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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI CAMPUS CLÓVIS MOURA – CCM COORDENAÇÃO DE GEOGRAFIA LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA GILMAR BEZERRA DE ARAÚJO O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO DOCENTE TERESINA (PI) 2009 GILMAR BEZERRA DE ARAÚJO O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO DOCENTE Monografia exigida como trabalho final de conclusão do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual do Piauí, sob a orientação do professor David Meneses. TERESINA (PI) 2009 O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO DOCENTE GILMAR BEZERRA DE ARAÚJO Monografia de conclusão de curso submetida a Universidade Estadual do Piauí – UESPI, como requisito para a obtenção do título de Licenciatura plena em Geografia e aprovada pela seguinte banca examinadora: Aprovado em _____/_____/_____ BANCA EXAMINADORA _______________________________________ Profº Esp. David Meneses dos Santos e Silva Presidente ________________________________________ Profª Msc.Teresinha de Jesus dos Santos Sousa Membro ________________________________________ Profº Francisco Leandro de Macêdo Araujo Membro Dedico este trabalho a todos que contribuíram de alguma forma para a sua execução e, principalmente, a todos os educadores que fazem de suas vidas uma grande obra de arte. AGRADECIMENTOS Existem situações na vida em que é de fundamental importância poder contar com a ajuda e o apoio de algumas pessoas, ainda que algumas delas façam parte do seu cotidiano por um curto espaço de tempo. Para a realização do presente trabalho tive a oportunidade de compartilhar minhas angústias e alegrias, trocar experiências e aprender a lidar com as diferenças de pensamentos de pessoas que contribuíram para a realização do mesmo. E a essas pessoas prestarei, através de poucas palavras, os meus sinceros agradecimentos. À minha família (pai, mãe, irmão, esposa, cunhada, filhas), por estarem ao meu lado nesta longa e árdua jornada, persistindo para a realização da mesma nos momentos mais difíceis. À Universidade Estadual do Piauí, mais especificamente ao Campus Clóvis Moura, por ter me proporcionado o acesso ao ensino superior. Aos professores do curso de Geografia, que contribuíram para este momento, compartilhando seus conhecimentos com dedicação. À Professora Teresinha de Jesus S. Sousa, pela sua contribuição no desenvolvimento do projeto de pesquisa, o qual deu início à elaboração do presente trabalho. Ao Professor David Meneses, pela orientação satisfatória na elaboração deste trabalho. Aos estagiários, professores das escolas e professores da disciplina de estágio, que contribuíram respondendo a contento aos questionários a eles destinados. Aos amigos do curso de Geografia, em especial ao amigo Elton Ricardo por sua ajuda em alguns momentos do curso e à turma do time de futebol da sala, pelos momentos alegres no Campus. A Deus por ter me concedido o dom da vida e a capacidade de lutar por meus objetivos. A formação do professor não se constrói apenas cumulativamente a partir de cursos sobre conhecimentos específicos ou sobre técnicas de ensino. O professor se constrói efetivamente um profissional da educação, a partir do momento que passa a ser protagonista ativo na concepção, acompanhamento e avaliação do seu próprio fazer pedagógico. Antonio Nóvoa RESUMO A formação docente tem se constituído em uma das principais preocupações do âmbito educacional, a partir de abordagens diferenciadas presentes em debates e pesquisas. Uma dessas preocupações diz respeito à questão do estágio supervisionado, como componente curricular dos cursos de formação de professores, devendo ser vista como uma atividade que está intrinsecamente ligada à relação teoria e prática, além de ser responsável por inserir o futuro professor em situações reais de trabalho no cotidiano escolar, capacitando-o a refletir sobre o ser docente. Assim, este estudo visa a uma melhor compreensão do Estágio Supervisionado, sua forma de desenvolvimento no curso de Geografia no Campus Clóvis Moura, verificando se a sistemática adotada no seu desenvolvimento é capaz de propiciar o envolvimento dos participantes desse processo, se apresenta uma abordagem eficaz para inserir o estagiário na realidade da sala de aula e, consequentemente, no cotidiano escolar, ampliando a sua visão do ser docente. Para se chegar a um diagnóstico da real situação do tema proposto, foi realizado um levantamento bibliográfico e pesquisa de campo, sendo aplicados questionários e roteiro de entrevista como instrumental de pesquisa para coleta dos dados. A partir do levantamento bibliográfico constatou-se que o Estágio Supervisionado quando planejado e organizado sistematicamente, possibilita ao aluno estagiário perceber-se como sujeito reflexivo na relação ensino-aprendizagem, bem como vivenciar o cotidiano e as relações de sua futura área de atuação. Com a análise dos dados coletados com o instrumental de pesquisa, constatamos que o modo de desenvolvimento do Estágio Supervisionado no curso de Geografia do Campus Clóvis Moura não oportuniza, ao estagiário, a vivência do cotidiano escolar e do ser docente, caracterizando-se como sendo o momento da prática docente em sala de aula. Mediante o resultado obtido com o estudo, foram propostas algumas sugestões para que se possa transformar o Estágio Supervisionado em um verdadeiro ato educativo. Palavras-chave: Geografia. Formação Docente. Estágio Supervisionado. ABSTRACT Teacher training has proven to be one of the main concerns of the educational context, from different approaches in these discussions and research. One such concern relates to the question of supervised training, as part of curricula for teacher education should be seen as an activity that is intrinsically linked to the theory and practice, and is responsible for entering the future teachers in real work daily in schools, enabling him to reflect on being teachers. Thus, this study aims to better understand the Supervised Probation, its way of development in the Geography Campus Clovis Moura, checking that the system adopted in its development is able to provide the commitment of the participants of this process presents an effective approach the trainee to enter the reality of the classroom and, consequently, the school routine, expanding its vision of the teacher. To arrive at a diagnosis of the real situation of the subject, was based on a literature and field research, with a questionnaire and interview guide and research tools for data collection. From the literature it was found that the Supervised Probation when planned and systematically organized, allows the student trainee perception of themselves as reflective subject in the teaching-learning and experiencing everyday life and relationships in their future field. The analysis of data collected with the research tools, we find that on the supervision in the Geography Campus Clovis Moura no opportunity, the intern, the experience of everyday school life and be a teacher, characterized as the time of committing teacher in the classroom. Based on the results obtained from the study were offered a few suggestions so you can turn on the Supervised Probation of a real educational act. Keywords: Geography. Teacher Training. Supervised Probation. LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 01 – Contribuição das disciplinas específicas para o estágio .............33 GRÁFICO 02 – Articulação teoria/prática do ponto de vista dos estagiários ....... 33 GRÁFICO 03 – Importância do estágio para a formação docente ....................... 34 GRÁFICO 04 – Principais dificuldades da prática do estágio na escola .............. 35 GRÁFICO 05 – Período de inicio do estágio supervisionado na escola............... 35 GRÁFICO 06 – Carga horária para o desenvolvimento do estágio supervisionado ............................................................................................................................. 36 GRÁFICO 07 – Tempo para a observação em sala de aula ................................ 37 GRÁFICO 08 – Supervisão do estágio por parte da coordenação de ensino da escola ................................................................................................................... 38 GRÁFICO 09 – Grau de receptividade da escola ................................................ 39 GRÁFICO 10 – Participação do estagiário em atividades promovidas pela escola ............................................................................................................................. 39 GRÁFICO 11 – Acompanhamento da atividade em sala de aula pelos professores ............................................................................................................................. 40 GRÁFICO 12 – Verificação de conteúdo pelo professor titular ............................ 41 GRÁFICO 13 – Disponibilidade de tempo dos professores titulares .................... 42 GRÁFICO 14 – Contribuição do professor supervisor do estágio ........................ 42 GRÁFICO 15 – Avaliação do desenvolvimento do estágio pelo estagiário .......... 43 GRÁFICO 16 – Formação do professor da escola ............................................... 44 GRÁFICO 17 – Tempo de docência do professor da escola ............................... 45 GRÁFICO 18 – O estágio na formação do professor da escola ........................... 45 GRÁFICO 19 – Orientação de estagiários anteriormente pelo professor titular ... 46 GRÁFICO 20 – Opção do professor da escola por acompanhar estagiário ......... 47 GRÁFICO 21 – Dificuldades observadas pelo professor no desenvolvimento do estágio .................................................................................................................. 48 GRÁFICO 22 – Tempo de observação em sala de aula ...................................... 48 GRÁFICO 23 – Orientação prévia do supervisor do estágio com o professor na escola ................................................................................................................... 49 GRÁFICO 24 – Verificação prévia do conteúdo pelo professor ........................... 50 GRÁFICO 25 – Avaliação do desempenho do estagiário .................................... 50 LISTA DE SIGLAS CFE – Conselho Federal de Ensino CNE – Conselho Nacional de Educação CNE/CP – Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional PCN’s – Parâmetros Nacionais Curriculares DCN – Diretrizes Curriculares Nacionais SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 12 1 A GEOGRAFIA NO CONTEXTO ESCOLAR E O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO DOCENTE ............................................................................ 15 1.1 O papel da geografia na formação do cidadão crítico .................................... 15 1.2 Formação do professor de Geografia no Brasil .............................................. 18 1.2.1 Formação inicial de professores de Geografia ............................................ 20 1.3 O papel do estágio na formação docente ...................................................... 22 1.4 O estágio e o paradigmas da formação docente ............................................ 24 1.5 O estágio supervisionado como componente curricular ................................. 26 2 ANÁLISE DIAGNÓSTICA DO MODO DE DESENVOLVIMENTO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CURSO DE GEOGRAFIA NO CAMPUS CLÓVIS MOURA, EM TERESINA – PI.............................................................................................. 31 2.1 O estágio na perspectiva dos estagiários ....................................................... 32 2.2 O estágio na perspectiva dos professores nas escolas.................................. 43 2.3 O estágio na perspectiva do professor supervisor ......................................... 50 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 57 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 61 ANEXOS 12 INTRODUÇÃO O Estágio Supervisionado mostra-se um componente curricular importante na formação de professores, com amplo potencial integrador de diversas aprendizagens. Trata-se, pois de uma atividade teórico prática que, como todas as demais disciplinas que compõem a grade curricular de um curso, deve ser pensada, programada e organizada a fim de atender o processo de ensino-aprendizagem. Esse momento da prática no estágio, além de inserir o acadêmico no cotidiano escolar e em situações reais de trabalho, visa habilitar o aluno-professor para o exercício de sua futura profissão, possibilitando que o mesmo perceba-se como sujeito nas relações sociais no mundo do trabalho. O estudo proposto tem por finalidade compreender a realidade e o modo de desenvolvimento do Estágio Supervisionado no curso de Geografia do Campus Clóvis Moura da Universidade Estadual do Piauí, a fim de analisar se a sistemática utilizada para o seu desenvolvimento mostra-se capaz de propiciar o envolvimento dos sujeitos participantes do processo e, se a mesma mostra-se adequada para uma aprendizagem eficaz para a formação do profissional do aluno, inserindo-o no cotidiano e na vivência de seu futuro campo de trabalho. Para esclarecer a forma como se desenvolve o Estágio Supervisionado no curso de Geografia do Campus Clóvis Moura, tomou-se como objetivo geral: analisar o modo de desenvolvimento do Estágio Supervisionado no curso de Geografia no Campus Clóvis Moura da Universidade Estadual do Piauí. A partir deste, os objetivos específicos delimitados foram: retratar o Estágio Supervisionado como componente curricular na formação docente; discutir o papel do Estágio Supervisionado para a formação docente; caracterizar o desenvolvimento do Estágio Supervisionado no curso de Geografia no Campus Clóvis Moura; sugerir medidas voltadas para a otimização do desenvolvimento da atividade de Estágio no curso de Geografia no Campus Clóvis Moura. A fim de alcançar os objetivos indicados, a metodologia adotada constou, inicialmente, de um levantamento bibliográfico e de pesquisa de campo. O diagnóstico foi construído com base na análise e síntese dos dados coletados em campo, a partir do instrumental de pesquisa aplicado. Para a coleta dos dados foram empregados 13 questionários e roteiro de entrevista, com o objetivo de realizar um diagnóstico da situação real da atividade do Estágio Supervisionado no curso de Geografia, no Campus Clóvis Moura. Por sua vez, a análise dos dados coletados foi realizada através da tabulação e do levantamento percentual dos mesmos, adotando o método matemático estatístico, permitindo a disposição dos dados em gráficos, que fornecerão o retrato da situação diagnosticada. O universo da pesquisa constituiu-se dos alunos do curso de Geografia do Campus Clóvis Moura, no período 2008/2 (blocos 6º e 7º), dos professores das escolas que receberam os estagiários em suas respectivas salas de aula e dos professores da disciplina de EstágioSupervisionado do curso de Geografia (no referido período) na Universidade. Os questionários foram aplicados junto aos estagiários – perfazendo um total de 40 – e aos professores titulares das salas de aula nas escolas, em número de 20, enquanto que o roteiro de entrevista foi direcionado para os (02) professores da disciplina de Estágio Supervisionado do curso de Geografia na Universidade Estadual do Piauí no Campus Clóvis Moura, no período 2008/2. O presente trabalho aborda a temática relacionada ao estágio na formação docente, cujo tema tem suscitado o interesse em diversos autores que trabalham com a educação, bem como daqueles que lidam diretamente com a causa da formação dos futuros educadores do Brasil. Dessa forma, este trabalho apoiou-se nas ideias de alguns autores como Mendes (2006); Pimenta (2005 e 2006); Piconez (1991); Rocha (1996), além dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), dos Referenciais para a Formação de Professores (2002), entre outros que contribuíram com suas reflexões acerca do tema pesquisado. De acordo com a pesquisa realizada e com o levantamento bibliográfico constatamos que o Estágio Supervisionado como componente curricular, quando bem planejado e organizado possibilita ao aluno-professor, em condições reais de trabalho, perceber-se como sujeito na relação ensino-aprendizagem, de forma reflexiva. Conforme a análise dos instrumentais de pesquisa, concluímos que o Estágio Curricular Supervisionado no curso de Geografia do Campus Clóvis Moura caracteriza-se por privilegiar somente a prática de ensino em sala de aula, além de apresentar problemas em relação ao seu desenvolvimento, necessitando de uma 14 reformulação, para que o mesmo possa contribuir de forma satisfatória para uma formação que privilegie o ser docente em todos os seus aspectos. Este estudo é relevante para que se possa compreender o papel do Estágio Supervisionado para a formação docente, apresentando uma análise em relação ao seu desenvolvimento no referido curso, além de sugerir medidas voltadas para a sua otimização, contribuindo para uma possível melhoria na formação do professor de Geografia no Campus Clóvis Moura. Como sugestões apontadas, podemos destacar como sendo as mais significativas: a integração entre Universidade e escola, com a seleção de escolas pré-estabelecidas para a atividade do estágio, a etapa de observação em sala de aula com um tempo suficiente para que o estagiário possa se adequar a essa realidade e, principalmente, a articulação entre teoria e prática, a partir das disciplinas de conteúdo específico do curso. O presente trabalho está estruturado em dois capítulos. O primeiro capítulo, trata da questão do papel da Geografia na formação do cidadão crítico, da formação do docente em Geografia e do Estágio Supervisionado, enquanto componente curricular. No segundo capítulo abordamos a análise diagnóstica, propriamente dita, em relação ao desenvolvimento do Estágio Supervisionado no curso de Geografia no Campus Clóvis Moura da Universidade Estadual do Piauí, tomando-se por base os dados coletados por meio da aplicação do instrumental de pesquisa. 15 1. A GEOGRAFIA NO CONTEXTO ESCOLAR E O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO DOCENTE 1.1. O Papel da Geografia na formação do cidadão crítico A Geografia, enquanto ciência tem como preocupação compreender o modo como as diferentes sociedades interagem com a natureza e, historicamente, como constroem os espaços. Em outras palavras, a Geografia estuda o visível: as paisagens e a expressão espacial que resulta das inter-relações dos fatores sociais e naturais. Assim, na escola, o objeto do estudo geográfico deve consistir na promoção das habilidades e competências dos alunos, instigados pelos professores, para que desenvolvam uma consciência de espacialidade dos fenômenos - vivenciados ou não por eles. Assim, Veiga diz que a relação conhecimento/habilidades/competências fortalece não só o caráter meramente instrumental dos cursos de formação de professores, mas também a sua prática docente em sala de aula no desenvolvimento de tais habilidades. Para isso, os alunos devem ir além da descrição e da localização dos lugares e/ou buscar sua significação, formando o raciocínio espacial, que é uma habilidade importante nas práticas sociais cotidianas e que deve ser inserido no contexto da educação básica para desenvolver, no aluno, o estímulo da curiosidade, do espírito investigativo e do desenvolvimento da capacidade de resolver problemas. Assim, a proposta para o ensino de Geografia, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), aponta em direção a uma disciplina: [...] que não seja apenas centrada na descrição empírica das paisagens, tampouco pautada exclusivamente na interpretação política e econômica do mundo; que trabalhe tanto as relações socioculturais da paisagem como os elementos físicos e biológicos que dela fazem parte, investigando as múltiplas interações entre eles estabelecidas na construção de um espaço: o espaço geográfico (BRASIL, 1998, p.106). Dessa forma, transpor as preocupações da ciência geográfica para a educação básica e, ao mesmo tempo, promover o raciocínio espacial dos alunos não tem sido uma das tarefas mais fáceis para os educadores que estão verdadeiramente 16 envolvidos e comprometidos com o processo de ensino-aprendizagem e na construção de cidadãos críticos e conscientes. E, em relação ao professor verdadeiramente envolvido com o processo ensino-aprendizagem na escola, não basta saber o conteúdo especifico de sua área, “ele deverá ser capaz de transpô-lo para as diversas situações educativas” (KUENZER,1999, p.172). Então a Geografia escolar deve ser uma construção social e histórica, devendo ter sua base na construção de um saber sistematizado, visto que a escola é um lugar de encontros e confrontos de saberes, os quais são produzidos pela humanidade ao longo da história. A partir disso a Geografia torna-se um dos instrumentos pelo qual se materializam esses encontros e confrontos, sendo também a Geografia escolar um lugar de culturas, devendo “valorizar os valores culturais da vida cotidiana, permitindo compreender, ao mesmo tempo, a singularidade e a pluralidade dos lugares no mundo” (PCN’s, 1998). Severino (2004, p.185), por sua vez, nos afirma que no Artigo 210 da Constituição fica estabelecido um currículo mínimo na educação de maneira a “assegurar uma formação básica comum e o respeito aos valores culturais e artísticos, regionais, nacionais e mundiais”. Assim, um dos critérios para a construção do saber geográfico escolar é a sua relevância social, isto é, a possibilidade desse saber (geográfico) contribuir na formação do cidadão. Sendo que a sua presença no currículo escolar deve-se, então, a uma necessidade dos alunos de apreender o espaço como dimensão da prática social cotidiana, onde a Geografia é uma prática social que ocorre na história cotidiana da humanidade, ou ainda mais precisamente como afirma Kaercher (2003, p.11), “o homem faz geografia à medida que se faz humano, ou seja, um ser social”. Nesse sentido, a Geografia, entendida como uma ciência social – que estuda o espaço construído pelo homem, a partir das relações que estes mantêm entre si e com a natureza – é, por excelência, uma disciplina formativa, capaz de instrumentalizar o aluno para que exerça, de fato, a sua cidadania. Assim, a geografia escolar tem por objetivo contribuir para a formação do cidadão, sendo este, capaz de reconhecer o espaço em que vive, que possa compreender-se como individuo social capaz de construir a sua história, a sua sociedade, ou seja, o seu espaço. 17 Diante desse contexto, a geografia (como componente curricular da educação básica) deve modificar-se ou adequar-se a uma nova realidade, seja por forçade políticas públicas ou por exigência da própria ciência. Assim, pensar o papel da Geografia na educação básica e, consequentemente, do professor de geografia e do seu fazer pedagógico, torna-se significativo, devido o envolvimento dos conteúdos e objetivos que envolvem a educação básica, como um todo. O professor de geografia através do seu fazer pedagógico busca ampliar o conhecimento do aluno sobre o mundo, sobre a sociedade e a natureza – das quais participa – e promover valores e atitudes que concorram para a construção de uma sociedade melhor (KAERCHER, 2003, p.9) E, dessa forma, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s, 1998), espera-se que através do ensino de Geografia na educação básica, os alunos construam um conjunto de conhecimentos referentes a conceitos, procedimentos e atitudes que lhes permitam ser capazes de: conhecer o mundo atual em sua diversidade; identificar e avaliar as ações dos homens e suas consequências em diferentes tempos e espaços; conhecer o funcionamento da natureza em suas múltiplas relações; compreender a importância das diferentes linguagens na leitura da paisagem; saber utilizar a linguagem gráfica para obter informações sobre o espaço, entre outros. Assim percebe-se que a partir de uma geografia capaz de formar um cidadão crítico e consciente da realidade que o cerca, torna-se, então, necessário pensar e repensar o papel do professor de geografia, bem como a sua formação, onde: [...] de um modo geral os cursos de formação de professores, em especial o de geografia, precisam rever sua práticas escolares no sentido de realizar uma autocrítica conjunta, no intuito de repensar o profissional que a sociedade requer (PONTUSCHKA,1991, p.106). De acordo com Santomé (1998, p.253), a formação de pessoas críticas e reflexivas implica em “comprometer os educandos com tarefas e atividades que os obriguem a levar à prática capacidades superiores à mera lembrança e memorização”. Em suma, o saber geográfico, pode contribuir para que o aluno da educação básica obtenha e aprimore o seu conhecimento e interpretação do mundo, no sentido de formar cidadãos que tenham uma visão da realidade capaz de situá-los na dinâmica atual e de perceber possíveis caminhos para tornar o mundo mais justo e 18 humano. No entanto, há de se ressaltar que para o desenvolvimento de tais competências no âmbito escolar, deve-se pensar antes na formação do educador, pois para que se tenha um compromisso com a formação do cidadão crítico, essa preocupação deve estar presente no cotidiano de quem trabalha com a formação dos futuros professores, tanto os de geografia quanto das demais áreas do conhecimento humano. 1.2. Formação do Professor de Geografia no Brasil Os conhecimentos geográficos ensinados no Brasil até o século XIX não estavam dispostos de forma organizada, não constituindo, pois, uma disciplina escolar. A educação formal ministrada no Brasil, de certa forma, colocava em segundo plano o ensino de tais conhecimentos. Dessa forma, a aprendizagem do conteúdo geográfico, segundo Rocha (1996, p.179), se dava de forma concomitante com a aprendizagem da leitura, versão e comentários de autores clássicos. Durante o período em que a educação no Brasil estava a cargo dos jesuítas, os primeiros professores do Brasil, a Geografia não teve destaque como disciplina escolar, bem como não se teve cursos voltados para a formação de profissionais para essa área do conhecimento humano. A respeito da atividade de professor no contexto educacional no Brasil nesse período, Mendes Sobrinho (2006, p.88) faz a seguinte observação: a função docente desenvolveu-se de forma subsidiária e não especializada, constituindo uma ocupação secundária de religiosos ou leigos das mais diversas origens. A gênese da profissão de professor tem lugar no seio de algumas congregações religiosas, transformando-se em verdadeiras congregações docentes. A partir do século XIX o ensino de Geografia começou a tomar corpo no sistema formal de educação no país, tendo como impulso a criação do Imperial Colégio Pedro II. O ensino de Geografia nas escolas durante o período imperial apresentava um aspecto descritivo como característica principal, perpassando, assim, a uma orientação clássica, ou seja, mantendo-se como uma disciplina de cunho decorativo, mnemônico, a chamada Geografia decorativa. Há de se ressaltar que um dos motivos de se ter um ensino com tais características (não sendo um privilégio 19 único da geografia) é o fato de que os docentes que atuavam como professores da disciplina eram, na verdade, profissionais de outras áreas (advogados, médicos, sacerdotes, etc.), ou ainda, autodidatas. a geografia era ‘feudo’ do bacharel de Direito ou do cidadão que gostava de ‘pedras’ (...) o conjunto do corpo docente desse período não era bem formado, mesmo havendo excelentes profissionais autodidatas. Apenas eles constituíam a exceção. Mas as coisas não devem funcionar à base de exceções, mas sim de regras (LOURENÇO FILHO, 1993, p.13). Essa realidade começou a tomar nova forma a partir do momento em que se deu inicio aos primeiros cursos de formação especifica de professores de geografia no Brasil, instituído pelo decreto nº 19.851 de 11 de abril de 1931, criando as Faculdades de Educação, Ciências e Letras, que abrigava o curso de Geografia e outros. No ano de 1934, teve inicio os primeiros cursos de formação de professores de Geografia no Brasil, na Universidade de São Paulo e na Universidade do Distrito Federal (atualmente Universidade Federal do Rio e Janeiro). Essas faculdades, segundo Mendes Sobrinho (1996), ao serem criadas tinham como objetivo principal o desenvolvimento da cultura filosófica e cientifica e o de formação de professores secundários. Esses novos cursos de formação de professores apresentaram uma contribuição significativa para a difusão do conhecimento geográfico como ciência moderna, tanto no campo da pesquisa, quanto no ensino secundário de geografia, afirma Rocha (1996). No ano de 1936 formaram-se os primeiros professores licenciados em geografia para atuar no ensino secundário, tornando-se, um extraordinário fator de mudança cultural em todos os lugares onde apareciam. Surgindo, pela primeira vez, professores com formação que os qualificava para o exercício da geografia, assentados numa concepção cientifica da própria ciência, além de uma pedagogia renovada (ROCHA, 1996). A partir dos anos 50 (séc. XX) os cursos de formação de professores na área de geografia passam por um processo de crescimento e difusão, onde nas universidades públicas – e até mesmo nas instituições privadas – ingressam novas turmas, qualificando, cada vez mais, profissionais aptos a atuarem no campo da geografia, suprindo as necessidades do ensino básico. 20 No ano de 1961 entra em vigor a Lei Federal nº 4.024, estabelecendo as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o que determina uma nova regulamentação para os cursos de formação de professores, exigindo, dessa forma, um currículo mínimo para todos os cursos de graduação. Por sua vez, o parecer 412/62, transformado em Resolução no mesmo ano, prescreve o primeiro currículo mínimo para o curso de licenciatura em Geografia, determinando o tempo mínimo de quatro anos de duração para o curso (PCN’s, 1998). 1.2.1. Formação Inicial de professores de Geografia As propostas curriculares para os cursos de licenciatura instituem a figura de um novo profissional, definido por um conjunto de competências que só podem ser construídas na prática e na reflexão coletiva sobre a prática. Dessa forma, foram definidos princípios orientadores, bem como as diretrizes para um programa nacional de formação de professores, que organizam no tempo e no espaço a estruturação dos cursos de licenciatura. Sobre o desenvolvimento desse conjuntode competências, Antunes afirma que o desenvolvimento de tais competências no âmbito da educação é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos, tais como saberes, informações, habilidades e inteligências para solucionar, com pertinência e eficácia, uma série de situações-problemas (2002, p.92). Assim a resolução do Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno (CNE/CP), de 18 de fevereiro de 2002, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, apresenta um conjunto de princípios, fundamentos e procedimentos a serem observados na organização institucional e curricular de cada estabelecimento de ensino. Esta resolução enfatiza a valorização da prática durante os cursos de formação de professores, devendo a mesma estar presente desde o início do curso e permanecer durante toda a formação, além de ser desenvolvida com ênfase nos 21 procedimentos de observação e reflexão, visando uma atuação de forma contextualizada, com registros das observações realizadas e a resolução de situações-problemas. As Diretrizes Curriculares para os Cursos de Licenciatura enfatizam que o professor egresso de um curso de licenciatura deve ter uma adequada preparação para sua carreira onde os conhecimentos geográficos devem ser utilizados de forma essencial, assim como para um processo contínuo de aprendizagem e, ainda, uma formação pedagógica voltada para a sua prática, que possibilite a vivência crítica da realidade e uma formação geral complementar envolvendo outros campos do conhecimento, necessários ao exercício do magistério (GROENWALD, 2005). Portanto, percebe-se que as Diretrizes Curriculares indicam que os profissionais formados nos cursos de Geografia devem ter uma visão abrangente do papel social do educador na sociedade; capacidade de compreender, criticar e utilizar novas ideias e tecnologias; participar de programas de formação continuada e trabalhar em equipes multidisciplinares; capacidade de comunicar-se geograficamente e compreender a Geografia como ciência, de estabelecer relações com outras áreas do conhecimento, de expressar-se com clareza, precisão e objetividade (Idem). Entre outros itens, o Conselho Nacional de Educação (CNE) trata da necessidade de se desenvolver nos futuros professores a noção de competências como núcleo na orientação dos cursos, definindo um amplo conjunto delas a serem consideradas como norte de toda a composição curricular e de todos os conhecimentos a serem trabalhados nos cursos de formação de professores, sendo estas competências referentes ao conhecimento do processo de ensino e aprendizagem. Assim, o papel do professor (de geografia) deve ser o de um educador que “está colocando o seu saber para criar condições que possibilitem aos alunos a construção de um conhecimento crítico sobre o mundo” (PCN’s, Brasil: 1998). E, dessa forma, o professor de Geografia deve assumir múltiplas dimensões: mediador entre o conhecimento geográfico e o aluno; organizador da aprendizagem; não é mais aquele que expõe os conteúdos, mas aquele que fornece condições necessárias para resolver as questões que o aluno não tem condições de obter sozinho; incentivador da aprendizagem, estimulando a cooperação, entre outras. 22 1.3. O Papel do Estágio na Formação Docente A formação de professores é influenciada por inúmeros fatores, que devem ser estudados adequadamente, para que assim se possa intervir de maneira construtiva na formação dos acadêmicos que futuramente estarão regendo atividades didáticas em sala de aula. Essa formação deve estimular uma perspectiva critico reflexiva, que forneça aos professores os meios de um pensamento autônomo e que facilite as dinâmicas de autoformação participada. É preciso formar professores que reflitam sobre a própria prática educativa, a qual propiciará um enorme crescimento intelectual dos mesmos, sendo um requisito fundamental para as transformações que se fazem necessárias na educação. A formação deve ser entendida como “um processo contínuo e permanente de desenvolvimento, o que pede do professor disponibilidade para a aprendizagem” (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 1999). O Estágio Supervisionado é uma parte importante da relação teoria e prática, tendo de ser visto como uma aproximação da realidade da sala de aula e da escola, levando a uma reflexão da teoria sobre a prática, propiciando ao aluno a oportunidade de fazer uma síntese dessa relação na escola. Mas, faz-se necessário, que se mude a ideia de que “a formação teórica recebida nos primeiros anos da formação inicial é uma espécie de receituário, em que a prática é uma aplicação da teoria” (PICONEZ, 2007, p.25) e, ainda muito se fala ao acadêmico sobre “como deve ser um professor, o que deve fazer, que conteúdos estudar e os métodos para os ensinarem, mas pouco ou nada lhes é dito, por exemplo, acerca do controle e disciplina dos alunos” (GROENWALD,2006, p.47). A partir desta ideia, muitos professores afirmam que universidades ensinam muitas coisas que não fazem falta, que não utilizarão no seu cotidiano como professores e esquece-se de ensinar outras que consideram muito mais importantes e úteis para o desenvolvimento das suas aulas, para que melhor pudessem enfrentar a realidade da sala de aula (Idem). 23 Com isso, continua o conflito entre a formação teórica e a dificuldade em se transferir esses conhecimentos para a prática, que é uma das críticas habituais dos professores estagiários e que não deixa de ser um aspecto crítico da formação inicial merecedor de reflexão. Logo, considera-se a formação de professores bastante teórica em muitas universidades, estando afastada da realidade do ensino básico, dando-se ainda, “pouca importância à prática e supervalorizando a teoria” (DURHAM, 2008, p. 20-21). O estágio tem por finalidade colocar o aluno estagiário em situação de ensino e aprendizagem, oportunizando assim, um conjunto de experiências e de reflexões, sendo que este é, muitas vezes, o primeiro contato que os acadêmicos têm com a sala de aula e com a escola, lhe dando assim, uma melhor visão de como “funciona” a prática. O Estágio Supervisionado é uma atividade imprescindível à formação profissional, sendo que este permite aos acadêmicos conhecerem a realidade das escolas. Com isso aprendem a criticar a prática que está sendo aplicada em sala de aula, e ainda, podem confrontar a teoria que lhes é ensinada, com as realidades existentes na prática, questionando, dialogando e construindo o seu conhecimento. Este poderá se constituir em uma “fonte de informações, de possibilidades de reflexão e ação e de aprofundamento no estudo das diversas questões relacionadas à educação” (RIANI, 1996, p. 120). Portanto, pode-se dizer que o estágio pretende oferecer ao futuro licenciado um conhecimento da real situação do trabalho em sala de aula e do fazer docente, sendo também, um momento para se verificar as competências adquiridas ao longo do curso na prática profissional. Objetiva também levar o estagiário a uma reflexão sobre a sua profissão e se realmente deseja se dedicar a essa profissão. É o momento para muitas decisões sobre a profissão-professor (Idem). É preciso fazer com que os professores e futuros professores vejam a escola como um “ambiente educativo, onde trabalhar e formar não sejam atividades distintas. A formação deve ser encarada como um processo permanente” (GROENWALD, 2006), além de contínuo, onde teoria e prática andam juntas e integradas ao dia a dia dos professores e das escolas, sendo que a dissociação entre teoria e prática resulta em um empobrecimento das práticas na escola. 24 1.4. O Estágio e os Paradigmas da Formação Docente Na formação docente estão presentes seis paradigmas que, de certa forma, representam o ofício docente, sendo consideradoscomo “núcleos de princípios e hipóteses fundamentais que determinam qual o modo de abordagem de uma realidade” (LIMA, 2001, p. 38). Esses paradigmas são o do professor culto, o técnico, o prático artesão, prático reflexivo, o ator social e o personalista. Assim, o Estágio Supervisionado como lócus da prática de ensino e espaço da vivência docente, deve apresentar diferenças, de acordo com cada paradigma, em relação aos objetivos, a importância, à concepção, às atividades, bem como na relação teoria/prática: Paradigma do professor culto – neste paradigma o docente é visto como um mero transmissor de conhecimentos, visto que o estágio supervisionado ocupa uma posição secundária. É, pois, priorizada a formação teórica, onde a teoria toma a maior parte do curso e, só a partir de então, é que se dá inicio à atividade do estágio, tendo por objetivo a aplicação da parte teórica apreendida anteriormente, representando, portanto, um caráter dissociativo da relação teoria/prática. É a partir desse pensamento que a professora Durham (2008, p.20-21) questiona os cursos de licenciatura, pois para ela esses cursos “supervalorizam a teoria, deixando de lado a parte prática”, configurando em um distanciamento entre a realidade da universidade e a realidade encontrada na escola, em sala de aula.. Paradigma do professor técnico – esse paradigma centra-se em uma concepção formativa de aquisição gradativa de conhecimentos, onde as competências docentes vão sendo adquiridas uma após outra. Neste paradigma os estágios são concebidos como complemento à formação teórica e técnica, sendo contemplado no final do curso. O objetivo do estágio, na perspectiva desse paradigma, é automatizar o saber fazer (adquirido anteriormente), permanecendo, dessa forma, a dissociação entre teoria e prática. 25 Paradigma do professor artesão – supervalorização dos saberes práticos adquiridos, onde as decisões são tomadas (por parte dos professores) de forma intuitiva, buscando encontrar respostas adequadas para as situações do cotidiano. O estágio, nesse paradigma, torna-se ponto central em relação à teoria, tendo por objetivo fazer com que se adquiram competências para o exercício da profissão, através de práticas cotidianas. A atividade prática é privilegiada enquanto saber prático, sendo a teoria secundarizada e, permanecendo dissociada a relação teoria/prática. Paradigma do professor prático reflexivo – neste paradigma o professor por meio da reflexão sobre a sua prática, vai constituindo para si um “saber da experiência em evolução” (KULCSAR, 1991, p.71). Os estágios, diante dessa perspectiva, devem ser desenvolvidos de forma a objetivar um “saber teórico” (adquirido com o conteúdo teórico) permitindo analisar situações, analisar-se na situação, avaliar mecanismos e criar ferramentas inovadoras. Dessa forma, a reflexão sobre a prática é valorizada, desde que a mesma seja socializada. Assim percebe-se que na formação docente o ato de ensinar precisa ser desenvolvido de forma a centralizar a ação docente nos pontos que caracterizam o pensamento prático reflexivo (conhecimento na ação, reflexão na ação, reflexão sobre a ação e sobre a reflexão na ação (MENDES SOBRINHO, 2006). Sendo que o conhecimento na ação, de acordo com o pensamento prático reflexivo é o componente que orienta toda atividade humana, manifestando-se no saber fazer. Paradigma do professor como ator social – surge a partir da necessidade de um novo perfil do docente, ou seja, aquele professor que pode apresentar uma capacidade de realizar uma análise da escola em todo o seu contexto; capacidade de trabalhar coletivamente; saber estar, fazer, conduzir e avaliar projetos, etc. Nessa perspectiva, os estágios apresentam-se como ponto importante na formação docente, podendo ser realizado (de forma gradativa) desde o inicio da formação, como meio de aprendizado para as análises de situações complexas, bem como na realização de projetos coletivos e inovadores nas escolas, por parte dos discentes. 26 Paradigma do professor personalista – esse paradigma apresenta a formação docente com a finalidade de promover o desenvolvimento do professor como sendo, antes de tudo, um ser em evolução, ou ainda, em autoformação. O estágio, nesse sentido, é entendido como uma oportunidade importante e insubstituível para a construção de uma identidade profissional. Percebe-se que esses paradigmas que servem como orientação para a formação docente desenvolvem-se de forma diferente nos estágios, pois enquanto que nos paradigmas do professor culto e do técnico há uma valorização da parte teórica em relação à prática; no paradigma do professor artesão há, por sua vez, valoriza-se a parte prática. Enquanto isso, nos paradigmas do professor prático reflexivo, do ator social e do personalista, percebe-se que a dimensão teoria e prática são elementos que se complementam na busca da formação de um docente que seja capaz de refletir sobre sua própria prática, além de se perceber como um ser em constante evolução. Há de se ressaltar que atualmente o paradigma que prevalece nos discursos da formação docente é o do professor prático reflexivo, pois valoriza tanto a parte teórica quanto a prática, através da reflexão da ação. Ainda que na realização dos estágios não se percebe um direcionamento para uma formação mediante um tipo especifico de paradigma, pois de acordo com Lima (1995, p. 38) “pode-se valorizar um paradigma em detrimento de outro”, como os chamados tradicionais (culto, técnico e prático artesão) em benefício dos paradigmas que vislumbram o docente como um profissional da educação (prático reflexivo, ator social e o personalista), visto que, de alguma maneira, todos contribuem para a formação do futuro profissional da educação. 1.5. O Estágio Supervisionado: como componente curricular O Estágio Supervisionado mostra-se um importante componente curricular, com amplo potencial integrador de diversas aprendizagens. Trata-se de uma atividade teórico prática que, como todas as demais que compõem a organização curricular de um curso, deve ser pensada, programada e organizada para atender ao fim da aprendizagem. Esse momento de prática em situações reais de trabalho, 27 deve, pois “buscar habilitar o indivíduo para o exercício de uma profissão, bem como possibilitar ao estudante perceber-se sujeito nas relações sociais e no mundo do trabalho” (PICONEZ, 1991, p.30). O Estágio Supervisionado, atualmente, constitui-se em um instrumento legal, de cunho pedagógico, cuja trajetória pode ser conhecida pelo resgate da legislação. De acordo com Silva, a preocupação com a questão do Estágio Supervisionado teve sua origem nos anos 30 (sec. XX), com a criação dos cursos superiores de licenciatura - sob a forma da disciplina de Didática - e na habilitação especifica de 2º grau para o Magistério (Escola Normal), passando a ser objeto de preocupação dos cursos de formação de professores a partir da reforma universitária na década de 1960, institucionalizada pela Lei 5.540/68, agregando a formação de professores especialistas (2007, p.1 a 6). Por sua vez, a Lei Federal 5.692/71 (LDB), passou a exigir professores de prática de ensino, tornando-se, assim, parte integrante do currículo mínimo dos cursos de licenciatura, sob a forma de Estágio Supervisionado com a resolução nº 9, anexa ao parecer CFE 672/69 do Conselho Federal de Educação (Idem). No entanto, a Lei nº 6.494, sancionada em 07 de Dezembro de 1977, através do seu artigo 1º, delineia mais claramente o objetivo do estágio como sendo a experiência prática do aluno, um treinamento na área especifica do trabalho, devendo acontecer em unidades que tenham condições de propiciar experiência prática na linha de formação e complementação do ensino e da aprendizagem, a serem planejados, executados, acompanhadose avaliados em conformidade com os currículos, programas e calendários escolares. A lei estabelece ainda, em outros artigos: Art. 2º - As atividades de aprendizagem social, profissional e cultural, proporcionadas ao estudante pela participação em situações reais de vida e trabalho de seu meio, sendo realizada na comunidade em geral ou junto a pessoas jurídicas de direito público ou privado, sob a responsabilidade e coordenação da instituição de ensino. Art. 3º - O estágio curricular, como procedimento didático-pedagógico, é atividade de competência da instituição de ensino a quem cabe a decisão sobre a matéria, e dele participam pessoas jurídicas de direito público e privado, oferecendo 28 oportunidade e campos de estágio, outras formas de ajuda e colaborando no processo educativo. A Lei 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), de 20/12/96, em vigor, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, no Art. 82, deixa a cargo dos sistemas de ensino estabelecer normas para realização dos estágios dos alunos regularmente matriculados no ensino sob sua jurisdição. A mesma lei enfatiza a associação entre teoria e prática, instituindo um mínimo de trezentas horas para a prática de ensino em todos os cursos de licenciatura (artigo 65). Essa carga horária estabelecida é considerada como o tempo mínimo necessário para se dar conta das exigências necessárias ao ensino. Esse tempo mínimo foi acrescido para quatrocentas horas, de acordo com o Parecer 02 do Conselho Federal de Educação, de 19 de Fevereiro de 2001 (CFE). A partir dessa Lei, o Estágio Supervisionado é confirmado como componente curricular, articulado e orientado pelos princípios da relação entre teoria e prática, visto que essa disciplina deve caracterizar-se na relação entre as especificidades de discussão dos aspectos básicos dos conteúdos específicos (de cada curso) e das teorias da aprendizagem aplicadas em forma de ensino. Até então, o Estágio Supervisionado é entendido como o “lócus” da Prática de Ensino, sendo proposto, pelo Parecer nº 28/2001 (CNE/CP), uma diferenciação entre essas duas atividades. A Prática de Ensino passa a ser vista como articuladora de todo o processo formativo docente, como reflexão sobre a atividade profissional, devendo permear todo o curso, promovendo a articulação das diferentes práticas, na busca de uma superação do aspecto dissociativo da relação teoria e prática, que perpassam os cursos de formação docente. Nenhum professor consegue criar, planejar, realizar, gerir e avaliar situações didáticas eficazes para a aprendizagem e para o desenvolvimento dos alunos se ele não compreender, com razoável profundidade e com a necessária adequação à situação escolar, os conteúdos das áreas do conhecimento que serão objeto de sua atuação didática, os contextos em que se inscrevem e as temáticas transversais ao currículo escolar (CNE/CP, Parecer nº 9/2001, p. 20). Percebe-se que a dissociação da relação teoria e prática na formação docente é um ponto merecedor de reflexão e investigação, visto que são diversas as pesquisas acerca do tema e, segundo estudo realizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em reportagem da http://aprender.unb.br/mod/wiki/view.php?wid=465&userid=0&groupid=0&page=Alunos 29 FOLHA UNIVERSAL (Out/2009, p. 13), os cursos de formação de professores no Brasil apresentam um formação deficiente, visto que “os cursos de pedagogia pouco ensinam sobre o que será dado em sala de aula, sendo que os de licenciatura compartilham dessa mesma falha, além de pouco informar sobre métodos de aula”. Dessa forma, percebe-se que realmente a existe um distanciamento entre a realidade acadêmica e a realidade da sala de aula, visto que nem sempre o que se aprende na universidade tem aplicabilidade prática na escola e em sala de aula, configurando uma distorção entre o saber e o saber fazer. Dentro desse contexto, o Estágio Supervisionado, de acordo com o Parecer 28/2001, passa a ser entendido como: o tempo de aprendizagem que, através de um período de permanência, alguém se demora em algum lugar ou ofício para aprender a prática do mesmo e depois poder exercer uma profissão ou ofício. Assim o Estágio Supervisionado supõe uma relação pedagógica entre alguém que já é um profissional reconhecido em um ambiente institucional de trabalho e um aluno estagiário. Por isso que é chamado de Estágio Curricular Supervisionado (2001, p. 10). Observa-se, então, que as regulamentações apontam que o estágio deve integrar a proposta pedagógica e os instrumentos de planejamento curricular do curso, sendo planejado, executado, acompanhado e avaliado em conformidade com os objetivos propostos, mostrando-se capaz de contribuir para o processo ensino- aprendizagem, se constituindo em instrumento de integração, em termos de treinamento prático e de relacionamento humano. Para a sua realização são estabelecidos vários critérios, como: que o estagiário seja aluno regularmente matriculado e frequentando curso compatível com o estágio; que seja orientado e supervisionado pelo estabelecimento de ensino, por profissional designado; que se realize ao longo do curso; que sejam realizados em locais que tenham efetivas condições de proporcionar aos estagiários, experiências profissionais, ou de desenvolvimento sociocultural ou científico, pela participação em situações reais de vida e de trabalho no seu meio; celebração de termo de cooperação entre o estabelecimento e a concedente; celebração de termo de compromisso entre o estagiário e a escola com intervenção da instituição de ensino, bem como a realização de uma carga horária mínima exigida por lei. 30 O Estágio Supervisionado como ato educativo exige da instituição supervisão e orientação do estagiário por profissional designado, já que a ela cabe a responsabilidade por seus estagiários e o zelo pelo aproveitamento das suas atividades. Esses profissionais acompanharão e oferecerão suporte aos estagiários para a execução dessa prática, bem como exercerão a atividade de supervisão, constituindo-se no principal elo entre a instituição de ensino e a escola, no processo de desenvolvimento do Estágio Supervisionado. Sendo o estágio um processo dinâmico que se realiza no mundo do trabalho, passando por transformações e com uma estreita relação entre educação profissional e trabalho, deve ser constantemente avaliado, a fim de verificar se a instituição oferece suporte para o acompanhamento dessas transformações. Há, então, que se verificar se a forma atual como o estágio supervisionado é desenvolvido, se é capaz de consolidar e avaliar a formação desse aluno, já que “é o estágio que reflete todo o processo de formação e a capacidade mesma de assimilação do aluno desse processo” (MENDES SOBRINHO: 2006, p.197). Desta forma, considerando que o estágio deve se constituir na validação dos conhecimentos adquiridos ao longo do curso, no fortalecimento da articulação entre a teoria e prática e na inserção do estagiário na vivência do cotidiano escolar e do ser docente, é fundamental saber como esse instrumento educacional vem sendo conduzido pela instituição. É necessário, pois, verificar as percepções dos envolvidos no processo; as relações que se estabelecem entre seus sujeitos e as condições em que se realiza, a fim de verificar se na prática as normas legais instituídas são aplicáveis; se cada elemento do processo tem consciência e desempenha o seu papel e, se há uma integração entre escola e universidade para que se tenha o desenvolvimento do estágio (como um todo) de forma eficiente. 31 2. ANÁLISE DIAGNÓSTICA DO MODO DE DESENVOLVIMENTO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CURSO DE GEOGRAFIA NO CAMPUS CLÓVIS MOURA, NO PERÍODO 2008/2. A atividade do Estágio Supervisionado como prática de ensinonos cursos de licenciatura apresenta-se como sendo o momento prático fundamental na formação do professor, sendo constituído por atividades que contemplem a aprendizagem social, cultural e profissional, proporcionadas ao formando através da participação em situações reais de vida e de trabalho, inserindo-o no cotidiano de sua futura arte. Assim, o estágio não deve ser visto somente dentro de uma perspectiva dialética entre teoria e prática, isto é, a relação direta entre o que se aprende na universidade e o que se pode pôr em prática na sala de aula, mas sim como uma vivência da realidade escolar em todos os seus âmbitos. Como consequência das Diretrizes Curriculares, os cursos de Licenciatura do Brasil estão passando por reformulações para adaptarem-se às novas regras. O curso de Geografia no Campus Clóvis Moura da Universidade Estadual do Piauí, como o de qualquer outra Universidade, deve estar em conformidade com essas novas regras, na busca da: (...) formação de um educador comprometido com a educação, com o desenvolvimento de pesquisas na área, com a ética, com o compromisso na formação de um estudante cidadão, ou seja, o egresso desse curso deverá ser um professor solidário, comprometido com o seu fazer pedagógico (PIMENTA APUD GROENWALD, 2005, p.5). A partir disso, a formação inicial dos futuros professores deve ser organizada de modo que os mesmos possam ir adquirindo as competências necessárias ao bom desempenho profissional. Assim, a formação de professores não deve consistir em um treinamento de técnicas e métodos, e sim, na ajuda aos futuros professores no seu desenvolvimento e autonomia profissional. Com isso, os estágios são fundamentais, pois possibilitam que sejam trabalhados aspectos indispensáveis na construção da identidade, dos saberes e das posturas necessárias ao exercício da profissão docente. 32 O presente trabalho foi centrado na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado (blocos 6 e 7 de 2008/2), do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual do Piauí no Campus Clóvis Moura, em Teresina; com o intuito de se realizar uma análise sobre o modo como se desenvolve a atividade do Estágio Supervisionado, buscando contribuir para uma otimização da atividade do estágio, bem como de uma possível melhoria na formação dos professores de Geografia do referido Campus. Para diagnosticar a situação referente ao desenvolvimento do Estágio Supervisionado no curso de Geografia do Campus Clóvis Moura, empregou-se a técnica da documentação direta por meio da pesquisa de campo, utilizando-se como instrumental de pesquisa para coleta de dados, o questionário (aplicado aos estagiários e os professores nas escolas) e roteiro de entrevista (aplicado aos professores da disciplina na Universidade). A elaboração dos dados foi realizada com base na tabulação e levantamento percentual dos mesmos, adotando-se o método matemático-estatístico, permitindo a disposição dos dados coletados em gráficos e quadros, aos quais se farão referências no decorrer da análise que se segue. 2.1. O Estágio na perspectiva dos Estagiários Em relação à contribuição das disciplinas de conteúdo (e do respectivo professor) especifico para o momento do estágio nas escolas observa-se que, segundo os pesquisados, dessas disciplinas, forma poucas as que contribuíram, de forma significativa, para o momento do estágio na escola, visto que somente 23% dos pesquisados disseram que tais disciplinas contribuíram significativamente para o momento do estágio; 70% disseram que somente algumas delas contribuíram para o estágio tanto em sala de aula quanto na escola e para 7% dos pesquisados essas disciplinas não contribuíram para o desenvolvimento do estágio, conforme gráfico a seguir. 33 Gráfico 01: Contribuição das disciplinas específicas para o estágio. Fonte: pesquisa direta, Nov/08. Essa pouca contribuição por parte das disciplinas de conteúdo especifico, configurada nas respostas dos pesquisados, para o momento prático na escola (estágio) se dá devido o fato de que, nos cursos de licenciatura, há uma “supervalorização da teoria em detrimento da prática” (DURHAM, 2008, p.17), contribuindo para o distanciamento da relação teoria e prática, a qual deve permear todo o curso de formação docente. Indagados acerca da articulação entre teoria e prática no momento do estágio supervisionado percebe-se que, segundo as informações obtidas com as respostas dos questionários, 60% dos pesquisados disseram que este é um momento de se refletir sobre as práticas e metodologias adotadas em sala de aula, a partir da própria universidade; 15% afirmaram que a articulação teoria/prática é complicada, devido a sua fragmentação dentro da própria entidade formadora (universidade) e 25% disseram que é um momento conflitante para quem ainda não tem experiência em sala de aula, como se pode observar no gráfico a seguir. Gráfico 02: Articulação teoria/prática do ponto de vista dos estagiários. Fonte: pesquisa direta, Nov/08 34 Dessa forma, fica evidente que para os estagiários o momento da prática sob a forma de estágio na escola é de fundamental importância, pois os mesmos têm a oportunidade de confrontar a relação teoria e prática, ou ainda, o que se aprende na universidade e o que se pode por em prática na realidade escolar, tornando-se assim um momento de se refletir sobre as práticas e metodologias adotadas em sala de aula na própria universidade. Questionados sobre a contribuição do estágio supervisionado para a formação docente do acadêmico, constata-se que 55% dos pesquisados responderam que é a partir da atividade de estágio na escola que o acadêmico pode vivenciar o cotidiano de sua futura área de atuação profissional; 25% disseram que o mesmo tem por finalidade a aproximação entre a teoria e prática e 20% afirmaram que o estágio possibilita a vivência do cotidiano escolar, servindo para que o acadêmico se decida sobre sua vocação profissional, conforme gráfico a seguir. Gráfico 03: Importância do estágio para a formação docente. Fonte: pesquisa direta, Nov/08 Observando as respostas obtidas (ver gráfico nº 03) percebe-se que o acadêmico tem uma ampla visão acerca da importância e contribuição do estágio supervisionado para a sua formação, percebendo que o mesmo representa uma relação direta entre o que se aprende na universidade e a realidade da sala de aula e da escola, além de lhe propiciar um momento de decisão sobre o seu futuro campo de atuação. Indagados sobre as principais dificuldades encontradas em sala de aula na escola no momento do estágio, verifica-se que 42% dos pesquisados disseram que o manejo de classe foi a principal dificuldade no desenvolvimento do estágio, em sala 35 de aula, na escola; 30% dos pesquisados afirmaram que o domínio do conteúdo foi o momento mais complicado no desenvolvimento das atividades do estágio; 18% responderam que o momento do planejamento da aula se configurou como o ponto negativo do estágio e 10% tiveram mais dificuldades no uso dos recursos didáticos disponíveis na escola, como se pode observar no gráfico a seguir. Gráfico 04: Principais dificuldades na prática do estágio na escola . Fonte: pesquisa direta, Nov/08. Verificando os dados obtidos (ver gráfico nº 04) percebe-se que tanto o distanciamento quanto a falta de compromisso das disciplinas de cunho especifico do curso para com o momento do estágio nas escolas, apresentam como reflexo um grande número de dificuldades visualizadas pelos estagiários no momento da prática, visto que a aplicabilidade da teoria à prática poderia resultar em uma minimização das dificuldades encontradas no desenvolvimento do estágio. Questionados sobre o período que se deve dar início às atividadesdo estágio supervisionado na escola, constata-se que 55%dos pesquisados preferem a configuração atual dessa atividade, ou seja, a partir do 6º período; 35% dos pesquisados disseram que o estágio poderia ter inicio a partir do 5º bloco e 10% não souberam responder, como se pode verificar no gráfico abaixo. 36 Gráfico 05: Período de inicio do estágio supervisionado na escola. Fonte: pesquisa direta, Nov/ 08. Analisando as respostas dos pesquisados (conforme gráfico nº 05) percebe- se que os mesmos não se preocupam em ter um conhecimento, mínimo que seja, das leis que estabelecem as normas concernentes à formação docente, bem como as diversas etapas que dela fazem parte, como o caso do Estágio Supervisionado, visto que na nova LDB (Lei 9.394/96), deixa claro que o estágio supervisionado pode acontecer a partir da segunda metade do segundo ano do curso (ainda que tal decisão esteja a cargo da instituição, de acordo com o artº 82), sendo que no curso de Geografia do Campus Clóvis Moura pode se dar a partir do 5º bloco. Questionados acerca da carga horária destinada ao Estágio Supervisionado na escola, verifica-se que para 42% dos pesquisados a carga horária é suficiente para que se possa desenvolver todas as atividades concernentes ao estágio na escola; 40% responderam que a mesma é suficiente, porém há uma má distribuição desse tempo; 10% não souberam responder e 8% afirmaram que a carga horária para o estágio é insuficiente para que se possa desenvolver todas as etapas do mesmo, conforme gráfico a seguir. Gráfico 06: Carga horária para o desenvolvimento do Estágio Supervisionado. Fonte: pesquisa direta, Nov/08 37 Observando as respostas obtidas (ver gráfico nº 06) verifica-se que os estagiários percebem que a carga horária destinada para o desenvolvimento do estágio na escola é suficiente para se cumprir todas as etapas desse processo de ensino-aprendizagem, porém há de se ressaltar que, segundo os pesquisados, há uma má distribuição desse tempo no decorrer da atividade, comprometendo o seu desenvolvimento como um todo, visto que “o desenvolvimento do estágio precisa ser orientado por procedimentos que visem ao melhor aproveitamento dos momentos destinados à disciplina” (KENSKI, 2007, p.40). Questionados a respeito do tempo destinado ao momento de observação da prática docente em sala de aula na escola, constata-se que 48% dos pesquisados responderam que esse tempo é suficiente para que os estagiários possam se familiarizar com a realidade da sala de aula onde se dará a parte prática do estágio e 52% dos pesquisados afirmaram que o tempo de observação na sala de aula é insuficiente para que se possa realizar uma análise dos sujeitos que ali se (des)encontam, como se pode observar no gráfico abaixo. Gráfico 07: Tempo para observação em sala de aula. Fonte: pesquisa direta., Nov/08. Observando os dados obtidos (ver gráfico nº 07) percebe-se que, uma parcela significativa dos estagiários reporta-se ao período de observação em sala de aula como um momento não só de observação da prática do professor titular, mas como um momento de conhecer o ambiente como um todo, ou seja, o comportamento dos sujeitos que ali se encontram (professor e alunos), para que possa se familiarizar com tal realidade. Dessa forma, o período de observação e o tempo destinado a ele, tornam-se importante para o desenvolvimento da parte prática do estágio na escola. Em relação ao acompanhamento dos estagiários, pela coordenação de ensino da escola, no desenvolvimento das atividades do estágio, constata-se que não 38 há um envolvimento desse segmento nesse processo, visto que 65% dos pesquisados afirmaram que não tiveram nenhum tipo de acompanhamento da coordenação de ensino da escola em sala de aula; 25% responderam que foi realizada uma supervisão de suas atividades no âmbito escolar pela coordenação da escola e 10% responderam que foi feito um acompanhamento de forma superficial, como se verifica no gráfico a seguir. Gráfico 08: Supervisão do estágio por parte da coordenação de ensino da escola. Fonte: pesquisa direta, Nov/08. Tendo em vista as informações obtidas (ver gráfico nº 08) percebe-se que não há, por parte das coordenações de ensino das escolas, um envolvimento direto com a questão da formação dos futuros educadores, visto que o não acompanhamento, de forma efetiva, das atividades do estágio no seio escolar, configura-se como uma falta de compromisso tanto com a atividade do estágio quanto com processo de ensino aprendizagem, quer seja dos estagiários quer seja dos próprios alunos da escola, além de evidenciar o problema relativo à falta de interação entre universidade e escola. Há de se ressaltar que uma das prerrogativas para o desenvolvimento do estágio supervisionado nas escolas, deve ser a corresponsabilidade da escola como parte envolvida no processo de formação do futuro professor. Questionados acerca do grau de receptividade das escolas onde se desenvolveram os estágios, verifica-se que as escolas públicas mostram-se receptivas, ou seja, estão de portas abertas, em relação ao uso de suas dependências para o desenvolvimento de atividades curriculares, no caso específico 39 do Estágio Supervisionado, oriundas de um segmento social como as universidades, pois de acordo com os dados obtidos constata-se que 50% dos pesquisados classificaram como “bom” o grau de receptividade das escolas em todo o seu segmento, 30% classificaram como sendo “ótimo”, 15% disseram que é “regular” e somente 5% classificaram como “ruim”, como se observa no gráfico a seguir. Gráfico 09: Grau de receptividade da escola. Fonte: pesquisa direta, Nov/08. Tendo como base as informações obtidas com a pergunta nº 10 (ver anexo A) constata-se que 65% dos pesquisados disseram que não foi possível participar de nenhuma atividade extraclasse desenvolvida pela escola (planejamento, reunião de professores, elaboração de projetos, etc.) no decorrer do Estágio Supervisionado e somente 35% responderam que participaram de algum tipo de atividade desenvolvida pela escola, conforme o gráfico a seguir. Gráfico 10: Participação do estagiário em atividades promovidas pela escola. Fonte: pesquisa direta, Nov/08. Verificando as respostas obtidas (ver gráfico nº 10) percebe-se que a falta de interação entre universidade e escola reflete, de forma visível, no desenvolvimento 40 geral do estágio supervisionado nas escolas, visto que esse momento não deve se configurar apenas como a parte prática em sala de aula, mas como uma vivência na realidade do cotidiano escolar, em todos os seus momentos. Indagados acerca do acompanhamento dos professores titulares das salas de aula onde foram desenvolvidas a parte prática do estágio, constata-se que 65% dos pesquisados disseram que os professores preocuparam-se em realizar um acompanhamento efetivo de todas as atividades realizadas pelo estagiário, 30% afirmaram que os professores encontram nos estagiários uma forma de se evadir, em alguns momentos, da sala de aula e 5% responderam que os professores se eximem de qualquer tipo de acompanhamento do estagiário na sala sob sua responsabilidade, como se pode conferir no gráfico abaixo. Gráfico 11: Acompanhamento das atividades em sala de aula pelos professores. Fonte: pesquisa direta, Nov/08. Tendo em vista as informações obtidas (ver gráfico nº 11) percebe-se que nem todos os professores das escolas que receberam estagiários preocupam-se em acompanhar o estagiário no desenvolvimento de suas atividades em sala de aula, visto que a partir do momento em que o mesmo se evade da sala ou se exime de qualquer responsabilidade no período de regência do estagiário, caracteriza-se em uma falta de compromisso com a formaçãodo acadêmico e com o processo de ensino-aprendizagem dos alunos sob sua responsabilidade e, dessa forma, evidencia- se ainda mais a necessidade de uma relação estreita entre universidade e escola. É importante salientar que a figura do professor titular da sala de aula é de fundamental importância, sendo o principal elo entre escola, estagiário e universidade, além de ter um papel decisivo no processo do estágio, demonstrando o relacionamento entre o saber teórico e o saber prático, ou seja, entre o saber e o saber fazer. 41 Em relação à questão que trata da verificação antecipada, pelo professor, do conteúdo a ser aplicado em sala de aula, constata-se que 40% dos pesquisados responderam que os professores titulares não tiveram a preocupação em verificar o conteúdo do plano de aula elaborado por eles; 35% dos estagiários disseram que os professores verificavam antecipadamente o conteúdo a ser exposto em sala de aula e 25% responderam que raramente o professor verificava o conteúdo do plano de aula, como podemos conferir no gráfico a seguir. Gráfico 12: Verificação de conteúdo pelo professor titular. Fonte: pesquisa direta, Nov/08. De acordo com os dados obtidos (ver gráfico nº 12) percebe-se que em todos os momentos do Estágio Supervisionado na escola, a interação entre os sujeitos que fazem parte desse processo (estagiário, escola e universidade) é fator relevante para o bom desenvolvimento de todas as atividades concernentes a esta etapa da formação docente, visto que esse contato, de forma prévia, teria como objetivo o estabelecimento das responsabilidades de todos os envolvidos no processo e, como uma das consequências dessa falta de interação, percebe-se a falta de compromisso do professor titular, um dos principais sujeitos, da sala aula onde se desenvolveu o estágio. Indagados acerca da disponibilidade de tempo por parte dos professores titulares das escolas, para se discutir sobre a metodologia ou a prática adotada pelo estagiário em sala de aula, verifica-se que 65% dos pesquisados responderam que os professores não se dispuseram a realizar uma reflexão da prática ou da metodologia adotada pelo estagiário no momento da exposição do conteúdo em sala de aula e 35% responderam que houve uma disponibilidade, por parte do professor, para se 42 discutir o desenvolvimento do conteúdo exposto em sala de aula pelo estagiário, como se pode observar no gráfico a seguir. Gráfico 13: Disponibilidade de tempo dos professores. Fonte: pesquisa direta, Nov/08. Tendo como base as informações obtidas com a pergunta nº 14 (ver anexo A) constatamos que a participação e contribuição do professor-orientador do Estágio Supervisionado não foi um fator relevante para os estagiários em relação ao desenvolvimento da prática (estágio) nas escolas, pois 40% dos pesquisados afirmaram que o professor participou somente da etapa de orientação em sala de aula na Universidade; 38% disseram que o mesmo participou de forma efetiva de todas as etapas do estágio e 22% afirmaram que o orientador do Estágio Supervisionado não contribuiu de forma significativa para o desenvolvimento do estágio na escola, como se observa no gráfico abaixo. Gráfico 14: Contribuição do professor supervisor do estágio. Fonte: pesquisa direta, Nov/08. Conforme os dados obtidos diante da pergunta nº 15 (ver anexo A) percebem- se o Estágio Supervisionado como componente curricular deve ser visto e pensado a 43 partir da realidade dos sujeitos envolvidos nesse processo (escola, universidade, alunos e professores), pois 18% dos pesquisados responderam que as atividades do estágio no âmbito escolar não foram bem desenvolvidas tendo como obstáculo as suas próprias limitações; 25% disseram que o estágio na escola não foi desenvolvido a contento devido problemas ligados à falta de interação entre escola e universidade e a uma falta de articulação entre teoria e prática a partir das próprias disciplinas de conteúdo específico do curso; 25% responderam que as limitações da própria escola onde foi realizado o estágio, como a falta de recursos didáticos, foram o grande responsável por não se desenvolver um estágio como se espera e 32% dos pesquisados não tiveram problemas em relação ao desenvolvimento do estágio nas escolas públicas, como se pode verificar no gráfico a seguir. Gráfico 15: Avaliação do desenvolvimento do estágio pela escola. Fonte: pesquisa direta, Nov/08. 2.2. O Estágio na perspectiva dos professores na escola A figura do professor da sala de aula na escola, consta da realidade do desenvolvimento dos estágios sendo, na verdade, os que têm mais proximidade com o estagiário durante o estágio, visto que em muitos casos a supervisão da escola mostra-se inexpressiva e em outros, inexistente. A designação de um profissional da escola é essencial para que se cumpra a finalidade proposta, pois a ele cabe as seguintes responsabilidades: a) orientar o estagiário em suas tarefas, conforme previsto no Plano de Estágio; b) comunicar fatos relevantes ocorridos no decorrer das atividades de estágio; c) encaminhar à instituição de ensino, ao final de 44 um período pré-determinado, geralmente um semestre, a avaliação do estagiário, mediante instrumento por aquela disponibilizado (YOSHIOKA, 2005) O papel do professor titular é decisivo no processo de estágio, pois é sua a responsabilidade de despertar a percepção do acadêmico a cada detalhe que compõe as etapas de qualquer empreendimento como um todo, estreitando o relacionamento entre o saber teórico e o saber prático. É ele, pois o elo entre a escola e a instituição de ensino e, quanto mais estreita for essa cooperação, melhor será o resultado do estágio em si. Questionados a respeito da formação do docente que acompanharam os estagiários no desenvolvimento do estágio em sala de aula, percebe-se que os professores das escolas, que serviram como campo de estágio, apresentam uma formação adequada para o desempenho da função de professor de geografia, ainda que alguns apresentam formação em outra área que não a geografia, estando aptos para o acompanhamento de estagiários em suas respectivas salas, pois 45% dos pesquisados disseram que tem curso superior completo (em geografia); 35% afirmaram que tem curso superior com especialização; 10% dos pesquisados disseram que estão concluindo o curso e 10% disseram que tem formação em outra área, conforme mostra o gráfico a seguir. Gráfico 16: Formação do professor da escola. Fonte: pesquisa direta, Nov/08 Indagados acerca do tempo de docência dos professores que acompanharam os estagiários nas escolas, verifica-se que a maioria deles apresenta uma larga experiência no cotidiano escolar, pois com as informações obtidas constata-se que 40% dos pesquisados estão entre 5 e 10 anos atuando na área docente; 25% 45 disseram que tem mais de 10 anos como professor; 25% lecionam entre 2 e 5 anos e 10% atuam como professor há mais ou menos 2 anos, conforme gráfico a seguir. Gráfico 17: Tempo de docência do professor da escola. Fonte: pesquisa direta, Nov/08. Conforme as informações obtidas acerca da questão do Estágio Supervisionado na formação acadêmica dos professores que acompanharam os estagiários nas escolas, verifica-se que 80% dos pesquisados responderam que tiveram a atividade de estágio como o momento da prática de ensino na escola, mesmo que não tenha sido nos moldes do que foi acompanhado por eles; 20% responderam que não cumpriram esta etapa da formação acadêmica do professor, conforme o gráfico a seguir. Gráfico 18: O estágio na formação do professor da escola. Fonte: pesquisa direta, Nov/08.
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