Buscar

Livro - História do Pensamento Geográfico

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 130 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 130 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 130 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

HISTÓRIA DO 
PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES 
“A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma 
ação integrada de suas atividades educacionais, visando à 
geração, sistematização e disseminação do conhecimento, 
para formar profissionais empreendedores que promovam 
a transformação e o desenvolvimento social, econômico e 
cultural da comunidade em que está inserida.
Missão da Faculdade Católica Paulista
 Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo.
 www.uca.edu.br
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma 
sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, 
salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a 
emissão de conceitos.
Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 3
SUMÁRIO
AULA 01
AULA 02
AULA 03
AULA 04
AULA 05
AULA 06
AULA 07
AULA 08
AULA 09
AULA 10
AULA 11
AULA 12
AULA 13
AULA 14
AULA 15
05
14
22
29
36
45
53
63
70
77
85
93
102
110
117
SABERES ESPACIAIS PRODUZIDOS AO LONGO 
DA HISTÓRIA
A GEOGRAFIA E A ERA DAS “LUZES”
SOCIEDADES DE GEOGRAFIA
SÉCULO XIX: INSTITUCIONALIZAÇÃO DA 
GEOGRAFIA UNIVERSITÁRIA
GEOGRAFIA CLÁSSICA ALEMÃ
A GEOGRAFIA DE RATZEL E SEUS 
DESDOBRAMENTOS 
PAUL VIDAL DE LA BLACHE E A 
INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA NA 
FRANÇA
A TRADIÇÃO VIDALIANA
GEOGRAFIA CLÁSSICA NORTE-AMERICANA: O 
RACIONALISMO DE RICHARD HARTSHORNE
GEOGRAFIA TEORÉTICO-QUANTITATIVA: EM 
BUSCA DE UM SABER PRAGMÁTICO
GEOGRAFIA HUMANISTA DE YI-FU TUAN
MARXISMO E ESPAÇO GEOGRÁFICO: A 
GEOGRAFIA CRÍTICA
A GEOGRAFIA CULTURAL DE CARL SAUER
NOVA GEOGRAFIA CULTURAL 
CONCEITOS BÁSICOS DA GEOGRAFIA
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 4
INTRODUÇÃO
Desde a antiguidade, o ser humano produz conhecimentos sobre o espaço. No 
entanto, o que entendemos por “Geografia” se refere a um saber específico, elaborado 
no ambiente acadêmico e escolar. Nas aulas que se seguem, vamos entender como 
o conjunto de conhecimentos, elaborados ao longo da história sobre a superfície 
terrestre, transformou-se em uma ciência, com conceitos e métodos próprios. Para 
isso, vamos conhecer alguns dos principais teóricos que produziram conhecimentos 
geográficos, e também, suas definições sobre o que seria a “Geografia”. 
Vamos estudar as correntes de pensamento surgidas desde o momento em que a 
geografia começou a ser ensinada nas universidades. Afinal, desde quando a geografia 
surge como ciência, diferentes visões sobre seus métodos e objetivos foram sendo 
elaboradas ao longo dos anos. 
Nesse contexto, surge a corrente conhecida como “Geografia Clássica” no final do 
século XIX; a “Geografia Quantitativa” no início do século XX; a “Geografia Humanista”, 
a “Geografia Cultural” e a “Geografia Crítica” ao longo do século XX. Cada uma dessas 
correntes possui bases teóricas específicas. O estudo dessas escolas acadêmicas é 
fundamental para entender como concebemos a ciência geográfica hoje, com todas 
as suas nuances e suas particularidades.
Por fim, vamos aprender também sobre as correntes do pensamento filosófico, e 
de outras áreas do conhecimento, que inspiraram mudanças no modo de conceber 
a definição de Geografia. 
Vamos nessa!
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 5
AULA 1
SABERES ESPACIAIS 
PRODUZIDOS AO 
LONGO DA HISTÓRIA
Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/close-up-do-globo-335393/
Desde a Antiguidade, a humanidade produz conhecimentos sobre o espaço: descrições 
de lugares, elaboração de mapas, construção de teorias sobre as dimensões da Terra 
etc. Para se ter uma noção, o mapa mais antigo que se tem registro data de 6000 
anos antes da Era Comum (ou “antes de Cristo”)1. 
Pensar o espaço pode ser considerada uma ação iminente da condição humana. 
Nesse sentido, desde o momento em que nascemos, produzimos sentimentos, 
percepções e pensamentos sobre o espaço. Seja o lugar em que vivemos ou o espaço 
que estamos conhecendo em determinada situação, produzimos percepções sobre ele. 
Assim, para os propósitos desta aula, denominaremos esses conhecimentos genéricos 
sobre o espaço de saberes espaciais. 
1 Tal mapa foi descoberto na Turquia, durante escavações realizadas na década de 1960. A representação cartográfica teria sido traçada 
pelo povoado neolítico de Çatal Höyük, na região centro-ocidental do país.
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 6
A partir do século XIX, os saberes espaciais foram sistematizados como ciência. Ou 
seja, iniciou-se um processo de elaboração da Geografia como um novo campo científico, 
com métodos e conceitos próprios. Esse processo possibilitou a institucionalização 
de um novo campo acadêmico e disciplinar: a ciência geográfica.
ANOTE ISSO
O que costumamos entender por “Geografia” refere-se à ciência geográfica. Ou seja, 
refere-se a esse saber institucionalizado no ambiente acadêmico/científico e escolar.
A geografia como a ciência que conhecemos atualmente, é sistematizada no 
seio de instituições ocidentais: nas Sociedades de Geografias e, principalmente, na 
Universidade. Nesta aula, traçaremos o desenvolvimento do pensamento geográfico 
levando em consideração a Europa como contexto espaço-temporal privilegiado de 
reflexão. Deste modo, ao tratarmos dos saberes geográficos na Antiguidade, por 
exemplo, enfatizaremos os conhecimentos produzidos na Grécia antiga. Tal enfoque 
é uma forma de fazer com que vocês, alunos, entendam os caminhos que levaram 
à institucionalização do conhecimento geográfico no continente europeu. O modelo 
de geografia sistematizado na Europa, por sua vez, foi expandido para o restante do 
mundo.
Entretanto, é preciso ter em mente que muitas sociedades não-ocidentais 
desenvolveram saberes espaciais sofisticados ao longo dos séculos, como a civilização 
egípcia e o Império Árabe. Mais do que isso, o desenvolvimento do pensamento 
geográfico no continente europeu é caracterizado também pela troca de conhecimentos 
entre diferentes povos (é sabido, por exemplo, que muitos textos e mapas produzidos 
pelos antigos gregos foram traduzidos pelos árabes). Para entender o desenvolvimento 
da geografia, nunca podemos perder de vista essa informação.
 
1.1. Antiguidade: Grécia Antiga
Desde a chamada antiguidade clássica, produziam-se saberes espaciais bastante 
complexos e sofisticados. Os filósofos gregos antigos produziram detalhados registros 
descritivos de lugares distintos do planeta. Além disso, eles também realizaram 
importantes reflexões sobre questões como a forma e as dimensões da Terra (saberes 
que, hoje, são incluídos no campo de ensino da geografia).
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 7
Desde, pelo menos, o século V a. C., filósofos como Platão e Aristóteles já acreditavam 
que a Terra poderia ser esférica2. Além disso, alguns filósofos gregos chegaram a tentar 
medir a circunferência da Terra, com base em cálculos matemáticos da época. Foi o 
caso Eratóstenes (276 aC – 195 aC), considerado por alguns como “pai da Geografia”, 
quem mediu a circunferência do planeta e chegou num valor muito próximo do aceito 
nos dias atuais: 39.700km3. 
Os gregos antigos também traçaram subdivisões do globo terrestre em linhas 
paralelas, chamadas por eles de climata, mas, diferentemente das zonas climáticas 
que conhecemos hoje, eram zonas com significado astronômico e matemático:
Essas zonas, ao contrário dos climas modernos, tinham um 
significado geográfico e astronômico e não meteorológico. A duração 
do dia mais longo era pouco mais ou menos a mesma para todas 
as terras no interior de uma zona. Climata derivava da palavra grega 
clima, que significava “inclinação”, visto que a duração do dia era 
sempre determinadapela inclinação do Sol era visto em cada lugar. 
Na zona próxima do pólo, o dia mais longo durava mais de 20 horas, 
enquanto perto do equador a luz do dia nunca durava mais de 12 
horas. No meio havia zonas onde o dia mais longo durava todos os 
vários diferenciais (BOORSTIN, 1989, p.3).
Estrabão (64 a.C – 25 a.C) apontou especificidades climáticas para essas zonas, 
já que o filósofo “insistia em que as climata tórridas de ambos os lados do equador, 
onde o Sol permanecia diretamente por cima durante meio mês em cada ano, tinham 
uma fauna e flora características” (BOORSTIN, 1989, p.3).
Já o filósofo Hiparco (190 -120 a.C.) combinou essas linhas paralelas (climata) com 
linhas meridionais, criando um “mapa mundi” baseado em observações de latitude e 
longitude. Este filósofo subdividiu a Terra em 360 partes, com linhas meridionais com 
intervalos de 112, 5 km (próximo à dimensão em graus formulada pelos geógrafos 
modernos). 
Finalmente, foi Ptolomeu (90-168 d.C.) quem aperfeiçoou os conhecimentos espaciais 
produzidos por todos esses pensadores. Ptolomeu é famoso pelo seu modelo de 
representação do universo em que a Terra se encontra no centro, sendo orbitada pelo 
Sol, Lua e demais astros. No entanto, seus estudos vão além desse modelo. Na obra 
Geografia, o filósofo indicou latitudes e longitudes de milhares de pontos do planeta. 
Dados obtidos, em sua maioria, por estimativas matemáticas. Seguindo os passos de 
2 Inclusive, na obra Phoebo de Platão, encontra-se o primeiro testemunho dessa evidência.
3 O valor correto seria 40.008km.
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 8
Hiparco, Ptolomeu subdividiu as 360 partes do globo em partes menores (minutos), e 
estas partes, em novas subdivisões (segundos), em modelo semelhante ao adotado 
nos dias atuais4.
TÍtulo: Mapa do mundo por Ptolomeu
Fonte:https://visualhunt.com/f7/photo/2710790868/c4425b4dbc/
Além dessas teorias sobre as dimensões e outras características físicas do planeta 
Terra, os filósofos gregos também realizaram reflexões sobre o espaço de outra 
natureza, mas que também podem ser entendidas como “saberes espaciais”. Trata-
se dos relatos de viagens produzidas por filósofos como Heródoto e Estrabão, os 
quais elaboraram descrições bastante ricas acerca de regiões do mundo conhecido.
Heródoto, considerado pai da História, descreveu a região que se estendia desde a 
África Subsaariana, passando pela Europa até a Índia na obra mais famosa: História. 
Enquanto Estrabão, autor da obra Geografia, realizou estudo descritivo de todo o mundo 
conhecido em 17 volumes.
4 A título de curiosidade, Ptolomeu também teria sido responsável por estabelecer a convenção de orien-
tar os mapas com o norte voltado para cima e o sul para baixo, assim como o oeste à esquerda e o leste à direita.
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 9
ANOTE ISSO
No âmbito dos saberes espaciais produzidos desde a Antiguidade, podemos 
classificá-los em dois tipos. Em primeiro lugar, o estudo da Terra como um todo. 
Em segundo lugar, a descrição e estudo de partes do mundo conhecido. 
O primeiro enfoque podemos denominar Cosmografia. Já essa geografia mais 
descritiva, relacionada ao estudo de regiões específicas, podemos denominar 
Corografia. São distintos enfoques que estarão presentes no desenvolvimento 
do pensamento geográfico ao longo da história. Tais conceitos podem ser 
aproximados das noções de Geografia Geral e Geografia Regional, respectivamente.
• Cosmografia (“Geografia Geral”)
Estudo da forma e da dimensão da Terra. Saber que dialoga com a Astronomia 
e a Cartografia. Filósofos gregos que praticavam “Geografia Geral”: Anaximandro 
(650 – 615 a.C.), Eratóstenes (276 – 196 a.C.), Hiparco (190 -120 a.C.) e 
Ptolomeu (90-168 d.C.).
• Corografia (“Geografia Regional”)
Descrição dos lugares e de tudo o que nele existe. Trata-se dos saberes 
espaciais produzidos por viajantes, governantes e militares. Saber que dialoga 
com a História, Etnografia, Fisiografia e História Natural. Filósofos gregos que 
praticaram “Geografia Regional”: Heródoto (484 – 425 a. C.) e Estrabão (64 a.C. 
– 21 d.C.).
1.2. Idade Média
A Idade Média é um período descrito por estudiosos do pensamento geográfico 
como de poucos avanços nas técnicas de representação do espaço e, de forma geral, 
na produção de saberes espaciais. Isso porque o mundo conhecido era pensado 
estritamente com base em ideias presentes na cosmologia cristã. 
Sendo assim, acreditava-se que as respostas para toda e qualquer questão estavam 
na Bíblia. Deste modo, pouco se questionava sobre as dimensões do nosso planeta, 
por exemplo. Até mesmo porque acreditava-se que a Terra era plana. O período da 
Idade Média na Europa também foi caracterizado por certa estagnação no que se 
refere aos deslocamentos geográficos. Nesse sentido, pouco se produziu em termos 
de conhecimentos sobre lugares distantes.
Quanto à cartografia, os mapas produzidos nesse período também seguiam preceitos 
da cosmologia cristã. Assim, uma representação espacial comum naquele período era 
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 10
o chamado mapa T.O. Nessa representação de mundo, a Terra é plana e representada 
como um disco dividido por uma corrente de água em forma de “T”. 
O continente asiático era posicionado acima do “T” no mapa, enquanto a Europa 
estava posicionada abaixo e à esquerda. A África, por outro lado, localizava-se por 
baixo e à direita. Nessa representação de mundo, o oceano rodeava todo o “disco”. 
A África e a Europa estavam separadas pelo mar mediterrâneo. Enquanto os rios 
Danúbio e Nilo separavam a Ásia dos outros continentes, formando a barra horizontal 
do “T”, tal como na figura abaixo:
Título: Mapa da Terra habitada produzido na Idade Média.
Fonte:https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/70/T_and_O_map_Guntherus_Ziner_1472.jpg
Enquanto os europeus vivenciaram poucos avanços no que se refere à cartografia 
e demais estudos sobre o espaço, outros povos, por outro lado, socializaram 
conhecimentos espaciais de maneira distinta. 
Em sua expansão pelo Oriente Próximo, os árabes, por exemplo, produziram mapas 
e descrições geográficas bastante ricas. Destacam-se, nesse cenário, as produções 
de viajantes como Ibn Batuta, Ibn Jalden e Al-Adrisi (CAPEL & URTEAGA, 1982). 
Também foram os árabes os principais intermediários entre o mundo cristão e 
os chineses. Estes últimos também foram responsáveis pela produção de saberes 
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 11
espaciais bastante elaborados, tendo em vista as demandas por informações sobre 
o espaço para fins administrativos e militares do antigo Império Chinês:
Os chineses confeccionaram mapas muito precisos de seu território. 
Antes do século I já existiam geógrafos imperiais que elaboravam 
e sistematizavam a informação; nos séculos seguintes foram 
realizados mapas com escalas, com sistemas de coordenadas 
retangulares, com representação de rios e com medidas de altitude 
de montanhas. Não era propriamente uma cartografia baseada em 
observações astronômicas, embora estime-se que desde o século VIII 
tenham sido realizados esforços para unir as coordenadas celestes e 
terrestres. Desde 1155 existiam mapas impressos, o que na Europa 
só se efetivou três séculos mais tarde. Joseph Needham assinala que 
também na cartografia o avanço chinês em relação aos europeus era, 
em alguns aspectos, de um milênio. (CAPEL & URTEAGA, 1982, p.8)
Durante os mil anos de Idade Média, a palavra “geografia” não teve uso corrente. 
A expressão, inclusive, só entrou na língua inglesa em meados do século XVI. Tal 
dado reforça o sentido de estagnação do desenvolvimento do pensamento geográfico 
durante o período em questão.
1.3. Idade Moderna: Grandes navegações e a Revolução Científica
Se a Idade Média representou um período de poucos avançosno desenvolvimento 
do pensamento geográfico, esse cenário mudou na era seguinte. O período da história 
conhecido como Idade Moderna (1453-1789) é caracterizado por muitas descobertas 
no que tange aos conhecimentos sobre a Terra, às informações sobre lugares distantes 
e às técnicas cartográficas. Muitos desses avanços foram possibilitados pelas grandes 
navegações. 
Até o século XVI, África, Ásia e Europa se resumiam ao mundo conhecido para os 
europeus. Em 1522, os espanhóis descobrem novas terras ao navegar no oceano 
atlântico em direção ao oeste. O evento, por sua vez, foi antecedido pela descoberta 
de nova rota para Ásia, quando os portugueses dobraram o cabo da Boa Esperança, 
em 1488, e abriram caminho para novas expedições pelo oceano atlântico. O que se 
seguiu foram anos de grandes navegações pelo mundo. 
As grandes navegações possibilitaram o acesso a informações sobre a extensão do 
planeta e sobre características naturais de várias partes do globo, bem como dados 
sobre povos distantes. Além disso, ao mesmo tempo que as navegações por grandes 
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 12
distâncias foram possibilitadas graças ao desenvolvimento de técnicas náuticas, esse 
processo também auxiliou no desenvolvimento ainda maior dessas técnicas, bem 
como dos conhecimentos cartográficos. Nesse cenário, centros de estudos náuticos 
e cartográficos foram criados por toda a Europa5.
Além das grandes navegações, outro processo histórico que impacta a produção 
de conhecimentos espaciais na Idade Moderna é o processo de mudanças filosóficas 
e científicas do período. Com o advento do Renascimento e da Revolução Científica, 
emergem no cenário intelectual europeu novas percepções sobre a natureza, o planeta 
Terra e o universo. 
No século XVI, Nicolau Copérnico (1473-1543) desenvolve modelo teórico que se 
contrapõe ao Geocentrismo até então defendido por filósofos e matemáticos. Até 
Copérnico, acreditava-se que a lua, o sol e os demais astros giravam ao redor da 
Terra. Ocorre que este filósofo desenvolveu um modelo em que o Sol seria o centro do 
cosmo. Tal modelo foi aperfeiçoado por Galileu Galilei, no século XVII, e é aceito até os 
dias atuais. Evidentemente, os estudos sobre a esfera terrestre foram afetados pelo 
triunfo da concepção copernicana, “o que exigiu a elaboração de uma nova geografia, 
que levasse em conta os movimentos da Terra e seus efeitos nos diversos lugares do 
Globo” (CAPEL & URTEAGA, 1982, p. 10).
Com Galileu (1562 – 1642), inicia-se a nova física e o paradigma conhecido como 
mecanicismo. Segundo a visão mecanicista, os fenômenos da natureza poderiam 
ser explicados em analogia às máquinas. Desta forma, tais como os dispositivos 
mecânicos, os fenômenos da natureza se comportariam como matéria em movimento. 
ANOTE ISSO
Por paradigma, podemos entender a tradição intelectual comum pela qual a 
comunidade científica trabalha. Um mesmo paradigma pode ser compartilhado 
por cientistas por bastante tempo, até que surjam novas questões, teorias e 
descobertas que coloquem em xeque esse paradigma vigente. Com a ruptura do 
paradigma vigente, tem-se a instauração de um novo. 
5 Não por acaso, no século XVI são publicados os famosos atlas de Abraham Ortelius (1527-1598) e Gerghard Mercator (1512-1594). 
Ortelius é considerado o autor do primeiro Atlas moderno, enquanto Mercator desenvolveu o mapa-múndi com a projeção cartográfica mais 
conhecida nos dias atuais. Parte do seu trabalho, inclusive, foi inspirado nos escritos de Ptolomeu, autor que passou a ser bastante revisitado 
nesse período. 
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 13
Além do mecanicismo de Galileu, a Era Moderna é marcada também pelo paradigma 
do racionalismo cartesiano. No racionalismo, parte-se de perspectiva universalista 
para pensar o mundo. De modo a responder questões universais, o caminho apontado 
pelos filósofos racionalistas é o da observação do que é palpável. 
A partir dessa observação, busca-se encontrar causas e leis gerais que expliquem 
os fenômenos do mundo (sejam eles naturais ou sociais). Nessa corrente, as ciências 
naturais são modelos para formular questões e para traçar caminhos na busca de seus 
resultados. O principal representante dessa corrente é René Descartes (1596-1690). 
Título: René Descartes
Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Ren%C3%A9_Descartes#/media/Ficheiro:Frans_Hals_-_Portret_van_Ren%C3%A9_Descartes.jpg
O mecanicismo e o racionalismo são paradigmas que marcam o que chamamos de 
Revolução Científica da Era Moderna. Nesse período, a ciência desponta como saber 
privilegiado para pensar o mundo. Tal background possibilita a institucionalização dos 
saberes espaciais como uma nova ciência (a “ciência geográfica”) séculos depois.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ren%C3%A9_Descartes#/media/Ficheiro:Frans_Hals_-_Portret_van_Ren%C3%A9_Descartes.jpg 
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 14
AULA 2
A GEOGRAFIA E A 
ERA DAS “LUZES”
Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/globo-de-mesa-multicolorido-414916/
Dando prosseguimento ao estudo sobre o desenvolvimento de um pensamento 
geográfico no mundo, nesta aula, vamos nos atentar a um período específico da 
história em que o espaço foi base para reflexões filosóficas e políticas. Estamos nos 
referindo ao Iluminismo, período histórico caracterizado por uma efervescência de 
debates científicos e filosóficos na Europa. Algumas das ideias que surgem nesse 
período influenciarão profundamente a formulação das bases da sistematização da 
ciência geográfica no século XIX.
Conforme apontamos na aula anterior, no século XVII são lançadas as bases da ciência 
e da filosofia moderna por filósofos como René Descartes (1596-1650) e Galileu Galilei 
https://www.pexels.com/pt-br/foto/globo-de-mesa-multicolorido-414916/
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 15
(1564-1642). No século XVII, observa-se o amadurecimento de muitas dessas reflexões. 
As descobertas de Isaac Newton no campo da física, por exemplo, contribuem para a 
consolidação do paradigma do mecanicismo na ciência. O racionalismo cartesiano se 
estabelece também como paradigma que, ademais, influencia o pensamento científico 
até os dias atuais. 
Durante toda a Idade Média os pressupostos religiosos serviram como ferramentas 
para entendimento do mundo. No entanto, no século XVII, a Revolução Científica traz 
para a Europa a fé no empirismo e no racionalismo. Estes pressupostos se consolidam 
ainda mais no século XVIII:
As correntes filosóficas do século XVIII vão propor explicações 
abrangentes do mundo; formulam sistemas que buscam a 
compreensão de todos os fenômenos do real. A meta geral de todas as 
escolas, neste período, será a afirmação das possibilidades da razão 
humana; a aceitação da existência de uma ordem, na manifestação 
de todos os fenômenos, passível de ser apreendida pelo entendimento 
e enunciada em termos sistemáticos; uma fé na viabilidade de uma 
explicação racional do mundo. Esta postura progressista insere-se no 
movimento de refutação dos resquícios de ordem feudal, pois esta se 
apoiava numa explicação teológica do mundo. Propor a explicação 
racional do mundo implicava deslegitimar a visão religiosa, logo, a 
ordem social por ela legitimada (MORAES,1981, p.53).
No campo de discussão sobre a sociedade, o racionalismo era perspectiva que 
norteava a filosofia política. Os filósofos políticos do Iluminismo refletiam sobre 
questões como Estado e governabilidade. Eles formulam as bases do pensamento 
crítico às antigas formas de governo, especialmente, a monarquia absolutista.
2.1. Racionalismo x Empirismo 
Conforme estudamos na Aula 1, o início da Idade Moderna (séculos XVI e XVII) é 
marcado pelos paradigmas do mecanicismo e do racionalismo cartesiano no cenário 
intelectual europeu. Segundo esta última corrente,a base do conhecimento provém 
da razão. Para o maior representante deste paradigma, René Descartes (1596 – 
1650), o mundo era organizado segundo leis simples que poderiam ser alcançadas 
racionalmente.
No final do século XVIII, surgem reações à perspectiva cartesiana de mundo. O filósofo 
britânico David Hume (1711-1776), teceu críticas ao racionalismo cartesiano, alegando 
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 16
que o conhecimento não deriva de uma razão transcendente, mas da experiência 
sensível. Logo, para esse filósofo, os sentidos eram os meios pelos quais alcançamos 
o real. Essa ênfase na dimensão da experiência é o que denominamos de Empirismo.
Título: David Hume
Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/David_Hume#/media/Ficheiro:Painting_of_David_Hume.jpg
ANOTE ISSO
A perspectiva empirista norteará profundamente as formulações teóricas das 
primeiras escolas de Geografia. Conforme estudaremos nas próximas aulas, 
até a segunda metade do século XX, o empirismo será um dos traços mais 
característicos da ciência geográfica.
Embora o Empirismo representasse certo contraponto com o Racionalismo, ambos 
movimentos compõem o chamado Iluminismo. Nessas doutrinas de pensamento, havia 
ênfase na racionalização e na experimentação no processo de busca por compreensão 
do real. São movimentos que marcam uma era de efervescência intelectual em que vivia 
o continente europeu, caracterizada pela busca incansável pela compreensão do mundo, 
através do pensamento e de técnicas de experimentação. Essas são características 
do chamado Iluminismo, ou a Era das Luzes (uma contraposição à “Era da Trevas” 
que seria, nessa perspectiva, a Idade Média).
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 17
2.2. Filosofia e Immanuel Kant
Entre os filósofos iluministas do século XVIII, podemos destacar Immanuel Kant 
como aquele que realizou reflexões mais aprofundadas sobre a dimensão espacial. 
Kant foi um filósofo prussiano, nascido na cidade de Königsberg, em 1724. Iniciou 
seus estudos em teologia na Universidade de Königsberg apenas com 16 anos de 
idade. Na mesma universidade, aprofundou seus estudos em filosofia, doutorando-se 
nessa área em 1754. Também se interessava pelas ciências naturais, tendo estudado 
sobre física e matemática ao longo de sua vida.
Após seu doutorado, Kant trabalhou como livre-docente na Universidade de 
Königsberg. Em 1770, ele ocupou a cátedra de Lógica e Metafísica desta mesma 
universidade. Kant ocupou essa cadeira até a sua morte, em 1806. Entre 1756 e 1796, 
o filósofo lecionou o que então se denominava “Geografia Física”. Juntamente com a 
“antropologia”, as aulas de “geografia” serviram a este pensador como ponto de apoio 
para a formação de sua filosofia: 
As aulas de geografia serviam a Kant, ao lado da antropologia 
pragmática, como ponto de apoio de sua busca de formação de 
uma sistemática nova para a filosofia, sua área de atuação real. 
Através da geografia Kant procurava formar um conceito crítico 
da natureza e através da antropologia pragmática um conceito 
crítico do homem, conceitos estes capazes ao mesmo tempo 
de permitir-lhe dar contemporaneidade a uma filosofia defasada 
diante de uma ciência que se lhe avançara bem mais adiante, 
mercê o surgimento da física newtoniana, e equacionar a separação 
entre a natureza e o homem que desde Descartes aparecera na 
forma de um objeto e sujeito dissociados. A geografia que está 
nascendo na Alemanha é, assim, prima-irmã da filosofia crítica que 
igualmente está nascendo pelas mesmas mãos do mesmo Kant, 
trazendo consigo traços importantes dessa filosofia, em particular 
o papel da percepção e do espaço no processo do conhecimento 
(MOREIRA, 2008, p.17/18).
Inspirando-se nas críticas de David Hume na primeira metade do século XVIII 
ao paradigma da ciência em voga (especialmente, o racionalismo cartesiano), Kant 
defendia a ideia de que o conhecimento é baseado na percepção que os seres humanos 
têm dos fenômenos:
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 18
Para Kant o conhecimento nos é dado inicialmente pela rede das 
nossas sensações corpóreas. Nasce com elas o conhecimento 
empírico. Esse conhecimento empírico advém da junção das 
informações sensórias – singulares e isoladas por provirem das 
formas diferentes das sensações (a visão, o tato, o olfato, a gustação) 
–, pela percepção numa imagem reprodutora dos objetos do mundo 
externo. Nesse processo, diferem a percepção interna, reveladora do 
homem (objeto da antropologia pragmática), e a percepção externa 
(objeto da geografia), reveladora da natureza. Uma separação que 
deve ser superada pelo conceito, quando então o conhecimento senso-
perceptivo se torna um conhecimento sistemático e generalizado no 
nível abstrato do pensamento (MOREIRA, 2008, p.18).
Immanuel Kant
Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Immanuel_Kant#/media/Ficheiro:Immanuel_Kant_(portrait).jpg
Segundo Kant, cabe à ciência estabelecer uma classificação para esses fenômenos 
apreendidos pelas sensações corpóreas, bem como alcançar as leis às quais eles 
estariam submetidos. Seguindo essa linha de raciocínio kantiana na análise acerca 
da dimensão espacial dos fenômenos, estes últimos não seriam “dados” justapostos 
espacialmente. O espaço é, para Kant, uma estrutura do nosso entendimento. O 
mesmo vale para o tempo. Desta maneira, o papel da Geografia seria o de identificar 
as estruturas espaciais reveladas pela nossa experiência:
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 19
A geografia tem como principal missão compreender a diferenciação 
regional da Terra. Porém, isto não a reduz à descrição. A distinção 
entre disciplina ideográfica (que descreve o que é único) e nomotética 
(que põe em evidência as regularidades) é uma das finalidades dos 
neokantianos do fim do século XIX, mas não está presente em Kant. 
Para ele, a geografia deve explicar a especificidade de cada parte da 
Terra e a recorrência de certos temas (CLAVAL, 2006, p.55).
Kant também distingue os objetivos da Geografia e da História. A primeira se 
ocuparia com a descrição dos lugares, enquanto a segunda, o registro da sucessão 
de acontecimentos.
Geografia e história nascem, pois, de um mesmo processo, o da 
localização dos fenômenos, porém em ordens de distinta qualidade, 
a geografia localizando-os no espaço e a história no tempo, por isso 
mesmo nascendo diferentes e separadas. A história nasce como o 
registro dos acontecimentos na sucessão, ao passo que a geografia 
no da coabitação. A forma de leitura da história é a narrativa, enquanto 
a da geografia é a descrição. A geografia e a história firmam-se, pois, 
como saberes separados, mas unificadas pela filosofia. Assim, embora 
distintas, geografia e história se encontram. Pelo olhar da filosofia, a 
história é uma geografia contínua e a geografia uma história cortada pela 
descontinuidade. Pode, assim, haver uma história como uma geografia 
da Antiguidade, por exemplo, uma vez que os acontecimentos históricos 
ocorrem num lugar geográfico e os acontecimentos geográficos ocorrem 
num contexto de tempo histórico. Como, pensa Kant, a geografia é a 
descrição natural da natureza, segue-se que ela subestrutura a história 
e a antecede. Substrato da história, a descrição da natureza dá o tom 
da definição da geografia em sua lida com os fenômenos humanos 
(MOREIRA, 2008, p. 18/19).
ANOTE ISSO
A Filosofia de Kant influencia fortemente a percepção dos trabalhos de muitos 
geógrafos alemães do século XIX e XX, entre eles, Alexander von Humboldt, 
Ferdinand von Richthofen e Richard Hettner.
2.3. Saberes espaciais e o nascimento do Estado Moderno
Além do contexto de efervescência do pensamento científico e filosófico, a Idade 
Moderna foi o período de consolidação do Estado. Nesse processo, os saberes espaciais 
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIASALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20
assumem também importância política estratégica para os governantes. Os estudos 
sobre o espaço ganham uma guinada.
Título: Luís XIV
Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Absolutismo#/media/Ficheiro:Louis_XIV_of_France.jpg
Para que o Estado Moderno se expandisse, a obtenção de dados demográficos e 
econômicos de regiões era essencial. Cabia aos “geógrafos” da época colher essas 
informações para as suas descrições regionais. Assim, foram produzidos importantes 
registros de características físicas, demográficas e sociais de regiões administradas 
por governos em ascensão.
O campo da cartografia, especialmente, tem atenção desses Estados em formação. 
Segundo CLAVAL (2006), na França de Luiz XIV, observa-se investimentos em grande 
escala no que se refere às produções cartográficas:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Absolutismo#/media/Ficheiro:Louis_XIV_of_France.jpg
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 21
A França de Luíz XIV lança pela primeira vez uma operação 
de cartografia à escala de um grande país; a medição do arco 
meridiano, a organização de uma triangulação de primeira ordem 
e depois de segunda ordem sobre o conjunto do país, e a primeira 
carta topográfica seguindo as regras são obra da dinastia Cassini 
(Jean-Dominique, 1675-1712; Jacques, 1677-1756; Cassini de Thury, 
1711-1784; Jacques-Dominique, 1748-1845) entre 1680 e 1793. O 
levantamento do mapa tem lugar de 1750 até à Revolução: a escala, 
1/86400, torna-o precioso para o traçado de estradas ou para a 
condução de operações militares (CLAVAL, 2006, p. 47).
Ademais, no século XVIII, “geógrafo” e “cartógrafo” eram profissões que, muitas 
vezes, confundiam-se. A partir de 1800, essas atribuições vão se distinguindo (embora, 
como sabemos, a Geografia nunca tenha deixado os estudos cartográficos de lado). 
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 22
AULA 3
SOCIEDADES DE GEOGRAFIA
Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/antigo-antepassados-anciao-antiguidade-697662/
Conforme discutimos nas aulas anteriores, ao longo da história, a humanidade produziu 
saberes espaciais diversos. Porém, a Geografia tal como a conhecemos tem suas origens 
no século XIX, quando surgem as primeiras cátedras desta disciplina em universidades. 
Naquele momento, consolidava-se o saber geográfico como ciência. Por uma série de 
fatores, que serão discutidos na aula seguinte, as primeiras cátedras duradouras de 
Geografia surgem na Alemanha. 
A recém-nascida geografia universitária, entretanto, herdará muitos conhecimentos 
produzidos no seio de outra instituição científica: as chamadas Sociedades de Geografia. 
As Sociedades de Geografia são associações científicas formadas a partir da década 
de 1820 (mas, cujo momento áureo de sua atuação se deu entre as décadas de 1870 e 
1890). Elas atuavam como centros de trocas de conhecimentos sobre regiões até então 
pouco conhecidas para os europeus. Para isso, tais associações promoviam expedições 
científicas para diversas partes do mundo, bem como divulgavam os conhecimentos 
produzidos pelos seus pesquisadores em meios próprios, como revistas. Dessa forma, 
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23
na presente aula, vamos estudar as Sociedades de Geografia, enfatizando o seu papel 
para a sistematização da ciência geográfica no século XIX.
3.1 Sociedades de Geografia no mundo
Conforme discutimos na Aula 1, o século XVI foi marcado como a época das grandes 
navegações no âmbito do desenvolvimento da fase mercantilista do capitalismo. No 
decorrer dos séculos, as potências europeias prosseguiram na busca pela conquista de 
novos territórios para exploração de recursos naturais.
As Sociedades de Geografia surgem na primeira metade do século XIX. Inicialmente, 
suas atividades se concentravam no levantamento de informações sobre povos e regiões 
do mundo por viajantes e naturalistas, e na produção de mapas sobre essas regiões 
até então desconhecidas. Tais conhecimentos foram sendo acumulados no seio dessas 
instituições. Na segunda metade do século, esses conhecimentos acumulados foram 
cada vez mais sendo articulados para fins de dominação imperialista. 
A primeira Sociedade de Geografia criada foi a Sociedade Geográfica de Paris, em 1821. 
Em seguida, são criadas a Sociedade de Geografia de Berlim, em 1828; a Real de Geografia 
de Londres, em 1830; a Sociedade Geográfica Russa de São Petersburgo, em 1885. 
ISTO ESTÁ NA REDE
Você conhece a origem da famosa revista National Geographic? Pois bem, a revista 
foi criada no seio da National Geographic Society, uma Sociedade de Geografia 
fundada nos Estados Unidos no ano de 1888.
Edição de janeiro de 1915 da National Geographic. 
Fonte:https://upload.wikimedia.org/ 
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 24
A Sociedade Geográfica Nacional (National Geographic Society) foi fundada com 
o intuito de produzir e difundir conhecimento geográfico para o público geral. Para 
cumprir tal tarefa, essa Sociedade de Geografia fundou a The National Geographic 
Magazine, revista criada para difundir o conhecimento resultante das expedições de 
exploração pelo mundo financiadas pela organização. 
A National Geographic Society existe até os dias de hoje, embora os propósitos 
possam ter sido alterados ao longo do tempo. De qualquer maneira, a organização 
até hoje financia pesquisas ao redor do mundo. Mais conhecida que a sociedade 
em questão se tornou a revista que, posteriormente, foi renomeada, tornando-se 
“National Geographic” apenas.
A revista National Geographic é bastante conhecida pelas fotografias e pelas 
reportagens sobre diversas regiões do mundo. Atualmente, é publicada em 
diversos países, possuindo, inclusive, uma edição brasileira: National Geographic 
Brasil. Desde 1997, o selo National Geographic também é um canal de televisão. 
A National Geographic Society fornece ao canal seu acervo para consulta, dados e 
profissionais (cientistas e documentaristas) do mundo.
Para conhecer mais: 
https://www.nationalgeographicbrasil.com/
https://www.nationalgeographic.org/ (em inglês)
Na segunda metade do século XIX, conforme comentei anteriormente, as Sociedades 
de Geografia vão se alinhar cada vez mais aos interesses imperialistas das potências 
europeias. A prova disso é a realização da Conferência Internacional de Geografia em 
1876, em Bruxelas, convocada pelo rei belga Leopoldo II. A Conferência contou com 
a participação de representantes de Sociedades de Geografia de vários países, e o 
objetivo do evento era se debruçar sobre o continente africano para fins de dominação 
e exploração dos recursos:
A Conferência de Bruxelas teve por objetivo, traçado pelo próprio 
Leopoldo II em seu discurso de inauguração solene, a tarefa de 
debruçar-se sobre o continente africano, com o intuito de “abrir à 
civilização a única parte de nosso globo em que ela não havia ainda 
penetrado... conferenciar para acertar o passo, combinar esforços, 
tirar partido de todos os recursos, de evitar a duplicação de trabalho” 
(MOREIRA, 12, P.12).
Ao mesmo tempo que o fim do século XIX representa o apogeu da criação das 
Sociedades de Geografia, também representa o início de seu declínio. Entre 1870 e 
1920, a antropologia começa a ocupar o lugar como campo do saber destinado à 
https://www.nationalgeographicbrasil.com/
https://www.nationalgeographic.org/
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 25
pesquisa sobre povos e lugares distantes. Até então, esse lugar era ocupado pela 
Geografia. Em realidade, esses conhecimentos caminhavam junto ao da Geografia 
no seio das sociedades geográficas.
Título: O Rei D. Carlos I na abertura da convenção de 1905 da Sociedade de Geografia de Lisboa.
Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_de_Geografia_de_Lisboa#/media/Ficheiro:Carlos_I_sociedade_geographico.png3.2.Sociedades de Geografia no Brasil
As sociedades de geografia também se expandiram além da Europa, sendo criadas, 
inclusive, no Brasil. Aqui, a primeira Sociedade de Geografia fundada foi o Instituto 
Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1838. Em 1883, fundou-se a Sociedade de Geografia 
do Rio de Janeiro, na então capital do Império. 
O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro surge alguns anos depois da 
Independência do Brasil, em relação a Portugal. Não por acaso, naquele período, o 
IHGB teve importância para criar uma identidade nacional para aquele Estado em 
formação. Isso porque a Geografia era a área do conhecimento estratégico para dar 
cabo a esse projeto político. O Brasil não possuía uma “história oficial” como nação, 
logo, as características geográficas do território brasileiro (como as riquezas naturais, 
por exemplo) eram dados a serem explorados no âmbito do discurso nacionalista. 
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 26
A partir da Independência, a extensão de um domínio territorial em 
grande parte “desconhecido” e os riscos de fragmentação política, 
somados à ausência de uma história oficial capaz de selecionar 
elementos do passado que alimentassem uma ideia nacional, 
eram percebidos com preocupação por um Estado nascente como 
o brasileiro, que buscava definir uma identidade própria capaz de 
orientar sua atuação tanto no plano interno como externo. Para a 
conformação dessa identidade foram convocadas diversas áreas do 
conhecimento e da produção intelectual, dando origem, no começo 
do Império, a órgãos de cultura oficiais, criados com a missão política 
de tornar mais objetiva e palpável a noção abstrata de pátria, ou seja, 
para “desenhar-lhe um rosto [...], moldar sua imagem de realidade”. 
Entre esses órgãos cabe ressaltar o IHGB, que, mais do que qualquer 
outro, simbolizou a institucionalização de um lugar de saber onde a 
idéia de Brasil – constituída por sua história e sua geografia – fosse 
possível (PEREIRA, 2005, p.11).
A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, por outro lado, surge em contexto 
diverso do surgimento do IHGB. Nas últimas décadas do século XIX, o país passava 
por um momento de redefinição da identidade nacional e busca pela inserção no 
mundo industrializado. O poder imperial estava em crise, fato que culminou com a 
instauração da República, em 1889. A Geografia permanecia como um campo de 
conhecimento central para a consolidação desse momento político, e a SGRJ teve 
muita importância na legitimação de saberes espaciais para a era republicana. 
Título: Capa da edição de 1889 da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_Hist%C3%B3rico_e_Geogr%C3%A1fico_Brasileiro#/media/Ficheiro:IHGB_revista_1889.jpg
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 27
Título: Sede do IHGB no Rio de Janeiro.
Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_Hist%C3%B3rico_e_Geogr%C3%A1fico_Brasileiro#/media/Ficheiro:IHGB_01.jpg
Instituições como as Sociedades de Geografia existem até os dias atuais. No Brasil, 
o IHGB, por exemplo, mantém-se ativo. A instituição é responsável pela produção da 
Revista do Instituto Histórico e Geográfico, cuja primeira edição data 1838. Embora a 
função do IHGB não seja a mesma do período de sua fundação, a organização ainda 
trabalha pela preservação da memória nacional, bem como, divulgando estudos de 
seus membros e outras entidades congêneres espalhadas pelo mundo.
3.3 Sistematização dos saberes espaciais: Sociedades de Geografia e a Geografia 
Universitária
Apesar da importância das Sociedades de Geografia para a sistematização 
da Geografia Universitária, algumas distinções acerca dos propósitos de cada 
instituição precisam ser feitas. No caso das Sociedades de Geografia, os saberes 
espaciais produzidos nessas instituições serviam a um público mais amplo que o 
das Universidades. Por outro lado, a Geografia que começou a ser produzida nas 
Universidades era orientada para propósitos de formação acadêmica e pesquisa dentro 
dos moldes estabelecidos pela comunidade acadêmica.
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 28
Sistematização da Geografia na Era Moderna
Sociedades de Geografia
“A [Geografia] que se produz nas Sociedades de Geografia é um 
conhecimento de tudo que se refere a povos e territórios dos 
diferentes cantos do mundo, reunindo as Sociedades viajantes, 
naturalistas, militares e cientistas de várias procedências 
acadêmicas”. (MOREIRA, 2012, p.11)
Geografia acadêmica
“A [Geografia] que se produz nas Universidades tem um cunho 
especificamente científico e reúne professores e pesquisadores 
formados e | 12 | dedicados ao desenvolvimento e atualização 
das teorias e métodos científicos que dão embasamento à 
ciência geográfica” (MOREIRA, 2012, p.11/12).
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 29
AULA 4
SÉCULO XIX: 
INSTITUCIONALIZAÇÃO DA 
GEOGRAFIA UNIVERSITÁRIA
Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/sala-para-cadeiras-356065/
Até o século XIX, os saberes espaciais eram bastante dispersos, e estavam 
relacionados às práticas de produção de mapas, estudos sobre dimensões da Terra, 
relatos descritivos de lugares do planeta e, é claro, às pesquisas das diversas sociedades 
geográficas espalhadas pelo mundo. Foi somente com o surgimento da geografia 
acadêmica que surgem propostas mais elaboradas de sistematização de todos esses 
conhecimentos.
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 30
A sistematização dos conhecimentos espaciais sob a forma de ciência geográfica 
ocorre na Alemanha, graças a uma série de fatores, sendo o principal deles o clima de 
unificação nacional da aristocracia alemã daquele período. Esse cenário impulsiona o 
desenvolvimento da Geografia, saber estratégico para pensar território e nacionalismo.
O processo de institucionalização da geografia no espaço acadêmico/científico ocorre 
também graças aos esforços de dois autores prussianos: Alexander von Humboldt 
e Karl Ritter. Ambos foram influenciados fortemente pela corrente de pensamento 
conhecida como Romantismo Alemão e por formulações científicas provindas das 
ciências naturais. Esses teóricos também são chamados pais da Geografia Moderna.
Nesta aula, então, estudaremos um pouco sobre o contexto de surgimento da 
geografia acadêmica na Alemanha, suas bases e influências, dando especial atenção 
ao estudo do pensamento dos seus fundadores: Humboldt e Ritter.
4.1. Contexto sociopolítico da Alemanha do século XIX
Até 1870, o que podemos denominar de Alemanha, na realidade, era um conjunto 
de diferentes unidades territoriais com traços culturais em comum. No início do século 
XIX, os aristocratas desses reinos menores, influenciados pelo processo de formação 
de outros Estados europeus, começa a nutrir o desejo de unificação nacional. Nesse 
cenário, uma primeira tentativa de unificação ocorreu em 1815, com a criação da 
Confederação Germânica.
Título: Confederação Germânica (1815-1866)
Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Confedera%C3%A7%C3%A3o_Germ%C3%A2nica#/media/Ficheiro:Deutscher_Bund.png
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 31
A Confederação Germânica incluía os reinos da Áustria e da Prússia, além de 
ducados e principados da região. Com a instauração da Confederação Germânica, 
essas unidades administrativas menores puderam estreitar suas relações econômicas 
e políticas. Apesar de ser um cenário ainda distante de um Estado Nacional - tendo em 
vista que muitas divergências se mantiveram presentes entre esses reinos confederados 
- esse contexto possibilita a efervescência de reflexões espaciais.
A discussão geográfica se torna fundamental para pensar a unificação política 
diante de um quadro de diversidade territorial. Membrosdas classes dominantes da 
região se debruçaram sobre questões como divisão do espaço e domínio territorial 
naquele contexto:
A falta da constituição de um Estado nacional, a extrema diversidade 
entre os vários membros da Confederação, a ausência de relações 
duráveis entre eles, a inexistência de um ponto de convergência das 
relações econômicas – todos estes aspectos conferem à discussão 
geográfica uma relevância especial, para as classes dominantes da 
Alemanha, no início do século XIX. Temas como domínio e organização 
do espaço, apropriação do território, variação regional, entre outros, 
estarão na ordem do dia na prática da sociedade alemã de então. É, 
sem dúvida, deles que se alimentará a sistematização geográfica. Do 
mesmo modo como a Sociologia aparece na França, onde a questão 
central era a organização social (um país em que a luta de classes 
atingia um radicalismo único), a Geografia surge na Alemanha onde 
a questão do espaço era a primordial (MORAES, 1981, p.61).
Somado ao contexto de crescimento do projeto político, o Romantismo Alemão 
(movimento que dialoga com o movimento nacionalista) e o empirismo entram em 
cena para fornecer as bases da Geografia Moderna. 
4.2. Romantismo Alemão
No período em que a Europa vivia a Era das Luzes, a Alemanha1, entretanto, vivenciava 
outros movimentos intelectuais. No século XV, no contexto da Reforma Protestante, 
os alemães estavam ocupados com questões de ordem religiosa e observava-se a 
predominância de pensamento teológico nas produções artísticas e intelectuais. 
Somente entre os séculos XVII e XVIII, os alemães começam a se aproximar do 
pensamento dominante europeu, com Kant e o seu Iluminismo Alemão. No entanto, 
1 O que estamos denominando “Alemanha”, como vocês já sabem, trata-se do conjunto de reinos, principados e ducados que foram 
unificados no século XVIII.
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32
ainda assim, a Alemanha estava, de certa forma, à margem da produção intelectual do 
continente. Essa situação muda no final do século XVIII, quando surge um movimento 
artístico e intelectual que se tornará o novo paradigma em todo o continente europeu: 
o Romantismo.
 O espírito do nacionalismo será peça chave para o surgimento e desenvolvimento do 
Romantismo. Tal movimento nasce como um contraponto ao racionalismo da ciência 
e filosofia modernas. Enquanto este último priorizava o pensamento universalista 
(buscava-se, sobretudo, causas e leis gerais para explicar os fenômenos do mundo, 
sejam eles naturais ou sociais), o Romantismo, por outro lado, valorizava o particularismo 
no pensamento.
De modo a responder questões de ordem universal, os racionalistas indicavam 
a observação daquilo que era palpável. Em oposição, o movimento romântico 
valorizava o pensamento intuitivo e a experiência espiritual (e não meramente 
material).
No que diz respeito às reflexões de ordem social, os racionalistas priorizavam a 
noção de sociedade em suas análises. Tal noção remete à ideia de um conjunto de 
cidadãos detentores de liberdades individuais. O pensamento romântico, por outro 
lado, valorizava o sentido de comunidade. 
No fim do século XVIII e em grande parte do século XIX, o Romantismo já se 
configurava como paradigma vigente não somente na Alemanha como por toda a 
Europa, dominando as produções intelectuais e artísticas da época.
ANOTE ISSO
A sistematização da geografia como ciência ocorre no contexto de ascensão 
do paradigma romântico. Muitos elementos dessa corrente de pensamento vão 
estar presentes nos trabalhos dos geógrafos fundadores da Geografia Moderna: 
Alexander von Humboldt e Carl Ritter. Além do romantismo, o empirismo será 
marca presente nas formulações desses teóricos.
Agora que já entendemos o background intelectual da institucionalização da 
geografia na Alemanha, vamos conhecer a vida e obra de seus fundadores: Humboldt 
e Ritter!
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 33
4.3 Alexander von Humboldt (1769-1859)
Alexander Von Humboldt nasceu em 1769, em uma família aristocrática prussiana. 
Estudou botânica, história natural, mineralogia, matemática, física e economia política. 
Sua formação ampla tem relação íntima com o projeto científico formulado por esse 
autor. Humboldt defendia a criação de uma nova ciência, a Física do Globo. Tal ciência 
integraria diversos conhecimentos, e pretendia explicar a Natureza e as diferentes 
forças que atuam nela.
(...) A Física do Mundo que tento expor não pretende elevar-se às 
perigosas abstrações de uma ciência puramente racional da Natureza; 
é uma Geografia Física unida à descrição dos espaços celestes e dos 
corpos que se encontram nesses espaços. Alheio às preocupações 
da Filosofia puramente especulativa, meu ensaio sobre o Cosmos é 
uma consideração do Universo fundada em um empirismo racional, 
quer dizer, sobre um conjunto de fatos registrados pela ciência e 
submetido à ação de um entendimento que compara e combina 
(HUMBOLDT apud GÓMEZ MENDONÇA, 1982).
Seus primeiros trabalhos giravam em torno de questões específicas do domínio das 
ciências naturais, como a publicação “Observação mineralógica de alguns basaltos do 
Reno”, de 1790. No entanto, uma viagem às Américas, realizada entre 1799 e 1804, 
marca significativamente a trajetória intelectual desse geógrafo. Dessa expedição, 
Humboldt utilizou suas observações para estudar as mútuas relações entre os seres 
vivos e a natureza inorgânica, bem como a configuração dessas relações no espaço. 
Desta forma, o autor se debruça sobre quadros mais amplos de análise.
Em suas observações, Humboldt se guiava pelo método comparativo de análise. O 
geógrafo comparou diferentes paisagens a fim de identificar regularidades existentes 
entre áreas geográficas. 
A Natureza, considerada por meio da razão, quer dizer, submetida 
em seu conjunto à ação do pensamento, é a unidade na diversidade 
dos fenômenos, a harmonia entre as coisas criadas que diferem por 
sua forma, por sua constituição e pelas forças que as animam; é o 
Todo animado por um sopro de vida. A realização mais importante de 
um estudo racional da Natureza é aprender a unidade e a harmonia 
existentes nesta imensa acumulação de coisas e forças; assumir com 
o mesmo interesse tanto os resultados das descobertas dos séculos 
passados como o que se deve às investigações dos tempos atuais 
e analisar as características dos fenômenos sem sucumbir sob sua 
massa (HUMBOLDT apud GÓMEZ MENDONÇA, 1982).
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 34
mbém se interessava pelas mudanças do mundo natural ao longo do tempo histórico. 
Guiando-se por perspectiva histórica em sua análise sobre o mundo natural, o autor 
rompia, desta forma, com o pensamento vigente que entendia a natureza como algo 
estático.
Título: Monumento em homenagem a Alexander von Humboldt, localizado na Universidade Humboldt de Berlim. 
Fonte:https://www.freeimages.com/pt/photo/alexander-von-humboldt-1422577
Entre 1805 e 1826, Humboldt escreve os volumes de “Quadros da Natureza”, publicado 
em 1808, e “Viagem às Regiões Equinociais do Novo Continente”, publicado apenas 
em 1834. Sua obra mais famosa foi o Cosmos, uma publicação de 1845, em quatro 
volumes, e de caráter enciclopédico. A obra é resultado das viagens e estudos desse 
grande geógrafo do século XIX.
4.4 Carl Ritter (1779-1859)
Carl Ritter foi o geógrafo que ocupou a primeira cátedra de Geografia em uma 
universidade (no caso, na Universidade de Berlim). Sua obra é marcada pela busca de 
explicar as relações entre o mundo físico e o humano. Bem mais do que Humboldt, 
o geógrafo enfatizava a vida social e os processos históricos em seus estudos, visto 
que Ritter enxergava a Terra como palco das atividades humanas.
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 35
Enquanto Humboldt praticava uma “Geografia Geral”,a proposta de Ritter se baseava 
em perspectiva de análise com foco no regional. A atenção de Ritter estava, sobretudo, 
no estudo comparado de áreas delimitadas. Inspirando-se na perspectiva romântica, 
Ritter enxergava tais áreas como dotadas de singularidade, Tais singularidades o 
geógrafo analisava como “sistemas naturais”. 
Cada sistema natural possui um conjunto de elementos, sendo o “homem” (no 
sentido de ser humano) o principal deles. Com base na análise desses sistemas 
naturais, Ritter buscava apreender certa “unidade na diversidade”. Tais reflexões estão 
presentes na sua principal obra, a “Geografia Comparada”.
Título: Carl Ritter
Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_Ritter#/media/Ficheiro:Carl_Ritter_Litho.jpg
Ao longo de sua carreira como professor universitário, Ritter também teve discípulos. 
Entre eles, os geógrafos Elisée Reclus e Oscal Pescel os quais repensaram suas ideias 
e elaboraram novas a partir dos seus ensinamentos.
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 36
AULA 5
GEOGRAFIA CLÁSSICA ALEMÃ
Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/pecas-de-mapa-sortidas-2859169/
Após a morte de Humboldt e Ritter, em 1859, a geografia alemã passa por uma 
fase de hiato que se estende até o final do século XIX, quando emerge no cenário 
científico geógrafos como Friedrich Ratzel e Ferdinand von Richtofen. São teóricos 
que se preocuparão em alçar a geografia a um status mais consolidado como ciência. 
Para isso, desenvolvem aprofundamentos metodológicos e epistemológicos no campo 
das reflexões espaciais. Pode-se dizer que são os geógrafos precursores do que 
denominados Geografia Clássica ou Geografia Tradicional.
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 37
ANOTE ISSO
A Geografia Clássica refere-se à corrente de geógrafos atuantes entre o final do 
século XIX e a primeira metade do século XX. São cientistas que compartilhavam 
certas premissas na realização de seus estudos, entre elas: o método de trabalho 
inspirado nas ciências naturais; a ênfase na relação homem/natureza; a perspectiva 
empirista; entre outras. No geral, são estudiosos influenciados pelo campo da 
História Natural, pelo Romantismo Alemão, pelo Positivismo e pelo Evolucionismo 
Biológico (Darwinismo).
Neste capítulo, centraremos nossa atenção na expressão alemã da Geografia 
Clássica. Estudaremos o contexto de sua formação, seus principais autores e os 
movimentos intelectuais que influenciaram suas formulações teóricas.
5.1 Geografia Clássica Alemã: contexto sociopolítico
Enquanto a geografia de Humboldt e Ritter é atravessada pelo contexto de 
crescimento do desejo de unificação nacional alemã, os estudos de Ratzel e Richtofen 
se desenvolvem nos primeiros anos após essa unificação. Questões como domínio 
territorial e crescimento da população serão preocupações especialmente de Ratzel. 
O geógrafo é considerado o maior representante da geografia clássica alemã e o 
fundador da Geografia Humana (por ele denominada de “Antropogeografia”), e de um 
de seus subcampos: a Geografia Política.
***
Conforme discutimos no capítulo anterior, no início do século XIX, a Alemanha 
era, na realidade, um conjunto de ducados, principados e reinos diferenciados, mas 
que compartilhavam traços culturais em comum. Em 1815, criou-se a Confederação 
Germânica, uma primeira tentativa de unificação política. No entanto, o poder ainda 
permanecia descentralizado entre essas unidades confederadas. 
Os dois reinos que compunham a Confederação Germânica - o Império Austro-
húngaro e a Prússia - disputavam hegemonia na região. Tal disputa culminou na 
Guerra Austro-Prussiana, em 1866. A vitória da Prússia nesse conflito, bem como em 
outros, determinou seu domínio sobre a região. Tal fato desencadeou, por sua vez, o 
processo de unificação política e o surgimento do Império Alemão, em 1871. 
Com a unificação, o rei Guilherme I e o então primeiro ministro da Prússia, Otto 
von Bismarck, levaram a política militarizada e expansionista do governo prussiano 
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 38
para o recém-formado Império Alemão. A unificação tardia da Alemanha era fator que 
impulsionava ainda mais as ambições expansionistas desses governantes. 
5.2 Contexto Científico
5.2. 1. Paradigma do Evolucionismo
Enquanto a consolidação do Estado alemão é o contexto que favorece o interesse por 
temas como Estado e território da geografia clássica alemã, o paradigma do evolucionismo 
é o background filosófico que influencia o olhar dos geógrafos sobre esses conceitos. 
Ratzel se interessava pela análise das condições ambientais que permite o processo de 
evolução de um Estado. Seus estudos vão de encontro com a perspectiva dos cientistas 
da época que, inspirados nas formulações de Charles Darwin (1809-1882), buscavam 
padrões de evolução para entender tanto fenômenos naturais como sociais. 
No entanto, antes de entender a importância da obra de Darwin para ciência, 
precisamos compreender o desenvolvimento da perspectiva sobre a existência de 
uma história natural. Isso porque, na Idade Média, por exemplo, a natureza era vista 
de forma estática. Acreditava-se que a Terra teria apenas entre 4000 a 6000 anos de 
existência. Essa perspectiva começa a se alterar no século XVII, com o surgimento de 
novos conhecimentos sobre a Terra e o questionamento de sua idade.
Nos séculos XVII e XVIII, surgem também estudos que podem ser considerados 
predecessores do evolucionismo biológico de Darwin. Em 1766, o naturalista francês 
Conde de Buffon publica a obra “Da degeneração das espécies”, um estudo sobre a 
modificação das espécies como resultado da alteração das condições climáticas e 
de alimentação em decorrência de processos como migrações ou isolamento. Apesar 
da sua crença na perfeição original das espécies, de qualquer modo, Buffon partia do 
princípio da existência de modificações nas espécies de animais ao longo do tempo.
Em 1809, o também naturalista francês Jean Baptiste de Lamarck publica a obra 
“Filosofia Zoológica”. Nela, o autor também se apoia na premissa da existência de 
transformações nas espécies ao longo do tempo. Como causas para essa dinâmica 
natural, Lamarck defendia a existência de dois princípios fundamentais: o primeiro, a 
“lei do uso e desuso” (a ideia de que o uso ou o desuso de estruturas corporais faria 
com que elas se desenvolvessem ou atrofiassem ao longo das gerações); e o segundo, 
a afirmação de que tais mudanças eram passadas hereditariamente. Sendo assim, por 
adaptação às circunstâncias externas, as espécies de animais sofrem modificações. 
Estas são passadas para as sucessivas gerações.
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39
5.2.1. 1. Charles Darwin e a “Origem das Espécies”
Inspirando-se nos trabalhos Buffon, Lamarck e outros naturalistas, Darwin desenvolve 
a teoria da seleção natural, instaurando uma nova interpretação sobre as causas das 
modificações das espécies de seres vivos ao longo do tempo e consolidando a perspectiva 
sobre a existência de dinamismo no meio natural. 
A teoria da seleção natural se baseia na ideia de adaptação evolutiva em decorrência 
das condições ambientais a que os seres vivos estão expostos. Segundo Darwin, os 
indivíduos de uma população variam significativamente entre si, e essa variação é 
hereditária. No âmbito desse conjunto de indivíduos variados, aqueles menos adaptados 
ao ambiente externo têm menos chances de sobreviver e de se reproduzir. Por outro 
lado, aqueles indivíduos mais adaptados têm mais probabilidade de se reproduzir e, 
portanto, deixar seus traços hereditários para as gerações seguintes.
 Para o desenvolvimento dessas reflexões, Darwin se apoiou nas observações que 
realizou em longa viagem pelo mundo a bordo da sua embarcação Beagle. Tais reflexões 
estão sintetizadas na sua obra mais famosa: “A Origem das Espécies”,publicada em 1859:
Título: Edição de 1859 de “A Origem das Espécies”
Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Origem_das_Esp%C3%A9cies#/media/Ficheiro:Origin_of_Species_title_page.jpg
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 40
A Origem das Espécies produziu uma verdadeira revolução intelectual no meio científico 
do século XIX. A teoria de Darwin expandiu seu campo de influência para outras 
áreas, impactando também os estudos sobre a sociedade humana. Os estudiosos 
das décadas seguintes se perguntavam, por exemplo, se o evolucionismo biológico 
de Darwin poderia ser aplicado para entender o desenvolvimento da sociedade.
No que se refere aos estudos de Ratzel, as preocupações do autor acerca da 
influência do meio físico para o desenvolvimento do Estado podem ser entendidas 
como influência do paradigma científico do evolucionismo.
5.2. 2 Positivismo 
Não somente as ciências naturais e o paradigma do darwinismo influenciaram a 
Geografia Clássica Alemã, como também alguns movimentos filosóficos característicos 
do período em questão. O positivismo de Auguste Comte (1798-1857) tem especial 
destaque no cenário filosófico do século XIX. 
O positivismo se fundamenta em algumas premissas principais, entre as quais 
a ideia de que a sociedade é regida por leis invariáveis e independentes da vontade 
humana. Desta forma, a sociedade pode ser estudada pelos mesmos métodos das 
ciências naturais, ou seja, pautado na observação e explicação causal dos fenômenos.
Título: Auguste Comte
Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Auguste_Comte#/media/Ficheiro:Auguste_Comte.jpg
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 41
5.3 Friedrich Ratzel (1844-1904)
Friedrich Ratzel nasceu em 1844, na cidade de Karlbuhe e iniciou sua vida profissional 
como farmacêutico, tornando-se cientista apenas mais tarde. Ratzel também trabalhou 
como redator de jornal e, por vezes, vendeu seus textos para financiar viagens de 
pesquisa. Entre as excursões realizadas pelo geógrafo, destaca-se a viagem para os 
Estados Unidos, México e Cuba, em 1873, que durou dois anos. 
O pensamento de Ratzel dá continuidade à visão integrada de Geografia de Humboldt 
e Ritter, e mantém a ênfase no empirismo. No entanto, o seu diferencial está na 
atenção às questões de ordem humana, ainda que trabalhadas pelo prisma da análise 
das relações homem-meio. Não por acaso é creditado a Ratzel o título de fundador 
da Geografia Humana, que ele denominava Antropogeografia.
A geografia proposta por Ratzel privilegiou o elemento humano e abriu 
várias frentes de estudo, valorizando questões referentes à História e 
ao espaço, como: a formação dos territórios, a difusão dos homens 
no Globo (migrações, colonizações, etc), a distribuição dos povos e 
das raças na superfície terrestre, o isolamento e suas conseqüências, 
além de estudos monográficos das áreas habitadas. Tudo tendo 
em vista o objetivo central que seria o estudo das influências, que 
as condições naturais exercem sobre a evolução das sociedades. 
(MORAES, 1981, p. 71)
Suas publicações totalizam 1240 escritos, sendo o primeiro deles publicado em 
1870. Desse conjunto de escritos, encontram-se dezesseis livros, nos quais estão as 
suas obras mais famosas: Antropogeografia (1882) e Geografia Política (1897). A obra 
Antropogeografia é dividida em dois volumes. 
Em seu primeiro volume, Ratzel analisa a influência das condições físicas no curso 
da história, enquanto no segundo, o geógrafo se debruça sobre a distribuição da 
humanidade sobre a superfície da Terra. Em Geografia Política, Ratzel se concentra 
na análise acerca do desenvolvimento do Estado. 
Nessa última obra, Ratzel desenvolve um dos seus conceitos mais famosos. Trata-
se do conceito de “espaço vital” (Lebensraum), formulado para pensar a relação entre 
Estado e território. Para este geógrafo alemão, o progresso de uma sociedade pressupõe 
a disposição de recursos para suprir as necessidades de sua população. O “espaço 
vital” representa o equilíbrio entre a população e os recursos disponíveis, equilíbrio 
este que, segundo o autor, possibilita o desenvolvimento do Estado.
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 42
Título: Friedrich Ratzel
Fonte:https://de.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Ratzel#/media/Datei:Bundesarchiv_Bild_183-R35179,_Prof._Friedrich_Ratzel.jpg
O primeiro livro de Ratzel (O ser e o tornar-se do mundo orgânico: Uma história popular 
da criação) teve forte influência do naturalismo de Ernst Haeckel (1834-1919), seu 
antigo professor. O organicismo sociológico de Herbert Spencer (1820-1903) também é 
fonte de inspiração para o geógrafo, que traz para a Geografia a concepção do Estado 
como um organismo complexo1. 
5.4 Ferdinand von Richtofen (1833-1905)
Embora costumamos dar atenção à obra de Ratzel no estudo da Geografia Clássica 
Alemã do século XIX, é preciso não perder de vista a importância do seu conterrâneo 
Ferdinand von Richtofen (1833-1905) para o desenvolvimento dessa disciplina. Richtofen 
também contribuiu para a reconstrução da geografia alemã pós Humboldt e Ritter. 
Sua geografia apresenta características de uma “Geografia Física”.
1 Spencer (1820-1903) defendia um princípio de desenvolvimento das sociedades, pautado na existência de processo crescente de divisão 
do trabalho e, por consequência, complexificação dos grupos sociais. Deste modo, agrupamentos humanos pequenos, com poucas distinções 
sociais internas, evoluem para civilizações complexas. Ratzel compartilhava da visão de que o Estado era entendido como um organismo mais 
complexo do que outras formas de agrupamento social.
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 43
Título: Ferdinand von Ritchtofen
Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Ferdinand_von_Richthofen#/media/Ficheiro:Ferdinand_von_Richthofen.jpg
Richtofen formou-se em geologia, mas também foi aluno de Ritter. Enxergava a 
geografia como o estudo dos fenômenos que interagem na “zona de contato” entre 
atmosfera, hidrosfera e litosfera (formadoras da biosfera). Inspirando-se na noção de 
paisagem de Humboldt, Ferdinand von Richtofen também desenvolveu estudos no 
campo da geomorfologia. Trata-se do estudo do relevo, mas, nesse caso, entendido 
como aspecto da paisagem:
(...) embora surgindo como o estudo geográfico do relevo, a 
geomorfologia irá se modelizar como um estudo do relevo enquanto 
um aspecto da paisagem, uma parte integrada ao seu todo, o relevo 
sendo visto dentro e na medida das características locais do todo 
da superfície terrestre. Este caráter de parte do todo mais integrado 
e que tem na forma sua categoria por excelência de descrição e 
explicação é um traço que cedo sai da geomorfologia para daí 
em diante ir se tornar o fundamento de toda a geografia alemã. A 
climatologia, a hidrografia, a geografia agrária, cada ramo que surge 
vem já formulado nesse parâmetro que vai se tornar uma espécie 
de paradigma da nova geografia alemã. Como é Humboldt a fonte 
de inspiração, para o qual cabe à vegetação o papel da integração 
holista, é então a biogeografia, não propriamente a geomorfologia, 
que ao final acabará por estabelecer a base do conceito alemão da 
paisagem (MOREIRA, 2007, P.23).
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 44
Essa perspectiva holista de Richtofen irá influenciar uma geração de geógrafos, 
que “vem a tomar o padrão biogeográfico como referência do conceito da paisagem 
e do método morfológico e a levar a geografia alemã a institucionalizar-se nessa 
característica (...)” (idem).
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 45
AULA 6
A GEOGRAFIA DE RATZEL E 
SEUS DESDOBRAMENTOS 
Fonte:https://www.pexels.com/pt-br/foto/belgica-austria-cartografia-close-4278035/
Já entendemos o processo de consolidação da Geografia Alemã, bem como,quem 
foram alguns de seus representantes. Agora, é necessário compreender melhor as 
ideias do mais famoso de seus representantes: Friedrich Ratzel. No presente capítulo, 
estudaremos algumas ideias contidas nas principais obras de Ratzel: Antropogeografia 
e Antropologia Política. Em seguida, refletiremos sobre alguns conceitos trabalhados 
por esse autor. Por fim, analisaremos os desdobramentos de sua obra, dando especial 
atenção ao que se denomina Determinismo Geográfico.
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 46
6.1 “Antropogeografia” (1882; 1891)
A publicação de Antropogeografia é um marco importante para a história do 
pensamento geográfico, tendo em vista que esta obra representa a fundação da 
Geografia Humana. Para Ratzel, a Antropogeografia constitui um ramo da Biogeografia. 
Enquanto esta última se debruça sobre o estudo da Terra como um todo, a primeira 
se ocupa, especificamente, com a relação entre os elementos físicos e os elementos 
histórico-antropológicos no processo de difusão da humanidade sobre a Terra.
Tendo seu primeiro volume, publicado em 1882, Antropogeografia – Fundamentos da 
Aplicação da Geografia à História, é um estudo sobre a influência das condições ambientais 
sobre a História. Nessa obra, Ratzel rompe com duas posições em voga no período. De 
um lado, havia aqueles pensadores que negavam a influência das condições ambientais 
sobre o desenvolvimento da sociedade. De outro, havia aqueles que defendiam que 
tais influências determinavam absolutamente o destino da humanidade. Ratzel, por 
outro lado, defendia que as condições ambientais influenciavam a sociedade, porém, 
essa influência era mediatizada pelas condições sociais e culturais. 
Em 1891, Ratzel publica o segundo volume da obra, intitulada Antropogeografia – 
A distribuição geográfica dos homens. Trata-se de um estudo sobre a distribuição da 
humanidade na superfície da Terra, levando em consideração as condições ambientais.
6.1.1 Difusionismo na obra de Ratzel
Comentamos na aula passada a influência do evolucionismo darwinista na obra de 
Ratzel. O darwinismo influencia mais diretamente os primeiros trabalhos desse autor, 
embora o acompanhe, em certa medida, durante toda a sua trajetória acadêmica 
(especialmente, o “darwinismo social” de Hebert Spencer). Porém, Ratzel também 
desenvolve análise sobre relação homem-meio pautada em outras referências. Trata-
se da abordagem difusionista para o estudo das sociedades humanas.
O difusionismo tenta dar conta da explicação sobre o processo de desenvolvimento 
tecnológico na humanidade e das similaridades culturais existentes em diferentes 
sociedades humanas. Segundo a teoria difusionista, as invenções humanas se originam 
em um lugar específico. Por difusão, essas invenções propagam-se no espaço. Tal 
propagação ocorre por meio de processos como migração, comércio, conquista militar 
etc. 
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 47
Portanto, seguindo essa linha de raciocínio, existiriam lugares que funcionariam 
como centros de dispersão de cultura. Essa dispersão ocorre não necessariamente de 
forma linear (como numa linha evolutiva no sentido que os evolucionistas concebem), 
mas, por outro lado, difusa. Ratzel propõe a existência de grandes áreas culturais pelo 
mundo. No processo de difusão da cultura e tecnologia pelo espaço, esses aspectos 
vão sofrendo modificações locais. 
A teoria difusionista de Ratzel sobre culturas humanas serviu de referência para 
os trabalhos de antropólogos clássicos, especialmente o seu conterrâneo Franz Boas 
(1858 - 1942), geógrafo que se tornou, posteriormente antropólogo, fundando, inclusive, 
a escola americana de antropologia.
6.2. “Geografia Política” (1897)
A obra “Geografia Política” é publicada em 1897. Na obra, o autor aprofunda suas 
reflexões sobre a influência do meio sobre o homem, dando especial atenção à dimensão 
política no estudo dessa relação. Em “Geografia Política”, Ratzel analisa uma contradição 
básica da relação homem-meio: a contradição entre o movimento contínuo do curso 
da história, de um lado, e a limitação física do espaço para o desenvolvimento das 
sociedades. Para o autor, essa contradição se traduz em uma luta permanente pelo 
espaço. 
Nesse sentido, Ratzel defende a importância do estudo do território (ou “solo”, 
termo mais usado pelo autor e que, muitas vezes, se confunde com território) 
como fator do desenvolvimento das sociedades. Para Ratzel, portanto, o solo não é 
somente recurso básico para a vida humana, como também peça fundamental para 
política. Como o Estado representaria a organização política de maior complexidade, 
segundo sua visão, o domínio territorial seria processo indispensável para a sua 
formação.
Ademais, para o desenvolvimento pleno do Estado é preciso equilíbrio entre 
contingente populacional, recursos disponíveis e extensão territorial. A conjugação 
desse equilíbrio é o que Ratzel denomina espaço vital (lebensraum). 
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 48
ISTO ACONTECE NA PRÁTICA
Muitas ideias que são elaboradas no ambiente universitário podem ser utilizadas 
para servir a outros propósitos. Um exemplo prático desse argumento está na 
apropriação do conceito de “espaço vital” no contexto da Alemanha nazista.
Com o fim da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), a Alemanha havia perdido parte 
de seu território e o país estava bastante fragilizado. Nesse contexto, Adolf Hitler 
começou a divulgar as ideias do nazismo na década de 1920. Como se sabe, a 
ideologia nazista é pautada em ideais nacionalistas, conjugados com militarismo, 
racismo e antissemitismo. Hitler se apropriou do conceito de “espaço vital” ratzeliano 
para defender a necessidade de expansão do território alemão. Além disso, encarou 
tal ideia também nos termos do racismo científico. Hitler defendia um “espaço vital” 
para a “raça ariana”, condição para o desenvolvimento do “Terceiro Reich”.
Com a justificativa da necessidade de “espaço vital”, Hitler liderou ações 
expansionistas pela Áustria, Tchecoslováquia e Polônia. Com a invasão da Polônia, 
inclusive, iniciou-se a Segunda Guerra Mundial.
Como fica claro, é na obra “Geografia Política” que Ratzel dá maior atenção aos 
conceitos de território e Estado. É creditada a Ratzel, inclusive, a introdução do conceito 
de território na Geografia. Além disso, as formulações do autor acerca da ideia de 
Geografia Política servirão como base para o desenvolvimento da noção de Geopolítica 
por outros autores.
6.3. Conceitos-chave: Solo, Estado e Sociedade
Título: Friedrich Ratzel
Fonte:https://de.wikipedia.org/wiki/Friedrich_A.Ratzel#/media/Datei:Friedrich_Ratzel.jpg
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
PROF.a NATALIA SALES
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 49
6.3.1. Solo
Na análise sobre os escritos de Ratzel, a noção de solo assume relevância considerável. 
Em toda a sua obra, o autor defende a existência de ligação profunda entre o homem 
e o solo. A natureza do solo influencia, por exemplo, a organização da sociedade. Por 
associação, tal influência se estende à organização do Estado. Para Ratzel, o solo 
também é a base da política:
O papel do elemento humano na política não pode ser exatamente 
apreciado, se não se conhecem as condições às quais a ação política 
do homem está subordinada. A organização de uma sociedade 
depende estreitamente da natureza de seu solo, de sua situação: 
o conhecimento da natureza física do território (pays), de suas 
vantagens e de seus inconvenientes, resulta então na história política”. 
A história nos mostra, de uma maneira muito mais penetrante que o 
historiador, a que ponto o solo é a base real da política. Uma política 
verdadeiramente prática tem sempre um ponto de parte da geografia 
(RATZEL, 1899 apud EUFRÁSIO, 1983, p. 93).
6.3.2. Estado
Ratzel também dá atenção ao Estado nas suas formulações. Para o autor, o Estado 
surge

Continue navegando