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Luana Gonçalves Ferreira - UPE - Gus - 09 Patologi� Carcinogênes� � Neoplasi� ❖ Câncer - É uma desordem genética causada por mutações do DNA adquiridas espontaneamente ou induzidas que se acumulam e originam o câncer - Tumores são monoclonais: origem de uma única célula mutada com vantagens de crescimento e/ou sobrevivência (seleção darwiniana) ❖ Base molecular do câncer - Tumores são monoclonais: uma célula progenitora → dano genético → expansão clonal - Principais alvos do dano genético - Proto-oncogenes promotores de crescimento → mutados/superexpressos: - Oncogenes → transformação - Genes supressores de tumor inibidores de crescimento → mutados/perdidos: tumor - Genes que regulam a apoptose - Genes envolvidos no reparo do DNA - Alterações genéticas → vantagens de crescimento e sobrevivência em relação às células normais - Oncogenes (genes dominantes) codificam fatores de transcrição, proteínas reguladores do crescimento ou envolvidas na sobrevivência e interação celular (não herdável; mutação somática) - Genes supressores são recessivos e impedem o crescimento descontrolado, mas a perda de um alelo já pode causar transformação - Governantes: clássicos, como RB, são um “freio” da proliferação celular, sem ele, leva à transformação - Guardiões: sensoriam o dano genômico, como TP53, induzem a resposta de controle do dano com reparo ou apoptose. Mutações não transformam diretamente: causam o fenótipo mutante, acúmulo de mutações de oncogenes/genes supressores ❖ As etapas da carcinogênese - Acúmulo de alterações genéticas → fenótipo transformado → neoplasia maligna - Capacidade de crescimento excessivo, invasividade e de formar metástases 1) Iniciação (1ª mutação) → contato frequente e crônico com agentes carcinogênicos → 2) promoção (célula iniciada → mutações progressivas)→3)progressão (célula transformada se prolifera - surgem os sinais e sintomas) - Progressão tumoral: a cada tempo que passa, os tumores tendem a se tornar mais agressivos e malignos e menos responsivos à terapia - Existe uma heterogeneidade associada: acúmulo independente de mutações múltiplas em diferentes gerações de célula - São gerados subclones com diferentes características, como taxa de crescimento, capacidade metastática, cariótipo… - Há pressão de seleção imune e não imune sobre as células tumorais: as mais suscetí- veis vão morrer e os subclones mais competentes vão enriquecer o tumor Fonte: KUMAR; ABBAS; FAUSTO, 2013. ❖ Características do câncer °Autossuficiência nos sinais de crescimento - Todas as células normais requerem estímulo por fator de crescimento para a proliferação - Em geral: fatores de crescimento são parácrinos, evita o feedback positivo em uma mesma célula, e envolve cascata de sinalização Luana Gonçalves Ferreira - UPE - Gus - 09 - Células malignas adquirem a capacidade de sintetizar os mesmos fatores aos quais elas são responsivas → torna a sinalização autócrina; ou ativam as células normais do estroma para a produção de fatores de crescimento Proto-oncogenes → mutação → oncogenes 1) Superexpressão* ou mutação dos receptores: ativados e funcionantes sem fator de crescimento *Torna a célula hiper-responsiva a baixos níveis do fator. Ex: superexpressão do receptor de EGF 2) Mutações nas proteínas transdutoras de sinal do receptor ao núcleo.Ex:RAS, PI3K, ABL 3) Mutações nos fatores de transcrição nuclear várias oncoproteínas funcionam como esses fatores, como a MYC (também regula o efeito Warburg e a maior utilização de glutamina) 4) Mutações nas proteínas de controle do ciclo celular CDK (4) e ciclinas (D): todos os cânceres parecem ter alterações no ponto G1-S Obs: Regulação do ciclo celular: *Os complexos ciclinas-CDKs (quinases dependentes de ciclina) regulam as diversas fases do ciclo celular, fosforilam proteínas-alvo cruciais que impulsionam o ciclo celular *Os pontos de controle (p53) identificam danos ao DNA e ao cromossomo e asseguram que não sejam propagados na replicação: repara o dano, se grave, ou induz apoptose/estado de senescência. Pontos: G1-S - checagem antes de replicar; G2-M - checagem após replicar, monitorando a segurança para entrar em mitose (quase todos os cânceres têm o ponto de controle G1 desabilitado) °Insensibilidade a sinais inibidores de crescimento Genes supressores de tumor: - Retinoblastoma (Rb) - heterozigoto caracteriza a recorrência familiar: o Rb age induzindo a entrada das células em G0 (senescência) ou em um pool pós-mitótico diferenciado: perde o potencial replicativo ou induz a apoptose - Guardiã do genoma: p53 *Vários estresses, como anóxia, atividade inadequada de oncoproteína e danos à integridade do DNA → + p53 → quiescência, senescência ou apoptose *Células saudáveis tem p53 com T½ curta *Células estressadas → sensores (ATM) ativados → modificações pós-translacionais na p53 → aumento da T½ *A perda homozigótica do gene TP53 → acúmulo de mutações → transformação maligna Obs: Tanto Rb quanto p53 podem se tornar não funcionais pela ligação de proteínas de vírus DNA oncogênicos (HPV, HBV, EBV), impedindo a ação dos genes supressores Fonte: KUMAR; ABBAS; FAUSTO, 2013. - Outro sinal que inibe o crescimento em células normais é o contato célula-célula, mediado pelas caderinas e gene supressor de tumor NF2: células malignas perdem essa inibição de contato °Evasão da morte celular - O equilíbrio mantido pela célula normal entre os fatores pró-apoptóticos e anti-apoptóticos é quebrado na célula maligna por: - Superexpressão das proteínas antiapoptóticas BCL2 e BCL-XL - Níveis reduzidos de Fas-L, não responde a Fas - Níveis altos de FLIP, que impede ativação de caspase °Potencial ilimitado de replicação Luana Gonçalves Ferreira - UPE - Gus - 09 - Células normais: encurtamento progressivo dos telômeros → curto: senescência - A ausência dos pontos de controle → instabilidade genômica (acúmulo de mutações¹) → catástrofe mitótica → apoptose - Células tumorais precisam evitar ambos: senescência e catástrofe, para isso, ela precisa reativar a telomerase² → malignidade1+2 e imortalização da célula ² acontece em 85-95% dos cânceres, praticamente todos os cânceres tem a manutenção da telomerase (presente apenas em células-troncos, células somáticas têm níveis baixíssimos) °Desenvolvimento de angiogênese sustentada - Essencial para o crescimento do tumor: suprimento de nutrientes e oxigênio; as novas células endoteliais → fatores de crescimento → + células tumorais - Possibilita o acesso à vasculatura e metástase - Tem vasculatura anormal, com vasos gotejantes e dilatados Obs: o crescimento acelerado do tumor maligno não é acompanhado, na mesma velocidade, pela angiogênese: falta suprimento especialmente no centro da neoplasia: massa tumoral necrosa, daí a explicação de calcificação distrófica se associar a neoplasia. °Capacidade de invadir e metastatizar ° Reprogramação do metabolismo de energia - Efeito de Warburg: desvio para a glicólise aeróbica, mesmo em abundância de O2 para fosforilação oxidativa mitocondrial - Tumores de crescimento rápido adotam esse metabolismo e tem “fome de glicose” que é avaliada no PET scan - Maior captação de AA e síntese de proteínas associadas ao tumor: ação espoliadora - Células neoplásicas resistem melhor à hipóxia do que as células normais ° Evasão ao sistema imune *Características capacitantes: ° Instabilidade do gene ° Inflamação promotora de tumor: inflamação crônica persistente como reflexo de infecção ou reação autoimune provoca lesão tecidual crônica e proliferação compensatória para reparação do dano, envolvendo: abundância de fatores de crescimentos, citocinas, quimiocinas, EROS (dano adicional ao DNA_ e outros mediadores secretados pelas células imunes ativadas. Ambiente de: replicação > apoptose ❖ Carcinógenos Químicos Agentes de ação direta: alquilantes, utilizados como drogas antineoplásicas. Baixo risco de induzir câncer, mas o uso deve ser criterioso Agentes de ação indireta: hidrocarbonetos cíclicos, aminas aromáticas e corantes azo → conversão metabólica → carcinógeno final *Suscetibilidadeà carcinogênese química pode depender do polimorfismo da CYP 450 Carcinógenos (grupos eletrófilos) <-> adutos químicos com DNA, RNA e proteínas (alvos: oncogenes e supressores tumorais) Físicos Radiação (UV, raio X, fissão nucelar, radionucleotídeos) → induz a carcinogênese Radiação ionizante → mutagênico (quebra da dupla fita de DNA) Radiação UV natural → danos ao DNA (dímeros de pirimidina) → reparo de excisão de nucleotídeo - Sistema de reparo insuficiente: cânceres de pele melanoma (exposição intermitente, mas intensa) e não melanoma (exposição constante) Biológicos - Oncogênese viral HTLV-1 → leucemia e linfoma de LT (latência) Vírus DNA oncogênicos: HPV: as oncoproteínas virais E6 e E7 ligam-se a Rb e p53, respectivamente, inativando-as EBV: linfomas e sarcomas (imunossuprimidos*) HBV e HCV → infecção crônica imunomediada com lesão hepatocelular → proliferação dos hepatócitos e produção de EROs → dano no DNA → 70-85% dos carcinomas hepatocelulares - Oncogênese bacteriana Helicobacter pylori → inflamação crônica imunomediada, estimulação da proliferação Luana Gonçalves Ferreira - UPE - Gus - 09 celular gástrica e produção de EROs → adenocarcinoma gástrico; proliferações de LB policlonais: acúmulo de mutação→linfoma MALT ❖ Neoplasias benignas e malignas - Neoplasia = novo crescimento; distúrbio proliferativo no qual as células estão transformadas (autônomas e anômolas) - as células são diferentes mas indiferenciadas - “Limite” da neoplasia = nutrição e suprimento sanguíneo;algumas precisam de suporte endócrino - Distinção: diferenciação e anaplasia, velocidade de crescimento, invasão local e metástase Fonte: Google Imagens - Todos os tumores: parênquima de células neoplásicas/transformadas + estroma de tecido conectivo, vasculatura e células inflamatórias ● Nomenclatura Tumores Benignos: sufixo -oma Exemplo: no tecido fibroso = fibroma Classificações pela origem: derivado do epitélio com padrão glandular ou derivado de glândula = adenoma; crescimento na superfície = papiloma; crescimento acima da mucosa = pólipo (nem sempre benigno/neoplásico); massas císticas ocas = cistadenomas (típico de ovário) Tumores malignos: Origem mesenquimal = sarcoma (ex: no tecido fibroso = fibrossarcoma) Origem epitelial = carcinoma (ex: na glândula = adenocarcinoma) *Nem sempre é possível identificar as células de origem: carcinoma mal diferenciado *Tumores, em geral, têm origem monoclonal. Mas pode ocorrer diferenciação divergente → tumores mistos (ex: tumor misto de glândula salivar = adenoma pleomórfico; fibroadenoma de mama = benigno com origem TC e epitelial; teratoma = origem de células totipotentes) *Tumores malignos com nomes diferenciados: mesotelioma, meningioma invasivo, seminoma *Tumores malignos tendem a ter desdiferenciação formando células anaplásicas com pleomorfismo - Displasia - perda de uniformidade celular e tem anarquia arquitetural: muitas mitoses e exibe pleomorfismo → se alteração acentuada→estádio pré-invasivo de câncer - É reversível! Remover a causa ● Metástase - São implantes secundários remotos de um tumor, descontínuos do sítio primário e independentes - Nem sempre há a disseminação metastática: mais provável em neoplasias maiores e + anaplásicas - Meios de disseminação: - Semeadura nas cavidades corporais - Linfática - típica em carcinomas °Linfonodo-sentinela - primeiro linfonodo regional que recebe o fluxo linfático de um tumor Luana Gonçalves Ferreira - UPE - Gus - 09 primário (biópsia indica a extensão da disseminação do tumor: determina prognóstico e tratamento) °Linfadenia não indica envolvimento canceroso - antígenos tumorais e produtos necróticos induzem resposta imunológica: linfadenite e histiocitose sinusal °Metástases saltadas - quando as células malignas atravessam o 1º linfonodo e são capturadas pelo subsequente - Hematogênica - típicas em sarcomas °Invasão majoritariamente venosa → fluxo venoso → param no primeiro leito capilar °Área portal flui para o fígado e fluxo caval para os pulmões: são os locais 2º mais envolvidos °Alguns carcinomas são propensos a crescer dentro das veias - Cascata metastática Invasão da MEC - rompe a membrana basal → atravessa a MB → TC intersticial → rompe MB vascular → disseminação vascular → êmbolos das células tumorais → atravessam MB, TC e MEC num local distante MB = membrana basal; TC = tecido conjuntivo - Para metastizar: 1. Afrouxamento da adesão celular (E-caderinas se perdem, deixam livre a B-catenina que emite sinais proliferativos) 2. Degradação local da MB e TC intersticial por meio de metaloproteinases e outras proteases produzidas pelas células tumorais ou estromais - Etapa importante: o remodelamento da MEC libera fatores de crescimento e de atividade quimiotátiva Ex: colagenase tipo IV cliva e libera VEGF, é superexpresso em tumores malignos (com baixos níveis de inibidores de metaloproteinases) e tem pouca atividade em tumores benignos 3. Locomoção é facilitada pela falta de adesão e intensificada por fatores autócrinos Obs: Células estromais também tem fatores associados à promoção ou prevenção da tumorigênese: células imunes inatas e adaptativas e fibroblastos interagem com o tumor 4. Disseminação e realojamento: células tumorais na circulação estão vulneráveis a ataques de células imunes: quando agregadas em êmbolos, são mais protegidas contra o ataque antitumoral, embora a maior parte circule isoladamente. - Extravasamento: adesão ao endotélio → saída pela MB → parênquima (geralmente: primeiro leito capilar encontrado) - O processo de metástase envolve o tropismo do órgão, associado à expressão de moléculas de adesão/quimiocinas e seus receptores - Após alcançar o órgão-alvo, deve ser capaz de colonizar: depende de um estroma receptivo para crescimento, regiões desfavoráveis não permitem a metástase Fonte: KUMAR; ABBAS; FAUSTO, 2013. Luana Gonçalves Ferreira - UPE - Gus - 09 Obs¹: os tumores preparam o local metastático antes da disseminação para ser favorável: secretam citocinas, fatores de crescimento, proteases Obs²: a capacidade de metastatizar depende da propriedade intrínseca do tumor desenvolvida durante a carcinogênese, assim como da interação com as células estromais ● Lesões pré-neoplásicas - Metaplasia e displasia em fumantes; hiperplasia e displasia endometriais; leucoplasia na cavidade oral; adenomas vilosos do cólon - Surgem em quadros de lesão tecidual crônica ou inflamação: maior probabilidade de malignidade - Estimulam a proliferação celular contínua para regeneração: pode induzir mutações somáticas - Essas lesões precursoras podem já possuir lesões genéticas encontradas nos cânceres associados ❖ Aspectos clínicos da neoplasia - Ambos os tumores, benignos e malignos, estão associados à morbimortalidade como reflexo de: - Compressão de adjacências → isquemia/ hipertensão - Atividade funcional → hiperatividade (ex:secreção excessiva hormonal em tumor benigno, no qual há células diferenciadas) - Sangramentos e infecções (úlcera) - Ruptura ou infarto - Caquexia ou consumação → perda progressiva de gordura e massa magra associada a fraqueza, anorexia e anemia exclusiva do câncer: supostamente ocorre pela ação de fatores solúveis (citocinas - TNF), no qual há amplo gasto calórico, taxa metabólica basal elevada, mas ingestão de alimentos desproporcional ❖ Graduação e Estadiamento do câncer - Promove a quantificação da agressividade neoplásica e possibilita um prognóstico acurado - Graduação: estima o nível de malignidade com base na diferenciação citológica das células tumorais e do nº de mitoses - Classifica em grau I, II, III ou IV em ordem de anaplasia crescente - Estadiamento: o sistema TNM avalia o câncer de acordo com o Tamanho da lesão 1ª, disseminação para os liNfonodos regionais e a presença ou não de Metástase - T0 - sem evidência de tumor 1º; TX - tumor primário não pode ser avaliado; Tis - carcinoma in situ; T1, T2, T3, T4 em tamanho crescente - NX - os linfonodos regionais não podem ser avaliados; N0 - ausência de metástase em linfonodos regionais;N1, N2, N3 em comprometimento linfático crescente - MX - a presença de metástase não pode ser avaliada; M0 - não há metástase; M1 - há metástase à distância Referência: KUMAR, V.; ABBAS, A.; FAUSTO, N. Robbins e Cotran – Patologia – Bases Patológicas das Doenças. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
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