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ECA - ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 1 Sumário INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 2 CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS PARA O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ..................................................................................................................... 3 CAPÍTULO 2 – FAMÍLIA NATURAL E FAMÍLIA SUBSTITUTA ................................... 7 CAPÍTULO 3 – GUARDA, TUTELA, ADOÇÃO E ADOÇÃO INTERNACIONAL ...... 9 CAPÍTULO 4 – DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE E AO LAZER ................................................................................................................................... 13 CAPÍTULO 5 – MEDIDAS DE PROTEÇÃO .................................................................... 15 CAPÍTULO 6 – OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO ............................................... 17 CAPÍTULO 7 – PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE ............................... 19 CAPÍTULO 8 – REGIME DE SEMILIBERDADE ............................................................ 23 CAPÍTULO 9 – O CONSELHO TUTELAR ...................................................................... 26 CAPÍTULO 10 – COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA...................................... 28 CAPÍTULO 11 – CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS ................................. 31 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 33 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 34 2 INTRODUÇÃO O conceito de infância vem sofrendo grandes alterações ao longo da história, principalmente nas últimas décadas. Quando pensamos na criança, nos dias de hoje, entendemos que é um indivíduo diferente do adulto, não só em idade, mas em maturidade física, emocional e cognitiva. Porém, nem sempre foi assim, o modo como enxergamos e tratamos a criança depende do contexto histórico e cultural. A cultura ocidental atual pensa em criança como algo frágil, que precisa de cuidado e proteção. A educação é focada na parte cognitiva e intelectual, mas também muito preocupada com o fator psicológico. Ainda assim, se existem algumas diferenças dentro de uma mesma sociedade e comunidade, pois aí temos que levar em consideração valores familiares, renda, nível cultural e educacional dos pais, religiosidade e outros detalhes que irão influenciar na criação, nos cuidados e na educação das crianças. Com o intuito de regular a relação com as crianças e com os adolescente, o Estado cria leis que prescrevem a educação, a proteção, o ambiente, enfim, os cuidados que devemos ter em relação aos menores. Em 1990, foi publicado o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei n. 8069) com o objetivo de proteger a infância e os jovens, monitorar as condições de desenvolvimento dos mesmos e legislar sobre a conduta legal deles e dos familiares. Sobre a educação, o Capítulo IV afirma que crianças e adolescentes têm direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer. O ECA, além de zelar pela proteção física do menor, também cuida da parte intelectual e psicológica. Tanto a criança quanto o adolescente devem ter respeitados seus direitos em relação ao lazer, ao brincar, a se relacionar com seus pares. Também é preciso que se respeite as preferências deles em relação à cultura, à religião e opções de entretenimento, desde que estes respeitem as condições da idade, claro. No presente estudo, iremos analisar os principais conceitos e orientações contidos neste estatuto, suas prescrições sobre os direitos e responsabilidades em relação ao menor e quem deve zelar pelo cumprimento destes. 3 CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS PARA O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE A responsabilidade sobre a infância cabe à família e ao Estado. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (BRASIL, 1990), criança é o indivíduo de 0 a 12 anos e é inimputável, ou seja, não pode responder penalmente pelos seus atos. A partir do aniversário de 12 anos esse indivíduo é considerado adolescente e pode responder criminalmente através de medidas socioeducativas. Veremos mais detalhes sobre isso nos próximos capítulos. O fato é que quem rege a responsabilidade da criança e do adolescente e sobre a criança e o adolescente é o ECA e veremos a seguir, qual o contexto histórico e social para a criação do mesmo em 1990. • Evolução do Conceito de Infância Atualmente, o conceito que temos da infância é de uma fase de vulnerabilidade e de desenvolvimento. Porém, nem sempre foi assim, o modo como enxergamos e tratamos a criança depende do contexto histórico e cultural. A cultura ocidental atual pensa em criança como algo frágil, que precisa de cuidado e proteção. A sociedade dá muito valor à escola, aos aspectos ligados a cada idade e ao amparo social. Embora o tratamento dado à infância atualmente seja reforçado por um paradigma de estímulo ao desenvolvimento e à proteção da criança, ainda assim, existem algumas diferenças dentro de uma mesma sociedade e comunidade, pois temos que levar em consideração os valores familiares, o aspecto econômico, o nível cultural e educacional dos pais, as tradições e a religiosidade, entre outros detalhes que irão influenciar na criação, nos cuidados e na educação das crianças. Se pensarmos de uma forma histórica, nem todas as sociedades tratam a criança do mesmo modo. Nem no período atual e menos ainda no passado. Na Idade Média, a diferença de tratamento entre crianças e adultos era mínima. Através de documentos, literatura, pinturas, diários de família e outras fontes históricas, notamos que nesse período o conceito de infância, tal qual o temos atualmente, não existia. A Idade Média era uma sociedade feudal, ou seja, a vida se desenvolvia dentro de um feudo, onde havia um senhor (o dono das terras) que ditava as regras para sua propriedade. A Igreja Católica exercia bastante influência sobre este senhor e consequentemente sobre seus servos. O senhor feudal tinha poder quase que ilimitado sobre seus servos, ditando regras e leis próprias. A Igreja Católica dominava a intelectualidade e a cultura e corroborava o feudalismo. Nessa época, a criança era considerada um pequeno adulto. Trabalhava em casa desde muito cedo e assim que tivesse força física era encaminhada a outros ofícios. Não havia proteção intelectual, nem física. As famílias tinham muitos filhos e ansiavam para que estes crescessem depressa para poderem realizar mais tarefas, porém, devido à falta de cuidados, de atenção e às 4 péssimas condições de higiene da época, muitas crianças morriam ainda bebês (AMADO, 2007). Quando chegavam aos sete anos, as crianças pobres eram colocadas em outra família para aprender ofícios, enquanto as crianças ricas teriam educação apropriada ao gênero e classe social, ou seja, meninas tinham tutoras que lhes ensinava dotes femininos e meninos tutores que lhes ensinava disciplinas acadêmicas e manejo de armas. Assim, a criança perdia muito cedo o contato com os pais e irmãos, e os laços familiares não se fortaleciam (AMADO, 2007). Com o enfraquecimento do modelo feudal e o crescimento do mercantilismo, as cidades começam a crescer, a burguesia ganha influência e o comércio se torna o principal objetivo econômico da Europa Ocidental. Algumas concepções de infância começam a se difundir, como as que afirmam ser a mesma um ser frágil, incapaz, inocente, o que gera uma atitude exageradamente paternalista por parte dos adultos. Assim, se forma a família burguesa (AMADO, 2007). A Revolução Industrial na Europa Ocidental fortaleceu a burguesia e seus ideais. A família burguesa protegia sua prole, pois desejava passar seu legado aos seus descendentes. Os pais passaram a ver os filhos com interesses econômicos,sociais e políticos, e não mais como mão-de-obra, portanto, era importante que eles crescessem fortes, sadios e bem-educados para fazerem casamentos interessantes para suas famílias. Assim, as crianças passam a ser vistas como algo que deve ser protegido, educado e desenvolvido: os fundamentos do conceito de infância atual. • A Infância no Brasil Como o Brasil sempre seguiu o modelo europeu de sociedade, aqui também tivemos uma evolução parecida no conceito de infância. No século XIX, haviam as crianças filhas dos escravizados, que já nasciam escravizadas também e eram tratadas como mão-de-obra, sem cuidados, sem direitos e sem proteção. Tratamento parecido tinham os filhos das famílias pobres, excetuando somente a questão de serem libertos. As famílias abastadas costumavam educar seus filhos com tutores e não tinham muito contato com as crianças. Os meninos iam bem pequenos para colégios internos e algumas meninas também. A Igreja Católica influenciava imensamente a educação das crianças ricas. Em se tratando de leis, as crianças respondiam criminalmente até o século XX, quando um fato hediondo acontece um uma cadeia nacional. O menino Bernadino, engraxate, é preso após jogar tinta em um cliente que não o pagou. Na cadeia é estuprado por mais de 20 homens adultos e depois jogado na rua. Ele foi levado ao hospital, onde contou o acontecido aos jornalistas, que publicaram a história. A sociedade ficou escandalizada e cobrou das autoridades medidas diferenciadas de punição aos menores. Assim, em dezembro de 1927 uma nova lei do menor torna inimputáveis os menores de 18 anos. A idade de responsabilidade penal passa por oscilações 5 ao longo do século XX. Durante a década de 1960 são criadas a FUNABEM – Fundação do Bem-Estar do Menor, e a FEBEM, que deveria servir de lar para menores abandonados ou infratores. Mudanças significativas só viriam com a redemocratização do país na década de 1980 e a nova Constituição Federal. • Constituição Federal de 1988 A lei máxima de nosso país é a Constituição Federal, sendo a última publicada em 1988. É destaque dessa lei a importância da família e da sociedade na educação, tanto que na Seção I, do Capítulo III, do Título VIII – Da ordem social, se lê no artigo 205: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Além da educação, o Estado tem o dever de proteger, de amparar, de fornecer moradia, saúde e lazer às crianças. O artigo 227 estabelece como dever da família, da sociedade e do Estado [...]assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988). • O Surgimento do ECA O Estatuto foi criado logo após a promulgação da Constituição de 1988 para regulamentar o artigo 227, citado acima, que garantia às crianças e adolescentes os direitos fundamentais de sobrevivência, de desenvolvimento pessoal e social, de integridade física, psicológica e moral, além de protegê-los de forma especial, através de dispositivos legais diferenciados. O ECA foi criado a partir de muitas discussões internas e externas sobre a conduta que um país deve adotar em relação às suas crianças. A Organização das Nações Unidas – ONU, havia publicado um artigo que enfocava a proteção da criança de forma integral e muitos movimentos populares pediam mais proteção à infância. Mais de um milhão de assinaturas foram coletadas pela sociedade e enviadas ao Congresso Nacional para que se criasse uma lei mais específica para crianças e adolescentes, que os protegesse e zelasse pelos seus direitos. Para a criação do ECA, foi analisado e adotado o que havia de mais atual nas leis internacionais de proteção à infância e à juventude. 6 Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, foi apresentado na Câmara dos Deputados, em fevereiro de 1989, pelo deputado Nelson Aguiar, com o apoio da deputada Benedita da Silva, o projeto de lei denominado "Normas Gerais de Proteção à Infância e à Juventude". Foram elaboradas cerca de seis versões até a apresentação do substitutivo à Câmara dos Deputados. Em junho de 1989, o mesmo projeto foi exposto ao Senado pelo senador Ronan Tito. Em seguida, foi criada a Frente Parlamentar da Infância. Em 13 de julho de 1990, finalmente foi instituído o Estatuto da Criança e do Adolescente. Fonte: https://www.tjsc.jus.br/web/infancia-e- juventude/coordenadoria-estadual-da-infancia-e-da- juventude/campanhas/eca-30-anos/construcao-historica-do- estatuto?inheritRedirect=true O ECA, além de zelar pela proteção física do menor, também cuida da parte intelectual e psicológica. Tanto a criança quanto o adolescente devem ter respeitados seus direitos em relação ao lazer, ao brincar, a se relacionar com seus pares. Também é preciso que se respeite as preferências deles em relação à cultura, à religião e opções de entretenimento, desde que estes respeitem as condições da idade, claro. https://www.tjsc.jus.br/web/infancia-e-juventude/coordenadoria-estadual-da-infancia-e-da-juventude/campanhas/eca-30-anos/construcao-historica-do-estatuto?inheritRedirect=true https://www.tjsc.jus.br/web/infancia-e-juventude/coordenadoria-estadual-da-infancia-e-da-juventude/campanhas/eca-30-anos/construcao-historica-do-estatuto?inheritRedirect=true https://www.tjsc.jus.br/web/infancia-e-juventude/coordenadoria-estadual-da-infancia-e-da-juventude/campanhas/eca-30-anos/construcao-historica-do-estatuto?inheritRedirect=true https://www.tjsc.jus.br/web/infancia-e-juventude/coordenadoria-estadual-da-infancia-e-da-juventude/campanhas/eca-30-anos/construcao-historica-do-estatuto?inheritRedirect=true 7 CAPÍTULO 2 – FAMÍLIA NATURAL E FAMÍLIA SUBSTITUTA Já comentamos que a responsabilidade pela criança e pelo adolescente cabe tanto ao Estado quanto à família. Neste capítulo, iremos abordar as diferenças entre a família natural (biológica) e a família substituta. Para o ECA, existem três tipos de família para a criança e/ou o adolescente (Artigo 25, BRASIL, 1990): • Família Natural: os pais e seus descendentes; • Família Extensa: formada por parentes e vínculos afetivos; • Família Substituta: para qual o menor é encaminhado em situações de exceção, sendo isto através de guarda, tutela ou adoção. A prioridade da criação do menor, segundo o ECA, sempre será da família natural, porém, existem alguns casos excepcionais, nos quais o Estado retira o menor desta família, quando esta não é capaz de suprir o necessário e garantir os cumprimentos dos direitos do mesmo. • A Proteção Integral Tanto a Constituição Federal quanto o Estatuto da Criança e do Adolescente garantem proteção integral à infância. Na Constituição temos isso explicitado no artigo 227 (BRASIL, 1988), que foi totalmente transcrito para o artigo 4º do ECA (BRASIL, 1990): É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Tanto a sociedade, como o Estado devem zelar pelo cumprimento da Constituição e do ECA. Na família, é necessário que o bem-estar físico, mental e psíquico do menor seja mantido, caso contrário, o Estado pode interferir retirando a criança ou adolescente de sua família natural.Os aspectos relacionados ao bem-estar do menor que devem ser garantidos pela família são (LACERDA, SANTOS & SAMPAIO, 2015): Afeto e acolhimento emocional; Proteção física e segurança; Atendimento das necessidades básicas de higiene, moradia e alimentação; Atenção ao desenvolvimento moral e intelectual; Condições de vida saudável no aspecto físico e psíquico; 8 Preservação da infância e suas características; Respeito às individualidades; Interação e desenvolvimento social. Caso o menor sofra restrição de direitos o Estado pode encaminhá-lo para uma família substituta. Isso ocorre quando a família natural coloca em risco, em algum aspecto, o desenvolvimento e a segurança da criança ou do adolescente. A família substituta então, deverá apresentar condições de suprir com as necessidades do menor, integralmente. Existem, então, três possibilidades, segundo o ECA (BRASIL, 1990), de uma família substituta se responsabilizar pelo menor. Pela: A Guarda: os poderes da família natural se mantêm, porém, o menor é colocado temporariamente sob responsabilidade de terceiros, sendo que estes atenderão a todas as necessidades materiais, sociais e psicológicas da criança; Tutela: quando não existir mais a família natural, por falecimento dos pais ou outros eventos, o menor é colocado sob tutela do Estado ou de terceiros; Adoção: o menor é colocado definitivamente sob responsabilidade de uma nova família. No capítulo a seguir iremos entender melhor como cada um destes três aspectos é descrito e prescrito no Estatuto da Criança e do Adolescente. 9 CAPÍTULO 3 – GUARDA, TUTELA, ADOÇÃO E ADOÇÃO INTERNACIONAL Quando o menor é retirado de sua família natural, ele pode ficar temporariamente sob a guarda ou tutela de terceiros, sendo um destes também o Estado, se necessário, ou pode ser adotada definitivamente por uma família brasileira ou estrangeira. A seguir, veremos essas possibilidades, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente. • Guarda A guarda é passada a terceiros quando os direitos do menor estão sendo descumpridos. A família ou indivíduo responsável pela guarda do menor deverá cumprir todos os deveres para com o mesmo, sendo que se descumprir qualquer prescrição do poder judiciário poderá sofrer sanções do Estado. O guardião da criança ou adolescente deve se responsabilizar pela segurança material e psicossocial do menor, sendo pelo artigo 33 do ECA (BRASIL, 1990) nessa condição, “a guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais”. Sendo assim, a guarda não retira de cada um dos pais o poder, mas pode estender esse poder a outrem. Nem tampouco os direitos do menor sobre herança e afins. Quando existe ausência, omissão ou abuso por parte dos pais ou responsáveis pela criança ou adolescente, o Ministério Público aciona a Guarda Estatutária (não cumprimento do artigo 227 da Constituição ou do artigo 3º do ECA). Pode ser temporário ou definitivo, dependendo da avaliação do juizado de menores. Existe o caso em que a guarda está relacionada à relação entre os próprios pais do menor, como no caso de separação, por exemplo. Nesse caso, os pais podem compartilhar a guarda ou pedir guarda unilateral. Na guarda unilateral, o contato do pai ou mãe que não possui a mesma é supervisionado e regulado pelo juiz da infância. O juiz, nesse caso, atua conforme o artigo 1.584, I, do Código Civil. Também pode haver guarda temporária por terceiros quando há risco de vida para a criança ou adolescente. Geralmente, esses terceiros são famílias que possuem parentesco ou alguma afinidade/afetividade com o menor. O Ministério Público é o representante do Estado no cumprimento do ECA. Para isso, existem órgãos como o Conselho Tutelar, que fiscalizam o cumprimento dos deveres pelos guardiões. Outra possibilidade é a guarda concedida, excepcionalmente, “fora dos casos de tutela e adoção, para atender a situações peculiares ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável, podendo ser deferido o direito de representação para a prática de atos determinados” (Artigo 33, § 2º, BRASIL, 1990). • Tutela A tutela é acionada para proteger os direitos da criança e do adolescente. O tutor legal passa então a ter o poder e responsabilidade sobre o patrimônio e a vida pessoal do menor, no caso de ausência dos pais (falecidos, enfermos ou 10 viajando, etc.). A tutela é aplicada quando o menor ficar órfão, quando os pais vivos ficam impedidos de exercer o poder familiar, por razões graves, fáticas e comprovadas (prisão, doença grave, destituição por violação de direitos, etc.). Pode ser aplicada também à pessoa de até vinte e um anos de idade incompletos, mas nesse caso não é responsabilidade das Varas da Infância e da Juventude, sendo de jurisdição das Varas de Família. Esse tutor pode sofrer sanções legais caso não exerça corretamente suas responsabilidades. Tipos ou Espécies de Tutela: Testamentária: quando os próprios pais por testamento ou codicílio (documento informal assemelhado ao testamento escrito de próprio punho), ou qualquer outro documento autêntico, designam ou nomeiam quem será o tutor dos filhos (Art. 1.729, do Código Civil, BRASIL, 2002); Dativa: quando não existir tutor testamentário ou natural, ou os nomeados se recusarem a tal incumbência, o juiz nomeará novo tutor (Art. 1.732, do Código Civil, BRASIL, 2002); Legítima: quando, na falta de uma indicação dos pais, é considerado o grau de parentesco na preferência da tutela, sendo primeiramente os pais, depois os avós; depois parentes até o terceiro grau (irmãos e tios) preferindo os mais próximos aos mais remotos em grau de parentesco e, os mais velhos aos mais moços, quando do mesmo grau. (Art. 1.731, do Código Civil, BRASIL, 2002). O Juiz não precisa obedecer essa ordem, ele deve considerar condições afetivas e de afinidade com o menor. O tutor deve ser também digno de receber essa responsabilidade, deve ser maior de 18 anos e ter a sua idoneidade incólume. A pessoa designada pode se recusar a assumir (Art. 1728 e SS, Art. 1.736 e 1.737, BRASIL, 2002): Mulheres casadas; Maiores de sessenta anos; Aqueles que tiverem sob sua autoridade mais de três filhos; Os impossibilitados por enfermidade; Aqueles que habitarem longe do lugar onde se haja de exercer a tutela; Aqueles que já exercerem tutela ou curatela; Militares em serviço. O tutor não é obrigado a exercer a tutela por mais de dois anos, sendo que findo esse tempo, ele deve comunicar ao juiz sua decisão. Por se tratar de um ato jurídico aplicado como sucedâneo (substituto) do poder familiar, a tutela somente se justifica para aqueles que estejam fora deste poder natural, em razão do que, cessa quando: O tutelado atinge a maioridade, adquirindo a plena capacidade civil; O tutelado sendo ainda menor de 18 (dezoito) anos for emancipado; 11 O tutelado for reconhecido, pelo pai ou mãe, como filho; O tutelado for adotado; O tutor se escusar de assumir a tutela (Arts. 1.736 e 1.737 do CC/02); O tutor for exonerado; Decurso de prazo. • Adoção por Brasileiros A adoção no Brasil pode ser realizada de duas maneiras: individual, ou conjunta. Segundo o artigo 42 do ECA (BRASIL, 1990), a adoção individual deve ser feita por maior de 18 anos (também deve ser 16 anos mais velho que o adotado), não importando o estado civil, nem a nacionalidade ou o sexo. Deve ter, somente, condições materiais e morais para adotar. O adotante será avaliado pela assistência social, sendo que deve, antes de tudo, se inscrever no Cadastro Nacional. Ascendentes e irmãos do adotado não podem solicitar a adoção, pois nesses casos, deve-se solicitar a guarda. O parágrafo 2º do ECA descreve e prescreve sobre a adoção conjunta. Para elaser realizada, os adotantes precisam estar casados civilmente ou manter uma relação de união estável, que comprove a estabilidade da família. Casais em processo de separação podem solicitar a adoção mediante estudo do caso pelo poder público que irá analisar as condições em que o menor irá ser criado. Maiores de 12 anos podem opinar no processo de adoção. Antes de ser efetivada a adoção, o menor passará por um período de convivência de 90 dias, aproximadamente. Caso o menor já tenha convívio com o adotante, por guarda ou tutela, poderá ser diminuído ou dispensado. Atualmente há um estímulo para a adoção conjunta de grupos de irmãos, para não separar a família. • Adoção Internacional Segundo o artigo 51 do ECA, a adoção internacional ocorre quando o pretendente possui residência em país que faça parte da Convenção de Haia (Decreto 3.087/99, de 29 de maio de 1993, relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional) e tenha vontade de adotar criança (s) dos países assinantes da convenção. Os requisitos para a adoção internacional no Brasil estão previstos no artigo 51 do ECA (BRASIL, 1990). A prioridade da adoção é de famílias brasileiras, residente aqui ou não, mas esgotadas as possibilidades de o menor ser adotado por estas, ele pode ser adotado por família estrangeira. Caso o menor tenha mais de 12 anos será consultado sobre esse processo. Este, aliás, será analisado por equipe multidisciplinar antes que a adoção se concretize. Segundo o ECA, artigo 165 a 170 (BRASIL, 1990): I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido de habilitação 12 à adoção perante a Autoridade Central em matéria de adoção internacional no país de acolhida, assim entendido aquele onde está situada sua residência habitual; II - se a Autoridade Central do país de acolhida considerar que os solicitantes estão habilitados e aptos para adotar, emitirá um relatório que contenha informações sobre a identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu meio social, os motivos que os animam e sua aptidão para assumir uma adoção internacional. Será feito um relatório do pedido, com toda a documentação necessária, incluindo estudo psicossocial, e após análise de todos estes, será dada a habilitação que valerá 1 ano. VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado será autorizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança ou adolescente, conforme indicação efetuada pela Autoridade Central Estadual (BRASIL, 1990). Quando os requerentes da adoção não brasileiros que desejam adotar menores de outros países, o ECA dispõe o seguinte (BRASIL, 1990): Art. 52-C. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país de acolhida, a decisão da autoridade competente do país de origem da criança ou do adolescente será conhecida pela Autoridade Central Estadual que tiver processado o pedido de habilitação dos pais adotivos, que comunicará o fato à Autoridade Central Federal e determinará as providências necessárias à expedição do Certificado de Naturalização Provisório. Art. 52-D. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida no país de origem porque a sua legislação a delega ao país de acolhida, ou, ainda, na hipótese de, mesmo com decisão, a criança ou o adolescente ser oriundo de país que não tenha aderido à Convenção referida, o processo de adoção seguirá as regras da adoção nacional. Quando for maior de 18 anos, o indivíduo adotado poderá ter acesso aos dados de sua família biológica, assim como acesso irrestrito ao processo de adoção. A morte dos pais adotantes não reverte o processo. 13 CAPÍTULO 4 – DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE E AO LAZER Todos os cidadãos brasileiros têm direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer. No caso dos adultos, esses direitos são garantidos pela Constituição Federal e no caso de crianças e adolescentes, também pelo ECA. Portanto, é fundamental que o menor frequente a escola (aliás, é obrigatório), que tenha acesso aos bens culturais da sociedade, às práticas esportivas e a diversas formas de lazer. Sobre a educação, em seu artigo 53, o ECA (BRASIL, 1990) afirma que: “A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho”. Assim, toda criança e adolescente devem ter acesso à escola e condições de frequentar a mesma por toda a Educação Básica (Nível dividido nas etapas de: Educação Infantil, Ensino Fundamental I e II, e Ensino Médio). Na escola, o menor deve obter formação integral, tendo respeitado seu ritmo de aprendizagem, sua bagagem cultural e cognitiva, seu aspecto psicoemocional. Além disso, ele precisa ser protagonista do processo de aprendizagem, podendo contestar critérios avaliativos e métodos de ensino, caso se sinta marginalizado ou prejudicado. O Estado deve fornecer vaga em instituição gratuita, próxima à casa do menor e seus irmãos. Os pais, podem ter acesso ao material pedagógico e ao Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, assim como permissão de participar da definição das propostas educacionais. Sobre a política antidrogas, segundo o artigo 53-A do ECA (BRASIL, 1990) “é dever da instituição de ensino, clubes e agremiações recreativas e de estabelecimentos congêneres assegurar medidas de conscientização, prevenção e enfrentamento ao uso ou dependência de drogas ilícitas”. A escola também deve ter acessibilidade a todos os tipos de deficientes e ter currículo de práticas adaptadas não só a eles, mas a todos que tenham algum transtorno, distúrbio ou dificuldade de aprendizagem. A educação deve ser oferecida de forma gratuita desde a Educação Infantil (que inclui creche e pré- escola), sendo que a partir dos 4 anos a frequência é obrigatória. Sobre a responsabilidade da escola sobre o bem-estar do menor, é interessante citar o artigo 56 (BRASIL, 1990): Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: I - maus-tratos envolvendo seus alunos; 14 II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares; III - elevados níveis de repetência. O Estado, além de fornecer educação, deve estimular, financeiramente inclusive, os municípios a criarem locais para lazer próprio para crianças e para adolescentes, além de promover atividades artísticas e culturais, de integração social e de práticas esportivas. Para que isso se torne realidade, podem ser criados: Parques públicos com acesso a brinquedos; Bibliotecas, brinquedotecas e ludotecas; Ginásios e arenas poliesportivos; Centros culturais para exposições artísticas e cursos gratuitos de artes; Museus; Oficinas de música e dança; Eventos e festas que representem a cultura local; Escola de cursos profissionalizantes para jovens; Clubes que promovam shows, saraus culturais, feiras, exposições, etc. Com investimento e criatividade por parte do setor público, o adolescente poderá ter acesso a uma formação integral e ao divertimento, enquanto que a criança poderá brincar em locais seguros, que estimulem seu desenvolvimento e sejam próprios para sua faixa etária. 15 CAPÍTULO 5 – MEDIDAS DE PROTEÇÃO Quando os direitos da criança e do adolescente forem ameaçados ou descumpridos, medidas de proteção precisam ser adotadas. Esse descumprimento da lei, pode ser feito pela sociedade, pelo Estado, pela família, o ECA descreve o seguinte: As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos por Lei forem ameaçados ou violados: a) Por açãoou omissão da sociedade ou do Estado; b) Por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; c) Em razão de sua conduta. As medidas de proteção podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, podendo ser substituídas se necessário. Essas medidas devem ter caráter pedagógico, ou seja, devem ser reeducativas, e não preferencialmente punitivas, pois têm como objetivo o fortalecimento dos vínculos familiares. A competência para a aplicação da lei cabe ao Juizado da Infância e da Juventude, sendo as medidas protetivas, previstas no artigo 101, incisos I a IX do ECA (BRASIL, 1990) as seguintes, dependendo da situação da violação: Encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade. Orientação, apoio e acompanhamento temporários. Matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental. Inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente. Requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial. Inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos. Acolhimento institucional. Inclusão em programa de acolhimento familiar. Colocação em família substituta (BRASIL, 1990). A intervenção do Juizado deve ser o mais precoce possível, deve atender aos interesses do menor e todo o processo deve correr em segredo de justiça, para a preservação da criança ou do adolescente. Sobre os pais ou responsáveis, também há as seguintes medidas referentes a eles: 16 Encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família. Inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos. Encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico. Encaminhamento a cursos ou programas de orientação. Obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua frequência e aproveitamento escolar. Obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado. Advertência. Perda da guarda. Destituição da tutela. Suspensão ou destituição do poder familiar. É preciso ressaltar que o acolhimento do menor em família substituta é provisório. Todas as medidas de reintegração familiar devem ser tomadas. Somente o juizado tem poder para afastar a criança da família. Então, serão feitos os seguintes procedimentos: Imediatamente após o acolhimento da criança ou do adolescente, a entidade responsável pelo programa de acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano individual de atendimento, visando à reintegração familiar, ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em contrário de autoridade judiciária competente, caso em que também deverá contemplar sua colocação em família substituta, observadas as regras e princípios estipuladas pelo Estatuto da Criança e Adolescente (BRASIL, 1990, art.101, parágrafo 4º) A equipe técnica do programa de atendimento ficará responsável por esse plano individual e levará em conta a posição da criança ou adolescente em relação ao contexto e à família. Constará nesse plano (BRASIL, 1990): Os resultados de uma avaliação feita por equipe multidisciplinar; Responsabilidades assumidas pelos pais ou responsável; Cronograma das atividades a serem desenvolvidas com a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou responsável. O acolhimento familiar deve ser realizado em local próximo da casa do menor. Sua família deve participar de programa de reintegração, de acompanhamento psicossocial e deve receber todas as orientações necessárias para lidar com esse processo. Caso não seja possível essa reintegração, o Ministério Público, esgotadas todas as possibilidades, fará a destituição da guarda ou tutela, passando o menor para a tutela do Estado. 17 CAPÍTULO 6 – OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO Quando o menor comete algum ato infracional (crime ou contravenção penal), ele pode vir a responder pelos seus atos de diversas formas. Sobre a responsabilidade penal, de acordo com artigo 104 do ECA (BRASIL, 1990), são penalmente inimputáveis menores de dezoito anos. Essa lei é aplicada de acordo com a idade do menor na época do ato cometido. Quando o menor, então, comete algum ato infracional, algumas medidas socioeducativas podem ser aplicadas (artigo 112, BRASIL, 1990): I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V - inserção em regime de semi-liberdade; VI - internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. A medida socioeducativa deve ser proporcional ao ato, deve levar em consideração as condições do menor em cumpri-la e deve ter como objetivo a reeducação e a ressocialização do mesmo. Em nenhuma hipótese será imposto o trabalho forçado. Sobre menores especiais, o parágrafo 3º do ECA (BRASIL, 1990) prescreve que “os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições.” Uma medida leve aplicada ao menor infrator é a Advertência: “A advertência consistirá em admoestação verbal, que será reduzida a termo e assinada” (artigo 115, BRASIL, 1990). Geralmente é dada em situações de pequenos delitos cometidos pelo menor e também em caso de o mesmo ser réu primário. Quando se tratar de ato infracional que cause danos patrimoniais, o juiz pode determinar que o adolescente restitua o bem material, faça o ressarcimento do dano ou de algum modo compense a vítima. Citamos adolescente, porque no caso da criança (menor de 12 anos), os pais devem arcar com os prejuízos materiais do filho infrator. Caso pais do infrator, ou o próprio adolescente não tenha condições socioeconômicas de ressarcir o dano, o juiz pode adotar outra medida (artigo 116, BRASIL, 1990). • A Responsabilidade dos Pais 18 De acordo com o Código Civil e com o Estatuto da Criança e do Adolescente, os pais são responsáveis pela reparação dos atos ilícitos praticados pelos seus filhos menores, quando estes estão em seu poder (sob sua autoridade) e/ou companhia. Se o menor estiver sob responsabilidade de um empregador, este responderá pelos prejuízos que este menor vir a causar a outrem. O mesmo vale para internamento educacional (VENOSA, 2008). É muito comum que as crianças e adolescentes vivam hoje grande parte de seu tempo em escolas, clubes e associações, sob a vigilância de outras pessoas que não os pais. Desse modo, há de se verificar no caso concreto, no momento do dano, de quem era efetivamente o dever de vigilância (VENOSA, 2008). Como a maioria dos menores não tem patrimônio próprio ou suficiente para arcar com os prejuízos que causar, o adulto responsável pela criança então deve assumir essa incumbência. Portanto “se um menor de 3 anos ou de 17 anos de idade danifica o patrimônio alheio, o pai será o responsável, salvo, em síntese, se provar caso fortuito ou força maior.” (VENOSA, 2008). Mesmo que o menor seja bem pequeno, os pais não podem alegar falta de discernimento da criança para se isentar de responder pelos seus atos, pois quanto menor a criança, maior deve ser a vigilância e o cuidado com ela. Sobre a emancipação do menor, o Supremo Tribunal Federal se posicionou no sentido de que a mesma não elimina a responsabilidade dos pais (RTJ 62/108, RT 494/92). Não há um consenso, no entanto, entre os doutrinadores do Direito, sobre essa responsabilidade dos pais quando se trata do menor emancipado. “A nosso ver, desaparece a responsabilidade dos pais quando a emancipação decorre de outras causas relacionadas no artigo 5º” (VENOSA, 2008). 19 CAPÍTULO 7 – PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE Quando o menor pratica um ato infracional, a autoridade jurídica pode decidir como medida socioeducativaa prestação de serviços à comunidade, de acordo com o artigo 117 (BRASIL, 1990, ECA) Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais. Essas tarefas serão atribuídas de acordo com as habilidades do adolescente e não devem ultrapassar as oito horas semanais. Também não podem interferir no desempenho e frequência escolar. Alguns exemplos dessas atividades podem ser: Conserto de brinquedos para crianças carentes, participando de oficinas e também ajudando a arrecadar e posteriormente distribuir; Recreação: monitorando crianças em ambientes públicos, oferecendo atividades lúdicas; Revitalização de praças da cidade, plantando árvores e cuidando de jardins; Arrecadações de roupas, alimentos, recicláveis, entre outras coisas necessárias, para auxiliar ONGs e projetos comunitários; Participando de projetos sociais, ambientais e educacionais; Oferecendo ajuda a idosos e deficientes em suas atividades cotidianas; Ajudando a cuidar de animais, nas ONGs de proteção; Participando de projetos de prevenção e tratamento de dependência química; Auxiliando no trabalho em hospitais, para alegrar as crianças e outros pacientes, como palhaços, por exemplo. Estes são apenas alguns exemplos de atividades que podem ser desenvolvidas pelos menores que estão cumprindo medidas socioeducativas. Precisamos ter em mente que o objetivo dessas atividades não é simplesmente punir o adolescente infrator, mas conscientizá-lo de seus erros em relação à sociedade em que vive, responsabilizá-lo pelas consequências dos seus atos, reintegrá-lo à sociedade e à comunidade, reeduca-lo e dar a ele oportunidades de seguir um caminho coerente e assertivo como cidadão. O Estado, através de Políticas Públicas, tem o dever de executar essa tarefa, mesmo que, como vimos na Constituição Federal de 1988, todos sejamos 20 responsáveis por zelar pela infância e pela juventude. Essas políticas, além de ressocializar, reeducar e reintegrar, têm como objetivo evitar a reincidência do menor. A educação e as práticas esportivas são formas de cumprir todos esses objetivos, por isso, é fundamental que o Estado promova políticas de incentivo ao esporte e de planejamento educacional para menores infratores que cumprem medidas socioeducativas. A educação proporciona ao adolescente infrator condições de seguir nos estudos, podendo ingressar na universidade, também oferece cursos profissionalizantes nos quais ele pode encontrar uma vocação, redirecionando seus interesses de vida. A escola atualmente oferece orientações sobre um Projeto de Vida, no qual esses jovens podem refletir sobre seus erros, aprender a superá-los e a se preparar para um novo futuro. Muitos adolescentes infratores vêm de famílias disfuncionais, de comunidades violentas, onde sofreram abusos e maus tratos. A educação e o esporte os ajuda a superar esse convívio difícil e sair desse ambiente que muitas vezes os arrasta para situações de vulnerabilidade e de criminalidade. Segundo Damico (2011, p. 140): “todas as práticas educativas, esportivas, pedagógicas que visam recuperar o jovem, são políticas de segurança pública, pois querem evitar a continuidade e reincidência do cometimento de crimes.” Programas como Amigos da Escola e Mais Educação são exemplos de políticas públicas que podem ajudar esses jovens. A seguir, veremos alguns programas educacionais do Governo Federal que ajudam a resgatar adolescentes da criminalidade, das drogas e de outros fatores de vulnerabilidade. • Programa de Inovação Educação Conectada Instituído pelo Decreto 9.204, de 23 de novembro de 2017, o Programa de Inovação Educação Conectada é executado pela Diretoria de Articulação e Apoio às Redes de Educação Básica, no âmbito da Coordenação-Geral de Tecnologia e Inovação da Educação Básica (CGTI). Tem por objetivo geral apoiar a universalização do acesso à internet em alta velocidade e fomentar o uso pedagógico de tecnologias digitais na educação básica. Principais metas: Universalização do acesso à internet em alta velocidade e fomentar o uso pedagógico de tecnologias digitais na educação básica. • Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (Pecim) Executado pela Diretoria de Políticas para Escolas Cívico-Militares, o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (Pecim), lançado em 05 de setembro de 2019, pelo Decreto Presidencial nº 10.004, é uma ação do Ministério da Educação, em parceria com o Ministério da Defesa, que visa contribuir para a melhoria da Educação Básica do Brasil, a partir da implantação do modelo MEC de Escolas Cívico-Militares (Ecim). Esse modelo é centrado na melhoria de gestão nas áreas educacional, didático-pedagógica e administrativa, sendo http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9204.htm 21 baseado no padrão de alto nível dos Colégios Militares do Exército, das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares. • Programa de Apoio aos Sistemas de Ensino para Atendimento à Educação de Jovens e Adultos (EJA) A última Resolução vigente foi a nº 5, de 31 de março 2017 com objetivo de ampliar a oferta de EJA na modalidade presencial, no ensino fundamental e no médio, contribuir para a expansão das matrículas em EJA, especialmente entre egressos do Programa Brasil Alfabetizado – PBA, populações do campo, comunidades quilombolas, povos indígenas e pessoas em cumprimento de pena em unidades prisionais, e fortalecer o compromisso dos entes federados com a efetivação do ingresso, da permanência e da continuidade de estudo de jovens e adultos, por meio da articulação entre os sistemas de ensino. Atualmente é elaborada nova resolução que autorize os entes federados a utilizar o saldo remanescente em conta e ofertar a EJA articulada à qualificação profissional. A unidade técnica responsável é a Coordenação-Geral de Educação de Jovens e Adultos, da Diretoria de Políticas e Diretrizes da Educação Básica da Secretaria de Educação Básica do MEC. • Educação de jovens e adultos integrada à educação profissional Em conformidade com a Lei nº 13.005 de 25 de junho de 2014 que institui o Plano Nacional de Educação – PNE e define na Meta 10 o oferecimento de, no mínimo, 25% das matrículas da EJA, nas etapas do ensino fundamental e médio, para que sejam oferecidas de forma integrada à Educação Profissional. Constituem- se de Termos de Execução Descentralizada com 12 Institutos Federais que se propuseram a promover ações de mobilização dos municípios, formação continuada de profissionais da educação, oferta de cursos de educação de jovens e adultos (EJA) integrados à educação profissional, curadoria e produção de conteúdos didáticos, monitoramento da permanência, pesquisa e inovação. A unidade técnica responsável é a Coordenação-Geral de Educação de Jovens e Adultos, da Diretoria de Políticas e Diretrizes da Educação Básica da Secretaria de Educação Básica do MEC. Principais metas: Promover ações para a oferta de 3,8% das matrículas de Educação de Jovens e Adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma articulada à educação profissional, em consonância com o disposto na Meta 10 do Plano Nacional de Educação. • Programa Brasil Alfabetizado (PBA) O programa Brasil Alfabetizado, do Governo Federal, tem como objetivo de alfabetizar jovens a partir dos quinze anos, de maneira descentralizada e http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm 22 utilizando voluntariado por todo o país. As turmas de alfabetização são divididas entre Rurais e Urbanas, tendo número mínimo de 10 e máximo de 25 alunos. No caso de alunos com necessidades educacionais especiais (NEE), cada turma pode comportar até três alunos.• Programa Saúde na Escola Objetivo: O Programa Saúde na Escola tem como objetivo promover a saúde, prevenir doenças e agravos à saúde de adolescentes e jovens da rede pública de ensino, a partir da articulação entre educação e saúde. Uma das ações desse Programa é a formação continuada dos professores da educação básica a fim de que promovam atividades de promoção da saúde. Resolução em vigor: Resolução n° 24, de 16 de agosto de 2010 (com alterações da Resolução n° 37, de 21 de julho de 2011). Existem outros programas, ações, projetos e atividades criados e desenvolvidos pelo MEC para auxiliar a melhoria da Educação Básica e a formação de alunos e professores, para saber mais a respeito destes, visite a página do MEC, de onde recolhemos as informações citadas acima: https://www.gov.br/mec/pt-br. https://www.fnde.gov.br/fndelegis/action/UrlPublicasAction.php?acao=abrirAtoPublico&sgl_tipo=RES&num_ato=00000024&seq_ato=000&vlr_ano=2010&sgl_orgao=CD/FNDE/MEC https://www.fnde.gov.br/fndelegis/action/UrlPublicasAction.php?acao=abrirAtoPublico&sgl_tipo=RES&num_ato=00000055&seq_ato=000&vlr_ano=2012&sgl_orgao=CD/FNDE/MEC https://www.fnde.gov.br/fndelegis/action/UrlPublicasAction.php?acao=abrirAtoPublico&sgl_tipo=RES&num_ato=00000037&seq_ato=000&vlr_ano=2011&sgl_orgao=CD/FNDE/MEC https://www.gov.br/mec/pt-br 23 CAPÍTULO 8 – REGIME DE SEMILIBERDADE Como já estudamos, quando um adolescente comete algum ato infracional, ele pode ser submetido a medidas socioeducativas, lembrando que crianças (menores de 12 anos) são inimputáveis e não podem ser submetidas a essas medidas. Uma das medidas socioeducativas é o regime de semiliberdade. Segundo o ECA (BRASIL, 1990): Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determinado desde o início, ou como forma de transição para o meio aberto, possibilitada a realização de atividades externas, independentemente de autorização judicial. § 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização, devendo, sempre que possível, ser utilizados os recursos existentes na comunidade. § 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à internação. Segundo Andrade (2015), As medidas socioeducativas serão impostas após procedimento próprio, respeitado os princípios da Ampla Defesa e do Contraditório, presidido, exclusivamente, pela autoridade judiciária, a quem caberá, também, cessar a medida no momento oportuno. Neste sentido é a Súmula 108 do C. STJ: “A aplicação de medidas sócio-educativas ao adolescente, pela prática de ato infracional, é da competência exclusiva do juiz.” Portanto, as medidas são decididas pela autoridade judicial, após justo julgamento dos fatos. Os critérios do juiz para escolher a medida mais apropriada para o ato infracional e para as condições sociais, psíquicas, materiais e intelectuais do adolescente, sendo esses critérios: gravidade concreta do ato infracional; personalidade do adolescente; eficácia da medida. Gravidade concreta do ato infracional: o magistrado deve verificar todos os aspectos envolvidos no ato infracional, incluindo o modus operandi, para analisar o grau de periculosidade do jovem e, portanto, da necessidade de uma medida menos ou mais rigorosa para a sua reabilitação; Personalidade do adolescente: uma equipe multidisciplinar deve analisar a personalidade do adolescente e apresentar o relatório dessa análise ao juiz, que irá analisar fatores que possam favorecer a reincidência. Também será verificado nessa análise: a personalidade do adolescente, se este possui senso crítico, se compreende os males do ato praticado, se está arrependido e se possui algum tipo de distúrbio mental; Eficácia da medida: verificando o ato praticado, a personalidade do adolescente e as possibilidades do caso concreto, o magistrado aplicará 24 a medida que mais se ajusta à reabilitação do adolescente (ANDRADE, 2015). Relembremos que independentemente da medida escolhida ela deve ter como fim a reintegração social e a educação do adolescente, acima de qualquer caráter coercitivo. As medidas socioeducativas são diferentes das penas aplicadas aos adultos, que além da ressocialização também tem caráter punitivo. Após a definição da medida, a autoridade responsável irá cuidar para que seja cumprida integralmente e nos moldes do acordado judicialmente. Em casos de resultado positivo, pode haver progressão para uma medida mais leve. O mesmo pode ocorrer no caso contrário, sendo o menor submetido a medida mais rigorosa, prorrogação ou substituição de medidas, após ouvidos o Ministério Público, o orientador do adolescente e a defesa deste. Sobre a medida de semiliberdade, Andrade (2015) afirma que A medida de semiliberdade constitui o meio termo entre a liberdade e a internação. O adolescente deverá ficar recolhido durante o período noturno e poderá exercer atividades externas durante o dia. Pode ela ser aplicada diretamente e de modo autônomo ou poderá ser imposta como condição do adolescente internado transitar para o meio aberto, conforme previsto no artigo 120 do ECA. O adolescente em regime de semiliberdade deve, portanto, frequentar a escola, obrigatoriamente, enquanto se qualifica profissionalmente através de cursos e/ou estágios. Essas exigências são condições para o adolescente se reinserir na sociedade e traçar caminhos mais seguros e menos vulneráveis para seu futuro. Não há um prazo determinado para cumprimento da medida socioeducativa, tudo depende do progresso psicossocial do menor, sendo que o juiz estará em constante avaliação desse cumprimento. No entanto, a medida deve sempre ser reavaliada no período máximo de 06 meses e não poderá exceder o prazo de três anos de duração. “Será possível, também, durante o período de cumprimento da medida a sua prorrogação, substituição, regressão ou revogação” (ANDRADE, 2015). Dois programas que podem ajudar o adolescente em semiliberdade, auxiliando na sua educação, na sua profissionalização e na reintegração social são as duas modalidades do Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem), a do Projovem Urbano e a do Projovem Campo-Saberes da Terra. Os Programas buscam promover a reintegração de jovens com idade entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) anos ao processo educacional, à qualificação profissional e ao desenvolvimento humano. Atualmente, a avaliação do material didático elaborado antecede a publicação de nova Resolução que autorize o uso do saldo remanescente em conta para as duas modalidades. A atual unidade técnica responsável é a Coordenação-Geral de Jovens e Adultos/COEJA da Secretaria de Educação Básica do MEC. As http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10600451/artigo-120-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90 25 principais metas dos programas são: ofertar 260 mil vagas a jovens de 18 a 29 anos por meio de ações voltadas à elevação da escolaridade na educação básica integrada à qualificação profissional e ao desenvolvimento da participação cidadã. 26 CAPÍTULO 9 – O CONSELHO TUTELAR O encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, segundo o título V do ECA (BRASIL, 1990), é o Conselho Tutelar, órgão permanente e autônomo, não jurisdicional. Pelo artigo 132, em cada município e em cada região administrativa do Distrito Federal, deverá haver no mínimo um conselho, composto de 5 membros, escolhidos pela população local para mandato de quatro anos, podendo haver reeleição. Para que uma pessoa se candidate, segundo o artigo 132, são exigidos (BRASIL, 1990): I - reconhecida idoneidade moral; II - idade superior a vinte e um anos; III - residir no município. O município deve estabelecer o local, dia e horário de funcionamentodo Conselho Tutelar, assim como a remuneração dos membros. Além disso, estes membros devem contar com (BRASIL, 1990): I - cobertura previdenciária; II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3 (um terço) do valor da remuneração mensal; III - licença-maternidade; IV - licença-paternidade; V - gratificação natalina. Os recursos para o funcionamento do conselho, para remuneração dos membros e sua formação continuada devem constar na lei orçamentária do município e DF. Segundo o artigo 135 do ECA (BRASIL, 1990) o exercício da função de conselheiro é serviço público e pressupõe idoneidade moral por conta do mesmo, ou seja, ter boa reputação, bons costumes e boa conduta social. Segundo o artigo 136 do ECA (BRASIL, 1990) são atribuições do Conselho Tutelar: I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII; II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art. 129, I a VII; III - promover a execução de suas decisões, podendo para tanto: a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança; 27 b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento injustificado de suas deliberações. Além destas, o conselho tem como função encaminhar ao Ministério Público e à autoridade judiciária qualquer notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal aos direitos da criança ou do adolescente. Fica a cargo do conselho também entregar certidões de nascimento ou óbito do menor quando for necessário, assim como representar em nome da pessoa e da família no caso de violações de direitos. O Conselho Tutelar deve representar ao MP “para efeito das ações de perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural”. E se este conselho entender que é necessário, deve pedir o afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar comunicando ao MP os motivos para esse afastamento. A sociedade deve ser parceira do conselho na proteção à criança e ao adolescente, e para isso, devem ser criados projetos e ações de divulgações das formas de proteção junto à comunidade. Isso inclui a escola, que deve estar sempre atenta ao cumprimento dos direitos do menor, observando sua integridade física, emocional e psicossocial e comunicando ao conselho qualquer fato suspeito que possa verificar no cotidiano escolar. Sobre a competência o artigo 138 destaca que: “Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de competência constante do art. 147” (BRASIL, 1990). Uma lei municipal deve definir os critérios de escolha para os conselheiros tutelares da cidade e o processo ficará a cargo do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, sob a fiscalização do Ministério Público. A data da escolha é a mesma em todo o país e eleição é feita a cada 4 anos. A posse se realizará no dia 10 de janeiro do ano seguinte à eleição. Os candidatos ao conselho ficam proibidos, durante o processo de eleição, de doar, oferecer ou prometer bens, brindes ou vantagem pessoal em troca de votos. São impedidos de servir no mesmo conselho marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e genro/nora, irmãos, cunhados (exceto se já houver tido divórcio entre as partes que garantem que o parentesco), tio e sobrinho, padrasto/madrasta ou enteado (a). Por fim: “Estende-se o impedimento do conselheiro, na forma deste artigo, em relação à autoridade judiciária e ao representante do Ministério Público com atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício na comarca, foro regional ou distrital” (BRASIL, 1990). 28 CAPÍTULO 10 – COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA Quando a família deixa de cumprir seus deveres para com a criança ou adolescente pode haver a perda ou suspensão do poder familiar, antigamente chamado de pátrio poder. O Ministério Público ou alguém que tenha legítimo interesse poderá iniciar o processo. A petição inicial indicará, segundo o artigo 156 do ECA (BRASIL, 1990): I - a autoridade judiciária a que for dirigida; II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do requerente e do requerido, dispensada a qualificação em se tratando de pedido formulado por representante do Ministério Público; III - a exposição sumária do fato e o pedido; IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde logo, o rol de testemunhas e documentos. Havendo sido apurado fato grave, o MP pode decretar a suspensão do poder familiar, até que se tenha um julgamento definitivo, devendo o menor ficar sob responsabilidade a pessoa idônea, mediante termo de responsabilidade (Artigo 157, BRASIL, 1990). § 1 o Recebida a petição inicial, a autoridade judiciária determinará, concomitantemente ao despacho de citação e independentemente de requerimento do interessado, a realização de estudo social ou perícia por equipe interprofissional ou multidisciplinar para comprovar a presença de uma das causas de suspensão ou destituição do poder familiar, ressalvado o disposto no § 10 do art. 101 desta Lei, e observada a Lei n o 13.431, de 4 de abril de 2017. Quando os pais forem indígenas, é preciso que haja intervenção de representantes de órgãos responsáveis pela política indigenista e assistência de equipe multidisciplinar. Os pais então têm dez dias para oferecer resposta, provas e testemunhas a seu favor. Quando a criança é maior ela deve ser ouvida pelo juiz antes de qualquer decisão do mesmo. Sobre o prazo do processo, o artigo 163 afirma que: “O prazo máximo para conclusão do procedimento será de 120 (cento e vinte) dias, e caberá ao juiz, no caso de notória inviabilidade de manutenção do poder familiar, dirigir esforços para preparar a criança ou o adolescente com vistas à colocação em família substituta” (BRASIL, 1990). Quanto à destituição da tutela, pelo artigo 164: “observar-se-á o procedimento para a remoção de tutor previsto na lei processual civil e, no que couber, o disposto na seção anterior.” 29 Terminado o processo de destituição do poder familiar ou da tutela, o menor pode ser colocado em família substituta, que deve preencher os seguintes requisitos (artigo 165, BRASIL, 1990): I - qualificação completa do requerente e de seu eventual cônjuge, ou companheiro, com expressa anuência deste; II - indicação de eventual parentesco do requerente e de seu cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adolescente, especificando se tem ou não parente vivo; III - qualificação completa da criança ou adolescente e de seus pais, se conhecidos; IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento, anexando, se possível, uma cópia da respectiva certidão; V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou rendimentos relativos à criança ou ao adolescente. Quando o menor for passar por processo de adoção, requisitos específicos deverão ser observados. Caso os pais concordem com a perda do poder familiar, o juiz então (parágrafo 1º, BRASIL, 1990): I - na presença do Ministério Público, ouvirá as partes, devidamente assistidas por advogado ou por defensor público, para verificar sua concordância com a adoção, no prazo máximo de 10 (dez) dias, contado da data do protocolo da petição ou da entrega da criança em juízo, tomando por termo as declarações; e II - declarará a extinção do poder familiar. Portanto, o menor pode ser colocado em família substituta, caso a família natural perca o poder familiar. Isso se dá pelos processos de tutela ou adoção, que já explicamos aqui. Sempre que for possível, uma equipe multidisciplinar ouvirá a criança ou adolescente e participará ativamente do processo de adaptação. A opinião do menor será levada em consideração. Inclusive, se se tratar de um adolescente, este deve dar seu consentimento. Esse processo também deve considerar os laçosde parentesco e de afetividade que existirem entre a criança e a família substituta. Uma preparação deve ser planejada antes de se concretizar a adoção definitiva. Observar-se-á um período de convivência e de adaptação. Quando o menor for de origem de comunidade indígena ou quilombola, alguns critérios devem ser seguidos: Respeito à cultura de origem, seus costumes e tradições; Escolher uma família da própria comunidade, de preferência, ou da mesma etnia; 30 Intervenção e oitiva de representantes políticos indígenas. A adoção não será deferida se houver incompatibilidade entre a família substituta e o menor, nem se o ambiente que o acolher for inadequado ou inseguro para crianças ou adolescentes. No caso de família estrangeira, será considerado após esgotadas todas as tentativas de o menor ser adotado no país de origem. No Brasil, de acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça, existem cerca de 47 mil menores em acolhimento, sendo que 9,5 mil estão no Cadastro Nacional de Adoção. Por outro lado, a fila para adotar é de 46,2 mil pretendentes. A conta não fecha porque a maioria das famílias querem adotar crianças bem pequenas, de preferência ainda bebês e que sejam brancas, o que não é o perfil da maioria das crianças disponíveis para adoção. Do total de 9,5 mil crianças e adolescentes cadastrados no CNA, 49,79% são pardos, contra 16,68% brancos. Do total de crianças, 55,27% possuem irmãos e 25,68% têm algum problema de saúde. Além disso, 53,53% têm entre 10 e 17 anos de idade. Fonte: https://observatorio3setor.org.br/carrossel/adocao-no- brasil-a-busca-por-criancas-que-nao-existem/) Por esse motivo muitos veem o processo de adoção como algo longo e desgastante. Isso se dá, muitas vezes, porque o tipo de criança que a família procura não é o que está disponível no cadastro, então a espera se estende por muito tempo. https://observatorio3setor.org.br/carrossel/adocao-no-brasil-a-busca-por-criancas-que-nao-existem/ https://observatorio3setor.org.br/carrossel/adocao-no-brasil-a-busca-por-criancas-que-nao-existem/ 31 CAPÍTULO 11 – CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS No presente capítulo, iremos descrever os crimes praticados contra a criança e o adolescente, seja por ação ou omissão. Além do ECA, temos no Brasil o Código Penal que também prescreve sanções para esses fatos. Quanto a sanções administrativas, o artigo 227 do ECA (BRASIL, 1990), recomenda que: Art. 227-A Os efeitos da condenação prevista no inciso I do caput do art. 92 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para os crimes previstos nesta Lei, praticados por servidores públicos com abuso de autoridade, são condicionados à ocorrência de reincidência. Parágrafo único. A perda do cargo, do mandato ou da função, nesse caso, independerá da pena aplicada na reincidência. • Crimes em Espécie Sobre gestante, a negligência ou a omissão dos encarregados dos serviços públicos, em relação a atendimento ou documentos, pressupõe pena de detenção de seis meses a 2 anos. Se for crime culposo a detenção é de dois a seis meses, ou multa. Se o médico ou outro profissional de saúde deixarem de dar atenção necessária à gestante/parturiente, ou cometer ato de omissão ou negligência, a pena é a mesma. Privar a criança ou adolescente de liberdade pode resultar em pena de seis meses a dois anos. Se a autoridade policial responsável pela apreensão do menor, deixar de comunicar autoridade competente e à família do mesmo, também pode sofrer a mesma pena. Causar constrangimento ao menor que estiver sob sua autoridade, guarda ou vigilância também pode gerar pena de seis meses a dois anos de detenção. A pena de detenção de seis meses a dois anos também pode ser aplicada nos casos de: autoridade competente deixar de liberar o menor após conhecimento da ilegalidade de apreensão; descumprir prazo estabelecido pelo ECA para concessão de liberdade ao adolescente; ou impedir ação do MP, Conselho Tutelar ou outra autoridade no cumprimento da lei. Para quem sequestrar criança ou adolescente a pena pode variar de dois a seis anos de reclusão mais multa. Caso haja violência a pena pode aumentar para oito anos mais um acréscimo pelo próprio ato previsto no Código Penal. No caso da pornografia infantil, o artigo 240 (BRASIL, 1990) diz que quem “Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente” pode ter pena de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. “§ 1 o Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a participação de criança ou adolescente nas cenas referidas no caput deste artigo, ou ainda quem com esses contracena.” 32 Essa pena pode aumentar em um terço se o agente for funcionário público ou se tiver relação doméstica, empregatícia, tutelar, adotiva, consanguínea ou de qualquer responsabilidade com o menor. Está sujeito às penalidades do ECA o adulto que manter qualquer tipo de relação sexual com menor, assim como produzir, armazenar, acessar, compartilhar ou divulgar qualquer tipo de conteúdo sexual envolvendo um menor. Assim como (BRASIL, 1990): Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: I – facilita ou induz o acesso à criança de material contendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de com ela praticar ato libidinoso; II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográfica ou sexualmente explícita. O ECA deixa bem explicado que crianças e adolescentes não podem ser erotizados, explorados sexualmente ou forçados/expostos a atos libidinosos. O cuidado com o menor deve ser observado tanto na família, como na sociedade e na mídia. Não é permitido nenhum tipo de contato ou ato relacionado à pornografia. O mesmo vale para o contato com as drogas. Não é permitido venda de nenhuma droga lícita ou ilícita para menores, nem mesmo o consumo por eles. Tanto o responsável pelo menor, quanto o estabelecimento que descumprir essa lei está sujeito a sanções (artigo 243, BRASIL, 1990). • Sanções Administrativas O adulto que está envolvido na educação da criança, seja em casa ou na escola, deve comunicar às autoridades qualquer sinal de maus-tratos. Caso não o faça, pode sofrer pena de multa. Também é proibido (BRASIL, 1990). Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou documento de procedimento policial, administrativo ou judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua ato infracional: Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência. Também pode sofrer a mesma pena quem “quem exibe, total ou parcialmente, fotografia de criança ou adolescente envolvido em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga respeito ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma a permitir sua identificação, direta ou indiretamente” (BRASIL, 1990). Todos os eventos e conteúdos para crianças devem cumprir as exigências da classificação indicativa para a idade. 33 CONSIDERAÇÕES FINAIS Embora o Estatuto da Criança e do Adolescente tenha alcançado muitos progressos em relação à proteção do menor em nossa sociedade, ele ainda sofre muitas críticas dentro da mesma. As pessoas reconhecem a necessidade de proteção à infância, mas quando o tema é a adolescência, a população questiona se não há uma proteção exagerada do ECA, principalmente na questão do ato infracional. Muitos pedem a redução da maioridade penal, para que a partir de 16 anos o adolescente seja imputável, principalmente em crimes hediondos. Os argumentos são de que essa faixa etária já tem discernimento para responder penalmente por seus atos. Outros setores da sociedade, porém, discordam que esses adolescentessejam julgados e cumpram penas como adultos, por defenderem uma pena mais educativa e de reintegração social. Polêmicas à parte, o ECA tem um papel importante na garantia de direitos da criança e do adolescente, principalmente na garantia de proteção, de saúde e de educação. O conceito de infância atual é bem amparado por esse estatuto, que prescreve que a faixa etária de 0 a 18 anos deve ser preservada e que deve ser dedicada ao estudo e ao lazer. Por isso, mesmo que haja mudanças no ECA, ele é de extrema importância para nossa sociedade. 34 BIBLIOGRAFIA AMADO, C. História da Pedagogia e da Educação – Guião para acompanhamento das aulas. Évora: Universidade de Évora, 2007. ANDRADE, A. Das Medidas Sócio-Educativas de Liberdade Assistida, Inserção em regime de semiliberdade e Internação. Revista JusBrasil. Publicado em 2015. Disponível em: https://andrehcdiolar.jusbrasil.com.br/artigos/169931048/das-medidas-socio- educativas-de-liberdade-assistida-insercao-em-regime-de-semiliberdade-e- internacao BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao_Compilado.htm> . Acesso em 1º de junho de 2020. _______ Lei n. 8.069, de 13 de julho 1990. Estatuto da criança e do adolescente. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.html ________Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm Consulta em 28 de fevereiro de 2021. DAMICO, J.G.S.; Juventudes Governadas: Dispositivos de Segurança e Participação no Guajuviras (Canoas/RS) em Grigny Centre (França). Porto Alegre, 2011. LACERDA, F. SANTOS, C.V.M. dos. SAMPAIO, T.P. Modalidades de colocação de crianças e adolescente em família substituta. Publicado em janeiro de 2015 em: https://jus.com.br/artigos/35160/modalidades-de-colocacao- de-criancas-e-adolescente-em-familia-substituta VENOSA, S.S. A responsabilidade dos pais pelos filhos menores. Revista JusBrasil. Publicado em 05 de maio de 2008. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2008-mai- 05/responsabilidade_pais_pelos_filhos_menores#:~:text=Como%20regra%20g eral%2C%20os%20pais,poder%20e%20em%20sua%20companhia.&text=A% https://andrehcdiolar.jusbrasil.com.br/artigos/169931048/das-medidas-socio-educativas-de-liberdade-assistida-insercao-em-regime-de-semiliberdade-e-internacao https://andrehcdiolar.jusbrasil.com.br/artigos/169931048/das-medidas-socio-educativas-de-liberdade-assistida-insercao-em-regime-de-semiliberdade-e-internacao https://andrehcdiolar.jusbrasil.com.br/artigos/169931048/das-medidas-socio-educativas-de-liberdade-assistida-insercao-em-regime-de-semiliberdade-e-internacao http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao_Compilado.htm http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%208.069-1990?OpenDocument http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.html http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm https://jus.com.br/artigos/35160/modalidades-de-colocacao-de-criancas-e-adolescente-em-familia-substituta https://jus.com.br/artigos/35160/modalidades-de-colocacao-de-criancas-e-adolescente-em-familia-substituta https://www.conjur.com.br/2008-mai-05/responsabilidade_pais_pelos_filhos_menores#:%7E:text=Como%20regra%20geral%2C%20os%20pais,poder%20e%20em%20sua%20companhia.&text=A%25 https://www.conjur.com.br/2008-mai-05/responsabilidade_pais_pelos_filhos_menores#:%7E:text=Como%20regra%20geral%2C%20os%20pais,poder%20e%20em%20sua%20companhia.&text=A%25 https://www.conjur.com.br/2008-mai-05/responsabilidade_pais_pelos_filhos_menores#:%7E:text=Como%20regra%20geral%2C%20os%20pais,poder%20e%20em%20sua%20companhia.&text=A%25 35 INTRODUÇÃO CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTOS PARA O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CAPÍTULO 2 – FAMÍLIA NATURAL E FAMÍLIA SUBSTITUTA CAPÍTULO 3 – GUARDA, TUTELA, ADOÇÃO E ADOÇÃO INTERNACIONAL CAPÍTULO 4 – DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE E AO LAZER CAPÍTULO 5 – MEDIDAS DE PROTEÇÃO CAPÍTULO 6 – OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO CAPÍTULO 7 – PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE CAPÍTULO 8 – REGIME DE SEMILIBERDADE CAPÍTULO 9 – O CONSELHO TUTELAR CAPÍTULO 10 – COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA CAPÍTULO 11 – CRIMES E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS CONSIDERAÇÕES FINAIS BIBLIOGRAFIA
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