Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Atualizado em mar-21 Análise Criminal - CBFPM MP 9–1 MANUAL DO PARTICIPANTE SOCIOLOGIA DA VIOLÊNCIA E DA CRIMINALIDADE E ABORDAGEM SOCIOPSICOLÓGICA DA VIOLÊNCIA – CBFPM 2021 17 UD I - Abordagem conceitual Notas Objetivos Ao finalizar esta unidade o participante espera-se que o participante tenha alcançado os seguintes objetivos: 1. Ampliar seus conhecimentos para compreender o fenômeno da violência e do crime, a partir de uma prévia visão do homem e da sociedade, vislumbrando a influência dos elementos sociais e situacionais sobre a personalidade; 2. Desenvolver e exercitar habilidades para discutir as variáveis e os pressupostos dos diferentes modelos teóricos que abordam a violência e os eventos do crime, bem como as formas de intervenção nas ações de segurança pública. 3. Fortalecer atitudes para refletir sobre os fatores e situações inerentes à violência e à criminalidade, de acordo com o espaço público de sua atuação. CBFPM 2021 - Abordagem conceitual NOTAS DE AULA Atualizado em mar-21 Análise Criminal - CBFPM MP 9–2 1. Introdução A violência se constitui em uma temática que, há muito tempo, preocupa a comunidade científica e tenta entender e descrever este fenômeno. No entanto, as abordagens sobre o tema sofreram mudanças, ao longo do tempo. No Brasil, por exemplo, os estudos sobre violência começam pelo viés histórico, dando conta das revoluções, guerras, etc. Mais tarde começou-se a discutir a violência no campo, no sentido de abranger os fenômenos referentes às complicadas relações de exploração das atividades econômicas (agricultura, pecuária, etc.), vinculadas principalmente aos conflitos em torno da propriedade da terra. Contemporaneamente (década de 1980 em diante), passou-se a estudar as questões relativas à violência urbana, já que houve um intenso movimento das pessoas do campo para as cidades (êxodo rural). Neste capítulo veremos a importância do estudo sobre a violência e criminalidade para a compreensão do fenômeno como produto de processo social com características próprias e regulares, objeto da segurança pública, e também seus conceitos básicos como sociedade, sociologia, estrutura social, ordem social, senso comum, teoria, cultura, alteridade, etnocentrismo e relativismo. Da mesma forma, serão apresentados marcos teóricos sobre a violência e a criminalidade inseridos nos paradigmas clássicos da Sociologia, como o marxista, weberiano e durkheimniano. 2. Conceitos básicos a) Sociedade: tipo especial de sistema social que, como todos os sistemas sociais, distingue-se por suas características culturais, estruturais e demográficas/ecológicas. Especificamente, trata-se de um sistema definido por um território geográfico, que poderá ou não coincidir com as fronteiras de nações-estado, dentro do qual uma população compartilha de uma cultura e estilo de vidas comuns, em condições de autonomia, independência e autossuficiência relativas. b) Individuo (percepção na democracia e no sistema capitalista): na democracia o indivíduo é considerado conforme seu nível de empreendimento na participação social, sua importância e relevância individual advém da consideração de seus pares a respeito dos seus atos em favor do coletivo. No sistema capitalista a valoração do indivíduo também considera os resultados do seu trabalho em prol do coletivo, lhe atribuindo importância e valor positivo ou, na ausência de produção de forma injustificada, valor negativo, por isso ele próprio será culpado de sua condição c) Sociologia: é o estudo da vida e do comportamento social, sobretudo em relação a sistemas sociais, como funcionam, como mudam, suas consequências e sua complexa relação com a vida dos indivíduos. É uma Ciência Social que estuda e analisa o conjunto de fenômenos, instituições, grupos sociais, poderes e relações de força que se manifestam pelo fato de os homens viverem em sociedade. Constitui-se num conjunto de conhecimentos CBFPM 2021 - Abordagem conceitual NOTAS DE AULA Atualizado em mar-21 Análise Criminal - CBFPM MP 9–3 sistemáticos baseados, igualmente, na observação, análise e na pesquisa objetiva dos fatos sociais. Neste sentido, a Sociologia é uma ciência que trata das relações sociais, das formas de associação, destacando-se os caracteres gerais comuns a todas as classes de fenômenos sociais, que se produzem nas relações entre seres humanos. Estuda o homem e o meio ambiente em suas interações recíprocas, se baseia em estudos objetivos que melhor podem revelar a verdadeira natureza dos fenômenos sociais e, desta forma, o estudo e o conhecimento objetivo da realidade social. Como exemplos, podemos citar a formação e desintegração de grupos, a divisão da sociedade em camadas, a mobilidade de indivíduos e grupos nas camadas sociais, processos de competição e cooperação. d) Estrutura social: é a trama, a rede de relações de interdependência relativamente estáveis que existem em um determinado conjunto de posições sociais, papéis, instituições, grupos, classes ou outros componentes da realidade social, de nível igual (como membros de uma família) ou de nível diferente (como acontece numa formação econômico-social), independentemente da identidade dos componentes que se revezam como sujeitos das relações. Trata-se de um conjunto dinâmico de disposições sobrepostas que grava, armazena e prolonga a influência dos diversos ambientes sucessivos da vida de uma pessoa. Diz respeito à forma como a sociedade se organiza – assim como certas funções são necessárias para aquele grupo. e) Ordem social: seu conceito de pode apresentar vários significados, embora relacionados. A primeira definição destaca que esta seria a coesão social pela qual os sistemas se mantém integrados, o que constitui um dos interesses básicos da perspectiva funcionalista. No segundo sentido, pode ser tratado como sinônimo de controle social, de meios institucionais e de outros métodos usados para assegurar que indivíduos obedeçam às normas e sustentem valores. No terceiro, refere-se aos padrões relativamente previsíveis de comportamento e experiências que caracterizam a vida nos próprios sistemas (referidos também como organização social). Se combinássemos todos esses significados poderíamos dizer que todo sistema social é uma ordem social. f) Controle social: é o conjunto das sanções positivas e negativas a que uma sociedade recorre para assegurar a conformidade das condutas aos modelos estabelecidos (Rocher). O controle social pode ser informal (natural, espontâneo, baseado nas relações pessoais e íntimas que ligam os componentes do grupo) e formal (artificial, organizado, exercido principalmente pelos grupos secundários). g) Senso comum: é o conjunto diversamente sistemático e coerente de representações da realidade do homem, da sociedade, da natureza e do sobrenatural, de juízos morais e afetivos sobre suas ações e condições, de crenças sobre a relação das causas e efeitos entre os eventos humanos, naturais e sobrenaturais, de esquemas interpretativos úteis para orientar e conferir ordem e significado à vida quotidiana, e que cada ser humano forma naturalmente e inconscientemente no curso da socialização primária e CBFPM 2021 - Abordagem conceitual NOTAS DE AULA Atualizado em mar-21 Análise Criminal - CBFPM MP 9–4 secundária. Constitui o pressuposto basilar das suas ações sociais, isto é, de todas as ações intencionalmente dirigidas a outros sujeitos. Da mesma forma, o senso comum seria um saber que nasce da experiência cotidiana, da vida que os homens levam em sociedade. É, assim, um saber acerca dos elementos da realidade em que vivemos; um saber sobre os hábitos, os costumes, as práticas, as tradições, as regras de conduta, enfim, sobre tudo o que necessitamos para podermos orientar-nos no nosso dia-a-diacomo comer à mesa, acender a luz de uma sala, ligar a televisão, fazer uma chamada telefônica, apanhar o autocarro, o nome das ruas da localidade onde vivemos. h) Teoria, do grego, é o conhecimento descritivo puramente racional. O substantivo theoría significa ação de contemplar, olhar, examinar, especular. Também pode ser entendido como forma de pensar e entender algum fenômeno a partir da observação. Na Grécia antiga, teoria significava "festa solene, procissão ou embaixada que as cidades helênicas enviavam para representá-las nos jogos olímpicos ou para consultar os oráculos”. Em ciência, a definição de teoria científica difere bastante da acepção de teoria em senso comum ou de simples especulação; o conceito moderno de teoria científica se estabelece, entre outros, como uma resposta ao problema da demarcação entre o que é efetivamente científico e o que não o é. i) Cultura é o conjunto acumulado de símbolos, idéias e produtos materiais associados a um sistema social, seja ele uma sociedade inteira ou uma família. Edward Tylor (1871) define o conceito de cultura como “este todo complexo que inclui os conhecimentos, as crenças religiosas, a arte, a moral, o direito, os costumes e todas as outras aptidões e hábitos que o homem adquire como membro das sociedades”. j) Diversidade cultural: Fatores de identidade que distinguem o conjunto dos elementos simbólicos presentes nas culturas, os quais reforçam as diferenças entre grupos de seres humanos. Representa o conjunto das distintas culturas que existem no planeta. k) Alteridade: o conceito de alteridade nos fala sobre ser capaz de notar as diferenças entre as pessoas, do respeito que se deve ter pelo outro em suas particularidades e de como seria bom se, ao invés de repudiarmos algo diferente, pudéssemos tentar compreender, possibilitando, assim, a propagação de culturas diversas. l) Etnocentrismo: “é a superestimação do grupo a que se pertence, examinando todo e qualquer assunto com os preconceitos desse grupo” (Verbete do Vocabulário Prático de Tecnologia Jurídica e de Brocados Latinos. Iêdo Batista Neves, 5ª Edição, Edições FASE, 1992). Conceito antropológico usado para definir atitudes nas quais consideramos nossos hábitos e condutas como superiores aos de outrem. Fenômeno que possui dimensões intelectuais (racionais) e afetivas (psicológicas) que estão na gênese de quase todas as atitudes e comportamentos preconceituosos, radicais e xenófobos. m) Relativismo é uma doutrina que prega que algo é relativo, contrário de uma ideia absoluta, categórica; atitude ou doutrina que afirma que as CBFPM 2021 - Abordagem conceitual NOTAS DE AULA Atualizado em mar-21 Análise Criminal - CBFPM MP 9–5 verdades (morais, religiosas, políticas, científicas, etc.) variam conforme a época, o lugar, o grupo social e os indivíduos de cada lugar. Na filosofia e na antropologia, Ian Jarvie diz que o relativismo é a "postura segundo qual toda avaliação é relativa a algum padrão, seja qual for, e os padrões derivam de culturas." O relativismo, dessa forma, leva em consideração diversos tipos de análise, mesmo sendo aparentemente contraditórias. As diversas culturas humanas geram diferentes padrões segundo os quais as avaliações são geradas. Este conceito difere, pois, do etnocentrismo, que leva em consideração apenas um ponto de vista em detrimento aos demais. Assim, podemos concluir que o relativismo é um termo filosófico que se baseia na relatividade do conhecimento e repudia qualquer verdade ou valor absoluto. Todo ponto de vista é válido. (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. - ADAPTADO) n) Relativismo cultural: Traz a reflexão na qual a humanidade não deve, necessariamente, atingir o mesmo patamar tecnológico de outro povo para ser "melhor" ou "pior". Ao invés de utilizar termos como “superior” ou “inferior”, busca compreender certos comportamentos de acordo com a dinâmica social da população considerada. o) Vínculo social: Resulta de um relacionamento lógico, ou de dependência, ou de ligação afetiva ou moral entre duas ou mais pessoas. p) Habitus: Sistema de disposições duráveis e transponíveis que considera as experiências passadas e funciona como uma matriz de percepções, apreciações e ações. 3. Paradigmas clássicos da sociologia a) KARL MARX (1818-1883) – Alemão, contribuiu para o desenvolvimento da Sociologia, salientando que as relações sociais decorrem dos modos de produção (fator transformador da sociedade), numa tentativa de elaborar uma teoria sistemática da estrutura e das transformações sociais. O postulado básico do marxismo é o determinismo econômico, segundo o qual o fator econômico é determinante da estrutura do desenvolvimento da sociedade. Principais obras: Manuscritos econômico-filosóficos, 1844; A Ideologia Alemã, 1845; A Miséria da Filosofia, 1847; Manifesto Comunista, 1848; As lutas de classe na França em 1848 e 1850; O 18 Brumário de Luís Bonaparte, 1852; Contribuição à Crítica da Economia Política, 1857; e O Capital, 1867. Karl Marx traça o paradigma da contradição social na dinâmica capitalista, de forma a tornar possível chegar na raiz da realidade. Trata das condições materiais de sua época e das relações de dominação existentes. As quais, ainda hoje, apresentam-se como condicionantes da vida social e política em geral. CBFPM 2021 - Abordagem conceitual NOTAS DE AULA Atualizado em mar-21 Análise Criminal - CBFPM MP 9–6 Karl Max usa da dinâmica do capital para caracterizar as relações sociais, diferenciando entre os detentores de capital e meios de produção e a mão de obra do proletariado, apontando sempre uma relação litigiosa entre ambos capaz de revelar as causas dos acontecimentos no contexto social. b) MAX WEBER (1864-1920) – Alemão. Para este autor a Sociologia é o estudo das interações significativas de indivíduos que formam uma teia de relações sociais, sendo seu objetivo a compreensão da conduta social. Esta ênfase dada à compreensão subjetiva levou Weber a definir ação social como a conduta humana, pública ou não, o que o agente atribui significado subjetivo. Principais obras: A ética protestante e o espírito do capitalismo, 1905; e Economia e Sociedade, publicação póstuma, 1922. Max Weber traça o paradigma da racionalidade dos fenômenos e entende que a sociologia deve interpretar os sentidos que levam a ação social. A investigação se dá fazendo-se o uso da razão e dos valores e significados do investigador. Busca-se na história as explicações para as ações sociais. Compreende que a realidade não possui um sentido único e imutável, dado de forma natural, mas sim como algo infinito e passível de ressignificação de acordo com os sujeitos que a integram. Max Weber aborda a ação social como objeto de estudo, mostrando que ela é relativa, cuja significação varia conforme o tempo, lugar e espaço em que se expressa. c) ÉMILE DURKHEIM (1858-1917) – Francês, considerado por muitos estudiosos o fundador da Sociologia como ciência independente das demais Ciências Sociais. Ao preconizar o estudo dos fatos sociais como "coisas", por meios de regras de rigor científico, determinou seu objeto próprio dos estudos sociológicos e sua metodologia. Principais obras: A Divisão do trabalho social, 1893; As Regras do Método Sociológico, 1895; O Suicídio, 1897; As formas elementares da vida religiosa, 1912; Lições de Sociologia; Educação e Sociologia e Educação Moral. Emile Durkheim traça o paradigma da sociedade integrada investigando os fenômenos sociais tais como as ciências naturais o fazem, ou seja, por meio de uma investigação metódica e sistemática, considerando os fatos sociais como coisas – coercitivas, exteriores e gerais. Émile Durkhéim ao considerar os fatos sociais como coisas, criou uma forma objetiva de estudá-los através do método científico.
Compartilhar