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RECONHECIMENTO DOS FILHOS - ART. 1.607 A 1.617, CC/02 1. RECONHECIMENTO DOS FILHOS (ART. 1.607) O filho havido fora do casamento pode ser reconhecido pelos pais, conjunta ou separadamente. O reconhecimento de filhos pode ocorrer duas formas: a) Reconhecimento Voluntário ou Perfilhação; b) Reconhecimento Judicial ou Forçado: ocorre de maneira coativa por meio ação investigatória de parentalidade/paternidade. O reconhecimento voluntário só cabe aos pais, isto posto, acordo de reconhecimento de voluntários por diversos não possui valor jurídico. 2. CONTESTAÇÃO À MATERNIDADE (ART. 1.608, CC) Quando a maternidade constar do termo do nascimento do filho, a mãe só poderá contestá-la, provando a falsidade do termo, ou das declarações nele contidas. A norma só é aplicada em casos excepcionais, haja vista que a maternidade semper certa est. No presente caso, diante da investigação de maternidade, a parentalidade socioafetiva deve ser levada em conta. Aqui o clássico exemplo da troca de bebês na maternidade, que cabe inclusive ação de danos morais contra o Estado/Maternidade, se particular, no todo, há de se observar que não prescrição nesse tipo de ação, isso porque deve ser observada a teoria da actio nata, em sua feição subjetiva, a partir do conhecimento da violação ou lesão ao direito subjetivo. EXPLICANDO MELHOR: A teoria da actio nata sob o viés subjetivo é explanada como sendo o início do termo da prescrição que fluirá a partir do conhecimento inequívoco da lesão ou violação do seu direito nos casos em que envolvam ilícitos oriundos a responsabilidade extracontratual 3. FORMAS DE RECONHECIMENTO DE PARENTALIDADE (ART. 1.609, CC) O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito: DIREITO CIVIL – reconhecimento dos filhos I - no registro do nascimento; II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório; III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado; IV - por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém. Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar descendentes. Trata-se de reconhecimento voluntário de filhos ou perfilhação, sendo este irrevogável, a não ser nos casos de vícios do consentimento, de simulação ou falsidade de registro, desde que não exista a parentalidade socioafetiva configurada no caso concreto. Nota: É vedado o reconhecimento de perfilhação na ata de casamento. O reconhecimento pode ser precedente reconhecimento de nascituro ou posterior, reconhecimento post mortem. O reconhecimento dos filhos constitui um ato jurídico stricto sensu, justamente porque os seus efeitos são apenas aqueles decorrentes de lei. Ato unilateral e formal 4. IRREVOGABILIDADE DO RECONHECIMENTO (ART. 1.610) O reconhecimento não pode ser REVOGADO, nem mesmo quando feito em testamento. É ato revogável, tendo uma revogabilidade essencial que não pode ser afastada pela autonomia privada. Assim, nota-se que o conteúdo pessoal ou existencial do testamento relativo ao reconhecimento de filho não pode ser atingido pela revogação de seu conteúdo patrimonial. 5. RESIDÊNCIA DIVERSA (ART. 1.611) O filho havido fora do casamento, reconhecido por um dos cônjuges, não poderá residir no lar conjugal sem o consentimento do outro. Tal artigo não representa o maior interesse da criança, por inobservar a igualdade entre os filhos. 6. GUARDA E A OBSERVÂNCIA MELHOR INTERESSE DO MENOR (ART. 1.612) O filho reconhecido, enquanto menor, ficará sob a guarda do genitor que o reconheceu, e, se ambos o reconheceram e não houver acordo, sob a de quem melhor atender aos interesses do menor. Os arts. 1.611 e 1.612 são resquícios do Código Civil 1916, devendo ser conjugados juntos para que possam ser visualizados seu inteiro contexto sob a nova égide do direito de família. Em consonância com o princípio da proteção integral da criança e do adolescente, tem-se que o instituto da guarda destina-se a resguardar o menor, devendo esta ser atribuída a quem tiver condições mais adequadas para exercê-la, podendo ser esta unilateral ou compartilhada. 7. ATO JURÍDICO STRICTU SENSU ESPECIAL OU SUI GENERIS (ART. 1.613) São ineficazes a condição e o termo apostos ao ato de reconhecimento do filho. O ato de reconhecimento de filhos é incondicional, não estando sujeito a condição, evento futuro e incerto ou evento futuro e certo. O reconhecimento voluntário de filho produz efeitos erga omnes, ou seja, contra todos, e ex tunc, efeitos retro-operantes ou retroativos. 8. IMPUGNAÇÃO DO RECONHECIMENTO (ART. 1.614) O filho maior não pode ser reconhecido SEM o seu consentimento. Filho menor pode impugnar seu reconhecimento, nos quatro anos (prazo decadencial) que se seguirem à maioridade ou à emancipação. O reconhecimento diante desse dispositivo não passa a ser um ato bilateral, uma vez que tal consentimento é apenas uma medida protetiva que se justifica pelo fato de o reconhecimento envolver efeitos existenciais e patrimoniais de grande repercussão. Há na verdade um ato unilateral receptício, que apenas depende de outra parte. Por óbvio, essa impugnação deve ser reputada improcedente se estiver caracterizada a parentalidade socioafetiva, em decorrência da pose de estado de filho e do vínculo do afeto formado. 9. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NA AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE (ART. 1.615) Qualquer pessoa, que justo interesse tenha, pode contestar a ação de investigação de paternidade, ou maternidade. Deve-se entender qualquer pessoa que possa ser afetada por essa decisão, no plano existencial ou patrimonial, tais como: genitor biológico, genitor que consta no registro, genitor afetivo, cônjuge ou companheiro do suposto genitor, os herdeiros do suposto genitor, dentre outros. 10. RECONHECIMENTO FORÇADO OU COATIVO (ART. 1.616) A sentença que julgar procedente a ação de investigação produzirá os mesmos efeitos do reconhecimento; mas poderá ordenar que o filho se crie e eduque fora da companhia dos pais ou daquele que lhe contestou essa qualidade. Não se obrigatória a criação do filho com o genitor do qual houve reconhecimento, repercutindo em prestação de alimentos. Além disso, o direito de reconhecimento é fundamental, isto posto, mesmo diante de um reconhecimento socioafetivo é cabível o reconhecimento do vínculo biológico. Essa ação segue o procedimento comum, por ter natureza declaratória, por envolver estado de pessoas e a dignidade humana. O reconhecimento de estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, SEM qualquer restrição, observado o SEGREDO DE JUSTIÇA. O MP também pode agir como substituto processual, possuindo legitimidade extraordinária. Ação de investigação também é cabível em face dos avós, ação avoenga. Falecido genitor (a), a ação será movida em face dos herdeiros da pessoa investigada e não contra o espólio, em razão do seu caráter pessoal. Não havendo herdeiros e falecendo o suposto pai ou mãe, a ação será proposta contra o município ou União, que receberá os bens vagos. Em relação às provas a mais efetiva é a realização de DNA. 11. RECONHECIMENTO DE FILIAÇÃO MESMO DIANTE DE CASAMENTO NULO (ART. 1.617) A filiação materna ou paterna pode resultar de casamento declarado nulo, ainda mesmo sem as condições do putativo1. A nulidade ou a anulabilidade não podem interferir no reconhecimento dos filhos. Essa possibilidade é resquício do antigo código, sem aplicabilidade na vida prática. 12. MULTIPARENTALIDADE – RECONHECIMENTO DE DUPLA PATERNIDADE E DUPLA MATERNIDADE Embora aindanão exista nenhuma legislação referente à dupla maternidade ou paternidade (multiparentalidade), é possível e cada vez mais comum fazer o reconhecimento duplo. Lembrando que a multiparentalidade pode ser alegada tanto por casais heteros quanto por casais homossexuais. No entanto, a legislação civil brasileira prevê a possibilidade de já constar o nome das duas mães ou o nome dos dois pais já no primeiro registro de nascimento, através do provimento nº 52 do CNJ, porém os cartórios de registro civil, via de regra, se recusam a fazer este registro sem uma ordem judicial. Uma possibilidade de garantir que o bebê tenha, desde o primeiro registro de nascimento, o nome das duas mães ou dos dois pais em sua certidão é, antes do nascimento, ingressar com uma ação com vistas a reconhecer judicialmente o vínculo parental. Para os casos de casais homoafetivos masculinos, que tiverem um filho através da cessão de útero (erroneamente chamada de barriga de aluguel), os hospitais e maternidades ainda são obrigados a declarar o nascimento com vida da criança e indicar quem é a mãe que deu à luz. E a mulher que deu à luz é que constará como a mãe da criança, caso não haja um processo judicial anterior. Portanto, em todos os casos de gestação com cessão de útero, seja de casais homoafetivos, seja de casais heteroafetivos, para possibilitar que o primeiro registro civil da criança seja correto é necessário entrar com uma ação judicial antes do nascimento, até mesmo por segurança do casal. Os casais homoafetivos de mulheres irá constar no primeiro registro apenas o nome da mãe que deu à luz, com posterior alteração do registro civil do bebê para incluir a outra mãe, também através de uma ação judicial. 1 "casamento imaginário" que se imaginava ser verdadeiro, por ter preenchido todos os requisitos de existência, validade e produção de efeitos, no entanto, posteriormente, verificou-se um vício, suscetível de anulação. REFERÊNCIA BRASIL. Lei 10.406/2002. Código Civil 2002. Brasília, 10 de janeiro de 2002. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm> Código Civil Comentado. – Doutrina e Jurisprudência/ Anderson Shereiber... [et al.] – Rio de Janeiro: Forense, 2019.
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