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Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br CAIO FÁBIO D´ARAÚJO FILHO VIVER: DESESPERO OU ESPERANÇA? Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br Índice PARTE 1 – Genealogia do Desespero 1. A Origem do Desespero 2. O Sistema Religioso 3. O Sistema Filosófico 4. O Sistema Científico 5. Um Universo Criado de um Princípio de Pluralidade 6. A Constituição do Desespero PARTE 2 – Genealogia da Esperança 7. A Esperança 8. A Convergência do Tempo de Sua Vinda ao Mundo 9. A Vinda de Cristo 10. A Redenção 11. Vivendo na Esperança Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br PARTE 1 GENEALOGIA DO DESESPERO Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br 1 A Origem do Desespero Quem, com bom senso, e depois de profunda e acurada análise da espécie humana, de suas reações, de seus anseios, de sua história e de sua cultura, pode, coerentemente com as evidências, afirmar que a humanidade vai bem e que o homem é bom e feliz? A história do homem está salpicada de sangue e rasgada pela violência. Temos informações de achados arqueológicos, antropológicos e de estudos etnológicos que, no interesse de conhecer nossas raízes como espécie, têm achado restos de antiqüíssimas culturas humanas que nos revelam o egoísmo, as disputas, as guerras e códigos de leis, na tentativa de reprimirem os abusos do próprio homem contra o seu próximo! Desde quando se tem conhecimento histórico do homem, suas atitudes de sensatez se têm constituído como que exceções na regra geral de sua insensatez. O egoísmo, o desamor, a violência, a perversão, o homicídio, o roubo etc... não têm sido problema de um chamado estado de NÃO- CIVILIZAÇÃO. Pelo contrário: tanto numa tribo primeva como numa grande cidade moderna, os delitos se repetem, sendo hoje, de uma incidência proporcionalmente bem maior. É ingenuidade afirmar-se que o homem é um ser que, mediante lento desenvolvimento evolutivo, consegue erguer-se do teor primitivo e da ignorância tateante de uma origem animalescamente rude até as alturas de sensibilidade e introspecção religiosa e filosófica. A História não mostra o homem como criatura que está evoluindo mas, antes, como criatura rebaixada a cada dia pelas suas incursões num mundo interior de rebeldia e selvageria. Há um relacionamento de total insegurança do homem com o homem. Um bicho confia noutro bicho mais do que o homem tantas e tantas vezes confia noutro homem. Como disse o Rev. J.R.W. Stott, "Uma promessa não é suficiente; precisamos de contrato. Portas não bastam; temos que fechá-las a chave a aferrolhá-las. O pagamento de taxas não é suficiente; temos que ter recibos que são perfurados, inspecionados e recolhidos. A lei e a ordem não chegam; precisamos de polícia para reforçá-la". 1 Por outro lado, conquanto o homem possua consciência do bem e do mal, parece possuir uma tendência incompreensivelmente forte para praticar o mal. Por que será que as coisas são assim? Será que o homem é, de fato, obra das mãos de um Criador bom? E se Deus é bom, como criou um ser tão desajustado e mau como o homem? Foi sempre o homem como nós o conhecemos, ou ele já existiu numa outra contextura originalmente boa? Dependendo das respostas que dermos a essas perguntas, todo nosso rumo pode mudar na vida. Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br Pense-se, por exemplo, que o homem é obra das mãos de Deus, e que ele é hoje tal qual Deus o fez, e, certamente, seremos conduzidos pela coerência a pensar de acordo com o poeta Baudelaire: "Se há um Deus, este é o diabo" 2 ; e a conclusão final nesse conceito é a de Archibald Macleish: "Se Ele é Deus, não pode ser bom; se é bom, não pode ser Deus" 3 . Se se entende que o homem não mudou em seu estado de origem e que tal como é, o é pela vontade de Deus, esse Deus, por criar o homem já nesse estado de corrupção moral e espiritual, certamente seria maior em crueldade e indignidade do que o próprio homem! Não. Deus não é o responsável por este obstinado e violento homem. A real compreensão do problema teve o sábio Salomão quando, depois de muito meditar sobre os caminhos do homem em relação ao "ato criativo" de Deus, disse: "Eis que tão-somente achei: Que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias." 4 Se partirmos da premissa de que o homem caiu de um estado original de santidade e virtude, sentiremos total impulso para amar o Criador. Mas, se partirmos do pressuposto de que o homem não mudou desde a sua origem, tem-se que, em nome da razão, assumir de duas, uma posição: a primeira, é a de que Deus é mau por criar o homem mau; a segunda, é a de que o homem é "filho do acaso" e está simplesmente manifestando, em seus atos de violência, reservas de instintos guardadas em seu subconsciente. No entanto, somos levados pela coerência, pela sensibilidade, pela harmonia e pelas evidências notadas ao nosso redor, a crer que Deus é, ou seja, que Ele está aí, está presente. E se Ele está presente, faz-se necessário que admitamos a realidade de Sua perfeição, de Sua santidade, de Seu amor e, contrastantemente, da nossa inteira destituição de verdadeiro amor e auto-doação espontâneos. Deus não nos fez como somos. A natureza foi corrompida e distanciou-se do padrão original. Talvez a pergunta necessária ao momento, seja: Como adquiriu o homem essa natureza? É sobre isso que passaremos a discorrer. A Bíblia narra em Gênesis 2:4 a 7, o evento histórico da criação do ser humano. Em seu complexo orgânico, o ser humano foi formado de elementos simples unicamente por causa da ordem e do "ato criativo" de Deus. Porém, maravilhosamente, em seu mundo interior de consciência e de valores morais e espirituais, foi dotado da imagem e da semelhança de Deus, que é um ser pessoal e, consequentemente, consciente. Por causa disso, o homem é consciente de si mesmo, do seu mundo contemporâneo e circunstancial, e de sua história. O plano de Deus, ao fazer o homem, não foi outro, senão o de revelar-se a si próprio a ele numa relação de amor. Fomos criados para Deus. Para o louvor e a admiração profunda das realidades indeléveis do ser de Deus. Um ambiente perfeito foi criado, nele o homem foi posto, e a ele foram dadas a autoridade para governar as demais criaturas e o incentivo para que se reproduzisse e enchesse a terra (Gênesis 1:28). Entretanto algumas coisas precisam ser observadas. A primeira é que o mal sempre existiu - mesmo antes da queda de Satanás e da do homem - Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br como antítese conceitual do bem. Deus é o padrão da santidade e a santidade é o padrão de Deus. Nesse sentido, o mal existia como alternativa abstrata e conceitual, pois tudo quanto Deus era em expressão concreta de Sua santidade determinava a existência do mal como conceito alternativo, oposto à maneira real de Deus ser. Donde concluímos que o "bem real" é eterno como expressão da santidade de Deus, mas que o "mal conceitual" também é eterno como antítese do "bem real". A segunda é que o mal moral já existia , antes da queda do homem na forma da desobediência, perversão e soberba de Lúcifer, anjo decaído de seu original estado de perfeição angelical (Ezequiel 28: 14,15 e Isaías 14:12,15). A terceira é que Deis mão cria robôs, máquinas de executar a sua vontade. E isso certamente inclui o homemna sua livre vontade de ser o que quer ser. Deus criou o homem para louvá-Lo, mas esse louvor seria ridículo, se o homem fosse um andróide. Por isso, Deus nos deu livre arbítrio, liberdade para escolher. No entanto, não há liberdade que se caracterize como tal, sem critérios e sem referências. No caso do homem, essa disposição de louvar a Deus por vontade própria tinha que ser demonstrada. O amor que não é provado não se revela plenamente. A obediência que não é testada não se revela na forma maravilhosa da fidelidade. Deus então determina um mandamento para a referência da obediência e da livre vontade do homem. O mandamento é simples, o objeto posto como referência é mais simples ainda, porém os efeitos oriundos da desobediência seriam trágicos porque revelariam o livre desejo de "viver para o eu" ao invés de "viver para Deus". É, pois, assim, que Deus determina: "De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás." (Gênesis 2: 16,17) Mas o homem não estava só na sua decisão de obedecer ou não a Deus. Mostra-nos a Bíblia que Lúcifer entra em cena com intento destruidor de, junto consigo próprio, arrastar também o homem para o estado de rebelião e desobediência. Foi assim, como lhe é peculiar, que se disfarçou no interior de uma serpente, até então bela, como bem revela o texto hebraico de Gênesis. É interessante como a inteligência de Lúcifer se faz notória na narrativa da queda do homem. Os elementos dialéticos usados por Lúcifer atingem a essência da mais inteligente sutileza. Eis como formulou a sua tentação: "É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?" Notemos a malícia. Primeiro Lúcifer afirmou que Deus havia dito um mandamento: "É assim que Deus disse". Depois ele sugere a dúvida no que Deus disse, acrescentando uma interrogação: "Não comereis de toda árvore do jardim?" Não estava o mandamento sendo atacado frontalmente, mas, sim, sendo colocado em dúvida. O mais perigoso de todos os métodos de ataque contra a verdade e indução para a mentira está na dúvida que se possa colocar no pressuposto da verdade. O que lúcifer propôs assemelha-se à estrutura da dialética hegeliana: "Tenho uma nova idéia. De agora em diante pensemos da seguinte maneira: em vez de causa e efeito (ou seja: "se dela comeres morrerás"), pensemos na tese ("Deus disse para não comer"), e na oposição à tese, a antítese Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br ("é certo que não morrereis"). E a resposta quanto à relação entre as duas não está no movimento horizontal de causa e efeito, mas sempre na conclusão triangular, na síntese ("como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal".) A resposta que se fez ouvir por parte da mulher foi: "Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais." Lúcifer anteriormente sugeriu que o que Deus disse poderia ser posto em dúvida e a sua seta mentirosa penetrou mais profunda do que se poderia esperar, quando vemos sua conseqüência imediata na resposta dada pela mulher. Quando foi posta em dúvida a verdade absoluta de Deus, foi aberta a porta para que ela pudesse ser alterada. Foi assim que aconteceu, quando a mulher acrescentou ao mandamento de Deus algo que ele não havia declarado: "Nem tocareis". Deus não havia dito isso, ma antes: "De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás." Se se põe dúvida no que Deus disse, pode-se perfeitamente alterar tanto o que Ele disse como negar o que ele disse. Esse foi o final daquele trágico diálogo, porque então disse a serpente à mulher: "É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal". A verdade agora já havia sido negada, taxativamente e mentirosas promessas estavam sendo feitas. Observemos as propostas de autonomia e soberba: "se vos abrirão os olhos" e, "como Deus, sereis..." Terrível malogro. A divinização do homem rebaixa-o mais do que qualquer outra coisa. Com a morte do desejo de obedecer a Deus, vem automaticamente a glorificação do "eu", o que leva o indivíduo "a viver para si". Isso aconteceu primeiramente com a mulher, pois, " vendo que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e o comeu, e deu também ao marido, e ele comeu". (Gênesis 3:6) Daquele ato de desobediência foi que se desencadeou todo esse sistema de morte reinante no mundo, e ainda a cobiça concebida no Éden é a SÍNTESE = “Como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gn. 3:5) “Dele não comereis” (Gn. 3:3) ANTÍTESE “É certo que não morrereis” (Gn. 3:4) 1 . 2 . 3 . Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br mesma que caracteriza o consumismo dos nossos dias. A queda trouxe consigo as mais catastróficas conseqüências, que são notadas em todas as reações do homem e do seu ambiente. Entre as inúmeras conseqüências da queda, queremos, na presente postulação, apresentar apenas cinco. Vejamo-las: Em primeiro lugar, houve a depravação da natureza humana: "Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração". (Gênesis 6:5) O homem feito ereto, no princípio comparado ao homem caído do resto da História, é, na verdade, uma aberração, um desfigurado, um irreconhecível. À semelhança de um morto que, apresentado para identificação e não a obtendo, seria enterrado como um não-identificado, como um indigente. Com a queda, repetimos, o homem se tornou um ser desfigurado e irreconhecível. O Salmo 14:3 diz: "Todos se extraviaram e juntamente se corromperam: não há quem faça o bem, não há nenhum sequer." É assim que Deus vê o homem caído! Em segundo lugar, houve a separação entre Deus e o homem. Faz- se necessário, para que se tenha um vislumbre da realidade dessa separação, compreender, antes de tudo, a santidade de Deus. Mais de 555 vezes na Bíblia, lêem-se os termos Santíssimo e Santo, mostrando o caráter santo da natureza divina. A principal palavra do Velho Testamento é GADHÔSH que, em sua origem semítica, significa "separação". A santidade de Deus pode ser considerada como a síntese de todos os seus atributos, ou ainda pode ser chamada de "o atributo dos atributos". A santidade é o padrão da conduta de Deus, padrão esse que é a Sua própria natureza intrínseca. Podemos então dizer que santidade é o padrão de Deus e que Deus é o padrão da santidade. De fato, é importante saber que Deus é santo, e que em sua natureza santa há total repulsa pelo pecado e pela desobediência. Foi a natureza santa do Criador que levou Adão e sua mulher a se esconderem de Deus; a se sentirem nus, mesmo depois de já terem tecido vestes de folhas de figueira para se cobrirem. Mas, essa santidade só se mostra condenadora diante do pecado. Antes de haver pecado, esse confronto não se manifestava. Um dos grandes exemplos da Bíblia, da manifestação da consciência de pecado do homem em relação ao caráter santo de Deus, é-nos apresentado no livro de Isaías, capítulo 6, quando da narrativa da visão que aquele profeta teve da glória de Deus. A progressão da narrativa mostra-nos que, quando a santidade de Deus foi proclamada e manifestada, Isaías exclamou: " Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei... o Senhor!..." O pecado seembrenhou na natureza humana, legou ao homem um desgraçado estado de separação de Deus. O que antes da queda não se fazia, passou a ser feito depois dela, ou seja: a invocação de Deus ( Gênesis 4:26). A relação do homem com Deus, anterior à queda, era natural e constante, não Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br havendo, portanto, necessidade de uma invocação, pois Deus não estava separado do homem em relacionamento e comunhão. Quando o homem pecou, um grande abismo surgiu entre ele e Deus, no sentido da comunhão e do relacionamento entre ambos. A santidade de Deus é incompatível com estado de pecaminosidade da criatura humana. Anteriormente à queda, Deus estava separado do homem e de sua criação apenas no que diz respeito à sua infinitude como Criador e pessoa independente: O diagrama daquele estado pode ser assim representado: DDEEUUSS Abismo promovido pela infinitude HHoommeemm ee oo rreessttoo ddaa ccrriiaaççããoo,, iinncclluuiinnddoo aa ppaarrttee mmeeccâânniiccaa ddoo UUnniivveerrssoo 55 Conquanto houvesse aquela divisão em função da Infinitude do Criador como ser pessoal, havia por outro lado, uma indivisível comunhão pessoal entre Deus e o homem feito à sua imagem e semelhança. No entanto, o diagrama que hoje se tem que apresentar para significar o que aconteceu depois da queda difere contundentemente do primeiro. DDEEUUSS--CCRRIIAADDOORR ppeessssooaall ee iinnffiinniittoo Abismo em razão de sua infinitude HHoommeemm ee CCrriiaaççããoo Abismo criado pelo pecado do homem HHoommeemm ee oo rreessttoo ddaa CCrriiaaççããoo ((RRoommaannooss 88::2222--2255 )) No primeiro diagrama, ficou patente o fato de que, em razão da infinitude de Deus, o homem, por ser finito, nunca compreenderia totalmente o Criador. Mas isso nada significava porque havia entre eles uma linguagem espiritual inerente à perfeita comunhão pessoal, pois ambos são seres pessoais. No segundo diagrama, evidencia-se que, depois da queda, o homem ficou totalmente separado de Deus pela infinitude do criador e pelo pecado, não havendo para ele, por causa do pecado, possibilidade de manter comunhão com Deus. Podemos então dizer que o que acontece hoje de maneira natural na vida de todos os homens é a separação de Deus, "pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Romanos 3:23). Em terceiro lugar, houve uma divisão interior no homem. A grande QQ UU EE DD AA Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br mentira engolida pelo homem na sua queda trágica foi a de que seria, como Deus, conhecedor do "bem e do mal". Todo homem tem conhecimento desses valores e é capaz de dizer que a consciência o assombra com seu rigor e com seus critérios. Mas a grande mentira esteve nesta comparação: "Como Deus, sereis conhecedores". Esta é uma terrível mentira. Deus conhece o bem e o pratica de modo absoluto. Conhece o mal e o rejeita e odeia, e nele não há injustiça. Destarte, tal não aconteceu com o homem, que conhece o bem e não o pratica, conhece o mal e não o rejeita. Eis o drama de todos os homens: "Não faço o bem que prefiro, e, sim, o que detesto. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum: pois o querer está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e, sim, o pecado que habita em mim. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim" ( Romanos 7:15 a 21.) Sobre esta dicotomia entre o que o homem "é" e o que ele quer "ser", diz-nos o Dr. Francis Schaeffer: "A queda não só originou uma divisão entre Deus e o homem primeiramente, mas dividiu o homem contra si mesmo. Estas são as divisões psicológicas. Estou convencido de que esta é a psicose básica: que o homem, individualmente falando, encontra-se dividido em sua própria estrutura de personalidade como resultado da queda." 6 O estado de rebelião do homem legou-lhe uma atrofia também na mente, na sua possibilidade de percepção, e o colocou numa total impossibilidade de usar o seu intelecto com a pujança primária, não havendo portanto, depois da queda, a autonomia que hoje tanto se pretende para o intelecto humano. Isso pode ser confirmado em nossos dias, com o conhecimento de que somente 10% da mente do homem é que são usados por ele mesmo. O livro de Gênesis, nos seus três primeiros capítulos, mostra-nos o homem em total integração com a natureza. Dir-se-ia que havia um diálogo instintivo entre os seres da natureza (Gênesis 2:19 e 20). Há, também, o significativo fato de que as plantas vibram e sentem, e isso não lhes foi dado por Deus em vão. Pensamos que, anteriormente à queda, o ser humano podia relacionar-se com os vegetais, sendo uma espécie de comunicador tanto consciente, no nívve com Deus, quanto instintivo, no seu relacionamento com os animais e os vegetais. temos igualmente como certo, que os 90% da mente do homem que, hoje em dia não são utilizados, tanto servem para esacima, como também foram atrofiados e embotados pela queda. Anelo pelo dia em que uma criança meterá a mão na cova do basilisco, e um pequenino conduzirá um leão. Naquele tempo, a mente do homem terá sido redimida. Anteriormente à queda, não havia uma autonomia intelectual proveniente das elucubrações do pensamento no que diz respeito ao conhecimento de Deus, pois as relações do homem com Deus eram feitas com base em uma completa comunhão espiritual, praticada com toda racionalidade e santidade. Havia uma razão superior inerente ao estado original de obediência que proporcionava ao homem um relacionamento intelectual com Deus, promovido pela racionalidade perfeita em face da isenção do pecado. A queda, no entanto, daí precipitou o homem. Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br A quarta conseqüência da queda está na desordem que ela provocou na natureza. Em Romanos 8, lemos: "Porquanto a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa daquele que a sujeitou." Observe- se a expressão: " Não por sua vontade." A quem se refere o apóstolo Paulo? De quem foi a vontade que sujeitou a natureza a um estado de divisão contra si mesma, ou seja, a um estado de guerra contra si própria? Se alguém pretende envolver nesse drama a pessoa de Lúcifer, deve saber que isso não faz sentido. Vejamos por quê: Conquanto Lúcifer já tivesse, nos tempos anteriores à história do homem, pecado e dado origem a uma rebelião angelical, ele, com seu pecado, não pode ser o acusado de ter sujeitado a natureza ao estado de rebelião, pois, apesar do pecado já existente no universo, Deus, assim mesmo, no que diz respeito à criação do homem, das espécies existentes na terra, dos vegetais e das manifestações mecânicas da natureza, fê-los em total harmonia e equilíbrio, sem que entre eles houvesse guerra e predadores. (Gênesis 1:10, 12, 21, 25, 31). Uma compreensão bem nítida do problema, tem o Dr. Schaeffer: " Uma parte essencial de toda verdadeira filosofia é a compreensão correta da norma e plano da criação como revelada pelo próprio Deus que a concretizou. Por exemplo, devemos ver que cada espécie criada em sentido ascendente - máquina, planta, animal irracional e o homem - utiliza-se daquilo que é inferior a si mesma. Damo-nos conta de que o homem utiliza o animal, a planta e a máquina; de que o animal come a planta e a planta utiliza a porção mecânica do universo." 7 Francis Bacon, cientista dos primórdios da ciência moderna, observou: "O homem, pela queda, caiu, ao mesmo tempo, de seu estado de inocência e de seu domínio sobre a natureza." 8 QuandoBacon faz referência ao termo "domínio", está tão somente pensando de acordo com a Bíblia, em Gênesis 1:28. Nem Bacon nem a Bíblia estão dizendo que o homem, legalmente falando, seja o soberano da natureza. Somente Deus tem o direito a essa soberania. No entanto, a queda lançou tanto o homem como a natureza em guerra entre si e contra si mesmos. É necessário observarmos que quase todas as maldições do capítulo 3 de Gênesis atingem as manifestações externas e físicas. É a terra que passa a ser amaldiçoada por causa do homem (v.17). É o corpo da mulher que sentirá desconforto durante a gravidez e dores múltiplas no parto (v.16). Sendo assim, o homem, e não Lúcifer, foi quem sujeitou a natureza à vaidade das disputas, mas foi Deus, soberanamente, quem determinou que a natureza se colocasse em disputas, por causa do pecado do homem ( Gênesis 3:17, 18). Mas, porque foi atingida pela queda, a natureza também está plantada na esperança da redenção (Romanos 8:20, 21, 22). Vejamos o que Deus disse ao homem posteriormente à queda: "Visto que atendeste à voz da tua mulher, e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses: Maldita é a terra por tua causa: Em fadigas obterás dela o sustento durante os dias da tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo." (Gênesis 3:17 e 18). Quando Deus disse "ela ( a terra ) produzirá", ele estava anunciando que, com a queda, haveria na natureza o surgimento de espécies Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br aguerridas e provocantes de dificuldades e conflitos. Não sabemos até que ponto os "cardos e abrolhos"podem ser símbolos de uma desordem bem mais extensa, como cremos que são. É por não terem uma compreensão da queda que homens como Hugh Evan Hopkins, têm escrito, expondo o conflito entre a natureza e a onipotência e bondade de Deus, como se segue: "Se a lei de toda criação fosse a justiça, e se o Criador fosse onipotente, então, qualquer que seja a quantidade do sofrimento ou de felicidade dispensada ao mundo, a participação nela de cada pessoa, seria distribuída de acordo com os bons ou maus atos de cada um. Nenhum ser humano teria um pior quinhão do que outro, sem ter merecido uma situação pior; acidentes e favoritismos não teriam nenhuma participação neste mundo, sendo que cada ser humano estaria desempenhando seu papel num drama que teria sido preparado como uma história moral perfeita. Nenhuma teoria do bem, por mais comprada ou distorcida que tenha sido por qualquer fanatismo religioso ou filosófico, tem conseguido fazer com que o andamento da natureza se assemelhe à obra de um Ser, que seja ao mesmo tempo, bom e onipotente." 9 A única explicação plausível para a desordem existente na forma do sofrimento legado à humanidade e à natureza é a queda do homem, pois, sem que se admita o seu advento histórico, é-nos impossível tentar conciliar a criação com um Deus bom e ao mesmo tempo onipotente. Porém, com convicção cremos que Deus, ao criar todas as coisas, viu que tudo o que fizera era "muito bom" (Gênesis 1:31). A quinta conseqüência da queda foi o estado de morte em três dimensões que ela legou à humanidade. O estado de caídos resultou-nos na morte física e espiritual dentro do tempo, na penalidade ameaçadora da morte eterna. Vejamos como isso aconteceu, examinando cada dimensão separadamente. 1) A morte física. A Bíblia diz: "Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela fostes formado: porque tu és pó e ao pó tornarás." (Gênesis 3:19) Outras referências interessantes a essa área da morte são-nos apresentadas em Hebreus 9:27 e no Salmo 89:48, respectivamente: "Aos homens está ordenado morrerem" e "Quem há que viva, e não veja a morte?". Poderíamos citar muitas referências bíblicas que fazem alusão a essa área da discussão, porém isso se torna dispensável em razão de que esta é uma lei universal e irrefragavelmente incontestável. Dela todos os que vivem participam. Quem dela tem podido isentar-se? Há um provérbio russo que diz: "Não se morre mais de uma vez, mas dessa viagem ninguém escapa." Os cemitérios atestam a realidade dessas palavras. Escreve-se com profundidade e a terra revelará em seu coração os fósseis de muitos anos passados que testemunham essa lei universal. Mas, a princípio, as coisas não eram assim. Essa não era a realidade dos seres vivos. Alguns levantam a seguinte questão: Como, num mundo sem morte, o homem resolveria o problema da explosão demográfica? De fato sabe-se Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br que, em muitos países, a morte parece ser uma boa solução para os seus problemas econômicos e demográficos. Tomemos como exemplo a Índia: quando os ingleses lá chegaram e vacinaram milhares de pessoas contra a raiva, extinguiram um elemento controlador das labaredas demográficas da Índia. Essa foi a reclamação de milhares de hindus. Não obstante, o problema da explosão demográfica não se manifestaria se a queda não tivesse havido. Deus é controlador de todas as coisas. Ele promoveria o perfeito equilíbrio na balança demográfica. Se Deus não tivesse pronunciado a sentença de morte a todos os homens depois de caídos, todos continuariam vivendo em seus pecados e maldades, até que a terra se tornasse o próprio inferno. Imaginemo-nos vivendo no mundo em que prosseguissem, ao mesmo tempo, as maiores aberrações morais e os maiores déspotas da história. Que se faria num mundo em que na mesma época vivessem Caim, Lameque, Manassés, Antíoco Epifânio, Nero, Hitler, Stálin, Idi Amin e o aiatolá Komeíne? Acreditamos que isso seria o inferno. Você gostaria de viver nesse mundo? Imagine-se fazendo um concurso público no qual homens de sete mil anos de idade estivessem concorrendo. Você teria condições de competir com essas feras da cultura milenar? Imagine, também, que o nosso mundo é terrivelmente manipulado por uns poucos, que concentram as riquezas e o poder em suas mãos. Esses déspotas tornam-se poderosos no espaço de apenas uma geração, mas quando eles morrem a terra respira. Você já pensou no que aconteceria se eles vivessem para sempre? De quem seria esse mundo? Talvez conseguíssemos contar numa só mão os seus donos. A Bíblia, no entanto, revela: "Visto que os seus dias estão contados, contigo está o número dos seus meses; Tu ao homem puseste limites, além dos quais não passará." (Jó 14:5) A morte é a mais comprovada de todas as leis do universo. Os seres quando nascem já começam automaticamente uma carreira inconsciente - exceto no caso do homem que é consciente - contudo, ininterrupta, para o fim. É nessa direção que eu e você estamos caminhando também! 2) A morte espiritual. Em Efésios 2:1, lemos: "Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados." E no mesmo livro, capítulo 5:14, encontramos: "Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos e Cristo te iluminará." Por que a Bíblia diz que o homem caído está em delitos e pecados? Simplesmente porque a vida espiritual depende total e intrinsecamente das relações entre o espírito do homem e Deus. Como já vimos, Deus abomina o pecado, e sua natureza santa não se compatibiliza com ele. É, pois, necessário saber que o pecado afasta completamente a possibilidade de Deus comunicar-se com o homem, e a ausência de Deus, que é a própria vida em essência e plenitude, deixa o homem morto na solidão e nos seus pecados. Essa morte, alienação e solidão do homem, pode ser ilustrada vividamente pelo exemplo do pintor Mondrian (1872-1944). Lutando para tentar expressar nos seus quadros Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br uma arte universal, Mondrian buscava retratar o universo daexistência. Por isso, chegou à conclusão de que não poderia emoldurar os seus quadros, para que eles não parecessem buracos na parede. Todavia observou que havia uma discrepância entre o quadro, a parede e a mobília. Em razão disso, começou a compor a parede e a mobília, de maneira que pudessem ajuntar-se ao quadro como um todo. Assim, Mondrian conseguiu um equilíbrio entre o quadro, a parede e a mobília. Entretanto, ao se observar um homem diante desse conjunto, nota-se outra discrepância: O universo de Modrian não se harmoniza com o homem, pois essa é a sensação que se tem quando um ser humano fica à frente desse complexo-universo-existencial. Essa é a morte e a solidão do homem em seus delitos e pecados. É interessante esta dimensão espiritual do homem na qual este já se considera morto, mesmo quando ainda está vivo no corpo. É a respeito destes mortos-vivos que Jesus se referiu ao chamar um judeu para segui-lo. Na ocasião, o discípulo disse que não poderia segui-lo pois ainda precisava enterrar o seu pai. Mas Jesus lhe disse: "Deixa aos mortos o enterrar os seus próprios mortos." A primeira vez que a palavra mortos é usada no versículo, ela faz alusão àqueles que, conquanto estejam vivos, já estão mortos. Na segunda referência, a palavra mortos mostra a realidade dupla da morte: tanto no corpo, quanto no espírito. Fica, pois, demonstrado que a queda trouxe ao homem também a experiência de morrer espiritualmente. 3) A morte eterna No estado de corrupção imposto pela queda, aparece a grande realidade de uma morte eterna. Por que o homem caído e não-restaurado morre eternamente? É fácil responder. Simplesmente porque o que por ele foi rejeitado é de natureza eterna, e também porque a sua vida é de caráter eterno, indestrutível; e ainda, porque o pecado entrou no mundo, no nível da presente existência, pelo homem encarnado, portanto, o problema do pecado na vida da humanidade tinha que ser resolvido neste nível da existência, e na vida de cada homem, individualmente, enquanto ele está vivo no corpo. Toda e qualquer solução para o problema do homem tem que ser apresentada a ele enquanto está no corpo. Ele pecou encarnado, precisa ser redimido encarnado, ou seja, enquanto está vivo no corpo. ( Romanos 5:12) No grande conflito que envolveu a mente do homem nos momentos anteriores à desobediência, havia uma grande luta entre o que é temporal e o que é eterno. O grande e único mandamento, àquela altura, tinha como penalidade de sua não-observância a queda da imortalidade para a mais frágil e terrena mortalidade. Portanto, quando em aquiescência ao eu o homem desobedeceu a Deus, ele estava decididamente trocando o eterno pelo temporal, em face de que o mandamento assim determinava: "No dia em que dele comeres, certamente morrerás." É, pois, de esperar-se que a rejeição da vida eterna implique inevitável e irreversivelmente em morte eterna. Em Mateus 25:46, Jesus disse: "E irão estes para o castigo eterno." Ninguém em toda história advertiu mais acerca de um castigo eterno do que Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br Jesus. De igual modo, ninguém além dele trouxe uma real esperança para após a morte: "Se alguém guardar a minha palavra não verá a morte, eternamente." E entre vintenas de outras promessas ouçamos esta: "Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida." (João 5:24) Sem dúvida, trágico, amargo e indizível em solidão deve ter sido para Adão o primeiro pôr-do-sol sem a companhia do Criador. Estranha e profunda melancolia deve ter-lhe invadido o coração. Já não havia em seus lábios o habitual e espontâneo poema de louvor a Deus. No seu peito, fazia-se sentir um vazio do tamanho do infinito, logo, do tamanho de Deus. E, no seu coração, o peso do pecado que o afastara de Deus e o projetara numa terrível e irremediável condição espiritual o apertava e oprimia. Impossível, no entanto, é para o homem viver curtindo no peito um vazio do tamanho de Deus. Foi então, na tentativa de redimir essa situação de solidão e culpa, que os sistemas humanos surgiram, tendo como objetivo conseguir restabelecer entre o homem e o Criador, ou porque mesmo não dizer - olhando exclusivamente para a dor humana e o desejo que o homem tem de não sentir ou ser atingido por qualquer sofrimento para promover qualquer situação ou paliativo que tirasse o homem do seu estado de solidão, vazio e dor, oriundos da desobediência e do pecado. Assim, é que convidamos os leitores a prosseguirem nesta leitura, analisando, juntamente conosco, os sistemas humanos, seus ideais, suas histórias e os seus fins. BIBLIOGRAFIA SUMÁRIA (1) STOTT, J. R. W. Cristianismo Básico. São Paulo, ABU e Edições Vida Nova, 1973. (2) SCHAEFFER, Francis. A Morte da Razão. São Paulo, ABU Editora, 1975. (3) Apud Schaeffer, op. cit. (4) A BÍBLIA Sagrada. ed. rev. e atualizada. Trad. por João Ferreira de Almeida, Rio de Janeiro, Sociedade Bíblica do Brasil, 1969. (5) SCHAEFFER op. cit., pág. 25. (6) BACON, Francis. Poluição e Morte do Homem. 2.ª ed., Rio de Janeiro, JUERP, 1976, pág. 73. (7) Id., pág. 77. (8) Id., ibid. (9) LITTLE, Paul. Você Pode Explicar Sua Fé? 2.ª ed., São Paulo, Ed. Mundo Cristão, s. d. Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br 2 O SISTEMA RELIGIOSO As origens da religião são antigas, tanto quanto o desejo de o homem reatar sua relação com Deus. Religião é a tentativa de religar o homem à divindade. É uma tentativa de baixo para cima, do homem para Deus. Entre as muitas definições que os dicionários dão ao termo, a linha básica do pensamento é a seguinte: "Crença em Deus ou deuses (...), adoração a Deus ou deuses". A história da religião, nos seus primórdios, nos é apresentada na Bíblia em Gênesis 4, quando Abel e Caim apresentaram-se diante de Deus para oferecerem sacrifícios. Ali se percebe claramente que os dois homens eram tão distintos em suas estruturas de personalidade, quanto o foram nas suas ofertas religiosas. Abel, filho mais novo de Adão, leva a Deus uma oferta de sangue, de vida pela vida, de substituição. Imolara para Deus um sacrifício cujo fruto era das "primícias do seu rebanho e gordura deste". Caim, primogênito de Adão, leva a Deus uma oferta das suas atividades, de sua cultura como agricultor. Era uma atitude de ser aceito pelas suas obras. Diz-nos a Bíblia, que de Abel e de sua oferta, Deus se agradou, porém não se agradou de Caim e de sua oferta. O que aprendemos nós desses dois irmãos? Pensamos que a lição ensinada foi de que a verdadeira relação com Deus ( a de Abel ) exige "um substituto inocente", reivindica sangue como substituição pela vida e pela expiação do pecado. "Porque a vida da carne está no seu sangue." (Levítico 17:11). E ainda porque "sem derramamento de sangue não há remissão de pecados". (Hebreus 9:22) Assim também aprendemos que relação errada com Deus (a de Caim) parte de um esforço humano no sentido de com as suas próprias obras e virtudes "comprar" o direito de ser aceito por Deus. Porém, o relacionamento com Deus não vem de "obras para que ninguém se glorie." (Efésios 2:8,9). Havia necessidade de se derramar sangue, em substituição pela vida, pela seguinte razão: o pecado entrou no mundo pelo homem. Mas ele não só entrou no mundo-humanidade, como também no nível da existência material. Ora, a sublime manifestação da vida material está no corpo e seu complexo. No entanto, a vida do corpo está potencialmente no sangue, logo, em termos de escatologia redentiva, o sangue prefigurava Cristo e seu sacrifício, mas igualmente oferecia-se como o autêntico representante do valor material ao nível da vida em que o pecadose introduziu no mundo. Quando neste capítulo, nos propusemos a analisar o sistema religioso, fizemo-lo desejando tão-somente enveredar no caminho da religião como deve ela ser entendida em sua forma etimológica e em seu ideal extra e anti-bíblico. Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br Religião, no sentido etimológico da palavra, é uma atitude de busca de nivelamento em direção ascendente: de baixo para cima, do homem para Deus, do natural para o sobrenatural, do terrestre para o celestial. E essa busca é parte de um credo religioso que reza que o homem tem possibilidades, extra- revelação, de descobrir e alcançar o Criador através de elucubrações mentais e de esforços ou por meio de penitências físicas e espirituais para se relacionar com ele independentemente de qualquer revelação que Deus faça de si próprio. O fato é que, quer o homem aceite uma relação com Deus que dependa da revelação ou aceite a relação que dependa do seu esforço ou da sua autonomia mental, sempre há em cada ser humano um sensus deitatis ( senso de divindade ). Sempre há consciência de um ser supremo, de uma mente suprema. Alguns dizem que cada homem tem basicamente uma doença chamada religiosidade mas, talvez, como diz R. B. Kuiper, seja melhor chamá-lo de "constitucionalmente religioso". 1 Essa qualidade está tão intrinsecamente entranhada na natureza humana quanto a própria racionalidade, pois tanto esta como aquela fazem parte de sua nobreza de caráter. Na Segunda Guerra Mundial dizia-se: "Não há nenhum ateu nas trincheiras." Esta é uma verdade básica. Há um incontrolável senso de divindade em cada criatura humana, principalmente diante do perigo. A religião, na gênese de sua formação, era constitucionalmente monoteísta. A Bíblia declara assim, e muito contundentemente o tem demonstrado. Wilhelm Schmidt, em sua obra A Origem da Idéia de Deus, declara haver chegado, pelo método histórico, à conclusão de que a mais rudimentar religião humana era essencialmente monoteísta. Alguém poderia perguntar: "Como então há tantas religiões e conceitos de deuses no mundo e através da História?" A Bíblia diz que isso foi causado pela religião de Caim, pela religião da autonomia, pela teologia natural. Observemos: "... Mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador." (Romanos 1:25) Sobre isso diz-nos Billy Graham: "Certa vez, vi um homem na Índia, deitado sobre um leito de pregos. Ele já estava ali havia muitos dias, sem comer, e bebendo pouca água. Com isso tentava fazer expiação pelos seus pecados. Em outra ocasião, na África, vi um homem caminhar sobre carvão em brasa. Ao que pensava, se ele saísse dali ileso teria sido aceito por Deus; se se queimasse, seria considerado pecador, necessitado de arrependimento. "Certa missionária na Índia, ao passar pelas margens do rio Ganges notou uma mulher sentada ali com dois de seus filhos. No colo, estava uma belíssima criancinha e, choramingando a seu lado, uma criança bastante retardada de cerca de três anos. Ao retornar mais tarde para casa, a missionária viu a jovem ainda sentada no mesmo lugar, tentando consolar o filho retardado, mas o bebê não estava mais ali. Horrorizada com o pensamento que lhe ocorreu, e que poderia ser verdadeiro, ela hesitou um momento, mas dirigiu-se à mulher e perguntou-lhe o que acontecera. Com lágrimas escorrendo pelo rosto, a mulher ergueu os olhos e disse: "Não sei o seu deus, mas o deus da minha terra exige o melhor". Ela dera o bebê perfeito ao deus do Ganges". 2 Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br Quem pode negar que os fatos narrados acima tenham uma forte ligação com o sacrifício de Caim? A religião, do ponto de vista humano, sempre é penitenciosa e, por conseguinte, busca uma autonomia para a salvação! A Bíblia, no entanto, diz que Deus "não se agradou de Caim e de seu sacrifício". Marchando, paralelamente, no tempo e no espaço, sempre coexistiram dois conceitos de relação com Deus. Como já vimos, ambos bem podem ser personificados em Caim e Abel. Na Bíblia, no entanto, patenteia-se a realidade de não haver qualquer possibilidade de uma relação com Deus que seja comprada pelas obras provenientes de um entendimento soberbo pela autonomia que se pensa que o homem possui. John Bunyan com perspicácia observou: "A religião é a melhor armadura que um homem pode ter; mas, como manto, seria o pior." 3 A religião natural desenvolveu-se na mente dos homens há milhares de anos. Em todas as culturas de povos que já existiram observa-se, sem exceção, a presença de alguma crença religiosa. Ao contrário do que se pensa com muita freqüência, o monoteísmo estribado na revelação de Deus não começou com Abraão em Ur dos caldeus. Nele, houve sim, uma volta ao monoteísmo da base primeira, em face da autonomia que o homem pensou possuir, que já, àquela altura, evidenciava seus resultados, deformando totalmente o monoteísmo original e dando início ao politeísmo. Com Abraão, houve o retorno ao monoteísmo calçado pela revelação divina. A História, daí para diante, conheceu sempre duas escolas de pensamento religioso, escolas que podem ser denominadas naturalistas ou evolucionistas, e sobrenaturalistas ou da revelação. A primeira escola ensina que o homem evoluiu no curso de sua existência como espécie, aguçando gradualmente o seu senso de percepção do divino. A segunda escola postula, com base na revelação de Deus, que o homem em seu estado natural de caído não tem qualquer autonomia no seu senso do divino, tendo tão-somente consciência de sua existência, mas não, meios autônomos de se relacionar com Ele, a não ser através da revelação que Deus faz de si próprio. O judaísmo e mais tarde o cristianismo foram as únicas religiões que mantiveram essa posição de total dependência da revelação divina. No judaísmo houve revelações de Deus que se cumpriram na vida de Israel como nação, que também anunciavam a futura redenção oferecida a todo homem com base na oferta de Abel, ou seja, numa substituição com o elemento sangue. Enquanto isso, todos eram salvos nessa esperança e, até fora de Israel, muitos aguardaram essa promessa e por ela foram salvos. Sobre o assunto observa Billy Graham: "Um famoso conhecedor da Bíblia, o Dr. Donald Barnhouse, falou acerca de uma viagem fluvial que teve de realizar, pelo centro da África. Logo que entrou no barco, viu uma galinha, e pensou tratar-se do almoço deles. Cerca de duas ou três horas depois, ouviu um rumor distante e percebeu que se aproximavam de corredeiras. Os homens naturais do lugar, que remavam a embarcação, dirigiram-se para a margem do rio, pegaram a galinha, e foram para a mata. Fizeram um altar tosco. Antes de oferecerem a ave no altar, Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br deceparam-lhe a cabeça e espargiram o sangue na parte anterior do bote. O Dr. Barnhouse disse que percebeu uma vez mais que, mesmo sem terem ouvido um missionário, e sem a palavra de Deus, aqueles homens sabiam que havia necessidade de um sacrifício." 4 Com o cristianismo, que não é uma religião há apenas dois mil anos, porém rotulada nesse tempo, pois ela é apenas o cumprimento histórico de antigas promessas feitas por Deus aos israelitas, houve verdadeiramente a plena manifestação da relação de Deus com o homem, quando ele mesmo assumiu a forma humana e se revelou pessoalmente, encerrando assim toda Revelação, como bem nos diz o escritor da epístola aos hebreus: "Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo filho a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o Universo!" (Hebreus1:1 e 2) Os anos se passaram até que, no cristianismo histórico, o qual se distingue do cristianismo bíblico, ocorreu a penetração quase que imperceptível da religião natural. Isso aconteceu com o advento de Tomás de Aquino. Na concepção de Tomás de Aquino o homem estava caído na vontade, mas não no intelecto. Essa teologia abriu no cristianismo histórico uma imensa ponte para a religião natural, que entrou sem pedir licença. Com a teologia de Aquino, o intelecto humano tornou-se autônomo e conseqüentemente capaz de prescindir da Revelação. Aquino partiu da perspectiva de que a teologia natural é uma teologia que se poderia formular independentemente das Escrituras. Isso certamente implicaria numa filosofia religiosa, porém Tomás esperava que resultasse numa harmonia e dizia que existia uma correlação entre a teologia natural e a revelação escriturística, ou seja, que a mente humana por si só chegaria à conclusão a que as Escrituras chegaram. Passaram, pois, a coexistir, rotulados com o mesmo nome, dois cristianismos. O primeiro, o da revelação verbalizada e proposicional, ou seja, o cristianismo das Escrituras. O segundo, o cristianismo evolutivo e histórico, dissociado das Escrituras e aliado à autonomia mental do homem filosófico e religioso. Se pensa-se, com convicção, que a mente humana é autônoma, deve-se, por conta desse conceito, sair à procura do lugar do homem no Universo, partindo-se, evidentemente, das elucubrações filosóficas e religiosas. Foi justamente nesta odisséia espiritual que o homem foi colocado dentro de um certo cristianismo, embora permanecesse fora do cristianismo calçado no evangelho da paz. Com a autonomia religiosa do homem veio também um obstinado senso crítico. Foi assim que, dentro do cristianismo, surgiram os seus mais perigosos inimigos. Ora, isso é fácil de imaginar-se. Se pode-se prescindir da revelação escriturística, pode-se, obviamente, em nome dessa independência, criticá-la de acordo com a conveniência de um melhor ajustamento com a teologia natural, ou seja, com a teologia das circunstâncias e das contingências. A teologia natural não contextualiza as Escrituras às circunstâncias concretas da existência, mas tão-somente usa seus símbolos, termos e expressões, destituídos Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br do sentido original e primário. Trata-se de uma manipulação de termos escriturísticos, todavia, tomados apenas para sacralizar os pensamentos da teologia natural. No entanto, a busca autônoma de Deus, que já havia falhado na História inteira, estava também fadada a falhar no cristianismo da teologia natural. É nesse cristianismo naturalístico que os teólogos frustrados com a sua insatisfação espiritual encontram, ao fim dessa escorregadia escalada, a doutrina do Deus morto. Ao afirmarem a morte de Deus eles estão dizendo de duas uma coisa: ou que Deus nunca existiu ou que ele é incognoscível, a nível de uma busca exaustiva de conhecimento de sua realidade. Depois do fracasso, no entender de Francis A. Schaeffer, poderiam ter feito duas coisas a fim de continuarem no campo racional e lógico, ao invés de terem caído no irracional místico de terem fé na fé. Poderiam ter abandonado seu racionalismo fracassado e voltado à teologia bíblica da Reforma, a qual tinham rejeitado com base nas pressuposições naturalísticas; ou poderiam tornar- se niilistas no que se refere ao pensamento e à vida. Porém, em vez de escolherem uma destas duas alternativas racionais, escolheram um terceiro caminho, exatamente como os filósofos: um terceiro caminho inconcebível para o homem culto antes disso, que implicava numa divisão no conceito de verdade, pois caíram no paradoxal "absoluto do relativismo". Quando dizemos absoluto do relativismo é porque, ao afirmarem que não há uma verdade absoluta na vida, eles estão colocando o relativismo como um absoluto. Além dessa posição em prol do relativismo, eles caíram na irracionalidade de crerem em Deus, mesmo partindo do pressuposto de que Ele é inatingível, ou melhor, não pode ser experimentado. Ilustração dramática disso, é-nos dada por Ruben Alves, em entrevista concedida ao jornal Kairós Momento, da Aliança Bíblica Universitária: "Ah! Deus tem de existir. Eu aposto na existência d´Ele, embora eu não possa provar, tenho apenas indicações". É aí que Ruben Alves se torna mais grave e fala como se estivesse narrando o saldo de mortos e feridos de uma batalha. Para ele, Deus é inatingível pelo conhecimento, e resta somente o salto irracional da fé", diz o articulista do Kairós. "É como um salto de pára-quedas. Você tem de confiar que vai abrir. Deus não pode ser conhecido porque o justo viverá da fé. Se eu posso conhecê-lo, então, para que a fé?" 5 Assim, numa linha Kierkegardiana, Ruben Alves não busca fundamentação racional de Deus e da fé. Como ele, há milhares de cristãos nos nossos dias. Podemos mesmo afirmar que todos quantos não admitem a Bíblia como a Palavra de Deus, e não voltaram ao cristianismo das Escrituras, estão nessa desalentadora situação de terem construído um sistema autônomo que falhou na busca de Deus. Pois, segundo Ruben Alves, a única Palavra de Deus que a Bíblia define, é a intenção de Deus de estar sempre criando. "Se eu leio corretamente a Bíblia, a Palavra de Deus, imutável, é a sua intenção criadora, o que não significa que Deus faça sempre as mesmas coisas." Ora, com esse tipo de concepção, o melhor que se faz é desistir de tentar conhecer esse Deus cuja imutabilidade está no fato de que ele estabeleceu mudar freqüentemente. Com base em tamanha criatividade, não há homem que possa conhecer e andar com esse Deus. Para tais homens, Deus está morto na prática e vivo apenas como concepção vaga e etérea. Para que eles Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br consigam continuar sobrevivendo nesse mundo é preciso arregimentar toda fé que possam para então canalizarem-na numa fé cega e incomunicável. As alternativas que a religião moderna está propondo são basicamente as seguintes: 1) O pan - homo - ismo. Pode ser percebido e entendido pela poética conclusão de Ludwig Fernebach: "A consciência de Deus é autoconsciência, o conhecimento de Deus é autoconhecimento. A religião é o solene desvelar dos tesouros ocultos do homem, a revelação dos seus pensamentos íntimos, a confissão aberta dos seus segredos de amor". 6 Eu chamaria essa declaração não de "Panteísmo", nem de "Pantodo-ismo", mas de "PAN-HOMO-ISMO", pois a pressuposição é que Deus está em todo homem, e que conhecer-se a si mesmo é conhecer a Deus. Todavia, se fosse assim, cairíamos na tragédia de que a nível individual Deus só seria Deus no impossível ajuntamento das intimidades e conhecimentos próprios, que são sempre insondáveis. Portanto, se essa teoria fosse prática, eu estaria perdido na escuridão de uma teologia auto-psicanalítica, pois o eu-meu-Deus nada responde a mim mesmo, porque, se nele houvesse respostas, nada se lhe necessitaria perguntar, pois é de se supor que haveria um subconsciente estado de paz e harmonia, mas isso não acontece. Também em termos coletivos, sociais, comunitário etc... a teoria não é prática, pois o Deus não integra o coletivo na experiência mútua, não tendo, portanto, nenhuma utilidade tanto no mundo individual e interior de cada homem, quanto no seu ambiente coletivo de existência. 2) A religião dos símbolos e das configurações imaginárias. Observemos um texto bastante significativo que se propõe a codificar o pensamento da religião dos símbolos e das configurações imaginárias: "para a religião, não importam os fatos e as presenças que os sentidos podem agarrar. Importam os objetos que a fantasia e a imaginação podem construir. Fatos não são valores: presençasque valem o amor. O amor se dirige para coisas que ainda não nasceram, ausentes. Vive do desejo e da espera. E é justamente aí que surgem a imaginação e a fantasia, encantações destinada a produzir... a coisa que deseja..." Concluímos, assim, com honestidade, que as entidades religiosas são entidades imaginárias. "Sei que tal afirmação parece sacrílega. Especialmente para as pessoas que já se encontraram com o sagrado. (Para o autor do texto toda experiência religiosa é válida, pois não há racionalidade nem objetividade na religião.) De fato, aprendemos desde muito cedo a identificar a imaginação com aquilo que é falso... Não, não estou dizendo que a religião é apenas imaginação, apenas fantasia. Ao contrário, estou sugerindo que ela tem o poder, o amor, e a dignidade do imaginário. Mas para elucidar declaração tão estapafúrdia, teríamos de dar um passo atrás, até lá onde a cultura nasceu e continua a nascer... Por que razões os homens fizeram flautas, inventaram danças, escreveram poemas, puseram flores nos seus cabelos e colares nos seus pescoços , construíram casas, pintaram-nas de cores alegres e puseram quadros nas paredes? Imaginemos que estes homens tivessem sido totalmente objetivos, totalmente verdadeiros - sim, Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br verdadeiros! Poderiam eles ter inventado coisas? Onde estava a flauta antes de ser inventada? E o jardim? E as danças? E os quadros? Ausentes. Inexistentes. Nenhum conhecimento poderia jamais arrancá-los da natureza. Foi necessário que a imaginação ficasse grávida para que o mundo da cultura nascesse. Portanto, ao afirmar que as entidades da religião pertencem ao imaginário, não as estou colocando ao lado do engodo e da perturbação mental. Estou apenas estabelecendo sua filiação e reconhecendo a fraternidade que nos une." 7 Ao tentar colocar a religião como filha do imaginário, o autor do texto pretende concluir com uma espécie de objetividade secundária, ou seja, se a religião é filha do imaginário tanto quanto a flauta, a dança, o jardim, etc. Então ela seria imaginária na concepção, mas objetiva no parto e daí em diante. Portanto, ele pretende colocar-nos diante do fato de que há uma realidade objetiva na religião agora, como existe com as coisas inventadas, uma vez executadas. Entretanto, o argumento não satisfaz no caso de coisas abstratas como a religião, pois no máximo o que se inventaria, para além da idéia, seriam os símbolos naturais que transubstanciaram a natureza para configurar as idéias e transubstanciaram as idéias para sacralizar a natureza, coisas que em si não preenchem nem satisfazem a um homem honesto na sua busca de sentido, vontade e razão para a vida, pois uma "idéia" é sempre posterior àquele que pensa, logo "Deus", a "religião" e a "Fé" seriam coisas tanto criadas, como subordinadas e dependentes dos homens. Esse fato pode ser admitido quando se estuda a fenomenologia das religiões, mas não quando incluímos o cristianismo nesse nível de argumentação, pois as origens do cristianismo estão no Cristo eterno, a menos que tenhamos abdicado dos nossos pressupostos e fatos cristãos. Nesse caso, também não usemos a palavra "cristão", sem conotação bíblica, apenas para rotular o nosso irracional desejo de sermos bons. O cristianismo não pode ser dissociado da sua confissão de fé. Se o for, é qualquer "coisa-boa", menos cristianismo. Talvez pudéssemos chamar de um Clik-bom ou de Tik-bom. Assim seríamos mais coerentes. Ao tratar da religião e seus símbolos como coisas necessárias à vida, alguém disse: "É verdade que os homens não vivem só de pão. Vivem também de símbolos, porque sem eles não haveria ordem, nem sentido para a vida, nem a vontade de viver. Se pudermos concordar com a afirmação de que aqueles que habitam um mundo ordenado e carregado de sentido gozam de um senso de ordem interna, integração, unidade, direção e se sentem efetivamente mais forte, para viver, teremos então descoberto a efetividade e o poder dos símbolos e vislumbrado a maneira pela qual a imaginação tem contribuído para a sobrevivência dos homens." 8 Os símbolos que o texto menciona são destituídos de razão primária, possuindo apenas razão secundária, posterior à idéia, sendo, portanto, coisas sem sentido em si mesmas, mas apenas absurdos referenciais de esperança. Já a alusão à "vontade de viver", como sendo oriunda da esperança dos símbolos, é algo tão irracional quanto o desejo e a vontade de sexo. Por que alguém deseja possuir uma mulher que de repente passa no caminho? Não há resposta racional apesar das "explicações" da estética, da biologia e da psicologia. É uma questão de desejo. Nesse caso, se o desejo de viver é tão Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br desejo quanto é o de possuir uma mulher, então o que se está propondo é uma espécie de irracional emulação existencial, e a intensidade e ebulição desse desejo seria uma tara existencial. Para tragédia do homem e da religião do século XX, o Deus primeiro está morto. Resta apenas a possibilidade de ressuscitá-lo através de um milagre de objetividade secundária, seja através dos símbolos e idéias, ou através de uma espécie de divinização do consciente coletivo. Como alguém disse: "Nascemos fracos e indefesos; incapazes de sobreviver como indivíduos isolados; recebemos da sociedade um nome e uma identidade; (...). É compreensível que ela seja o Deus que todas as religiões adoram..." 9 Ao ler textos como esse, lamento que o drama de Abel e Caim continue a ser repetido. Lamento que a religião dos frutos da terra continue a ser cultuada. Entristeço-me por ver tanta solidão na vida do homem que se deixa levar pela idéia de que "um Deus de símbolos" pode preencher o coração que o concebeu. BIBLIOGRAFIA SUMÁRIA (1) KUIPER, R. B. A Evangelização Teocêntrica. S. P., Publicações Evangélicas Selecionadas, 1976. (2) GRAHAM, Billy, Como Nascer de Novo. s. ed. Minas Gerais, Editora Betânia, 1977, pág. 49. (3) Apud Graham, op. cit. (4) Id., op. cit. (5) Ruben Alves, in "Kairós Momento", S. Paulo, ABU Editora, junho de 1981. (6) ALVES, Ruben. O Que é Religião. s. ed. S. Paulo, Editora Brasiliense, 1981. (7) Ibid. (8) Id., ibid. (9) Id., ibid. Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br 3 O SISTEMA FILOSÓFICO Conceitos originais de filosofia A Filosofia como sistema surgiu em meio à História humana. Não é tão antiga quanto o sistema religioso, porém remonta, historicamente, às mais pródigas culturas da antiguidade. Aí também encontramos as suas raízes acadêmicas. Voltando a esse começo, devemos pensar na cultura egípcia e no Livro dos Mortos; na cultura da Mesopotâmia e nos seus sistemas filosóficos em torno da influência dos astros; nas filosofias iranianas e nas filosofias hindus com a negação do mundo visível. Entretanto, a Filosofia, no seu conceito natural, é tão antiga quanto a própria necessidade humana de encontrar sentido e finalidade no Universo. Num certo sentido, cada homem é um filósofo, desde que se entenda por filosofia qualquer conceito que se correlacione intrinsecamente com o homem. Todo homem vivo é um filósofo em potencial, em face de que ninguém vive sem um conceito de vida. Aliás, isso é verdade até mesmo na mais lídima forma da filosofia, pois sabemos que os grandes filósofos já nasceram com essa inclinação. As academias do pensamento foram conseqüência dos pensamentos que emergiram do grande mar das conceituações humanas, de forma totalmente espontânea e livre. A Filosofia, no seu sentido acadêmico, no entanto, assim pode ser definida: uma tentativa de correlação de todo o conhecimentoque existe a respeito do Universo, numa forma sistemática, a ela se integrando a experiência humana. Portanto, o conhecimento das coisas que nos rodeiam está intimamente ligado aos nossos atos no contexto que nos cerca. Dependendo do que eu penso, é como eu ajo. Quando se pensa em filosofia acadêmica, focaliza-se sempre a Grécia. Na verdade, foi lá que, na História do homem, houve o levantamento das grandes questões da existência humana. Mestres na arte de divagar, nas abstrações e no raciocínio, os gregos da grande época plantaram as sementes que germinariam mais tarde em todas as culturas do mundo, muito especialmente na do Ocidente, e das quais, ainda hoje, colhemos os frutos. Tendo levantado todas as questões básicas da existência, os gregos propiciaram aos pensadores do Ocidente limitarem-se apenas a retomar as teorias que já haviam sido expostas. Como já vimos no capítulo primeiro deste livro, todos os sistemas do pensamento humano visam, consciente ou inconscientemente, recuperar o lugar primeiro do homem, sua paz, e seu propósito na existência. A genealogia da crise filosófica do homem, especialmente a do século XX, bem pode ser Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br entendida à luz de dois eventos. Primeiro, o da queda, como narrado nas Escrituras. Segundo, o da influência que os sistemas gregos impuseram à filosofia e cultura do homem moderno. A crise básica do homem é estar separado de Deus pela sua total ausência da verdade, num mundo onde os absolutos de Deus foram rejeitados. Para alguns, há uma crença num DEUS incognoscível, cuja realidade não pode ser experimentada, visto acreditar-se haver uma total dualidade entre o mundo numênico (mundo do espírito) e o mundo fenomênico (mundo da natureza). Baseado nesse pressuposto, todo raciocínio termina num acaso, num despropósito. Se o homem não reconhece seus próprios limites, perde-se no insucesso ao investigar a verdade dos fatos primeiros. Platão admitiu a necessidade de critérios e a impotência da mente humana, no que tange a desvendar os mistérios da existência, quando, no Fedo, pág. 85, põe na boca do personagem Simias, as seguintes palavras: "Pois ouso afirmar que tu, ó Sócrates, sentes, como eu, quão difícil ou quase impossível é a aquisição de qualquer certeza em problemas como este. E, todavia, consideraria covarde aquele que não provasse o mais possível o que é dito acerca deles, ou cujo coração falhasse antes de os ter examinado por todos os lados. Pois devia perseverar até que atingisse uma das duas coisas ou descobriria ou aprenderia a verdade a respeito deles; ou, se isso fosse impossível, eu gostaria que ele tomasse o que há de melhor e mais irrefragável nas tradições humanas e deixasse que isto fosse a jangada sobre a qual navegasse a vida - Não sem risco, como penso, se não puder achar qualquer revelação de Deus, que o transporte, com mais segurança e sem perigo." 1 Platão reconheceu aí, que a única coisa capaz de afiançar a verdade e dar segurança ao homem, em áreas onde este percebe sua impossibilidade de ser autônomo, no que diz respeito a um descobrimento intelectual, é uma revelação de DEUS. Infelizmente, o homem do século XX tem deificado sua própria mente numa total ausência de reconhecimento de sua não-autonomia, o que tem levado milhões à frustração. Ao perceber que todo o seu sistema vagueia sobre o éter das pressuposições, o homem se desespera num Universo sem respostas. Isto ocorre em face do falso conceito que o homem possui de que todas as respostas sobre "o princípio" e "a existência" devem partir de si mesmo, de suas próprias cogitações. Como isso não acontece, ele se torna um desesperado. O dogma da matéria primária No século XX, erigiu-se uma filosofia anti-filosófica cujas idéias são as do absurdo. Postulam seus protagonistas que não há sentido e propósito na existência. Como resultado disso, não é de se estranhar o estado de insuportável cansaço e total morbidez minando no homem o seu desejo de encontrar a verdade, em meio às frustrações filosóficas existentes no decurso da História humana. Elaboram, portanto, todo um sistema de niilismo filosófico a partir dos elementos existentes. Olharam para esses elementos com o descaso que só se Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br olha para o "nada", o qual não carece de explicações sobre sua existência, pois é simplesmente inexistente; existindo apenas em oposição referencial àquilo que existe. No esforço que o homem tem feito para desvendar os mistérios que envolvem a silenciosa eternidade e a assombrosa existência do Universo, sempre tem partido, em razão de sua própria limitação ( ainda que tantas vezes não a reconheça ), daquilo que podemos chamar o "dogma da matéria primária", a fim de elaborar todas as suas pressuposições. Não haveria problema algum em se fazer suposições a partir de "alguma coisa" já existente, desde que se admitisse que "alguma coisa" não é filha do nada, a menos que a "voz" do Onipotente assim o ordene. Mas, normalmente, a metafísica do homem do século XX é tão dogmática quanto a de Epicuro, fundador do epicurismo, que elaborou, há mais de 2.000 anos, toda a sua cosmologia, partindo da matéria existente ( Átomos ) e esquecendo-se de qualquer explicação para essa existência primária. Assim fazendo, colocou-se em total ateísmo. Nosso raciocínio não postula que DEUS seja um "tapa buracos", mas no pensamento de muitos, no século em que vivemos, há um dogmatismo maior do que a fé que possa ser exigida em qualquer área da teologia cristã. Lê- se com frequência, de ateus que têm escrito alguma coisa sobre o princípio, mais ou menos a mesma coisa que uma cozinheira faz quando dá a receita de um bolo. Para o ateu, as pressuposições sempre partem de algum material já existente: energia, movimento, matéria, gases, etc... Parece-nos bastante razoável, exigir-se de uma cozinheira que não crê que o trigo, o fermento, o leite, o açúcar e os ovos foram feitos por alguém ou que procedam de alguma fonte de existência superior a eles, que faça o seu bolo partindo do "Nada", para depois então dizer, soberbamente: "Aqui está o bolo! Fi-lo sem que nada existente tivesse contribuído". Achamos bastante interessante, ao lermos trabalhos escritos pelas greis atéias, notar que as suas cogitações são: ("Não há DEUS"). No entanto, num dogmatismo bastante ingênuo, elaboram seu sistema ateu em "bases já existentes". Falam eles em movimento, força, etc. Ora, força e movimento estão intrínseca e inseparavelmente correlacionados. É por seu movimento que um agente pode exercer uma força. E um movimento estará sempre relacionado a uma força anterior, de forma que não se sabe bem que gerou força. Força e movimento representam dois aspectos de um mesmo fenômeno. Mas como teríamos movimento sem força e força sem movimento? Portanto, se começarmos do "Nada-Nada" mesmo, a inexistência e a inércia reinarão para sempre. Cremos que o ateísmo sempre foi e será um sistema dogmático limitado pela impotência do seu criador, o homem. Se começarmos o nosso pensamento do "Nada-Nada", e não "Nada-Algo" e do "Algo-Nada", ficaremos sempre no Niilo. O homem é um criador que só pode partir do primário da existência. DEUS, sim, é o único que pode partir do "Nada-Nada". Para irracionalidade e alienação do homem moderno, todos os sistemas filosóficos atuais, que buscam estudar o Universo e suas origens principiam por uma total autonomia de raciocínio e, em consequência, Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br pressupõem a partir do que está feito, sem que, humildemente, reconheçam já terem feitas essas coisas. Eu porém afirmo: É muito fácil ser ateu a partirdo que já está feito, o impossível é sê-lo a partir do "Nada-Nada". A despeito dessas teses de um Universo descriado serem dogmáticas e simplistas no seu raciocínio metafísico, elas têm impingido ao homem moderno o desespero de ser filho do dogma ateu. A metafísica do impessoal Quando nos referimos ao homem moderno como um "todo" em aquiescência a esses sistemas, é em função do que é normalmente ensinado nas Universidades e na literatura popular. Há, em verdade, um número reduzido de ateus, mas são justamente eles que estão tomando as iniciativas de divulgar suas idéias numa pregação cheia de ardis e hiperbolismos. Sabemos haver um grande número de pessoas que, embora crendo na existência de Deus, vivem enormes dramas interiores. As estatísticas revelam que 96% dos ingleses crêem na existência de um DEUS. Mas, para a maioria dessas pessoas, DEUS é um SER distante, alienado por vontade própria, perdido num Universo sem paredes e totalmente incognoscível para o homem. Não é de admirar que tais pessoas lutem entre o pessoal e o impessoal, entre o DEUS-Ser e o DEUS-Energia. Há, na presente ordem de coisas, como nunca, uma tendência enorme para duas posições metafísicas, distantes apenas por uma sutileza semântica. A primeira pode ser muito bem ilustrada por uma declaração de Bertrand Russel no livro Culto ao Homem Livre, onde ele afirma "que o homem é o produto de causas que não tinham nenhuma previsão do fim que iriam atingir; que sua origem, crescimento, esperanças e temores, amores e crenças são unicamente o resultado acidental de colocação de átomos; que nenhum fogo, nenhum heroísmo (...) pode preservar uma vida individual após a sepultura (...), que o templo inteiro das conquistas do homem deve ser inevitavelmente enterrado sob os escombros de um universo e ruínas - todas estas coisas, se bem que não estejam livres de serem questionadas, apresentam ser tão certas que nenhuma filosofia que as rejeitar poderá esperar sobreviver". 2 Esta é, sem dúvida, a metafísica do absurdo, da casualidade e do desespero. A segunda posição metafísica reside na atenuada crença em DEUS. Mas, a natureza e a existência desse DEUS são impessoais. Assemelha-se tal pensamento ao conceito estóico da natureza de DEUS, segundo o qual DEUS não tem interesse nos problemas pessoais do homem, pois ELE não é pessoal. Quando, há pouco, nos referíamos aos dois sistemas acima mencionados como sendo distintos apenas numa sutileza semântica, fizemo-lo pela consciência que temos de que, em última análise, não há muita diferença para o homem se DEUS existe como energia impessoal ou não existe, visto que, em ambos os casos, esse DEUS não se relaciona com o homem. No segundo caso, pela impessoalidade de sua existência; no primeiro, pela inexistência de sua existência. Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br Como já vimos, no pensamento secular hodierno, na melhor das hipóteses, tem-se um DEUS-Impessoal, incapaz de atuar na vida dos homens e nos seus destinos. Repete-se, portanto, a tragédia grega: "Ora os deuses controlavam os destinos, ora os destinos controlavam os deuses." 3 As muitas vezes em que ouço a palavra DEUS, tenho tido o cuidado de verificar a que DEUS a palavra faz referência, visto que nenhuma outra palavra há sido usada para significar sentidos tão opostos. Não é a palavra DEUS o que importa objetivamente para tirar o homem do seu desespero, mas sim o verdadeiro conceito de DEUS. Platão entendeu a necessidade e a realidade da existência de DEUS. Mas não contava ele com qualquer revelação de DEUS, e os deuses do seu conhecimento eram pequenos demais para suprir tão grandes necessidades interiores. Quando alguém crê num DEUS-Impessoal (Energia, Razão Última, Ordem Superior) está crendo num DEUS tão inoperante e estéril para satisfazer o espírito humano quanto o que crê em um não-Deus, ou seja, um DEUS que não se relaciona como DEUS com o homem, visto que, o homem como ser pessoal e consciente é superior a esse DEUS, pois o homem tem consciência de si, porém a existência impessoal não se conhece. E se DEUS não é DEUS na Sua relação com o homem, este deve entender-se autônomo, o que o leva ao desespero de estar só. Cremos ser necessário advertir que seja qual for o pensamento aceito - DEUS-Energia ou Ateísmo - ambos levantam um monumento e o erguem sobre uma só pedra, um só sistema. Trata-se do sistema monolítico do desespero, e, nos dois casos, o homem está abandonado no Universo, sem um ponto infinito como referência. A filosofia de hoje Hoje, conscientemente, o que se pode dizer é que a Filosofia no seu sentido original está morta. Não há, nos dias atuais, filosofias no sentido clássico do termo. Há sim, no pensamento filosófico vigente, um posicionamento anti- filosófico. Não mais crêem os pensadores de hoje que alcançarão qualquer resposta racional para a existência. A filosofia do século XX foi batizada pelo sacerdote do absurdo, com o nome de Existencialismo, o qual ainda se apega ao conceito clássico de filosofia, aceitando, todavia, a total dicotomia entre a racionalidade e a esperança. Em outras palavras: o conceito clássico de filosofia foi colocado no plano da esperança irracional. Sobre o existencialismo secular, o Dr. Francis Schaeffer4, no seu livro A Morte da Razão, analisa o pensamento do seu maior expoente em nossos dias, Jean-Paul Sartre: "Racionalmente, o Universo é absurdo e o homem deve buscar autenticar-se a si mesmo. Como? Mediante um ato de vontade. Assim, se você estiver andando de carro pela rua e avistar alguém na calçada sob forte chuva, você pára o carro, e apanha a pessoa e lhe dá carona. É absurdo. Que importa? A pessoa nada é, a situação de igual modo nada é, mas você se Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br autenticou mediante o ato da vontade. A dificuldade, entretanto, é que a autenticação não tem conteúdo racional ou lógico - todas as direções de um ato de vontade são iguais. Portanto, de maneira semelhante, se você está dirigindo numa rua e avista um homem na chuva, e acelera o carro e o atropela, você autenticou sua vontade na mesma medida. Entendeu? Assim, pranteie pelo homem moderno posto em situação tão desesperançosa." 4 É em razão de uma ideologia sem critérios e princípios absolutos, que Sartre autenticou a sua vontade, quando com muita freqüência esteve envolvido com o governo francês por atitudes à margem da lei. O mal e a virtude nada são. Estão sujeitos à casualidade e ao capricho. Isto é angustiante. Desapareceu qualquer esperança de harmonia entre o mundo numênico e o mundo fenomênico, vindo definitivamente o pensamento que motivou e tem motivado de modo negativo as idéias de filósofos, teólogos, políticos, cientistas, industriais e hippies. De acordo com o Dr. Schaeffer o diagrama do pensamento moderno é o seguinte: "O otimismo deve ser não-racional." Toda racionalidade = pessimismo Acrescenta Schaeffer: "A situação agora se pode resumir no seguinte: abaixo da linha há racionalidade e lógica. O andar superior abriga o não lógico e o não racional. Não há relacionamento entre os dois níveis. O homem não tem significado, não tem propósito, não tem sentido. Há apenas pessimismo quanto ao homem como homem. Mas, em cima, como num salto não-racional, não razoável, há uma fé não-racional que dá otimismo. Esta é a total dicotomia do homem moderno" 5 . Podemos categoricamente afirmar que a Filosofia não foi, nem será jamais o sistema usado para reaver as perdas sofridas pelo homem oriundas da queda, continuando assim, esse mesmo homem, totalmente perdido e separado de DEUS. Esse é o desespero. BIBLIOGRAFIA SUMÁRIA (1) TENNEY, Merrill. O Novo Testamento, Sua Origem e Análise.
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