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1 Alterações do Líquido Amniótico Doutora Carina Rodrigues Cerca da segunda semana de gestação, o saco membranoso, formado pelo amnios e pelo corion, acumula um líquido opaco denominado líquido amniótico, que envolve o embrião e aumenta com o desenvolvimento da gravidez. A fonte de líquido amniótico, não é ainda totalmente conhecida mas, pensa-se que é um transudado do plasma materno, uma vez que de inicio ele é muito semelhante ao plasma materno. “ Na segunda metade da gravidez, a produção de urina e de fluido traqueo – brônquico pelo feto, constituem a principal fonte de formação de LA e, para que o sistema funcione, é imprescindível que a perfusão renal e pulmonar seja adequada.” Graça (2000:287) Composição do líquido amniótico o Inicialmente, tem a mesma composição do plasma materno. o A densidade é baixa e a sua reacção é alcalina. o Vai - se tornando hipotónico, possivelmente pela presença de urina fetal que é hipotónica. Composição do líquido amniótico (cont) o Contém: Electrólitos Glicose lipidos Proteínas Enzimas Hormonas Albumina Secreções do trato respiratório Células fetais descamadas 1 2 3 4 5 6 2 Composição do líquido amniótico (cont) Lanugo Lecitina/esfingomielina* Vernix caseoso Ureia, creatinina e ácido úrico (estes em quantidade mais significativa próximo do termo da gravidez) * Ajudam a determinar o bem estar e a maturidade pulmonar fetal Funções do liquido amniótico É importante para o metabolismo fetal Veiculo de eliminação de secreções do rim e do trato respiratório Permite a mobilização do feto in útero Protege das agressões externas Permite uma temperatura adequada Auxilia na dilatação do colo quando exerce uma pressão aquosa. O liquido amniótico contém células e secreções de origem fetal pelo que o seu estudo, permite avaliar a saúde e a maturação do feto. O liquido amniótico permite um ambiente favorável ao desenvolvimento fetal. Possíveis locais de remoção Amnio Pele Aparelho gastro- intestinal Pode ocorrer um padrão anormal no que respeita ao liquido amniótico, pelo que o enfermeiro que presta cuidados em saúde materna e obstétrica deve estar treinado para despiste e identificação de eventuais complicações. Estas complicações podem surgir ao longo da gravidez ou durante o trabalho de parto. Tem cor clara e transparente, podendo ter também uma cor leitosa. Alterações: Com sangue Com mecónio ( nem sempre traduz asfixia, pode traduzir maturidade fetal) A incidência de liquido meconial é muito elevada na gravidez prolongada. (Graça,2005) 7 8 9 10 11 12 3 A eliminação de mecónio in útero, pode traduzir sofrimento fetal, quer durante a gravidez quer durante o trabalho de parto. O mecónio no liquido amniótico, confere-lhe uma cor que pode ir do amarelado ao verde escuro. Nos casos de maior gravidade, é muito semelhante a puré de ervilha. As membranas ovulares, o cordão umbilical e a pele, podem estar impregnadas de mecónio nomeadamente se o sofrimento se prolonga por vários dias ou na dismaturidade. A contaminação do liquido amniótico, por mecónio, pode ser identificado através de amnioscopia. Esta técnica utiliza-se quando as membranas estão integras e se suspeita de sofrimento fetal, mesmo antes do termo da gravidez. Durante o trabalho de parto, o enfermeiro deve: Atender ás características do liquido amniótico Atender a dados recolhidos na história da gravidez actual, para despiste de risco. (gravidez prolongada, ACIU…) Comunicar de imediato à equipa médica (obstetra e pediatra, porque pode ser necessária reanimação logo após o nascimento) Tranquilizar a utente Administrar O2 para aliviar os efeitos da hipoxia no feto Alternar o decúbito Assegurar higiene e conforto 13 14 15 16 17 18 4 Proceder aos registos onde constem: Hora da ocorrência Características do traçado (desacelerações, bradicárdia…) Hora e tipo da ruptura da bolsa (artificial ou expontânea) Características do liquido amniótico COR (transparente ou leitoso) CHEIRO (sui generis) QUANTIDADE (800 a 1000ml no final da gestação) Conhecimento dado à equipa médica Se o liquido amniótico for verde e espesso Deve ser contactado de imediato o médico, e no parto deve estar presente o pediatra. O síndrome de aspiração meconial, traduz grave risco neonatal, principalmente se o liquido for espesso. Se o feto aspirar mecónio e se este se estender ao longo do tracto respiratório, o mecónio causará obstrução total ou completa e irritação das vias aéreas. O liquido amniótico reduzido e a presença de mecónio espesso são indicação para amnioinfusão. Graça (2005) 19 20 21 22 23 24 5 AMNIOINFUSÃO “É a técnica pela qual se aumenta transitoriamente o volume de líquido amniótico, instalando soro fisiológico na cavidade uterina.” Graça (2005:249) Amnioinfusão ante parto Tem como objectivo melhorar as condições para o exame ecográfico em situação de oligoâmnios. O volume a ser instilado, varia com a situação. É feita por via transabdominal, sob cobertura antibiótica para prevenção de corioamniotite Amnioinfusão intraparto É utilizada com fins terapêuticos e profiláticos, no caso de : Oligoâmnios, após ruptura de membranas, provocando compressão do cordão. Presença de mecónio espesso, diluindo o mecónio para prevenção do síndrome de aspiração meconial. Se as membranas já não estão integras, a via de acesso é transcervical. Após desinfecção vaginal, introduz-se através do colo, um cateter para medição da pressão intrauterina, e outro para perfusão .É instilado soro fisiológico ou Lactato de Ringer, a ritmo lento, sob controlo ecográfico e o volume instilado varia com a situação. As complicações são muito raras mas, o uso inadequado da amnioinfusão, pode agravar o prognóstico fetal e materno. Prolapso do cordão Hipertonia uterina Embolia de liquido amniótico Infecção Volume de liquido amniótico Em situações fisiológicas, não há um acumulo de liquido amniótico junto do embrião/feto. Por vezes, verifica-se alteração na quantidade de liquido amniótico 25 26 27 28 29 30 6 Para Oxorn (1989:499),” Na gestação normal, o volume de líquido amniótico aumenta gradualmente até cerca de 1000 ml na 36ª semana. Depois disso diminui e na gestação pós termo pode haver poucas centenas de mililitros.” Para Ziegel,(1985 :92),”A quantidade de líquido no final da gravidez é de 850 ml.” Mais recentemente, Graça(2005:22) refere: “ O volume de liquido amniótico aumenta rapidamente durante a primeira metade da gravidez, passando de cerca de 30ml à 10ªsemana aos 350ml à 20ª semana. Atinge cerca de 1000ml na 38º semana, diminuindo a partir desse tempo 125ml por semana. Na gravidez avançada, o volume de LA pode oscilar entre os 500 ml e os 2000ml.” O volume e a composição do líquido, modificam-se ao longo da gravidez. A urina fetal, que resulta da deglutição do liquido amniótico, e a filtração do plasma materno, desempenham um papel importante na manutenção e equilíbrio do liquido amniótico. O liquido amniótico, é continuamente substituído. Para Oxorn(1989), na gravidez avançada, a cada hora, cerca de 500ml de liquido amniótico entram e saem do saco amniótico. O feto começa a engolir liquido, por volta do 4º mês de gestação, e calcula-se que no final da gravidez possa beber cerca de 500ml por dia. ZIEGEL(1985) A avaliação do volume de liquido amniótico, é importante no exame pré natal para conhecimento do desenvolvimento fetal, sendo uma das variáveis do perfil biofísico. 31 32 33 34 35 36 7 A avaliação do volume de liquido amniótico Pode ser feita através: Medição do diâmetro do maior lago (perfil biofisico) Calculo do índice de liquido amniótico O VOLUME DE LIQUIDO AMNIÓTICO, NUMA GRAVIDEZ AVANÇADA DEVE OSCILAR ENTRE OS 500 E OS 2000 ml. Volume inferior a 500ml---Oligoâmnios Volume superior a 2000ml---HidrâmniosGraça (2005) Oligoâmnios e Hidrâmnios podem estar associados a anomalias fetais, nas quais o feto não pode deglutir o liquido amniótico, não elimina urina, ou se as membranas produzem demasiada quantidade de liquido estando também associadas outras malformações. Tanto o hidrâmnios como o oligoâmnios, são considerados como uma situação de risco para a gravidez, uma vez que constituem uma ameaça à saúde e à vida da mulher e do feto. Na consulta pré natal o enfermeiro deve identificar o risco considerando: Factores Biofísicos: Factores genéticos, que interferem no desenvolvimento fetal Estado nutricional, que interfere com o desenvolvimento e crescimento fetal Distúrbios médicos e obstétricos Factores Psicossociais: Hábitos tabagicos Consumo de cafeína álcool e drogas Estado psicológico 37 38 39 40 41 42 8 Factores Sociodemográficos: Pobreza Falta de cuidados pré natais Idade Paridade Etnia Factores Ambientais: A exposição a certas substâncias e agentes, podem afectar a fertilidade e o desenvolvimento fetal ( Pesticidas ,poluentes industriais , fumo de tabaco…) Na consulta, o enfermeiro ao detectar factores de risco, deve assegurar os cuidados pré natais de acordo com o risco e encaminhar para unidades hospitalares onde seja feito o controlo desses distúrbios. Desta forma, pretende-se que seja capaz de minimizar a morbilidade e a mortalidade materna e infantil. Oligoâmnios Diminuição patológica de liquido amniótico As situações graves, com membranas intactas, ocorrendo no segundo trimestre da gravidez, na maioria dos casos está associada a malformações fetais. O OLIGOÂMNIOS Pode estar associado a processos displásicos renais, insuficiência placentar, diminuição da perfusão pulmonar (p.ex hipoxia fetal), obstruções genito-urinárias e atraso de crescimento intra uterino. Pode também estar associado a ruptura de membranas. ( atender ao risco infeccioso, nestes casos) O oligoâmnios pode aumentar o risco de compressão do cordão umbilical, afectar o desenvolvimento pulmonar e do sistema musculo esquelético do feto. Carmen Guillén (2006) 43 44 45 46 47 48 9 “ A relação entre oligoâmnios, hipoxia fetal e mortalidade perinatal está bem documentada: a mortalidade perinatal aumenta 15 vezes quando o maior lago amniótico tem menos de 2cm de maior eixo vertical e 50 vezes quando é inferior a 1cm.” Graça(2000:287) Cuidados de enfermagem Devem ser prestados ainda no período pré natal, logo que se diagnostique o oligoâmnios. A grávida deve ser informada da situação, sem a alarmar. Informar que é uma situação que requer maior vigilância. Poderá ter que fazer mais exames e cumprir as prescrições feitas. Algumas situações requerem internamento, pelo que deve ser dado apoio emocional adequado e fazer ensino/orientação. Se estiver prescrito o repouso no leito, deve ajudar-se a grávida a lidar com esta mudança, uma vez que está comprometida a sua autonomia. Ajudar a família a compreender a importância do internamento e do repouso. Auscultar os BCF Questionar a grávida quanto à frequência dos movimentos fetais Referir que deve informar o enfermeiro, caso ocorra perda de liquido amniótico. Se a causa do oligoâmnios se dever a perda de liquido, despistar sinais de infecção através da interpretação dos valores laboratoriais e da sintomatologia da grávida. Hidrâmnios Aumento patológico do volume de liquido amniótico A sua causa não é clara. Na maioria dos casos, está associado a defeitos do tubo neural, anomalias do sistema nervoso central que afectam a deglutição fetal, obstruções gastrointestinais, diabetes, infecções, gravidez múltipla e hidropisia. 49 50 51 52 53 54 10 Para Ziegel(1985:273),”Qualquer volume acima de 3000 ml é considerado clinicamente significativo.” HIDRÂMNIOS Na diabetes pode estar associado a poliuria fetal, desequilíbrio osmótico entre o liquido amniótico e o compartimento materno e anomalia congénita associada. O hidrâmnios e a macrossomia fetal ao provocarem distensão uterina, são factor de risco podendo levar a quadros de hemorragia pós parto Os sintomas estão relacionados com a pressão exercida pelo útero, nos órgãos adjacentes. Pressão no diafragma Edemas nos membros inferiores Desconforto abdominal Dificuldade respiratória Complicações Por vezes pode surgir atonia uterina por estiramento excessivo da musculatura uterina O trabalho de parto pode ser prematuro Caso se recorra a amniocentese para remoção de liquido amniótico pode surgir infecção ou desencadear parto prematuro. Cuidados de Enfermagem Estar atento a sinais como: Útero demasiado aumentado para a idade gestacional Dificuldade em identificar as partes fetais através das manobras de Leopold Dificuldade em ouvir os batimentos cardíacos fetais 55 56 57 58 59 60 11 Cuidados de Enfermagem (cont) Avaliar o bem estar fetal através da auscultação dos batimentos cardíacos fetais e considerar dados do perfil biofísico (feito pelo médico). Cumprir registo cardiotocográfico conforme prescrição e se necessário. Apoiar e esclarecer sobre a situação clínica e a todos os procedimentos a ela inerentes Dar espaço para que as grávidas exponham as suas dúvidas Tranquilizá-las dando-lhes segurança Referências Bibliográficas BOBAK, Irene M. ; LOWDERMILK, Deitra Leonard ; JENSEN, Margaret Duncan – Enfermagem na maternidade. 4ª ED. Loures Lusociência, 1999 GRAÇA, Luis Mendes da – Medicina materno-fetal.3ª.ed.Lidel,Edições Tecnicas,2005 MENDES, Mário Luiz(ed.)- Curso de obstetricia .Coimbra: Livraria Almedina,1993 Referências Bibliográficas NETTER, Frank H. – Sistema reproductor. Barcelona: Salvat Editores, 1990( Coleccion Ciba de ilustraciones médicas, tomo II) OLDS, Saly B. ;LONDON, Marcia L. ; LADEWIG,Patricia A. – Enfermeria maternoinfantil:un concepto integral familiar.2ª ed. Mexico REEDER, Sharon J. ; MARTIN, Leonilde L. ; KONIAK,Dborah – Enfermeria maternoinfantil.17ª ed. Madrid: Interamericana MacGraw-Hill,1995 61 62 63
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