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CURSO DE PSICOLOGIA DISCIPLINA DE PSICOPATOLOGIA: HUMANISMO ANÁLISE DO FILME GÊNIO INDOMÁVEL + VISÃO DA GESTALT-TERAPIA Quais as diferentes leituras realizadas sobre os problemas e os distúrbios do protagonista de “gênio indomável”? Disserte sobre elas. (Visão da Gestalt) O protagonista, Will, é um rapaz muito inteligente, considerado um gênio, que negligencia seus saberes e prefere comportar-se de forma debochada ou violenta. Visto isso, um professor que estava interessado apenas na inteligência de Will, desejando tê-lo em sua equipe de matemática, enxerga o menino exatamente dessa forma que define o jovem como um gênio arrogante e com problemas de comportamento que o fazem desperdiçar sua inteligência. Portanto, este professor propõe-se a ajudar o rapaz, que havia sido preso devido a uma briga em que se envolveu, com a condição de que teria que fazer terapia e trabalhar com ele na Universidade. Will foi atendido por diversos terapeutas, todos trataram o rapaz como um caso perdido, como um louco, ou como perda de tempo, pois, devido a seu deboche e sua arrogância, sempre encontrava uma forma de deixar desconfortável quem o estava atendendo por meio de alguma brincadeira que gerasse raiva. Quando o terapeuta foi Sean, este enxergou o que havia por trás do comportamento do jovem que o levava a ser assim e usou outra técnica para trabalhar com ele e conseguir desarmar a defesa que era a arrogância de Will. A partir disso, é possível usar a visão da Gestalt-terapia, abordagem humanista, para analisar o trabalho de Sean e o adoecimento do personagem Will. Para dar início a essa análise, faz-se importante pontuar que para Perls, um dos criadores da Gestalt-terapia, a saúde é medida pela habilidade de experimentar o que é novo, o contrário de neurose. O próprio terapeuta do filme, Sean, estava limitando suas experiências após o falecimento da esposa, enquanto Will também evitava envolver-se com uma moça que gostava, por medo. Nesses casos, ambos mudaram suas posturas diante após um processo que movimentou essa estrutura pouco fluida a qual eles funcionavam no início do filme. Outro ponto da Gestalt-terapia é que ela não trabalha focando na interpretação das histórias passadas do indivíduo, mas sim com o momento presente, podendo iniciar a terapia a partir de qualquer ponto e qualquer material que se tenha, desde um sintoma até uma expressão facial ou um comportamento, por exemplo. Sendo assim, o terapeuta Sean no filme pôde usar o pouco que o Will levou para a primeira sessão para dar início a algo que viesse a ser terapêutico, e também criar vínculo de modo a manter o interesse do rapaz, que se recusava a receber ajuda e pouco colaborava com o processo. A Gestalt-terapia também é uma abordagem que valoriza o experimento, estar atento a sinais do corpo e da fala e chamar atenção do cliente para estes sinais é uma forma de intervir ou dar início ao processo. Na primeira sessão, apesar do comportamento do terapeuta ser inadequado, sua resposta agressiva à provocação do protagonista, unida ao permanente interesse em ajudar, deixou Will um pouco mais interessado. Além disso, Sean mostrou que o rapaz não era obrigado a falar se não quisesse, mas seria apenas através da fala dele que o terapeuta conseguiria conhecê-lo e ajudar. Como cita Alvim (2007, p.18): O andar de alguém, o modo como se posta de pé, sentado, os movimentos que realiza enquanto fala sobre algo, ou quando fica em silêncio, são formas que se configuram a partir de sua relação com o terapeuta e é com esse material em estado bruto que começamos o trabalho de ampliação da awareness. Desse modo, Sean também mostrou-se desarmado, pois, antes, o menino sempre estava em uma posição inferior, a qual ele seria analisado pelo que achavam dele e acreditando que já tinham uma definição prévia de seus problemas de forma padronizada a partir do que estudaram para fazer aquele trabalho. Neste ponto, entra também a base fenomenológica da Gestalt-terapia, pois esta valoriza também o modo que o próprio indivíduo vê a si mesmo e a realidade, trabalhando a partir de sua visão. Assim, na relação do Sean com o Will foi priorizado o interesse do Will e o que ele realmente precisava para ficar bem, ao invés da demanda levada pelo professor, que foi o solicitante da terapia para o jovem. Ao assumir essa postura, Sean portou- se de forma ética, pois a saúde de Will era a prioridade, então trabalhou em cima dessa necessidade do rapaz, buscando saber o que realmente causava sofrimento e propor uma mudança. Sean verificou, então, por exemplo, como era o ciclo social do jovem e se este tinha pessoas de confiança e que o fizessem bem, além de sua própria família. Logo, foi notado que a agressividade de Will encobria o seu medo, como na cena em que é mostrada a dificuldade que ele tem de se envolver com a moça de que gosta e que quer se envolver com ele, afirmando que não a ama, quando na verdade ele passa a sentir falta dela depois. Sean começa a perceber que o rapaz tem uma tendência a enxergar de forma negativa, por isso sente medo de se envolver. É aqui que encontra- se certa rigidez que o impede de ter novas experiências e leva-o ao sofrimento, caracterizando uma neurose pela ausência de espontaneidade e persistência em certas atitudes. Ademais, é descoberto também os sentimentos de culpa e abandono encobertos, devido ao que Will passou com o pai. Ao longo das sessões, o próprio protagonista se dá conta de que essas questões com o pai podem ter relação com o atual comportamento apresentado por ele. A partir disso, Sean consegue explorar melhor a ideia de que o abandono não é culpa do jovem e que ele pode se arriscar em novas relações quando quiser. Assim, a Gestalt aberta começou a ser trabalhada, visto que a neurose é um modo de ajustamento e o comportamento pode ser modificado. Portanto, Sean consegue trabalhar com Will ajudando-o primeiro a entender-se melhor, para que fosse possível perceber sua própria configuração, seus interesses, suas limitações, suas inseguranças e, então, como ele poderia se reorganizar se constituindo no mundo de uma maneira mais saudável. A leitura dos problemas e distúrbios realizada por ele, então, foi de priorizar a saúde e os interesses de Will, não tendo um pré-julgamento que levasse a um diagnóstico fechado, além de agir de forma empática para que o garoto pudesse se sentir à vontade e deixar ser ajudado. Por fim, nota-se que a relação empática mostrou-se fundamental neste processo terapêutico, agindo sem pressionar o rapaz e deixando-o livre para fazer suas próprias decisões. Depois de trabalhar para que Will não mais se prendesse às mesmas respostas diante de suas experiências, ele foi capaz de aceitar mudanças. REFERÊNCIAS ALVIM, Mônica Botelho. O fundo estético da Gestalt-terapia. Revista da Abordagem Gestáltica, Goiânia, v.13, n.1, p.13-24, jun. 2007.Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809- 68672007000100002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 29 out. 2019. GRANZOTTO, R. L.; MULLER-GRANZOTTO, M. J. Self e temporalidade. X Encontro Goiano da Abordagem Gestáltica, n° 10, 2004. Disponível em: <https://www.igt.psc.br/ojs/include/getdoc.php?id=671&article=34&mode=pdf> Acesso em: 29 out. 2019. https://www.igt.psc.br/ojs/include/getdoc.php?id=671&article=34&mode=pdf JULIANO, Jean Clark. Gestalt-terapia: revisitando as nossas histórias. IGT na rede, São Paulo, ano 1, n° 01, 2004. Disponível em: <http://www.igt.psc.br/revistas/R1/gtrnh.htm> Acesso em: 27 out. 2019. http://www.igt.psc.br/revistas/R1/gtrnh.htm
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