelo menos administrativo, para sua efetivação. 
10 O mandado de segurança também é impróprio para a tutela de direitos 
incertificáveis, aqueles que não podem ser adequadamente comprovados e contraprovados de 
plano. Para isto é preciso levar em conta o ônus da prova do autor quanto ao fato constitutivo 
de seu direito e o ônus do réu de provar os fatos impeditivos, modificativos e extintivos do 
direito do autor. Se estes fatos não puderem ser adequadamente comprovados exclusivamente 
pela prova documental, o direito é incertificável, descabendo mandado de segurança. 
11 O direito constitucional à prova lícita derivado devido processo legal, da 
ampla defesa e do contraditório. Como este direito deve incluir o direito à produção de todas 
as provas moralmente admissíveis, sendo inadequado o rito para esta finalidade, ou o 
procedimento deverá adaptado ou deverá ser extinto o processo. 
12 No caso do mandado de segurança, devido ser inadequado adaptar-se o 
procedimento, o processo deve ser extinto. Isto porque o procedimento do mandado de 
segurança é o mais célere que existe. A celeridade é seu fim. Se houver perda da celeridade, 
perde sentido o uso de seu procedimento, devendo a parte ser remetida às vias ordinárias. Esta 
é a correta interpretação do princípio da instrumentalidade das formas. 
13 O conceito de um direito líquido e certo é o que pode ser adequadamente 
defendido por um writ processual. Este é uma ação de eficácia potenciada que serve 
justamente para agilizar a prestação jurisdicional. Esse resultado é obtido com a supressão em 
seu procedimento de tudo que é desnecessário tanto para o autor quanto para o réu, pois não 
lhes faz falta nem traz prejuízo algum para as partes nem para terceiros. A eficácia potenciada 
do writ deriva de sua natureza ambígua. É por isto que os writs processuais muitas vezes são 
utilizados como sucedâneos recursais. Esta característica do writ permite que o autor ou o réu 
possa escalar por via acelerada, sem prequestionamentos ou esgotamento de instância, a 
pirâmide dos órgãos jurisdicionais do Estado. Por isto, toda e qualquer alteração em seu 
procedimento que lhe retire esta eficácia potenciada é indevida. 
14 Direito líquido e certo não é uma condição da ação, mas sim são duas 
condições específicas de procedibilidade, sendo a primeira o direito líquido e a segunda o 
direito certo e ambas devem estar preenchidas para que a parte possa usar a via do mandado 
de segurança. 
15 Direito líquido é aquele violado por uma autoridade coatora que descumpriu 
um dever previsto expressamente no Ordenamento Jurídico e que além disto está adequado ao 
cumprimento de uma ordem do juiz sem necessidade de um procedimento de execução, seja 
administrativo, seja judicial. 
16 Direito certo é aquele que admite prova pelo autor dos atos constitutivos de seu 
direito apenas pela via documental sem dilações probatórias e contraprova pelo réu dos fatos 
impeditivos, modificativos e extintivos do direito do autor apenas pela via documental. De 
outro modo o autor não pode usar o mandado de segurança: ou porque não pode provar suas 
alegações documentalmente ou porque estaria cerceando a defesa do réu que precisaria de 
outros meios de prova para demonstrar suas alegações. 
17 Quanto às conseqüências do adimplemento ou não do direito líquido e certo 
para o mandado de segurança, há várias hipóteses que dependem principalmente da 
liquidabilidade e certificabilidade do direito material. Devem ser tidos por iliquidáveis os 
direitos que exigirem para sua efetivação mais do que o simples cumprimento de uma ordem, 
carecendo de um procedimento executivo judicial ou administrativo. E incertificáveis são os 
direitos que exigirem para sua prova e contraprova meios de prova diversos da prova 
documental. 
18 Um direito pode ser ilíquido porque sua norma de incidência admite ampla 
alternatividade no conteúdo em algum dos aspectos deste direito. Isto ocorre quando o ato 
impugnado for discricionário e o dever da autoridade não está prévia e expressamente 
determinado em lei. Neste caso cabe à autoridade definir o mérito administrativo. Enquanto 
não houver esta deliberação, o direito será ilíquido, mas em tese será liquidável. Antes da 
deliberação, o mandado de segurança deverá ser extinto sem julgamento de mérito por faltar 
direito líquido, podendo a parte, após a deliberação, pleitear tutela jurisdicional. 
19 Vislumbram-se três tipos de sentenças em mandado de segurança: 1) o juízo 
analisa os fatos e conclui que o autor tem ou não tem direito ao bem da vida pleiteado (Para 
isto antes concluiu que o direito do autor era simultaneamente liquidável e certificável e foi 
liquidado e certificado. Neste caso, há coisa julgada material quanto ao direito subjetivo 
vindicado e também sobre o mérito do mandado de segurança, não se admitindo nem outro 
mandado de segurança nem outra ação ordinária sobre o tema, pois tanto a via ordinária 
quanto a mandamental estarão fechadas); 2) o juízo analisa os fatos e conclui que o autor não 
tem direito líquido e certo, porém o direito é simultaneamente liquidável e certificável (A 
conseqüência é que o autor poderá/deverá ajuizar novo mandado de segurança após obter a 
prova que o certifique ou após a deliberação liquidante da autoridade, havendo julgamento de 
mérito positivo do mandado de segurança e não havendo julgamento do mérito relacionado ao 
direito subjetivo, estando fechada a via ordinária); 3) o juízo conclui que o direito não é 
certificável ou não é liquidável (A conseqüência é que o direito somente pode ser defendido 
por ação ordinária e a sentença proferida faz coisa julgada quanto ao mérito do mandado de 
segurança, fecha a via mandamental, adentra ao conteúdo do direito material, mas não define 
o mérito da ação ordinária intentável para defesa do direito). O juízo deve pronunciar-se em 
todo mandado de segurança não apenas sobre se há ou não direito líquido e certo, mas 
também se o direito é liquidável ou não e se é certificável ou não. 
20 De todos estes caracteres do direito líquido e certo, percebe-se que há direitos, 
como exemplificativamente é o caso do direito à assistência à saúde, que não são líquidos 
nem certos porque os aspectos material, quantitativo, temporal, espacial e pessoal de sua 
hipótese de incidência não estão definidos em sua norma reguladora e precisam de uma 
liquidação pela autoridade de saúde pública por um ato administrativo discricionário, porque 
há necessidade de dilação probatória incompatível com o rito do mandado de segurança e 
porque há necessidade de um procedimento administrativo ou judicial para cumprimento da 
ordem emitida no mandado de segurança, especialmente em razão da alternatividade das 
prestações estatais que possam efetivar o direito do cidadão.

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