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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE MINAS DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO DISCIPLINA: ARQ 102 TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO II PROFª: PATRÍCIA JUNQUEIRA BARROCO Contexto A arquitetura barroca, assim como a pintura, a literatura, o pensamento filosófico ou mesmo a vida política e social do século XVII, tem aspectos aparentemente contraditórios: de liberdade ou de conformismo, de larga abertura diante da natureza e dos homens ou de tenso rigorismo religioso, de vivo historicismo ou de caprichoso arbítrio fantástico. (ARGAN apud BAETA, 2012: 37) CONTEXTO HISTÓRICO Contrarreforma: movimento criado dentro da Igreja Católica em resposta à Reforma Protestante, iniciada por Martinho Lutero, em 1517. Concílio de Trento (1545 a 1563): convocado pelo Papa Paulo III para manter a unidade da fé católica e a disciplina eclesiástica. Retomada do Tribunal do Santo Oficio (inquisição), em 1542. Criação do Index Librorum Prohibitorum (relação de livros proibidos), em 1543. Incentivo à catequese dos povos do Novo Mundo, o que levou à criação de novas ordens religiosas para realizar essa tarefa, como a Companhia de Jesus. Além dos Jesuítas, outras ordens mais severas foram fundadas nesse momento, como a dos capuchinhos e as dos oratorianos. Surgimento de novos santos: Santo Inácio de Loyola, Santa Teresa, Santo Felipe Neri, São Carlos Borromeo. As grandes instituições políticas e religiosas, a Igreja contrarreformista e os governos absolutistas, precisavam de um mecanismo de divulgação e exposição do seu poder. O que importava era viver de acordo com os ensinamentos da Igreja e obedecer à política do Estado. Conceitos abstratos e ligados à cultura erudita não interessavam, era importante que a mensagem fosse compreendida tanto pelos mais humildes quanto pelos mais cultos, legitimando sua história e sua relevância presente. UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE MINAS DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO DISCIPLINA: ARQ 102 TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO II PROFª: PATRÍCIA JUNQUEIRA Assim, o apelo visual se tornou o principal instrumento de persuasão acessível a todas as camadas sociais. Espaço barroco: grande encenação dramática. Dualidade Barroca: Antropocentrismo X Teocentrismo Céu X Inferno Religião X Ciência Claro X Escuro Divino X Humano A Reforma enfraqueceu o poder político do papado, facilitando a centralização do poder e levando ao fortalecimento da autoridade real (absolutismo). A arte barroca nasceu em Roma e se desenvolveu nos países católicos. Ela está intimamente ligada à Contrarreforma e procura comover o espectador transformando a igreja em um espaço cênico, um teatro. É a exaltação do sentimento em contraposição ao predomínio da razão proposto pelo Renascimento. O estilo teve seu apogeu em Roma, entre 1630 e 1670, expandindo-se para o norte da Itália, Espanha, Portugal, Alemanha e Áustria. No final do século XVII, Roma retornou ao estilo clássico sob a influência de Paris, novo centro da cultura europeia. Nessa época, a austeridade da Contrarreforma já havia abrandado. ARTE E ARQUITETURA BARROCA A passagem do Renascimento para o Barroco é a passagem de uma arte rígida para uma arte mais livre, do formal para o informal. Foi em Roma que os grandes mestres do Renascimento introduziram o Barroco, por isso, o barroco romano é a transformação mais completa da Renascença. O Barroco perdurou por 200 anos e ao longo desse tempo sofreu modificações. No início, é um estilo pesado, maciço, contraído, severo, com o tempo ele se torna mais leve, mais alegre, até chegar ao Rococó. UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE MINAS DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO DISCIPLINA: ARQ 102 TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO II PROFª: PATRÍCIA JUNQUEIRA Principais nomes: Antonio da Sangallo, Michelangelo, Vignola, Giacomo della Porta, Carlo Maderno, Bramante, Rafael, Peruzzi, Caravaggio, Velazquez, Pietro da Cortona, Rubens. Não é tarefa simples identificar as características do estilo barroco. As obras de Tintoretto e El Greco demonstram algumas ideias que foram se desenvolvendo ao longo do século XVII e ganhando importância, como a ênfase sobre a luz e a cor, o desprezo pelo equilíbrio simples e a preferência por composições mais complicadas. Entretanto, a pintura do século XVII não é um prolongamento do estilo maneirista. Nessa época era prática comum, principalmente entre os romanos, discutir arte. As questões versavam sobre qual arte era superior, a pintura ou a escultura, ou se o desenho era mais importante do que a cor. Até que surgiram outros temas, com dois artistas vindos do norte da Itália, que possuíam métodos considerados opostos: Annibale Carracci e Michelangelo Merisi da Caravaggio. Ambos pareciam cansados do maneirismo, mas os processos empregados para superá-lo eram diferentes. Annibale Carracci(1560-1609). Originário de Bologna, vinha de uma família de pintores e estudou arte em Veneza. Ao chegar a Roma, ficou fascinado com a obra de Rafael. Tinha intenção de retomar a simplicidade e beleza de suas obras. Michelangelo Merisi da Caravaggio (1573-1610), nascido nos arredores de Milão, buscava a verdade. Não lhe agradavam os modelos clássicos nem a beleza ideal. Seus críticos o acusavam de não ter respeito pela beleza ou tradição. Na época desses artistas, Roma era o centro do mundo civilizado. Artistas de toda a Europa acorriam a Roma em busca de conhecimento. Peter Paul Rubens (1577-1640) foi o único artista nórdico a entrar em contato diretamente com as discussões romanas no tempo de Carracci e Caravaggio. Apesar disso, não aderiu a nenhum dos grupos ou movimentos, continuou a ser um artista flamengo. Os pintores dos Países Baixos se importavam mais em representar fielmente as texturas de tecido e carne do que com os padrões de beleza, como os italianos. Ao retornar a Antuérpia, em 1608, havia aprendido tudo o que existia para ser ensinado e não encontrou nenhum rival a sua altura ao norte dos Alpes. Rubens aprendeu a dispor figuras em grande escala e a usar luz e cor para aumentar o efeito geral. Absorveu o gosto italiano por telas gigantescas. Em visita a Espanha, Rubens conheceu Diego Velázquez (1599-1660), pintor da corte de Filipe IV. Velázquez conhecia a obra de Caravaggio através de seus imitadores. UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE MINAS DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO DISCIPLINA: ARQ 102 TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO II PROFª: PATRÍCIA JUNQUEIRA Esteve em Roma, a conselho de Rubens, em 1630 para estudar as pinturas dos grandes mestres. Permaneceu na Itália por pouco tempo, retornando a Madri um ano após sua chegada. Velázquez era responsável por pintar retratos do rei e da família real. Transformou um tema simples em obras de grande interesse. A expressão “barroco” é de origem francesa, mas o significado do termo é incerto. O significado mais comumente aceito é de que “barroco” seria um tipo de pérola não totalmente redonda ou que significaria bizarro, algo de formas extravagantes. Ao contrário da Renascença, o Barroco não surgiu aliado a uma teoria. O estilo se desenvolveu sem modelos. Aparentemente, a princípio, não se intencionava sugerir novos caminhos. Entretanto, alguns conceitos antes desconhecidos surgiram nesse momento em textos críticos sobre arte, como os conceitos de capriccioso, bizarro, stravagante, etc... A Antiguidade passa a ser vista como “regra” que alguns transgridem intencionalmente. Nesse momento, a divinização do gênio antigo diminui e acredita-se que é possível competir com o antigo. Desde os trabalhos de Michelangelo e Rafael no Vaticano, as artes plásticas e a arquitetura tendem sempre ao grande. A concepção de belo então, se encontra vinculada ao colossal. Esse novocritério fazia parecer pequeno tudo o que havia sido edificado anteriormente. ARQUITETOS Bramante: é inicialmente Renascentista, mas não exclusivamente. A Cancelleria, San Pietro in Montorio e as construções no Vaticano são a expressão máxima do Renascimento. Suas obras finais são de um estilo diferente, sua casa (demolida) e o Palazzo San Biagio (apenas iniciado). Rafael: considerado o continuador do último estilo de Bramante e mediador entre este e Palladio. Peruzzi: o estilo aparece em suas obras do Palazzo Costa e do Palazzo Massimi alle Colonne. Antonio da Sangallo, o Jovem: Discípulo de Rafael, foi um dos principais representantes do Barroco. Desenvolveu estilo próprio a partir dos ensinamentos recebidos. Seu estilo é maciço e severo. Sua principal obra é o Palazzo Farnese. Sua UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE MINAS DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO DISCIPLINA: ARQ 102 TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO II PROFª: PATRÍCIA JUNQUEIRA antiga residência, atual Palazzo Sacchetti, foi considerada modelo de residência urbana aristocrática da época. Michelangelo: conhecido como o pai do Barroco. A Basílica de São Pedro ficou sob seus cuidados de 1547 até sua morte, em 1564. O plano elaborado por ele para a igreja alterava a arquitetura exterior dos fundos do edifício e a cúpula. Em seus últimos anos de vida modificou as Termas de Diocleciano transformando-a em igreja e construiu a Porta Pia, em 1561. Giacomo Vignola (1507-1573): considerado o homem perfeito das regras por ter escrito o “Tratado das Cinco Ordens”, é visto, sobretudo como um teórico, mas isso não é verdade. Vignola sofreu grande influência de Michelangelo no período em que esteve em Roma. Foram duas passagens pela cidade, a primeira em sua juventude, quando teve contato com Michelangelo, e a segunda aos 43 anos, por volta de 1550. Michelangelo tinha grande apreço por Vignola e o empregou nas obras do Palazzo Farnese onde executou a galeria e alguns pormenores: portas, lareiras, etc., e do Capitólio. Depois da morte do mestre, Vignola assumiu a direção dos trabalhos da Basílica de São Pedro, onde executou as cúpulas secundárias. Suas obras mais importantes foram: o Castelo de Caprarola, da família Farnese, que possui formas características de um período de transição (por volta de 1550) e a Igreja do Gesú (iniciada em 1568), modelo para toda a arquitetura eclesiástica barroca. Não foi finalizada por Vignola. Giacomo della Porta: sucessor de Vignola. Foi a primeiro a dar caráter definitivamente barroco às fachadas das igrejas (Gesu e Santa Maria ai Monti), dos palácios e villas. Executou a cúpula de São Pedro. Carlo Maderno (1556-1629): Arquiteto mais importante da sua geração em Roma. Finalizou o trabalho de della Porta em São Pedro. A fachada da Basílica foi sua obra de maior dimensão, terminada em 1612, não foi uma criação totalmente livre, pois estava presa aos motivos fixados por Michelangelo. Maderno demonstrou seu talento na fachada de Santa Susanna (terminada em 1603). Suas últimas obras caracterizam a dissolução do estilo severo, próprio do Barroco de então. Francesco Borromini (1599-1667): A Igreja de Sant’Ivo alla Sapienza (1642-1650) de Borromini, localizada no pátio interno do Palazzo della Sapienza projetado por Giacomo della Porta, seria segundo alguns críticos, uma das obras mais complexas e UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE MINAS DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO DISCIPLINA: ARQ 102 TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO II PROFª: PATRÍCIA JUNQUEIRA revolucionárias da história da arquitetura. Outras obras importantes de Borromini são as Igrejas de San Carlo alle Quattro Fontane e Santa Agnese in Agone, ambas em Roma. Gianlorenzo Bernini (1598-1680). Foi o arquiteto e escultor preferido dos papas desse período. Trabalhou na decoração da Basílica de São Pedro, realizando ali uma de suas obras mais conhecida, o Baldaquino. Finalizou a Piazza de San Pietro com sua famosa colunata, dando um efeito dramático à sede da Igreja. Guarino Guarini (1624-1683). Principal inspirador, junto com Borromini, do barroco alemão. Não trabalhava em Roma, mas na região de Turim. Professor de filosofia e matemática, autor do tratado Architettura Civile, publicado em 1737. Seus desenhos já eram conhecidos desde 1668. Uma de suas obras mais importantes é o Palazzo Carignano, construído a partir de 1679, em Turim. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAETA, Rodrigo Espina. O Barroco, a Arquitetura e a cidade nos séculos XVII e XVIII. Salvador: EDUFBA, 2012. GOMBRICH, E. H. A história da arte. 16.ed. Rio de Janeiro : LTC, 2009. MORRISSEY, Jake. Gênius e Rivais. Bernini, Borromini e a disputa que transformou Roma. São Paulo: Editora Globo, 2005. PEVSNER, Nikolaus. Panorama da arquitetura ocidental. São Paulo: Martins Fontes, 2002. SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento. São Paulo: Atual, 1994. WÖLFFLIN, Heinrich. Renascença e barroco: estudo sobre a essência do estilo barroco e sua origem na Itália. São Paulo: Perspectiva, 2000.
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