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ÂNSIA ETERNA - JÚLIA LOPES DE ALMEIDA Dados Biográficos • Julia Valentina da Silveira Lopes de Almeida (Rio de Janeiro RJ 1862 - idem 1934). Contista, romancista, cronista, teatróloga. Ainda na infância, transfere-se com a família para Campinas, São Paulo. • Inicia seu trabalho na imprensa aos 19 anos, em A Gazeta de Campinas, numa época em que a participação da mulher na vida intelectual era rara e incomum. Três anos depois, em 1884, começa a escrever também para o jornal carioca O País, numa colaboração que dura mais de três décadas. Mas, é em Lisboa, para onde se muda em 1886, que se lança como escritora. • Com sua irmã, Adelina, publica “Contos Infantis”, em 1887. No ano seguinte, casa-se com o poeta e jornalista português Filinto de Almeida (1857 - 1945) e publica os contos de “Tragos e Iluminuras”. De volta ao Brasil, em 1888, logo publica seu primeiro romance, Memórias de Marta. —----------------------------------------------------------------------- ANÁLISE DOS CONTOS Conto 1 – Ânsia Eterna • Temas: a escrita literária vista como vocação e maldição, o amor visto de maneira irônica. • Personagens: Rogério Dias, amigo (escritor), moça cega do parque. • Contexto: ansiedades que assaltam o escritor quando pensa em elaborar uma obra literária Conto 2 – O Caso de Ruth • Temas: o abuso sexual, a situação da mulher, a hipocrisia social (as aparências x a essência) • Personagens: Ruth, Eduardo, avô e avó de Ruth. • Contexto: Ruth sofreu assédio sexual e foi estuprada por seu avô enquanto criança. Conto 3 – A Rosa Branca • Temas: relações familiares, a rejeição e a bondade, final feliz. • Personagens: Ignez, Ângela, avó. • Contexto: Ignez deixava flores brancas no santuário da avó, pois a mesma era supersticiosa e acreditava que Ângela estaria saudável somente se a flor não estivesse murcha ou morta. (brincadeira feita por Ângela antes de ir estudar longe de casa) Conto 4 – O Voto • Temas: aspecto religioso, amor abnegado, final triste e, ao mesmo tempo, irônico. • Personagens: Maurício e Ginola. (noivos) • Contexto: Ginola promete não casar-se com Maurício caso ele se cure da Febre Amarela. Ele se cura e eles terminam o noivado. Conto 5 – E os Cisnes? • Temas: a loucura, as tragédias, “adorar a causa do nosso mal”. • Personagens: Condessa, Serafina e Dr. Aguilar • Contexto: Serafina perdeu sua filha para um acidente num lago, a menina se afogou enquanto buscava os cisnes. Serafina era louca e estava internada no Hospital dos Alienados. Ela fingia ser um cisne em seus momentos de loucura. Conto 6 – Sob as Estrelas • Temas: celibato clerical, a condição da mulher mestiça, final trágico. • Personagens: Ianinha e Júlio. • Contexto: Júlio e Ianinha namoravam. Júlio a deixa para ir ao seminário e tornar-se um padre. Ianinha tem um filho de Júlio, que morre. No final, Ianinha se suicida pois Júlio a abandonou novamente. Conto 7 - A Primeira Bebedeira • Temas: o amor materno abnegado e incondicional. • Personagens: Jovem rapaz, sua mãe e Albertina (“namorada” dele) • Contexto: No aniversário de sua mãe, o rapaz sai de casa para ver Albertina. Ela pede que ele volte às 22:00, e para não voltar para sua casa, ele vai ao bar com seus amigos. Bebe, sai de lá bêbado e se direciona à casa de Albertina, porém, ela não o atende. Ele chega em casa embriagado, e sua mãe cuida dele. Conto 8 - Os Porcos • Temas: a condição da mulher mestiça, abandono parental, as diferenças sociais, influência do naturalismo (cenas cruéis e sórdidas). • Personagens: Umbelina, seu pai, bebê do patrão. • Contexto: Umbelina tomou uma surra de seu pai por aparecer grávida e o pai disse que jogaria o bebê aos porcos. Ela estava grávida do filho do patrão, que casaria-se com outra. Umbelina planejava matar a criança na porta do rapaz que a engravidou. Porém, o parto se deu na frente da casa do rapaz e Umbelina amou seu filho, mas, muito fraca, desmaiou. Quando acordou, viu o vulto de uma enorme porca e os gritos do bebê sendo devorado por ela. Antes de morrer, a cabocla viu a silhueta da porca com carne pendurada na boca. Conto 9 – A Casa dos Mortos • Temas: o amor como sentido da existência e que sobrevive à morte. • Personagens: A menina (protagonista), sua mãe e a morte. • Contexto: Em meio aos delírios da febre, a menina se vê andando numa casa à procura de sua mãe. Um vulto lhe diz que ela não deveria estar ali, pois aquela era a casa dos mortos. Quando encontra sua mãe, a mesma lhe diz que “o amor verdadeiro perdura após a morte e quem nunca amou em vida, desfaz-se como areia e vento” e a manda voltar aos sofrimentos da febre. A morte a acompanha para fora do delírio e ela acorda com lágrimas nos olhos e com a mão cruzada sobre os peitos. Conto 10 – As Histórias do Conselheiro • Temas: o amor paterno, a hipocrisia (essência x aparência), a loucura, a ingratidão filial (do filho). • Personagens: o Conselheiro, Dr. Lemos (amigo) e o filho do Doutor. • Contexto: Dr. Lemos amava seu filho mais que tudo e encontrava nele sua razão para viver. Certo dia, o conselheiro recebeu uma carta lhe avisando que o tal filho havia roubado um banco e fugido do país. Ele não contou ao velho amigo pois sabia que tal notícia o destruiria. Tempos depois, outras pessoas contaram a notícia ao homem e o mesmo acabou enlouquecendo. *Conto 11 – A Caolha • Tema: as tragédias de um destino irônico, o preconceito, a rejeição e o amor materno incondicional e abnegado. • Personagens: A caolha, o filho - Antônio, • Contexto: O conto faz uma descrição rica e terrível de uma mulher que possui um olho furado que constantemente fica vazando pus. Seu filho, Antônio, sofreu preconceito sua vida inteira por conta disso, e, quando adulto, quis casar-se com uma mulher que exigiu que ele se afastasse da mãe. Ele conta à mãe o seu plano, que era sair de casa mas continuar cuidando dela de longe. Ela o expulsou de casa. Ele pede ajuda à sua madrinha, e ela conta que foi ele, quando pequeno, que furou o olho de sua mãe com um garfo. Conto 12 – In Extremis • Tema: o amor e o ciúme, a generosidade. • Personagens: Laura, Dr. Seabra, filha pequena do casal, Bruno (jovem amigo do casal). • Contexto: Ele mais velho, ela mais nova. O Dr. Seabra sabia, secretamente, do amor que Laura e Bruno sentiam um pelo outro. Laura ainda amamentava sua filha pequena. Bruno adoeceu e os médicos recomendaram que ele tomasse somente leite materno, porém não achavam uma ama de leite. Laura se oferece, seu marido faz um sinal de positivo, ela desabotoa o vestido e dá seu seio para Bruno. O sono que ele se pôs após o ato generoso de Laura seria seu último. Conto 13 – A Boa Lua • Tema: a memória, a relação do homem com a terra, a longevidade, e, mais uma vez o destino irônico e a morte, que não se pautam pela lógica da idade e do passar do tempo. • Personagens: Samé (Samuel) • Contexto: Samé fez cem anos e está adoentado. Certo dia, ele sofre uma queda enquanto jogava sementes de milho na terra em época de “lua boa”. No chão, Samé vê um broto num tronco que julgava morto e beija a terra, seu único amor. Seus netos e bisnetos pensaram ser esses seus últimos momentos. No final, não é ele que morre, e sim, sua neta, que foi picada por uma cobra na cama perto da sua. Conto 14 – Esperando... • Tema: as mudanças nos relacionamentos e as desilusões do amor, bem como, mais uma vez, a condição da mulher na sociedade da época. • Personagens: Luiz, sua esposa - Mimi. • Contexto: Mimi preparou um jantar para seu marido, mas ele estava demorando muito para chegar. Ela cogitou traição e depois acidente. Quando Luiz chega, acalma a esposa e lhe diz que ela deverá se acostumar a jantar sozinha. Ela entende que a lua de mel acabara. Conto 15 – Incógnita • Temas: a morte, o abandono, a solidão. Mais uma vez uma mulher como centro da história. (visão estereotipada da mulher, o homem não considera a hipótese da moçater sido assassinada ou algo do tipo) • Personagens: Dois homens e a moça que morreu afogada. • Contexto: Dois homens conversam sobre a moça que deitava sob uma pedra fria do necrotério. Ela morreu afogada. Um deles questiona o que pode ter acontecido com ela: matou-se? Foi traída? Ele fica triste por ninguém ter procurado-a. No dia seguinte, ele descobre que ela foi enviada ao cemitério e enterrada como indigente. Fica triste e conta a história para sua esposa e filha quando chega em casa. Conto 16 – A Alma das Flores • Temas: conto com tons fantásticos e surreais, atentar para o tema da sinestesia (a fusão de sentidos, quando o aroma se transforma em imagens mentais). • Personagens: Adolfo e Sales. • Contexto: Adolfo sente o aroma das flores do jardim de Sales e começa a ver imagens, personificações desses cheiros. Desde auras (suas almas), até mulheres subindo aos céus. Conto 17 – Ondas de Ouro • Temas: mais uma vez o amor paterno, a morbidez – tema da morte, em aspecto que mescla o gótico com o naturalismo, e atentar mais uma vez para, mesmo numa história fúnebre e triste, há no fundo uma ironia, de atriz achar que o aplauso exagerado se dera devido à sua performance. • Personagens: Sr. Mendonça, Angelina (morta há mais de um mês), a atriz que compra a peruca. • Contexto: Sr. Mendonça está numa loja de penhores traçanndo lindas tranças no cabelo de sua filha, que morreu há mais de um mês (fazendo uma peruca com o cabelo da filha morta). Essas tranças são uma encomenda de uma atriz. Ela faria o papel de uma fada no teatro. Mendonça foi assistir à peça. Ficou encantado e não conseguiu parar de aplaudir a moça ao final do show. A atriz pensou que eram para ela os aplausos, mas, na verdade, eram para sua peruca. Conto 18 – O Último Raio de Luz • Temas: as desilusões amorosas, as pequenas tragédias do cotidiano. • Personagens: Protagonista do conto (uma jovem de 15 anos), seu médico e sua irmã mais velha. • Contexto: A menina tinha uma doença, porém, não sabia qual. Ela estava perdidamente apaixonada por seu médico, de 30 anos. Certo dia, esse médico aplicou-lhe um lenço negro sobre os olhos, dizendo-lhe para não retirar sob o risco de ficar cega. Sua audição ficou mais apurada, em decorrência da perda da visão causada pelo lenço Um dia, ela escutou uma conversa no jardim, levantou-se e foi até a janela, era o médico falando de amor à sua irmã mais velha. Num impulso, ela arrancou o lenço dos olhos e a luz do sol acabou por cegá-la. Conto 19 – A Morte da Velha • Temas: o amor abnegado e a ingratidão. E mais uma vez a condição da mulher, neste caso a mulher envelhecida é esquecida. • Personagens: Tia Amanda, suas sobrinhas e Luciano - seu irmão. • Contexto: Tia Amanda criou suas sobrinhas e seu irmão. Luciano, que não morava mais com elas, tampouco ajudava com dinheiro. Aos poucos, a velhinha foi enfraquecendo, até que precisou vender seu relógio para garantir sustento às sobrinhas. Luciano repreendeu-a, pois terceiros poderiam pensar que eles estariam passando necessidade. Amanda adoeceu e precisou da ajuda de seu irmão, que recusou ajudá-la. Certo dia, a casa pegou fogo, Luciano corre para tentar salvar seus bens materiais, esquecendo de sua irmã, que ficou olhando todos fugirem das chamas. Ela se sentiu esquecida e amargurada. Quando o bombeiro veio socorrê-la, ela preferiu ficar nas chamas. Conto 20 – Perfil de Preta • Temas: amor, traição e vingança. • Personagens: Gilda (criada de D. Ricarda Maria), João Romão (seu namorado), Norberta (outra criada) • Contexto: Conto dedicado a Machado de Assis. Gilda, voltando da entrega de beijus, vê se namorado abraçado a Norberta. Ela fica com muita raiva. Na manhã seguinte, no engenho de mandioca de D. Ricarda Maria, causa uma distração repentina a João Romão, que operava uma perigosa máquina. Ele perdeu sua mão direita. Por isso, não poderia mais seduzir moças com suas canções e sua viola. Conto 21 – A Nevrose da Cor • Temas: conto com tons surreais e fantásticos, mas que pode ser lido como uma alegoria da ganância humana, que tende a ser crescente e, muitas vezes, o ganancioso acaba por “devorar”, “consumir-se” a si mesmo. • Personagens: Issira, a princesa. • Contexto: Issira era acometida por uma rara condição, ela era absolutamente obcecada pela cor vermelha. Ela estava noiva do filho do rei. Houve um tempo que ela degolava ovelhas brancas para lhes beber o sangue. Depois, começou a matar escravos, bebendo-lhes o sangue. O povo denunciou-a ao rei, que nada fez. Quando o príncipe morreu, o rei a proibiu de matar mais escravos. Ele a mandou para sua própria terra, e ela, com muita sede de sangue, cortou os próprios pulsos e bebeu do próprio sangue até morrer. Conto 22 – As Três Irmãs • Temas: a velhice e a solidão, o passado, as lembranças, o desvanecer dos sentimentos. • Personagens: D. Tereza e suas irmãs D. Lucinda (Buenos Aires) e D. Violeta (Bahia) • Contexto: D. Tereza sentia que a morte lhe aproximava e decidiu chamar as duas irmãs para virem ao Rio e lhes deixar como herança os bens da casa preservada e que nestas coisas mantinha as lembranças do passado. As irmãs, porém, encontravam-se diferentes do que Tereza lembrava, zombavam de tudo que a irmã havia feito na casa. Depois de sua morte, as irmãs venderam a casa e repartiram os bens entre si, seguindo cada uma para seu destino. Conto 23 – O Véu • Temas: aparência x essência e os problemas e preconceitos que se geram a partir dos julgamentos superficiais. De novo temos um final triste e ao mesmo tempo irônico, já que a Baronesa entendeu as intenções do rapaz, brincando, manipulando e zombando delas. • Personagens: Um estudante de medicina e as mulheres do transporte, uma mais baixa e uma mais alta, que usava um véu. • Contexto: O rapaz voltava para sua casa num transporte, e costumava julgar as mulheres pelo jeito que se vestiam. “A maneira de vestir indica fatalmente a maneira de pensar de uma mulher”. Nesse transporte, ele observa duas mulheres e descreve-as a partir do que vestem. Ele lê as impressões da senhora mais baixa, mas não consegue fazer o mesmo com a mais alta, pois ela usava um véu que cobria seu rosto. Ele fascinou-se com o mistério e seguiu as mulheres após sair do trem, espreitou sua casa por alguns dias e, finalmente, escreveu à baronesa, pedindo para vê-la. Ela consentiu. No final, ela era muito velha e muito feia. Conto 24 – Pela Pátria • Temas: as relações familiares complexas e trágicas, a tensão entre o amor à família e o amor à nação. Amor maternal acima de qualquer coisa. • Personagens: Dona Catarina, seus dois filhos - João, o mais velho, e Pedro, o mais novo. • Contexto: Seus dois filhos encontravam-se na guerra, um conflito armado em Niterói. Certo dia, bateram em sua porta, era seu filho mais velho, João. Ele estava ali para lhe contar que matou o próprio irmão Pedro, segundo ele, “pela Pátria”. Ela expulsa João de casa, mas, se preocupa e sai às ruas para procurá-lo. Ela descobre que ele foi baleado e morto. Conto 25 – O Dr. Bermudes • Temas: as aparências e os interesses. • Personagens: Bermudes e sua tia, Jacinta. • Contexto: Bermudes era um rapaz rico, lindo e galante, sustentado e mimado pela tia Jacinta. Quando sua tia morre, não lhe deixa a fortuna e Bermudes passa a ser um mendigo, agora desprezado pela sociedade. O conto mostra uma sociedade que valoriza as aparências, as conveniências e os interesses. Conto 26 – A Valsa da Fome • Temas: a fome e o talento, o preconceito com as aparências (de novo elas!), o sofrimento como inspiração da arte. • Personagens: Hipólito. • Contexto: Hipólito vendera o piano e perdera para a fome a única irmã. Foi contratado às pressas para tocar em uma elegante festa no RJ. Riram dele, por sua aparência magra, mal vestida e doentia. Enquanto tocava a valsa. Hipólito se viu fascinado por ter voltado a tocar piano. Ele deixa-seembalar pela saudade e pela fome que sente. Toca enfurecidamente, com paixão, até desmaiar sobre o piano. Conto 27 – O Futuro Presidente • Temas: a pobreza e o sonho, há também, como pano de fundo, uma visão positiva da República, que permite a mobilidade e ascensão social. Todavia, há também a ironia de que talvez aquele seja apenas mais um sonho, ou ainda, uma ilusão. • Personagens: Mulher (costureira), o filho e o marido. • Contexto: Uma mulher cansada, seu marido, que tinha apenas uma das pernas e o juízo um pouco perturbado, eram trabalhadores, porém, a vida é cara e eles ganhavam pouco. A mulher deseja que seu filho seja rico e caridoso. Certo dia, houve duas pessoas conversando, no bonde, sobre pessoas humildes que fizeram grandes coisas. Ela começa a divagar sobre o futuro brilhante do filho até que chegue a ser presidente de uma, ainda futura, república. Conto 28 – O Último Discurso • Temas: a velhice, o orgulho, e, mais uma vez, as ironias do destino. • Personagens: Dr. Paula Guedes. • Contexto: Dr. Paula Guedes já estava bem velho, adoentado e acamado. Ele recebe um convite para fazer um discurso no tricentenário de Anchieta (Padre José de Anchieta). O velho renasceu tanto de corpo como de alma, à medida que preparava o discurso. Ele fez uma apresentação prévia para os familiares no salão da própria casa. No calor da apresentação, falece. Conto 29 – No Muro • Temas: a memória, as recordações, em tons um pouco surreais (imagens desenhadas no muro pela luz da lua), mas principalmente atentar para a situação da escrava, que se doou e não obteve reconhecimento algum. • Personagens: Maria Tereza e a velha Teodora. • Contexto: Maria Tereza observava a luz da Lua que subia pelo muro branco no fundo do quintal. De repente, ela vislumbra, no muro, a visão de sua vilazinha mineira de onde seu marido a trouxera para viver na turbulência urbana. Ela tem lembranças de histórias nas imagens que as sombras e a luz da Lua desenham no muro. Lembrou das histórias contadas pela velha Teodora, e percebeu que a velha escrava quase nunca havia sido lembrada por ela, justo Teodora, que se doou e foi tão boa para ela, nem mesmo lembrava onde ficava seu túmulo. De súbito, fechou a janela, parecia não querer lembrar-se. Conto 30 – As Rosas • Temas: a condição da mulher, a violência doméstica. • Personagens: A protagonista e seu jardineiro. • Contexto: Um jardineiro feio, mas que cuidava muito bem das flores. A mulher percebeu que as roseiras abriram-se, pediu, em tom rude, para que o homem não as tocasse, pois ela mesma iria colhê-las. Na manhã seguinte, não encontrou nenhuma rosa no jardim. Ela o chamou, ele a conduziu para seu feio e pobre quarto. Havia uma moça coberta de rosas. Era a filha do jardineiro. Ele matou a filha, pois ela não quis deixar o homem que batera nela. Achou a muito maltrapilha e quis vesti-la de rosas. —----------------------------------------------------------------------- Características Gerais da Autora • Contexto – Belle Époque no Brasil • A Belle Époque é uma expressão francesa que significa bela época e foi um período de cultura cosmopolita na história da Europa que começou no fim do século XIX, meados de 1871 e durou até a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914. • A expressão também designa o clima intelectual e artístico do período em questão. O surgimento de inovações tecnológicas como o cinema, o automóvel, o telefone que originaram novas formas de pensamento no cotidiano. Filiação Literária e Esquecimento na Contemporaneidade • A experiência histórica da qual a autora faz parte se deve ao fato de que Júlia Lopes de Almeida é uma escritora realista, naturalista, feminista e abolicionista, entretanto, mesmo com todos esses aspectos vistosos à sua época, ainda mais para nós da contemporaneidade, a sua capacidade, intelectualidade e obras são pouquíssimo conhecidas. Linguagem Literária • Realismo - naturalismo • Tom lusitanizante. (lusitano - de Portugal) • Talvez tenha sido o que a diferenciaria dos escritores brasileiros da época: um estilo muito cuidado, obediência à norma gramatical, a preocupação de não empregar vocábulos do falar oral, coloquial, para caracterizar a chamada cor local, em suma, um português castiço. Preocupações Sociais • Essa preocupação com a educação das crianças — indiscutivelmente uma preocupação política —, Júlia terá também em relação à mulher. • Antes de se aventurar pelo romance, a escritora publicou uma coletânea de contos, “Traços e iluminuras”, em 1887, seguido mais tarde por “Ânsia eterna”, de 1903, além de “A isca'', composto por quatro novelas. As Causa Femininas • Uma das mais importantes vozes feministas brasileiras. • Júlia escreveu romances refinados, onde descreve com elegância e precisão as encruzilhadas da mulher na sociedade de fins do Século 19 e princípios do século 20, não se esquivando de enfrentar temas complexos e polêmicos para a época.
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