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MULHERES NA POLÍTICA
São Paulo, 2017
Edição da Autora
E
Aryel Fernandes
A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
NA POLÍTICA
MULHERES 
Copyright © 2017 Aryel Fernandes - Todos os direitos reservados. 
Livro-reportagem apresentado como trabalho de conclusão de curso (TCC), uma exigência 
para a obtenção do título de bacharel em Comunicação Social (Jornalismo) do FIAM-FAAM 
Centro Universitário
Diretora do Núcleo de Ciências Sociais Aplicadas, Humanas e das Artes 
Prof.ª Ms. Simone Maria Espinosa
Coordenador do curso de Jornalismo
Prof. Dr. Vicente William da Silva Darde
Orientadora
Prof.ª Dr.ª Michelle Roxo
Capa e Diagramação
Israel Dias de Oliveira
www.livro-reportagem.com.br
Fernandes, Aryel
Mulheres na política: a luta por representação / Aryel Fernandes; 
orientadora Dr.ª Michelle Roxo. — São Paulo, 2017.
 80 p.: il.
 Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel - Jornalismo) — FIAM-
FAAM Centro Universitário, 2017.
1. Mulheres. 2. Política. 3. Jornalismo. 4. Livro-reportagem. I. Roxo, 
Dr.ª Michelle, orient. II. Título.
Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP)
(Sistema de geração automática de Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca FIAM-FAAM)
FF363m
Este livro é para todas as mulheres que lutaram, 
lutam e lutarão por uma sociedade igualitária.
“Uma mulher que tenha uma voz é, 
por definição, uma mulher forte” 
Melinda Gates
Agradecimentos
A construção deste projeto não foi nada fácil e, sem al-
gumas pessoas, ele não teria se concretizado. Primeiramente, 
agradeço ao universo e ao criador pela oportunidade desta 
caminhada. Agradeço imensamente as 13 entrevistadas que 
decidiram compartilhar as suas vivências no espaço político, 
contar suas histórias é o que deu vida a este livro. Agradeço 
minha orientadora, Michelle Roxo, nossa parceria me ensi-
nou ser uma jornalista melhor. Agradeço a minha mãe pelas 
diversas noites de sono perdidas, além de todas as ideias e 
críticas que só melhoram este projeto, e ao meu pai por todo 
o suporte emocional. Agradeço aos meus familiares e ami-
gos, pelo apoio e por entenderem a minha ausência. Por fim, 
agradeço a professora Nadini Lopes pelo convite, no dia 09 
de março de 2017, para cobrir as festividades do Dia Inter-
nacional da Mulher, promovidas pelo FIAM-FAAM Centro 
Universitário. A partir desse evento percebi a importância do 
debate de gênero e decidi qual seria o tema deste livro.
Sumário
Apresentação ................................................................................................................ 13 
1. Um desafio histórico .............................................................................................. 15
Pautas sobre a temática de gênero ................................................................ 23
2. Perfis e barreiras de acesso ................................................................................ 27
3. A representação feminina nas últimas eleições ........................................... 33
Mulheres eleitas nos últimos pleitos.............................................................. 38
Números de São Paulo ....................................................................................... 40
4. O caso Dilma e o debate sobre misoginia ........................................................ 43
5. Representatividade na cidade de São Paulo: o olhar das vereadoras ..... 49
Política na família................................................................................................ 54
Mulher negra e política ...................................................................................... 56
Representação federal ....................................................................................... 59
6. Bastidores: as mulheres nos partidos............................................................... 63
Discussões internas ............................................................................................ 65
Divulgação de dados ........................................................................................... 68
7. Aumento da representação e impacto nas discussões de gênero ............ 71
8. Um dia na sessão da Câmara .............................................................................. 77
13
Apresentação
“Quando uma mulher entra na política, muda a mulher. Quando muitas entram, muda a política.” A frase dita pela presidenta do Chile, Michelle Bachelet, é uma porta 
de entrada para este livro-reportagem, que busca promover 
discussões sobre a participação da mulher na política. A par-
tir do olhar de 13 entrevistadas – pesquisadoras, vereadoras, 
deputada estadual, senadora e mulheres que atuam no inte-
rior dos partidos – o livro chama atenção para alguns de-
safios e dificuldades deste processo, que traz as marcas da 
desigualdade de gênero. 
O Brasil tem como média nacional 10% de mulheres nos 
parlamentos. O número é bem abaixo da média mundial. Se-
gundo pesquisa sobre a presença feminina no Parlamento, 
feita pelo Projeto Mulheres Inspiradora (PMI), o País ocupa 
a 115ª posição de uma lista com 138 países.
No período de janeiro de 1990 a dezembro de 2016, tive-
mos um crescimento de 87% de participação feminina nestes 
14
MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
espaços, passando de 5,3% para um percentual de 9,9%. No 
mundo, o total de representação de mulheres foi de 12,7%, 
em 1990, para 23%, em 2016. Com esses resultados, o PMI 
afirma que o País só deverá alcançar a igualdade de gênero 
no Parlamento Federal em 2080.
Buscando discutir o nível de representatividade que as 
mulheres possuem na esfera política do cenário brasileiro, a 
reportagem apresenta casos de mulheres que se inseriram na 
política ou que atuam internamente nos partidos, com desta-
que para a trajetória de vereadoras que estão hoje na Câmara 
Municipal de São Paulo. Discute ainda barreiras de acesso 
e preconceitos de gênero neste campo, inclusive os recentes 
episódios envolvendo a então presidenta Dilma Rousseff, 
além de trazer dados sobre a representação feminina nas úl-
timas eleições. O livro debate também aspectos dos bastido-
res dos partidos e os desafios para aumentar a representati-
vidade das mulheres nestes espaços, revelando uma série de 
obstáculos deste processo de inserção.
A reportagem decidiu trabalhar com este tema após per-
ceber, durante a comemoração do Dia Internacional das Mu-
lheres deste ano, como debater sobre a participação femini-
na, em todas as esferas da sociedade, dá força à discussão e 
às mulheres que estão buscando esses espaços. Que esta pro-
dução possa ajuda-los na reflexão sobre o quão é importante 
mudar esse cenário.
15
Em 1881, as primeiras eleições diretas são estabele-cidas no Brasil, mas as mulheres só conquistariam direito ao voto décadas depois, em 1932, com a cria-
ção do primeiro Código Eleitoral. No âmbito mundial, o 
debate sobre a necessidade de extensão do direito ao voto às 
mulheres já vinha sendo debatido com mais força no final 
do século XIX, principalmente na Inglaterra e nos Estados 
Unidos. A Nova Zelândia, no entanto, foi o primeiro País a 
liberar o voto feminino, em 1893. Para a coordenadora de 
pesquisa jurídica aplicada ao gênero, da Fundação Getúlio 
Vargas (FGV), Luciana de Oliveira Ramos, o Brasil podia 
ter sido pioneiro nessa questão na América Latina, mas a 
sociedade era muita resistente à pauta durante as primeiras 
décadas do século XX.
O papel social reservado às mulheres, associado ao 
longo da história ao cuidado da família, representou um 
forte entrave para sua inserção na política. A participação 
1. Um desafio histórico
16
em assuntos do espaço público, como a eleição, poderia en-
fraquecer a atenção dada à procriação dos filhos e tarefas 
domésticas. Por muito tempo, as mulheres sequer foram re-
conhecidas como cidadãs de fato, como pessoas capacitadas 
para o desempenho de determinadas tarefas e para discus-
são dos rumos da política. 
A cientista política e pesquisadora de gênero da Universi-dade de São Paulo (USP) Marina Merlo conta que a legislação 
em vigor em meados de 1900 dizia que o cidadão podia votar, 
mas não determinava quem estava incluído nesse grupo. Era 
subentendido que esse papel era reservado ao homem. Ape-
sar de não ter nenhuma restrição legal explícita, o acesso às 
mulheres era negado. 
Segundo dados de publicação do Tribunal Superior Elei-
toral (TSE1), o Estado do Rio Grande do Norte foi o precur-
sor do voto feminino, com as primeiras eleitoras a se alis-
1 Eleições no Brasil – Uma história de 500 anos
As Sufragistas (Suffragette)
O filme As Sufragistas, lançado em 2015 e dirigido por 
Sarah Gavron, conta a história de um grupo militante 
que decide realizar atos de desobediência civil para 
chamar a atenção da sociedade sobre a necessidade 
do voto feminino no Reino Unido. O longa mostra as 
dificuldades e sacrifícios que essas mulheres tiveram 
de se sujeitar para conquistar o direito ao voto. 
“
“
ARYEL FERNANDES
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tarem no Brasil. Essas mulheres, por meio de um processo 
judicial, conseguiram se registrar para o pleito que ocorreria 
em 1928. Os seus votos foram descartados, mas a ação mos-
trou a movimentação que essa questão causava na sociedade 
daquele período.
Com diversas idas e vindas, a conquista do voto femini-
no foi resultado da muitas lutas que envolveram, sobretudo, 
feministas e intelectuais. Outras pautas, nos anos seguintes, 
foram inseridas no debate sobre a condição das mulheres, 
como a inserção no mercado de trabalho, o direito ao divór-
cio, a comercialização da pílula anticoncepcional. 
Também a discussão sobre violência doméstica começa 
a ganhar a cena na segunda metade do século XX, período 
em que as mulheres, gradativamente, passam a atuar mais no 
âmbito político. A criação da primeira Delegacia de Defe-
sa da Mulher (DDM), no ano 1985, em São Paulo, fez parte 
deste processo. O projeto surgiu depois de reclamações feitas 
por mulheres sobre a qualidade de atendimento que elas re-
cebiam nas delegacias comuns. Hoje, há 133 polos em fun-
cionamento no estado, que, no primeiro semestre de 2015, 
realizaram 80.331 atendimentos.
Outro marco acontece em 2006, com a criação da Lei nº 
11.340, conhecida como Lei Maria da Penha. A legislação 
tem como objetivo aumentar o rigor das punições para cri-
mes de violência doméstica. No mesmo período, foi criado, 
pela Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres da Pre-
sidência da República (SPM-PR), o disque 180. O canal serve 
para orientar a população feminina sobre direitos e serviços 
públicos. O programa é o principal acesso aos serviços da 
rede de enfrentamento à violência contra a mulher e utiliza 
as bases da Lei Maria da Penha.
18
MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
O assassinato de mulheres pela condição de ser mulher é 
chamado de feminicídio. Segundo a Organização Mundial da 
Saúde (OMS), o Brasil tem a quinta maior taxa de feminicídio 
do mundo. Pensando nisso, em 2015, foi sancionada a Lei nº 
13.104 que altera o código penal e prevê o feminicídio como 
um tipo de homicídio qualificado. O crime é considerado he-
diondo e recebe penas mais longas, que vão de 12 a 30 anos.
Lei das cotas
Pensando na participação política partidária da mu-
lher, um dos avanços mais significativos é a criação da Lei 
n° 12.034/2009, conhecida como Lei das Cotas. Outro marco 
importante é a eleição, no pleito de 2010, da primeira mulher 
para presidenta do Brasil, Dilma Rousseff.
QUEM FOI MARIA DA PENHA
A história da legislação tem início em 1983. Neste 
ano, a farmacêutica cearense Maria da Penha Maia 
Fernandes recebeu um tiro do seu marido, que a deixou 
paraplégica. Depois de anos de cárcere privado e de ter 
sido vítima de uma nova tentativa de homicídio, Maria 
conseguiu procurar por ajuda da Justiça. Em um longo 
processo de lutas, em 2006, a história dela deu origem 
à lei.
“
“
ARYEL FERNANDES
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A legislação das cotas já era debatida desde 1995 com a 
participação do Brasil, por representação de deputadas fede-
rais como, na época, Marta Suplicy, em um fórum da Organi-
zação da Nações Unidas (ONU). O evento estabeleceu como 
compromisso uma série de questões relacionadas ao direito 
da mulher, principalmente no que diz respeito à participação 
na vida política. 
O primeiro projeto da Lei de Cotas foi debatido para as 
eleições municipais de 1996. O processo eleitoral brasileiro 
admite que, a cada pleito, seja desenvolvida uma legislação 
específica sobre como as eleições acontecerão. Nessa dispu-
ta foi possível inserir a regra do Art. 11 da Lei 9.100/1995. 
Ela admitia que cada partido ou coligação poderia registrar 
candidatos para a Câmara Municipal até 120% do número de 
vagas a preencher. Desse número, no mínimo 20% deveriam 
ser reservadas para as mulheres.
Essa decisão gerou diversas discussões durante 1995 en-
tre os movimentos feministas, porque era possível registrar 
um número de candidatos maior do que os espaços para 
preencher. De acordo com a pesquisadora da FGV Luciana 
Ramos, em evento da Escola do Parlamento, na Câmara dos 
Vereadores de São Paulo, realizado em setembro de 2017, o 
percentual de 20% a mais apareceu justamente para acomo-
dar o mínimo exigido para as mulheres. Ou seja, foi uma es-
tratégia dos partidos para não retirar o espaço dos homens.
Essa regra foi válida apenas para as eleições daquele ano. 
Com a Lei das Eleições, em 1997, foi criada uma especifica-
ção geral, que deveria valer para todos os pleitos seguintes. A 
nova legislação previa que cada partido deveria reservar no 
mínimo 30% e no máximo 70% de vagas para candidatura de 
cada sexo. Ramos conta que, de 1998 até 2008, os partidos 
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MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
alegavam que haviam reservado as vagas para as mulheres, 
mas que elas não haviam aparecido.
O movimento feminista pressionou o Congresso Nacional 
para que ocorresse uma alteração na locução verbal “deverá re-
servar”. Então, em 2009, foi substituído pelo termo “preenche-
rá”, o que fez uma diferença enorme e foi considerado como o 
grande ponto histórico dessa lei. A partir de então, a legislação 
determinou uma cota mínima de 30% e a máxima de 70% das 
candidaturas, dividida entre homens e mulheres. 
Para a senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), a represen-
tação continua aquém do que poderia ser. “Somos 52% da 
população, mas no Congresso Nacional, patinamos, há anos, 
em 10% de representação. Até recentemente, os partidos não 
sofriam punições por descumprirem a legislação. Nos últi-
mos anos, mudamos isso. Agora, os partidos até preenchem a 
cota, mas não fazem as candidatas terem visibilidade ou boas 
condições de concorrer”, explica.
Ramos ressalta que o principal avanço da lei de cotas tem 
acontecido, principalmente, pelo fato de que mais mulheres 
estão prestando atenção em política, considerando a neces-
sidade de ter representatividade neste campo. “O movimento 
feminista nunca olhou para as entidades de representação for-
mal como um elemento relevante. Isso mudou, agora elas vêm 
a importância disso e estão oferecendo um apoio maior. Um 
outro avanço enorme é essa geração que está vindo com outra 
cabeça em relação ao direito das mulheres. Vejo que estamos 
conseguindo quebrar alguns paradigmas. Mas o que eu sempre 
digo é: ser mulher é nadar contra a maré todos os dias”. 
Já a vereadora do município de São Paulo Patrícia Bezerra 
(PSDB) acredita que fazer com que os partidos cumpram a lei é 
fundamental para aumentar a inserção feminina. “Todas as co-
ARYEL FERNANDES
21
tas têm a prerrogativa de corrigir um processo histórico. Nós so-
mos a maioria da sociedade, mas não temos equidade no trata-
mento. Eu não sei que medo é esse de trabalhar com igualdade. 
Garantir uma presença de 30% está errado, o certo é 50%, por-
que isso é paridade. Precisamos fazer com que os partidos cum-
pram com aquilo que é lei, no que diz respeito principalmente 
a direcionamento de fundo partidário e façam candidaturas de 
mulheres reais, não laranjas apara cumprira cota”, destaca.
Para a cientista política Marina Merlo, as cotas ainda não 
ajudaram efetivamente as mulheres a participarem mais da 
política. Merlo ressalta que, desde que foi implementada a 
cota, o número de mulheres eleitas é irrisório. “Mas, por ou-
tro lado, a lei abriu uma margem para o debate. Ainda é mui-
to ineficiente, se houvesse a reserva de cadeira seria mais efe-
tivo. Essa é a reforma política que precisamos, porque, sem a 
reserva, acontece apenas manutenção do percentual que está 
confortável para os políticos”.
Tentando promover algo parecido com a reserva de as-
sentos, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 134/2015 
institui cotas para mulheres no poder Legislativo. O projeto 
passou pelo Senado e obteve aprovação de duas comissões na 
Câmara dos Deputados, agora aguarda votação em plenário. 
A ideia é que a legislação ajude a aumentar gradativamente a 
representação feminina nas câmaras de vereadores de todos os 
municípios, assembleias legislativas estaduais e na câmara fe-
deral. A proposta prevê um percentual de participação de 10% 
na eleição imediatamente posterior a sua aprovação, passando 
para 12% na próxima legislatura e finalizando com 16%.
“Eu acredito que a PEC não está bem configurada porque 
institui cota de apenas 16%, um percentual pífio. Isso não che-
ga na média mundial de participação política e praticamente 
22
MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
mantém o que já temos. Outra falha é que a medida acaba de-
pois da terceira legislatura sob a justificativa de que os homens 
vão se acostumar com as mulheres e não haverá mais barreiras 
culturais. Ações afirmativas como essa não nascem com data 
de validade e estamos há vinte anos com a lei de cotas tentando 
mudar isso, até hoje nada aconteceu”, esclarece Ramos.
A pesquisadora salienta ainda que a PEC 134 seria mais 
efetiva se conjugada junto com uma limitação de mandatos, 
pela renovação que aconteceria no parlamento. Hoje a legisla-
ção brasileira não impõe limites para a reeleição de represen-
tantes do Legislativo – senadores, deputados e vereadores. Isso 
faz com que a mudança de parlamentares seja muito menor.
A preocupação da vereadora Sâmia Bomfim (PSOL) so-
bre a aprovação da PEC 134 é de que a primeira etapa da le-
gislação acabe sendo inferior à real capacidade de eleição das 
mulheres. “Vejo que a gente está numa ascensão de eleição 
feminina, eu tenho impressão de que 10% vai rebaixar isso. 
Deveria existir uma outra PEC, com uma proposta que esta-
belecesse 30%. O ideal é que fosse 50%, mas eu sei também 
que é um gesto muito artificial para os partidos”.
Por outro lado, Marta Suplicy acredita que o percentual 
não é baixo. “A ideia é garantir vagas, principalmente, nas 
câmaras municipais, onde, em muitas cidades, a represen-
tação é quase nula. No âmbito do Senado, apresentei a PEC 
24/2015 para destinar, quando da renovação de dois ter-
ços do Senado, uma vaga para cada gênero. Isso ampliaria 
muito rapidamente a participação. Duas propostas impor-
tantes, mas que não conseguimos votar ainda porque há 
resistência dos homens. Se continuar como está, levaremos 
100 anos para alcançar 30% de representação no Congresso 
Nacional”, declara.
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Pautas sobre a temática de gênero
Diferente do posicionamento em relação a PEC 134, 
a vereadora Sâmia e a senadora Marta concordam que as 
principais pautas em relação às discussões de gêneros são 
sobre o aborto legal e a comunidade LGBT. “A questão dos 
direitos sexuais e reprodutivos, principalmente relativo ao 
aborto, é muito difícil de avançar na legislação, por conta 
do conservadorismo e do peso das instituições religiosas”, 
afirma Bomfim.
“Esse tema é muito tabu e está ligado a outras desi-
gualdades que não conseguimos derrubar: como salários 
menores, quando ocupamos os mesmos cargos que os ho-
mens, ou ainda a violência nos lares. Não somos melhores 
nem piores que os homens. Somos diferentes. Nossa voz 
não é ouvida como deveria para promover o equilíbrio. 
Lembrando que o feminismo avançou muito, nos últimos 
anos, e saiu da jaula hétero e branca. Essa pluralidade está 
alijada na representação que temos da população nos le-
gislativos”, afirma Marta Suplicy.
Sobre a comunidade LGBT, as parlamentares destacam 
que a situação das mulheres com orientação sexual ou iden-
tidade de gênero distinta requer atenção. O tema quase não 
é aceito nos parlamentos, então debater especificidades das 
mulheres lésbicas ou mesmo das transexuais e trasvestis é 
muito difícil. “Há algumas semanas eu tive muita dificuldade 
para consegui aprovar para o calendário da cidade o ‘Dia da 
Mulher Lésbica’, comemorado dia 29 de setembro e que já 
está no calendário nacional. Isso não interfere na vida das 
pessoas, mas quase não passou por causa do conservadoris-
mo”, relata Bomfim.
24
MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
Já Patrícia Bezerra vê a violência contra a mulher negra 
como o problema mais alarmante na discussão de gênero. 
“Sem sombra de dúvidas esse tema precisa da nossa atenção 
total. É inaceitável, é obsceno, ver um aumento de 54% de 
feminicídio contra a mulher negra. Existe a violência contra 
a mulher, o que é um fato. Mas existe um caso dentro des-
se quadro de violência que é a questão da mulher negra. A 
gente, nem de longe, sabe o que uma mulher negra passa. 
Precisamos nos debruçar sobre essa questão e lutar pelo di-
reito dessas mulheres”, destaca a vereadora, chamando aten-
ção para outros marcadores de desigualdade relacionados à 
questão de gênero.
Para a vereadora de São Paulo Sandra Tadeu (DEM), o 
feminicídio ainda é o grande problema. Outras pautas como 
aquelas relacionadas a assédios, à saúde da mulher e às de-
sigualdades de condições no mercado de trabalho também 
merecem destaque.
BERTHA LUTZ PARTICIPOU DA REDAÇÃO 
DO CÓDIGO ELEITORAL DE 1932 E TAMBÉM 
DA ASSEMBLEIA CONSTITUINTE DE 1934. 
FONTE DA FOTO: WIKIMEDIA COMMONS
CELINA GUIMARÃES, PRIMEIRA MULHER 
A ALISTAR-SE PARA AS ELEIÇÕES DE 
1928, NO RIO GRANDE DO NORTE.
FONTE DA FOTO: ACERVO DO MUSEU DO TSE
ALZIRA SORIANO, PRIMEIRA MULHER A 
SER ELEITA PREFEITA. LAJES/ RN, 1928.
FONTE DA FOTO: PREFEITURA DE LAJES
CARLOTA QUEIROZ, PRIMEIRA MULHER 
ELEITA DEPUTADA FEDERAL, 1934.
FONTE DA FOTO: IBGE
FONTE: TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL
27
Entre 2000 e 2008, uma média de 2,6% das candida-tas nas eleições diziam que a sua principal ocupação era ser dona de casa. Esse número sobe para 5,1% em 
2012 e para 5,2% em 2016. O salto desse percentual coincide 
com o momento em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) 
pressionou os partidos para que a lei de cotas fosse cumprida. 
E qual é a relação entre os dois dados? Quando verificamos as 
mulheres eleitas, as donas de casa não representam nem 1%.
Então, quem são de fato as mulheres eleitas no Brasil? 
De acordo com Ramos, 95% das mulheres que efetivamente 
participam da política são as que têm muito dinheiro ou 
que já contam com familiares na política. Esse dado reve-
la como as desigualdades de gênero se cruzam com outras 
questões sociais.
“Como elas não tem o apoio financeiro do partido e nem 
são divulgadas para conseguir apoio externo, elas precisam des-
sa ajuda para o financiamento das campanhas. Isso também é o 
2. Perfis e barreiras de acesso
28
MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
que acontece com a maioria dos homens. Mas temos exemplos 
de mulheres que não conseguiram por esse meio também, o nú-
mero é menor, mas tem”, explica Ramos. 
A cientista política Marina Merlo corrobora esse perfil: 
“As mulheres eleitas, na maioria das vezes, têm familiares 
políticos, ela já está inserida nesse meio de alguma manei-
ra. O que acontece muito é o apadrinhamento, isso ajuda 
muito no processo eleitoral. Acredito que isso ocorra em 
99% das vezes. É muito difícil uma mulher conseguir se 
eleger sem o apoio de alguém que já é do meio. Isso ajuda 
a compensar a falta de dinheiro. Funciona igual indicação 
de emprego”, ressalta.
Para SâmiaBomfim, essa relação familiar ou de apadri-
nhamento ajuda também no dia a dia dos jogos políticos, que 
se dão na esfera de atuação das casas legislativas. “Isso aqui é 
um jogo que tem um regimento, mas também tem as regras 
extraoficiais e essas são as que mandam na política de verda-
de. Quem já tem esse contato aprende a lidar com elas com 
mais facilidade. Eu já tenho muita dificuldade com isso por 
não conhecer, não ficar sabendo dos bastidores. Nesse senti-
do, você tem menos poder do que quem sabe jogar”, relata.
De acordo com a pesquisadora da FGV Luciana Ramos, 
há uma série de obstáculos culturais colocados às mulheres, 
que dificultam sua participação na política. Os custos muitas 
vezes são altos para aquelas que buscam conciliar, no coti-
diano, sua atuação neste espaço com projetos familiares, já 
que as mulheres têm de assumir o cuidado com as atividades 
domésticas com maior frequência. 
“Para a mulher participar realmente da política, ela larga 
o trabalho dela e faz só isso, o que algumas não sentem tanta 
segurança para fazer. Em geral, o que acontece é: o marido vai 
ARYEL FERNANDES
29
querer o divórcio – pensando nas relações hétero-normativas 
— e, se esse casal tiver um filho, será ainda mais difícil para o 
homem entender a nova rotina dela. Existem muitos fatores 
limitantes para as mulheres atuarem na política. Muitos deles 
são essas questões banais, do dia a dia mesmo”, exemplifica.
Segundo Merlo, dentro dos próprios partidos, circu-
lam argumentos de cunho sexista, que reproduzem pre-
conceitos arraigados na estrutura social, como a ideia 
de que as mulheres não teriam interesse ou jeito para a 
política. “Outra explicação é que eleitorado não vota em 
mulher. O que não é verdade, basta analisar que elegemos 
uma presidenta”, argumenta.
Quando uma mulher enfrenta essas barreiras estruturais, 
ainda tem de lidar com uma série de outros desafios, dentro 
dos partidos, para participar de uma eleição. Em relação ao 
acesso às verbas de financiamento de campanha, por exem-
plo: hoje, o financiamento direcionado aos homens, em com-
paração com as mulheres, é em média 40% maior. A con-
quista de um espaço de fala para mostrar seu potencial como 
candidata também é outra dificuldade dentro dos partidos. 
Assim como a falta de atenção para a própria socialização das 
mulheres nas rotinas burocráticas de um partido. 
Merlo ressalta ainda que as mulheres que conseguem 
atravessar todos esses processos e se eleger só venceram a 
primeira batalha. “Quando elas chegam nos espaços de po-
der, têm que lidar com o machismo todos os dias, às vezes 
de forma sutil, em outros casos não. Chegando lá, elas não 
conseguem exercer de fato o mandato e são sempre desqua-
lificadas. Quando um homem se descontrola ninguém fala 
‘isso é falta de transar’. Você nunca diminui o homem por 
uma questão biologia. Ele teve um dia ruim ou simplesmente 
30
MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
é daquele jeito. A mulher não, ela é louca, descontrolada e 
histérica”, arremata.
Estereótipos de gênero, que predeterminam aquilo que é 
tido como habilidades inerentes à condição feminina, são fa-
tores limitantes à participação da mulher na política. Sobre-
tudo, porque são reforçados desde a mais tenra idade, como 
ressalta Sâmia. 
“Nossas brincadeiras na infância são: a menina com a bo-
neca ou como professora e o menino como administrador. 
São elementos que criam uma ideia de que a política não é 
para nós. Fora a maneira que aquelas que se elegem são tra-
tadas”, pontua.
A vereadora Juliana Cardoso destaca que transformar a 
visão dos homens em relação às mulheres é um dos gran-
des obstáculos na luta contra as desigualdades de gênero. “Eu 
sempre digo que ser mulher é um ato revolucionário. Nós vi-
vemos todos os dias guerreando. Culturalmente, a gente vive 
em uma sociedade machista e nós não conseguimos ainda 
quebrar essas regras. Os homens pensam que nós precisamos 
estar sempre submissas, não podemos ir além do espaço onde 
eles estão. Isso se traduz no parlamento. Você sempre tem 
que se mostrar muito mais capaz do que aquilo que você já é”.
Do ponto de vista de Bezerra, esse é o momento de mos-
trar que mulheres e homens devem trabalhar juntos. “Nós 
precisamos investir nessa parceria agora e cobrar dos diri-
gentes dos partidos, da sociedade como um todo e das mu-
lheres da nossa comunidade. Temos que tirar as mulheres do 
sofá. As mulheres precisam parar de dizer que isso não é para 
elas, que não estão prontas. A gente nunca estará, nós va-
mos nos aprontando no meio do caminho. Ninguém nasce 
vereadora. Aliás, a Simone de Beauvoir tem uma frase linda: 
ARYEL FERNANDES
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‘Ninguém nasce mulher, a gente se torna’. Eu acredito nisso, a 
pessoa com habilidade para a vida pública vai emergindo em 
nós. Nós temos muito potencial e é por isso que eles morrem 
de medo de nós”, finaliza.
33
10%. Esse é o percentual arredondado – o resultado exa-to da conta é 9,9% – sobre a participação de mulheres na política brasileira em 2017. O número é resultado 
da análise feita pelo Projeto Mulheres Inspiradoras (PMI)1, 
que elabora um ranking mundial de presença feminina no 
Parlamento dentre 138 países. O Brasil ocupa a 115ª posição 
dessa lista. Os países com os maiores percentuais são: Ruan-
da (63,8%), Bolívia (53,1%), Cuba (48,9%), Islândia (47,6), 
Suécia (43,6%), Senegal (42,7%) e México (42,4%).
A pesquisa revelou que a participação de mulheres no 
parlamento federal brasileiro cresceu 87% entre janeiro de 
1990 e dezembro de 2016, passando de 5,3% para 9,9%. A 
média mundial de crescimento para o período foi de ape-
nas 6%, no entanto, o total de representação foi 12,7%, em 
1 A pesquisa completa pode ser conferida em: marlenecamposmachado.com.br/
documentos/pequisa-presenca-feminina-no-parlamento.pdf
3. A representação feminina nas 
últimas eleições
34
MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
1990, para 23%, em 2016. O resultado garantiu ao Brasil a 97ª 
posição entre os países que mais elevaram a participação de 
mulheres no Parlamento. Ainda que a participação feminina 
na política brasileira mantenha expansão média de 2,7% ao 
ano, a PMI afirma que o país só deverá alcançar a igualdade 
de gênero no Parlamento Federal em 2080.
Pela análise do estudo, 121 dos 138 países têm alguma 
cláusula de gênero em sua constituição. O Brasil conta com 
a Lei das Cotas, mas se situa atrás de nações em que o papel 
político feminino é bem reduzido, como o Afeganistão, que 
tem 28% de mulheres. Nosso índice enfrenta um atraso de 30 
anos. Hoje, em 2017, ainda não atingimos a média mundial 
de 1990 (12,7%) de representantes femininas.
No recorte nacional, o estudo considera as eleições reali-
zadas em 2014 e 2016. A pesquisa avaliou que a Região Nor-
deste teve o maior número de candidatas ao Senado na elei-
ção de 2014 (182), seguida do Norte (140). Porém, a média 
de candidatas nesses dois lugares chegou a 26,23% e 21,17%, 
respectivamente, abaixo da cota de 30%. Ao todo, o Brasil 
teve 490 candidatas ao Senado Federal, representando 19% 
do total de candidatos, contra 81% de homens. Na análise 
estadual, o Rio Grande do Norte é o melhor colocado, com 
42 candidatas ao Senado. Já os estados do Amazonas, Mara-
nhão, Mato Grosso, Piauí e Paraná não apresentaram nenhu-
ma candidata.
Para as vagas na Câmara dos Deputados, as mulheres re-
presentaram 32% dos candidatos (31.794) e os homens 68% 
(68.124). O maior número de candidatas foi registrado no 
Sudeste (15.050) e no Nordeste (7.182). O estado com maior 
percentual de candidatas a deputada federal (35,34%) foi 
o Amapá, com 574 candidatas. O último foi Sergipe, com 
ARYEL FERNANDES
35
23,20% e 406 candidatas. De acordo com o relatório, 74.817 
mulheres se candidataram ao cargo de deputada estadual 
em 2014, o equivalente a 31% do total de 238.057. Mato 
Grosso do Sul é o estado que lidera o ranking, com 33,79% 
de candidatas. 
Já para o pleito de vereador, na eleição de 2016, as mu-
lheres somaram153.314 candidatas em todo o país, contra 
310.061 candidatos homens. Foram 40.740 candidatas no 
Centro-Oeste, enquanto o Nordeste registrou 52.157 candi-
datas. Entre os estados, São Paulo (27.037) e Minas Gerais 
(24.458) têm o maior número de candidatas.
A criadora do projeto, Marlene Campos Machado, expli-
ca que a iniciativa surgiu com a proposta de fomentar debates 
e influenciar na formulação de políticas públicas nesta área. 
Segundo ela, através de dados quantitativos e comparativos, é 
possível chamar atenção da sociedade para as assimetrias que 
existem entre homens e mulheres e o problema da sub-repre-
sentatividade feminina na política. 
“Nós, do PMI, fazemos advocacy2,  acreditamos que a in-
formação é o primeiro pilar para mudança pela valorização 
da mulher na sociedade. Conseguimos uma ampla cobertura 
da mídia e a pesquisa ainda está viva nos debates. Percebo, 
principalmente em palestras que são para homens e mulhe-
res, que temos conseguido fazer as pessoas pensarem mais, 
não só nesse tema mas também em qual é o papel que cada 
um de nós desempenha na sociedade. Ano que vem vamos 
lançar outro estudo sobre as mulheres no poder executivo, 
2 Prática política feita por indivíduo, organização ou grupo, no interior das insti-
tuições do sistema político, com o objetivo de influenciar a formulação de políti-
cas e a alocação de recursos públicos.
36
MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
relacionando-as com diversas variáveis e fatores sociais até 
mesmo de fora da política”, avisa.
 Luciana Ramos explica que a diferença entre o nú-
mero de candidatas e eleitas pode ser explicada por três va-
riáveis. As duas primeiras são o número de candidaturas que 
deveriam existir (se a cota de gênero fosse respeitada) e o 
número de candidaturas efetivas. O distanciamento entre 
essas duas variáveis mostra que os partidos não respeitam 
as cotas: quanto maior a distância, menos respeito à legisla-
ção. A terceira variável é relacionada ao número de mulheres 
eleitas que deveria, pelo menos, se aproximar do número de 
candidaturas.
“Somente em 2014, em termos de eleições para a câmara 
dos deputados, é que o número de mulheres chegou próximo 
do que deveria. Mas, até então, não se respeitou a lei das co-
tas. O Brasil é o único País no mundo em que o número de 
mulheres eleitas caiu logo depois da aprovação da legislação. 
Esses dados nos mostram que avançamos muito pouco nos 
últimos 20 anos”, completa.
A pesquisadora ressalta que é preciso cobrar para que o 
Superior Tribunal Eleitoral (STE) fiscalize com rigor os par-
tidos em relação ao cumprimento da legislação das cotas. O 
principal problema nesse processo é as candidaturas “laranjas 
ou figurantes”. As mulheres são colocadas pelos partidos nas 
listas sem saber ou sem ter intenção de realmente participar. 
Pensando em estratégias para mudar essa realidade, a 
promotora do Tribunal Regional Eleitoral (TRE – 1ª zona 
eleitoral) Vera Lúcia Tabert elucida que a cota de gêneros não 
surtiu o efeito esperado. Isso porque a maioria dos partidos 
pensa em preencher o percentual de gênero e não na eleição 
real. “Eu constatei isso quando entrevistei mais de 200 mu-
ARYEL FERNANDES
37
lheres candidatas a vereadoras. Eles lançavam candidaturas 
de mulheres fantasmas que não tinham conhecimento do que 
estava acontecendo. Muitas mulheres descobriram que eram 
candidatas apenas no dia das eleições ou quando eram inti-
madas a prestar depoimentos”, destaca.
A promotora afirma que essas mulheres, na maioria, eram 
donas de casa, aposentadas, doentes ou sem qualquer forma-
ção escolar. “Me deparei com uma candidata que contou que 
entrou em diretório municipal para tomar um copo d’agua e 
saiu de lá candidata a vereadora. A filha de outra candidata 
compareceu na Promotoria de Justiça, dizendo que determi-
nado partido tinha lançado a candidatura dela mesmo saben-
do que a mãe tinha problemas mentais. Muitas mulheres que 
limpavam os diretórios também foram lançadas.”
Baseado nisso, o Ministério Público Estadual, por uma 
decisão do TSE, criou uma jurisprudência para observar o 
percentual de gênero não só no momento do lançamento da 
chapa dos candidatos, mas durante toda a eleição. Com isso, 
foram instaurados 149 procedimentos reparatórios eleitorais 
para combater essas fraudes, 40 ações de investigação eleito-
ral e 13 ações de impugnação de mandato eletivo na capital 
de São Paulo.
“Fico muito feliz em dizer que já tivemos uma decisão 
favorável no município, onde houve a cassação de todos os 
vereadores daquele partido. Isso aconteceu porque, se no pri-
meiro momento houve um erro, isso acaba afetando todo o 
processo e, consequentemente, a decisão é para a chapa in-
teira. Com esse tipo de ação a gente espera que os partidos 
políticos se conscientizem para a próxima eleição, e que não 
tratem as mulheres com esse descaso, entendendo a impor-
tância da nossa participação na política”, ressalta.
MULHERES ELEITAS 
NOS ÚLTIMOS PLEITOS
27 senadores eleitos em 2014, 
cinco foram mulheres que obtiveram 
7.270.141 votos válidos, ou o 
correspondente a 8,14% do total de votos 
válidos
SENADO
CÂMARA DOS DEPUTADOS
114 deputadas estaduais foram eleitas 
em 2014
As regiões Norte e Nordeste lideram com 
13,51% e 11,73%, respectivamente
Fonte: PMI
CÂMARAS MUNICIPAIS
Na eleição de 2016, foram 7.824 mulheres 
eleitas vereadoras em todo o país, o equivalente 
a 14% do total
Rio Grande do Norte teve, comparativamente, o 
maior percentual de mulheres eleitas (21,22%)
Os municípios de Lucrécia (RS) e Planalto 
Alegre (SC) foram as únicas cidades do país em 
que todas as mulheres candidatas a vereadora 
foram eleitas (3 candidatas cada)
Sergipe teve o maior 
percentual de mulheres 
eleitas por Estado (8%), 
seguido do Amapá (7,55%)
40
MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
Números de São Paulo
A Câmara dos Vereadores de São Paulo registrou um 
número histórico no último pleito. A casa contava com cin-
co vereadoras. Na eleição de 2016, ocorreu um aumento de 
120% no número de mulheres representadas, passando para 
onze vereadoras. No entanto, o número ainda representa ape-
nas 20% de cadeiras ocupadas. A vereadora Juliana Cardoso 
atribui esse crescimento a dois motivos: a questão das cotas e 
a indicação de mulheres por políticos homens.
“O que acontece muito é: você tem a indicação de mulhe-
res, as vezes elas são ativas, como a Patrícia Bezerra, ela foi 
indicada pelo marido, mas tem uma luz própria e uma pauta 
independente. Você percebe que ela luta e entende que precisa 
ocupar de fato aquele espaço para encorajar outras mulheres 
nessa participação. E tem outras mulheres que são filhas ou 
esposas de outros parlamentares, mas que não compreendem 
que aquele espaço precisa ser pensado de uma forma que es-
timule as mulheres. Acho que aqui somos apenas 4 mulheres 
que não tem vínculo de parentesco com ninguém”, exemplifica.
Em relação à representação feminina, Sâmia Bomfim afir-
ma que a Câmara de São Paulo, apesar do percentual maior 
que a média do País, não apresenta uma renovação de fato. 
“A maioria das eleitas são de um perfil social que faz sentido 
para os segmentos elegerem, são mulheres que tem dinheiro, 
que tem instrução, que tem uma estrutura. As mulheres reais 
eu digo, as mães, as mulheres que trabalham, que vivem a 
cidade de São Paulo na sua intensidade, tem mais dificuldade 
de chegar aqui porque elas não têm estrutura, elas não têm 
interesse por parte dos partidos”. E continua: “a gente precisa 
avançar muito, para ter uma representatividade feminina na 
ARYEL FERNANDES
41
política, isso passa por uma reorganização dentro das pró-
prias estruturas partidárias”, finaliza.
A vereadora Patrícia Bezerra aponta para uma situação 
ambígua configurada neste cenário: ao mesmo tempo em que 
há um aumento histórico no número de mulheres na casa, há 
dificuldades de legitimação das vozes femininas. “E eu digo 
o porquê: nós passamos de 5 mulheres para 11, isso foi o au-
mento numérico.Porém, para você conseguir a legitimação 
da presença da mulher na casa você tem que garantir a voz 
dessa mulher aqui. E voz não é você ter acesso ao microfo-
ne de aparte ou ir à tribuna, isso é uma pseudo-voz, porque 
qualquer um tem acesso a isso. Voz da mulher é você dar 
à mulher um espaço de poder. Lugares como: as presidên-
cias de comissões relevantes ou, porque não, a presidência da 
própria casa. Esses lugares não são ocupados por mulheres e 
nunca foram”, ressalta.
Já Adriana Ramalho enxerga esse crescimento de ma-
neira mais positiva. “Que na próxima eleição possamos ter 
ainda mais mulheres aqui, para alcançar a paridade. Espero 
que possamos conseguir isso sem as leis, mas pelo próprio 
partido. O que mais me choca nesses processos de burlar a lei 
é que quando a mulher quer participar de um processo elei-
toral ela não tem essa garantia, esse respaldo e o apoio que 
precisamos para estar dentro e fora do partido e pleiteando 
uma posição de representatividade”, diz.
A cientista política Marina Merlo ressalta que, mesmo sem 
a legitimação necessária para as mulheres, com uma bancada 
maior é possível colocar temas de interesse no debate, o que 
antes era bem mais difícil. A bancada feminina, apesar de não 
ter tanta força no dia a dia, atua nesses momentos. “Foi uma 
melhora? Foi, mais ainda está ruim, bastante ruim”, conclui.
43
Dia 1º de janeiro de 2011. Dilma Vana Rousseff (PT), economista e política brasileira com atuações mar-cantes durante a ditadura militar, assume o posto 
de 36ª presidenta do Brasil, a primeira mulher. Em 2014, ela 
conquista a reeleição, depois de uma disputa acirrada no se-
gundo turno com o concorrente Aécio Neves (PSDB), pres-
sionada por críticas sobre sua atuação na condução da polí-
tica econômica e os altos e baixos de seu primeiro mandato.
Dia 31 de agosto de 2016. Dilma é afastada de seu cargo 
por meio de um processo de impeachment, considerado, por 
uma parcela da sociedade civil, como ilegítimo. A condena-
ção da presidenta se deu sob a justificativa de ter cometido 
crimes de responsabilidade fiscal. As chamadas “pedaladas 
fiscais” se configuram por decretos que geraram gastos sem a 
autorização do Congresso Nacional. 
Além das controvérsias em relação à base legal deste pro-
cesso e seu desfecho, chama atenção o fato de Dilma ter sido 
4. O caso Dilma e o debate sobre 
misoginia
44
MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
alvo de insultos e comentários sexistas durante o episódio 
de seu afastamento — e mesmo ao longo de seus dois man-
datos. As disputas e posicionamentos políticos expressaram 
também preconceitos de gênero, dando fortes sinais de con-
tinuidade do machismo em nossa sociedade. 
 “Acho que a gente ter perdido uma presidenta por impea-
chment foi difícil para as mulheres. Quando você olha para 
os discursos de ‘tchau, querida’, você menospreza ela enquan-
to mulher. Não vejo a questão da misoginia como o fator de-
terminante, mas eu acho que ajudou sim no processo. Talvez, 
se ela fosse um homem, isso não tivesse acontecido”, destaca 
Ramos, pesquisadora da FGV.
A introdução do uso da palavra presidenta, ao longo 
de seus mandatos, também rendeu diversos debates. A 
questão linguística é um indicativo forte da desigualdade 
de gênero, e não só no Brasil. Na França, havia discussões 
sobre falar le président e la président (o presidente e a pre-
sidente). No Chile e na Argentina, com Michelle Bachelet e 
Cristina Kirchner, respectivamente, também foi instituído 
o termo presidenta no espanhol. “Depois do impeachment, 
ninguém mais a tratou como presidenta. É impressionante 
o modo como as pessoas tem resistência inclusive na fala, 
na palavra que usam. Acho que isso é um retrocesso mui-
to grande e ainda temos que abrir muitos caminhos nesse 
meio”, pondera Ramos.
Muitos dos questionamentos e insultos a ela direcionados, 
não faziam alusão propriamente à sua competência técnica, 
mas traziam marcas de misoginia, como conduta de ódio ou 
aversão às mulheres. “Ela sempre foi xingada de nomes que 
você não chama um homem, mesmo que pelo equivalente. 
O homem é incompetente, ladrão. Ela era vagabunda, puta. 
ARYEL FERNANDES
45
É fácil pensar sobre isso, basta fazer um exercício de como 
tratariam um homem na mesma situação”, explica Merlo.
Expressões como “tá vendo, tinha que ser mulher” circu-
laram na esfera pública, no ambiente das redes sociais, como 
justificativas para a saída da presidenta. Dilma também foi 
apontada por muitos como uma marionete de Lula. “A visão 
é de que o poder do homem nunca saiu de lá. Acho que vai 
demorar muito para gente ter mulher presidenta de novo, in-
felizmente. Porque uma mulher para vencer agora vai ter que 
se mostrar ainda mais competente do que todos os homens”, 
adverte Luciana.
Sâmia Bomfim comenta o caso de adesivos que retrata-
vam mulheres de pernas abertas na entrada do tanque de ga-
solina dos carros com o rosto da presidenta. “Isso é horrível 
e jamais aconteceria com um político homem. A caracteriza-
ção que faziam dela também é marcante, por estar fora do pa-
drão de beleza. Isso não quer dizer nada, até onde eu sei pre-
sidenta não tem que ser bonita. A forma como tratavam ela 
durante as votações, tudo isso era muito misógino”, observa. 
A vereadora Juliana Cardoso (PT) conta que Dilma so-
freu preconceito de gênero dentro do próprio partido. “Eles 
tentavam bater na mulher, mas ela era firme. Por ser assim e 
não ser casada, começaram a dizer que ela era lésbica. Quan-
do eles não conseguiram achar a relação da mulher frágil, foi 
colocado sobre ela, inclusive dentro do partido, a postura de 
alguém que não ouvia ninguém, muito brava. Vejo que ela 
saiu por não aceitar as condições das grandes negociações 
que queriam impor”, sustenta.
Para a vereadora Adriana Ramalho (PSDB), o processo 
de impeachment inflamou as discussões sobre política no 
País. “Isso é muito positivo para mim, porque fez as pessoas 
46
MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
voltarem a se interessar por política, nem que seja pela curio-
sidade de saber quem é o próximo a estar nas listas dos es-
cândalos. Sobre a presidente, gosto de elogia-la pelo olhar 
sensível para sancionar a Lei do Feminicídio. Essa pauta por 
anos foi ignorada nas discussões. Isso mostra a importância 
de ter mulheres à frente da nossa política”, pontua.
No geral, o governo Dilma conseguiu avançar em algu-
mas questões relacionadas à pauta de gênero como repre-
sentatividade na política e combate à violência doméstica. 
Entretanto, ficou abaixo das expectativas de algumas mu-
lheres e movimentos feministas por não enfrentar devida-
mente outros temas, como os direitos reprodutivos e a di-
versidade sexual.
REPRESENTATIVIDADE DA MULHER
DILMA NOMEOU O MAIOR NÚMERO DE MINISTRAS 
MULHERES NA HISTÓRIA DO PAÍS - FORAM 18 EM 
DIFERENTES MOMENTOS DE SEUS CINCO ANOS E 
MEIO DE GOVERNO.
DIREITOS REPRODUTIVOS
TALVEZ A QUESTÃO MAIS POLÊMICA ENTRE AS 
REIVINDICAÇÕES DE GRUPOS DE MULHERES É A 
DOS DIREITOS REPRODUTIVOS. ESPERAVA-SE QUE 
DILMA TENTASSE AVANÇAR COM A PAUTA, MAIS 
ISSO NÃO ACONTECEU.
FONTE: BBC
MERCADO DE TRABALHO
A MAIOR PRESENÇA DAS MULHERES NO MERCADO DE 
TRABALHO FORMAL, ALÉM DE ACESSO A PROGRAMAS 
SOCIAIS E EDUCAÇÃO SÃO VISTOS COMO AVANÇOS 
DO GOVERNO. 
VIOLÊNCIA
MELHORAR O FUNCIONAMENTO DA LEI MARIA DA 
PENHA, ALÉM DA APROVAÇÃO DA LEI DO FEMINICÍDIO 
FORAM DESTAQUES DO GOVERNO NO COMBATE À 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.
GÊNERO E DIVERSIDADE
O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FORMULOU UMA 
CARTILHA PARA ABORDAR A QUESTÃO DE GÊNERO 
E A DIVERSIDADE SEXUAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS 
DURANTE O GOVERNO DILMA. MAS A PAUTA NÃO 
AVANÇOU, DEPOIS DE RECEBER UMA SÉRIE DE 
CRÍTICAS DE GRUPOS DA SOCIEDADE CIVIL.
49
Formada em Letras pela USP, atuante do movimento estudantil e feminista, a vereadora Sâmia Bomfim foi eleita na cidade de São Paulo no último pleito. 
Natural de Presidente Prudente, interior de São Paulo, 
veio para a cidade com 17 anos para estudar. Já no ambien-
te estudantil, começoua interagir com a política. Em 2011 
se filiou ao PSOL, a convite de colegas, mas não pensava 
em se candidatar.
“Sempre gostei mais de uma militância de base, dos 
grupos de discussões. Fui convencida a sair candidata no 
começo do ano passado principalmente pelo meu perfil 
e pelo destaque que eu tive na luta feminista. Organizei 
diversas mobilizações de rua aqui em São Paulo, principal-
mente contra a cultura do estupro. A candidatura foi mais 
um teste, algo projetado para o futuro e acabou acontecen-
do. Fui eleita na primeira campanha, gastando apenas R$ 
24 mil”, relembra.
5. Representatividade na cidade 
de São Paulo: o olhar das 
vereadoras
50
MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
Sobre a postura de seus colegas no parlamento, Bomfim con-
ta que, mesmo em pouco tempo de mandato, já foi perseguida 
por dois vereadores: Fernando Holiday (DEM), com desavenças 
relacionadas ao posicionamento político, e Camilo Cristófaro 
(PSB), que chegou a agredir a vereadora suplente do partido Isa 
Penna, quando ela assumiu o mandato por um mês.
“As coisas com o Cristófaro ficaram bem ruins. Depois de 
agredir a Isa ele pegou birra do PSOL. Eu virei antagonista 
dele por, obviamente, me posicionar contra. Mas, eu não liga-
va. O problema é que isso virou uma perseguição. Ele tentava 
expor fotos minha do tempo de manifestação no plenário, 
me chamando de terrorista e vagabunda. Até chegar ao ponto 
de me ameaçar. ‘Vou te pegar lá fora’, ele disse. Essa ação só 
parou porque vereadores de outras bancadas interviram. Não 
acho que eles estavam de fato preocupados comigo, mas o cli-
ma de guerra estava impossibilitando o andamento da casa. 
Essa época foi horrível para mim”, relata.
Os projetos de lei propostos por Sâmia com foco na dis-
cussão de gênero também enfrentam algumas dificuldades 
para serem aprovados na Câmara. Como o “Escola sem Cen-
sura”, que está paralisado e surgiu como um contraponto ao 
“Escola sem Partido”. O “Março Feminista” já foi aprovado 
em duas comissões. É um projeto que pretende realizar di-
versas ações educativas durante o mês de março, por ser co-
memorado o Dia Internacional da Mulher, para combater o 
machismo. Já o “Publicidade contra o Machismo” foi vetado 
na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Os parlamenta-
res argumentaram que isso não é competência do legislativo, 
mas do Executivo, que decide dotação orçamentaria.
“O ‘Aborto Legal e seguro’ é um dos mais importantes e eu 
fiquei muito chocada por ter sido aprovado na CCJ. Eu jurava 
ARYEL FERNANDES
51
que ele ia ser reprovado por conta do peso do conservado-
rismo. Por sorte, no dia da votação, dois dos três vereadores 
que são da bancada religiosa não estavam, então aconteceu. 
Infelizmente eu não sei se ele vai muito adiante, porque eu 
acho que eles nem perceberam o que era realmente a pauta. 
Mas estou na torcida”, confidencia.
Já a vereadora eleita com mais votos desta legislatura – um 
total de 45.285 – teve um início na política diferente. Patrícia 
Bezerra (PSDB) participa de militâncias de partidos desde o 
processo de redemocratização do País, quando tinha apenas 
16 anos. Ela conta que sempre gostou muito do tema e não 
sabia o porquê, até descobrir que o avô paterno tinha uma tra-
jetória como vereador e perceber que era algo de família.
“Por acaso, eu casei com alguém que também gostava de 
política e tinha um viés religioso. Isso nos fez trabalhar com a 
questão social, ajudando os projetos da comunidade religio-
sa que participávamos. Ele atendia como médico e eu como 
psicóloga. Com o crescimento do projeto e reconhecimento 
da população, meu marido se candidatou a vereador. Ele ga-
nhou e o projeto ficou sem presidente. Eu assumi de maneira 
temporária, mas acabei liderando o projeto”, relata.
Após dois mandatos como vereador, Carlos Bezerra Jr. 
saiu como candidato a deputado federal. A comunidade, conta 
Patrícia, pediu para que ela disputasse como vereadora para 
dar continuidade aos projetos. “Sou uma caipira do interior 
do Paraná, não vou me candidatar a nada”, dizia muito irrita-
da. O marido perdeu a eleição e continuou como vereador. Ela 
deu seguimento ao trabalho da Comunidade da Graça que só 
crescia – atualmente o projeto realiza mais de 1,2 milhão de 
atendimentos por ano, em parceria com a prefeitura. Carlos 
resolveu ser candidato a deputado estadual e as conversas ti-
52
MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
veram um novo início. “Voltei para o meu terapeuta e acabei 
percebendo que a minha aversão era um desejo enorme de ser 
[vereadora]”, lembra. Mas, ainda assim, Patrícia se afastou da 
campanha depois de ficar grávida. Sofreu dois abortos, o pri-
meiro em abril de 2010 e o segundo em agosto.
“Fiquei muito mal, eu queria muito esse bebê. Mas, de-
pois disso, eu tive a plena certeza de que esse não era o meu 
projeto e que eu estava tentando de alguma forma escapar do 
meu destino. Meu insucesso era um sinal claro de que eu não 
teria escapatória. Meu marido ganhou a eleição e, em 2012, 
eu saí como candidata à vereadora de São Paulo. Foi assim 
que nasceu a minha candidatura. Naquele ano eu fui a única 
nova mulher na Câmara dos Vereadores”, relembra.
Em seu primeiro mês como vereadora, Patrícia conta que 
passou por uma das experiências mais machistas de sua tra-
jetória. “É comum na casa que, depois da sessão, um parla-
mentar peça a palavra para registrar o seu voto. Em um dia, 
acabou a votação e eu fiz exatamente isso. Um vereador que 
já estava no seu 7º mandato e era temido por todo mundo, foi 
no microfone depois da mim e disse: ‘É senhor presidente, ai 
vem a vereadora e faz blá, blá, blá aqui. Acha que pode’. Eu 
estava com o meu assessor e escutei. Voltei igual a um foguete 
para o microfone de aparte e retruquei: ‘O senhor nunca mais 
faça isso. Foi a primeira e última vez. Porque eu não quero sa-
ber se o senhor está no seu 10º mandato, eu sou tão vereadora 
quanto o senhor. E, se o senhor fizer isso de novo, eu o levo 
para o conselho de ética”, declarou. 
A parlamentar lembra ainda que o vereador em questão, 
após o ocorrido, foi à bancada dela dizer que a ação não ha-
via sido pessoal. “É claro que foi, ele só fez porque eu sou 
mulher. Aqui, estamos falando na tribuna, eles estão rindo. 
ARYEL FERNANDES
53
Sem dar a mínima para nós. O tempo todo temos que fazer 
o nosso trabalho e ainda se impor. A questão do machismo 
e do preconceito acontece muito. Você lida com pessoas que 
olham para você como um objeto. Eles acham que não esta-
mos aqui para pensar, mas para enfeitar”, protesta. 
Uma das atuações de Patrícia que lhe concedeu maior des-
taque foi como secretária dos Direitos Humanos do muníci-
pio. Bezerra assumiu a pasta no início da gestão do prefeito 
João Doria (PSDB), mas deixou o cargo após a megaoperação 
realizada pelo executivo na Cracolândia, no centro da cidade. 
A ação foi vista como truculenta e irresponsável por boa parte 
da população.
“Eu fui a única secretária que pediu exoneração e me or-
gulho disso. Na verdade, eu tenho muito orgulho disso. Eu 
sempre digo que partido é durante a eleição. Não é porque eu 
sou do PSDB que eu vou proteger as coisas erradas. Se acer-
tar, ótimo! Se errar, eu vou criticar. As minhas convicções 
pessoais são maiores que o meu partido.”, completa.
Juliana Cardoso (PT), vereadora em seu terceiro manda-
to, começou sua carreira na vida pública a partir da atuação 
em um coletivo que promovia ações sociais em parceria com a 
Pastoral da Juventude. O então vereador Adriano Diogo apoia-
va o projeto e estimulou, na ocasião, a candidatura de Cardo-
so. O projeto viu a importância de colocar uma mulher para 
representar as comunidades da zona leste da cidade. A par-
lamentar conta que a sensibilidade do coletivo, em relação à 
pauta de gênero, foi o que possibilitou sua entrada na Câmara.
“A minha atuação sempre foi vinculada aos movimentos 
sociais e as comunidades da igreja católica. Estive muito liga-
da a construção do Partido dos Trabalhadores (PT) também,o que aconteceu pela relação com a minha mãe, que foi uma 
54
MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
militante histórica do partido e ajudou na fundação. Por isso 
pensei em me candidatar, mas demorou para de fato ocorrer. 
Nós mulheres achamos muitas vezes que não somos capazes 
de ocupar algum espaço. Eu relutei muito, não achava que ia 
conseguir entrar para a maior câmara do Brasil, mas ganhei 
com mais de 27 mil votos. Eu era a única vereadora da ban-
cada, nós éramos em 11, na época”, relembra.
Cardoso conta que seu primeiro ano como vereadora foi 
o pior, por não ter espaço nas discussões e ser ultrapassada 
até pelos homens de seu partido. “No movimento, tinha outras 
mulheres que me ajudavam a passar por isso e aqui eu estava 
sozinha. Eu não tinha ideia de que o machismo era tão forte, 
ao ponto de me fazer pensar em desistir. Nesse momento, as 
mulheres dos movimentos e palestras que eu estava partici-
pando me mostraram o quanto elas também estavam sozinhas 
nos seus espaços de luta e o quanto era importante que eu con-
tinuasse a guerrear no espaço que eu estava”, relata.
A vereadora tem uma forte crítica ao fechamento da Secre-
taria Municipal de Políticas para Mulher, que foi criada para fa-
zer uma ligação entre todas as pastas, para ser intersecretarial. 
“Nós conseguimos muitos avanços em relação aos projetos de 
apoio às mulheres vítimas de violência. A secretaria conseguiu 
muitos recursos federais também. Um projeto muito importan-
te é a Casa da Mulher Brasileira, que era um espaço para a mu-
lher resolver todas as questões sobre a sua denúncia e ter apoio 
em um único espaço público. Ainda não colocaram em prática 
por causa de burocracia, mesmo estando tudo pronto”, cobra.
Política na família
“Me enquadro no grupo de mulheres que nunca se inte-
ressaram por política”, afirma a vereadora Adriana Ramalho 
ARYEL FERNANDES
55
(PSDB). A parlamentar conta que sempre participou de pro-
jetos sociais, mas negava todos os convites de partidos. Ela 
mudou de ideia após seu pai, deputado estadual Ramalho da 
Construção (PSDB), ser diagnosticado com um câncer no in-
testino. A previsão, à época, é de que ele teria mais quatro me-
ses de vida.
Adriana relata que, mesmo debilitado, submetido a uma 
série de tratamentos e procedimentos médicos agressivos em 
função da doença, seu pai deu continuidade à militância po-
lítica. “Com a doença, eu passei a acompanha-lo, nós não 
sabíamos o que ia acontecer com ele. (...) E, em um certo dia, 
eu vi o meu pai doente e debilitado, em cima de um carro 
de som, debaixo de uma chuva, brigando por aquilo que ele 
acreditava. Naquele momento eu percebi que precisávamos 
caminhar lado a lado”, expõe.
Em 2012, Adriana se filiou ao PSDB e, em 2015, foi con-
vidada para ser candidata à vereadora. Ela frisa que as di-
ficuldades dentro do partido em relação a espaço, apoio e 
financiamento a impressionaram. Fora essas questões, ela 
conta que enfrentou diversos discursos machistas sobre a in-
capacidade de ganhar uma eleição na primeira tentativa. A 
parlamentar pediu demissão do sindicato em que trabalhava, 
quando aceitou o convite para ingressar na política.
“Eu passei o ano de 2015 me dedicando à cidade de São 
Paulo, estudando as regiões, tentando entender esse universo 
pelo menos o mínimo, para chegar aqui e representar as mu-
lheres. Ganhei com quase 30 mil votos. Queria passar o meu 
primeiro ano quieta e apenas observando o cenário. Não foi 
nada disso, consegui ser líder da bancada do partido na casa, 
é a primeira vez que uma mulher é líder, além disso, faço par-
te de algumas comissões importantes para a cidade”, enfatiza. 
56
MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
Adriana comenta que o não cumprimento da lei de cotas 
e a dificuldade que as mulheres encontram para atuar na po-
lítica são os principais problemas para aumentar a represen-
tatividade. “Muitas vezes as mulheres precisam vir com tudo, 
com os dois pés no peito, para conseguir estar nos espaços. É 
um desafio. Eu acho que tudo começa pelo fundo partidário. 
Eu sempre falo isso no meu partido, que devemos começar 
com o dinheiro, com o espaço e tempo nos programas para 
mudar algo. Além disso, as mulheres têm muita competência 
para ocupar secretarias como de contas e gestão, não somen-
te as de cunho social”, finaliza.
A vereadora Sandra Tadeu (DEM) também relata que o 
machismo muitas vezes aparece na câmara. “As vereadoras 
dificilmente conseguem exercer uma posição de liderança 
dentro da casa, não temos nenhuma mulher presidente das 
comissões permanentes. Mas cabe a nós, com sabedoria, nos 
posicionar e ir mostrando que podemos fazer a diferença na 
política, tanto quando qualquer homem”, destaca.
A parlamentar iniciou sua carreira política após a eleição 
de seu marido, Jorge Tadeu, como deputado federal. “Como 
esposa, acompanhava meu marido na campanha e, observan-
do as necessidades da população, eu quis ir além. Não me 
contentei em ajudar como a esposa de um político.”, explica.
Mulher negra e política
Em evento realizado pela Coordenadoria de Políticas 
para Mulheres, da Secretaria de Direitos Humanos da cidade 
de São Paulo, em setembro de 2017, a deputada estadual Leci 
Brandrão (PC do B) compartilhou a sua experiência como 
mulher negra que atua na política. Eleita para o seu segundo 
ARYEL FERNANDES
57
mandato na Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP), 
Leci é a segunda mulher negra a conquistar uma cadeira na 
casa. Abaixo, a íntegra de seu depoimento proferido no even-
to realizado na biblioteca Cora Coralina na zona leste da ci-
dade de São Paulo:
“Eu sou artista há 42 anos e estou deputada há 6 anos. 
Eu nunca poderia imaginar que um dia na minha vida eu ia 
estar em um universo com tantas pessoas intelectuais. Eu não 
estudei, estou nesse meio aprendendo um monte de coisa todos 
os dias. A política é uma coisa muito complexa, eu me vejo 
questionando diversas situações. É uma pena que nem todos 
os sistemas desse país entendam que a população negra precisa 
ter espaço nos poderes, nós não estamos no executivo, no legis-
lativo ou no judiciário. Tanto não estamos no legislativo que, 
embora eu seja nascida e criada no Rio de Janeiro, tive que vir 
para São Paulo para entrar na assembleia.
Nós precisamos ter uma sociedade mais justa e que não 
seja preconceituosa. O Brasil é o País campeão de preconcei-
tos. Nós sabemos que a população negra serve de degrau para 
muita gente chegar no topo. Eu sinto muito ainda a dificuldade 
que a população negra tem e, principalmente, a mulher negra. 
As mulheres enfrentam muitos problemas, mas a mulher negra 
sofre muito mais. Quando eu fui tentar o primeiro emprego 
da minha vida, eu vi no jornal: ‘precisa-se de moças de boa 
aparência’. Coloquei a melhor roupa que eu tinha e fui procu-
rar emprego. Eu não sabia ainda que aquilo significava que eu 
não podia ser negra. O mais triste é continuar vendo situações 
como essa, mesmo anos depois.
Precisamos falar sobre os negros, precisamos que muitas 
mulheres possam se candidatar. Na última eleição, eu tentei 
58
MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
apoiar todas as mulheres negras que estavam disputando, mas 
não foi possível elas serem eleitas. No entanto, temos mulheres 
que não são da nossa etnia, mas que estão trabalhando, que 
são parceiras e querem fazer essa transformação. E nós vamos 
conseguir isso, precisamos ter a diversidade no parlamento, 
precisamos ter mulheres negras participando das decisões, das 
campanhas na televisão. Precisamos parar com isso, que a mu-
lher negra é para o carnaval e, quando precisa estar a mesa, 
para as decisões, nós não estamos presentes.”
NEGROS NA ALESP
Mesmo criada há 183 anos, a ALESP teve 
apenas cerca de dez parlamentares negros 
eleitos. A primeira mulher foi Theodosina 
Ribeiro, em 1970. Para entender essa baixa 
representação, o pesquisador Osmar Teixeira 
Gaspar realizou um estudo na Faculdade 
de Direito (FD) da USP. A sua tese de 
doutorado, intitulada “DireitosPolíticos e 
Representatividade da população negra na 
Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo 
e Câmara Municipal de São Paulo”, defendida 
em 2017, deu origem a um livro homônimo, 
lançado na casa, que lista as causas e possíveis 
ações para o enfrentamento desta questão.
“
“
ARYEL FERNANDES
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Representação federal
Passando por cargos como deputada federal, prefeita, mi-
nistra e senadora, a psicanalista Marta Teresa Smith de Vas-
concellos Suplicy é conhecida, principalmente, por sua atua-
ção em São Paulo. Marta, atualmente senadora, foi uma das 
responsáveis pela implantação da Lei de Cotas. Com vários 
anos de atuação política, conversamos sobre a sua trajetória 
e as dificuldades que já enfrentou na política por ser mulher. 
— Como foi seu início na política?
Marta Suplicy: Comecei no início da década de 80, parti-
cipando de movimentos pela redemocratização, e logo me fi-
liando ao PT. Depois, na militância política, acabei me candi-
datando a deputada federal – fui a quarta mais votada (1994), 
no estado de São Paulo.
— O que a motivou?
Marta Suplicy: Idealismo. No Colégio já havia organiza-
do um grêmio estudantil. Como apresentadora de um qua-
dro de comportamento sexual, na TV Mulher da TV Globo, 
passei a ter mais visibilidade em bandeiras que eu já defendia 
como psicóloga, psicanalista e colunista de jornal: direitos de 
mulheres e das pessoas LGBT.
— Já enfrentou alguma dificuldade na política por ser 
mulher?
Marta Suplicy: Muitas, o fato de vir de uma televisão, de 
ser famosa, de ter colunas e livros publicados, de ser uma 
pessoa de classe social mais favorecida, não me tornou isenta 
de enfrentar problemas por ser mulher.
— Tem alguma situação que te marcou nesse sentido?
Marta Suplicy: Lembro de uma vez, como prefeita, ter 
sido colocada em dúvida a minha capacidade de falar sobre 
60
MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
finanças municipais. Logo que assumi, fiz uma explanação, 
para empresários, sobre a situação econômica da prefeitura 
— estávamos falidos. Números apresentados, projeções fei-
tas, pedi apoio para alguns projetos. Horas depois, uma ami-
ga me liga e conta que o marido ficou impressionado com a 
minha capacidade de entender aquilo tudo e explicar e con-
duzir a reunião. Ele esperava que o secretário de finanças fi-
zesse isso, enquanto eu apenas estaria na reunião.
— Como você enxerga isso?
Marta Suplicy: Puro preconceito! A mulher precisa pro-
var sua competência e isso é assim, ainda hoje. Quantos co-
mentários maldosos não ouvimos sobre lideranças femini-
nas? Desqualificar a mulher é cultural. Temos de mudar essa 
cultura e isso é difícil e demora. Mas deve começar em casa 
e nas escolas.
— Pensando na sua trajetória, acredita que ocorreram 
avanços em relação a participação da mulher nos últimos anos?
Marta Suplicy: Inegavelmente, sim. Se não avançamos 
numericamente tanto quanto seria ideal, nos parlamentos, 
temos, hoje, lideranças nacionais reconhecidas. E o que mais 
cresce nas participações de movimentos sociais, pelo que 
acompanho das redes, é a presença da mulher, do signo femi-
nino. Não tenho dúvida que, neste século XXI, consolidare-
mos a emancipação iniciada no século XX.
63
Ser eleita é um ponto alto dentro do processo democrá-tico e das lutas pela igualdade de representação de gê-nero. Mas as discussões sobre a importância da partici-
pação feminina na política são também tecidas no cotidiano 
dos partidos por inúmeras mulheres que atuam nestes espa-
ços, mesmo sem intenção de serem candidatas. Maria Apa-
recida Freitas Sales, conhecida como Cidinha, é uma dessas 
representantes. Filiada ao PSOL, a professora da rede pública 
de ensino participa do Coletivo Rosa Zumbi.
Freitas conta que iniciou sua militância na igreja. Sua 
primeira atuação partidária foi no PT. Por discordar de po-
sicionamentos do partido, decidiu migrar para o PSOL. Ela 
afirma que tem como motivação lutar contra as desigualda-
des raciais e de gênero na política. 
“O fato é que a sociedade brasileira foi toda estruturada 
tendo como base o patriarcado e o racismo. Todas as institui-
ções são organizadas para a manutenção desses dois sistemas 
6. Bastidores: as mulheres nos 
partidos
64
MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
de opressão. Importante destacar a questão das dificuldades 
das mulheres negras, que precisam lidar com machismo e ra-
cismo combinados”, explana.
O PSOL desenvolveu o projeto “Setorial de Mulheres” 
que procura atuar dentro do partido, organizando espaços de 
formação e tratando possíveis casos de machismo, e também 
ações organizadas em parceria com o movimento feminista. 
Freitas afirma que o partido fornece espaços para que as mu-
lheres apresentem as suas demandas.
A professora destaca que o combate à violência contra 
as mulheres é uma das pautas que merece mais atenção. “Os 
números dos casos de agressão e feminicídio são alarmantes. 
O Brasil é o 5º país que mais mata mulheres, por dia sete 
mulheres são assassinadas. A cada onze minutos uma mulher 
é estuprada. É muito importante combater isso. Outra pauta 
é a legalização do aborto, que é uma questão de saúde públi-
ca. Por fim, acredito que precisamos lutar por uma educação 
transformadora que contribua para a superação do machis-
mo”, finaliza. 
Com uma atuação diferente, Vanessa Gravino, professo-
ra da rede estadual de ensino, já se candidatou à vida públi-
ca pelo PSOL em dois momentos: como deputada estadual 
e prefeita. Ela conta que começou o seu envolvimento com 
política por causa dos movimentos estudantis. Atualmente o 
seu foco de trabalho é a central sindical por acreditar que o 
contato com as pessoas que trabalham na base daquela cate-
goria é fundamental para a melhoria da política.
“Tentamos construir um espaço que valoriza o trabalho 
das mulheres. Ainda que seja um processo lento, porque no 
mundo sindical tem categorias que são majoritariamente de 
homens. Mas estamos investindo muito em formação, para 
ARYEL FERNANDES
65
que essas pessoas realmente entendam a importância desse 
tema. Pensamos em atividades que possam envolver compa-
nheiros e companheiras. Embora a nossa organização seja 
feita por mulheres e para mulheres”, acrescenta.
A professora relata que, mesmo com esses avanços, as mu-
lheres precisam provar o quanto são eficientes o tempo todo, o 
que não acontece com os homens. “Eles podem errar e tentar 
de novo. As mulheres são cobradas rigorosamente para não 
errar, temos que fazer tudo muito bem e dentro do esperado, 
porque, se não, somos tachadas como incompetentes. Outra 
questão é o próprio espaço da esquerda. O movimento hoje 
exclui as pautas especificas tanto da mulher, como de outras 
minorias. Isso não é fechado, políticas públicas para esses gru-
pos vão transformar a sociedade por completo”, denuncia.
A reportagem tentou contato com filiadas de outros 
partidos, para ampliar as vozes deste debate, mas não ob-
teve retorno.
Discussões internas
A vereadora Sâmia Bomfim, também filiada ao PSOL, 
conta que desde 2011, ano da sua filiação, ela percebe ações 
do partido para inclusão da mulher. “Algo que não acontece, 
mas acredito que pode ser um próximo passo, é abrir a dis-
cussão sobre a base do feminismo para todos no partido. O 
setorial fica mais em torno da formulação de programas e 
propostas de fortalecimento das mulheres, mas para nisso. 
Acho que esse é um bom tema para a gente discutir e conse-
guir invadir as estruturas das instituições”, propõe.
Sobre os bastidores do PT, Cardoso relembra o histórico 
do partido, que conta com o exemplo de algumas mulheres 
66
MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
de destaque encabeçando discussões. “A Luiza Erundina, 
Marta Suplicy e a Dilma Rousseff mostram o entendimento 
do partido sobre a importância dessa representação. Mas 
ainda temos diversas dificuldades. Na última discussão da 
nova executiva, tivemos a Gleisa, que é senadora, como pre-
sidenta do partido. Mas isso não significa que nos outroscargos de primeira linha tenha que ter só homens, mas foi 
o que aconteceu. No PT, infelizmente, nós não temos uma 
discussão tão aprofundada sobre o feminismo, que seria ne-
cessário para mudar isso, nós temos a luta feminina, mas 
não feminista”, explica. 
Em relação às discussões internas do diretório local do 
PSDB, a vereadora Adriana Ramalho questiona a má distri-
buição do fundo partidário destinado a cada candidato. Se-
gundo ela, o partido libera algo em torno de 5% para as mu-
lheres. O tempo de TV também é bem menor do que o dos 
homens. Já Patrícia Bezerra, também do PSDB, destaca que o 
partido compartilha a visão machista e patriarcal da socieda-
de sobre a atuação das mulheres na vida pública.
“Conseguimos o PSDB Mulher, que desenvolve um traba-
lho, mas que tem as suas dificuldades e tem que lutar por uma 
agenda, para impor a sua ótica, pela verba partidária, pelo seu 
espaço. Mas, já conseguimos o programa, que não tinha an-
tes. Acho que as três vozes que conquistamos aqui na Câmara 
podem ajudar nesse processo. Nós temos que nos organizar 
cada vez mais para falar uma voz só e fortalecer a luta. Estamos 
muito longe daquilo que a gente vislumbra como ideal, mas já 
conquistamos muita coisa. Eu acho que a gente não vai mais 
retroceder, eles perceberam que não dá mais para brincar com 
a gente. Daqui para frente, a gente vai ter muito mais conquis-
tas do que retrocessos”, aposta Bezerra.
ARYEL FERNANDES
67
Um fenômeno que tem sido muito comentado em relação 
à atuação dos partidos é a explosão de propagandas direciona-
da para mulheres, convidando-as para participar do pleito de 
2018. De acordo com a cientista política Marina Merlo, desde 
1995, a Lei nº 9.096 determina que pelo menos 5% do total do 
valor recebido por cada partido deve ser investido na criação e 
manutenção de programas que promovam a participação das 
mulheres na política, o que geralmente não era cumprido. Na 
Reforma Eleitoral de 2015, Lei nº 13.165, há uma alteração na 
aplicação do Fundo Partidário que estipula um valor de até 
15% do total. Isso fez com que o TSE começasse a fiscalizar 
mais a atuação dos partidos e, consequentemente, os partidos 
passaram a dar mais atenção a essa bandeira.
“Os partidos usavam o tempo para falar de coisas sobre 
mulheres, como saúde, mas não sobre a participação políti-
ca, que é o que determina a lei. Essa mudança pode ajudar 
nos quesitos que eu elenquei como as dificuldades burocrá-
ticas das mulheres. Porque com esses programas ela vai sa-
ber, pelo menos, como fazer sua filiação - o que não garante 
um apoio depois ou que o cenário real de representação vai 
melhorar”, pondera.
Outro caso que chamou atenção foi a recente criação do 
Partido da Mulher Brasileira (PMB). Fundado em 2008 por 
Suêd Haidar, o partido afirma que seu objetivo é garantir 
maior representação das mulheres no congresso nacional e em 
todos os setores da  sociedade. No entanto, quando olhamos 
para os eleitos pela sigla, a maioria continua sendo homens.
Ramos faz uma avaliação geral da proposta deste par-
tido. “Infelizmente eu não vi nenhuma diferença no PMB. 
(...) Poderia ser muito importante, ter muito mais mulheres 
do que homens e de fato valorizar essa inclusão, mas não 
68
MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
é o que acontece. A única diferença é que o partido come-
çou com uma mulher, mas hoje nós já temos o Podemos 
também, então nem isso é inovador. Eu fico indignada com 
isso, porque parece que é bem para esfregar na nossa cara 
que eles só fazem isso para os outros verem. Não é nem 
divulgado o partido. Se fosse sério, esse era o momento de 
aparecer”, pontua.
A reportagem tentou entrar em contato com o PMB, para 
comentar sua atuação, mas não obteve retorno.
Divulgação de dados
Buscando uma maneira de ajudar as mulheres a conquis-
tarem maior representação, Marlene Campos Machado criou 
o Projeto Mulheres Inspiradoras (PMI), que produz estudos, 
palestras e eventos sobre diversos assuntos voltados para a 
participação da mulher na política. Dirigente nacional do 
PTB, é líder do PTB Mulher, ela foi candidata ao Senado em 
2014 e a vice-prefeita de São Paulo em 2016. Marlene comen-
tou aspectos da questão de gênero na política.
— Você já enfrentou alguma dificuldade na política por 
ser mulher?
Marlene Campos: O preconceito existe. Em minha cam-
panha ao Senado em 2014, ouvia muito nas ruas que: “lugar 
de mulher é no tanque”, ou algumas piadinhas como “mulher 
não entende de gestão ou de política”. É assustador, mas isso 
ainda existe em pleno século XXI. Mas essas coisas, apesar de 
chatas, são facilmente superadas. Na primeira vez que con-
corri, em 2014, mais de 333 mil pessoas votaram em mim, 
confiaram no meu trabalho e esse reconhecimento é mais 
forte do que qualquer comentário preconceituoso.
ARYEL FERNANDES
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— Há grupos de discussão sobre a questão de gênero no 
partido?
Marlene Campos: No movimento feminino que eu pre-
sido nacionalmente e que tem 550 mil filiadas, nós priori-
zamos debater temas do Brasil, inclusive com alguns cursos 
de formação política. Falamos da situação política, econômi-
ca, tributária, previdenciária, do ambiente de negócios, etc. 
Acreditamos que a mulher não pode ser vista como uma cota 
eleitoral, ele deve ter vida partidária, e que ela pode e deve 
contribuir com ideias. Mas todas as discussões voltadas para 
o gênero estão alinhadas ao fato de querermos mais mulheres 
na política, porém buscamos mulheres que sejam interessa-
das e vocacionadas para tal, esforçadas, éticas, de compro-
misso. Além do gênero, temos que olhar para a competência 
e para a qualificação para gerir a coisa pública.
71
O aumento da representação feminina na política é considerado um elemento fundamental para a consequente ampliação de discussões e pautas re-
ferentes aos direitos das mulheres. Isso não significa dizer, 
no entanto, que toda mulher que se elege para um cargo 
político terá um olhar atento e politizado em relação às de-
sigualdades de gênero. 
A pesquisadora da FGV Luciana Ramos reflete sobre a 
importância dessa pauta de gênero ser fortalecida entre as 
mulheres. “Se elas estão lá para não fazer nada pelas mulhe-
res e entrar no jogo dos homens, não serve de tanta coisa. 
Acredito que pessoas que pensem nesse tema e sejam sen-
síveis a ele, mesmo que não sejam eleitas diretamente, é o 
que realmente ajuda. As políticas públicas para mulheres são 
transversais, elas precisam do olhar de todas as pastas. Mas, 
quando a representação nos ministérios é ridícula, fica mais 
difícil”, completa.
7. Aumento da representação e 
impacto nas discussões de gênero
72
MULHERES NA POLÍTICA: A LUTA POR REPRESENTAÇÃO
As pessoas não estão acostumadas a ver mulheres em lu-
gares de poder. Esse é outro ponto que Ramos ressalta como 
empecilho para a atuação das mulheres na política. “Para mu-
dar isso temos que fazer com que as pessoas se acostumem 
com o fato de ter mulheres no poder, precisamos forçar as 
instituições, porque naturalmente não vai acontecer. Precisa 
ser falado na importância de votar em mulheres e incentivar 
isso. É hora de as mulheres levantarem as bandeiras e mos-
trarem que são diferentes”, destaca.
Para a cientista política Marina Merlo, mesmo sem en-
campar as discussões das pautas de gênero, é importante que 
mulheres sejam eleitas. “Esse é um debate muito complicado 
porque tem homens que podem debater essa temática tam-
bém. Mas ainda assim vale defender só número, sem pensar 
na qualificação. Elas servirão de exemplo. Imagina uma ga-
rotinha que fica vendo televisão, ela percebe que tem mulher 
no parlamento e isso vira uma possibilidade de vida”, exalta.
O crescimento de mulheres de bancadas religiosas, que 
representam valores tradicionais, pode, no entanto, ser visto 
como ponto de entrave para pautas feministas, como destaca 
a pesquisadora. “Infelizmente, mais mulheres não significa 
necessariamente mais feminismo”, pontua.
Sobre a representação das mulheres em ministérios, 
Merlo

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