Buscar

Teoria e História da Arq e Urbanismo II - Conteúdo completo Material didático

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 63 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 63 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 63 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 Brasil pré-colonial 
 A Carta de Pero Vaz de Caminha (1500) é considerada o primeiro documento escrito da 
 história do Brasil. Em suas quatorze páginas, ela relata a chegada da frota comandada 
 por Pedro Álvares Cabral ao território denominado de Ilha Vera Cruz. A carta foi redigida 
 para comunicar o rei D. Manuel I. É nesta carta que se encontra a primeira referência à 
 arquitetura dos nativos em um curto relato sobre uma visita, de parte da tripulação da 
 nau portuguesa, à aldeia dos nativos: 
 “E segundo depois diziam, foram bem uma légua e meia a uma povoação, em que haveria nove 
 ou dez casas, as quais diziam que eram tão compridas, cada uma, como esta nau capitaina. E 
 eram de madeira, e das ilhargas de tábuas, e cobertas de palha, de razoável altura; e todas de 
 um só espaço, sem repartição alguma, tinham de dentro muitos esteios; e de esteio a esteio 
 uma rede atada com cabos em cada esteio, altas, em que dormiam. E de baixo, para se 
 aquentarem, faziam seus fogos. E tinha cada casa duas portas pequenas, uma numa 
 extremidade, e outra na oposta. E diziam que em cada casa se recolhiam trinta ou quarenta 
 pessoas, e que assim os encontraram; e que lhes deram de comer dos alimentos que tinham, a 
 saber muito inhame, e outras sementes que na terra dá, que eles comem. E como se fazia tarde 
 fizeram-nos logo todos tornar; e não quiseram que lá ficasse nenhum.” 
 A região que serviu de primeiro porto aos portugueses, hoje Porto Seguro, era habitada 
 por duas nações indígenas do grupo linguístico tupi: os Tupinambás, que ocupavam a 
 faixa compreendida entre Camamu e a foz do rio São Francisco; e os Tupiniquins em 
 uma área que se estendia de Camamu até a fronteira entre Bahia e Espírito Santo. 
 Seguindo para o interior, encontrava-se a área ocupada pelos Aimorés. 
 A história dos povos pré-crabalinos 
 A história dos antigos povos indígenas do Brasil é baseada em três ramos distintos de 
 informação disponível atualmente, que são: os relatos deixados pelos exploradores e 
 pesquisadores que visitaram o país nos séculos que se seguiram ao descobrimento; as 
 pesquisas realizadas por arqueólogos em sítios antes habitados por esses povos; e os 
 trabalhos realizados, principalmente por etnólogos, nas últimas décadas que nos permitem 
 conhecer a cultura e costumes atuais dos povos indígenas. 
 Os exploradores europeus faziam levantamento das terras afim de informar à coroa 
 portuguesa o que haviam encontrado nas novas terras do rei. Outra parte dos relatos 
 antigos foi feita por naturalistas que, curiosos sobre o “novo mundo”, vieram ao Brasil com 
 intuito de conhecer as suas terras. Segundo Derenji (2002, p. 26-27), foram várias as 
 expedições realizadas nos primeiros séculos após o descobrimento. A expedição de Palmier 
 de Gonneville chegou a Santa Catarina em janeiro de 1504 e em seus relatos constam 
 referências às tribos nativas e às suas habitações: 
 A expedição do normando Jean de Léry visitou o país no período de 1555 a 1557 e o 
 pesquisador faz um relato minucioso sobre a cultura dos povos nativos, mas segundo 
 Derenji (2002, p. 26-27) sem abordar sua arquitetura. O autor cita ainda o explorador 
 alemão Hans Staden que fez duas viagens ao Brasil, respectivamente em 1548 e em 1551e 
 deixou descrições sobre as aldeias dos Tupinambá onde foi feito prisioneiro (STADEN, 1945 
 p. 35, apud DERENJI, 2002, p. 27): 
 “Formam aldeias de trinta, quarenta, cinquenta ou oitenta cabanas, feitas à maneira de galpões com 
 estacas unidas umas às outras, ligadas por ervas e folhas, com as quais os ditos habitantes são 
 igualmente cobertos; e têm por chaminé um buraco, para fazer sair fumaça. As portas são bastões 
 corretamente ligados; e eles as fecham com chaves de madeira, quase como as que usam, nos 
 campos da Normandia, nos estábulos.” 
 A expedição do normando Jean de Léry visitou o país no período de 1555 a 1557 e o 
 pesquisador faz um relato minucioso sobre a cultura dos povos nativos, mas segundo 
 Derenji (2002, p. 26-27) sem abordar sua arquitetura. O autor cita ainda o explorador 
 alemão Hans Staden que fez duas viagens ao Brasil, respectivamente em 1548 e em 1551e 
 deixou descrições sobre as aldeias dos Tupinambá onde foi feito prisioneiro (STADEN, 1945 
 p. 35, apud DERENJI, 2002, p. 27): 
 “ Levantam cabanas de mais ou menos 14 pés de largura por 150 de comprimento e duas braças de 
 alto, com tetos redondos, como abóbada. Cobrem-nas depois com folhas de palmeira de modo que 
 não chova dentro. Ninguém tem quarto separado; cada casal ocupa na cabana um espaço de uns 12 
 pés, e fica um casal ao lado do outro. Enchem-se, assim, as cabanas, cada grupo com seu fogo. O 
 chefe ocupa o centro. As cabanas em geral têm três entradas, uma em cada extremo e uma no 
 centro, são muito baixas, de modo que, para entrar, as criaturas precisam curvar-se. Poucas aldeias 
 têm mais que sete dessas cabanas.” 
 A história do explorador alemão Hans Staden virou filme em 1999. O relato se passa no 
 século XVI, durante a segunda viagem de Staden ao Brasil. Dois anos após sua chegada, 
 ele foi capturado pelos índios Tupinambá, da tribo Ubatuba no litoral de São Paulo, dos 
 quais permaneceu refém por nove meses. Quando foi libertado e voltou para Europa, 
 Staden lançou o livro “Duas Viagens ao Brasil”, publicado originalmente em 1557 na 
 Alemanha. O livro foi um grande sucesso na época de seu lançamento e é considerado um 
 dos mais importantes documentos sobre o Brasil Colônia. A direção do filme “Hans Staden” 
 é de Luís Alberto Pereira. 
 Outros registros importantes sobre os costumes dos povos indígenas realizados nessa fase 
 inicial da colonização do Brasil são citados ainda por Derenji (2002, p. 28), um deles é o 
 trabalho de Ferdinand Dénis publicado pela primeira vez em 1888, onde são descritos os 
 costumes e as habitações dos índios Tupinambá. 
 Outra fonte de informação sobre a história dos povos do Brasil pré-colonial são as pesquisas 
 arqueológicas contemporâneas, que permitem a obtenção de dados sobre os povos que 
 viveram no Brasil no período do descobrimento. Eles estudam os vestígios deixados pelas 
 tribos que já não existem, buscando construir um quadro completo da cultura desses povos. 
 No Brasil, essa tarefa se caracteriza como particularmente difícil, porque os ameríndios que 
 habitavam a américa portuguesa utilizavam como principal matéria-prima tanto de suas 
 construções quanto de seus artefatos do uso cotidiano, a palha, um material frágil e de 
 duração curta em comparação, por exemplo, com as civilizações indígenas da américa 
 espanhola que utilizavam pedra como matéria-prima de suas construções, Incas e Astecas 
 entre outros povos. 
 Somam-se ainda os estudos etnográficos realizados por antropólogos, etnógrafos, 
 arquitetos entre outros tantos pesquisadores, que visitam as tribos remanescentes nos 
 nossos dias e, a partir destes dados, tentam identificar o que ainda é original de seus 
 antepassados; quais costumes e tecnologias foram mantidas através do tempo e ainda 
 podem servir como testemunho de seus costumes na época do descobrimento;o que não 
 foi transformado através do contato com a civilização ou com os povos “civilizados”; e quais 
 costumes foram adquiridos e adaptados à sua realidade. 
 Todas essas obras contêm testemunhos de povos que desapareceram ou mudaram seu 
 modo de ser. Com base nesses estudos e relatos, é possível obter dados sobre o tamanho 
 das comunidades, movimento das populações, relações entre as tribos e as influências 
 externas sofridas. Face à ruptura demográfica e social promovida pela colonização 
 portuguesa, é preciso entender que os padrões de organização social e de manejo dos 
 recursos naturais das populações indígenas que ocupam o território brasileiro atualmente 
 oferecem indícios dos padrões das sociedades pré-coloniais. 
 O processo de colonização causou o extermínio de milhares de indígenas por causa do 
 contato direto e indireto com os europeus e as doenças por eles trazidas e a violência contra 
 os grupos que resistiram à colonização. A população que se acredita ter sido de milhões 
 caiu para cerca de 150 mil em meados do século XX. Apesar da impossibilidade de se 
 quantificar a população indígena da época do Descobrimento com exatidão, o arqueólogo 
 Eduardo Góes Neves indica estimativas de que “a população nativa do continente chegava, 
 à época da conquista, a mais de cinquenta e três milhões de pessoas, sendo que só a bacia 
 Amazônica teria mais de cinco milhões e seiscentos mil habitantes” (1995, p. 173). Tais 
 figuras não são, no entanto, aceitas unanimemente, já que os documentos usados para a 
 elaboração dessas estimativas não fornecem dados exatos. 
 Calcula-se que antes do descobrimento eram faladas mais de 1300 línguas nativas. 
 Atualmente, são contabilizadas 274 línguas pelo IBGE, mas muitas delas correm risco de 
 desaparecer pois possuem poucos falantes e não estão devidamente documentadas. As 
 línguas indígenas se dividem em dois grandes troncos linguísticos, o tupi e o macro-jê. O 
 total de tribos classificadas chega a 216 (IBGE,2010). 
 Os povos indígenas brasileiros são formados por diferentes grupos étnicos, parte do grupo 
 maior dos povos ameríndiosque habitam o Brasil.Estudos arqueológicos recentes 
 estabelecem a chegada dos primeiros habitantes do Brasil à Bahia e ao Piauí entre 20 mil e 
 40 mil anos atrás. 
 No início do século XVI, quando tem início a colonização do Brasil, a população nativa era 
 composta por tribos seminômades que subsistiam da coleta, caça, pesca e agricultura de 
 subsistência. Periodicamente, a aldeia mudava de lugar, conforme os recursos naturais das 
 regiões ocupadas se esgotavam.Essa transferência permitia que as áreas antes ocupadas e 
 exploradas pelas tribos tivessem tempo de se recuperar e voltar a produzir. 
 Assista aí 
 ASSISTA AÍ 
 <iframe title="vimeo-player" 
 src="https://player.vimeo.com/video/507052330?h=e1c0d6345e" width="640" height="360" 
 frameborder="0" allowfullscreen></iframe> 
 2. Formas de morar e viver 
 dos indígenas 
 Figura 1 - Indígenas brasileirosFonte: Shutterstock 
https://player.vimeo.com/video/507052330?h=e1c0d6345e
https://player.vimeo.com/video/507052330?h=e1c0d6345e
https://player.vimeo.com/video/507052330?h=e1c0d6345e
 #PraCegoVer: Na imagem, há 3 índios fazendo um ritual. 
 Os povos ameríndios espalhados pelo continente americano possuem características 
 bastante diversas, algumas delas baseadas no ambiente em que existiam. Em outros 
 países da América do Sul, os ameríndios desenvolveram uma arquitetura bastante 
 diversa dos povos situados no Brasil e países limítrofes. As construções andinas, de 
 pedra, e outras construções de material duradouro, como a argila, descobertas pelos 
 arqueólogos, são testemunhos de civilizações altamente desenvolvidas, urbanas e 
 letradas que viviam em uma sociedade complexa e com alta capacidade tecnológica. 
 Alguns grupos chegaram a desenvolver grande poderio militar e riqueza material, 
 realizando grandes obras de engenharia para adequação do ambiente natural ao seu 
 redor. Os povos radicados no Brasil, separados dessas culturas intensamente 
 aprimoradas, permaneceram silvícolas e seminômades, e, em acordo com seu modo de 
 vida, desenvolveram uma arquitetura leve e relativamente “efêmera”, construída a partir 
 dos materiais disponíveis e de rápida construção, já que a aldeia mudava de lugar de 
 acordo com a época do ano. O domínio das técnicas de fabricação, tanto de artefatos 
 quanto de arquitetura foi essencial para a adaptação das tribos brasileiras ao meio 
 ambiente (COSTA e MALHANO, 1986). 
 O granito encontrado em grande quantidade no Norte de Portugal era matéria-prima 
 muito utilizada na construção castreja e mesmo antes dela e também depois pelos 
 romanos e permanece até os dias de hoje. Existe, em função do uso de matérias-primas 
 distintas na arquitetura, a definição de civilização do granito para a região norte e 
 civilização do barro para região sul (RIBEIRO, 2013, p.17-45). 
 2.1 Aldeias 
 É preciso definir os termos estabelecimento, aldeia e casa, para avançar ao estudo dos tipos 
 de construções indígenas. O estabelecimento compreende toda a área usada pela tribo, 
 incluindo locais de caça, água, onde pescam ou se banham, e também os caminhos que 
 levam a eles. Aldeia engloba o conjunto de casas, a área comum, chamada de praça e os 
 caminhos que percorrem esses dois espaços. Já a casa, é a construção que abriga as 
 famílias e seu tamanho e a quantidade de habitantes varia de acordo com a tribo. 
 De uma forma geral, as tribos se apresentam como sociedades comunais, descentralizadas, 
 mas com certo grau de hierarquia com papéis sociais nítidos e divisão de trabalho entre 
 homens e mulheres. As tribos são compostas por várias aldeias ligadas por parentesco ou 
 interesses comuns. A forma das aldeias varia em função das tradições relativas a cada tribo 
 podemos classificá-las conforme a planta de situação em três tipos: aldeias circulares, 
 lineares e retangulares. 
 O formato da planta de situação das aldeias circulares pode variar entre o círculo fechado, 
 dois semicírculos ou arco de círculo. A planta circular de situação é amplamente difundida, 
 sendo encontrada na Amazônia, na região da bacia do rio Xingu e na região central do país, 
 no planalto motogrossense. Na época do descobrimento era o modelo utilizado pelos 
 Tupinambá (Tupí) da faixa litorânea. Muitas das aldeias de conformação circular 
 apresentavam uma paliçada exterior circundando a aldeia e outra “paliçada interna, em 
 forma de linha poligonal quebrada”. (COSTA e MALHANO, 1986, p. 29) 
 Os Yawalapiti vivem no Alto Xingu, sua população atual é 260 pessoas e pertencem ao 
 tronco linguístico aruak. O primeiro contato historicamente registrado dos Yawalapiti com 
 não indígenas ocorreu em 1887, quando foram visitados pela expedição do etnólogo alemão 
 Karl von den Steinen. (ISA, 2019a). Seguindo o padrão alto-xinguano, a aldeia yawalapiti é 
 circular. As casas são dispostas ao redor da praça, espaço destinado a atividades 
 comunitárias como celebrações, rituais, assembleias, entre outras. No centro da praça fica 
 localizada a casa-dos-homens ou casa das flautas e é nesta casa que os homens se 
 reúnem para realizar atividades exclusivamentemasculinas. A entrada das mulheres é 
 proibida, salvo em algumas ocasiões. A casa das flautas tem construção semelhante às 
 residências, as flautas sagradas apapálu ficam penduradas na viga mestra e são utilizadas 
 nos rituais da tribo. 
 As casas abrigam várias famílias, aparentadas entre si e seu tamanho varia de acordo com 
 o número de moradores. Cada casa forma uma unidade autônoma em relação às outras e 
 contam com uma cozinha e um depósito de alimentos comuns a todos habitantes. No 
 espaço interno da casa as famílias armam redes contiguamente. À noite, a casa é fechada 
 com portas feitas de madeira e palha e cada família acende uma pequena fogueira próxima 
 a suas redes para regular a temperatura interna. 
 As aldeias lineares são alinhadas paralelamente às margens do rio, em uma ou duas fileiras 
 de casas. A circulação principal é feitaem frente as casas por um caminho que ladea o rio e 
 um caminho secundário contorna a parte de trás. A casa-dos-homens fica a uma certa 
 distância das casas e possui um caminho de acesso separado dos outros. 
 As aldeias Karajá estão localizadas nos Estados do Tocantins, Mato Grosso,Goiás e Pará. 
 Os Karajá, atualmente, têm uma população de 3768 pessoas e suas aldeias, antigas e 
 recentes, são constituídas de alinhamentos de casas paralelas ao rio Araguaia, podendo 
 ocorrer um, dois ou mais arruamentos formados pelas fileiras de casas; ou ainda, uma única 
 fileira. 
 Antigamente, a aldeia dos Karajá não era fixa variando sua localização de acordo com a 
 época do ano. Na estação das chuvas as casas, eram construídas afastadas das margens 
 do rio e possuíam estrutura de madeira e a cobertura de palha cobria toda a casa, até o 
 chão. Na estação seca eram construídas casas mais simples, construções estacionais, por 
 estarem próximas das margens do rio, facilitavam o abastecimento de água e a pesca. 
 Atualmente, esse ciclo de construção estacionais foi abandonado e as aldeias se fixaram em 
 locais permanentes. 
 Entre os textos etnográficos mais antigos, há a rica descrição de Paul Ehrenreich, que 
 visitou os Karajá em 1888, depois de ter participado da segundo viagem de Karl von den 
 Steinen ao Alto Xingu. Lançado em Berlim em 1891, seu trabalho foi traduzido para o 
 Português por Egon Schaden e publicado com introdução e notas de Herbert Baldus em 
 1948, com o título “Contribuições para a Etnologia do Brasil”, que se inicia com a seção “As 
 tribos Karajá do Araguaia (Goiás)”. Depois temos a descrição bastante confiável de Fritz 
 Krause, que viajou pelo Araguaia em 1908 e publicou “Nos sertões do Brasil”. Instituto 
 Socioambiental (ISA, 2019b): 
 A tribo dos Xavante tem uma população de cerca de 13.000 pessoas abrigadas em diversas 
 Terras Indígenas que constituem parte do seu antigo território de ocupação tradicional há 
 pelo menos 180 anos, no estado do Mato Grosso. Instituto Socioambiental (ISA, 2019c): O 
 povo Xavante se dividia entre uma aldeia base e acampamentos temporários, construídos 
 ao longo do ano, durante as migrações. As tribos se deslocavam por grandes distâncias pois 
 viviam em meio a um conjunto de bacias hidrográficas responsáveis pela rica biodiversidade 
 regional. Suas viagens eram longas chegando a durar vários meses. Os grupos de viajantes 
 se encontravam em grandes aldeias semi-permanentes para realizar rituais e atividades 
 coletivas. Mesmo esses acampamentos temporários mantinham a composição original da 
 aldeia base na forma de uma ferradura. Os grupos se mantinham em comunicação através 
 de sinais de fumaça, para que pudessem se reunir durante e também ao final da expedição. 
 Atualmente, o modo se vida seminômade foi abandonado pelos Xavante, pois grandes 
 pedaços das terras habitadas pelos grupos foram ocupados pela agropecuária extensiva, 
 em especial a produção de soja. 
 2.2 Tipos de casas 
 Apesar das semelhanças nos métodos construtivos e matérias-primas empregadas pelas 
 tribos brasileiras, é possível identificar as construções pertencentes aos diferentes grupos, 
 pois tanto no nível ecológico, como no social e no religioso, assim como nos meios de 
 adaptação às características do terreno de implantação, as construções apresentam uma 
 grande diversidade. A escolha do sítio, o tempo de permanência no local, a quantidade de 
 famílias que habitarão a casa e suas funções são fatores determinantes da forma finale 
 variam de acordo com a tradição cultural de um dos povos. 
 Sem dúvida, o material usado para a construção de casas e abrigos varia pouco: a 
 matéria-prima é a madeira para esteios e travessões, as folhas de palmeira para a cobertura 
 e as tiras de embira para a amarração. Mesmo assim, podemos imediatamente reconhecer 
 uma casa Xavante e distingui-la de uma casa Yawalapiti. 
 Para uma compreensão adequada da função deste espaço arquitetônico, a casa deve ser 
 considerada parte de contexto etnográfico mais amplo, em conjunto com os outros espaços 
 ocupados pela tribo. As casas são pensadas em conjunto com os caminhos, praça e outras 
 casas, não de maneira isolada.Para os grupos indígenas é, em geral, a aldeia o ponto para 
 elaboração da identidade, um espaço mais amplo que vai além das casas, englobando toda 
 comunidade e o espaço territorial ocupado pelo grupo. SÁ (1983, p. 119-125). 
 As grandes casas Tukano abrigam uma comunidade inteira que, em seu interior, 
 desenvolvem tanto atividades cotidianas, como grandes rituais. Neste caso, a importância 
 atribuída à casa manifesta-se no requinte arquitetônico e decorativo. Para outros povos, a 
 casa pode ser vista simplesmente como uma unidade, com funções específicas, dentro de 
 um contexto espacial habitado mais amplo, como a aldeia, ou mesmo o território tribal, 
 quando se trata de grupos seminômades. 
 Embora as sociedades indígenas sejam muito diferentes umas das outras, é possível 
 afirmar que, entre elas, não existe um alto grau de especialização do espaço. Isso não 
 significa que o espaço nas sociedades indígenas seja homogêneo e indiferenciado, mas 
 indica uma grande integração entre as atividades realizadas pelo grupo. O espaço de 
 trabalho, convívio familiar, lazer e outros são sobrepostos coexistindo de forma harmoniosa. 
 Algumas técnicas de construção que otimizam os espaços habitados são comuns à muitas 
 tribos.Normalmente as casas têm um pé direito alto que facilita a ventilação do interior e 
 funciona como uma espécie de chaminé, levando a fumaça das fogueiras para o alto, 
 liberando a parte baixa habitada. As portas de entrada são baixas dificultando, 
 propositalmente, o acesso por questões de segurança. A ausência de janelas e pouca altura 
 das entradas mantêm o ambiente escuro afastando os insetos. Quando necessário, faz-se 
 uma abertura temporária para a iluminação diurna. 
 Nas casas de moradia, as entradas anterior e posterior correspondem a espaços com 
 funções específicas, decorrentes da divisão sexual de áreas e do conceito de espaço 
 público e privado. Assim, as áreas de domínio masculino – abertas aos visitantes – são 
 aquelas situadas à entrada principalda casa. As áreas de domínio feminino se localizam em 
 setores mais resguardados (COSTA e MALHANO, 1986, p. 68,73-74). 
 Para facilitar o estudo, as casas indígenas serão divididas em grupos, considerando suas 
 diferentes tipologias, classificadas em cinco tipos básicos: casas com planta baixa circular, 
 planta elíptica, retangular e poligonal. 
 As casas de planta circular são comuns em vários grupos indígenas, apresentando uma 
 grande variação na distribuição interna dos espaços, dos elementos estruturais e no formato 
 de suas coberturas. As versões mais simples são compostas por apenas um elemento 
 estrutural central de onde partem uma série de caibros flexíveis (taquaras cortadas ao 
 meio), enterrados no solo formando uma cúpula, nos quais são atadas com cipó taquaras no 
 sentido horizontal, sobre as quais serão presas as folhas de palmeira formando a cobertura. 
 Um exemplo deste tipo de construção é a casa Xavante que possui um diâmetro de 
 aproximadamente 7 metros altura de 4,5 metros com apenas uma abertura voltada para o 
 centro da aldeia. Nesses espaços, podem viver duas ou três famílias (DERENJI, 2002, p. 
 41). 
 Outro exemplo de casa de planta circular é a casa Tukussipan da tribo Wayana. A 
 Tukussipan ocupa o centro da aldeia e exerce duas funções, a de casa-dos-homens e 
 acolher grupos visitantes durante festividades. 
 A Tukussipan possui planta circular com diâmetro de aproximadamente 10 metros e altura 
 total de 2 metros. Possui o teto em formato de cúpula e em seu centro o esteio central 
 atravessa a cobertura e projetando-se por mais um metro e meio. É composta por oito 
 esteios na periferia além do centrale não possui paredes VELTHEM (1983, p. 171-177). 
 As casas xinguanas dos Yawalapiti são belos exemplos de construções de planta elíptica. 
 As proporções e a forma da casa tradicional xinguana variam ligeiramente de uma aldeia 
 para outra e sua construção dura em torno de seis meses. Essas casas têm uma dimensão 
 de cerca de 28 m de comprimento por 13 m de largura e altura de 8 m. 
 Sua estrutura é formada por cinco pilares de madeira (ou esteios) com 50 cm de diâmetro e 
 10 metros de comprimento. Os pilares recebem as peças da cumeeira e quatro estruturas 
 em X, que fazem o apoio intermediário da cobertura, formando a estrutura da casa. A 
 cobertura de palha se estende até chão cobrindo toda a construção, mas internamente a 
 casa conta com uma parede formada por uma paliçada de troncos de 1,5 m de altura. 
 Possuem duas portas opostas centralizadas em relação a lateral maior (SÁ (1983, p. 
 119-125). 
 As casas das aldeias Timbira tem, em geral, plantas de formato retangular, tendo como 
 frente um dos lados maiores da construção que dependendo do grupo pode ter a cobertura 
 formada por duas ou quatro águas, feita de folhas de babaçu ou inajá. Do mesmo material 
 são feitas as paredes. Toda a ligação é feita por amarração com cipó. Todas as folhas de 
 palmeira são aplicadas em posição horizontal, com os folíolos pendentes para um lado só. 
 Algumas vezes, as folhas são aplicadas em sentido vertical, de ponta para baixo e com os 
 folíolos em posição natural. Segundo Ladeira (1983, p.22-27), essa forma de construir 
 parece ser a forma original dos Timbira construírem suas casas (LADEIRA, 1983, p. 22-27). 
 Os Timbira atuais estão localizados nos campos do cerrado do Maranhão e de Goiás. Suas 
 aldeias são construídas em lugares planos, em solo não pedregoso e perto de córregos 
 d’água. Nas proximidades deve haver mata ciliar para os roçados; quando, em 
 consequência das derrubadas anuais, esta mata se acaba, a aldeia é reconstruída em outro 
 lugar. Instituto Socioambiental (ISA, 2019dOs Timbira eram grupos seminômades, que 
 viviam da coleta e da caça se deslocando durante os períodos do ano por uma vasta região. 
 Por esse motivo, construíam acampamentos temporários, formados por abrigos simples, e 
 tinham uma cultura de produzir artefatos de palha (ainda hoje são produzidos), como cestos 
 para transportar ferramentas e utensílios e armazenar alimentos. 
 As aldeias Timbira são circulares. Todas as casas estão localizadas a mesma distância do 
 centro da aldeia de onde partem caminhos ligando o centro a cada uma das casas. Um 
 outro caminho circular passa pela frente de todas as casas ligando umas às outras e 
 formando dessa maneira uma divisão entre o espaço de produção da aldeia (produção 
 doméstica das famílias e suas moradias), domínio das mulheres, e o pátio da aldeia, espaço 
 dos homens. 
 As casas são fechadas por paredes de todos os lados, mas, em alguns casos a casa pode 
 ter a parte da frente total ou parcialmente aberta em substituição a porta frontal. A porta 
 frontal está sempre voltada para o centro da aldeia e a ela corresponde uma porta dos 
 fundos na parte de trás da casa (LADEIRA, 1983, p. 22-27). 
 Como exemplo de casas indígenas de planta poligonal temos a casa-aldeia dos Marúbo. 
 Casa-aldeia ou maloca é uma casa unitária que abriga toda a tribo e onde são realizados 
 tanto os rituais quanto as atividades do dia-a-dia. São comuns entre outras tribos da região 
 amazônica situadas na bacia do Rio Negro, fronteira com a Colômbia que habitam a região 
 a mais de dois mil anos. Pertencem às famílias linguísticas: Aruak, Maku e Tukano. 
 Em algumas tribos a maloca possui divisões internas que separam as famílias, mas durante 
 festividades ou cerimônias, essas divisórias internas são rearranjadas para dar espaço às 
 danças dos homens adultos. 
 Os Marúbo vivem na terra indígena Vale do Javarí, junto com os Korubo, Mayá, Matis, 
 Matsés, Kanamari, Kulina Pano, entre outros povos isolados. É uma região cheia de 
 pequenas colinas ligadas entre si por cristas e coberta pela floresta amazônica. 
 As casas-aldeia dos Marúbo tem planta decagonal e são construídas no alto das colinas e 
 rodeadas por roças. Cada casa abriga um grupo local. 
 Em volta do cimo da colina, onde está implantada a maloca, também existem casas sobre 
 pilotis que constituem depósitos ou oficinas. O tamanho da maloca é proporcional à 
 quantidade de habitantes. A casa Marúbo, assim como as casas alto-xinguanas, são 
 construções antropomórficas, tendo cada uma de suas partes identificada com as partes do 
 corpo do Xamã. 
 A maloca é construída segundo um modelo padrão, cuja planta baixa tem forma poligonal, 
 irregular, de dez lados. Apresenta simetria em relação a um eixo longitudinal, em cujas 
 extremidades são colocadas as portas da referida maloca. Os lados intermediários do 
 decágono, situados nas extremidades de um eixo transversal, são maiores que os demais. 
 Suas medidas variam entre 9 e 31 metros de comprimento, 7 e 17 metros de largura e 8 
 metros de altura. 
 A maloca apresenta um total de vinte e quatro esteios, sendo oito centrais mais elevados e 
 dezesseis periféricos dispostos em duas fileiras paralelas aos esteios principais. Terças de 
 madeira são amarradas sobre o topo dos esteios e sobre elas apoiam os caibros que 
 sustentam a cumeeira e a cobertura é finalizada com folhas de jarina amarradasna 
 horizontal, diretamente sobre os caibros. A estrutura das paredes é formada por uma 
 paliçada de troncos finos fincados no chão que têm cerca de um metro de altura chegando 
 até a altura da extremidade dos caibros e fechando toda a altura lateral da construção 
 (COSTA e MALHANO, 1986, p. 68,73-74). 
 Assista aí - <iframe title="vimeo-player" 
 src="https://player.vimeo.com/video/507057697?h=d24de8dd2c" width="640" height="360" 
 frameborder="0" allowfullscreen></iframe> 
 3. Métodos e materiais 
 utilizados pelos indígenas 
 Existem pequenas variações em relação aos materiais utilizados na construção das 
 casas indígenas, que ocorrem em função do local dos assentamentos e das espécies 
 vegetais disponíveis. 
 A estrutura principal das casas varia de acordo com a forma da planta e cobertura. As 
 peças de madeira que formam a estrutura das casas são escolhidas por sua resistência 
 e durabilidade e as dimensões variam de acordo com o uso: esteio, viga, caibro ou ripa, 
 que em alguns casos são substituídas por taquaras partidas ao meio. As taquaras, 
 ouhastes de bambu, são flexíveis e, por isso, muito utilizadas em estruturas curvas 
 como, por exemplo, coberturas em abóbada ou ogiva. Nas casas circulares com 
 cobertura cônica, uma ou duas séries de esteios suportam as vigas e o conjunto de 
 terças e caibros que se curvam para definir a forma cônica ou a cúpula da cobertura, 
 como nas casas Tiriyó e Wayana Tukussipan. Caso se pretenda reforçar a resistência de 
 tal elemento curvo, usa-se a técnica do enlaçamento das varas encurvadas com cipó. 
 Isto era observado nas antigas casas Xavante e Karajá, nas Tapirapé e Tiriyó, e ainda 
 no alto Xingu. Enfim, todas as construções cupulares e de cobertura com seção reta em 
 ogiva ou abóbada (caso do alto Xingu) apresentam tal tipo de amarração. 
 Na cobertura, são utilizadas folhas de palmeiras como ubim, bacaba, açaí ou inajá, 
 dependendo da disponibilidade do local. Uma exceção à regra do uso de folhas de 
 palmeira é a casa xinguana, em cuja cobertura é utilizado o sapé, preso à estrutura 
 através do enlaçamento de molhos dessa gramínea. 
 Para a fixação das folhas de palmeira nas estruturas tanto de cobertura quanto de 
 fechamento é utilizada também a técnica de amarração cipós, sendo os talos das folhas 
 presos ao ripamento. Quando as paredes são independentes da cobertura, o 
 fechamento pode ser feito com a mesma palha, mas sendo trançada diretamente na 
 estrutura. Outras formas de fechamento podem ser utilizadas, como a paliçada 
 composta por estacas de madeira cravadas verticalmente no solo, erguendo-se até o 
 encontro com a cobertura. Em algumas construções são utilizadas cascas de árvoreno 
 fechamento. No alto Xingu a taipa também é muito utilizada, não só no fechamento 
 como também na cobertura. 
https://player.vimeo.com/video/507057697?h=d24de8dd2c
https://player.vimeo.com/video/507057697?h=d24de8dd2c
https://player.vimeo.com/video/507057697?h=d24de8dd2c
 Segundo Costa e Malhano (1986, p. 74): 
 “A amarração – chamamos amarração ao conjunto de procedimento técnicos visando a fixar os 
 elementos construtivos incluídos na estrutura ou revestimento. Todos os grupos indígenas 
 brasileiros empregam o cipó na técnica de amarração por enlace. Usavam-no os Karajá para a 
 construção da casa antiga. O encaixe lateral, assim como a técnica mista (encaixe lateral 
 conjugado ao enlaçamento), são correntes entre os Tiriyó. O encaixe em topo é utilizado no alto 
 Xingu, e também entre os Tukâno.” 
 Entre as maneiras de fixar os elementos estruturais, cabe citar o enlaçamento das peças 
 de madeira com cipó. Além da amarração, para fixar as peças de madeira maiores e 
 mais pesadas, também é utilizada a técnica de encaixe lateral, as peças tem as pontas 
 escavadas criando pontos de encaixe que evitam o deslocamento produzido pelo 
 excesso de peso. 
 Como não poderia deixar de ser, a casa e a aldeia indígena procuram atender às 
 necessidades básicas de vida comunitária e à observância de características locais: 
 topografia, clima e materiais de construção disponíveis. As construções indígenas se 
 fundem com o local onde estão implantadas, pois sua matéria-prima vem diretamente da 
 natureza que a circunda, ao mesmo tempo que a organização do espaço, seguindo as 
 necessidades e tradições culturais das tribos, contrasta com o ambiente natural. 
 4. Cultura arquitetônica e 
 urbanística portuguesa na 
 época do Descobrimento 
 Em virtude de sua localização, o território português foi, ao longo dos séculos, alvo de 
 interesse de vários povos que ocuparam o território. Na Antiguidade, o mar Mediterrâneo 
 interligava diferentes civilizações que, através da navegação constituíram uma rede 
 comercial de extrema importância para a economia desses diferentes povos. Por volta 
 do século III a. C., sofreu as colonizações do Mediterrâneo oriental, com as feitorias 
 fenícias, gregas e cartaginesas que se implantaram no território, estimulando o 
 desenvolvimento da região e deixando suas influências marcadas na cultura local. Com 
 o fim das Guerras Púnicas, a região passou a ser ocupada pelos romanos no século II 
 a.C. No século V, é a vez da região ser ocupada pelos povos chamados “bárbaros” 
 pelos romanos, os suevos, vândalos, alanos, francos e visigodos. A partir do século VIII, 
 tem início a invasão árabe, que dura até o século XIII. Apesar dos territórios sob o 
 domínio desses vários povos por vezes estarem sobrepostos, o Norte de Portugal ficou 
 marcado do ponto de vista cultural e civilizacional, pela influência da Europa central, 
 enquanto o Sul adquiriu um caráter mediterrânico. Essa diferenciação é acentuada pelas 
 características climáticas das duas regiões e também pela matéria-prima disponível para 
 a construção em cada uma delas. Ao Norte, desenvolveu-se a civilização do granito; 
 enquanto no Sul, a matéria-prima dominante era o barro. Essa diversidade cultural 
 tomou forma através da arquitetura e da configuração dos espaços urbanos 
 portugueses, definindo características específicas que diferenciam Portugal no contexto 
 da tradição urbana europeia. 
 Figura 2 - Cidade brasileira com características coloniaisFonte: Shutterstock 108994037 
 #PraCegoVer: Na imagem, há uma cidade com arquitetura de características coloniais 
 coloridas. 
 41. Influências que marcaram a identidade 
 urbana portuguesa 
 Os castros, ou citânias, eram núcleos de povoamento que, no período pré-romano, 
 ocupavam os pontos dominantes do território que, mais tarde, vem a se tornar Portugal. As 
 principais características de assentamento praticadas por essa civilização pré-romana, 
 permaneceu em muitas cidades portuguesas, bem como nas cidades coloniais construídas 
 por Portugal no contexto da expansão ultramarina. Seguindo essa tradição, as cidades têm 
 seu núcleo primitivo erigido no topo de uma colina proeminente, a partir da qual se 
 desenvolvem. São várias as características do mundo mediterrâneo que subsistiram na 
 tradição urbana portuguesa: a localização privilegiada dos núcleos urbanos na costa 
 marítima; a escolha de lugares elevados para a implantaçãodo núcleo defensivo; a 
 adaptação do traçado à topografia; a estruturação do núcleo urbano em cidade alta, que 
 engloba os núcleos institucional, político e religioso, e em cidade baixa dedicada as 
 atividades portuária e comercial. A conformação urbana que segue as linhas naturais do 
 território também é uma característica da cultura castreja do norte da península, uma das 
 mais antigas expressões da civilização do granito e que subsistiu até à ocupação romana 
 (TEIXEIRA, 2012, p.23). 
 O granito encontrado em grande quantidade no Norte de Portugal era matéria-prima muito 
 utilizada na construção castreja e mesmo antes dela e também depois pelos romanos e 
 permanece até os dias de hoje. Existe, em função do uso de matérias-primas distintas na 
 arquitetura, a definição de civilização do granito para a região norte e civilização do barro 
 para região sul (RIBEIRO, 2013, p. 17-45). 
 Com a ocupação romana, do século II a.C. ao século V d.C., várias cidades são fundadas e 
 os romanos são responsáveis pela realização de grandes obras de infraestrutura que 
 aceleram o desenvolvimento da região, como pontes, estradas e aquedutos. A ordenação 
 do território seguindo os preceitos romanos contribuía para a romanização das populações 
 conquistadas. A regularidade do traçado criava um cenário comum a todos que viviam sob o 
 domínio romano. O Castrum, uma bem-sucedida estratégia de simbolização utilizada para 
 dividir a cidade em quatro seções usando o cruzamento de eixos viários monumentais como 
 lugar simbólico, reunia tanto os poderes administrativos quanto o povo. Os princípios 
 urbanísticos baseados na regularidade, na racionalidade e na geometria foram impostos 
 também às cidades já existentes e visavam a circulação de pessoas e de mercadorias, 
 fatores indispensáveis para uma economia mercantil em larga escala como a romana. As 
 cidades de Braga, Beja e Évora, entre outras, mantêm ainda hoje as marcas da presença 
 romana. Essa herança cultural, partilhada por tantos outros países europeus se traduz em 
 formas urbanas baseadas na geometria e na regularidade. O urbanismo português está 
 incluído nessa cultura urbana europeia, mas apresenta especificidades que são resultado 
 tanto de seu posicionamento geográfico quanto das outras tantas influências culturais 
 incorporadas ao longo de sua história. 
 O império romano foi desestruturado pela sequência de invasões bárbaras que têm início no 
 século IV. A população deixou as cidades em direção ao meio rural, que sofria menos 
 ataques dos invasores. As grandes propriedades rurais passaram, então a representar o 
 papel antes desempenhado pelas cidades. Nos feudos, o castelo inicialmente construído de 
 madeira e depois de pedra, tornou-se o centro político. Com o passar dos séculos, os 
 feudos já não dispunham de terras suficientes para a população em constante crescimento, 
 assim as cidades voltam a ser ocupadas e surgem novos núcleos mercantes, estabelecendo 
 uma vasta rede de comércio entre os burgos, fortalecendo a burguesia, um segmento da 
 sociedade até então pouco relevante na pirâmide social. 
 Após a conquista muçulmana do século VIII, e durante sua permanência em território 
 português, até o século XIII, sua cultura urbana ficou inscrita em muitas cidades. Vários 
 fatores determinavam a forma da cidade islâmica: as condições materiais e ambientais do 
 espaço em que se implantavam e os fatores culturais e religiosos. Em relação aos primeiros, 
 a presença muçulmana contribuiu para o reforçar as características mediterrâneas já 
 presentes nas cidades do Centro e do Sul, ocupadas e adaptadas às suas necessidades. 
 Muitas características que habitualmente se atribuem à cidade muçulmana ibérica são antes 
 características da cidade mediterrânea, segundo TEIXEIRA (2012). Essas características 
 são visíveis nos critérios de localização, na escolha dos sítios para a implantação dos 
 núcleos urbanos, na capacidade de adaptação ao terreno e na organização funcional da 
 cidade. As cidades islâmicas eram situadas de forma a dominar grandes percursos de água, 
 tais como Al-Usbuna (Lisboa), Santarim (Santarém), Kulümriyya (Coimbra), Märtula 
 (Mértola) ou Silb (Silves). Cidades estas que reciclaram espaços, estruturas e materiais do 
 período romano. 
 Na arquitetura desse período foram adotadas várias soluções e técnicas construtivas 
 originalmente árabes para a resolução de problemas de ordem estrutural dos edifícios. Os 
 arcos ferradura, as arcadas de colunas com capitéis, por vezes, ricamente trabalhados com 
 motivos árabes, foram soluções estruturais largamente utilizadas nesse período. 
 4.2 Formação do Estado Português (século 
 XIII) 
 No ano de 1139, Afonso Henriques de Borgonha tornou seu território (o condado 
 Portucalense localizado no extremo norte ocidental da Península Ibérica) independente. 
 Durante a dinastia de Borgonha, Portugal deu continuidade as guerras de Reconquista, 
 ampliando seu território em direção ao sul. 
 Reconquista é o processo histórico em que os reinos cristãos da Península Ibérica 
 procuraram dominar a região durante o período do Alandalus. Este processo decorreu entre 
 718 ou 722 (data provável da Batalha de Covadonga, liderada por Pelágio das Astúrias) e 
 1492, com a conquista do Reino de Granada pelos reinos cristãos. O controlo progressivo 
 da península ganhou destaque por ter possibilitado a fundação de novos reinos cristãos 
 como o Reino de Portugal e o Reino de Castela, precursores de Portugal e de Espanha. 
 Com a morte do último rei da dinastia Borgonha e a ascensão de D. João I, iniciou-se da 
 dinastia de Avis que marcou a vitória dos interesses burgueses, fortalecidos pelo surgimento 
 de uma nova rota comercial que ligava as cidades italianas à região da Flandres, fazendo 
 escala em Lisboa. Tendo sido o novo monarca apoiado pela burguesia, ele agiu de acordo 
 com seus interesses e, assim, são criadas as condições necessárias para a expansão 
 marítima em busca de novas terras. 
 Ao final do período da Reconquista, uma das primeiras preocupações do poder cristão em 
 Portugal foi eliminar de imediato qualquer influência visível da presença muçulmana no 
 território português, resgatando a fé cristã. As medidas tomadas pelo Estado incluíam a 
 descaracterização dos edifícios públicos que continham traços da arquitetura árabe, 
 eliminando vestígios da técnica ou elementos característicos. Mesquitas foram demolidas ou 
 transformadas para atender a ofícios religiosos cristãos. Mas as técnicas construtivas e 
 certos elementos arquitetônicos não puderam ser completamente eliminados do 
 conhecimento popular. 
 Alguns elementos que sobreviveram aos ataques cristãos são os azulejos, os ferros forjados 
 e os objetos de luxo como tapetes, trabalhos em couro e metal. Na arquitetura, 
 principalmente as muralhas e castelos, mantiveram seu estilo bem como o traçado de ruelas 
 e becos de algumas cidades do sul do país. São testemunhos da ascendência árabe os 
 terraços das casas algarvias (região Sul de Portugal) e outros exemplos emblemáticos da 
 influência arquitetônica árabe em Portugal seriam: o Castelo de Silvesno Algarve, o Castelo 
 dos Mouros em Sintra, o Castelo e a Igreja Matriz de Mértola, que são de um 
 reaproveitamento cristão da antiga mesquita muçulmana. 
 No período da Reconquista estão presentes em Portugal os seguintes estilos arquitetônicos: 
 ● Românico (1100 – 1230) 
 Nos tempos que seguiram à queda do Império Romano não houve o surgimento 
 de nenhum estilo original até o século XII, com o surgimento do românico 
 fortemente inspirado pelo Cristianismo e que foi usado principalmente na 
 construção de igrejas. Sob o comando do Conde D. Henrique, fundador da 
 Casa de Borgonha em Portugal, um conjunto de nobres e monges franceses 
 implantaram, de forma gradual, o românico no país. Durante a Reconquista 
 foram construídas muitas igrejas como forma de recuperar a fé cristã em 
 Portugal, e essas igrejas foram construídas no estilo românico. A característica 
 inerente à arquitetura românica é o arco de volta perfeita presente nas portas, 
 janelas, arcadas, abóbadas e ainda em muitos detalhes decorativos. As 
 primeiras igrejas tinham telhados de madeira que foram gradualmente sendo 
 substituídos por abóbadas construídas em pedra. Esse peso extra exigia que a 
 estrutura fosse reforçada com contrafortes lisos encostados às paredes. As 
 torres altas poderiam ter planta circular, quadrada ou octogonal e os edifícios 
 possuíam janelas pequenas por motivos estruturais. A planta da igreja românica 
 é sempre em cruz. 
 Em Portugal, o Românico sofre influência francesa dando origem a igrejas 
 orientadas para Oeste, normalmente com duas torres-campanário e três naves 
 em abóbada de berço e a igrejas orientadas para o leste, com três naves 
 cobertas por abóbadas de berço e uma torre-campanário sobre o transepto. 
 Contudo, as igrejas românicas portuguesas fugiram um pouco ao estilo original 
 assemelhando-se mais a grandes fortalezas devido às paredes grossas e 
 poucas aberturas. 
 ● Gótico (c.1230 - c.1450) 
 O estilo gótico nasceu na França e parte, a princípio, de inovações técnicas que 
 permitem a construção de edifícios mais arrojados do que os do período 
 anterior. O método construtivo que utilizava dois arcos transversais para 
 construir as abobadas das igrejas permitia a edificação de estruturas mais altas 
 e leves, e permitia a abertura de grandes janelas já que não havia mais a 
 necessidade das grossas paredes de pedra que antes suportavam a estrutura. 
 Os construtores descobriram que os pilares eram suficientes para sustentar os 
 arcos da abóboda, abrindo espaço para os grandes panos de vidro que vieram 
 a substituir as paredes de pedra, que antes faziam o fechamento dos edifícios. 
 O estilo gótico era focado sobretudo nas construções religiosas e em Portugal 
 prolongou-se até o século XV através do estilo Manuelino. O Gótico chegou 
 mais tarde a Portugal do que no resto da Europa, concentrando-se 
 fundamentalmente no centro do país, onde muitas igrejas e sés construídas no 
 estilo românico sofreram adaptações e foram alargadas com um transepto 
 gótico ou com elementos desse estilo. O Mosteiro de Alcobaça (construção 
 iniciada em 1178) foi o primeiro edifício gótico a ser construído em Portugal, em 
 conjunto com o Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, um dos mais importantes 
 mosteiros medievais portugueses. 
 O estilo gótico pode ser dividido em três períodos: o gótico primitivo, o gótico 
 clássico e o gótico tardio ou flamejante. Cada um destes períodos com suas 
 próprias particularidades. 
 4.3 Período dos Descobrimentos (1415-1543) 
 Com motivações de ordem econômica, em 1419, o Infante Dom Henrique reuniu na vila de 
 Lagos vários especialistas com o objetivo de investigar os mistérios da navegação 
 transoceânica, o que permitiu a Portugal o pioneirismo nas grandes navegações. Os lucros 
 do comércio de especiarias nas primeiras décadas do século XIV permitiram o surgimento 
 de um estilo arquitetônico luxuoso, uma categoria do estilo Gótico tardio e que veio a ficar 
 conhecido como estilo Manuelino por ter sido empregado nos edifícios construídos durante o 
 reinado de Manuel I. 
 A Era dos Descobrimentos é o período em que acontece o conjunto de conquistas 
 realizadas pelos portugueses nas explorações marítimas entre 1415 e 1543. Tem seu início 
 com a conquista de Ceuta no continente africano. Com o fim do período da Reconquista, os 
 portugueses se voltaram à procura de rotas alternativas que poderiam trazer mais riquezas 
 do que as já conhecidas rotas de comércio no Mediterrâneo. Portugal realizou importante 
 avanços tecnológicos que permitiram aos seus navios viajar com segurança em mar aberto 
 cobrindo enormes distâncias. 
 O estilo Manuelino está inserido na corrente arquitetônica denominada como gótico tardio ou 
 flamejante que acontece em toda a Europa. No século XIV, as cidades haviam se convertido 
 em grandes centros de comércio. Esse estilo passou a ser aplicado na construção das 
 casas particulares dos nobres e burgueses e em edifícios públicos em contraste com os 
 períodos anteriores, quando o gótico era aplicado quase que exclusivamente na construção 
 de catedrais. 
 Os construtores do século XIV já não se contentavam em reproduzir as formas das catedrais 
 góticas tradicionais e também era cada vez mais comum a encomenda de edifícios 
 grandiosos que não tinham nenhuma relação com a igreja. As cidades se desenvolviam com 
 grande rapidez. Dessa forma, buscaram exibir suas habilidades decorativas cobrindo os 
 edifícios com rendilhados complexos utilizando os mais variados temas. De acordo com 
 Gombrich (1993, p. 156): “Nas cidades prósperas e em permanente expansão, muitos 
 edifícios seculares tiveram que ser projetados e construídos: municipalidades, sedes das 
 guildas e corporações, universidades, palácios, pontes e portas das cidades”. 
 Em Portugal não foi diferente, apesar do estilo ter chegado com atraso em relação ao resto 
 da Europa. São poucas as diferenças do Manuelino em relação ao gótico final de outros 
 países europeus, seguindo a tendência de homogeneizar os espaços internos, que nas 
 igrejas se materializava na preferência por naves de mesma altura dando, assim, unidade 
 ao espaço interno, ausência de transepto e cabeceira regular em oposição às plantas em 
 cruz. Nos edifícios civis, as plantas retangulares também prevalecem e as fachadas são 
 ricamente decoradas. Os motivos mais presentes na decoração são os naturalistas 
 marinhos, cordas e uma rica variedade de animais e motivos vegetais. O estilo revela o 
 crescente gosto pelo exotismo, desde o início da expansão marítima. O primeiro edifício 
 manuelino conhecido é o Mosteiro de Jesus de Setúbal, construído entre 1490 e 1510, do 
 arquiteto Diogo Boitaca, considerado um dos criadores do estilo. 
 Assista aí - <iframe title="vimeo-player" 
 src="https://player.vimeo.com/video/507106127?h=814f7a97bf" width="640" height="360" 
 frameborder="0" allowfullscreen></iframe> 
 4.4 Resultados formais das influências sobre 
 as cidades portuguesas no século XV 
 O modelo que regiu o desenvolvimento urbano português, presente em todos os momentos 
 históricos, vem da sua herança mediterrânea, de natureza vernacular e é percebida 
 principalmente pelo fato das vias principais acompanharem a topografia natural existente e a 
 utilização das partes altas do terreno (dominantes) para a implantação dos edifícios 
 notáveis. Sendo assim, a conformação final da cidade construída é uma expressão do 
 território onde foi criada, as vias seguem a naturezado terreno e naturalmente levam aos 
 pontos dominantes, marcados com a presença de edifícios importantes e também para as 
 praças construídas para acompanhar esses edifícios. 
 Essa vertente de urbanização definida por Teixeira (2012) como vernacular gera uma grande 
 diferenciação entre os espaços, uma variedade de formas que torna a cidade mais legível e 
 permite que cada área tenha uma identidade própria. Estes princípios vão, mais tarde, ser 
 disseminados pelas colônias portuguesas ao redor do mundo dando origem a cidades que 
 apresentam características morfológicas específicas que as distinguem dos espaços 
 urbanos de outras culturas. Apesar de ser possível encontrar essas características 
 morfológicas, consideradas individualmente, em outros contextos históricos e geográficos, a 
 articulação desses elementos e sua síntese são especificamente portuguesas. 
 As especificidades da cidade de origem portuguesa têm a ver com muitos aspectos: suas 
 heranças culturais já apresentadas aqui nas culturas dos vários povos que ocuparam a 
 região antes dela se tornar Portugal e ficaram sedimentadas no conhecimento popular, 
 sendo adaptadas umas às outras. A lógica empregada para a escolha dos sítios onde foram 
 implantados os núcleos urbanos, seguindo a tradição mediterrânea pré-romana e a 
 influência árabe que formou vários núcleos em Portugal. As formas primordiais na 
 construção do traçado urbano são uma combinação da herança geométrica romana e seus 
 traçados regulares e cruzamentos simbólicos lugar de praças e edifícios públicos 
 importantes e os elementos árabes que concebem vias em concordância com a topografia 
 natural do terreno que naturalmente levam aos pontos topográficos de destaque. A 
 hierarquia entre os diversos elementos de referência do território criando uma percepção 
 rica e heterogênea do espaço urbano, as praças e seu papel na organização urbana, as 
 estruturas de quarteirão e de loteamento e os processos de planejamento e de construção 
 da cidade. 
 No século XV as principais cidades do país passam por programas de modernização 
 urbana, associando a intervenção urbana com a arquitetura. Em meados do século XV, D. 
 Afonso V, preocupado com a harmonia estética e funcionamento do espaço urbano de 
 Lisboa decretouque “as casas deveriam passar a ser construídas com paredes de pedra e 
 cal sobre arcos de cantaria” (TEIXEIRA, 2012, p. 76). No século XVI, o processo de 
 modernização continua pelas mãos de D. Manuel I realizou grandes reformas nos espaços 
 públicos existentes e regulamentou o ordenamento das áreas urbanas em expansão 
 dotando essas áreas de equipamentos urbanos e espaços públicos: 
https://player.vimeo.com/video/507106127?h=814f7a97bf
https://player.vimeo.com/video/507106127?h=814f7a97bf
https://player.vimeo.com/video/507106127?h=814f7a97bf
 Como consequência, os traçados urbanos portugueses raramente eram geometricamente 
 rigorosos. Além de suas referências geométricas, tais traçados adaptavam-se à topografia, à 
 hidrografia e ao ambiente físico de seus locais de implantação, sendo frequentemente 
 subvertidos para uma melhor adequação ao terreno, sob o ponto de vista funcional, formal 
 ou simbólico. Essa plasticidade dos traçados urbanos portugueses não se traduzia, contudo, 
 em estruturas amorfas. Pelo contrário, as cidades portuguesas eram estruturadas e 
 hierarquizadas, facilmente legíveis e paisagisticamente valorizadas. Essa adaptação ao 
 território e ao clima e sua não sujeição a rígidos princípios geométricos produziram cidades 
 eminentemente maleáveis e adaptáveis às diferentes circunstâncias que surgiram ao longo 
 do tempo. O urbanismo português, de forma geral, seguiu um plano com base em uma 
 regularidade subjacente a seu traçado, ainda que nem sempre de uma forma explícita, mas 
 que leva em consideração as particularidades do sítio e as explora, nomeadamente, por 
 meio da definição das principais vias estruturantes sobre as linhas naturais do território e da 
 criteriosa localização dos edifícios notáveis em posições dominantes (TEIXEIRA, 2012, p. 
 36). 
 É ISSO AÍ! 
 Nesta unidade, você teve a oportunidade de 
 ● Conhecer a história dos povos 
 ● pré-cabralinos; 
 ● 
 ● Estudar a configuração das aldeias indígenas com base em elementos 
 culturais tradicionais; 
 ● Conhecer os diferentes tipos de casa construídas por esses povos; 
 ● Aprender sobre a história da formação de Portugal; 
 HISTÓRIA DA 
 ARQUITETURA E 
 URBANISMO II 
 ARQUITETURA COLONIAL NOS 
 SÉCULOS XVI E XVII 
 Carina Mendes dos Santos 
 Você está na unidade Arquitetura colonial nos séculos XVI e XVII. Conheça aqui como 
 se deu o processo de ocupação do território brasileiro pelos portugueses nos primeiros 
 séculos da colonização e quais foram as suas estratégias para exploração econômica 
 das novas terras. 
 Veja também que heranças esses colonizadores deixaram em nossa arquitetura e na 
 conformação de nossas cidades, a partir das influências culturais que carregavam de 
 suas origens e das influências que receberam em terras brasileiras, pelo contato com 
 índios e africanos. Conheça também as características dos principais programas 
 arquitetônicos do período: arquitetura residencial e administrativa, religiosa e militar. 
 Bons estudos! 
 1 Cidade portuguesa e a 
 sua transferência para o 
 Brasil 
 Os modelos de cidades portuguesas podem ser sistematizados em duas grandes 
 vertentes: a primeira de referência medieval muçulmana e a segunda pautada no ideário 
 renascentista. Esses dois modelos estão na “gênese da maioria dos traçados das 
 cidades brasileiras” (MENDES, 2010, p.20). Com esses referenciais em mente, os 
 portugueses promoveram o processo de colonização do território brasileiro. Esse 
 processo se deu em consonância com os ciclos econômicos aqui estabelecidos. Dois 
 ciclos econômicos marcaram a ocupação do território brasileiro no arco de tempo que 
 tratamos nessa unidade: o ciclo do pau brasil e o da cana-de-açúcar. 
 Os trinta primeiros anos da presença dos portugueses nas terras recém-descobertas 
 corresponderam a um período de exploração rudimentar de recursos naturais, 
 principalmente do pau brasil. Essa atividade resultou no estabelecimento das feitorias, 
 que funcionavam como entreposto comercial e se situavam ao longo da costa litorânea. 
 De acordo com Mendes et al. (2010, p.23), as feitorias formavam núcleos de 
 povoamento, criados pelos colonizadores, que reuniam cerca de 20 homens. 
 Mencionam ainda os autores que “a escassa iconografia registra estes assentamentos 
 como um conjunto de pouquíssimas casas de madeira a palha, protegidas por uma 
 paliçada, também de madeira, fornecida pela nossa abundante floresta litorânea” 
 (MENDES et al, 2010, p.23). 
 Uma ocupação efetiva do território brasileiro só terá início com a vinda de Martim Afonso 
 de Souza, em 1531, a mando de Dom João III, que fundou, no ano seguinte, as duas 
 primeiras vilas: São Vicente e Piratininga. Diante das constantes ameaças francesas, 
 adotou-se como solução para a colonização e povoamento das terras o sistema de 
 Capitanias Hereditárias, experiência que os portugueses já haviam aplicado em suas 
 colônias nos Açorese na Ilha da Madeira. As terras situadas à leste das Tordesilhas 
 foram assim divididas em 14 capitanias doadas a 12 donatários. Tratava-se de entregar 
 a empresa da colonização à iniciativa particular de fidalgos, que assumiam o ônus 
 econômico da ocupação, podendo legislar, controlar e fundar vilas e povoados. A 
 metrópole fiscalizava e recebia os impostos. 
 O sistema de Capitanias obteve relativo sucesso, tendo em vista o interesse 
 predominante no comércio com o Oriente. Algumas foram recompradas pela Coroa 
 Portuguesa virando Capitanias Reais. Reis Filho (1968, p.31) informa que, em 1548, um 
 ano antes da criação do Governo Geral, haviam sido fundadas cerca de 16 vilas e 
 povoados no litoral brasileiro, que já exportavam mercadorias para a Metrópole. O 
 estabelecimento de um Governo Geral caracterizava-se como um esforço de 
 centralização, uma forma de coordenar militar e administrativamente as capitanias e 
 povoados, compensando os “excessos de dispersão” gerados pelo sistema de 
 Capitanias (REIS FILHO, 1968, p.32). Esse governo centralizado funcionou na primeira 
 cidade fundada em 1549: São Salvador da Baía de Todos os Santos 
 Esse segundo momento de ocupação do território foi marcado pelo ciclo econômico da 
 cana-de-açúcar, caracterizado pelas grandes propriedades de terras, com uma produção 
 monocultura e extensiva, toda pautada no trabalho escravo. Esse ciclo teve maior 
 importância nos dois primeiros séculos da colonização, pois a descoberta do ouro nas 
 Gerais, em fins do século XVII, redireciona e redimensiona a economia colonial. 
 Além dos portugueses, estiveram por nossas terras franceses e holandeses. Os 
 franceses praticavam, desde 1550, escambo com os índios para obtenção do pau-brasil, 
 mas, em 1555, lideraram a empresa de fundar no Brasil a França Antártica; sem 
 sucesso. Já os holandeses, com interesse na economia açucareira, após um período de 
 tentativas de invasão, se estabeleceram no Nordeste entre 1637 e 1654. 
 2. Núcleos urbanos 
 brasileiros 
 Apesar de essencialmente rural nos dois primeiros séculos da colonização, o Brasil 
 passou também por processos de urbanização, com a criação de diversos núcleos 
 urbanos. Cabia aos donatários a fundação de vilas, que podemos definir como 
 aglomerações de menor importância política. Contudo, as cidades só podiam ser 
 fundadas por decisão e ação da Coroa. 
 Conforme dados de Reis Filho (1968), dos 37 povoados fundados entre 1532 e 1650, 
 apenas 7 seriam por conta da Coroa, tendo sido os demais fundados por donatários e 
 seus colonos. Esse mesmo autor coloca que, até meados do século XVII, existiam duas 
 políticas urbanizadoras promovidas por Portugal: uma estimulava a formação de vilas 
 indiretamente nos territórios pertencentes aos donatários, para serem estabelecidas às 
 expensas desses, devendo ser orientadas pelas Ordenações Régias; a outra fundava 
 diretamente as cidades reais, centros de controles regionais, para o que fornecia 
 pessoal e recursos. Depois de Salvador, em 1549, foram fundadas as cidades reais do 
 Rio de Janeiro, em 1565, e, no século XVII, São Luís e Belém. 
 As Ordenações Régias conformavam um conjunto de leis, aplicáveis a Portugal e às 
 suas colônias, que incorporavam elementos do código civil, penal e administrativo, 
 estabelecendo normas e orientações para o funcionamento de vilas e cidades. A partir 
 delas definiram-se as práticas de regularidade para os traçados e construções dos 
 núcleos urbanos, práticas que se consolidaram “sob o impulso da racionalidade 
 renascentista” (MENDES et al., 2010, p.20). Houve também influência das Leis das 
 Índias, conjunto de códigos e diretrizes voltados à criação das cidades nas colônias 
 espanholas, especialmente na América, que determinavam, do ponto de vista 
 urbanístico, o traçado regular, com nítidas bases no modelo das cidades romanas. 
 Apesar de voltadas oficialmente às colônias hispânicas, o documento era de amplo 
 conhecimento dos Portugueses, que acabavam fazendo uso de seus preceitos. 
 Podemos dizer que o modelo de fato implementado no Brasil, nos dois primeiros séculos 
 de colonização, foi um híbrido de cidade medieval e renascentista. Predominando um ou 
 outro modelo dependendo da cidade. Ainda que se tenha buscado implantar a 
 regularidade pregada pelas disposições Reais, o projeto esbarrou em duas dificuldades. 
 Uma relativa às condições geográficas locais, muitas vezes acidentadas, havendo 
 necessidade de adaptação. Outra relativa à insuficiência de profissionais qualificados 
 para a tarefa e à falta de instrumentos de precisão para demarcar ruas, lotes e situar as 
 edificações. O trecho a seguir, exemplifica a falta de rigidez na implantação e 
 desenvolvimento da cidade-sede do Governo Geral: 
 Assista aí - <iframe title="vimeo-player" 
 src="https://player.vimeo.com/video/507113220?h=92fda1792a" width="640" height="360" frameborder="0" 
 allowfullscreen></iframe> 
 Salvador, originalmente, obedeceu a traços regulares por determinação real, mas o enxadrezado 
 de ruas e praças foi flexível, permitindo a adaptação de terrenos disponíveis entre o mar, as 
 encostas e lençóis d’água, às ruas das extremidades, determinando quarteirões de formas, 
 tamanhos e proporções diversas (MENDES et al., 2010, p.49). 
 Em Salvador, adotaram-se ainda duas estratégias de inspirações medievais na sua 
 implantação: localização em sítio elevado e a construção de muralhas a sua volta. Mas a 
 solução já se implantou tardiamente, em função da descoberta da pólvora, tornando-as 
 obsoletas e inócuas. Assim, devido ao seu crescimento, a cidade transcendeu a 
 muralha, alcançando a beira-mar, dividindo-se em Cidade Alta e Cidade Baixa. 
 Podemos dizer, a grosso modo, que havia uma regularidade relativa nos traçados das 
 cidades brasileiras, os lotes seguiam um padrão similar nesse primeiro período de 
 ocupação, mantendo-se praticamente inalterados até princípios do século XIX. Eram 
 retangulares e alongados, isto é, tinham a largura voltada para a rua estreita e as 
https://player.vimeo.com/video/507113220?h=92fda1792a
https://player.vimeo.com/video/507113220?h=92fda1792a
https://player.vimeo.com/video/507113220?h=92fda1792a
 laterais compridas. Os lotes agrupavam-se em quadras, com linhas contínuas de 
 construções, cujos alinhamentos junto à rua, deixavam um vazio na parte posterior, que 
 correspondiam aos quintais das casas. 
 A imagem das ruas era de duas faixas contínuas de construções, coladas umas às 
 outras, sem interrupção. Eram estreitas, com alinhamentos e nivelamentos precários, 
 apresentando um aspecto assim pouco regular. Como observa Reis Filho (1968), numa 
 mesma rua podia haver diferença em sua largura ao mudar de uma quadra para outra. 
 Não contavam com passeios para circulação dos pedestres, em poucos casos podia 
 existir algumas lajes sob os beirais para proteção das águas das chuvas. Poucas eram 
 as que contavam com calçamento, que, quando existia era em pedra. O calcamento de 
 ruas começou a se popularizar quando se tornou necessário separar tráfegos de 
 circulação: os pedestres dos transportes sobre rodas. Em núcleos urbanos maiores, a 
 presença de ruas comerciais passou a caracterizar espaçosde permanência e pontos 
 de reunião. 
 No entanto, o centro principal da vida urbana eram as praças. Nelas “se realizavam as 
 cerimónias [sic] cívicas e toda sorte de festividades: religiosas e recreativas; e serviam 
 ainda aos mercados e às feiras” (REIS FILHO, 1968, p.64). Nas praças se localizavam 
 as principais construções da cidade, em geral: a Casa de Câmara e Cadeia, a Igreja 
 Matriz e o Pelourinho, símbolo da autonomia municipal colonial, representado por um 
 marco, que podia ainda servir ao castigo público de alguns infratores. 
 Nos dias de hoje é difícil encontrar um núcleo urbano dos séculos XVI e XVI ainda 
 íntegro, isso porque a própria evolução do sítio, decorrente das dinâmicas urbanas, 
 resultaram em demolições, sobreposições, alterações etc. É mais fácil encontrar 
 edificações isoladas ou resquícios do traçado original, mas para povoar a imaginação do 
 leitor, apresentamos a seguir a imagem da “Cidade de Parati/RJ”. Ainda que seu traçado 
 e desenvolvimento tenha ocorrido ao longo do século XVIII, nos permite apreciar 
 algumas das características que tratamos até aqui, e outras que serão abordadas mais 
 adiante. 
 Figura 1 - Cidade de Parati (RJ)Fonte: Shutterstock, 2020 
 #PraCegoVer: Na imagem, há uma foto da cidade de Parati no Rio de Janeiro com 
 arquitetura do século XVIII. 
 3. A arquitetura 
 desenvolvida pelos 
 portugueses – séculos XV 
 e XVII 
 O histórico de formação do Estado Português resultou numa expressiva diversidade de 
 contribuições à cultura portuguesa, que teve certamente reflexos na arquitetura 
 desenvolvida em solo brasileiro. Os romanos estiveram na península ibérica até 476 
 d.C., dominando-a por mais de 600 anos. Em seguida, foi a vez dos povos germânicos 
 (também chamados bárbaros), que por ali permaneceram por cerca de 300 anos até as 
 invasões islâmicas. Essa presença de muçulmanos na região durou aproximadamente 
 700 anos, quando foram então expulsos pelas guerras de Reconquista, com a retomada 
 do território consolidada em 1492 e a fundação do Estado Português. 
 Essa influência se dará também pela referência aos estilos arquitetônicos que durante 
 os séculos XVI e XVII se desenvolveram em Portugal. Carvalho et al. (2000, p.6) 
 ressaltam que no período de formação da nacionalidade portuguesa esteve presente o 
 estilo românico, de forma que algumas características acabaram se incorporando no 
 gosto da cultura portuguesa: “o peso, a rigidez, a simplicidade e o caráter estático 
 constituíam tendências que iriam permear a produção arquitetônica”. Outra 
 característica que se tornou marcante na arquitetura portuguesa, essa associada à 
 herança cultural islâmica, foi a prática de preencher e compartimentar superfícies e 
 inserir formas menores em maiores. (CARVALHO et al., 2000) 
 Podemos dizer que esses foram aspectos que em linhas gerais influenciaram a 
 arquitetura portuguesa e por desdobramento a arquitetura colonial brasileira. As 
 contribuições e influências na arquitetura popular portuguesa nos dois primeiros séculos 
 de empresa colonial brasileira, podem ser sistematizadas em 3 ramos de heranças 
 culturais: a dos romanos, a dos germânicos e a dos islâmicos. 
 Do período de domínio romano, a arquitetura portuguesa herdou a diversidade de 
 programas, técnicas e formas arquitetônicas. Em relação aos programas, podemos citar 
 os templos, basílicas, fontes, termas, aquedutos, pontes, anfiteatros, castros (castelos), 
 palácios etc. Das técnicas de construção, herdou a maneira de assentar as pedras, com 
 argamassas de cal e de cimento, e provavelmente, as técnicas da taipa e do adobe. Em 
 função do contato dos romanos com o Oriente, temos a técnica de produção de 
 cerâmicas para a confecção de tijolos e telhas, também introduzida e aperfeiçoada em 
 solo português. No que diz respeito às formas, arcos, abóbadas, cúpulas, colunas e 
 pilastras fazem parte do repertório que influenciou a história da arquitetura de forma 
 geral. 
 Dos povos germânicos, a estrutura fortificada foi uma importante herança, com a 
 construção de castelos e fortes, sendo que até as igrejas podiam apresentar aspectos e 
 recursos defensivos. Mas, segundo Weimer (2005, p.85), “há quem julgue que foram 
 herdeiros e continuadores da arquitetura de defesa romana”, e chegaram inclusive a 
 fazer uso do arco pleno, adotando o arco apontado somente mais tarde. A grande 
 contribuição, diz o mesmo autor, foi a introdução das estruturas de enxaimel, paredes 
 com requadro de madeira que formavam panos independentes e que eram fechados por 
 adobe, tijolos, pedra etc. Essa solução deixava aparentes as peças de madeira que 
 estruturavam paredes e vãos. 
 Com base nos estudos de Weimer (2005) abordaremos a influência da cultura islâmica 
 na arquitetura portuguesa em duas correntes: a árabe e a berbere. Em relação à 
 primeira, sua interferência na forma e no partido da arquitetura portuguesa foi restrita, 
 porque os árabes se estabeleceram efetivamente na Andaluzia, território espanhol, 
 mantendo apenas representações no lado português. A casa árabe vai influenciar de 
 forma mais direta a solução das casas senhoriais e dos claustros conventuais, que 
 adotavam como partido o pátio central, em torno do qual se organizavam os demais 
 compartimentos. Mais evidentes e difundidas foram as referências adotadas em 
 elementos arquitetônicos, como o emprego abundante de adufas (fechamentos em 
 treliça) e muxarabis (balcões fechados por treliças). 
 O lado ocidental da península, que corresponde ao atual território português, era 
 administrado efetivamente pelos berberes, povos oriundos do norte da África, que 
 deixaram marcas mais significativas na arquitetura local. Segundo Weimer (2005), as 
 casas muçulmanas que mais influenciaram as portuguesas, e por consequência as 
 brasileiras, em termos de forma, foram variações das casas berberes. 
 As casas berberes eram geminadas (coladas umas às outras nas divisas laterais dos 
 lotes), seus cômodos eram ordenados linearmente de forma perpendicular à rua, 
 contava ainda com poucas aberturas. Havia uma única entrada e nos fundos podia 
 haver pequenas janelas que davam para um pátio fechado por muros altos. A ordem de 
 disposição dos cômodos a partir da entrada eram sala, dormitórios e cozinha. A 
 cobertura podia ser plana, em áreas mais secas e de duas águas de telhado com ponto 
 de cumeeira baixo, para as zonas mais úmidas. 
 Essa tipologia foi adaptada para Portugal, recebendo o nome de “casa de pescadores” e 
 também para o Brasil, como veremos, recebendo o nome de “casa de porta e janela” 
 (WEIMER, 2005). 
 Inúmeras palavras que usamos no vocabulário arquitetônico têm origem árabe e 
 berbere. Você provavelmente já ouviu falar em algumas delas. Confira: açoteia, adobe, 
 adufa, alcova, aldeia, alfândega, algeroz, alicerce, alisar, almofada, almoxarifado, 
 alpendre, alvará, alvenaria, andaime, armazém, arrabalde, azulejo, bairro, baldrame, 
 chafariz, coxim, enxaimel, enxovia, fasquia, harém, masmorra, mastaba, medina, 
 mesquita, minarete, mudéjar, muxarabi, saguão, sanefa, sarrafo, sofá, tabique, taipa, 
 trapiche, zarcão etc. 
 4. Estilos arquitetônicos e 
 a arquitetura

Continue navegando