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1 Referência: aula da prof. Rievani Damião Conceito A placenta prévia consiste na presença de tecido placentário que se insere no segmento inferior do útero, recobrindo ou se localizando muito próximo do orifício interno do colo uterino, após a 28ª semana de gestação. O útero gravítico tem um formato semelhante a uma pera. Este órgão tem duas partes: colo e corpo uterino. À medida que a gestação evolui, forma-se uma parte funcional, denominada segmento do útero. Trata-se de um afunilamento do útero, onde se faz a incisão da cesariana (histerotomia), de forma transversal. Geralmente, a placenta se insere no fundo uterino ou nas porções do corpo uterino anterior, posterior ou laterais. Quando ela não se insere nas porções altas do útero, ela pode se inserir nas porções baixas, fazendo relação com segmento inferior, colo uterino e orifício interno do útero. A esse fenômeno, damos o nome de placenta prévia. É “prévia” porque vem antes do polo da apresentação. Ao invés de o polo cefálico ou pélvico estar ali, quem vai estar é a placenta de inserção anômala. Ela pode ficar mais próxima ou mais distante do orifício interno do útero. Importância • Incidência: 1 em 300 gestações. • Associa-se com mortalidade materna: por conta de sangramento, durante o parto e no pós-parto (principalmente durante). • Associa-se com mortalidade perinatal: durante a gestação, haverá possibilidade de o feto ter restrição de crescimento intrauterino, anóxia perinatal e prematuridade. Classificação • PP centro-total: a placenta obstrui totalmente o orifício interno do colo uterino. • PP centro-parcial: a placenta obstrui apenas parcialmente. • PP marginal e lateral – Placenta baixa Quando a placenta apenas margeia o orifício interno, dizemos que é uma placenta marginal. Quando ela está baixa, mas não toca no orifício interno, se estiver em uma distância < 2 cm, dizemos que é lateral. Quando a distância é > 2 cm, dizemos apenas que é uma placenta baixa. 2 A ultrassonografia classifica a placenta prévia em graus. O x amarelo da imagem anterior representa a cabeça fetal, já o x vermelho representa a placenta prévia. As placentas classificadas como centro-parcial e centro-total são as de pior prognóstico, até porque complicam mais para serem extraídas, além de se correlacionarem mais com o acretismo placentário. Fatores de risco • Idade materna • Paridade o Nulíparas (0,2%) o Grande multípara (5%) • Gestação múltipla • Número de cesáreas prévias: quanto maior o número, maior a chance. É o fator mais importante. • Número de curetagens prévias • Tabagismo • Cirurgias uterinas: miomectomias são as mais importantes. Nas situações em que há cicatriz no endométrio – na decídua basal, onde vai acontecer a implantação da placenta, acredita-se que alguma alteração cicatricial pode levar a uma inflamação local. Junto a isso, há também a imaturidade do embrião a se implantar, o qual vai descendo no útero e procura um lugar para se inserir, então ele termina se inserindo nas porções baixas do útero. É por isso que esses fatores de risco, que se relacionam com úteros que foram seccionados, são super importantes. Diagnóstico • Clínico: hemorragia genital imotivada, indolor, vermelho vivo e cessar súbito em episódios que tendem a se repetir e se agravar. Durante a gestação, a anamnese é muito importante, porque é muito raro haver uma placenta prévia em uma nulípara, embora possa acontecer. A paciente acometida é aquela que tem cesáreas prévias ou história de miomectomia, que no 2º trimestre de gestação – por volta da 28ª/29ª semana, inicia com sangramento assintomático (pequeno, moderado ou grande). O sangue é avermelhado, porque é um sangramento agudo. Além disso, é indolor e não tem relação com contração uterina (diagnóstico diferencial com descolamento prematuro de placenta). Do jeito que o sangramento acontece na gestação, ele reduz progressivamente até desaparecer. A questão é que, se a mulher teve um sangramento mais precoce, isso indica que ela vai ter mais sangramentos durante a gestação. Ou seja, quanto mais precoce a placenta sangra, pior o prognóstico, porque os sangramentos posteriores vão ser mais frequentes e de maior monta. • Considerar: cesáreas prévias, apresentações anômalas, RPMO, RCF, acretismo placentário. Geralmente, vai ter apresentação pélvica ou córmica, embora a apresentação normal possa acontecer. Isso pode ocasionar, ao longo da gestação, uma rotura prematura das membranas (RPMO). Quanto mais precoce a placenta prévia sangra, pior o prognóstico de sangramentos na gestação. A frequência cardíaca fetal, mesmo diante de sangramentos, não altera a vitalidade do feto. Isso faz diagnóstico diferencial com descolamento prematuro da placenta, o qual altera totalmente a vitalidade fetal e põe em risco a vida do feto de forma aguda. O problema é maior quando a placenta prévia vem acompanhada de acretismo placentário. Diagnóstico complementar • Sintomática o USG transabdominal o USG transvaginal • Assintomática o Dopplervelocimetria: avalia se existe associação com acretismo. o RNM Na ultrassom transvaginal, o transdutor intravaginal não piora o sangramento nem o prognóstico da mulher. Pelo contrário, a posição da placenta só pode ser bem avaliada por via transvaginal. A classificação por meio desse exame vai dizer se o prognóstico vai ser ruim ou não. Quando tem dúvida se a placenta é centro-total ou centro-parcial ou se é 3 acretismo importante, complementa com RNM, porque ela vê quanto tem de placenta recobrindo e avalia grau do acretismo. Acima, apresentação cefálica e placenta totalmente inserida na porção inferior do útero, recobrindo totalmente o orifício interno do colo uterino. Tem uma porção maior posterior, o que significa que, na hora da cesariana, descola-se a placenta anteriormente, para que a cabeça do feto apareça para ser extraída. Na imagem direita, temos um exemplo de placenta posterior prévia. É difícil de dar diagnóstico com USG, porque não se consegue ver a porção posterior, que recobre totalmente o orifício interno. Além disso, posteriormente não tem como avaliar acretismo da placenta – o quanto que penetra na parede do útero. A penetração da placenta infiltrando a parede do miométrio traz um prognóstico muito grave e de risco para a paciente. Acretismo placentário – classificação • Profundidade o Acreta: aderência normal à camada basal do útero. o Increta: invasão do miométrio o Percreta: atinge a serosa, podendo pegar órgãos adjacentes. É mais comum na parte anterior, mas na parte posterior pode colar no intestino. Na bexiga, por outro lado, é menos complicado, embora também seja uma cirurgia de risco. • Extensão o Focal: um cotilédone o Parcial: poucos ou vários cotilédones o Total: todos os cotilédones A placenta pode atingir apenas uma parte, sendo focal, metade da placenta, sendo parcial, ou ela toda, sendo uma placenta prévia de extensão total. Fatores de risco Os fatores de risco do acretismo placentário são os mesmos da placenta prévia. • Placenta prévia • ≥ 2 cesáreas anteriores • Outros fatores associados: miomectomia anterior, curetagens As imagens ultrassonográficas abaixo mostram, respectivamente, (1) placenta prévia sem acretismo e (2) ausência de miométrio e do espaço hipoecoico retroplacentário. Em (1), o X vermelho é a placenta, à esquerda dela, temos o líquido amniótico e a cabeça do feto. O X verde mostra o miométrio e, à direita dele, a serosa uterina, junto à serosa da bexiga. O X branco é a bexiga livre. Assim, vê-se que essa placenta é prévia, mas é possível ver planos de clivagem entre placenta, útero, serosa e bexiga. Já na imagem da direita (2), não se consegue ver os planos de clivagem,apenas a placenta, em branco, e a bexiga escura, como se fosse uma parede só. Há invasão total da parede do útero, em que não se consegue ver a porção correspondente ao miométrio. 4 Algumas vezes, pode-se lançar mão da dopplervelocimetria, que estuda os vasos sanguíneos do órgão ou lesão. Abaixo, vemos uma USG com uma placenta inserida na parte baixa. A bexiga está no canto direito, e não conseguimos ver o plano de clivagem. Quando usamos o doppler, ele vai mostrar os vasos tomando a placenta até a bexiga. O fluxo vascular é turbulento, que é próprio da placenta. Diagnóstico diferencial • Descolamento prematuro da placenta: diagnóstico mais importante. • Rotura uterina: quadro raro e agudo, que acontece quando as pacientes têm história de cirurgias prévias, principalmente cesáreas. Pode acontecer antes ou durante o trabalho de parto. • Rotura do seio marginal: quando a placenta se insere e uma parte dos vasos que ficam em sua borda sofre rotura. • Rotura da vasa prévia: quando a membrana amniótica rompe, também se rompe o vaso que passa em sua superfície. É um quadro agudo de alto risco para o feto. • Lesões cervicais: cervicites, pólipos, CA de colo uterino. • Lesões vaginais e vulvares Conduta O sangramento aparece no segundo trimestre, mas não ocasiona hemorragia exaustiva que causa anemia aguda ou choque. Os sangramentos subsequentes, no entanto, podem levar a uma anemia crônica. A depender da quantidade de sangue perdida, pode ser necessário fazer transfusão sanguínea. Geralmente não precisa, porque o sangramento é autolimitado e controlável. • Sangramento controlável o Internação: avalia sangramento, hidrata e colhe exames para avaliar anemia, pode transfundir, mas é raro. o Controle de sangramento o Vitalidade fetal: procurar associações com algum problema fetal, como malformação, ou evolução com restrição de crescimento. o Corticoide entre 26 e 34 semanas: faz para prevenir imaturidade pulmonar. o Interromper gestação na 37ª semana: pode ser por via baixa ou alta. Quando a placenta é centro-parcial ou centro-total, geralmente é via alta. Quando ela é marginal ou lateral pode, em alguns casos, conduzir para parto espontâneo. • Sangramento incontrolável: interrupção da gestação. Faz parto vaginal se a paciente já atingiu a 37ª semana ou entrou em trabalho de parto. O colo uterino começa a dilatar e, à medida em que isso acontece, a placenta vai subindo, então rompe bolsa e o polo cefálico entra, obstruindo o sangramento. Às vezes nasce sem problema nenhum, porque a placenta sai do lugar. A placenta prévia só pode ser classificada assim depois da 28ª semana de gestação, porque, antes disso ela está baixa, mas à medida que o útero cresce, ela vai migrando para a parte alta da cavidade uterina. Antes desse tempo, não fala placenta prévia, fala que é baixa, porque não sabemos se ela vai subir ainda. Complicações • Hemorragia pós-parto • Hemorragia intraparto • Tromboflebite: inflamação dos vasos pélvicos por trombose. • Septicemia: quando há restos placentários que não se conseguiu retirar durante a extração da placenta. • Hemorragia anteparto • Histerectomia: quando, durante a extração do feto, não consegue extrair a placenta, porque ela tem algum grau de acretismo. O mais comum é a histerectomia, seguida de sangramento anteparto e hemorragias intraparto e tromboflebite, que são muito variáveis em incidência.
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