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Lúria Niemic Onofre – MED UNIC 34 Aula 1 – Palestra – Drª Caroline Sauter Dalbem EPIDEMIOLOGIA • 2% internações de urgência no Brasil • Mortalidade 10% para HDA • Hospitalização HDA ˃ HDB (6x mais) → 80% casos cessam espontaneamente → 20% evoluem com instabilidade hemodinâmica – Intervenção será necessária ORIGEM DO SANGRAMENTO: • Hemorragia digestiva alta (HDA) – Origem proximal (antes) ao ligamento de Treitz (determina o fim do duodeno e inicio do jejuno) – esôfago, estômago e duodeno proximal. • Hemorragia digestiva baixa (HDB) – Origem abaixo do ligamento de Treitz. Sangramento do intestino delgado, intestino grosso, reto e ânus. A Hemorragia Digestiva Alta pode ser dividida em: não varicosa (80%) e varicosa (20%). HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA NÃO VARICOSA Etiologias: → Úlceras pépticas duodenais e gástricas → Angiodisplasias → Erosões → Mallory Weiss → Neoplasias → Dieulafoy → Fístula aortoentérica → Estress – Curling e Cushing → Hemosuccus pancreaticus • Doença ulcerosa péptica (50-60%) – sangramentos digestivos vindos das angioestasias. Atingem até ou pelo menos a camada muscular da mucosa. → Uso de AINES atua em uma das barreiras protetoras da mucosa gástrica (síntese de prostaglandinas). → Associação com H. pylori. Ulceras duodenais são mais frequentes que as ulceras gástricas • Angiodisplasias – alterações vasculares degenerativas que se tiverem trauma na superfície ou tiverem contato com a secreção ácida, podem apresentar sangramento. • Erosões: sangramento de monta menor quando compara com as ulceras (que são mais profundas). Erosão é uma lesão que não ultrapassa a muscular da mucosa, já a ulcera ultrapassa. Hemorragia Digestiva HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA Úlcera duodenal com sangramento ativo Lúria Niemic Onofre – MED UNIC 34 • Malorry Weiss: sangramento devido a diversos episódios de vômito que causaram laceração na mucosa do esôfago distal, que expõe alguns vasos que podem sangram. • Neoplasias: podem evoluir para hemorragias digestivas. • Dieufaloy: artéria da submucosa aberrante que vai até a mucosa, quando ela sofre algum trauma ou secreção por exposição ácida, pode apresentar sangramento. • Fistula aortoentérica: sangramentos mais volumosos com grande instabilidade hemodinâmica e com alto índice de mortalidade. Lembrar que a aorta faz relação com alguma sestruturas no TG, como o esôfago médio. Pct com lesão tumoral volumosa ➔ obstrui o esôfago ou cresce para dentro de sua parede em direção a aorta ➔ crescimento se torna muito exuberante ➔ pode fazer erosão desse grande vaso e consequentemente, grande exsanguinação. Outra causa é o aneurisma de aorta abdominal que passam por intervenção cirúrgica ou endovascular com colocação de endoprotese para correção do aneurisma. O aumento da pressão no aneurisma que está em contato com uma alça intestinal, pode causas comunicação da aorta com uma alça intestinal causando grande exsanguinação. • Úlcera de Estress – curling (pct grandes queimados) e Cushing (pct com TCE). • Hemosuccus pancreaticus – processo de pancreatite aguda, aneurisma de algum vaso pancreático ou tumor, existe um sangramento para dentro da papila maior que cai na luz intestinal. Portanto, tem um sangramento através da papila de vater. HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA VARICOSA Etiologia: ruptura de alguma dessas varizes que foram causadas pela hipertensão portal. • Varizes de esôfago Esôfago distal normal Esôfago distal com laceração da mucosa Estômago normal Neoplasia gástrica com sangramento ativo Dieulafoy com sangramento ativo Após hemostasia com hemoclip Ulcera Varizes no esôfago Varizes esofágicas com sangramento ativo Lúria Niemic Onofre – MED UNIC 34 • Varizes gástricas – fundo. • Varizes esofagogástricas – se formam devido a resistência ao fluxo portal causando gradiente de pressão portal elevado e vasos colaterais porto sistêmicos. Causas de Hipertensão Portal: Obstrução pré-hepática: trombose de veia esplênica, trombose de veia porta. Obstrução intra-hepática (principal no Brasil): → Pré sinusoidal: esquistossomose*, sarcoidose, fibrose hepática congênita, doenças mieloproliferativas, medicamentosas. → Sinusoidal: hepatites virais crônicas (vírus B e C)*, cirrose*, hiperplasia regenerativa nodular, medicamentosa. → Pós sinusoidal: Sd de Budd Chiari, doença venoclusiva hepática. Obstrução pós-hepática: insuficiência cardíaca congestiva direita, pericardite constritiva, regurgitação tricúspide. APRESENTAÇÃO Presente tanto na HDA varicosa, quanto não varicosa: • Hematêmese – vomitando com sangue de coloração vermelho vivo, de grande ou pequena quantidade (relativo porque ele pode ter dificuldade de quantificar a quantidade). • Melena – extravasamento do sangue oriundo do TG alto através do canal anal. Sangue digerido ao passar pelo TGI e por isso tem coloração forte. • Hematoquezia – saída de sangue de coloração vermelho vivo misturado as vezes. Pode ser do TG alto, mas só se manifesta como hematoquezia porque o sangue pode apresentar efeito catártico, ou seja, ele aumenta o peristaltismo intestinal, então quando vem de uma ulcera gástrica sangrante, ele não teve tempo de sofrer processo digestão ao passar pelo TG e será exteriorizado junto as vezes com uma coloração de vermelho-vivo. • Choque hipovolêmico – há uma perda sanguínea e quanto maior a perda, maior impacto sobre seus sistemas, então maior será a repercussão hemodinâmica configurando alteração da FC, PA, FR, diurese e rebaixamento do nível de consciência. ATLS DO CHOQUE: O QUE DEVE SER IDENTIFICADO FRENTE A UM PCT COM SANGRAMENTO Anamnese e identificação de fatores de risco: • Comorbidades • Uso de medicações • Episódios prévios • Alcoolismo • Tabagismo • Perda ponderal • Neoplasias TGI • Cirurgias/Intervenções Exame físico: • Sinais vitais – PA; FC; FR, Pulsos periféricos, • Nível de Consciência • Massas abdominais • Linfonodomegalias • Perda de peso • Ascite • Circulação colateral • Ginecomastia • Toque retal – avalia se o sangramento é HDA ou HDB. Auxilia no diagnostico diferencial. • ESCORE DE GLASGOW BLATCHFORD (EGB) Varizes de fundo gástrico Varizes de fundo gástrico com sangramento ativo Lúria Niemic Onofre – MED UNIC 34 Se EGB ≥ 2: casos de alto risco/ mortalidade. Intervenção precoce; sensibilidade > 99%. Se EGB ≤ 1 casos de baixo risco e podem receber alta precoce, com realização da EDA ambulatorialmente no dia seguinte. • ESCORE DE ROCKALL Classifica quanto ao prognostico da hemorragia digestiva. Quanto mais o pct pontuar, maior é o risco e maior é a possibilidade de sangramento e maior a mortalidade. CONDUTA HDA NÃO VARICOSA 1. Admissão paciente 2. Estratificar 3. Estabilizar: 4. Se tiver rebaixamento do nível de consciência ou hemorragias maciças – se sim: 5. Proteger a via aérea através da intubação orotraqueal 6. Ofertar O2 7. Acesso venosos periféricos calibrosos porque vai: 8. Iniciar ressuscitação volêmica: Cristaloide e Ringer Lactato; → Avaliar em um segundo momento a transfusão concentrado de hemácias. 9. Exames laboratoriais: TS, HMG, coagulograma, eletrólitos, função renal e hepática. • Ressuscitação volêmica: solução Cristaloide (menos deletéria para o paciente). PAS > 100mmHg para manter uma boa perfusão tecidual. • Transfusão de hemácias para manutenção de Hb entre 7-8 g/dL em adultos. <7 g/dL pode fazer a transfusão depois da reposição volêmica com cristaloide, caso ele não apresente boa resposta a essa ressuscitação volêmica. Em idosos ou cardiopatas podem necessitar de níveis mais altos de Hb > 10g/dL. Em pct que apresentem distúrbios de coagulação (INR> 1,5 e plaquetas < 50.000mm³) ou sangramentos profusos de grande monta: Transfusão de plaquetas e plasma fresco congelado (PFC), uso de vitamina K ou sulfato de protamina. • Combinado apresenta melhores desfechos – afirmativa completamente verdadeira e valida para as diferentes situações da hemorragia digestiva. O tratamento combinado de reposição volêmica associado a IBP vai melhorar muito o prognostico desse paciente porque o omeprazol diminui a acidez gástrica para aumentar a estabilidade do coágulo. → IBPs EV: Omeprazol 80 mg em bolus, manutenção com 8 mg/h durante 72 horas após terapia endoscópica. → Após esse período, inicial 40mg dia VO. → Fazer uso do omeprazol até depois de uma EDA • Endoscopia Digestiva Alta: auxilia na identificação do foco do sangramento. EDA – 24h. Classificação de ulceras por Forrest: Sangramento ativo ou recente: obrigatoriamente terá uma terapêutica endoscópica aplicada com o objetivo de realizar HEMOSTASIA. Forrest IA – Jato arterial Forrest IB – “Em lençol” Forrest IIA – vaso visível Forrest IIB – coágulo aderido Lúria Niemic Onofre – MED UNIC 34 Forrest IIB – algumas literaturas falam que podem tratar endoscopicamente e outras falam que pode apenas monitorar sem empregar tratamento endoscópico. Forrest IIC e III – pct que já realizaram hemostasia sozinhos sem necessidade de uma intervenção terapêutica endoscópica. Opções de terapêutica hemostática: • Mecânica – hemoclip • Térmica – cateter bipolar ou gás argônio • Farmacológica – injeção de adrenalina Uso de 2 técnicas endoscópicas = melhores resultados. • Falha terapêutica endoscópica – ressangramento hematêmese/melena, oscilação sinais vitais, queda HT, Hb. Se o pct estiver estável, indicar nova EDA terapêutica com técnicas distintas das empregadas anteriormente. • Se mesmo assim houver: → Persistência do sangramento/instabilidade hemodinâmica mesmo após reanimação vigorosa e hemoconcentrado de hemácias “mais de 6UI-idosos” CH; → Falha de hemostasia endoscópica (2X) → Choque associado a hemorragia recorrente Deve-se lançar mão de novas alternativas: cintilografia, arteriografia, intervenção cirúrgica. Cintilografia – Cintilografia com hemácias marcadas - sangramento 0,1 mL/min. Não invasivo; auxilia na localização anatômica do sangramento, mas não dá a localização precisa, fala apenas a região que está sangrando. Arteriografia: Sangramento 0,5 mL/min. Indicações: EDA negativa; visibilidade prejudicada; tratamento endoscópico ineficaz. Invasiva. Identifica o foco de sangramento e trata através da embolização segmento vascular sangrante. Intervenção cirúrgica: • Ressecções segmentares. • Ulcerorrafias. • Vagotomias. • Prevenção de recorrência do sangramento: Todo pct que tem HDA não varicosa por ulcera péptica = se tiver H.pylori, se deve tratar para prevenir recorrência do sangramento. Manter o IBP: 40mg/dia 4-8 manutenção semanas após diagnóstico. Avaliar a possibilidade de descontinuar o uso de Anticoagulantes / antiplaquetários e AINES ou se possível, substituir o AINES por inibidor da COX-2. Caso não for possível descontinuar essas medicações, se deve manter IBP enquanto ele fizer uso delas. Forrest IIC – “fundo hemático” Forrest III – “base limpa” Hemoclip Gás argônio Cateter bipolar Injeção de adrenalina Estômago repleto de coágulos Lúria Niemic Onofre – MED UNIC 34 HDA VARICOSA 1. Admissão paciente 2. Estratificar 3. Estabilizar 4. Se tiver encefalopatia hepática/ alteração nível consciência ou hemorragia maciça – intubação orotraqueal 5. Ofertar O2 6. Acesso venosos periféricos calibrosos 7. Ressuscitação volêmica com volumes menores: Cristaloide. 8. Exames laboratoriais: TS, HMG, coagulograma, eletrólitos, função renal e hepática, Bt e F. Rastrear infecções. • Ressuscitação volêmica: Cristaloide ➔ Reposição volêmica parcimoniosa – porque o excesso de volume causa aumento na região portal predispondo ou até perpetuando um sangramento digestivo de etiologia varicosa. Manter PAS: 90 - 100mmHg e FC <100bpm. Manter Hb: 7-9g/dL, Ht: 27-29%. Se pct tiver doença arterial coronariana, manter Ht >30%. • Em pct cirróticos: Não há benefício a transfusão de plaquetas ou PFC rotina em HDAV podendo piorar o sangramento – fazer avaliação em casos selecionados de sangramento refratário. • Rastrear infecções: Culturas, RX Tórax, Paracentese. Porque paciente que tem infecção ➔ libera endotoxinas ➔ libera endotelinas ➔ aumenta a resistência intra-hepática ➔ causando aumento do sangramento varicoso. Por isso, deve-se fazer: Profilaxia Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE) nesses pacientes: Norfloxacino 400mg VO 12/12h por 7 dias ou Ceftriaxona 1gr EV 24/24h por 7 dias. Profilaxia de encefalopatia hepática: Lactulose e Rifaximina. • Terapia farmacológica: diminui a pressão portal. Drogas: Terlipressina, Octreotide ou Somatostatina. Terlipressina: 1ª escolha; Dose: 2-4 mg IV, em bolus; manutenção de 1-2 mg de 4/4h por 3-5 dias. Não é de 1ª escolha para pct com Angina pectoris, IAM, bradiarritmias, isquemia vascular periférica e HAS porque seus principais efeitos colaterais são cardiovasculares. Octreotide: 2ª opção, se terlipressina indisponível ou contra indicada. Dose ataque: 50-100mcg EV em bolus; manutenção 25-50mcg/h por 3-5 dias. Efeitos colaterais: Dor abdominal, diarreia, hiperglicemia e cefaleia. Somatostatina: Dose ataque: 250ug EV em bolus (3X em 1 hora – máx.), manutenção 250ug/h até 5 dias. Efeitos colaterais: Dor abdominal, diarreia, hiperglicemia e cefaleia. Terapias combinadas farmacológica + endoscópica = melhores resultados. • Endoscopia Digestiva Alta: serve para fazer diagnóstico e tratamento – interromper fluxo sanguíneo local. Técnicas: Ligadura elástica de varizes de esôfago ou esclerose de varizes de esôfago – Oleato de monoetanolamina e Esclerose de varizes de fundo gástrico – Cianoacrilato. Ligadura elástica de varizes de esôfago: Esclerose de varizes de esôfago – Oleato de monoetanolamina: Esclerose de varizes de fundo – cianocrilato: • Profilaxia secundária: Betabloqueadores não-seletivos: Evitar novo sangramento por ruptura varicosa. Iniciar com pct ainda internado ao termino do 5ª dia da droga vasoativa. Drogas de escolha: Propranolol ou Nadolol: doses ajustadas diminuição de 20% da FC basal. Lúria Niemic Onofre – MED UNIC 34 Masculino 72 anos, admitido com história de 5 episódios de hematêmese volumosa. Trazido pelo SAMU com história já citada além de RNC; procedido IOT, 2 acessos venosos periféricos e iniciado reposição volêmica com solução cristaloide (1.000 ml). Familiares relatam que o paciente é alcoólatra, com diagnóstico de cirrose hepática e varizes esôfago gástricas. Não aceitou tratamento/intervenção médica há 2 meses quando recebeu o diagnóstico. Durante a transferência de maca o paciente apresentou saída de sangue por cavidade oral em grande quantidade. Observada instabilidade hemodinâmica. ➲ Hipótese diagnostico: HDAV ➲ Conduta farmacológica: terliprissina para reduzir a pressão portal. ➲ Tratamento adicional: Endoscopia digestiva apenas depois de estabilizar o paciente hemodinamicamente. A opção seria então colocar o Balão de S. Blakemore. O balão é usado para fazer o tamponamento de varizes esofagogástricas em caso de sangramentos maciços com instabilidade hemodinâmica. Deixa-lo em um período máximo de 24 horas, portanto, não é um tratamento definitivo e sim de ponte até que se consiga estabilizar o paciente e fazer uma ligadura elástica por exemplo. Complicações do uso de balão: Broncoaspiração; Infecções respiratórias; Úlceras; Laceração; Necrose; Perfurações esofágicas. Caso não tiver disponível o Balãode S. Blakemore, pode-se fazer o uso de: • TIPS – comunicação através de um cateter da veia hepática e a veia porta intra-hepática, desviando o fluxo sanguíneo da região hepática fazendo com que haja descompressão portal, diminuindo o sangramento. Complicações: obstrução do stent, trombose, encefalopatia hepática. Contra indicações: encefalopatia hepática, fígado policístico, abscesso hepático, insuficiência cardíaca, hipertensão pulmonar e sepse. Quando não houver mais nenhuma outra alternativa, ir para pedidas mais agressivas: • Intervenção cirúrgica: Tipo Shunt (cirurgias descompressivas, derivativas venosas) seletivas e não seletivas. Não seletivas: Descompressão de todo território porta promovendo desvio do fluxo sanguíneo do sistema porta – Shunt portocava. Seletivas: Mantém perfusão sinusoidal por manutenção do fluxo porta tributário da mesentérica superior – Cirurgia de Warren e derivação esplenorrenal distal. ➲ Havia possibilidade de evitar o episódio de HDA? Sim. Se ele tivesse aceitado, daria para iniciar a profilaxia primária, visando impedir que ele tivesse uma ruptura das varizes. • Profilaxia Primária: Betabloqueadores ou ligadura elástica de varizes de esôfago (LEVE) nos vasos de médio a grosso calibre. Propranolol 320 mg/d ou Nadolol 80 mg/d no máximo. • Profilaxia Secundária: A associação de betabloqueador + ligadura são consideradas mais efetivas. Considerar shunt cirúrgico e TIPs em casos selecionados. CASO CLÍNICO
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